A RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA RENAL CRÔNICA E A ANEMIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411180911


Ana Beatriz Mariano Dos Santos
Brena Da Silva Oliveira
Ericleiton Santana De Oliveira
Maíse Pereira Souza
Thailanny Patrizi Moreira Da Silva Chinelate
Orientador(a): Professora Lorena Silva Matos Andrade


RESUMO

A relação entre a Doença Renal Crônica (DRC) e a anemia é um tema de grande importância na prática clínica, pois a anemia relacionada à DRC pode afetar de maneira significativa a qualidade de vida dos pacientes. Este estudo investiga como a anemia está relacionada com a DRC e quais são os mecanismos fisiopatológicos envolvidos. Embora a inflamação e a desnutrição sejam fatores relevantes, evidências recentes mostram que a desnutrição pode estar mais fortemente ligada à anemia do que a inflamação em si. Os tratamentos convencionais, como os agentes estimuladores da eritropoiese (ESA) e a terapia com ferro parenteral, são comuns, mas a adequação das diretrizes atuais tem sido colocada em questão, especialmente quanto ao uso de EPO em pacientes com baixa saturação de transferrina. Novas abordagens, como os inibidores do fator induzido por hipóxia (HIF), estão sendo estudadas para preencher lacunas no tratamento, buscando não apenas corrigir a anemia, mas também reduzir a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Para realizar esta investigação, foi adotada a metodologia de revisão integrativa da literatura, reunindo e analisando artigos publicados entre 2014 e 2024. Conclui-se que é de suma importância de estarmos sempre atualizados com as novas evidências científicas e diretrizes clínicas, para que possamos oferecer um cuidado mais personalizado e eficaz aos pacientes que enfrentam essa condição desafiadora.

Palavras-chave: Anemia. Doença Renal Crônica. Tratamentos convencionais.

ABSTRACT

The relationship between Chronic Kidney Disease (CKD) and anemia is a topic of great importance in clinical practice, since CKD-related anemia can significantly affect patients’ quality of life. This study investigates how anemia is related to CKD and what are the pathophysiological mechanisms involved. Although inflammation and malnutrition are relevant factors, recent evidence shows that malnutrition may be more strongly linked to anemia than inflammation itself. Conventional treatments, such as erythropoiesis-stimulating agents (ESA) and parenteral iron therapy, are common, but the adequacy of current guidelines has been questioned, especially regarding the use of EPO in patients with low transfer saturation. New approaches, such as hypoxia-inducible factor (HIF) inhibitors, are being studied to fill gaps in treatment, aiming not only to correct anemia, but also to reduce morbidity and mortality and improve patients’ quality of life. To carry out this investigation, the integrative literature review methodology was adopted, gathering and analyzing articles published between 2014 and 2024. It is concluded that it is of utmost importance to always be up to date with new scientific evidence and clinical guidelines, so that we can offer more personalized and effective care to patients facing this challenging condition.

Keywords: Anemia. Chronic Kidney Disease. Conventional treatments.

INTRODUÇÃO

A Doença Renal Crônica (DRC) é uma condição que apresenta um grande desafio tanto para os sistemas de saúde quanto para as pessoas diretamente afetadas, transformando-se em uma questão de saúde pública que demanda atenção constante e integral. Caracteriza-se por danos irreversíveis nos rins, resultando em uma perda gradual e progressiva de sua função, o que pode impactar profundamente a qualidade de vida dos pacientes e comprometer suas rotinas e bem-estar (Oliveira Júnior et al., 2015).

Além dos desafios clínicos, a DRC frequentemente está associada a diversas complicações, incluindo anemia, acidose metabólica e desnutrição, condições agravadas pelo estado inflamatório que afeta o corpo desses pacientes. Entre essas complicações, a anemia destaca-se como uma das mais comuns e preocupantes, não apenas por seu impacto sobre o coração e os vasos sanguíneos – aumentando o risco de doenças cardiovasculares – mas também devido ao cansaço profundo, à dificuldade em respirar, e até à névoa mental que ela provoca. Esses sintomas debilitantes não afetam apenas a saúde física, mas também a saúde mental e emocional, limitando as atividades do dia a dia, prejudicando o trabalho e o convívio social (Batista et al., 2021).

A principal causa dessa anemia é a produção insuficiente de eritropoietina pelos rins. Em condições normais, essa substância estimula a produção de glóbulos vermelhos no sangue, no entanto, com o agravamento do estado inflamatório da DRC, a capacidade dos rins de desenvolver essa função vital está comprometida. Isso dificulta a diferenciação das células responsáveis ​​pelo transporte de oxigênio no corpo, intensificando a fadiga e os demais sintomas que limitam a vida dos pacientes. Diante disso, um diagnóstico precoce da anemia na DRC e a implementação de um tratamento adequado tornam-se essenciais não só para evitar o agravamento da doença, mas também para resgatar o bem-estar dos pacientes, devolvendo-lhes parte da qualidade de vida.

A partir desse contexto, surge uma questão importante: como a anemia está relacionada com a DRC e quais são os mecanismos fisiopatológicos envolvidos? Esse estudo se propõe a explorar os fatores que ligam a anemia à DRC, investigando os mecanismos por trás dessa visão e como eles são importantes para a evolução da condição clínica dos pacientes.

Para realizar esta investigação, foi adotada a metodologia de revisão integrativa da literatura, reunindo e analisando artigos publicados entre 2014 e 2024. Esses estudos exploraram a relação entre a DRC e a gravidade da anemia, ressaltando a importância de monitorar os níveis de hemoglobina como uma estratégia de diagnóstico precoce. Essa abordagem menos invasiva e mais economicamente acessível revela-se promissora para identificar a extensão da anemia, trazendo a possibilidade de intervenções mais rápidas e eficazes.

Assim, esta pesquisa ressalta a relevância da investigação biomédica na busca por novas e mais abordagens para o diagnóstico e manejo da anemia na DRC. Exames de sangue simples, ao serem usados ​​como ferramentas de rastreamento precoce, podem melhorar a identificação da gravidade dessa complicação e contribuir para uma melhor qualidade de vida dos pacientes, minimizando o impacto da doença em suas vidas. O esforço de encontrar abordagens mais humanizadas e acessíveis reflete um avanço significativo no cuidado desses pacientes e na esperança de que, um dia, a carga dessa doença possa ser amenizada de forma substancial.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 CONCEITUANDO A DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC)

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) configuram-se atualmente como uma das maiores ameaças à saúde global, sendo responsáveis ​​por cerca de 60% das mortes ao redor do mundo. Estas doenças, por sua natureza prolongada e muitas vezes debilitante, afetam milhões de pessoas e famílias, alterando profundamente o cotidiano, o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos. O impacto das DCNT vai além da saúde individual, influenciando a economia e as estruturas sociais das comunidades. No Brasil, nas últimas décadas, uma série de transformações epidemiológicas, demográficas e nutricionais colocadas como DCNT no topo das prioridades de saúde pública, uma vez que a prevalência dessas doenças continua a crescer entre diferentes faixas etárias e contextos socioeconômicos (Fanchini et al., 2021).

Essas doenças crônicas têm causas complexas, resultantes da interação entre predisposição genética e comportamentos de risco, como o consumo de tabaco, a inatividade física, a obesidade, alterações no colesterol (dislipidemia), o uso excessivo de álcool e uma alimentação desequilibrada, pobre em nutrientes. Além de afetar a saúde física, esses fatores de risco costumam estar relacionados a hábitos e contextos de vida que também impactam o bem-estar emocional e social, como o estresse e a pressão diária. Entre as muitas DCNT, algumas das mais comuns e preocupantes incluem o diabetes mellitus, o câncer, as doenças cardiovasculares e as doenças renais, com destaque especial para a doença renal crônica (DRC), que exige atenção contínua e cuidados prolongados para evitar complicações graves (Batista et al., 2021).

A Doença Renal Crônica (DRC) desperta grande preocupação devido à sua progressão rápida e, muitas vezes, silenciosa, que torna um problema sério de saúde pública no Brasil e no mundo. Estudos e projeções de saúde alertam para o crescimento significativo no número de pessoas entregues à DRC nos próximos anos. Entre as principais causas estão o diabetes e a hipertensão, que também aumentaram em prevalência e representam duas das mais importantes doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Esse aumento se reflete diretamente no número de pessoas que desenvolvem complicações renais, agravando ainda mais o desafio de controle e prevenção das DCNT em escala nacional e global (Farinha et al., 2022).

Os rins são órgãos restritos, responsáveis ​​por várias funções essenciais ao equilíbrio do organismo. Eles eliminam resíduos, regulam os níveis de líquidos corporais e mantêm o equilíbrio de nutrientes. Portanto, qualquer falha em sua função compromete diretamente a estabilidade interna e o bem-estar geral do corpo. Na DRC, essa perda é gradual: à medida que a função renal declina, o corpo começa a enfrentar dificuldades para manter suas funções regulatórias, excretórias e endócrinas. Essa perda é observada principalmente na redução da taxa de filtração glomerular (TFG), que indica o quanto os rins estão conseguindo filtrar e purificar o sangue. Com o avanço da DRC, o declínio da TFG torna-se um indicativo do impacto sistêmico da doença, afetando diretamente a saúde física, a energia, e até a qualidade de vida do paciente (Graça, 2020).

A taxa de filtração glomerular (TFG) é o principal parâmetro usado para diagnosticar e acompanhar a Doença Renal Crônica (DRC), pois reflete de forma precisa como os rins estão funcionando. Ao avaliar a TFG, é fundamental levar em consideração fatores como idade, sexo e massa muscular do paciente, uma vez que a TFG naturalmente diminui com o envelhecimento. Uma interpretação cuidadosa desses dados permite a detecção precoce de qualquer declínio na função renal, o que é essencial para iniciar um tratamento adequado e, assim, retardar a progressão da DRC, prevenindo ou adiando a perda irreversível das funções renais (Lima; Scarelli, 2021).

O tratamento da DRC é desafiador e varia conforme o estágio da doença, a rapidez com que a TFG diminui e as complicações associadas às doenças subjacentes, como diabetes e hipertensão. Em estágios mais avançados, quando a TFG fica bastante reduzida, pode ser necessária a terapia renal substitutiva (TRS). Este tratamento pode incluir procedimentos como a hemodiálise ou o transplante renal (Mesquita et al., 2013). A hemodiálise atua como uma máquina que substitui os rins, filtrando o sangue e eliminando substâncias químicas do corpo, um procedimento essencial para muitos pacientes enquanto aguardam o transplante. Já o transplante renal representa um verdadeiro avanço na medicina, permitindo que um rim saudável de um doador assuma a função renal do paciente, promovendo uma qualidade de vida muito mais próxima do ideal (Pires et al., 2021).

À medida que a DRC avança, surgem complicações adicionais, como a anemia, que está fortemente ligada ao grau de insuficiência renal e às especificações de tratamentos específicos. Esse quadro exige que a abordagem terapêutica da DRC seja ampla e personalizada, considerando não apenas o nível de comprometimento renal, mas também todos os fatores clínicos e indivíduos do paciente. Com isso, é possível fornecer um atendimento mais humanizado, minimizando o impacto da doença na vida das pessoas e permitindo que enfrentem a DRC com mais apoio e recursos.

A rápida progressão e os impactos abrangentes da DRC evidenciam a importância de ações preventivas, tanto no controle das condições de risco como diabetes e hipertensão, quanto na conscientização sobre a saúde renal. Por meio de campanhas de educação em saúde, monitoramento preventivo e intervenções precoces, é possível não apenas retardar a progressão da DRC, mas também reduzir o impacto dessa condição na vida dos pacientes e nos sistemas de saúde.

2.2 ANEMIA COMO COMPLICAÇÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA

A anemia é uma complicação frequente e desafiadora para quem vive com a Doença Renal Crônica (DRC), afetando não só a saúde física, mas também o bem-estar emocional e a qualidade de vida. À medida que a DRC avança, os rins perdem sua capacidade de produção de eritropoietina, um hormônio essencial para que a medula óssea crie glóbulos vermelhos, responsável pelo transporte de oxigênio para todo o corpo. Quando a produção de eritropoietina diminui, a anemia surge e pode se tornar cada vez mais grave conforme a insuficiência renal progride.

A anemia é caracterizada pela diminuição do número de hemácias, ou glóbulos vermelhos, no sangue, ou pela redução dos níveis de hemoglobina (Hb) abaixo dos valores normais, que são definidos em 12g/dL pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para homens, mulheres e crianças saudáveis. Essa condição pode ocorrer por vários motivos, incluindo perda de sangue, destruição das hemácias ou produção insuficiente dessas células sanguíneas (Requião; Araújo, 2023).

Os sintomas da anemia em pessoas com Doença Renal Crônica (DRC) podem ser exaustivos e incluem uma sensação constante de cansaço, falta de ar mesmo em atividades simples, palidez, tonturas e dificuldades de concentração. Esse cansaço profundo impacta diretamente a rotina e os momentos de lazer, limitando a capacidade de realizar tarefas diárias e de desfrutar da vida em família. Além disso, a anemia coloca o coração sob pressão, exigindo que ele trabalhe mais para compensar a baixa de oxigênio, o que pode levar a problemas cardíacos e agravar ainda mais a saúde do paciente.

O tratamento da DRC é desafiador e varia conforme o estágio da doença, a rapidez com que a taxa de filtração glomerular (TFG) diminui e as complicações associadas a condições subjacentes, como diabetes e hipertensão. Nos casos mais avançados, quando a TFG é significativamente reduzida, pode ser necessária a terapia renal substitutiva (TRS), que pode incluir hemodiálise ou transplante renal (Mesquita et al., 2013). A hemodiálise funciona como uma máquina que filtra o sangue e elimina substâncias químicas do corpo, sendo um procedimento essencial para muitos pacientes enquanto aguardam o transplante. Por outro lado, o transplante renal representa um avanço na medicina, permitindo que um rim saudável de um doador assuma as funções executadas pelos rins do paciente, promovendo uma qualidade de vida muito mais próxima do ideal (Pires et al., 2021).

Na DRC, a anemia não resulta apenas da baixa produção de eritropoietina. A condição também provoca uma inflamação constante no corpo, que dificulta a produção de glóbulos vermelhos e interfere na absorção de nutrientes essenciais, como o ferro. Essa deficiência de ferro pode agravar o quadro de anemia, tornando o tratamento mais complexo e exigido acompanhamento constante. Além das influências biológicas, dos comportamentos cotidianos, como o tabagismo, e dos fatores ambientais, como viver em regiões de grande altitude, também podem afetar as concentrações de hemoglobina (Ribeiro-Alves; Gordan, 2014).

Esses aspectos tornam a anemia uma condição multifatorial, que pode afetar qualquer pessoa em diferentes momentos da vida. Reconhecer a anemia não apenas como um problema clínico, mas também como uma questão que pode impactar a qualidade de vida, é crucial para um tratamento mais eficaz. Isso envolve entender as particularidades de cada paciente, suas experiências e seu contexto, permitindo uma abordagem mais humana e personalizada na gestão dessa condição.

A anemia pode ter várias causas subjacentes que afetam pessoas de diferentes maneiras e em diversas situações. Entre essas causas estão as deficiências nutricionais de vitaminas e minerais, que muitas vezes decorrem de uma alimentação consumida ou de condições socioeconômicas desfavoráveis. A falta de acesso a um saneamento básico adequado pode resultar em infecções parasitárias, que não apenas causam perda de sangue, mas também levam à diminuição de nutrientes essenciais que o corpo precisa para funcionar corretamente. Além disso, fatores como processos inflamatórios e doenças hereditárias podem impactar a produção e o desenvolvimento das hemácias, contribuindo para o surgimento da anemia (Silva, 2022).

Um tipo específico de anemia, conhecida como anemia de doença crônica (ADC), ou anemia por inflamação crônica, é frequentemente observada em pacientes hospitalizados. Essa condição pode ser desencadeada por infecções bacterianas ou parasitárias persistentes, que afetam a capacidade do corpo de produção de glóbulos vermelhos de forma eficaz. Além disso, doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico (LES) e a artrite reumatoide, assim como as neoplasias e a progressão da síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), também podem levar ao desenvolvimento da ADC (Souza, 2023).

No contexto da Doença Renal Crônica (DRC), a anemia é uma complicação comum que muitas vezes se manifesta de forma precoce e tende a agravar-se à medida que a função renal diminui. Para muitas pessoas que enfrentam essa condição, a anemia pode ser uma fonte adicional de sofrimento, afetando sua qualidade de vida e seu bem-estar geral. A prevalência da deficiência de ferro em pacientes com DRC é alarmante, com cerca de 50% dos afetados apresentando essa condição. Isso ocorre devido ao estado inflamatório associado à doença, que eleva a produção de hepcidina. Essa proteína tem o efeito de limitar a absorção de ferro e sua circulação nos estoques do corpo, além de contribuir para a deficiência de eritropoietina (EPO), um hormônio essencial que resulta da perda da função renal (Vargas et al., 2022).

A fisiopatologia da Anemia de Doença Crônica (ADC) é complexa e envolve três mecanismos principais: a restrição do movimento do ferro nos estoques, a inibição da produção de glóbulos vermelhos devido à ação de mediadores inflamatórios e a diminuição da sobrevida das hemácias. A eritropoietina (EPO) desempenha um papel crucial na formação de glóbulos vermelhos, sendo secretada principalmente pelas células epiteliais ao redor dos túbulos renais, além de ser produzida em menor quantidade pelas células do fígado. A ausência de EPO leva à apoptose dos precursores dos eritrócitos, o que contribui significativamente para o desenvolvimento da anemia. Esse processo se intensifica com a perda de tecido ao redor dos túbulos renais na DRC, resultando em um ciclo que pode ser devastador para a saúde do paciente (Viana et al., 2023).

A patogênese da ADC é complexa e envolve uma série de processos que incluem a ação de citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, proteínas de fase aguda e radicais livres. Essas substâncias, juntamente com as células do sistema reticuloendotelial, interagem de maneiras que influenciam diretamente a produção e a sobrevivência das hemácias. Além disso, a hepcidina, uma proteína fundamental na regulação do ferro no organismo, desempenha um papel crucial nesse processo.

A interação entre macrófagos, hepatócitos e hepcidina é particularmente significativa na geração de anemia inflamatória, também conhecida como ADC. Os macrófagos são células do sistema imunológico que podem afetar a maneira como o ferro é utilizado no corpo, enquanto os hepatócitos, células do fígado, são responsáveis ​​pela produção de hepcidina. Essa complexa rede de interações não contribui apenas para a anemia, mas também reflete o impacto que as condições inflamatórias têm na saúde geral do paciente.

Para muitos que vivem com essa condição, a anemia não é apenas uma questão de números no exame de sangue; ela se traduz em fadiga constante, fraqueza e uma sensação de mal-estar que pode afetar a qualidade de vida. Por isso, é essencial que o tratamento da ADC leve em consideração não apenas a parte fisiológica, mas também as implicações emocionais e sociais que a anemia pode trazer, promovendo uma abordagem holística que busca melhorar a saúde e o bem-estar do paciente.

2.2.1 Entendimentos Fisiopatológicos da Anemia na Doença Renal Crônica

A anemia é uma condição bastante comum entre pessoas que convivem com a doença renal crônica (DRC), e sua gravidade tende a aumentar à medida que a doença avança. Para muitos pacientes, essa anemia não é apenas um dado técnico em exames de sangue; ela representa uma luta diária contra a fadiga, a fraqueza e a diminuição da qualidade de vida. Além de afetar o bem-estar físico, a anemia tem um papel crítico na evolução da DRC, estando associada a uma série de desfechos adversos, como eventos cardiovasculares, problemas cerebrovasculares, distúrbios do sono, um aumento no número de hospitalizações e elevação das taxas de morbimortalidade. Essas complicações transformam a vida do paciente, exigindo um manejo cuidadoso e contínuo da saúde (Bishaw et al., 2023).

A anemia que ocorre na DRC é geralmente como hipoproliferativa, normocítica e normocrômica. Isso significa que há uma redução tanto na produção de hemácias quanto na sua sobrevivência. As causas dessa anemia são complexas e multifatoriais. Um dos principais fatores é a diminuição da produção de eritropoietina endógena (EPO), um hormônio essencial que estimula a produção de glóbulos vermelhos na medula óssea. Além disso, muitos pacientes enfrentam uma deficiência funcional ou absoluta de ferro, um nutriente fundamental para a formação de hemácias. A presença de ADC no corpo também desempenha um papel significativo, levando a um aumento nos níveis de hepcidina, uma proteína que regula a absorção e o armazenamento do ferro, dificultando ainda mais a produção de glóbulos vermelhos (Farinha et al., 2022).

A anemia é uma complicação comum e complexa em pessoas que vivem com doença renal crônica (DRC), e diversos fatores desempenham um papel crucial em seu desenvolvimento. A gravidade da anemia tende a aumentar à medida que a DRC avança, refletindo a variação da função renal. Fatores como a idade do paciente, a presença de condições como diabetes e hipertensão, além de condições relacionadas ao estilo de vida, como obesidade e dislipidemia, têm um impacto significativo na gravidade da anemia. O diagnóstico de anemia na DRC é previsto quando os níveis de hemoglobina ficam abaixo de 12 g/dL em mulheres não grávidas. Essa queda é frequentemente resultado de uma produção concentrada de eritropoietina (EPO), um hormônio vital que estimula a produção de glóbulos vermelhos, além da deficiência de ferro que é comum nessa população (Hanna et al., 2021).

O cenário se complica ainda mais devido ao estado inflamatório associado à DRC. Nesse contexto, os pacientes tendem a produzir citocinas pró-inflamatórias que afetam a sensação de mal-estar e um estado de uremia. A função excretora dos rins se reduz, levando ao acúmulo de proteínas no organismo, o que não apenas piora a anemia, mas também impacta as qualidades de vida do paciente. A presença elevada de hepcidina, uma proteína que regula o metabolismo do ferro, também é um fator determinante. Quando a hepcidina está em níveis elevados, ela inibe a absorção de ferro no intestino e reduz a mobilização dos estoques de ferro no corpo, o que resulta em uma deficiência significativa desse mineral. Esse ciclo vicioso, em que a inflamação piora a anemia e a anemia agrava os sintomas da DRC, torna o manejo da saúde renal um desafio complexo (Brzozka et al., 2020).

O ferro é um mineral fundamental para a formação da hemoglobina, a proteína responsável pelo transporte de oxigênio no sangue. Ele é obtido principalmente por meio da dieta, sendo absorvido no intestino. Esse processo de aquisição é meticulosamente regulado pelo fator indutor de hipóxia (HIF-2), que atua controlando a coleta de ferro nos intestinos através de transportadores específicos, como o DMT1. Uma vez que o ferro é absorvido, ele é armazenado em forma de ferritina, principalmente no fígado, onde pode ser guardado até que o corpo seja deletado.

Quando os níveis de ferro na circulação ficam baixos, o organismo libera o mineral dos estoques, especialmente do fígado e do baço. Essa liberação é feita por meio de uma proteína chamada ferroportina, que se liga à transferrina, uma proteína que transporta o ferro para a medula óssea. É nesse local que o ferro desempenha um papel crucial na produção de glóbulos vermelhos, ajudando a manter a saúde e a vitalidade do corpo (Antunes et al., 2016).

Na doença renal crônica (DRC), a anemia frequentemente se manifesta e pode ser atribuída a duas situações principais: a deficiência absoluta de ferro e a deficiência funcional. A deficiência absoluta ocorre quando as reservas de ferro nos órgãos, como fígado, baço e medula óssea, se tornam insuficientes, seja por causa de perdas sanguíneas ou por uma ingestão de minerais na dieta. Já a deficiência funcional ocorre em situações nas quais o ferro está presente, mas não em quantidade suficiente para atender à demanda aumentada, que pode ser provocada por fatores como inflamação crônica e o uso de agentes estimuladores da eritropoiese (AEEs) (Bazeley et al., 2022).

Desta forma, os aspectos considerados neste estudo destacam a importância crucial do diagnóstico precoce e da gestão eficaz da anemia na doença renal crônica (DRC). Essa condição é revelada uma das complicações mais graves da DRC, especialmente em decorrência da deficiência de eritropoietina (EPO). O tratamento com EPO exógena proporcionou benefícios importantes para muitos pacientes, melhorando a qualidade de vida e a capacidade funcional. No entanto, é fundamental considerar que o estado inflamatório, comum em indivíduos da DRC, pode interferir na eficácia desse tratamento, resultando em respostas clínicas insatisfatórias em alguns casos.

Essa realidade ressalta a necessidade de abordagens terapêuticas diversificadas e adaptativas. Nesse contexto, os inibidores de HIF-PHI surgem como uma alternativa promissora para o manejo da anemia em pacientes com DRC, oferecendo uma nova esperança de tratamento. Essa opção pode contribuir para melhorar a resposta ao tratamento e proporcionar uma qualidade de vida melhorada para os pacientes, reforçando a importância de uma abordagem integral que considere tanto as condições clínicas subjacentes quanto o bem-estar geral dos indivíduos afetados.

3. MATERIAL E MÉTODOS

Para a pesquisa intitulada “A relação entre a gravidade da doença renal crônica e a anemia”, será realizada uma análise integrativa da literatura. A primeira etapa desse processo consiste em formular uma pergunta de pesquisa clara e concisa, utilizando a estratégia PIO (Paciente, Intervenção, Resultado). A questão definida para este estudo é: “Qual é a relação entre a anemia e a doença renal crônica, levando em consideração os mecanismos fisiopatológicos envolvidos?”

No que diz respeito à avaliação dos estudos, foram incluídos artigos publicados entre 2014 e 2024. No entanto, também consideramos artigos mais antigos que, apesar de terem sido publicados antes desse período, são extremamente relevantes para a compreensão do tema. A pesquisa se baseará em artigos de revisão e revisões narrativas, garantindo uma análise abrangente e fundamentada. Apenas foram excluídos aqueles textos que não foram apresentados pertinentes ao foco da investigação, garantindo que a seleção dos materiais seja rigorosa e alinhada com os objetivos da pesquisa. Assim, buscamos criar uma base sólida que permita uma compreensão mais profunda da interseção entre a anemia e a doença renal crônica, contribuindo para futuras discussões e pesquisas nesta área tão importante da saúde.

Na fase de interpretação e apresentação dos resultados, será adotada uma abordagem sistemática e cuidadosa para selecionar os estudos que contribuirão para a pesquisa. Inicialmente, todos os artigos relevantes serão selecionados por meio de uma busca abrangente nas bases de dados. Após essa identificação, será feita a remoção de duplicatas, garantindo que cada estudo seja comprovado apenas uma vez.

Em seguida, os títulos e resumos dos artigos selecionados serão avaliados com base em critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos, garantindo a relevância dos estudos para o tema em questão. Apenas aqueles que realmente contribuíram para a compreensão da relação entre a doença renal crônica e a gravidade da anemia serão incluídos na análise final.

Os resultados obtidos serão apresentados de maneira clara e organizada, fornecendo uma visão detalhada que inclui informações cruciais, como os nomes dos autores, o ano de publicação, os objetivos do estudo, a metodologia utilizada e a amostra apresentada. Além disso, serão abordadas investigações sobre as interações entre placas e cérebro, potenciais biomarcadores e as principais conclusões extraídas dos estudos.

Acredita-se que esta análise integrativa não apenas enriquecerá o entendimento sobre a relação entre a doença renal crônica e a gravidade da anemia, mas também trará insights importantes que podem orientar futuras pesquisas e práticas clínicas. Dessa forma, o objetivo é contribuir de maneira significativa para o conhecimento na área e, acima de tudo, para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes que enfrentam essas condições.

4. RESULTADOS

Tabela 1: Análise dos artigos que tratam sobre a relação entre a doença renal crônica e a anemia

TítuloAno e local de publicaçãoAutoresPalavras ChaveResumo
Aplasia pura de células vermelhas e anticorpo antieritroproteina em pacientes de hemodiálise: relato de dois casos e revisão da literatura.2019, Brazilian Journal of NephrologyGabriela Lacreta; Sérgio Gardano Elias Bucharles; Gabriela Sevignani; Miguel Carlos Riella; Marcelo Mazza do Nascimento;Anemia; Renal Insufficiency, Chronic; Renal DialysisAnemia é complicação frequente da Doença Renal Crônica (DRC) em pacientes dialíticos. Apresenta caráter multifatorial principalmente pela insuficiente produção de eritropoietina (EPO). Situação rara causadora de anemia na DRC é Aplasia Pura de Células Vermelhas (APCV), em decorrência da produção de anticorpos antiEPO.
Anemia em pacientes pré-diálise: prevalência, gravidade, manejo2016, Revista da Associação Médica BrasileiraMuhammad Salman, Amer Hayat Khan, Azreen Syazril Adnan, Syed Azhar Syed Sulaiman, Khalid Hussain, Naureen Shehzadi, Muhammad Islam, Fauziah Jummaatanemia, terapia antianêmica, doença renal crônica, inércia do médico    Anemia, uma complicação comum de doenças renais crônicas (DRC), está envolvida em morbidade cardiovascular significativa. Portanto, o objetivo do nosso estudo foi investigar a prevalência e a gravidade da anemia em pacientes pré-diálise, bem como determinar os preditores da terapia antianêmica.
A relação dos mecanismos fisiopatológicos entre a anemia e a doença renal crônica2021 REVISTA BRASILEIRA DE ANÁLISES CLÍNICASNicole Tavares Batista; Natalee Mari lima Sekioka; Alan Marcelo de souza farias filho; Kely Emi Hiraianemia, doença crônica, deficiência de ferro.A anemia é uma das complicações associadas a DRC, possui surgimento precoce, a anemia mais comum na DRC é a deficiência de Ferro, bem como a deficiência de Eritropoetina.
Diagnóstico de anemia em pacientes portadores de doença renal crônica2014; Brazilian Journal of NephrologyMaria Almerinda Ribeiro-Alves ;Pedro Alejandro Gordaneritropoietina, deficiência de ferro, exames laboratoriais, diagnósticoA anemia da DRC é normocítica (volume corpuscular médio, VCM, entre 80 e 96 fentolitros, fl) e normocrômica (concentração de hemoglobina corpuscular média, CHCM, entre 32 e 36 g/dL) e atribuída a um déficit relativo de eritropoietina, porém, pode ter como fatores agravantes a deficiência de ferro (causada por perdas gastrointestinais imperceptíveis, desnutrição, múltiplas intervenções cirúrgicas, exames laboratoriais frequentes e perdas na diálise), a presença de fenômeno inflamatório e outras causas não relacionadas à DRC que podem alterar as características hematimétricas da anemia.
Hepcidina: um importante regulador do metabolismo de ferro na doença renal crônica2021, Brazilian Journal of NephrologySandra Azevedo Antunes, Maria Eugênia Fernandes Canzianianemia; doença renal crônica; diálise renal; inflamação; peptídeosAnemia é uma complicação frequente e seu impacto na morbimortalidade é bem conhecido em pacientes com doença renal crônica (DRC). A descoberta da hepcidina e de suas funções contribuíram para melhor compreensão dos distúrbios do metabolismo de ferro na anemia da DRC. Hepcidina é um peptídeo produzido principalmente pelos hepatócitos, e através de sua ligação com a ferroportina, regula a absorção de ferro no duodeno e sua liberação das células de estoque. Altas concentrações de hepcidina descritas em pacientes com DRC, principalmente em estádios mais avançados, são atribuídas à diminuição da excreção renal e ao aumento de sua produção. Elevação de hepcidina tem sido associada à ocorrência de infecção, inflamação, aterosclerose, resistência à insulina e estresse oxidativo. Algumas estratégias foram testadas para diminuir os efeitos da hepcidina em pacientes com DRC, entretanto, serão necessários mais estudos para avaliar o impacto de sua modulação no manejo da anemia nessa população.
Inflamação e má resposta ao uso de eritropoetina na doença renal crônica2015, Brazilian Journal of NephrologyOliveira Júnior, Wander Valadares de; Sabino, Adriano de Paula; Figueiredo, Roberta Carvalho; Rios, Danyelle Romana Alvesanemia; citocinas; eritropoetina; inflamação; insuficiência renal crônica; polimorfismo genéticoA prevalência da doença renal crônica (DRC) tem aumentado nos últimos anos e vários fatores estão associados à instalação e progressão da DRC, tais como obesidade, hipertensão arterial e diabetes mellitus. Uma das complicações da DRC é a anemia causada principalmente pela deficiência de ferro e de eritropoetina (EPO). Um dos tratamentos para este tipo de anemia é uso de eritropoetina exógena. O paciente com DRC submetido à diálise apresenta um estado inflamatório crônico, provocando uma situação de má resposta à ação medular da EPO, causando anemia, desnutrição, agravamento da aterosclerose e aumento da mortalidade. O objetivo deste artigo foi revisar as evidências científicas referentes à associação da má resposta clínica ao uso de EPO e a presença de inflamação na DRC.
Deficiência funcional de ferro em pacientes em hemodiálise: prevalência, avaliação nutricional e de biomarcadores de estresse oxidativo e de inflamação2019, Brazilian Journal of NephrologyJuliana Carvalho Romagnolli Plastina; Vitor Y. Obara Décio Sabbatini Barbosa Helena Kaminami Morimoto Edna Maria Vissoci Reiche Andrea Graciano Vinicius Daher Alvares Delfinoeritropoietina;A anemia surge precocemente no decorrer da doença renal crônica (DRC) e sua prevalência aumenta à medida que se acentua a redução da função renal.
Anemia da Doença Renal Crónica: O Estado da ArteActa Medica Portuguesa, 2022Ana Farinha, António Robalo Nunes, João Mairos, Cândida FonsecaAnemia/diagnóstico; Anemia/tratamento farmacológico; Anemia Ferropénica; Doença Renal Crónica/complicações; Inibidores de Prolil-Hidrolase/uso terapêuticoO envelhecimento populacional tem-se traduzido no aumento de prevalência de doenças crónicas como a doença renal crónica. A anemia é uma das complicações mais frequentes da doença renal crónica, com impacto não só na qualidade de vida como no prognóstico do doente e nos custos associados. O conhecimento nesta área terapêutica tem aumentado de forma significativa: desde o aparecimento da eritropoietina recombinante em 1989, passando pelo uso de doses crescentes de ferro parentérico e, mais recentemente, a novas moléculas como os inibidores do hypoxia-inducible factor. Os autores pretendem rever, de uma forma pragmática, o estado da arte da anemia associada à doença renal crónica, desde a epidemiologia, à fisiopatologia, ao diagnóstico e ao tratamento.
Tratamento da anemia na doença renal crônica – revisão descritiva2024, Revista FocoMarita de Novais Costa Salles de Almeida; Joseh Ilber Carreiro de Sales; Carla Fernanda da Silva Fróis; Ygor Alvarenga DiasDoença renal crônica; Anemia; eritropoetina; ferroIntrodução: a Doença renal crônica (DRC) é prevalente e à medida que a função renal é reduzida é comum o paciente cursar com anemia. Objetivo: discutir sobre a terapêutica de pacientes com anemia secundaria a DRC, bem como os novos avanços relacionados ao tratamento desses pacientes. Método: revisão bibliográfica descritiva, os dados foram levantados por meio de pesquisas nas bases de dados PubMed, nos anos de 2019 a 2024. Desenvolvimento: a principal causa da anemia na DRC é a produção inadequada de eritropoietina endógena, outros fatores como diminuição da disponibilidade de ferro para eritropoiese, aumento dos níveis de hepcidina, redução da meia-vida dos glóbulos vermelhos ou deficiências vitamínicas são comuns. O tratamento envolve reposição de ferro, agentes estimulantes da eritropoiese (AEE), transfusão de hemácias e Inibidores da prolil hidroxilase do fator induzível por hipóxia. Conclusão: estudar a fisiopatologia, diagnósticos diferenciais e as opções terapêuticas é a melhor forma de realizar o diagnóstico correto e tratamento da anemia associada a DRC. Novos tratamentos estão sendo estudados com vantagens sobre os protocolos atuais, novas drogas são importantes para amplicar o arsenal terapêutico.

Fonte: Os Autores, 2024.

4. DISCUSSÃO

O estudo de Lacreta et al. (2019) destaca a APCV como uma complicação rara, mas relevante, que pode surgir em pacientes que utilizam eritropoetina recombinante humana (EPOHuR), especialmente nas infusões subcutâneas de alfaepoetina, e reforça a necessidade de diagnóstico preciso e manejo cuidadoso. A associação da APCV ao uso de EPO destaca um dos desafios na gestão da anemia na DRC, especialmente devido à possibilidade de formação de anticorpos anti-EPO, que podem limitar a eficácia do tratamento e exigir estratégias alternativas, como imunossupressores. Este aspecto é crucial para a pesquisa ao demonstrar as complexidades envolvidas no tratamento de anemia na DRC e a importância de uma abordagem individualizada e criteriosa para esses pacientes.

Por outro lado, Salman et al. (2016) amplia a perspectiva ao evidenciar que a anemia é mais prevalente em estágios iniciais da DRC do que se supunha, relacionando diretamente a gravidade da anemia com o nível de função renal. O texto aponta que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado não apenas elevam a qualidade de vida dos pacientes, mas também prejudicam as hospitalizações decorrentes de complicações cardiovasculares. Essa visão preventiva sobre a anemia na DRC enfatiza a importância de intervenções rápidas e eficazes, fortalecendo a ideia de que o tratamento da anemia na DRC vai além do controle dos níveis de hemoglobina, influenciando diretamente a evolução clínica dos pacientes.

Os estudos de Batista et al. (2021) e Ribeiro-Alves e Goldan (2014) oferecem uma visão abrangente sobre a Doença Renal Crônica (DRC) e suas complicações, como a Anemia da Doença Crônica (ADC), destacando a DRC como um grave problema de saúde pública, com alta taxa de morbidade e mortalidade, especialmente quando associada a condições como hipertensão e diabetes. Batista et al. (2021) ressalta a importância de entender processos fisiopatológicos, como o desequilíbrio no metabolismo do ferro e o estresse oxidativo, que agravam o dano renal. A Taxa de Filtração Glomerular (TFG) é destacada como uma ferramenta crucial para diagnosticar e monitorar a DRC, permitindo uma avaliação precisa do estágio da doença.

Em contrapartida, Ribeiro-Alves e Goldan (2014) abordam a utilidade do receptor solúvel de transferrina e da hemoglobina nos reticulócitos para monitorar a atividade eritropoietina e a resposta ao tratamento com agentes estimuladores da eritropoiese (AEE). No entanto, esses testes têm limitações em termos de custo e disponibilidade, o que pode dificultar a sua aplicação na prática clínica. Além disso, eles discutem como alterações nas células vermelhas, como macrocitose e microcitose, podem indicar deficiências nutricionais, sendo essenciais para um tratamento mais completo.

As descobertas de Antunes e Canziani (2016) e Oliveira Júnior et al. (2015) são fundamentais para o avanço do conhecimento sobre a anemia em pacientes com Doença Renal Crônica (DRC). O estudo de Antunes e Canziani destaca a hepcidina como um elemento central no metabolismo do ferro e suas implicações clínicas, evidenciando que estabilizadores do fator induzido por hipóxia (HIF) podem reduzir a hepcidina e melhorar a produção de eritropoetina. Isso é especialmente relevante, pois mostra um novo caminho terapêutico para tratar a anemia em pacientes com DRC, tanto no tratamento conservador quanto na diálise, e sugere que o manejo do metabolismo do ferro pode ser uma estratégia eficaz.

Ao passo que, Oliveira Júnior et al. complementa essa visão ao discutir a necessidade de novas abordagens para diagnosticar e tratar a anemia na DRC. A menção às variações genéticas nas citocinas e seu impacto na resposta à eritropoetina revela a complexidade do tratamento, onde fatores individuais podem influenciar a eficácia da terapia. Além disso, a proposta de utilização de agentes anti-inflamatórios e a suplementação de vitamina D como parte do manejo da anemia reforça a importância de uma abordagem multidisciplinar, que considere tanto os aspectos inflamatórios quanto o metabolismo do ferro.

As descobertas dos estudos de Plastina et al. (2019), Farinha et al. (2022) e Almeida et al. (2024) trazem à luz aspectos importantes sobre a anemia na Doença Renal Crônica (DRC) e como isso afeta a vida dos pacientes. O estudo de Plastina et al. revela que 36,9% dos pacientes com DRC enfrentam anemia, destacando uma relação mais forte entre a anemia e a desnutrição do que com a inflamação. Isso significa que muitos pacientes podem estar lutando não apenas contra a doença renal, mas também contra a falta de nutrientes essenciais, evidenciada por baixos índices de IMC, albumina e transferrina. Além disso, o uso excessivo de ferro parenteral levanta preocupações sobre as diretrizes atuais, solicitando que sejam mais cuidadosos ao prescrever esse tratamento e monitorar os níveis de ferro.

O estudo de Farinha et al. enfatiza a importância de um diagnóstico correto da anemia na DRC. Compreender como a anemia se desenvolve nessa condição é fundamental para encontrar tratamentos eficazes. A pesquisa sugere que devemos primeiro concordar com a deficiência de ferro antes de começar a terapia com rEPO. Além disso, menciona novos medicamentos, como os inibidores do HIF, que têm o potencial de melhorar o tratamento atual, ajudando a aliviar a anemia e suas consequências.

Por fim, Almeida et al. conclui que a anemia na DRC não apenas agrava a condição clínica dos pacientes, mas também impacta qualidades de vida. O estudo reforça a necessidade de estudarmos a fisiopatologia da anemia e as opções de tratamento disponíveis. Manter-se atualizado com as evidências científicas é crucial para melhorar os sintomas e prevenir complicações, ressaltando a importância de novos medicamentos que podem ampliar as opções terapêuticas para ajudar mais pacientes.

5. CONCLUSÃO

Diante do exposto, é constatado a complexidade da relação entre a Doença Renal Crônica (DRC) e a anemia, torna de suma importância uma abordagem integrada no diagnóstico e no tratamento dessa condição. Os resultados mostram que a anemia em pacientes com DRC vai além da disfunção renal; ela também está fortemente ligada à desnutrição e à inflamação, o que nos leva a entender que, para um tratamento eficaz, é preciso não apenas corrigir a anemia, mas também focar na melhoria do estado nutricional e no controle da inflamação.

Além disso, as evidências sobre a alta prevalência da anemia e seu impacto na qualidade de vida dos pacientes reforçam a necessidade de diagnósticos precisos e intervenções terapêuticas adequadas. Novos tratamentos, como os inibidores do HIF, surgem como promessas, mas é fundamental que mais estudos sejam realizados para garantir sua segurança e eficácia.

Portanto, é essencial que os profissionais de saúde estejam sempre atualizados com as novas evidências e diretrizes de tratamento para melhoria do cuidado da anemia na DRC. De modo a não apenas reduzir as complicações e riscos associados, mas também garantir uma melhor qualidade de vida para esses pacientes, como, expandir as opções de tratamento e oferecer um cuidado mais abrangente e humanizado será crucial para enfrentar os desafios que a anemia traz na DRC.

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