O PROTAGONISMO DA ENFERMAGEM NA ASSISTÊNCIA AO PARTO HUMANIZADO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411171712


Kaiane Rodrigues dos Santos1; Lidiane dos Santos Silva1; Vitória Borges Carreiro1; Shelma Feitosa dos Santos2; Conceição Ceanny Formiga Sinval Cavalcante2


RESUMO

O processo gravídico puerperal exige uma assistência digna e qualificada, não limitando-se a expulsão ou extração do feto. A implementação de boas práticas de atenção ao parto e nascimento são fundamentais para garantia dos direitos da parturiente. Cabe à equipe assistencial, o fornecimento de segurança no processo parturitivo, através de métodos baseados em evidências. A presente pesquisa objetiva compreender as ações da equipe de enfermagem envolvidas na humanização do parto, destacando os principais fatores determinantes para a satisfação e insatisfação materna na vivência do trabalho de parto. Trata-se de um levantamento bibliográfico de cunho sistemático, de abordagem qualitativa, do tipo revisão integrativa da literatura. A busca pelo material de pesquisa deu-se através do acesso eletrônico às bases de dados digitais Biblioteca Virtual de Saúde, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde e Scientific Eletronic Library. Os critérios de inclusão adotados foram: artigos nacionais, disponíveis de modo gratuito, com textos na íntegra, publicados entre os anos de 2014 e 2024. O processo de seleção permitiu a obtenção de oito pesquisas científicas. No que tange à humanização do processo de parturição associada a atuação direta da enfermagem, pode-se perceber que a adoção de práticas não invasivas resulta na satisfação materna e redução do comprometimento fetal. Notou-se que incorporação de enfermeiras obstétricas em setores de parto colaborou para a redução de práticas proscritas ou invasivas. Concluiu-se que o parto humanizado está intimamente associado à utilização de boas práticas pelos  profissionais,  que  impactará  diretamente  na  assistência  para  o  binômio  mãe-filho. Logo, as políticas de assistência ao parto e nascimento devem ser reforçadas constantemente, provendo maior disseminação de saberes.

Palavras-chave: Enfermagem obstétrica. Assistência ao parto. Parto humanizado.

ABSTRACT

The puerperal pregnancy process requires dignified and qualified care, not limited to the expulsion or extraction of the fetus. The implementation of good practices in labor and birth care is essential to guarantee the rights of the parturient. It is up to the care team to provide security in the partutive process, through evidence-based methods. The present research aims to understand the actions of the nursing team involved in the humanization of childbirth, highlighting the main determining factors for maternal satisfaction and dissatisfaction in the experience of labor. This is a systematic bibliographic survey, with a qualitative approach, of the integrative literature review type. The search for research material was carried out through electronic access to the digital databases Virtual Health Library, Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences and Scientific Electronic Library. The inclusion criteria adopted were: national articles, available free of charge, with full texts, published between 2014 and 2024. The selection process allowed eight scientific studies to be obtained. Regarding the humanization of the parturition process associated with the direct action of nursing, it can be seen that the adoption of non-invasive practices results in maternal satisfaction and reduction of fetal impairment. It was noted that the incorporation of obstetric nurses in childbirth sectors contributed to the reduction of proscribed or invasive practices. It was concluded that humanized childbirth is closely associated with the use of good practices by professionals, which will directly impact the care for the mother-child binomial. Therefore, labor and birth care policies should be constantly reinforced, providing greater dissemination of knowledge.

Keywords: Obstetric nursing. Childbirth assistance. Humanized childbirth.

1 INTRODUÇÃO

O processo gravídico puerperal exige uma assistência digna e qualificada, não limitando-se a expulsão ou extração do feto. Diante dessa realidade, é fundamental que o parto não seja associado ao sofrimento, dor, abandono ou tristeza. Cabe, portanto, à equipe de assistência, proporcionar conforto físico e emocional a parturientes, por meio de estratégias humanizadas e condutas baseadas em evidências, com aplicação de boas práticas ao parto e nascimento (Machado et al., 2021).

Para Bomfim (2022), a humanização não está relacionada apenas ao parto, mas ao tipo de assistência ofertada pela equipe de saúde, independente de parto via abdominal ou natural. Durante os anos, diversas mudanças positivas relacionadas ao processo de humanização do parto ocorreram, permitindo a implantação de uma assistência verdadeiramente humanizada, com profissionais qualificados frente aos cuidados prestados às mulheres e bebês (Lopes; Santos; Bento, 2024)

A essência da humanização é a individualidade, ou seja, cada mulher possui uma perspectiva única e idealiza seu parto de modo particular. À exemplo, muitas mulheres optam pelo parto natural, objetivando a redução de complicações relacionadas ao parto abdominal, como: uso de anestesia, maior tempo de recuperação e cicatriz abdominal. As ações de humanização, porém, devem ser realizadas independente da via de parto escolhida, buscando atender as principais expectativas e anseios da parturiente (Machado et al., 2021).

De modo concordante, Nascimento et al. (2020), afirma que para que humanização seja efetiva é necessário a realização de um conjunto de ações, onde a equipe de enfermagem é responsável por identificar as principais necessidades fisiológicas de cada gestante, ofertando conforto, apoio emocional, bem-estar e segurança durante todo o trabalho de parto, resgatando a definição de parto natural, evitando riscos para o binômio mãe-bebê e, ainda, respeitando a privacidade da parturiente.

Ferreira et al. (2021), infere que a atenção humanizada na hora do parto é ampla e envolve um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes, a serem desenvolvidas pela enfermagem, com vistas a promoção da saúde e o parto e nascimento saudáveis. Para o autor, um parto assistido de modo satisfatório procura garantir ações benéficas, tanto para a mulher quanto para o bebê, evita intervenções desnecessárias durante todo o processo de parto, sempre preservando a privacidade e a autonomia.

A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem nº 516/2016 regulamenta as atribuições dos profissionais de enfermagem em unidades destinadas a assistência ao parto. Explicitamente, o documento reafirma a importância do atendimento de enfermagem integral, humanizado e qualificado, baseado em evidências científicas (COFEN, 2016). 

Convergentemente, Leal et al. (2019) afirma que a importância da atuação de enfermagem destaca-se pelos princípios e preceitos da profissão, onde o profissional deve garantir um cuidado holístico, livre de qualquer violência ou discriminação, com respeito aos direitos da parturiente. É necessário compreender as ações e sentimentos que envolvem este vínculo entre a parturiente e a equipe, provendo acolhimento durante todo este processo com a chegada da nova vida.

Nesta lógica, reconhecendo a importância e o protagonismo da enfermagem na assistência qualificada às parturientes, a presente pesquisa objetiva compreender as ações da equipe de enfermagem envolvidas na humanização do parto, destacando os principais fatores determinantes para a satisfação e insatisfação materna na vivência do trabalho de parto. A presente pesquisa busca, ainda, subsidiar produções posteriores com temáticas semelhantes e orientar acerca do direito à atenção humanizada no pré-parto, parto e pós-parto.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um levantamento bibliográfico de cunho sistemático, de abordagem qualitativa, do tipo revisão integrativa da literatura. Broome (2000) garante que o percurso metodológico da revisão integrativa da literatura proporciona discussões sobre métodos e resultados de estudos, bem como fomenta estudos futuros. O autor defende que o propósito inicial desta metodologia de pesquisa é obter uma compreensão ampla de um determinado fenômeno a partir de estudos pregressos.

O desenvolvimento desta revisão foi organizado em seis etapas, orientadas por Dantas e colaboradores (2022), com vistas a assegurar a confiabilidade dos dados: definição da questão de pesquisa, busca na literatura, categorização, análise dos estudos inclusos, interpretação dos resultados; e, por fim, apresentação da síntese dos dados.

A questão de pesquisa delineada foi: quais são as ações da equipe de enfermagem desenvolvidas na humanização do parto natural?. Utilizou-se a estratégia PICo – População, Interesse e Contexto. Nesta pesquisa, a População (P) incluiu os enfermeiros obstetras, obstetrizes e enfermeiros; o Interesse  (I) relacionou-se as ações desenvolvidas pela equipe de enfermagem na assistência ao parto humanizado; e o Contexto (Co) foi o parto natural humanizado.

A busca pelo material de pesquisa deu-se através do acesso eletrônico às bases de dados digitais Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic Library (SciELO). Os critérios de inclusão adotados foram: artigos nacionais, disponíveis de modo gratuito, com textos na íntegra, publicados entre os anos de 2014 e 2024. Foram excluídas revisões de literatura, teses, dissertações e monografias.

Os descritores utilizados para a busca foram: ‘’enfermagem obstétrica’’, ‘’parto natural’’, ‘’humanização’’ e ‘’ assistência de enfermagem’’, de modo isolado e combinados através do operador booleano AND. A busca foi realizada conforme os critérios de elegibilidade. Inicialmente, a pesquisa on-line resultou em 226 estudos, sendo 203 excluídos por não tratarem da temática proposta neste estudo, indisponibilidade do texto completo, duplicidade nas bases de dados e publicação fora do recorte temporal proposta.

Seguindo o proposto por Urquiza e Marques (2021), os 23 estudos coletados foram reunidos e submetidos à pré-análise e categorização, com avaliação do nível de evidência, rigor metodológico e aplicabilidade dos resultados. Após esta etapa, 08 estudos científicos foram selecionados para interpretação dos resultados, com discussão dos resultados obtidos e identificação de possíveis lacunas do conhecimento.

O nível de evidência de cada estudo foi avaliado através do instrumento proposto por Fineout-Overholt e Melnyk (2005). Neste, as evidências são classificadas em sistema numérico romano, sendo: I- revisões sistemáticas e metassínteses; II- experimentos randomizados ou controlados; III- experimentos controlados sem randomização; IV- estudos transversais; V- revisões sistemáticas de estudos qualitativos ou descritivos; VI- estudos qualitativos ou descritivos e VII- opiniões de autoridades ou comitê de especialistas.

Por fim, os resultados foram apresentados à luz dos objetivos da presente pesquisa, de forma objetiva, através de tabela, com vistas a facilitar a compreensão da síntese dos dados obtidos.

3 RESULTADOS

O processo de seleção permitiu a obtenção de 08 (oito) pesquisas científicas, publicadas no período de 2014 a 2024. Posteriormente à seleção da literatura, aplicação dos critérios de inclusão e respondendo à questão de pesquisa, a amostra foi categorizada e organizada segundo ano de publicação, autores, tipologia do estudo, principais resultados e nível de evidência.

Tabela 1. Variáveis dos artigos incluídos na revisão integrativa.

ANOAUTORESTIPOLOGIA DO ESTUDORESULTADOSN.E.*
2021BOMFIN, A.N.A. et al.Estudo descritivo, com abordagem qualitativaA assistência de enfermagem durante o parto normal foi dicotômica, permeada pela satisfação mediante práticas de acolhimento, oferta de apoio, palavras de incentivo e uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor. Contudo, o estudo relata insatisfação quanto à verticalização das relações, ausência de acompanhamento profissional e banalização da dor.VI
2021LIMA, B.C.A. et al.Estudo de campo, de cunho exploratório e descritivoAs práticas da enfermagem obstétrica demonstradas nos resultados pautaram-se, de modo majoritário, no acolhimento, escuta qualificada e atenta para queixas, estímulo à prática de exercícios para alívio da dor, orientações de técnicas de respiração, oferta de apoio emocional, monitorização contínua dos BCFs**, incentivo à dieta e presença de acompanhante.VI
2021ROCHA, E. P. G. et al.Estudo transversal analíticoAs tecnologias do cuidado na assistência ao parto normal auxiliado por enfermeiro obstetra, quando comparadas as de médicos obstetras, apresentam maior satisfação no fornecimento de autonomia e individualidade feminina. As chances de aplicação de episiotomia e a não administração de ocitocina no pré-parto foram menores em partos assistidos por enfermeiros obstetras.IV
2020MOURA, J. W. S. et al.Estudo exploratório descritivoAs práticas humanizadas realizadas pela equipe de enfermagem durante o parto foram: acolhimento, respeito, escuta ativa, o uso do cavalinho, exercício com a bola, banho, diálogo, orientações para o parceiro/acompanhante, deambulação, massagens de alívio. Ademais, o profissional de enfermagem relaciona o parto humanizado à autonomia da mulher e respeito às suas escolhas.VI
2020ALVARES, A. S. et al.Estudo transversalO nível de bem-estar das parturientes associa-se ao uso de práticas não invasivas na condução do parto. As principais tecnologias de enfermagem citadas foram: posição do parto no período expulsivo, não realização de episiotomia e amniotomia, contato pele a pele entre mãe e bebê e estímulo à amamentação.IV
2019DUARTE, R. M. et al.Estudo descritivoO estudo infere o uso de métodos não farmacológicos como banho de aspersão, massagem, bola suíça, cavalinho, aromaterapia, musicoterapia, livre movimentação, ambiente acolhedor e presença do acompanhante, como práticas do seu cuidado de enfermagem.VI
2017VARGENS, O. M. C. et al. Estudo transversal retrospectivoAs  tecnologias  não-invasivas  de  cuidado  de enfermagem  obstétrica, tais como: estímulo à deambulação, uso do banco obstétrico, banho de aspersão com água morna, massagem relaxante, estimulação de movimentos pélvicos, aromaterapia,  exercícios  respiratórios,  utilização  da fisioball,  incentivo  a  participação  do  acompanhante, decúbito lateral, posição de cócoras apoiada, opção pela posição de quatro apoios), quando aplicadas de modo isolado, culminam em melhores resultados perinatais.IV
2016MEDEIROS, R. M. K. et al.Estudo transversalA inserção de enfermeiras obstétricas em unidades de parto promove a utilização de métodos não invasivos e não farmacológicos no cuidado à parturiente (uso da bola suíça, deambulação e banho de aspersão morno). Ademais, o estudo apontou a redução de intervenções que interferem na fisiologia do processo parturitivo, como a episiotomia e cesariana. Deste modo, inferiu-se que a inserção destes profissionais contribuiu diretamente para a humanização do cuidado obstétrico e neonatal.IV

*N.E.: nível de evidência. **BCFs: batimentos cardíacos fetais.
Fonte: autoria própria (2024)

4 DISCUSSÃO

Anterior a discussão dos dados obtidos através dos estudos da amostra, ressalta-se que o modelo assistencial hospitalar centrou-se na figura médica como principal provedora da assistência ao parto até meados do ano de 2014. Neste período, registrou-se elevada taxas de intervenção na fisiologia do processo parturitivo, a citar a via abdominal como majoritária para o nascimento (BRASIL, 2015).

No que tange à humanização do processo de parturição associada a atuação direta da enfermagem, pode-se afirmar que a adoção de práticas não invasivas resulta na satisfação materna e redução do comprometimento fetal. As práticas não farmacológicas para alívio da dor, promoção de conforto e acolhimento, bem como a anulação da episiotomia foram citados como essenciais para desfechos positivos nos estudos da amostra, e principais práticas na humanização do parto natural.

Weis et al. (2024) afirma que as boas práticas de atenção ao parto podem orientar a conduta do profissional de saúde, humanizando o atendimento e delineando quais práticas podem ser prejudiciais ou ineficazes. Assim, aplicação destas práticas pode trazer benefícios e imediatos e futuros à parturiente.

Os resultados de Duarte e colaboradores (2019) sugerem que a utilização das boas práticas de atenção ao parto e nascimento relacionam-se a ocorrência de uma experiência positiva no trabalho de parto, corroborando para o bem-estar da mulher e recém-nascido. Contudo, tal realidade ainda não é presente em todos os serviços de saúde.

Os achados da amostra corroboram com demais pesquisas, onde, sobretudo parturientes com menor nível socioeconômico, e que buscaram assistência no setor público, apresentam maior vulnerabilidade a submissão de procedimentos dolorosos e a violência obstétrica em virtude, não raramente, do não incentivo à autonomia e a informação durante o pré-natal, conferindo dificuldades de tomar decisões (Rocha; Ferreira, 2020).

De modo concordante, Bomfim et al.  (2021) ao comparar o atendimento de instituições privadas e públicas, relatam que é assistência de enfermagem durante o parto nascimento é dicotômica, com a banalização da dor durante o trabalho de parto, verticalização das relações e a sensação de abandono por parte das parturientes atendidas nos serviços públicos.          

Convergente aos estudos anteriores, um estudo seccional alinhado a uma coorte de nascimento hospitalar multicêntrica, realizado em maternidades do estado do Espírito Santo, destaca que a maioria das boas práticas recomendadas obteve  menor desempenho  nas  maternidades  públicas  quando  comparada com as privadas (Santos et al., 2024).

Ressalta-se que foram implantados programas de intervenção nos sistemas público e privado com vistas a garantir a melhoria da assistência obstétrica e perineal, através da estratégia da Rede Cegonha e o programa Parto Adequado. Apesar desses avanços, a assistência ao parto e o uso apropriado de tecnologias permeiam-se de desafios e entraves (Vilela et al., 2021, Leal et al., 2019).

Pereira et al. (2018) reafirma a importância da humanização de técnicas de atenção ao parto e nascimento. Para o autor, a implantação destas práticas é de baixo custo, não invasivas e passíveis de adaptação, a depender do cenário de parto. Ademais, são métodos que proporcionam maior segurança, garantindo a redução de agravos e desfechos desfavoráveis.

Lima et al. (2021) fornece uma visão ampla quanto aos benefícios à saúde materno-infantil a partir do uso de práticas baseadas em evidência aliadas ao conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre as necessidades da parturiente e feto. O estudo demostra, portanto, adesão satisfatória por parte dos enfermagem obstétrica.

Concordante às afirmações anteriores, Moura et al. (2020) destaca a classe da enfermagem como protagonista na assistência humanizada, não excluindo, porém, a autonomia feminina no processo de parto. Ademais, enfatizou-se que a humanização inicia desde a entrada da mulher no centro de parto, não limitando-se apenas ao nascimento.

Vargens et al. (2017) associa o uso de técnicas não farmacológicas para alívio da dor aos desfechos perinatais positivos. Este achada concorda com demais evidências, onde a redução de potenciais fatores estressores durante o processo de parturição aumentam a satisfação materna, influenciando no tempo de parto, Apgar no quinto minuto de vida e demais parâmetros clínicos de parturição (Bohren et al., 2018).

O incentivo à liberdade de movimentos e posicionamentos na parturição, especialmente durante o período expulsivo, foram citadas na amostra como estratégias benéficas para a promoção da autonomia feminina e manutenção da assistência humanizada. Sob esta ótica, Gupta e colaboradores (2021) afirmam que encorajar as parturientes a assumirem posições confortáveis e verticalizadas reduz a duração do período expulsivo e a ocorrência de complicações, além de fortalecer a autonomia feminina.

Alvares e colaboradores (2020) associa diretamente o bem-estar materno com o uso de tecnologias não invasivas e uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor. De modo similar, Hu et al. (2021) cita que a sensação de bem-estar resulta da segurança proporcionada pela presença de acompanhante, estímulo à liberdade de movimentos e aplicação de demais práticas humanizadas. Tais ações, apresentam-se, portanto, como fundamentais para o cuidado em saúde.

Melo et al. (2020) reafirma que a preservação da autonomia feminina na escolha do posicionamento no período expulsivo somada a outras tecnologias não invasivas como massagens ou banho morno de aspersão, auxilia na promoção de conforto, alívio de dores e tensões da musculatura perineal.

Nesse contexto, a enfermagem obstétrica destaca-se no uso de tecnologias não invasivas, desenvolvendo uma assistência humanizada, com ênfase no bem-estar e na evolução fisiológica da parturição. Ao comparar tal assistência com a de profissionais médicos, o estudo de Rocha et al. (2021) destaca a administração de ocitocina e a ocorrência de episiotomia em partos assistidos por médicos.

Ao destacar a importância da atuação do enfermeiro obstetra na oferta de cuidados ao parto e seu destaque no incentivo à humanização, Medeiros et al. (2016) revela em seu estudo que a incorporação de enfermeiras obstétricas em setores de parto colabora para a redução de práticas proscritas ou invasivas, como a episiotomia de rotina e cesarianas.

Nesta perspectiva, cabe ressaltar que a atuação da enfermagem obstétrica, suas ações e atitudes no fornecimento de práticas baseadas em evidências para a promoção de conforto, acolhimento e alívio da dor configuram o modelo de cuidado humanístico, centrado no cuidado feminino e neonatal. Como limitação, aponta-se que os dados obtidos são secundários, oriundos de pesquisas realizadas em distintos estados brasileiros, acentuando a variedade no perfil de parturientes e profissionais de saúde.

5 CONCLUSÃO

Pelo exposto, foi possível refletir sobre as ações da assistência de enfermagem obstétrica à luz da humanização. Destaca-se que, de modo majoritário, os estudos da amostra abordaram o uso de cuidados baseados em evidências, proporcionando desfechos favoráveis. Dentre as principais condutas, melhores resultados perinatais associaram-se ao uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor e a redução de técnicas proscritas, como a episiotomia.

Sabe-se que o parto humanizado está intimamente associado à utilização de boas práticas pelos  profissionais,  que  impactará  diretamente  na  assistência  para  o  binômio  mãe-filho. As implicações da presente pesquisa reforçam o protagonismo da enfermagem obstétrica na implantação de abordagens humanizadas, pautadas na satisfação e segurança. Logo, as políticas de assistência ao parto e nascimento devem ser reforçadas constantemente, provendo maior disseminação de saberes.

Ressalta-se que o processo gravídico difere-se entre o publico feminino, sobretudo entre gestantes vulneráveis, com condição socioeconômica desfavorável. Diante disso, estratégias de empoderamento, que reforcem a autonomia feminina, bem como a capacitação de profissionais, pode auxiliar na minimização deste realidade.

REFERÊNCIAS

ALVARES, A. S. et al. Práticas obstétricas hospitalares e suas repercussões no bem-estar materno. Revista da Escola de Enfermagem da USP [online], v. 54, e03606, 2020. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1980-220X2018039003606>. Acesso em: 21 out. 2024.

BOHREN, M. A. et al. Continuous support for women during childbirth. Cochrane Pregnancy and Childbirth Group, 2018. Disponível em: https://ciane.net/biblio/detail.php?lang=fr&id=2877. Acesso em: 21 out. 2024.

BOMFIM, A. N. A. et al. Percepções de mulheres sobre a assistência de enfermagem durante o parto normal. Revista Baiana de Enfermagem‏[S. l.], v. 35, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/enfermagem/article/view/39087. Acesso em: 21 out. 2024.

BOMFIM, V. V. B. S. et al. The humanization of childbirth as a tool in the fight against obstetric violence. Research, Society and Development[S. l.], v. 11, n. 16, p. e420111638571, 2022. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/38571. Acesso em: 13 set. 2024.

BRASIL. Portaria nº 11, de 7 de janeiro de 2015. Estabelece normas e diretrizes para a atuação dos profissionais de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2015/prt0011_07_01_2015.html. Acesso em: 13 set. 2024.

BROOME, M. E. Integrative literature reviews for the development of concepts. Concept development in nursing: foundations, techniques and applications. Philadelphia (USA): WB Saunders Company, p. 231-50, 2000.

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução nº 516, de 28 de abril de 2016. Normatiza a atuação e a responsabilidade do Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra e Obstetriz na assistência às gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos nos Serviços de Obstetrícia, Centros de Parto Normal e/ou Casas de Parto e outros locais onde ocorra essa assistência; estabelece critérios para registro de títulos de Enfermeiro Obstetra e Obstetriz no âmbito do Sistema COFEN/Conselhos Regionais de Enfermagem, e dá outras providências. Brasília, 2016. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-05162016/. Acesso em: 13 set. 2024.

DANTAS, H. L. L. et al. Como elaborar uma revisão integrativa: sistematização do método científico. Revista Recien – Revista Científica de Enfermagem[S. l.], v. 12, n. 37, p. 334–345, 2022. Disponível em: https://recien.com.br/index.php/Recien/article/view/575. Acesso em: Acesso em: 21 set. 2024.

DUARTE, M. R. et al. Tecnologias do cuidado na enfermagem obstétrica: contribuição para o parto e nascimento. Cogitare enferm, [Internet], v. 24, e54164, 2019 Disponível em: http://dx. doi.org/10.5380/ce.v24i0.54164. Acesso em: 21 out. 2024.

FERREIRA, A. R. et al. Potencialidades e limitações da atuação do enfermeiro no Centro Parto Normal. Escola Anna Nery [online], v. 25, n. 2, e20200080, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0080>. Acesso em: 13 set. 2024.

FINEOUT-OVERHOLT, E.; MELNYK, B. Building a culture of best practice. Nurse Leader, v. 3, n. 6, p. 26-30, 2005. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1541461205001485. Acesso em: Acesso em: 21 set. 2024.

GUPTA, A. et al. Retenção urinária pós-parto em mulheres submetidas ao parto instrumental: um estudo analítico transversal. Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica, v. 100, n. 1, p. 41-47, 2021. Disponível em: https://obgyn.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/aogs.13954. Acesso em: Acesso em: 21 set. 2024.

HU, J. et al. Prospective evaluation of first‐trimester screening strategy for preterm pre‐eclampsia and its clinical applicability in China. Ultrasound in Obstetrics & Gynecology, v. 58, n. 4, p. 529-539, 2021. Disponível em: https://obgyn.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/uog.23645. Acesso em: Acesso em: 21 set. 2024.

LEAL, M. C. et al. Avanços na assistência ao parto no Brasil: resultados preliminares de dois estudos avaliativos. Cadernos de Saúde Pública [online], v. 35, n. 7, e00223018, 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0102-311X00223018>. Acesso em: 13 set. 2024.

LIMA, B. C. A. et al. Nascimentos da cegonha: experiência de puérperas assistidas pela enfermagem obstétrica em Centro de Parto Normal. Rev. enferm. UFSM, v. 11, e27, p. 1-22, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/46921/html. Acesso em: 21 out. 2024.

LOPES, B.; SANTOS, W.; BENTO, A. P. Humanização desde o parto ao aleitamento materno: papel do enfermeiro. Revista Acadêmica Saúde e Educação, v. 3, n. 01, 2024. Disponível em: https://falog.edu.br/wp-content/uploads/2023/08/LOPES-Barbara_-SANTOS-Weronica.2023.pdf . Acesso em: 13 set. 2024.

MACHADO, J. A. et al. Parto cesáreo humanizado: desafio dos profissionais de enfermagem. Epitaya E-books, [S. l.], v. 1, n. 2, p. 32-46, 2021. Disponível em: https://portal.epitaya.com.br/index.php/ebooks/article/view/161. Acesso em: 13 set. 2024.

MEDEIROS, R. M. K. et al. Cuidados humanizados: a inserção de enfermeiras obstétricas em um hospital de ensino. Revista Brasileira de Enfermagem [online], v. 69, n. 6, p. 1091-1098, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0295. Acesso em: 21 out. 2024.

MELO, A. A. et al. Perfil de atenção ao parto em maternidade de risco habitual: tipo de parto e intervenções. Research, Society and Development, v. 9, n. 2, p. e176921905-e176921905, 2020. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/1905. Acesso em: 21 out. 2024.

MOURA, J. W. S. et al. Humanização do parto na perspectiva da equipe de enfermagem de um Centro de Parto Normal. Enfermagem em Foco, v. 11, n. 3, 2020. Disponível em: http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/3256. Acesso em: 21 out. 2024.

NASCIMENTO, E. R. et al. Desafios da assistência de enfermagem ao parto humanizado. Caderno de Graduação – Ciências Biológicas e da Saúde – UNIT – SERGIPE[S. l.], v. 6, n. 1, p. 141, 2020. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/cadernobiologicas/article/view/8008. Acesso em: 13 set. 2024.

PEREIRA, S. B. et al. Tecnologias apropriadas para o parto e nascimento: atribuições do enfermeiro  obstetra. Revista  cuidado  é  fundamental. [S.l],  v.10,  2018.  Disponível  em: http://seer.unirio.br/cuidadofundamental/article/view/7598/6583. Acesso em: 14 out. 2024.

ROCHA, E. P. G. et al. Tecnologias  do  cuidado  na assistência  ao  parto  normal:  práticas  de enfermeiros e médicos obstetras. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, v. 11, e4218, 2021. Disponível em: http://doi.org/10.19175/recom.v11i0.4218. Acesso em: 21 out. 2024.

ROCHA, N. F. F.; FERREIRA, J. A escolha da via de parto e a autonomia das mulheres no Brasil: uma revisão integrativa. Saúde em Debate [online], v. 44, n. 125, p. 556-568, 2020. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0103-1104202012521>. Acesso em: 21 out. 2024.

SANTOS, A. S. et al. Análise do atendimento prestado à mãe e ao recém-nascido no momento do parto em maternidades públicas e privadas no estado do Espírito Santo – Brasil. Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba, v. 26, n.1, p. e64779, 2024. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/RFCMS/article/view/64779. Acesso em: 21 out. 2024.

URQUIZA, M.; MARQUES, D. B. Análise de conteúdo. Teoria e prático. São Paulo: Prosa Books, 2021.

VARGENS, O. M. C. et al. Contribuição de enfermeiras obstétricas para consolidação do parto humanizado em maternidades no Rio de Janeiro-Brasil. Escola Anna Nery [online, v. 21, n. 1, e20170015, 2017. Disponível em: <https://doi.org/10.5935/1414-8145.20170015>. Acesso em: 21 out. 2024.

VILELA, M. E. A. et al. Avaliação da atenção ao parto e nascimento nas maternidades da Rede Cegonha: os caminhos metodológicos. Ciência & Saúde Coletiva [online]. v. 26, n. 3 . 789-800, 2021.  Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-81232021263.10642020>. Acesso em: 21 out. 2024.

WEIS, P. S. C. et al. Execução de boas práticas de atenção ao parto em um centro obstétrico do sul do Brasil. Observatório de la Economía Latinoamericana, v. 22, n. 4, p. e3999-e3999, 2024. Disponível em: https://doi.org/ 10.55905/oelv22n4-007. Acesso em: 21 out. 2024.


1 Acadêmica do Curso de Graduação em Bacharelado em Enfermagem no Centro Universitário da Faculdade de Ensino Superior de Floriano – UNIFAESF.
2 Docente do Curso de Graduação em Bacharelado em Enfermagem no Centro Universitário da Faculdade de Ensino Superior de Floriano – UNIFAESF.