THE INFLUENCE OF RESISTANCE TRAINING ON THE LIVES OF PEOPLE WITH OBESITY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411191232
Isaias Marinho Novais
Alexandre Milhomem Barros
Orientador: Prof. José Antônio Pereira Antunes
RESUMO
O treinamento resistido exerce uma influência significativa no metabolismo e, consequentemente, no processo de queima de gordura, beneficiando tanto indivíduos com diferentes graus de obesidade quanto aqueles que buscam apenas modificações estéticas. Além de contribuir para a redução de gordura, essa modalidade de exercício impacta positivamente outros aspectos metabólicos, como a regulação hormonal, a diminuição do risco de desenvolver síndromes metabólicas e doenças cardiovasculares, e a melhoria do perfil lipídico. As mudanças no metabolismo decorrentes do treinamento resistido estão interligadas aos benefícios dessa prática, mostrando uma correlação forte entre ambos. Para alcançar essas modificações de forma segura e eficaz, é essencial contar com a orientação de um personal trainer qualificado. Esse profissional é capaz de ajustar parâmetros biomecânicos e de aprendizagem motora, além de manipular variáveis do treinamento, como carga, volume e intensidade. Esse acompanhamento é vital para garantir a adesão e a longevidade do programa de treinamento, prevenindo lesões e promovendo melhorias na composição corporal, incluindo ganho de massa magra e redução dos níveis de gordura. Portanto, a prática do treinamento resistido, aliada à orientação adequada, não apenas contribui para a queima de gordura, mas também melhora a saúde e a qualidade de vida dos praticantes.
Palavras-chave: Metodologia. Treinamento Resistido. Consumo De Gordura Em Repouso Obesidade. Epoc
ABSTRACT
Resistance training has a significant influence on metabolism and, consequently, on the fat burning process, benefiting both individuals with different degrees of obesity and those just looking for aesthetic changes. In addition to contributing to fat reduction, this type of exercise positively impacts other metabolic aspects, such as hormonal regulation, reducing the risk of developing metabolic syndromes and cardiovascular diseases, and improving the lipid profile. The changes in metabolism resulting from resistance training are linked to the benefits of this practice, showing a strong correlation between the two. To achieve these changes safely and effectively, it is essential to have the guidance of a qualified personal trainer. This professional is capable of adjusting biomechanical and motor learning parameters, in addition to manipulating training variables, such as load, volume and intensity. This monitoring is vital to ensure adherence and longevity of the training program, preventing injuries and promoting improvements in body composition, including lean mass gain and reduction in fat levels. Therefore, the practice of resistance training, combined with adequate guidance, not only contributes to burning fat, but also improves the health and quality of life of practitioners.
Keywords: Resistance Training, Metabolism, Fat Burning, Personal Trainer, Health.
1. INTRODUÇÃO
As origens da musculação não são totalmente claras, mas alguns historiadores atribuem seu marco inicial a Milon de Crotona, na Grécia Antiga. Milon, um campeão dos jogos olímpicos da época, treinava carregando um bezerro nas costas (Miranda, 2014). Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que mais de 1,4 bilhão de adultos ao redor do mundo estão acima do peso ideal, e mais de 500 milhões são classificados como obesos (WHO, 2014). Conforme Matsudo MS et al. (2004), a falta de atividade física é um dos principais fatores que contribuem para a alta prevalência global da obesidade.
A prática de exercícios físicos e a musculação são alternativas eficazes para a redução do excesso de peso sem o uso de medicamentos (FLECK SJ e KRAEMER WJ, 2006). Atualmente, a musculação destaca-se como uma das atividades mais frequentes no cotidiano das pessoas, acompanhando o aumento do número de academias (BASSO CA e FERRARI HG, 2014). Uma das abordagens para o tratamento da obesidade inclui a prática regular de atividades físicas, que visa tanto o gasto calórico quanto o aumento de massa muscular através de treinamentos de resistência. Além disso, contribui para o controle dos níveis séricos de triglicerídeos e colesterol, cuja elevação está associada a várias doenças (WILHELMS F e NAVARRO AC, 2013).
Em relação aos benefícios para a saúde, são inúmeros. Westcott (2012) destaca vários deles, começando pela reversão da perda de massa muscular. Sessões curtas de treinamento, realizadas duas ou três vezes por semana, são suficientes para aumentar a massa muscular em adultos. Esse ganho muscular está ligado ao segundo benefício: o aumento da taxa metabólica de repouso, fazendo com que o indivíduo queime mais calorias ao longo do dia. Essa elevação no gasto calórico, associada à atividade física, contribui para a redução da gordura corporal.
Além disso, a musculação ajuda na prevenção do diabetes tipo 2, auxiliando no controle da resistência à insulina e dos níveis de glicemia. Também melhora a saúde cardiovascular, sendo tão eficaz quanto o exercício aeróbico na prevenção de doenças cardíacas. O treinamento resistido melhora o perfil lipídico sanguíneo, a capacidade das artérias de acomodar o fluxo sanguíneo e pode reduzir a pressão arterial, ajudando a controlar a hipertensão. Outros benefícios incluem a reversão da perda de habilidades motoras que ocorre com o envelhecimento, o que melhora o desempenho físico e a velocidade ao caminhar. O aumento da densidade óssea, o combate à osteoporose e a redução de dores associadas à osteoartrite, fibromialgia e problemas lombares também são notáveis. Além dos ganhos fisiológicos e estéticos, o treinamento resistido pode melhorar a saúde mental, reduzindo sintomas de fadiga, ansiedade e depressão, e promovendo uma melhor percepção de si mesmo e da imagem corporal (WESTCOTT, 2012)
A musculação, sendo uma forma de treinamento resistido, traz muitos benefícios aos praticantes, incluindo os estéticos, como o aumento de massa muscular e a perda de gordura. A tentativa de perder gordura apenas com dietas restritivas pode diminuir a Taxa Metabólica de Repouso (TMR) devido à perda de massa muscular, o que pode levar à estagnação na perda de peso. Em contrapartida, o treinamento resistido aumenta a massa muscular e, consequentemente, eleva a TMR, facilitando a queima de gordura (CIOLAC e GUIMARÃES, 2004)
Além do gasto calórico durante o treino, o treinamento resistido provoca danos musculares que resultam em um gasto calórico prolongado após o exercício. O músculo, com metabolismo ativo mesmo em repouso, continua a queimar gordura após o treino (KOPROWSKI e MATER, 2016, p. 86).
Trevisan e Burini (2007) demonstraram que mulheres na pós-menopausa apresentaram melhora no metabolismo de repouso após 16 semanas de treinamento com pesos, saindo de um quadro de sarcopenia (menos de 28% de massa muscular) para uma reclassificação com 30% de massa muscular, aumentando em 8,4% o gasto calórico em repouso. Contudo, alcançar resultados visíveis ou significativos nem sempre é fácil, o que reforça a importância de realizar o treinamento de forma otimizada para promover a hipertrofia muscular.
O papel do treinador vai além do planejamento e periodização do treino; ele também influencia diretamente o desempenho do aluno por meio de motivação, instruções verbais e correções de postura e biomecânica. A falta de motivação e o acompanhamento profissional inadequado são frequentemente apontados como motivos para o abandono da academia, conforme observado por Melo et al. (2017) e De Liz & Andrade (2016).
2. METODOLOGIA
A metodologia deste estudo é uma revisão bibliográfica narrativa de caráter exploratório, focada em investigar a influência do treinamento de força na aptidão física de obesos. Este tipo de revisão é particularmente relevante para proporcionar uma compreensão ampla e detalhada de temas complexos, onde diferentes perspectivas científicas são reunidas e interpretadas de maneira integrada. A pesquisa narrativa é uma abordagem que ultrapassa a coleta de dados e interpreta a experiência humana, permitindo ao pesquisador um mergulho profundo nos significados atribuídos aos fenômenos estudados.
Em uma abordagem narrativa, a metodologia assume o papel de um diálogo entre o pesquisador e os conteúdos investigados, onde as interpretações não apenas respondem às perguntas iniciais, mas também exploram nuances que emergem do conjunto de estudos revisados. A escolha por uma metodologia teórica possibilita a construção de um panorama abrangente sobre o tema, sendo este um campo relevante para questões de saúde pública, qualidade de vida e emagrecimento saudável.
Para a realização das buscas, serão utilizadas duas plataformas reconhecidas pela ampla oferta de estudos acadêmicos: o Google Acadêmico e a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Esses repositórios oferecem acesso a artigos científicos, teses e dissertações em uma variedade de áreas, incluindo saúde e ciências do esporte. A escolha dessas plataformas garante o acesso a conteúdos relevantes e atualizados, essenciais para a construção de uma base teórica sólida e abrangente.
Os descritores utilizados — “obesidade,” “treinamento de força,” “musculação,” “treinamento resistido” e “aptidão física” “emagrecimento” e “indivíduos jovens obesos”. — foram selecionados para direcionar a busca a estudos que contemplem tanto os fundamentos fisiológicos quanto às práticas aplicadas ao desenvolvimento da aptidão física em indivíduos obesos jovens. Cada um desses termos reflete aspectos específicos da pesquisa e facilita o levantamento de dados sobre intervenções que visam o fortalecimento muscular e a saúde geral, com ênfase na prevenção de perda funcional associada ao envelhecimento.
Dessa forma, a metodologia adotada pretende capturar um panorama amplo sobre o papel do treinamento de força na saúde do idoso, contribuindo para uma análise que vai além da perda de peso e contempla aspectos cruciais para a promoção de longevidade e autonomia. A pesquisa narrativa exploratória não apenas sintetiza conhecimentos já disponíveis, mas também destaca lacunas e potenciais para futuras investigações na área de aptidão física e qualidade de vida.
3. METABOLISMO E MASSA MUSCULAR
De acordo com Guyton (2008), o metabolismo refere-se ao conjunto de reações químicas que ocorrem no organismo animal, as quais acontecem dentro das células dos tecidos e são responsáveis por fornecer energia para as atividades corporais e criar novas estruturas. Todos os alimentos que ingerimos liberam energia, a qual é convertida em calor, sendo que a intensidade da produção de calor pelo corpo indica o quanto de energia está sendo liberada pelos alimentos. Nesse sentido, o autor afirma que o “metabolismo corporal é a expressão da intensidade (ou velocidade) com que a energia é liberada a partir do metabolismo dos nutrientes em todo o organismo” (GUYTON, 2008, p. 444).
Todo organismo necessita de uma quantidade mínima de energia para manter suas funções vitais enquanto está em estado de vigília. Esse requisito energético é conhecido como taxa metabólica basal (TMB), que representa a soma das principais fontes de produção de calor no corpo (McARDLE, 2016).
O termo metabolismo basal é utilizado para descrever o metabolismo em repouso completo, onde o corpo consome entre 60 e 70 calorias por hora (GUYTON, 2008).
Diversos fatores podem influenciar o metabolismo, como a estimulação simpática, os hormônios tireoidianos, febre e, de forma mais significativa, o exercício físico. Durante o exercício, a taxa de gasto energético pode aumentar até 20 vezes em relação aos valores normais de 60 a 70 calorias por hora. Isso ocorre porque, durante a contração muscular, uma grande quantidade de Adenosina Trifosfato (ATP) é convertida em Adenosina Difosfato (ADP) nas células musculares, acelerando o processo de degradação dos alimentos (GUYTON, 2008).
A TMB é influenciada por diversos fatores, como o tamanho corporal, a quantidade de massa muscular, a idade, a condição física, o estado hormonal e a temperatura corporal (McARDLE, 2016). ( citaçao ).
Observa-se, portanto, que a quantidade de massa muscular impacta diretamente essa taxa, o que ressalta a importância de considerarmos esse fator.
Segundo os estudos de McArdle (2016) também destaca que existem diferenças nas taxas metabólicas entre homens e mulheres. As mulheres tendem a apresentar uma taxa metabólica entre 5% e 10% menor do que os homens da mesma faixa etária. Isso se deve ao fato de as mulheres terem uma proporção maior de gordura corporal e uma menor quantidade de tecido magro em comparação com os homens de tamanho similar. A razão pela qual essa diferença na composição corporal influencia a taxa metabólica é que o tecido adiposo tem uma atividade metabólica significativamente mais baixa do que o tecido muscular.
Além disso, McArdle (2016) explica que a redução da massa corporal magra, combinada com o aumento da gordura corporal ao longo da vida adulta, contribui para a queda da TMB em cerca de 2 a 3% por década em homens e mulheres. Isso reforça mais uma vez a influência direta da quantidade de massa magra no gasto calórico diário do indivíduo.
Figura 1 – gráficos TMB x Idade e TMR x MCSG
Fonte: McArdle (2016)
Acima, observamos dois gráficos na Figura 1. O gráfico maior exibe a relação entre a taxa metabólica basal (TMB) e a idade, mostrando que, à medida que a idade aumenta, a TMB diminui. O gráfico menor apresenta a taxa metabólica de repouso (TMR) em relação à massa corporal magra, evidenciando que quanto maior a quantidade de massa magra, maior é a TMR. McArdle (2016)
Embora qualquer tipo de exercício físico provoque o aumento do gasto calórico devido à aceleração temporária do metabolismo, esse aumento ocorre principalmente durante a atividade, que costuma durar cerca de 1 hora. Isso significa que, mesmo se a pessoa praticar exercícios diariamente, ainda restam 23 horas em que o metabolismo está em repouso. Portanto, uma estratégia eficaz para aumentar o gasto calórico diário total é elevar a quantidade de massa magra, o que, por sua vez, aumenta tanto a TMB quanto a TMR, resultando em um maior consumo de calorias ao longo do dia (SILVA, 2022)
O treinamento resistido desempenha um papel crucial na intervenção contra a obesidade, destacando-se por aumentar a resistência ao impacto nas articulações durante a atividade física, o que favorece o fortalecimento muscular e reduz o risco de lesões durante o treino aeróbico. Além disso, o ganho de massa muscular promove o aumento do metabolismo basal, levando o organismo a um gasto calórico maior mesmo em estado de repouso (SCUSSOLIN e NAVARRO, 2007).
3.1 EPOC e o Gasto Energético
Um fenômeno crucial a ser considerado durante a prática de exercícios físicos é o EPOC, sigla para “Excess Postexercise Oxygen Consumption” ou, em português, “consumo excessivo de oxigênio após o exercício”. Após a realização de uma atividade física, o organismo leva algum tempo para retornar aos níveis de repouso, não sendo um processo imediato. Quanto maior a intensidade do exercício, mais tempo o metabolismo leva para voltar aos índices anteriores, sendo esse processo influenciado por fatores metabólicos e fisiológicos específicos, dependendo do nível de esforço (leve, moderado ou intenso) (McArdle, 2016).
De acordo com Herring (2014), ao avaliar a eficácia das atividades anaeróbias, observa-se que elas produzem resultados positivos na redução de gordura corporal, além de promover o ganho de massa magra. Esse treinamento resistido contribui para o aumento do efeito EPOC (consumo excessivo de oxigênio pós-exercício) por meio de dois fatores principais. O primeiro está relacionado às respostas hormonais, que impactam o metabolismo, principalmente por meio do cortisol e das catecolaminas. O segundo fator envolve o dano tecidual, que, acompanhado de um estímulo externo para promover a hipertrofia, causa uma redução temporária na síntese de proteínas durante o exercício. No entanto, no período pós-treino, ocorre um fenômeno compensatório, o efeito EPOC, onde a síntese proteica é estimulada.
Durante o período de recuperação, após o exercício, o corpo continua consumindo oxigênio em um nível acima do estado de repouso, e esse aumento no consumo é o que se chama de EPOC. Esse consumo extra de oxigênio ocorre porque o corpo ainda não voltou completamente ao estado fisiológico pré-exercício, necessitando de maior demanda energética (McArdle, 2016). Foureaux et al. (2006) reforçam essa ideia, afirmando que o EPOC aumenta de forma linear com a duração do exercício, mas a intensidade afeta tanto a magnitude quanto a duração do EPOC. Exercícios mais intensos tendem a prolongar o EPOC, pois provocam maior estresse metabólico, exigindo mais energia para restaurar o equilíbrio corporal.
Segundo Nunes e Sousa (2014), os benefícios da atividade física para a perda de peso já estão bem documentados na literatura. Tradicionalmente, as atividades aeróbicas eram as mais indicadas para esse objetivo, mas foi somente a partir da década de 1980 que estudos científicos demonstraram que o treinamento com pesos também possui alta eficácia na melhoria da capacidade funcional, além de contribuir positivamente para o metabolismo basal, o controle de peso e a saúde óssea.
De acordo com Santarém (2012), para entender melhor o processo fisiológico de emagrecimento, é importante considerar as três principais formas de gasto calórico: as calorias necessárias para o metabolismo basal, as utilizadas na digestão dos alimentos e as gastas na contração muscular. O metabolismo basal é responsável por cerca de 70% desse gasto calórico, pois sustenta as funções celulares essenciais em todo o organismo. Assim, fica claro que qualquer exercício que aumente a taxa de metabolismo basal certamente incrementará o gasto calórico, contribuindo para a aceleração do processo de emagrecimento.
3.2 EPOC e o Treinamento Resistido
De acordo com Foureaux et al. (2006), estudos comparando exercícios aeróbios e resistidos mostram que o treinamento resistido provoca maior perturbação na homeostase. Isso ocorre porque as altas intensidades associadas a esse tipo de treinamento resultam em maior gasto energético tanto durante o exercício quanto na fase de recuperação, gerando um EPOC mais elevado.
Um estudo conduzido por Benito et al. (2016) reforça essa ideia ao demonstrar que a inclusão do treinamento resistido (TR) em programas de perda de peso promove a manutenção ou aumento da massa muscular, o que contribui para o efeito EPOC por meio do aumento da taxa metabólica basal. No estudo, foram aplicados três protocolos de treinamento distintos: exercícios com pesos livres, exercícios em máquinas e uma combinação de pesos livres com exercícios aeróbicos. O consumo de oxigênio e a concentração de lactato foram monitorados ao longo do circuito, com ênfase no efeito EPOC. Os resultados indicaram que o treinamento concorrente aumenta tanto o consumo de oxigênio quanto o gasto energético, resultando em menor produção de lactato e menor percepção de esforço. Essa abordagem se torna, portanto, uma alternativa vantajosa para quem busca redução de peso corporal sem aumentar a sensação de esforço (BENITO et al., 2016). Dessa forma, o efeito EPOC contribui para o emagrecimento e auxilia no controle da obesidade.
Além disso, um dos fatores que contribui para a desregulação da homeostase e o aumento do EPOC é justamente a resposta hormonal associada ao treinamento resistido. Foureaux et al. (2006) afirmam que essas respostas hormonais se intensificam quando as séries de exercícios têm mais de cinco repetições e os intervalos de descanso são inferiores a um minuto. Outro aspecto que reforça a eficácia da musculação na perda de gordura é o aumento da oxidação de lipídios decorrente das adaptações ao treinamento, com indivíduos treinados utilizando mais gordura no período de recuperação do que os não treinados.
Segundo Gutierre e Marins (2006), o EPOC gerado pelo treinamento de força contribui para a perda de peso corporal, uma vez que há maior ativação do sistema nervoso simpático, diretamente ligado à intensidade do treino. Isso, por sua vez, eleva o metabolismo lipídico de repouso e altera o substrato energético utilizado, que, durante o exercício, é principalmente o glicogênio.
4. RESPOSTAS HORMONAIS AO TREINAMENTO RESISTIDO E SUA INFLUÊNCIA NA PERDA DE GORDURA
Bhasin et al. (2001) conduziram um estudo com 61 homens entre 18 e 35 anos, submetendo-os a diferentes dosagens de testosterona exógena por 20 semanas, combinada com treinamento resistido. Os resultados mostraram ganhos em massa magra, volume muscular, força, potência, IGF-I e hemoglobina, demonstrando uma correlação positiva entre esses indicadores e os níveis de testosterona circulante. Em contrapartida, a massa gorda apresentou uma correlação negativa com os níveis de testosterona, diminuindo à medida que esses aumentavam.
Maddalena et al. (2012) indicam que vários estudos confirmam uma relação inversa significativa entre testosterona e obesidade. Atualmente, é amplamente aceito que os andrógenos desempenham um papel importante na regulação da massa de gordura. Níveis baixos de testosterona estão associados a condições como dislipidemia, aterosclerose, doenças cardiovasculares, síndrome metabólica e diabetes. A elevação dos níveis de testosterona pode melhorar o perfil lipídico, reduzindo o colesterol, a glicose no sangue e a resistência à insulina. Além disso, o aumento da testosterona pode reduzir os níveis de leptina, que são frequentemente elevados em indivíduos obesos, gerando resistência a esse hormônio.
Kelly e Jones (2015) reforçam esses pontos, afirmando que há uma correlação negativa entre a testosterona livre e a obesidade, bem como entre a testosterona total e o grau de obesidade. Eles observam que a circunferência abdominal é inversamente proporcional aos níveis de testosterona livre, e que a deficiência desse hormônio está ligada ao índice de massa corporal. Ademais, metanálises indicam que a perda de peso, seja por dieta, exercício ou cirurgia bariátrica, pode aumentar significativamente os níveis de testosterona em homens. Isso evidencia uma relação cíclica: quanto maior a massa gorda, menores são os níveis de testosterona, uma vez que os adipócitos, especialmente na gordura visceral, expressam alta quantidade de aromatase, que converte testosterona em estradiol. Da mesma forma, níveis mais baixos de testosterona facilitam o acúmulo de gordura, reforçando a importância de manter níveis adequados desse hormônio para facilitar a perda de gordura.
O treinamento resistido de alta intensidade é um importante estímulo para o aumento da concentração de testosterona como resposta aguda. Além disso, ocorre uma amplificação dos receptores androgênicos, o que melhora a interação entre hormônios anabólicos e receptores celulares (CADORE et al., 2018). Não se trata apenas de respostas agudas; o treinamento de força também promove adaptações endócrinas crônicas. Cadore et al. (2018) mencionam estudos que mostram que os aumentos de força e massa muscular decorrentes do treinamento de resistência são sustentados por dois fatores principais: adaptações crônicas nas concentrações hormonais anabólicas circulantes ou modificações nos receptores desses hormônios nas células musculares. Além disso, o cortisol, um hormônio catabólico liberado durante o exercício, apresenta redução em indivíduos treinados, indicando que a adaptação a longo prazo ao treinamento promove benefícios contínuos para o ganho de massa muscular.
Assim, conclui-se que o treinamento resistido auxilia no processo de emagrecimento não apenas pelo aumento da massa muscular, mas também pelas respostas hormonais que ele gera. A elevação natural dos níveis de testosterona cria um ambiente anabólico acentuado, promovendo ganho e manutenção de massa magra, o que, por sua vez, contribui para o aumento do metabolismo basal (CADORE et al, 2018)
5 OBESIDADE E TREINAMENTO RESISTIDO
5.1 Considerações gerais sobre a Obesidade
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), a obesidade é definida como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal, o que pode trazer riscos à saúde. Para categorizar indivíduos com sobrepeso ou obesos, a OMS utiliza o Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado dividindo o peso da pessoa em quilogramas pela altura ao quadrado (kg/m²). Em adultos, um IMC superior a 25 é considerado sobrepeso, e acima de 30 caracteriza obesidade.
Segundo o relatório do Vigitel (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) de 2021, mais de 57,2% da população das capitais brasileiras apresentam sobrepeso, enquanto 22,4% já são classificados como obesos. A situação se torna ainda mais preocupante com as projeções da pesquisa “A Epidemia de Obesidade e as DCNT – Causas, Custos e Sobrecarga no SUS”, que estimam que, até 2030, cerca de 68% da população brasileira estará com sobrepeso, e 26% será considerada obesa.
5.2 Síndrome Metabólica e Resistência à Insulina
A síndrome metabólica, conforme indicado por Gutierres e Marins (2008) é:
Uma condição caracterizada pela presença de três ou mais comorbidades que afetam a saúde cardiovascular. Essas condições incluem hipertensão arterial, resistência à insulina, hiperinsulinemia, intolerância à glicose ou diabetes mellitus tipo 2, obesidade central e dislipidemia. A inter-relação entre esses fatores de risco estabelece um quadro complexo que impacta negativamente a saúde do indivíduo, contribuindo para o desenvolvimento de doenças crônicas. (GUTIERRES e MARINS 2008)
Ao longo dos anos, numerosos estudos foram realizados sobre o Diabetes Mellitus Tipo 2, revelando diversos mecanismos causadores. Um deles é a alteração no metabolismo da glicose, conhecida como resistência à insulina. Os primeiros sinais da síndrome metabólica associada à resistência à insulina foram identificados devido à recorrente presença simultânea de hipertensão arterial e Diabetes Mellitus Tipo 2. Essa condição foi inicialmente descrita na década de 1920 pelos médicos Eslyl Kylin, da Suécia, e Gregorio Marañón, da Espanha (MORENTIN; RODRÍGUES & MARTÍNEZ, 2002).
Em 1988, G. Reaven, do Departamento de Medicina Cardiovascular da Universidade de Stanford, na Califórnia, destacou que a hipertensão arterial, a obesidade central e a dislipidemia frequentemente coexistiam em certos indivíduos. Ele denominou essa condição de síndrome X ou síndrome da resistência à insulina, a qual está associada não apenas ao desenvolvimento de Diabetes Tipo 2, dislipidemia, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e câncer, mas também à perda de funcionalidade e ao declínio cognitivo (LUNA, 2006; GOMES et al., 2010).
Posteriormente, os avanços na biologia molecular e na genética permitiram isolar genes ligados à resistência à insulina e à predisposição ao Diabetes Mellitus Tipo 2, identificando também fatores hereditários. Estudos indicam que pessoas com histórico familiar de DMT2 têm até três vezes mais chances de desenvolver essa doença em comparação a indivíduos sem parentesco com casos da condição (HAGHVIRDIZADEH et al., 2014).
Além disso, os mecanismos que permitem que a força muscular contribua para a redução da obesidade incluem a diminuição da gordura abdominal, a melhoria na concentração de triglicérides no plasma e o aumento do HDL-C (lipoproteína de alta densidade). Esses fatores são cruciais, pois um perfil lipídico saudável está diretamente relacionado à redução do risco cardiovascular e à melhora da saúde metabólica (GUTIERRES e MARINS, 2008)
Uma pesquisa realizada por Jurca et al. (2004) com 8.570 homens, com idades variando entre 20 e 75 anos, trouxe à tona descobertas significativas. O estudo revelou que a força muscular e a aptidão cardiorrespiratória eram independentes e apresentavam uma associação inversa com a síndrome metabólica. Isso significa que, à medida que a força muscular aumenta, a prevalência da síndrome metabólica tende a diminuir.
Os autores do estudo também observaram que a força muscular proporciona uma proteção adicional contra a síndrome metabólica, mesmo entre homens com sobrepeso ou obesidade. Essa descoberta reforça a importância do treinamento de força como uma estratégia eficaz no combate à síndrome metabólica. Além de melhorar a força e a aptidão física, a prática regular de exercícios resistidos pode ter um impacto significativo na saúde metabólica.
Como já discutido, é essencial que a intensidade do treinamento resistido seja alta para maximizar o efeito do EPOC (Excess Post-exercise Oxygen Consumption), que é um indicador importante na oxidação lipídica em repouso. O EPOC refere-se ao aumento do consumo de oxigênio após a atividade física, o que resulta em um maior gasto energético, contribuindo assim para a perda de gordura e a melhora da composição corporal (SILVA, 2022)
Por fim, a relação entre treinamento resistido e saúde metabólica é clara. A prática regular de exercícios de resistência não apenas ajuda a aumentar a força e a massa muscular, mas também desempenha um papel fundamental na prevenção e controle da síndrome metabólica. Diante dos dados apresentados, fica evidente que a implementação de programas de treinamento resistido pode ser uma estratégia eficaz para combater a obesidade e suas complicações associadas, promovendo uma melhor qualidade de vida e saúde geral. (SILVA, 2022)
5.3 Dislipidemia e Treinamento Resistido
Conforme descrito no Boletim Saúde e Economia (2011) da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a dislipidemia é caracterizada como um distúrbio que altera os níveis de lipídios (gorduras) presentes no sangue. Esta condição é classificada como uma doença, sendo referenciada no CID10 como E78, que abrange distúrbios do metabolismo das lipoproteínas e outras lipidemias. A dislipidemia pode ser vista como um sinal de desregulação lipídica que pode ter sérias implicações para a saúde cardiovascular.
Como abordado no tópico anterior, a dislipidemia está intimamente relacionada à síndrome metabólica e é fortemente associada à obesidade. Essa condição é uma das principais causas de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, incluindo aterosclerose, infarto agudo do miocárdio, doença isquêmica do coração e acidente vascular cerebral. As alterações no perfil lipídico caracterizam-se pelo aumento do colesterol total, elevação dos triglicerídeos (TG), níveis baixos de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL-c) e concentrações elevadas de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) (BOLETIM SAÚDE E ECONOMIA, 2011).
A prática de exercício físico, em particular o treinamento resistido, pode contribuir significativamente para a melhoria dos quadros de dislipidemia. Segundo Prado e Dantas (2002), os benefícios observados no perfil lipídico de indivíduos que realizam exercícios de força são atribuídos a melhorias nas atividades enzimáticas. Isso se traduz em um aumento da lipase lipoprotéica e da lecitina-colesterol-acil-transferase, além de uma redução da lipase hepática. A lipase lipoproteica favorece o catabolismo das lipoproteínas ricas em triglicerídeos, resultando na formação de menos partículas LDL aterogênicas e na elevação da produção de HDL nascente.
Por outro lado, a lipase hepática, quando aumentada, está associada ao crescimento de partículas pequenas e densas de LDL e à diminuição dos níveis de HDL2, ressaltando a importância do controle dessa enzima. A hiperatividade da lipase hepática está frequentemente relacionada ao acúmulo de gordura intra-abdominal, especialmente em homens (BRUNZEL e FAILOR, 2010). Portanto, a regulação das enzimas envolvidas no metabolismo lipídico é essencial para manter um perfil lipídico saudável.
Mann et al. (2014) conduziram uma revisão que buscou demonstrar os efeitos do exercício aeróbico e do treinamento resistido sobre o perfil lipídico, especialmente em relação ao colesterol. Os estudos apresentados na revisão mostraram que o treinamento resistido, isoladamente, levou à redução do colesterol total e do LDL, ao mesmo tempo em que promoveu um aumento do HDL em diversas populações estudadas. Essa evidência corrobora a ideia de que o treinamento resistido pode ser uma intervenção eficaz para melhorar a saúde cardiovascular.
Os autores também destacaram que o aumento no volume de treinamento — que se refere ao número de séries e repetições — teve um impacto mais significativo sobre o perfil lipídico do que o aumento da intensidade do exercício. Eles observaram que intensidades mais elevadas (acima de 85% de 1 RM) não se mostraram mais eficazes do que intensidades moderadas (50-85% de 1 RM) na melhoria do perfil lipídico. Essa descoberta sugere que a abordagem de treinamento deve ser adaptada para maximizar os benefícios em relação ao perfil lipídico.
Além disso, é relevante relacionar esse tópico com a seção anterior sobre as respostas hormonais ao treinamento resistido e sua influência na perda de gordura. A testosterona, por exemplo, demonstrou estar fortemente relacionada à obesidade, à dislipidemia e à síndrome metabólica de maneira geral. Embora não tenhamos evidências diretas que comprovem a eficácia de intensidades mais altas de treinamento resistido em melhorar o perfil lipídico, é plausível que esses treinos mais intensos possam ser benéficos a longo prazo. (SILVA, 2022)
Além disso, a dislipidemia é considerada um fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) (VONDNALA et al., 2012). Trata-se de um distúrbio no perfil lipídico, caracterizado pela elevação ou redução de partículas lipídicas, como triglicerídeos (TGs), colesterol LDL (C-LDL) ou colesterol HDL (C-HDL) (JOHANSEN; HEGELE, 2011; XAVIER et al., 2013).
Além disso, é importante ressaltar que a atividade física regular não apenas melhora o perfil lipídico, mas também pode levar a mudanças positivas no estilo de vida dos indivíduos. Isso inclui uma alimentação mais saudável, redução do consumo de álcool e abandono do tabagismo, todos fatores que contribuem para uma melhora no estado lipídico e na saúde geral. Assim, o exercício resistido pode atuar como um catalisador para transformações abrangentes no comportamento de saúde. (SILVA, 2022)
Os benefícios do treinamento resistido são ainda mais pronunciados quando considerado em um contexto preventivo. A implementação de programas de treinamento resistido desde a juventude pode ajudar a prevenir o surgimento de dislipidemias e, consequentemente, de doenças cardiovasculares na vida adulta. A educação sobre a importância do exercício físico deve ser uma prioridade nas escolas e nas comunidades, visando criar hábitos saudáveis desde cedo. (SILVA, 2022)
5.4 Leptina
A leptina é um hormônio peptídico crucial na regulação do peso corporal, desempenhando um papel central na inibição do apetite e no aumento do gasto energético. Essa comunicação é estabelecida de forma direta com o sistema nervoso central (SNC), permitindo que o corpo regule a ingestão alimentar e o metabolismo. A leptina é secretada pelos adipócitos, as células responsáveis pelo armazenamento de gordura, e sua liberação é proporcional à quantidade de tecido adiposo presente no corpo. Portanto, quanto maior a massa de gordura armazenada, maior a secreção de leptina (FREITAS et al., 2013).
A relação entre leptina e obesidade é complexa e significativa. Níveis baixos de leptina circulante podem ser um fator que contribui para a obesidade, já que essa deficiência pode influenciar negativamente o controle do apetite. Quando uma pessoa aumenta os estoques de gordura nas células adiposas, os níveis de leptina também aumentam, sinalizando ao cérebro a necessidade de diminuir a fome e aumentar o metabolismo de repouso. Campos (2011) argumenta que essa dinâmica é crucial para manter o equilíbrio energético.
A leptina foi o primeiro vínculo identificado entre as reservas energéticas do corpo e o sistema nervoso central. Essa molécula indica as mudanças necessárias no consumo de alimentos e no gasto energético, ajudando a regular a oferta de nutrientes para manter o equilíbrio energético. Assim, a descoberta de um fator circulante no controle alimentar foi evidenciada por experimentos de parabiose realizados em camundongos (SOARES; GUIMARÃES, 2001).
Intervenções como a perda de peso e a prática de exercício físico podem ajudar a restaurar esse equilíbrio, promovendo uma melhor resposta à leptina e, consequentemente, um controle mais eficaz do peso corporal (FREITAS et al., 2013). A atividade física regular não apenas reduz a massa de gordura, mas também tem o potencial de melhorar a sensibilidade à leptina, tornando esse hormônio mais eficaz na regulação do apetite e do metabolismo.
Um estudo conduzido por Prestes et al. (2009) demonstrou que 16 semanas de treinamento de força periodizado, com duas sessões semanais, resultaram em uma redução significativa nos níveis de leptina em mulheres pós-menopausa sedentárias. Esse achado sugere que a atividade física não apenas ajuda na redução da gordura corporal, mas também afeta positivamente a secreção e a ação da leptina no organismo.
Outro estudo importante foi realizado por Fatouros et al. (2005), que investigou os efeitos do treinamento resistido em diferentes intensidades (baixa — 40 a 45% de 1 RM, média — 60 a 65% de 1 RM e alta — 80 a 85% de 1 RM) em idosos inativos com sobrepeso. Os treinos foram realizados três vezes por semana durante 24 semanas, com duração aproximada de uma hora. Os resultados mostraram que todos os grupos apresentaram uma redução na concentração de leptina circulante, mas o grupo que treinou em alta intensidade apresentou a maior diminuição.
Além disso, o estudo de Fatouros et al. (2005) avaliou o efeito do destreinamento após o término do período de treinamento. Os indivíduos permaneceram mais 24 semanas sem realizar qualquer tipo de treinamento. Os resultados mostraram que, embora os níveis de leptina tenham aumentado no grupo que havia realizado o treinamento em alta intensidade, esses níveis ainda se mantiveram significativamente abaixo dos valores anteriores ao treinamento. Isso indica que os efeitos benéficos do treinamento resistido na leptina podem ter um impacto duradouro, mesmo após a interrupção do exercício.
Esses estudos ressaltam a importância do treinamento resistido na modulação dos níveis de leptina, além de evidenciar seu papel na melhoria da composição corporal e na promoção da saúde metabólica. A capacidade do exercício de afetar a produção e a sensibilidade à leptina sugere que estratégias de intervenção física podem ser efetivas na prevenção e no tratamento da obesidade. (SILVA, 2022)
Por fim, a leptina não atua isoladamente; sua função é influenciada por uma série de fatores, incluindo genética, hábitos alimentares, sono e estresse. A compreensão desses fatores pode ajudar a desenvolver programas mais eficazes de intervenção. Assim, a pesquisa contínua sobre a leptina e suas interações com o treinamento resistido é essencial para o avanço das estratégias de saúde pública focadas no combate à obesidade e suas comorbidades. (FREITAS et al, 2013)
5.5 Feedback
O feedback pode ser compreendido como um mecanismo de retroalimentação de informações resultantes da execução de uma ação motora, fornecendo subsídios que possibilitam ao executante aprimorar sua aprendizagem e desempenho através da prática. Esse processo de feedback pode ser classificado em duas categorias: intrínseco e extrínseco. O feedback intrínseco refere-se à informação sensorial que o praticante obtém naturalmente durante a execução da tarefa, enquanto o feedback extrínseco, ou feedback aumentado, é aquele que é fornecido por uma fonte externa. (MAGILL, 2000)
Magill (2000) também enfatiza que o feedback extrínseco pode exercer duas funções principais:
Facilitar a conquista das metas relacionadas à habilidade e motivar o praticante a persistir em seus esforços em direção a esses objetivos. Além disso, através do feedback, é possível reforçar comportamentos corretos e desestimular os incorretos, permitindo que o praticante realize correções com base nos erros identificados.
No contexto da musculação, o feedback revela-se extremamente útil não apenas na prevenção de lesões, ao corrigir e aprimorar movimentos biomecanicamente inadequados, mas também na potencialização dos resultados do treinamento. Um estudo realizado por Snyder e Leech (2009) demonstrou que iniciantes na musculação apresentaram melhorias significativas na ativação muscular do grupo-alvo em exercícios multiarticulares após receberem instruções verbais específicas sobre como aperfeiçoar seus movimentos para alcançar as metas estabelecidas.
Os autores ressaltam que, ao seguir diretrizes específicas sobre a execução correta dos exercícios—focando na ativação do músculo agonista durante a prática—um grupo de indivíduos não treinados conseguiu aumentar a ativação do músculo-alvo enquanto reduzia a ação dos músculos sinergistas. No experimento, o grupo conseguiu diminuir a ativação do bíceps braquial e aumentar a ativação da grande dorsal durante a execução do pull-down, o que contribui para resultados mais eficazes no treinamento de dorsal.
Esses achados ressaltam a importância de contar com um profissional qualificado ao lado do praticante. A orientação adequada de um Personal Trainer pode ter um impacto significativo no desempenho do indivíduo durante os treinos, resultando em melhorias substanciais nos resultados relacionados ao ganho de massa muscular e à consequente redução da gordura corporal. (Argus et al., 2011)
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente estudo, ressalta-se o papel fundamental do treinamento resistido, amplamente reconhecido como um método eficaz para influenciar de maneira positiva o metabolismo e o processo de oxidação de gordura. Sua aplicação é relevante tanto para indivíduos com algum grau de obesidade quanto para aqueles que visam transformações corporais de ordem estética.
Todavia, os benefícios dessa modalidade de treinamento não se restringem à redução do percentual de gordura corporal. Ela abrange uma gama mais ampla de impactos benéficos no metabolismo, como a regulação hormonal, a mitigação do risco de desenvolvimento de síndromes metabólicas e doenças cardiovasculares, além de promover melhorias no perfil lipídico e na composição corporal, com efeitos fisiológicos e morfológicos significativos.
A musculação, ao aumentar a sensibilidade à insulina e favorecer a hipertrofia muscular, contribui para o aumento do gasto energético basal, facilitando a manutenção de um peso corporal adequado e favorecendo a saúde metabólica a longo prazo. Esses efeitos, contudo, dependem de uma abordagem estruturada e segura, que deve ser conduzida sob a orientação de um profissional devidamente qualificado.
O papel do personal trainer, nesse contexto, é essencial para ajustar adequadamente as variáveis do treinamento — como carga, volume e intensidade — de acordo com as necessidades individuais, prevenindo o risco de lesões e assegurando a continuidade e a eficácia do programa de exercícios.
A correta execução dos movimentos, orientada por um profissional, também é determinante para o sucesso do treinamento, evitando desequilíbrios musculares e biomecânicos que possam comprometer os resultados. Ademais, o suporte oferecido por um personal trainer extrapola o âmbito físico, incluindo aspectos motivacionais e psicológicos que são cruciais para a aderência a longo prazo ao programa de exercícios. A falta de consistência no treinamento é um dos principais fatores limitantes para a obtenção de resultados, e o acompanhamento especializado atua como um elemento facilitador para manter a motivação e o comprometimento dos praticantes.
Portanto, o treinamento resistido, quando bem orientado e estruturado, revela-se uma estratégia não apenas para a melhoria da estética corporal, mas, sobretudo, para a promoção de uma saúde metabólica otimizada. Os resultados são evidentes em termos de aumento da massa muscular, redução do tecido adiposo e prevenção de doenças metabólicas, constituindo-se como uma prática essencial para o bem-estar geral.
As evidências apontam para a necessidade de uma abordagem holística e integrada, que inclua não só o treinamento físico, mas também aspectos nutricionais e de recuperação adequados, com o suporte contínuo de profissionais especializados. Essa integração é determinante para assegurar a longevidade dos benefícios e a sustentabilidade dos resultados obtidos ao longo do tempo, promovendo transformações duradouras no estado de saúde e qualidade de vida dos indivíduos.
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