REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202411171117
Bethânia de Oliveira Souza1
Haian Araújo Varjão2
Orientadora: Fernanda Vieira Heimlich3
Resumo: As desordens potencialmente malignas se apresentam como lesões com risco aumentado para câncer oral. Dessa maneira, é necessário que o diagnóstico seja feito o quanto antes para que o paciente tenha a oportunidade de um prognóstico favorável. O trabalho buscou avaliar o nível de conhecimento de graduandos de odontologia do 6° ao 10° período da cidade de Porto Velho, acerca das Desordens Orais Potencialmente Malignas. Foi realizado um estudo descritivo, do tipo transversal, indutivo, quantitativo através da aplicação de um questionário online. Os resultados mostraram que grande parte dos estudantes avaliados, além de não se sentirem preparados para diagnóstico e manejo, foi constatada lacunas diante do conhecimento do público avaliado, acerca da identificação, diagnóstico e conduta das desordens potencialmente malignas. Dessa forma, é possível reforçar a ideia e a grande necessidade de uma educação continuada para os alunos que estão finalizando a graduação e, novas estratégias dos Centros Universitários visando fortalecer e incentivar o conhecimento de patologias orais. Dessa forma, ajudando a aprimorar o manejo de futuros profissionais que estarão trabalhando em setores públicos e privados e, assim, favorecer e proporcionar melhora na qualidade de vida dos pacientes.
Palavras chave: Leucoplasia. Eritroplasia. Líquen Plano Bucal.
Summary: Potentially malignant disorders present as lesions with an increased risk of oral cancer. Therefore, it is necessary for the diagnosis to be made as soon as possible so that the patient has the opportunity for a favorable prognosis. The work sought to evaluate the level of knowledge of dentistry students from the 6th to the 10th period in the city of Porto Velho, about Potentially Malignant Oral Disorders. A descriptive, cross-sectional, inductive, quantitative study was carried out through the application of an online questionnaire. The results showed that a large proportion of the students evaluated, in addition to not feeling prepared for diagnosis and management, were found to have gaps in the knowledge of the evaluated public regarding the identification, diagnosis and management of potentially malignant disorders. In this way, it is possible to reinforce the idea and the great need for continuing education for students who are completing their degree and new strategies from University Centers aimed at strengthening and encouraging knowledge of oral pathologies. In this way, helping to improve the management of future professionals who will be working in public and private sectors and, thus, favoring and providing an improvement in the quality of life of patients.
Keyword: Oral Leukoplakia. Oral Erythroplakia. Oral Lichen Planus.
1.INTRODUÇÃO
Existe uma grande variedade de doenças que podem se manifestar em cavidade bucal, essas, podem causar modificações teciduais em região bucomaxilofacial, como neoplasias benignas e lesões proliferativas não-neoplásicas. Essas doenças podem se manifestar ao longo do tempo como problemas graves, podendo interferir diretamente na saúde e na qualidade de vida do indivíduo (Sobrinho et al., 2022).
As desordens orais potencialmente malignas podem ser classificadas como quaisquer lesões ou alterações patológicas da cavidade oral, tendo uma alta capacidade de transformações anormais das células. Dentre essas desordens, se encontram: a leucoplasia, eritroplasia, leucoplasia verrucosa proliferativa, fibrose submucosa oral, queilite actínica, líquen plano, lúpus eritematoso, disqueratose congênita e candidose hiperplásica crônica. Dentre essas, a leucoplasia, eritroplasia e queilite actínica são as alterações mais comuns (Santana et al., 2024).
A leucoplasia verrucosa proliferativa, sendo uma manifestação variante da leucoplasia oral, é um exemplo que apresenta alto nível de malignização em quase todos os casos, o manejo e tratamento de qualquer leucoplasia oral é obrigatório, até mesmo em casos de queratose inconclusiva (Azevedo, 2021).
Dessa maneira, as desordens com potencial maligno podem apresentar manifestações diversas, podendo variar conforme o grupo em que é apresentado também. Por isso, é necessário definir e delinear fatores apresentando e trabalhando seguindo os fatores para possíveis transformações malignas, para que a hipótese diagnóstica e plano de tratamento se tornem favoráveis (Vinhais e Macedo, 2019).
Por isso, a inclusão de cirurgiões-dentistas capacitados em redes públicas de saúde, principalmente na atenção primária, deve apresentar um maior cuidado. Esses profissionais devem ser capazes de identificar e manusear da melhor forma pacientes que apresentem manifestações bucais que podem se manifestar de forma maligna, ou para ulcerações e lesões que provém de infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) (Araújo et al., 2024).
Também se faz necessária a valorização das equipes de saúde, para que os pacientes tenham um melhor atendimento e profissionais alinhados com a atenção primária, dependendo então de melhores investimentos no setor público. Dessa forma, é possível que seja feita a qualificação da gerência setorial e alocação de recursos para as práticas baseadas em evidência e investigações que permitam qualificar e quantificar melhorias voltadas à saúde bucal (Neves et al., 2019).
Silva et al. (2018) aborda o câncer oral, especificamente o carcinoma de células escamosas oral, uma doença que pode ser prevenida e quando diagnosticada previamente, tratada com maior chance de sucesso. Sendo seus principais fatores de risco o tabagismo, consumo de álcool e exposição à radiação solar. É evidenciada a importância do conhecimento e da conscientização dos cirurgiões-dentistas e estudantes de odontologia na detecção precoce e prevenção das desordens orais potencialmente malignas e do câncer oral, destacando a necessidade de maior empenho desses profissionais na orientação preventiva e na criação de políticas públicas para aumentar a conscientização da população sobre os fatores de risco.
Freitas et al., (2019) apresentam o carcinoma de células escamosas, podendo ocorrer na cavidade oral, geralmente na língua, lábios, bochechas, assoalho da boca, palato duro, palato mole, seios da face e faringe. Esse tumor maligno tende a ser extremamente agressivo e, mesmo quando detectado precocemente, o prognóstico é bom, em torno de 75%, e a sobrevida é de cinco anos. A principal forma de diagnosticar câncer bucal ou problemas dentários potencialmente perigosos é por meio de um exame bucal geral, incluindo exame de cabeça e pescoço, exame visual com lâmpada halógena e palpação. Então, em caso de dúvida, a amostra deve ser enviada para exame histológico por biópsia incisional.
Azevedo (2021) aborda em sua revisão de literatura conceitos fundamentais relacionados a uma doença que apresenta uma incidência mundial elevada, sendo o câncer oral e labial uma malignidade que acometeu cerca de 350 mil pessoas apenas em 2018, sendo que 177 mil foram a óbito. O estudo indica que existe uma expressiva dificuldade para diagnóstico da Leucoplasia oral, sendo sua variante agressiva, a leucoplasia verrucosa proliferativa uma doença que, geralmente, acaba sendo diagnosticada tardiamente, dificultando um possível tratamento com eficácia e diminuição de riscos, sendo assim, acaba se tornando letal para os atingidos.
O carcinoma espinocelular (CEC) oral é o mais comum dos tumores de cabeça e pescoço, diagnosticado com base no exame clínico e na análise histopatológica. Os fatores de risco incluem uso de tabaco, uso excessivo de álcool e infecção por HPV. Doenças potencialmente malignas (DPMs) com alterações clínicas e histopatológicas podem se transformar em tumores malignos a qualquer momento, dessa forma, vemos que aproximadamente 80% dos cânceres bucais se apresentaram anteriormente como uma DPM (Leão et al., 2021).
O estudo de Varela-Centelles et al. (2021) investigou a conscientização sobre o câncer bucal e o conhecimento dos fatores de risco, sinais e sintomas na região noroeste da Espanha, com objetivo de avaliar o nível de conhecimento da população e como isso pode influenciar o diagnóstico precoce da doença. Apenas 20,3% dos participantes conheciam o câncer bucal, com o tabaco sendo o fator de risco mais mencionado (53,3%), seguido pelo álcool (12,5%), higiene oral inadequada (10,8%), dieta (6,5%) e genética (4,5%). Foi possível ver que pessoas com maior escolaridade tinham mais conhecimento sobre os fatores de risco e sinais precoces, exceto sobre as úlceras persistentes. O estudo concluiu que a conscientização geral sobre o câncer bucal é baixa, mesmo entre indivíduos com alta educação, então os pesquisadores destacaram a necessidade de intervenções educacionais para aumentar o conhecimento e a conscientização, promovendo a prevenção e reduzindo o tempo entre o surgimento de sintomas e o início do tratamento.
A revisão de literatura analítica de Leite et al. (2021) examina a interação entre tabagismo e consumo de álcool no desenvolvimento do câncer de boca no Brasil, destacando o carcinoma epidermóide como o tipo mais comum de lesão na cavidade bucal, com o tabagismo sendo o principal fator evitável. O trabalho também conclui que o álcool aumenta o risco de câncer bucal ao ajudar a dissolver substâncias do cigarro, elevando suas concentrações no organismo humano. Já o tratamento dessa doença pode variar a depender do estágio, localização e das condições físicas do paciente, podendo incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou uma combinação desses métodos
A melhoria no diagnóstico pode ser alcançada por meio de treinamento contínuo na necessidade de identificar métodos diagnósticos, prestar cuidados durante o exame e construir a experiência, o conhecimento e a confiança dos profissionais especialistas em odontologia na detecção de displasia, conscientizando e simplificando a doença para os pacientes e desenvolver métodos auxiliares confiáveis, ferramentas para melhorar os resultados do tratamento. Uma avaliação limitada e importante identificada é a falta de confiança dessas CDs em identificar a patologia e realizar os exames necessários, como biópsia e diferenciar o nível de suspeição, ou seja, baixo ou alto risco. Portanto, são necessárias mais pesquisas sobre o desenvolvimento de critérios de teste padronizados (Freitas, et al., 2019)
O seguinte trabalho buscou avaliar o nível de conhecimento de graduandos de odontologia do 6° ao 10° período da cidade de Porto Velho, acerca das Desordens Orais Potencialmente Malignas.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho se trata de um estudo observacional, indutivo com abordagem quantitativa que foi realizado nos Centros Universitários, no município de Porto Velho, Estado de Rondônia. A coleta de dados ocorreu entre o período do mês de outubro e novembro de 2024.
Para o desenvolvimento, a pesquisa selecionou estudantes que estavam entre o 6° e 10° período da graduação de odontologia na cidade de Porto Velho. O critério para que o questionário fosse válido, foi aplicado aos estudantes de ambos os sexos, que tenham cursado e sido aprovados nas matérias de patologia oral e estomatologia durante o período da graduação e que estivessem devidamente matriculados nos Centros Universitários.
O público selecionado respondeu a um questionário onde encontraram perguntas de cunho epidemiológico e específicas sobre o tema, sendo relacionada a desordens potencialmente malignas e câncer oral. O questionário foi composto por 28 questões, sendo perguntas adaptadas de pesquisas já existentes (ANEXO 1). A ferramenta utilizada nomeada de SurveyMonkey, se trata de um instrumento online, que permitiu criar o questionário, avaliar dados em tempo real, feedbacks estatísticos, gráficos e cálculos personalizados referente às respostas do estudo.
Anteriormente à aplicação do questionário, foi apresentada uma carta de anuência para autorização da pesquisa, em seguida, os professores de cada instituição separaram um momento para o envio do link aos alunos, contando com a colaboração da turma para o preenchimento das respostas. O formulário foi dividido em três partes diferentes, sendo elas: o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), informações sociodemográficas e conhecimento específico sobre as desordens orais potencialmente malignas e câncer bucal.
O aluno que se submeteu a realizar o questionário, não terá seus dados pessoais expostos, nem durante a pesquisa ou após a divulgação dos resultados, já que as respostas apresentam sigilo e os resultados serão representados de forma gráfica. O aluno também não foi obrigado a concluir o questionário, visto que se tratou de uma pesquisa online e foi possível observar as questões apresentadas anteriormente às respostas.
3. RESULTADOS
A princípio o presente trabalho se mostrou relevante ao analisar e interpretar avaliações de diversos autores a respeito do conhecimento de acadêmicos e cirurgiões-dentistas referente às desordens potencialmente malignas na odontologia. Visto que esta é uma proficiência necessária para manejo, educação em saúde, prevenção e promoção de uma maior probabilidade e taxa de cura diante do reconhecimento e tratamento destas lesões de maneira precoce e eficiente.
Durante a pesquisa, os alunos marcaram uma questão de auto avaliação, que correspondia ao conhecimento deles acerca do diagnóstico de desordens potencialmente malignas. Nesse sentido, obtivemos as seguintes respostas: 1,47% para ‘’ótimo’’, 29,41% assinalaram para ‘’bom’’, 48,53% ‘’regular’’ e 20,59% dos alunos assinalaram para um conhecimento insuficiente diante do diagnóstico.
Tabela 01 – Perfil dos alunos participantes da pesquisa (n=70)
Entretanto, a análise das respostas obtidas durantes a pesquisa, relataram que grande parte dos estudantes obtiveram baixo desempenho referente a etiologias, diagnóstico e conduta das desordens potencialmente malignas. Informações da tabela 01 também revelaram que, pouco mais de 64% dos alunos usam a internet como principal forma de atualizar os conhecimentos acerca das desordens com potencial maligno e, ainda 50% afirmaram nunca terem recebido nenhum treinamento para realizarem o diagnóstico de desordens potencialmente malignas. Seguem os dados referentes às questões apresentadas:
Tabela 02 – pergunta n° 14 apresentada no questionário específico.
Qual o principal câncer que acomete a região oral?
A questão acima refere-se a um conhecimento básico da área odontológica, visto que os estudantes respondentes já haviam cursado a matéria de patologia e estomatologia oral, segundo a própria pesquisa. A grande maioria selecionou a questão verdadeira, mas, apesar disso, quase 40% dos alunos se mostraram divididos entre outras 03 alternativas.
Tabela 03 – pergunta n° 15 apresentada no questionário específico.
A queilite actínica é uma lesão causada principalmente pelo seguinte fator:
Nesse caso, 52,94% dos estudantes responderam de forma satisfatória a questão referente a principal etiologia da lesão, enquanto, cerca de 47% dos discentes se distribuíram entre tabagismo (33,82%), Infecção (11,76%) e etilismo (5,88%) para justificar a causa da lesão de quilite actínica. Quanto ao exame intra-oral completo, 94,12% dos alunos afirmam realizar, assim como a palpação dos linfonodos (82,35%) e a realização do exame intra-oral procurando identificar câncer bucal ou desordens potencialmente malignas (73,53%).
Em relação às hipóteses diagnósticas, das 07 questões apresentadas referente ao tema, somente em 03 questões houveram consenso (mais de 50% das seleções na mesma alternativa). Já o desempenho relacionado a conduta clínica dessas hipóteses apresentadas, das 06 questões presentes no questionário, em apenas 01 questão foi apresentada uma concordância maior que 50%, porém, a conduta não seria a mais ideal para a pergunta correspondente.
Uma questão que se mostrou muito importante, foi em relação a um fator que não estaria associado com o desenvolvimento do câncer de boca. Segundo os dados coletados, a maior parte dos alunos (48,48%), concordam que o medicamento não está associado ao desenvolvimento de câncer. Em contrapartida, 21,21% marcaram a alternativa correspondente ao “tabaco”, 10,61% a “radiação ultravioleta” e 27,27% concordam que o fator “vírus” não está relacionado ao câncer bucal. Também podemos ver a divergência ao marcarem sobre qual lesão seria uma desordem potencialmente maligna, 49,25% marcaram “papiloma escamoso”, 7,46% “Pênfigo vulgar”, enquanto 34,33% dos alunos assinalaram “eritroplasia” e ainda 14,93% identificou “sialometaplasia necrosante” como uma desordem de potencial maligno.
É importante salientar, que o estudo contou apenas com uma parcela dos estudantes, portanto, os resultados estão ligados diretamente aos participantes, não podendo generalizar o conhecimento dos graduandos, mas apresentando noções sobre as desordens potencialmente malignas desse mesmo público.
4. DISCUSSÃO
Nesse sentido, salienta Oliveira et al. (2024), que além de concluir que apenas 15% dos casos de câncer oral são diagnosticados em estádio inicial, o que evidencia um efeito indesejado visto que o tratamento precoce é fundamental para o tratamento efetivo, elencou que os estudantes de odontologia ainda demonstram baixo nível de conhecimento quanto a percepção e diagnóstico, aliado falta de confiança frente a detecção das lesões durante o atendimento, o que repercute na comunidade, dificultando o autoexame e, como consequência, favorecendo o diagnóstico tardio, corroborando com os dados apresentados na atual pesquisa. Os autores Vilela et al. (2023) e Nascimento & Araújo (2022) atribuem esta inexperiência justamente a falta de treinamento continuado, estudos avançados e de cursos específicos para a identificação de desordens potencialmente malignas, o que é perceptivelmente uma fragilidade nesse âmbito, devido a importância da interpretação integral do paciente no cuidado com a saúde bucal. Os resultados obtidos por estes autores destacam também a importância de considerar não apenas as práticas clínicas das equipes de saúde bucal, mas também o contexto em que estão inseridas, para promover uma atenção odontológica mais eficaz e abrangente.
Nessa perspectiva, o autor Azevedo (2021), evidencia em seus estudos que a leucoplasia é uma lesão de difícil diagnóstico, e que quando tardiamente identificada é potencializado seu efeito letal. Evidenciando dessa maneira, consoante as conclusões de Silva et al. (2018), que o carcinoma de células escamosas oral é uma doença que pode ser prevenida e quando diagnosticada previamente, pode ser tratada com maior chance de sucesso, sendo essencial para o tratamento de indivíduos acometidos pela enfermidade, viabilizando a redução de riscos e melhorando a eficácia de tratamento. Além disso os autores concordam que ainda que existam fatores que limitam a identificação como a presença de biomarcadores pouco definidos e a complexidade destas lesões, é necessário o desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional para a identificação destas desordens, destacando a necessidade de maior empenho desses profissionais na orientação preventiva e na criação de políticas públicas para aumentar a conscientização da população sobre os fatores de risco.
A melhoria no diagnóstico pode ser alcançada por meio de treinamento contínuo na necessidade de identificar métodos diagnósticos, prestar cuidados durante o exame e construir a experiência, o conhecimento e a confiança dos profissionais especialistas em odontologia na detecção de displasia, conscientizando e simplificando a doença para os pacientes e desenvolver métodos auxiliares confiáveis e ferramentas para melhorar os resultados e resultados do tratamento. Uma avaliação limitada e importante identificada é a falta de confiança de cirurgiões-dentistas em identificar a patologia e realizar os exames necessários, como biópsia e diferenciar o nível de suspeição, ou seja, baixo ou alto risco. Portanto, são necessárias mais pesquisas sobre o desenvolvimento de critérios de teste padronizados (Nascimento;Araújo, 2022). Confirmando que a falta de confiança vista em profissionais, tem ligação direta com as lacunas apresentadas durante o período de graduação e a falta de estudo continuado após esse período.
Vilela et al. (2023) conferem uma avaliação acerca do conhecimento de graduandos em odontologia e cirurgiões-dentistas sobre as desordens potencialmente malignas. Sendo essas, condições que se apresentam em cavidade oral e manifestam um risco aumentado para o câncer bucal, dessa forma, é de suma importância a identificação de falhas no processo de identificação dessas desordens. Os resultados apresentados revelam que tanto os estudantes, quanto os CDs nunca realizaram um curso específico para a identificação de desordens potencialmente malignas. Sendo assim, pode-se ver que a maior taxa de acertos foi para as questões que tratavam sobre as definições das desordens e conduta clínica, em contrapartida, as questões com menos acertos foram referentes às lesões que não são consideradas malignas, potencial de malignização e relacionadas a definição de Carcinoma in Situ. Por conclusão, o estudo definiu que apesar dos participantes apresentarem boas médias em grande parte das questões, as que se referem, especificamente, sobre as desordens potencialmente malignas, tratando-se de tipos e aspectos, foi observada lacunas que devem ser tratadas, seja na melhoria das intuições e na educação continuada após o período de graduação.
Dessa forma, a pesquisa revelou um baixo nível de conhecimento sobre o manejo de desordens orais potencialmente malignas entre os estudantes de odontologia, corroborando estudos anteriores. Por isso, o estudo recomenda a realização de cursos de atualização para melhorar a preparação dos profissionais no diagnóstico e prevenção do câncer bucal.
Esta revisão se justifica ao demonstrar que existe uma lacuna na interpretação e detecção de neoplasia bucais com potencial maligno, de modo que, ainda não existem números satisfatórios de reconhecimento destas lesões de maneira técnica e precisa em grande parte da comunidade de cirurgiões-dentistas e de estudantes de odontologia. Fator este que implica diretamente em baixos níveis de detecção precoce, impactando diretamente na comunidade no geral, que pouco incentivada a conhecer fatores de risco e maneiras de autocuidado e auto exame, também não favorecem uma expressividade desses valores.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo evidencia a importância crucial dos futuros profissionais no diagnóstico e tratamento do câncer bucal, destacando a relevância da prevenção primária e ressalta a necessidade de reorganizar a forma que os alunos se atualizam, necessidade de capacitar futuros profissionais odontológicos e garantir diagnósticos oportunos através de uma abordagem colaborativa, levantando também a prevalência de desordens com potencial maligno, como a leucoplasia e a eritroplasia, enfatizando a importância de um diagnóstico precoce e preciso.
Dessa forma, é importante que a informação e o conhecimento diante das desordens potencialmente malignas estejam muito bem difundidas, com o apoio de uma equipe multidisciplinar, seja em clínicas particulares e/ou nos serviços públicos de saúde, Universidades, Centros Universitários e Faculdades de odontologia. Assim, se destaca a importância de exames bucais regulares, como a promoção do autoexame e métodos de diagnóstico rigorosos, incluindo biópsias, para garantir um prognóstico mais favorável e aumentar a sobrevida dos pacientes.
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1Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho. E-mail: bethania.os_vha@hotmail.com
2Acadêmico do Curso de Medicina pela Faculdade de Educação FIMCA – Jaru. E-mail: hayanaraujo@gmail.com
3Orientadora e Professora do curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho e Professora de Odontologia do Centro Universitário Aparício de Carvalho. E-mail: fernandavheimlich@gmail.com