BLOCKCHAIN CROWDFUNDING: FILANTROPIA ATRAVÉS DE UMA ORGANIZAÇÃO AUTÔNOMA DESCENTRALIZADA NA REDE ETHEREUM

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411191203


Leonardo Hassan Zeaim1
Me. Alex Coelho2


Resumo

O artigo aborda o tema de filantropia por meio de um financiamento coletivo (crowdfunding) baseado em uma aplicação descentralizada no Blockchain, destacando sua relevância e alternativa inovadora e segura para outros financiamentos feitos com características fiduciarias.  O objetivo principal do trabalho é analisar como a tecnologia Blockchain, por meio de Contratos Inteligentes, pode transformar as práticas tradicionais de crowdfunding, promovendo maior transparência e segurança nas transações. Para isso, foi realizada uma revisão da literatura e uma pesquisa que forneceu insights sobre as vantagens e desafios dessa abordagem. Os resultados indicam que o uso de Blockchain não apenas reduz as taxas de fraude, mas também empodera os doadores, permitindo que participem ativamente das decisões sobre o uso dos recursos. Além disso, a pesquisa revelou um aumento significativo na adoção de plataformas de crowdfunding baseadas em Blockchain nos últimos anos, embora ainda existam barreiras relacionadas à regulamentação e à resistência à adoção de novas tecnologias. As conclusões sugerem que, apesar dos desafios, o crowdfunding baseado em Blockchain representa uma oportunidade promissora para democratizar o acesso ao financiamento e fomentar projetos sociais e inovadores, contribuindo para um futuro mais justo e equitativo.

Palavras-chave: Blockchain. Ethereum. Crowdfunding. Contratos Inteligentes. DAO.

1 INTRODUÇÃO

A conveniência, facilidade e rapidez que a internet trouxe nos últimos anos abriram novas possibilidades de campanhas financeiras que atingem uma grande parte dos usuários da rede, os quais muitas vezes dão luz a projetos emergentes, também colocando-os em funcionamento numa velocidade surpreendente, como no caso das startups. Isso demonstra uma nova realidade que vem crescendo, também trazendo desafios quanto à transparência dos crowdfundings.

O crowdfunding consiste em uma forma de financiamento coletivo, que funciona com o objetivo de obtenção de capital através de um grupo razoável de interessados e investidores que visam participação em uma iniciativa, projeto ou investimento. A nomenclatura contendo crowd demonstra a necessidade de uma quantia expressiva de participantes (MOLLICK, 2014). Mollick aborda o papel da multidão (crowd) no financiamento coletivo, destacando como o envolvimento de um grande número de participantes permite a captação de recursos.

Normalmente, campanhas de crowdfunding evoluem em plataformas online, porém a sua real criação é desde antes do surgimento da internet. A pioneira neste contexto data de 1885, na qual a campanha conseguiu arrecadar fundos vindos do mundo inteiro para erguer a estátua da liberdade em Nova Iorque (OSBORN, 2013).

1.1 Justificativa

Em inúmeros casos, iniciativas boas precisam de uma ajuda primária. O crowdfunding pode ser útil em diversos desses casos, como no caso de serviços sociais, caridade, desenvolvimento de algum projeto social e filantropia em geral. A ideia do projeto teve início em 2019 após uma crise econômica devastar as finanças do Líbano, onde o governo  acabou tomando o dinheiro das contas bancárias dos libaneses. Foi nessas condições que surgiu a necessidade da utilização de outros meios, mais especificamente Finanças Descentralizadas (Defi).

Claramente existem várias formas de fazer um crowdfunding, porém, alguns pontos importantes devem ser respondidos, como: qual o motivo de começar a investir/colaborar em alguma Blockchain? Qual seria a vantagem? Tais pontos são importantes aspectos a serem analisados, uma vez que a proposta pode ir de um simples crowdfunding online até a criação de uma plataforma descentralizada de crowdfunding de grandes proporções. A maior vantagem no caso do processo concentra-se em uma maior equidade e transparência. Os doadores, passam a participar ativamente das decisões que irão definir o real destino dos recursos coletados.. Isso é possível com a utilização de smart contracts, que definem as decisões que necessitam da aprovação de todos os envolvidos no negócio.

Assim, neste tipo de financiamento, é possível que as tecnologias Blockchain permitam a criação de aplicações com mais transparência, servindo como solução para problemas de segurança em geral existentes em formas de crowdfunding tradicionais, além de configurar uma forma mais justa dos usuários participarem, justamente por não se necessitar de um mediador.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

Para o trabalho em questão, foram realizados trabalhos para o levantamento de referencial teórico, abordando a literatura relacionada aos aspectos relevantes atualmente envolvendo a internet, crowdfunding, blockchain e smart contracts,  que mais serão utilizados durante o projeto.

2.1 De onde surgiu o termo web3?

Aspecto importante para se entender o atual estágio que sustenta as crowdfundings passa pelo desenho da web. Para isso, é necessário destacar o que vem a ser o  termo “Web3”, sendo necessário revisitar paradigmas anteriores. Inicialmente, com a Web1, basicamente notava-se o trabalho dentro de uma versão read-only, que consistia basicamente em fornecer ao consumidor informações e conteúdo mais simples. O usuário só podia ler as informações sem poder interagir com esse conteúdo. Justamente por isso, é categorizada como read-only, ou seja, somente leitura (O’REILLY, 2005).

Na Web2, que se tornou a versão  mais conhecida, pois trouxe novidades significativas como a habilidade do usuário interagir nas páginas, gravando as suas informações na rede, sendo que tais características expandiram as possibilidades para negócios. No caso, consistiu na versão read-write da rede. Essa nova versão trouxe uma experiência mais dinâmica, em que  o usuário pode fazer parte de comunidades online, trocar informações e criar o próprio conteúdo, dentre outras alternativas que envolvem redes sociais, blogs ou comunidades online. Conforme o tempo, a rede tomou dimensões gigantescas, na qual  várias plataformas começaram a criar forma (BERNERS, 2006).

Por fim, a Web3, como próxima versão, tem como fundação um dos maiores protocolos de fonte aberta existentes, capaz de transformar a internet em uma rede mais aberta, descentralizada e segura. Isso também inclui o fato de os usuários conseguirem ministrar transações ou interações sem mediadores (ZHOU, 2011). A Blockchain faz parte dessa nova geração de web, com aplicações descentralizadas que funcionam na rede, com o uso crescente dela por empresas e grandes organizações financeiras. No caso, a Web3 a cada dia se torna mais realidade e cada vez mais tem o seu espaço no mercado.

2.2 Blockchain

Conforme Adviser (2020), um Blockchain consiste em:

“Um tipo de banco de dados que pega vários registros e os coloca em um bloco (em vez de combiná-los em uma única folha de papel). Cada bloco é então “encadeado” ao próximo bloco, usando uma assinatura criptográfica. Isso permite que as cadeias de blocos sejam usadas como um livro-razão, que pode ser compartilhado e corroborado por qualquer pessoa com as permissões apropriadas.”

No caso, o Blockchain é uma ferramenta que rompe as barreiras da dualidade, pois é individual e público. São essas características que fazem com que ele seja uma ferramenta segura e promissora no quesito de transações monetárias. Este mecanismo busca proporcionar facilidade nos processos de transações, mantém o valor do objeto a ser transacionado e ainda garante segurança a todos os usuários envolvidos devido à forma como opera, pois as suas ações na plataforma são imutáveis e todos os envolvidos conseguem ter acesso a elas e, ao mesmo tempo, ainda garantem segurança aos proprietários, pois protegem a identidade do usuário (Nakamoto, 2008).

Block de bloco e Chain de corrente formam a palavra blockchain, termo popularizado em 2016 (JHONSEN, 2020), que se refere a um grupo de transações armazenadas em múltiplos nódulos numa rede de computadores (blocos). Esses nódulos armazenam dados que são gravados de uma forma em que cada bloco contém informações dos outros blocos da rede ou pelo menos contendo as transações mais recentes até algum momento de sincronização e atualização com a rede blockchain sendo utilizada. As tecnologias blockchain são as regras ou padrões de como um livro-razão é criado e mantido. Tecnologias diferentes têm regras diferentes para participação, diferentes regras de rede, diferentes especificações de como criar transações, diferentes métodos de armazenamento de dados e diferentes mecanismos de consenso. (LEWIS, 2018)

2.2.1 Rede Ethereum

Ethereum é uma plataforma blockchain descentralizada de código aberto com recursos computacionais que transformam a troca de moeda tradicional em uma transferência de valor entre usuários por meio de um script. A plataforma permite a criação e execução de contratos inteligentes (Smart Contracts) e aplicações descentralizadas (dApps). Ethereum tem dois componentes essenciais. O primeiro é um processador virtual Turing Completo que pode carregar recursos e executar scripts, chamado de Ethereum Virtual Machine (EVM). O segundo componente é um token de valor chamado Ether, que é a moeda da rede usada para transações de usuário para usuário ou compensação para mineradores da rede (DHILLON, 2017).

2.2.1.1 Componentes do Ethereum

Os contratos inteligentes são executados na Ethereum Virtual Machine (EVM), o ambiente onde o código dos contratos é processado de forma distribuída, em todos os nós da rede. O Ether (ETH) é a criptomoeda nativa da rede Ethereum, uma de várias outras utilizadas para pagar o Gas fee, que seria a taxa paga pelo custo computacional necessário na execução dos contratos inteligentes.

Os nós seriam as máquinas que armazenam uma cópia do blockchain e participam da verificação das transações e execução de contratos. Para que haja uma transferência desse. tipo, há uma necessidade de ter consenso das partes envolvidas, na Camada de Consenso mencionada na próxima seção.

  A rede Peer-to-Peer (P2P); no Ethereum, os componentes de um sistema blockchain descritos em “Componentes de um blockchain são, mais especificamente: rede P2P Ethereum é executado na rede principal Ethereum, que é endereçável em porta TCP 30303 e executa um protocolo chamado ÐEVp2p. (WOOD, 2019). Os nós se comunicam e sincronizam entre si, garantindo a mesma versão do blockchain em todos os nós.

2.2.1.1.1 Regras de consenso

As regras de consenso são ditadas por contratos inteligentes, mantendo a rede honesta e recebendo recompensas em troca. Essas regras são programadas para que ocorram transações e outras certas ações de um modo automático com partes na rede confiáveis ou não (WOOD, 2022). No white paper original de Ethereum, publicado por Vitalik Buterin em 2013, o mecanismo de consenso é consenso Proof of Work (PoW). O método imita e se inspira no consenso do Bitcoin. Porém, no fork histórico do Ethereum 2.0, a regra mudou para Proof of Stake (PoS). No PoS, a mineração do ETH foi abolida visando maior escalabilidade e menor consumo energético. Isso abriu um risco de centralização, pois quem possui mais token tem maior influência.

2.2.1.1.2 Transações

As transações Ethereum são mensagens de rede que incluem dados que contêm um remetente, destinatário, valor e carga útil de dados. Toda transação é registrada no blockchain, tem assinatura e taxas de transação.

2.2.1.1.3 Máquina de estado

As transições de estado Ethereum são processadas pela Máquina Virtual Ethereum (EVM), uma máquina virtual baseada em pilha que executa bytecode (máquina instruções). Os programas EVM, chamados de “contratos inteligentes”, são escritos em linguagens de alto nível (por exemplo, Solidity) e compilados em bytecode para execução no EVM.

2.2.1.1.4 Estruturas de dados

O Ethereum usa Merkle Patricia Trie, uma estrutura de dados híbrida que junta elementos e formatos da Merkle trees e Patricia tries. A estrutura tem armazenamento, armazena contas e estado, otimizando o processo de verificação. O Estado Ethereum consiste em contas individuais, cada uma com um endereço, nonce (para evitar ataques de repetição), saldo, raiz de armazenamento e hash de código.

O estado do Ethereum é armazenado localmente em cada nó como um banco de dados (geralmente LevelDB do Google), que contém as transações e o estado do sistema em uma estrutura de dados hash serializada chamada Merkle Patricia Trie (WOOD, 2018).

2.2.1.2 Smart Contracts

Um contrato inteligente (Smart Contract) é um acordo entre duas partes que fazem o uso da tecnologia blockchain para fazer valer as partes para aderir aos termos, em vez de confiar nas maneiras mais comuns, como confiar em um intermediário ou usar as leis para lidar com disputas.

Usando o blockchain Ethereum, você pode criar contratos inteligentes com a linguagem Solidity (entre outras). Ethereum não é a única plataforma que pode ser usada para criar contatos inteligentes, mas é a escolha mais popular, pois foi projetado desde o início para apoiar a sua construção (SKVORC, 2018).

Figura 1 – Ilustração da Diferença Entre Contratos Comuns e Smart Contracts

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024.

2.2.1.3 dApps

DApp é uma abreviação para um aplicativo web3 descentralizado que pode ter um front-end escrito em linguagens tradicionais como JavaScript, HTML, CSS. O back-end é um smart contract que é executado na blockchain. Então, você pode simplesmente pensar em um dApp como o front-end, mais os contratos inteligentes de blockchain associados. Ao contrário do contrato inteligente implantado no próprio blockchain, o front-end de um dApp pode ser hospedado em um servidor centralizado ou em armazenamento descentralizado (SKVORC, 2018).

2.2.1.4 Tokens ERC20

É a forma mais comum de criptomoedas, que podem ser criadas por qualquer pessoa ou organização. Esses tokens se aplicam a um formato de contratos inteligentes já definidos. Esses tokens representam um ativo, que pode ser fungível a outros ativos do mesmo tipo.

2.2.1.5 DAO

A sigla DAO refere-se a uma Organização Autônoma Descentralizada. Podendo ser análogas a empresas físicas fora da internet, têm de vantagem a possibilidade de os membros criarem e votarem em decisões de governança. Em empresas comuns, apenas os diretores e os executivos têm o poder de decisão, enquanto em uma DAO, este mesmo processo mencionado é decidido de uma forma democratizada, onde qualquer membro pode criar uma nova proposta. Toda proposta contém um prazo de resposta positiva ou negativa. A filiação e a participação são geralmente definidas pelos tokens ou moedas digitais, que, pela quantidade e qualidade, podem afetar o peso do voto em uma eventual proposta.

O conceito geral de “organização autônoma descentralizada” é o de uma entidade virtual que possui um determinado conjunto de membros ou acionistas que, talvez com uma maioria de 67%, têm o direito de gastar os fundos da entidade e modificar o seu código. Os membros decidiriam coletivamente como a organização deveria alocar seus fundos. (BUTERIN, 2014)

Figura 2 – Ilustração da Diferença Entre Contratos Comuns e Smart Contracts

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024.

2.2.1.6 Trabalhos Relacionados

Na sessão atual, serão apresentados os trabalhos relacionados a proposta exposta por esse trabalho. Os estudos ajudam a justificar e contextualizar a pesquisa, A tabela a seguir apresenta um quadro resumindo as informações dos artigos selecionados para a fundamentação deste trabalho.

Quadro 1 – Trabalhos Relacionados

TÍTULOAUTORESASSUNTO
Web3: A comprehensive review on background, technologies, applications, Zero-trust architectures, challenges and future directions.RAY, Partha Pratim.Este artigo revisa o ecossistema do Web3, abordando suas principais inovações e implicações em diversas indústrias, incluindo finanças descentralizadas (DeFi), aplicativos descentralizados (DApps), tokens não fungíveis (NFTs) e organizações autônomas descentralizadas (DAOs).
Understanding the Evolution of the Internet: Web1.0 to Web3.0, Web3 and Web 3 plus.Jincheng Zheng, David Kuo Chuen Lee.Esse artigo, além de conter uma explicação abrangente sobre a web 3, explica a diferença e como a internet foi se moldando.
How Decentralized Autonomous Organizations Optimize Charitable Giving.Wulf A. Kaal.Esse artigo afirma métodos pelos quais uma organização descentralizada vem resolvendo problemas de centralização existentes em soluções de caridade modernas.
Exploring the potential of DAOs: a comprehensive study of decentralized autonomous organizations.Mahmoud, Amr Ibrahim Abbas.Esse artigo detalha estruturas, lógicas  e funcionalidades de uma DAO. O estudo faz uma análise do mercado e aplica leis de consenso para melhorar a descentralização progressiva do mercado analisado.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024.

No estudo de Ray (2023), o escritor aborda a relevância da descentralização, com o objetivo de diminuir a dependência de servidores centrais e intermediários, fomentando um ambiente digital mais transparente e aberto. Contudo, o Web3 se depara com obstáculos consideráveis, tais como escalabilidade, interoperabilidade, aderência às regulamentações e uso de energia, que precisam ser vencidos para sua adoção ampla.

A Evolução da Internet, artigo de Jincheng Zheng, David Kuo Chuen Lee, abrange desde o formato estático e “somente leitura” da Web 1.0 do início da década de 1990, no qual os usuários consumiam informações passivamente, até a plataforma interativa e orientada para a mídia social da Web 2.0, permitindo aos usuários conectividade e mais interação. Web3.0 marca uma mudança para uma web descentralizada em que usuários possuem e controlam dados via blockchain, promovendo plataformas comunitárias como DAOs.

No artigo de Kaal, ele explica que as Organizações Autônomas Decentralizadas oferecem inovações para otimizar caridades. Ao contrário das organizações de caridade tradicionais, os DAOs operam com governança descentralizada, permitindo aos membros da comunidade propor e votar diretamente em iniciativas de financiamento, reduzindo as despesas administrativas e melhorando a tomada de decisões.

O estudo de Mahmoud e Amr Ibrahim Abbas, investiga o potencial das Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs) como um modelo transformador para governança e tomada de decisão coletiva. Ao utilizar blockchain e contratos inteligentes, os DAOs operam independentemente das estruturas centralizadas tradicionais, permitindo que os membros proponham, votem e executem decisões de forma transparente.

3 METODOLOGIA

Nesta seção, descrevemos a metodologia empregada para conduzir esta pesquisa sobre crowdfunding fundamentado em Blockchain, abordando a revisão de literatura, as pesquisas e abordagens empregadas, a escolha das ferramentas, o esquema de implementação e os resultados e debates alcançados.

Essa pesquisa foi organizada em uma estrutura de cinco passos, sendo elas: 1) Revisão da Literatura; 2) Trabalhos e Metodologias; 3) Seleção das Ferramentas; 4) Modelo de Implementação; 5) Resultados e Discussões.

Figura 3 – Passo a passo de execução.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024.

3.1 Revisão Literária

O objetivo da revisão literária foi entender o estado atual do entendimento sobre crowdfunding, Blockchain e Contratos Inteligentes. Examinamos artigos acadêmicos, livros e publicações pertinentes que discutem a progressão do crowdfunding, suas utilizações em variados campos e os prós e contras do emprego de tecnologias descentralizadas. Também se analisou a literatura para identificar lacunas no conhecimento e possibilidades para pesquisas futuras, particularmente no âmbito da Web3 e suas consequências para o financiamento coletivo.

3.2 Trabalhos e Metodologias

Foi realizada uma pesquisa conduzida sobre trabalhos e metodologias associadas ao desenvolvimento de aplicações descentralizadas e a utilização de Blockchain para financiamento coletivo. A análise de métodos e estratégias empregadas em projetos similares foi incluída na revisão, ressaltando as práticas mais eficientes para assegurar transparência, segurança e independência no processo de financiamento. Este estudo também apontou práticas sugeridas na elaboração e aplicação de Contratos Inteligentes, bem como táticas para a administração e funcionamento de uma plataforma de financiamento coletivo fundamentada em Blockchain.

3.3 Seleção das Ferramentas

Para a execução da pesquisa, foram escolhidas ferramentas específicas que simplificam o desenvolvimento da aplicação de uma forma menos complicada. As ferramentas utilizadas incluem Meta Mask, Hardhat, Solidity, React e o Alchemy.

Metamask é uma carteira digital que permite a interação com o blockchain, especialmente na rede Ethereum.

Hardhat é uma ferramenta que combina praticidade e robustez. Já inclui um emulador de Blockchain local, para fazermos os testes antes de usar recursos reais. As ferramentas de debug existentes no Hardhat ajudaram bastante, pois no início do projeto era utilizada a rede de teste Rinkeby, que se tornou  obsoleta no final de 2022, abrindo espaço para a nova rede de teste Ethereum Sepolia. Além disso, o suporte que a Hardhat oferece a plugins tornou o trabalho mais fácil a partir do momento que o plugin chamado ethers, que permite a interação direta com o blockchain através da biblioteca JavaScript (Ethers.js), que também permite a gestão das carteiras, como exemplo Meta Mask, que foi utilizada durante os testes na rede de teste e na rede principal (Mainnet).

Solidity é a linguagem de programação nativa utilizada para geração dos contratos inteligentes na rede Ethereum. Essa linguagem foi desenvolvida especificamente para essa rede, tornando-a a linguagem mais suportada pela Ethereum Virtual Machine.

Alchemy é um serviço de infraestrutura que fornece acesso ao blockchain Ethereum via APIs. Esse serviço contém várias características que se encaixam com aplicações descentralizadas. É confiável e escalável, tem suporte à rede teste, e permite o acesso sem necessidade de hostear um nó inteiro na máquina física utilizada.

React é uma biblioteca JavaScript usada para a construção de interfaces de usuário. O fato de ser interativa e compatível com a aplicação descentralizada desenvolvida, ou seja, é compatível com Ethers.js, e possui tecnologias como hooks, que facilitam a lógica da interação com o blockchain.

3.4 Modelo de Implementação

O modelo de implementação sugerido para o financiamento coletivo baseado em Blockchain é um modelo de uma plataforma descentralizada que emprega Contratos. Inteligentes para administrar as transações. A etapa inicial envolve a definição do projeto e a obtenção de fundos, com os doadores podendo contribuir diretamente para a causa. Os Contratos Inteligentes asseguram que os recursos só serão liberados quando as condições acordadas forem cumpridas, fomentando a transparência e a segurança. A plataforma também deve possuir mecanismos de governança que possibilitem aos doadores opinar sobre a utilização dos recursos.

3.5 Resultados e Discussões

Os achados da análise dos dados sugerem que a aplicação de Blockchain no financiamento coletivo proporciona benefícios consideráveis, tais como maior transparência, diminuição de despesas e eliminação de intermediários. As conversas com especialistas indicaram que, mesmo diante de desafios como a regulamentação e a adoção de tecnologias, existem inúmeras possibilidades para inovação. O debate também discutiu as consequências éticas do financiamento coletivo baseado em Blockchain, enfatizando a necessidade de assegurar a segurança dos doadores e a responsabilidade dos projetos apoiados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Criação e Instalação do Ambiente de Desenvolvimento e das Dependências

O projeto foi iniciado como um projeto inicial Node.js, onde foi instalado o Hardhat, que seria a base para o desenvolvimento dos contratos. Logo foi possível iniciar um projeto básico Hardhat, que permitiu a instalação do ambiente de blockchain local para os primeiros testes. Após a instalação, o Hardhat foi inicializado via um script, que criou toda uma estrutura de diretorias, incluindo uma pasta “contracts” onde será desenvolvido o contrato em Solidity.

Há também uma necessidade da instalação das dependências, ethers.js, e um plugin @nomiclabs/hardhat-ethers que irá conectar o HardHat ao Ethers.

4.2 Configuração do Projeto

Finalizando o processo de instalação dessas dependências, deve-se configurar o arquivo hardhat.config.js para que inclua os dados da rede e da chave da API que permite o acesso ao blockchain. A rede escolhida inicialmente seria a rede de teste (testnet)  ou a rede principal (mainnet). A vantagem de utilizar as redes de teste é que, pois em um ambiente, permite a experimentação com Ethers fictícios, sendo assim mais seguro para testar o contrato antes do lançamento oficial, sem prejuízos.

Figura 4 – Exemplo do código da configuração mencionada.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024.

  1. A configuração “solidity” indica a versão Solidity utilizada.
  2. A rede selecionada no exemplo “sepolia” representa a rede teste Ethereum Sepolia.
  3. A “url” selecionada representa o endereço da chave da API liberada para acesso a blockchain.
  4. A última configuração “accounts” indica o local de inserção da chave privada da carteira que estará lançando esse contrato no blockchain.

4.3 Criação do Contrato Inteligente da Aplicação Autônoma Descentralizada.

O contrato inteligente dessa DAO foi composto de funções que permitem receber doações, tornando o doador um membro ativo da organização. O contrato também permite a criação e a votação em propostas, assim executando-as conforme a decisão dos membros existentes.

O contrato é criado em um arquivo do tipo.sol (Solidity) no diretório contracts, definido na seção 4.1. Para implantar o contrato, é necessária a inserção de um script para compilação via Hardhat, e através de um arquivo JavaScript, o Ethers é utilizado para completar a implementação na blockchain escolhida.

Figura 5 – Algoritmo utilizado para a função “doar”, no contrato inteligente.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024.

Figura 6 – Algoritmo utilizado para a função “criarProposta”, no contrato inteligente.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024.

Figura 7 – Algoritmo utilizado para a função “votarProposta”, no contrato inteligente.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024.

Figura 8 – A lógica por trás do funcionamento do Contato Inteligente.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2024.

4.4 Front-end e a Interface do Usuário.

Após o último passo, envolvendo a compilação do nosso código, incluindo a execução do contrato inteligente, é desenvolvida uma interface de usuário em React integrada com Ethers.js para que usuários comuns possam interagir diretamente com a DAO. O desenvolvimento da aplicação descentralizada com React possibilita a criação de componentes separados para cada funcionalidade da organização, como as funções mencionadas na parte anterior, permitindo uma organização e escalabilidade eficientes.

A interface conta com uma função de login através da carteira Metamask do usuário, uma página com projetos ou causas em pauta. Após a escolha da causa desejada, o usuário terá opções de doar, assim garantindo um local na votação de acordo com o valor doado. Após a votação, a resposta será salva, e de acordo com o prazo estipulado pelos usuários contribuintes, a votação se encerra, dando continuidade, ou não, à proposta votada.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo conclui que o crowdfunding fundamentado em Blockchain é uma inovação relevante na área de financiamento coletivo, proporcionando soluções práticas e seguras para os obstáculos encontrados pelas plataformas convencionais. O uso de Contratos Inteligentes não só fomenta a transparência e a segurança, como também fortalece os doadores, possibilitando que eles tenham um papel ativo nas decisões relacionadas ao uso dos recursos.

A pesquisa atingiu seus objetivos, evidenciando que a tecnologia Blockchain pode ser um recurso eficaz para democratizar o acesso ao financiamento e impulsionar iniciativas sociais e inovadoras. Contudo, é crucial que todos os envolvidos, incluindo desenvolvedores, reguladores e usuários, colaborem para vencer os obstáculos ligados à implementação dessa tecnologia.

As restrições da pesquisa envolvem a demanda por mais estudos empíricos para confirmar os achados e a análise de variados contextos culturais e econômicos. Recomenda-se que pesquisas futuras avaliem a efetividade de variados modelos de governança em plataformas de financiamento coletivo que utilizam Blockchain e avaliem o efeito das regulamentações na implementação dessas tecnologias.

Entretanto, a pesquisa e a criação do algoritmo também identificaram desafios, como a necessidade de regulamentação e a resistência à adoção de novas tecnologias por parte de alguns usuários. A discussão sobre a ética e segurança no crowdfunding digital também foi realizada. um ponto importante, com a necessidade de garantir que os projetos financiados sejam responsáveis, seguros e que os doadores tenham seus direitos protegidos.

Em resumo, o financiamento coletivo baseado em Blockchain não só revoluciona a ideia de financiamento coletivo, como também abre novas oportunidades para a cooperação e a inovação em vários setores, auxiliando na construção de um futuro mais justo e igualitário.

REFERÊNCIAS

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ZHOU, P. Discussion on precision network marketing based on web3, 2011.


1 Discente do Curso Superior de Sistemas de Informação da Universidade Estadual do Tocantins Campus Palmas. e-mail: leonardozeaim@unitins.br
2 Docente do Curso Superior de Sistemas de Informação da Universidade Estadual do Tocantins Campus Palmas. Mestre em Modelagem Computacional de Conhecimento pela UFAL. e-mail: alex.c@unitins.br