VIOLENCE AGAINST BLACK WOMEN: IMPACTS ON MATERNAL HEALTHENGLISH TITLE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411171714
Hioly Rubem Ramos,
Marinara Bonfim Bogea,
Lavinia Valeska Rocha Veja,
Thalita Yasmim Pantoja de Almeida,
Orientador: Adriano Oliveira,
Coorientador: Nany Camilla Sevalho Azuelo
RESUMO
A violência obstétrica é uma forma de abuso que ocorre nos serviços de saúde, envolvendo agressões físicas, verbais e negligência, muitas vezes cometidas por profissionais da área. Essa violência tem um impacto ainda mais profundo nas mulheres negras no Brasil, que enfrentam maiores obstáculos no acesso ao pré-natal e aos cuidados durante a maternidade. Objetivo Geral: Evidenciar como a violência obstétrica afeta diretamente a vida dessas mulheres, gerando traumas emocionais, físicos e maternos. Metodologia: Este estudo é uma revisão bibliográfica que investiga a violência obstétrica, com foco especial nas experiências de mulheres negras. A pesquisa foi baseada em artigos científicos publicados entre 2019 e 2024, coletados de bases como BVS e SCIELO. A seleção dos artigos incluiu a análise de títulos, resumos e leitura completa dos textos, com o objetivo de reunir informações relevantes para a revisão proposta. Resultados: A violência obstétrica é reconhecida como um grave problema de saúde pública no Brasil, onde a falta de políticas de gestão claras dificulta as denúncias e perpetua a vulnerabilidade das mulheres. Esse cenário ressalta a necessidade urgente de maior conscientização social, bem como de investimentos na educação e capacitação dos profissionais de saúde, a fim de prevenir essa forma de violência e garantir o respeito aos direitos das mulheres.
Palavras-chave: Violência obstétrica; Racismo; Violência contra Mulheres Negras; Impactos na Saúde Materna.
ABSTRACT
Obstetric violence is a form of abuse that occurs in healthcare services, involving physical, verbal abuse, and neglect, often perpetrated by healthcare professionals. This violence has an even greater impact on Black women in Brazil, who face additional barriers to accessing prenatal care and maternity services. General Objective: To highlight how obstetric violence directly affects the lives of these women, causing emotional, physical, and maternal trauma. Methodology: This study is a bibliographic review that investigates obstetric violence, with a special focus on the experiences of Black women. The research was based on scientific articles published between 2019 and 2024, collected from databases such as BVS and SCIELO. The selection of articles included the analysis of titles, abstracts, and full readings of the texts, aiming to gather relevant information for the proposed review. Results: Obstetric violence is recognized as a serious public health issue in Brazil, where the lack of clear management policies hinders reporting and perpetuates the vulnerability of women. This situation highlights the urgent need for increased social awareness, as well as investments in the education and training of healthcare professionals, to prevent this form of violence and ensure respect for women’s rights.
Keywords: Obstetric violence; Racism; Violence against Black women; Impacts on maternal health.
1 INTRODUÇÃO
O racismo se manifesta de diversas formas, e a sociedade brasileira adota um quadro de desigualdade racial onde brancos, negros e indígenas ocupam posições desiguais. Estudos indicam que as populações negra e indígena no Brasil apresentam os piores indicadores sociais, com menores níveis de escolaridade e renda, acesso limitado à saúde e condições de moradia mais precárias. Contudo, o problema do racismo muitas vezes permanece invisível, sendo frequentemente reduzido a questões de desigualdade econômica, sem considerar os aspectos raciais (BARBOSA et al., 2021).
De acordo com dados do Ipea (2023), em 2021 ocorreram 2.601 homicídios de mulheres negras, representando 67,4% do total de homicídios de mulheres no Brasil, com uma taxa de 4,3 assassinatos para cada 100 mil. Mulheres negras têm 1,8 vezes mais risco de sofrerem violência letal em comparação com mulheres não negras (IPEA, 2023).
A violência obstétrica envolve agressões físicas, verbais, sexuais, negligência, maus-tratos, desrespeito, práticas sem base científica e serviços de saúde inadequados. Ela possui três características principais: ocorre exclusivamente em serviços de saúde, como ambulatórios, cirurgias e maternidades; os perpetradores são frequentemente profissionais de saúde; e combina atos interpessoais (violência física e verbal) com aspectos institucionais, como maternidades sobrecarregadas e falta de recursos humanos (LEITE et al., 2024).
Segundo Santana et al. (2024), a violência obstétrica afeta as mulheres de forma desigual, sendo que as mulheres negras são as principais vítimas desse tipo de violência no país. O estudo populacional “Nascer no Brasil” mostrou que mulheres negras têm 62% mais chances de ter um pré-natal inadequado, 23% de não desenvolver vínculo com a maternidade, 67% de falta de assistência por parteiras e 33% de peregrinação por atendimento pré-natal.
Saraiva e Campos (2023) ressaltam que há grandes disparidades no acesso aos cuidados de saúde entre homens e mulheres negras. As condições socioeconômicas e a raça/cor são determinantes nas diferentes experiências vividas pelos grupos raciais. Negros, tanto homens quanto mulheres, são avaliados mais rapidamente nas consultas e recebem menos exames médicos. A raça/cor no Brasil é um fator decisivo na forma como as pessoas nascem, vivem, adoecem, acessam o sistema de saúde e morrem.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Impactos na saúde materna
De acordo com Conceição et al. (2023), a depressão pós-parto (DPP) é um transtorno psicológico que pode ocorrer durante o primeiro ano após o nascimento e afeta cerca de 17,2% das mulheres em todo o mundo. Contudo, a maioria dos estudos de prevalência não permite determinar se a depressão pós-parto é um desenvolvimento novo ou a continuação de uma patologia anterior à gravidez. Entre os sintomas mais comuns estão: insônia, apatia, culpa, irritabilidade, ansiedade e pensamentos suicidas. Além de prejudicar a interação mãe-bebê, a DPP favorece o desmame precoce, afeta negativamente o desenvolvimento infantil e contribui para alterações cognitivas e comportamentais em bebês cujas mães apresentam esse transtorno.
A DPP atinge entre 10% e 15% das mulheres globalmente, mas é mais prevalente em países em desenvolvimento, onde varia entre 19% e 25%. No Brasil, a prevalência da DPP oscila entre 10,8% e 42,8%, sendo os principais fatores de risco: histórico familiar ou pessoal de depressão, falta de apoio social e financeiro, crises conjugais, baixa autoestima, complicações obstétricas e gravidez não planejada (LIMA et al., 2023).
As experiências de desrespeito e abuso durante o parto podem gerar diversas consequências negativas, como aumento do risco de complicações obstétricas, menor satisfação com o parto e redução da confiança nas instituições de saúde. Além disso, essas experiências também podem afetar a saúde mental da mulher, resultando em menor envolvimento nos cuidados maternos e neonatais. Situações traumáticas durante o parto estão associadas a um maior risco de transtornos mentais, como ansiedade, estresse pós-traumático e depressão pós-parto. Mulheres que passam por esses traumas frequentemente relatam que não receberam informações adequadas, sofreram dores físicas intensas, foram submetidas a procedimentos sem consentimento e vivenciaram interações desumanizadoras com profissionais de saúde (CONCEIÇÃO et al., 2023).
A ansiedade é outro transtorno mental comum no período pós-parto, caracterizado por preocupações excessivas e persistentes sobre a segurança do bebê, acompanhadas de sintomas como frustração, culpa, inquietação, falta de concentração, tensão muscular e insônia (ABUCHAIM et al., 2023).
No Brasil, aproximadamente 60% das mortes maternas por causas obstétricas ocorrem entre mulheres negras. Importante destacar que 90% dessas mortes poderiam ser evitadas se as gestantes tivessem acesso a cuidados de saúde adequados. O racismo estrutural nos serviços de saúde é um fator crítico que precisa ser combatido para garantir igualdade no cuidado e na saúde materna das mulheres negras (SANTANA et al., 2024).
Estudos científicos realizados no Brasil mostram uma correlação significativa entre a cor da pele e indicadores de qualidade no pré-natal, parto e mortalidade materna. Evidências apontam que mulheres negras ou pardas têm mais chances de receber assistência pré-natal inadequada, enfrentar peregrinações em busca de atendimento, experimentar menor tempo de espera por cuidados, ter sua privacidade desrespeitada, não contar com um acompanhante no parto e, muitas vezes, não receber anestesia local para procedimentos como a episiotomia (ALVES et al., 2021).
3 METODOLOGIA
Este estudo é uma revisão bibliográfica, baseada na análise de artigos científicos e achados bibliográficos relacionados ao tema proposto, com o objetivo de explorar a violência obstétrica, com ênfase nas experiências de mulheres negras. A revisão busca fornecer uma visão abrangente do tema, reunindo resultados de diferentes publicações em revistas acadêmicas que utilizaram diversas abordagens metodológicas para tratar da questão.
A coleta de dados foi realizada a partir de artigos indexados em bases de dados como a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e a Scientific Electronic Library Online (SCIELO). As palavras-chave utilizadas na pesquisa foram: “violência obstétrica”, “racismo”, “violência contra mulheres negras” e “impactos na saúde materna”. A seleção dos artigos incluiu a análise de títulos, resumos e a leitura completa dos textos, buscando informações relevantes para uma compreensão aprofundada do tema.
Etapas de desenvolvimento da pesquisa
As buscas foram realizadas com base na seleção de artigos publicados nos últimos quatro anos (de 2019 a 2024), disponíveis na íntegra em português. Os critérios de exclusão incluíram: artigos que não abordavam o tema proposto e aqueles que se concentravam exclusivamente nas consequências da violência obstétrica, sem considerar a intersecção com o racismo.
A seleção dos artigos seguiu um processo estruturado, iniciando com a análise dos títulos, seguida pela leitura dos resumos e, por fim, a leitura completa dos textos. Aqueles que se alinharam aos critérios estabelecidos foram selecionados para o estudo. Além disso, foi desenvolvida uma ferramenta para coletar informações diretamente das bases de dados escolhidas, a fim de preparar esta revisão.
Fluxograma das etapas de seleção dos artigos para revisão
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Utilizando as quatro palavras-chave: “Violência obstétrica”, “Racismo”, “Violência contra mulheres negras” e “Impactos na saúde maternal”, foram encontrados artigos em todas as bases de dados consultadas. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, o número de publicações foi reduzido. Ao final da análise das pesquisas, 15 publicações foram selecionadas para compor esta pesquisa.
Para melhor organizar as publicações selecionadas, apresentaremos uma síntese conforme autor, ano, título, objetivo, tipo de estudo, bases de dados, idioma e resultados. Essa síntese contribuirá para o processo de análise e interpretação das publicações incluídas nesta revisão (Quadro 1).
Quadro 1: Artigos selecionados para revisão.
1 | Barbosa, Silva e Souza (2020) | Scielo | Vozes que ecoam: racismo, violência e saúde da população negra | O projeto Ecos: Consciência, Cor e Saúde foi criado pelos residentes do Programa de Atenção Básica com o objetivo de combater o racismo, tanto dentro quanto fora do âmbito profissional. A presença de profissionais negros nas instituições, por si só, não elimina o racismo estrutural, o que torna iniciativas como esta essenciais. |
2 | Abuchaim et al. (2022) | Scielo | Ansiedade materna e sua interferência na autoeficácia para amamentação | Durante o período gestacional e pós-parto, as mulheres tornam-se vulneráveis devido às mudanças físicas e emocionais. Estudos indicam que mulheres com ansiedade tendem a apresentar inseguranças em relação ao seu bebê. |
3 | Leite et al. (2023) | Scielo | Epidemiologia da Violência Obstétrica: Uma revisão narrativa do contexto brasileiro | A violência obstétrica é identificada por diversos atos de abuso contra mulheres gestantes ao procurarem serviços de saúde. No Brasil, o tema ganhou destaque devido à cobertura da mídia em vários casos. |
4 | Saraiva e Campos (2023) | Scielo | A carne mais barata do mercado é a carne negra: Notas sobre o racismo e a violência obstétrica contra mulheres negras | Apesar dos anos, o racismo ainda está presente na sociedade, afetando diretamente muitas mulheres negras, que são as que mais sofrem violência obstétrica, discriminação e negligência nos serviços de saúde. |
5 | Flores e Netto (2022) | Scielo | “É para o seu bem”: a “violência perfeita” | A “violência perfeita” ocorre quando o médico tenta coagir a paciente a optar por uma cesariana, retirando dela o poder de escolha sobre como deseja ter o seu bebê. Embora o discurso possa parecer uma preocupação, ele pode ser uma forma de violência obstétrica. |
6 | Lima et al. (2022) | Scielo | Transtorno depressivo em mulheres no período pós-parto: análise segundo a raça/cor autorreferida | O transtorno depressivo no puerpério reflete a realidade de muitas mulheres, tanto em grandes centros urbanos quanto em municípios menores, especialmente considerando as especificidades da população negra, que enfrenta vulnerabilidades. |
7 | Conceição et al. (2023) | Scielo | Desrespeito e abuso durante o parto e depressão pós-parto: uma revisão de escopo | Entre os abusos durante o parto e a depressão, ocorrem também abusos verbais e físicos, além do desrespeito às mulheres em situações de vulnerabilidade. |
8 | Santana et al. (2023) | Scielo | Racismo obstétrico, um debate em construção no Brasil: percepções de mulheres negras sobre a violência obstétrica | A desigualdade entre raças e gêneros muitas vezes começa com o médico, que não oferece os cuidados básicos que essas mulheres merecem. |
9 | Alves et al. (2020) | Scielo | Desigualdade racial nas boas práticas e intervenções obstétricas no parto e nascimento em maternidades da rede cegonha | A desigualdade sempre esteve presente na vida dessas mulheres. No projeto Rede Cegonha, 58,7% se identificaram como pardas, 28,0% como brancas e 13,3% como pretas. |
10 | Pantoja JC, Batista MB, Pereira MCAR (2024) | BVS | Repensando o nascimento como um direito integral na luta contra a violência obstétrica no Brasil | A lei contra a violência obstétrica é aplicada em 14 estados, e em todos eles há um foco na humanização do parto. |
11 | Lima KD et al. (2019) | Scielo | Disparidades raciais: uma análise da violência obstétrica em mulheres negras | Relatos de mulheres que sofreram violência obstétrica revelam abusos físicos e psicológicos que enfrentaram e cujas marcas carregam para sempre. A maioria desses relatos provém de mulheres negras de baixa renda. |
12 | Zanchetta et al. (2021) | Scielo | Ampliando Vozes sobre Violência Obstétrica: Recomendações de Advocacy para Enfermeira(o) Obstetra | O tema da melhoria na qualidade da assistência obstétrica é crucial para garantir que as mulheres tenham acesso às condições necessárias para exercer seus direitos básicos. |
13 | Lansky S et al. (2018) | Scielo | Violência Obstétrica: Influência da exposição Sentidos do nascer na vivência das gestantes | A violência obstétrica pode abalar a mulher em seu estado mais vulnerável, e a ausência de um acompanhante no momento do parto interfere no seu estado fisiológico. |
14 | Theme Filha MM et al. (2023) | Scielo | Nascer do Brasil II: protocolo de investigação da saúde materna, paterna e da criança no pós-parto | O estudo analisa os impactos da gravidez, do parto e do pós-parto na saúde mental de mães e pais, além de investigar maus-tratos e a satisfação com o atendimento durante o parto. |
15 | Bitencourt AC et al. (2022) | Scielo | Violência obstétrica para os profissionais que assistem ao parto | A violência verbal foi apontada como uma das formas mais recorrentes de violência obstétrica, juntamente com a falta de preparo dos profissionais, que muitas vezes alegam não reconhecer a violência. |
Segundo Lima et al. (2022), as experiências de discriminação étnica e racial vividas pelas mulheres frequentemente passam despercebidas quando raça e gênero são discutidos de forma ampla. A violência obstétrica é uma violação dos direitos humanos das mulheres, sendo muitas vezes subnotificada ou não denunciada devido à vergonha, humilhação e medo de retaliação por parte dos agressores. No Brasil, a implementação da Rede Cegonha avançou para a criação de centros destinados a apoiar o desenvolvimento de boas práticas na gestão e nos cuidados obstétricos e neonatais humanizados, além de promover áreas de apoio à saúde materno-infantil, integrando novas experiências e tecnologias obstétricas (Zanchetta et al., 2021).
Os efeitos da violência obstétrica na utilização dos serviços de saúde são alarmantes, uma vez que a qualidade do atendimento impacta diretamente as experiências de parto das mulheres, o nascimento das crianças e a percepção social sobre o parto, podendo comprometer a qualidade geral dos serviços de saúde (Lansky et al., 2019).
A violência obstétrica tem ganhado visibilidade como um grave problema de saúde pública no Brasil, que carece de uma legislação federal explícita. Essa lacuna não apenas desencoraja as denúncias, mas também perpetua a vulnerabilidade das mulheres nesse contexto. Isso enfatiza a crescente percepção social da urgência em investir na educação e formação de profissionais de saúde, essenciais para prevenir de maneira eficaz esse tipo de violência e garantir o pleno respeito pelos direitos das mulheres (Pantoja et al., 2024).
As experiências de abuso nos serviços de saúde contribuem para a insegurança das mulheres, diminuindo a probabilidade de que elas e seus recém-nascidos utilizem esses serviços após o parto. Além disso, a ocorrência de maus-tratos durante o atendimento ao parto pode afetar a saúde mental das mulheres, aumentando o risco de desenvolvimento de depressão e transtorno de estresse pós-traumático no pós-parto (Theme Filha et al., 2024).
Os direitos das mulheres no ciclo gravídico-puerperal são frequentemente violados pelas instituições e profissionais de saúde, caracterizando assim a violência institucional. A assistência obstétrica atual é marcada pela incapacidade das mulheres de exercer sua autonomia, além do aumento das intervenções técnicas e tecnológicas e da utilização excessiva de cesarianas (Bitencourt et al., 2022).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados encontrados nesta pesquisa, é evidente que a violência obstétrica contra mulheres negras representa uma interseção alarmante entre racismo e desigualdade social, resultando em impactos físicos e mentais que podem perdurar por toda a vida, como ansiedade e depressão. Essa violência não só prejudica a saúde mental da mãe, mas também afeta a relação da mulher com seu bebê e compromete futuras experiências maternas.
O acompanhamento e o apoio adequados para essas mulheres vítimas de violência obstétrica são essenciais, pois os efeitos na saúde física, mental e na vivência materna são profundos e duradouros. Nesse contexto, o papel do enfermeiro é fundamental. Esses profissionais são muitas vezes as primeiras e as mais constantes referências de cuidado para as mulheres durante o pré-natal, parto e puerpério. Assim, eles têm a responsabilidade de adotar uma abordagem humanizada, que promova conforto, segurança e respeito.
Os enfermeiros devem estar capacitados para identificar sinais de violência obstétrica e proporcionar um ambiente acolhedor, onde as mulheres se sintam à vontade para relatar suas experiências e preocupações. Isso inclui ouvir ativamente suas histórias, validar suas emoções e garantir que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas nas decisões sobre seus cuidados.
Além disso, os enfermeiros têm um papel importante na educação e conscientização, tanto de suas colegas quanto das pacientes, sobre os direitos das mulheres durante o parto e a importância da escolha informada. Eles devem promover práticas que garantam a autonomia das mulheres, assegurando que suas preferências em relação ao parto sejam respeitadas, e que recebam informações claras sobre os procedimentos que serão realizados.
Políticas públicas devem ser implementadas para combater o racismo estrutural dentro do setor de saúde, garantindo que todos tenham acesso à saúde de qualidade, independentemente da raça. A formação contínua dos profissionais de saúde, incluindo enfermeiros, deve incluir tópicos sobre diversidade, equidade e direitos humanos, para que possam oferecer cuidados sensíveis às questões raciais e sociais.
Em suma, a atuação dos enfermeiros é crucial para a prevenção e a redução da violência obstétrica. Eles têm o potencial de transformar a experiência de parto em um momento seguro e respeitoso, contribuindo para a saúde e o bem-estar das mães e de seus bebês.
REFERÊNCIAS
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