PROLAPSO DE CÉRVIX EM VACA MULTÍPARA: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411181610


Angélica Caetano Barreiro
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Melina Yasuoka


RESUMO 

O presente trabalho aborda o tratamento do prolapso de cérvix em uma vaca multípara, enfatizando a relevância de uma intervenção rápida e do manejo adequado para a recuperação reprodutiva do animal. O objetivo foi descrever o caso e analisar a eficácia das técnicas aplicadas, como contenção, sutura, anestesia e suplementação mineral. O estudo utilizou uma metodologia baseada em observação clínica, com o uso de práticas de higienização, aplicação de antibióticos profiláticos e suplementação mineral após o procedimento. Os resultados mostraram que a aplicação dessas técnicas permitiu a recuperação completa do animal, evitando complicações secundárias e permitindo seu retorno ao ciclo reprodutivo. A literatura consultada corroborou a eficácia das práticas adotadas, destacando a importância da suplementação mineral contínua para prevenir novos prolapsos. Conclui-se que a combinação de técnicas veterinárias com um manejo nutricional preventivo pode assegurar a integridade do trato reprodutivo e melhorar a saúde do rebanho. Este estudo reforça a necessidade de conscientização dos produtores sobre práticas de manejo e suplementação, especialmente em casos de prolapsos reprodutivos, visando à prevenção e o tratamento eficaz. 

Palavras-chave: Manejo reprodutivo. Suplementação mineral. Tratamento veterinário. Prolapso em bovinos.

1. INTRODUÇÃO 

O prolapso de cérvix em vacas representa uma das complicações reprodutivas que, embora menos comum em relação a outros tipos de prolapsos, como o vaginal e o uterino, pode trazer impactos significativos para a saúde e a produtividade dos animais. Essa condição é caracterizada pelo deslocamento da cérvix para fora da cavidade vaginal, geralmente no final da gestação ou logo após o parto. Fatores como o aumento da pressão intra-abdominal, mudanças hormonais e o relaxamento dos tecidos conectivos são frequentemente associados ao desenvolvimento desse problema. Quando o prolapso ocorre, ele exige intervenções rápidas e específicas para evitar danos permanentes ao trato reprodutivo da vaca e possíveis riscos de infecções secundárias (Almeida; Souza, 2017). 

Destaca-se a importância de um manejo adequado, especialmente em períodos críticos, como o final da gestação e o pós-parto. Deficiências nutricionais, como a falta de minerais essenciais, podem predispor o tecido reprodutivo ao enfraquecimento, aumentando as chances de prolapsos. Esse aspecto torna-se ainda mais relevante em ambientes rurais e pequenos sítios, onde o manejo nutricional pode não receber a devida atenção. Em tais cenários, intervenções profiláticas e terapêuticas adequadas se mostram essenciais para assegurar a saúde do animal e a continuidade de sua produtividade. O prolapso de cérvix, apesar de raro, exige atenção especial no manejo reprodutivo das vacas (Pereira et al., 2018). 

Além dos fatores nutricionais, as condições ambientais e os protocolos de manejo adotados influenciam a ocorrência de prolapsos de cérvix em bovinos. Propriedades que enfrentam problemas recorrentes com prolapsos indicam a necessidade de práticas preventivas e educativas, visando minimizar os riscos e melhorar a saúde do rebanho. Para tanto, a conscientização sobre a importância do monitoramento reprodutivo e do manejo nutricional durante o ciclo gestacional torna-se fundamental. Esse contexto ressalta a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre os fatores predisponentes e os métodos de manejo eficazes para prevenir e tratar prolapsos de cérvix, com o intuito de oferecer diretrizes aplicáveis ao campo (Silva et al., 2019). 

Diante desse cenário, o presente trabalho propõe-se a relatar e revisar quais são os fatores que contribuem para o desenvolvimento do prolapso de cérvix em vacas e quais práticas de manejo podem ser adotadas para sua prevenção e tratamento efetivo. 

A relevância deste trabalho reside na contribuição para o entendimento das causas e dos métodos de manejo que podem reduzir a incidência e as complicações associadas ao prolapso de cérvix em bovinos. Com a crescente demanda por produtividade na pecuária, a saúde reprodutiva das fêmeas torna-se um fator determinante para o sucesso da criação. Além disso, a difusão de práticas profiláticas e terapêuticas específicas para pequenos e médios produtores pode resultar em melhorias significativas na saúde dos animais, reduzindo custos e perdas associadas a complicações reprodutivas. 

A metodologia adotada neste trabalho foi baseada em uma revisão de literatura, na qual foram consultados estudos científicos, artigos técnicos e relatos de casos relacionados ao prolapso de cérvix em bovinos. A análise das informações foi direcionada para identificar os principais fatores de risco, métodos de prevenção e protocolos de tratamento que podem ser aplicados para o manejo adequado dessa condição reprodutiva. 

O objetivo desta pesquisa foi investigar as principais causas e os fatores predisponentes para o prolapso de cérvix em vacas, bem como identificar práticas de manejo e intervenção que possam contribuir para a redução da incidência e melhoria do tratamento dessa condição no âmbito rural. 

2. REVISÃO DE LITERATURA 

O prolapso de cérvix em vacas é uma condição rara, mas de significativa importância para a saúde reprodutiva dos bovinos, especialmente no período final da gestação e no pós-parto. Essa condição caracteriza-se pela protrusão do tecido cervical através da abertura vaginal, o que aumenta o risco de lesões e infecções. Estudos indicam que essa condição ocorre devido ao enfraquecimento dos tecidos de suporte da cérvix, associado a fatores como alterações hormonais e aumento da pressão intra-abdominal durante a gestação (SILVA et al., 2019). O relaxamento excessivo dos ligamentos pélvicos, induzido por hormônios como a relaxina e a progesterona, facilita o deslocamento da cérvix, especialmente em vacas multíparas (SOUZA; RIBEIRO; CASTRO, 2018). 

A prevalência do prolapso de cérvix em bovinos é menor em comparação com outras espécies, como ovinos, mas seu manejo exige atenção cuidadosa devido ao risco de complicações severas, como necrose do tecido prolapsado e infecções sistêmicas. Em bovinos, o prolapso é mais frequente em vacas que passaram por múltiplas gestações e nas que sofrem com deficiência nutricional, o que sugere que fatores de manejo também desempenham papel relevante na ocorrência da condição (GOMES et al., 2017). A incidência do prolapso tende a aumentar em propriedades onde há falta de suplementação mineral adequada, pois minerais como cálcio e fósforo são essenciais para a manutenção da integridade dos tecidos reprodutivos (SANTOS; MORAES, 2020). 

O manejo nutricional tem sido apontado como um dos principais fatores de prevenção ao prolapso de cérvix em bovinos. Segundo Oliveira e Moreira (2016), a suplementação adequada de cálcio, fósforo e magnésio é essencial para a manutenção da tonicidade dos tecidos conectivos e musculares, especialmente no período final da gestação. A deficiência desses minerais pode comprometer o tecido reprodutivo, facilitando o surgimento de prolapsos. A administração de vitamina D pode auxiliar na absorção de cálcio, o que reforça a necessidade de uma dieta equilibrada para evitar complicações reprodutivas (PEREIRA et al., 2018). 

A abordagem terapêutica do prolapso de cérvix em vacas envolve, geralmente, a contenção do animal, a higienização cuidadosa da área prolapsada e o reposicionamento manual do tecido. Para facilitar o procedimento e reduzir a dor, o uso de anestesia local é recomendado, conforme mencionado por Lima et al. (2021), que destaca a aplicação de lidocaína como uma prática eficaz para minimizar o desconforto do animal durante o reposicionamento. Após o reposicionamento, a sutura de contenção é uma técnica comum para manter a cérvix em posição, sendo a sutura em “U” ou colchoeira uma das mais utilizadas devido à sua eficácia (CARVALHO; ALMEIDA, 2017). 

A utilização de antibióticos profiláticos é uma medida amplamente adotada para evitar infecções secundárias após o tratamento do prolapso. Como descrito por Santos e Silva (2019), a aplicação de antibióticos de amplo espectro, como a gentamicina, contribui para reduzir o risco de infecções bacterianas, comuns em tecidos expostos. O uso de sprays de prata é outra medida recomendada para evitar a infestação por miíases, especialmente em ambientes rurais onde a presença de moscas é frequente e aumenta o risco de bicheiras em prolapsos expostos (MARTINS; FREITAS, 2020). 

O prolapso de cérvix, embora raro, tem consequências que vão além do bem estar animal, impactando diretamente a produtividade e o ciclo reprodutivo dos bovinos. Como observado por Costa et al. (2018), vacas que passam por prolapsos tendem a apresentar maiores taxas de infertilidade e dificuldades para retornar ao ciclo reprodutivo normal. Isso ocorre devido ao comprometimento do tecido cervical e à possibilidade de aderências internas, o que pode impedir uma recuperação completa, afetando a taxa de concepção futura. 

As práticas de manejo que priorizam a prevenção são fundamentais em propriedades com histórico de prolapsos. Conforme descrevem Almeida e Souza (2017), a suplementação mineral contínua, o controle de parasitas e o monitoramento constante durante o período gestacional são ações preventivas que reduzem as chances de prolapsos. Essas práticas também promovem uma recuperação mais rápida em casos onde o prolapso já ocorreu, melhorando a resposta ao tratamento e a taxa de sobrevivência. 

Além das medidas de prevenção e tratamento, a literatura também sugere a importância da educação e conscientização dos produtores sobre a condição. Silva e Menezes (2019) apontam que a falta de conhecimento sobre o prolapso de cérvix e suas causas leva ao manejo inadequado, contribuindo para a reincidência e piora da condição. A adoção de práticas informadas e baseadas em evidências científicas pode reduzir significativamente a incidência de prolapsos e outras complicações reprodutivas em bovinos. 

O prolapso de cérvix em vacas, embora raro, é uma condição que demanda atenção especializada devido ao impacto potencial sobre a saúde reprodutiva e o bem-estar animal. A protrusão do tecido cervical para fora da abertura vaginal compromete a função reprodutiva, aumentando o risco de lesões e infecções no local afetado. A condição está frequentemente associada a um enfraquecimento dos tecidos de suporte da cérvix, o que pode ser provocado por fatores hormonais, como o aumento dos níveis de relaxina e progesterona durante a gestação (SOUZA; RIBEIRO; CASTRO, 2018). Esses hormônios são responsáveis pelo relaxamento dos ligamentos pélvicos, favorecendo o deslocamento da cérvix. As vacas multíparas, aquelas que já passaram por várias gestações, estão particularmente predispostas ao problema, uma vez que o enfraquecimento dos tecidos de suporte tende a ser progressivo ao longo das gestações sucessivas (SILVA et al., 2019). 

A prevalência do prolapso de cérvix em bovinos é relativamente baixa em comparação com outras espécies, como os ovinos, mas a condição é de grande relevância por seu potencial de causar complicações graves. A literatura sugere que o manejo inadequado, especialmente em relação à nutrição e à suplementação mineral, pode agravar a situação. Gomes et al. (2017) destacam que a deficiência de minerais como cálcio e fósforo tem um papel importante na ocorrência do prolapso, pois esses nutrientes são essenciais para a integridade dos tecidos musculares e conectivos. A falta desses minerais, que desempenham funções cruciais na tonicidade dos tecidos, pode levar ao enfraquecimento da parede vaginal e cervical, tornando a vaca mais suscetível ao prolapso. Santos e Moraes (2020) confirmam que a suplementação mineral adequada, particularmente durante a fase final da gestação, pode ser uma estratégia eficaz para prevenir o prolapso, reduzindo o risco de complicações associadas à condição. 

No tratamento do prolapso de cérvix, a abordagem terapêutica requer uma intervenção cuidadosa, que envolve a reposição manual do tecido prolapsado e a aplicação de medidas para evitar infecções. Lima et al. (2021) descrevem o uso de anestesia local, como a aplicação de lidocaína, para proporcionar alívio à vaca durante o reposicionamento do tecido. Essa técnica diminui o desconforto do animal, facilitando o procedimento. Após o reposicionamento, a cérvix é frequentemente mantida em posição por meio de suturas, como as suturas em “U” ou colchoeiras, que são eficazes para evitar a reincidência do prolapso (CARVALHO; ALMEIDA, 2017). O tratamento também envolve o uso de antibióticos para prevenir infecções secundárias, que são uma preocupação comum devido à exposição do tecido prolapsado ao ambiente externo. Santos e Silva (2019) relatam que antibióticos de amplo espectro, como a gentamicina, são frequentemente utilizados para reduzir o risco de infecções bacterianas após o tratamento. 

Além das medidas terapêuticas, a prevenção do prolapso de cérvix deve ser uma prioridade nas propriedades rurais, uma vez que o manejo adequado é essencial para reduzir a incidência da condição. A suplementação mineral é uma prática preventiva fundamental, conforme destacado por Oliveira e Moreira (2016), que recomendam a inclusão de cálcio, fósforo e magnésio na dieta das vacas gestantes. A deficiência desses minerais, especialmente na fase final da gestação, pode prejudicar a tonicidade dos tecidos, facilitando o surgimento do prolapso. A administração de vitamina D também é recomendada para otimizar a absorção de cálcio e garantir que os tecidos reprodutivos da vaca se mantenham adequados para suportar o peso do feto (PEREIRA et al., 2018). 

O impacto do prolapso de cérvix vai além da saúde física do animal, afetando também a sua capacidade de se reproduzir. Costa et al. (2018) observam que vacas que sofreram prolapsos frequentemente apresentam dificuldades para retornar ao ciclo reprodutivo normal, com taxas de infertilidade mais altas. Isso ocorre devido ao comprometimento do tecido cervical e a possibilidade de aderências internas, que podem prejudicar a função uterina e aumentar as dificuldades na concepção. O tratamento adequado e as medidas de manejo preventivo, como a monitorização constante durante a gestação, podem minimizar esses efeitos, permitindo que as vacas se recuperem adequadamente e voltem a ser produtivas. 

Em propriedades com histórico de prolapsos, o manejo nutricional e a prevenção por meio de suplementação mineral são fundamentais. Almeida e Souza (2017) destacam que práticas como a suplementação contínua de minerais, o controle de parasitas e a vigilância constante durante a gestação são essenciais para reduzir a probabilidade de prolapsos. Essas práticas não só ajudam a prevenir o problema, mas também contribuem para uma recuperação mais rápida quando a condição já se manifesta, permitindo que a vaca volte à sua atividade reprodutiva e produtiva com maior eficiência. 

A conscientização e educação dos produtores sobre o prolapso de cérvix também têm um papel fundamental na redução da incidência dessa condição. Silva e Menezes (2019) ressaltam que a falta de conhecimento sobre os fatores de risco e as melhores práticas de manejo pode levar a um aumento dos casos de prolapsos, além de dificultar o tratamento adequado. Ao adotar práticas informadas e baseadas em evidências científicas, os produtores podem melhorar significativamente a saúde reprodutiva de suas vacas, prevenindo complicações graves e garantindo a continuidade da produtividade nas propriedades rurais. 

3. RELATO DE CASO 

Em dezembro de 2020, em uma propriedade rural do Sítio Bartolomeu localizada no Rio Grande do Norte, Brasil, foi atendida uma vaca multípara de aproximadamente cinco anos de idade, sem raça definida, que até então apresentava um histórico reprodutivo ativo e sem registros prévios de prolapso. Após o presente parto, o proprietário observou uma protuberância incomum na região perineal da vaca, o que levantou a suspeita de um possível prolapso de cérvix. Diante da situação, o animal foi prontamente avaliado por um veterinário, que realizou exames detalhados e confirmou o diagnóstico de prolapso cervical, exigindo intervenção para evitar complicações adicionais. 

Durante o exame inicial, foi observado que o tecido prolapsado apresentava sinais de hiperemia e edema, o que indicava uma inflamação devido ao contato com o ambiente externo e possíveis irritações. O prolapso se encontrava exposto, aumentando o risco de contaminação bacteriana e, consequentemente, de infecções secundárias. O diagnóstico clínico de prolapso de cérvix foi estabelecido com base no histórico, na inspeção do tecido deslocado e na condição geral do animal, que apresentava sinais de desconforto. 

Figura 1– Prolapso de cérvix em bovino exposto antes do início do procedimento de higienização.

Fonte: acervo próprio (2020).

O tratamento iniciou-se com a contenção do animal em um ambiente seguro e adequado para o manejo, reduzindo seu estresse, com cabresto e peias. A limpeza da área prolapsada foi realizada com água limpa fria, o que ajudou a reduzir a inflamação e a remover quaisquer resíduos que poderiam agravar a condição. Este procedimento foi essencial para preparar a região para o reposicionamento do tecido prolapsado, minimizando o risco de complicações durante a intervenção. 

Figura 2– Limpeza com água fria na área prolapsada para reduzir a inflamação e remover resíduos.

Fonte: acervo próprio (2020). 

Para garantir o conforto do animal e facilitar o procedimento, foi aplicada anestesia local utilizando lidocaína, com um volume de 5 ml. Essa técnica permitiu a analgesia local eficaz, bloqueando a sensação de dor na região pélvica e facilitando o manuseio do prolapso sem causar desconforto adicional ao animal. Com o bloqueio anestésico devidamente estabelecido, iniciou – se o reposicionamento cuidadoso do tecido cervical prolapsado. Para prevenir lesões adicionais no tecido sensível, o local foi previamente lubrificado, permitindo que o tecido deslizasse com mais facilidade para o interior da cavidade vaginal. Esse procedimento meticuloso visou minimizar traumas no tecido cervical e assegurar que a correção fosse realizada de maneira segura e eficiente. 

Figura 3– Aplicação de anestesia local com lidocaína para conforto do animal durante o reposicionamento do prolapso.

Fonte: acervo próprio (2020). 

Após o reposicionamento do tecido prolapsado, foi realizada uma sutura de contenção essencial para garantir que o tecido permanecesse na posição correta durante o processo de cicatrização. Para isso, foi empregada a técnica de sutura em “U”, também chamada de sutura colchoeira, amplamente recomendada nesses casos devido à sua eficácia em fixar o tecido sem exercer pressão excessiva que possa comprometer a vascularização local. O material utilizado foi um fio cordonê, semelhante ao cadarço, selecionado por sua resistência e capacidade de manter o tecido estável, além de oferecer maior segurança contra possíveis novos deslocamentos. A sutura foi cuidadosamente executada para favorecer uma cicatrização natural e eficaz, reduzindo o risco de complicações e garantindo que o tecido mantivesse sua posição anatômica ao longo do processo de recuperação. 

Figura 4– Aplicação da sutura em “U” para manter o tecido prolapsado em sua posição correta.

Fonte: acervo próprio (2020).

Com o término da sutura, foram aplicados medicamentos profiláticos para evitar infecções. Foi administrado um antibiótico de amplo espectro à base de gentamicina, o que proporcionou uma cobertura preventiva eficaz contra infecções bacterianas, essenciais neste tipo de intervenção. Foi ministrado um suplemento de cálcio para equilibrar o estado mineral da vaca, fator importante no pós-parto, dado que deficiências de cálcio podem predispor a outras complicações reprodutivas. 

Figura 5– Administração de antibióticos e suplementação de cálcio após o tratamento para prevenção de infecções e reequilíbrio nutricional.

Fonte: acervo próprio (2020). 

Para evitar a infestação de miíase, foi utilizado um spray de prata na área tratada. Este produto forma uma camada protetora que impede que as moscas depositem ovos no local, o que poderia resultar em bicheiras. A utilização do spray de prata é uma medida preventiva essencial, especialmente em ambientes rurais onde a infestação por miíase é comum em casos de prolapsos expostos. 

Figura 6– Aplicação do spray de prata na área prolapsada como medida profilática contra miíases.

Fonte: acervo próprio (2020). 

O manejo pós-operatório também incluiu recomendações ao proprietário sobre a suplementação mineral constante do animal, com foco no uso de sal mineral específico para bovinos. A deficiência mineral pode enfraquecer os tecidos conectivos e predispor o animal a novos prolapsos ou outras complicações reprodutivas. A suplementação adequada contribui para manter o equilíbrio fisiológico do animal, essencial para a saúde reprodutiva. 

Durante o período de recuperação, a vaca foi monitorada de perto para avaliar possíveis sinais de dor, infecção ou reincidência do prolapso. O animal respondeu bem ao tratamento, mostrando melhora significativa na condição física e redução do desconforto. A ausência de sinais de infecção ou de nova protusão do tecido indicou que o tratamento havia sido bem-sucedido. 

Após algumas semanas, a vaca retornou gradualmente ao seu estado normal e foi reintegrada ao ciclo reprodutivo. A equipe veterinária e o proprietário seguiram com o acompanhamento preventivo para assegurar que a condição não se repetisse. O sucesso do tratamento demonstrou a importância de uma intervenção rápida e do manejo nutricional contínuo para evitar futuras complicações. 

Figura 7– Vaca já recuperada após três anos e quatro meses do tratamento, reintegrada ao ciclo reprodutivo em pós parto de sua terceira gestação com seu bezerro.

Fonte: acervo próprio (2024). 

Este caso ilustra a importância de uma abordagem prática e abrangente para o tratamento de prolapsos em vacas, incluindo a combinação de técnicas de contenção, higienização, sutura e medicação profilática. As práticas adotadas são baseadas em protocolos veterinários que garantem a segurança do animal e aumentam as chances de uma recuperação bem-sucedida sem complicações adicionais. 

A suplementação mineral contínua e o manejo cuidadoso são essenciais para minimizar os riscos de prolapsos e outros problemas reprodutivos em bovinos. Em propriedades rurais, o acompanhamento veterinário preventivo é uma prática que pode evitar uma série de problemas de saúde, prolongando a vida reprodutiva e produtiva dos animais e, consequentemente, beneficiando a produção leiteira ou de corte. 

4. DISCUSSÃO 

No presente estudo, o tratamento do prolapso de cérvix foi realizado com sucesso utilizando técnicas de contenção, higienização e sutura colchoeira, com administração de profiláticos antibacterianos e suplementação mineral. Comparado a outros estudos, a abordagem adotada mostrou-se eficaz e alinhada com as práticas recomendadas na literatura, destacando a importância de uma intervenção rápida e manejo preventivo contínuo. De acordo com Almeida e Souza (2017), a sutura em “U” é amplamente utilizada em prolapsos cervicais devido à sua capacidade de manter o tecido em posição sem causar lesões adicionais. Esse método foi eficaz no presente caso, onde o prolapso foi contido com sucesso e o animal pôde retornar ao seu ciclo reprodutivo. 

A suplementação mineral desempenhou papel importante na prevenção de recorrências, um aspecto que também é amplamente discutido por Oliveira e Moreira (2016), que enfatizam o papel de minerais como cálcio e fósforo na integridade dos tecidos reprodutivos. Na propriedade em questão, a suplementação de cálcio foi implementada após o tratamento inicial, em resposta à observação de que deficiências minerais podem predispor os animais a prolapsos. Santos e Moraes (2020) corroboram essa necessidade, destacando que a deficiência de minerais é um fator predisponente para o enfraquecimento dos tecidos de suporte, e a suplementação é essencial para manter a saúde reprodutiva. 

Um aspecto comparativo importante envolve o uso de anestesia local para facilitar o procedimento e reduzir o estresse do animal, conforme recomendado por Lima et al. (2021). A aplicação de lidocaína no presente estudo proporcionou um procedimento mais tranquilo e sem desconforto excessivo para a vaca, o que também foi observado por Lima et al. (2021) como uma técnica eficaz para minimizar a dor e o estresse em bovinos durante intervenções manuais. Esse uso de anestesia local permitiu à equipe realizar o reposicionamento do prolapso com maior segurança e precisão, fator considerado crucial para a eficácia do procedimento. 

A utilização de sprays de prata, aplicada após a sutura, foi uma medida preventiva essencial para evitar a infestação de miíases, como discutido por Martins e Freitas (2020). Em áreas rurais onde a incidência de miíase é alta, esse tipo de proteção é considerado uma prática recomendada para evitar que moscas depositem ovos em tecidos expostos, minimizando assim o risco de bicheiras. No presente estudo, o uso do spray de prata foi uma adição valiosa ao tratamento, proporcionando uma barreira protetora que auxiliou na recuperação segura do tecido prolapsado. 

O uso de antibióticos profiláticos para prevenir infecções secundárias também foi uma prática que se alinhou à literatura existente. Segundo Santos e Silva (2019), a aplicação de antibióticos de amplo espectro, como a gentamicina, é uma estratégia comum para reduzir a incidência de infecções bacterianas em prolapsos expostos. No caso apresentado, a administração de antibióticos auxiliou na prevenção de infecções que poderiam comprometer a cicatrização e a recuperação do tecido prolapsado, o que demonstra a importância desse protocolo profilático. 

Estudos prévios indicam que prolapsos de cérvix podem ter impacto negativo na fertilidade e na capacidade reprodutiva do animal, um fator também observado por Costa et al. (2018). No entanto, o caso presente mostrou que, com um tratamento adequado, a vaca pôde retornar ao ciclo reprodutivo sem complicações aparentes, o que sugere que uma intervenção oportuna e um manejo pós-operatório rigoroso podem reduzir ou até evitar os efeitos adversos na fertilidade. Esses achados reforçam a ideia de que o sucesso do tratamento depende de uma intervenção rápida e de um cuidado pós-operatório consistente. 

A literatura também enfatiza a importância do monitoramento e do manejo nutricional para prevenir novas ocorrências de prolapsos. Santos e Moraes (2020) apontam que o acompanhamento nutricional regular e a suplementação mineral contínua são fundamentais para a manutenção da integridade dos tecidos de suporte, especialmente em vacas multíparas, mais propensas a prolapsos devido à laxidão dos ligamentos reprodutivos. O presente estudo reforça essa abordagem, implementando a suplementação de cálcio e outros minerais no manejo da propriedade, o que provavelmente contribuiu para o sucesso do tratamento e para a prevenção de reincidências. 

A conscientização dos produtores sobre práticas preventivas e de manejo reprodutivo pode fazer uma diferença significativa na prevenção de prolapsos e na redução das taxas de complicações. Silva e Menezes (2019) defendem que a falta de conhecimento sobre a condição e suas causas pode resultar em um manejo inadequado, levando a recorrências e agravações. Esse caso demonstra que uma intervenção baseada em práticas informadas e preventivas pode ser efetiva na recuperação do animal e na manutenção de sua saúde reprodutiva. 

5. CONCLUSÃO 

A utilização de técnicas de contenção, higienização, anestesia local e sutura de contenção, associadas à administração de antibióticos e suplementação mineral, mostrou-se eficaz para reposicionar o tecido prolapsado e assegurar uma cicatrização adequada. A recuperação bem-sucedida da vaca estudada evidencia que o tratamento rápido e cuidadoso pode restabelecer a integridade do trato reprodutivo e permitir o retorno do animal ao ciclo reprodutivo sem maiores prejuízos. O manejo nutricional contínuo, especialmente com a suplementação de cálcio e fósforo, revelou-se essencial para evitar novas ocorrências, reforçando a relevância de uma dieta balanceada no período gestacional e pós-parto. Esse aspecto foi fundamental para o caso em questão, pois a suplementação ajudou a fortalecer os tecidos de suporte e a reduzir a possibilidade de recorrência do prolapso. 

O presente estudo reforça ainda a importância da educação dos produtores rurais sobre práticas preventivas e manejo reprodutivo adequado. A conscientização sobre fatores predisponentes, como deficiências nutricionais e o monitoramento de vacas multíparas no final da gestação, pode contribuir significativamente para reduzir a incidência de prolapsos de cérvix. O conhecimento sobre a condição e as técnicas de tratamento também permite uma resposta rápida e eficiente, evitando complicações que poderiam comprometer a saúde e a produtividade do animal. 

O sucesso do tratamento do prolapso de cérvix depende de uma intervenção rápida, adequada e baseada em protocolos veterinários bem definidos. A associação entre práticas de manejo preventivo, suplementação nutricional e técnicas de contenção e higienização foi determinante para a recuperação completa da vaca. Este caso destaca a necessidade de um acompanhamento veterinário regular e de um manejo alimentar balanceado para a saúde reprodutiva do rebanho, fatores essenciais para garantir o bem-estar animal e a sustentabilidade da produção. 

REFERÊNCIAS 

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