FAGOTERAPIA COMO ALTERNATIVA NO COMBATE A INFECÇÕES RESISTENTES: AVANÇOS E DESAFIOS NO TRATAMENTO DE E. COLI UPEC E EPEC

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411161238


Francisco Xavier Martins Bessa1


RESUMO

As infecções bacterianas resistentes representam um dos maiores desafios da saúde pública atual, resultando em um crescimento expressivo na morbidade e mortalidade ligadas a enfermidades infecciosas. Em contrapartida, Escherichia coli destaca-se como uma das bactérias mais significativas, particularmente as variantes uropatogênicas (UPEC) e enteropatogênicas (EPEC). As infecções provocadas por essas linhagens têm se tornado um problema devido à sua habilidade de desenvolver resistência a diversos antibióticos, prejudicando assim as alternativas terapêuticas. Objetivou-se, com esta pesquisa, averiguar a eficácia da fagoterapia como alternativa no combate a infecções bacterianas resistentes, com foco nas cepas UPEC e enteropatogênicas EPEC de Escherichia coli. Metodologicamente, tratou-se de uma revisão bibliográfica exploratória e comparativa sob as vias de uma pesquisa qualitativa. Como resultado, verificou-se que as futuras direções na fagoterapia apresentam um panorama promissor, repleto de inovações tecnológicas, necessidades de pesquisa e considerações éticas. O êxito da fagoterapia como uma alternativa viável ao tratamento de infecções bacterianas resistentes dependerá da colaboração entre diferentes disciplinas, da consideração cuidadosa das implicações éticas e do comprometimento em garantir que as novas tecnologias beneficiem a sociedade como um todo. O desenvolvimento de diretrizes e regulamentações robustas, juntamente com uma maior conscientização pública, será fundamental para a integração eficaz da fagoterapia na prática clínica e na saúde pública. Concluiu-se, que progresso nessa área representa uma resposta à crise de resistência bacteriana, pois abre novas perspectivas para a pesquisa biomédica e a prática clínica. Logo, o engajamento contínuo de pesquisadores, profissionais de saúde e formuladores de políticas será elementar para assegurar que a fagoterapia se estabeleça como um componente integral na luta contra as infecções bacterianas, beneficiando a saúde pública de maneira ampla e efetiva.

Palavras-chave: Fagoterapia. Escherichia coli. Resistência antibacteriana. Infecções bacterianas. Terapia antimicrobiana.

ABSTRACT

Resistant bacterial infections represent one of the biggest public health challenges today, resulting in a significant increase in morbidity and mortality linked to infectious diseases. On the other hand, Escherichia coli stands out as one of the most significant bacteria, particularly the uropathogenic (UPEC) and enteropathogenic (EPEC) variants. Infections caused by these strains have become a problem due to their ability to develop resistance to various antibiotics, thus harming therapeutic alternatives. The objective of this research was to investigate the effectiveness of phage therapy as an alternative in combating resistant bacterial infections, focusing on UPEC and enteropathogenic EPEC strains of Escherichia coli. Methodologically, it was an exploratory and comparative bibliographic review through qualitative research. As a result, it was found that future directions in phage therapy present a promising outlook, full of technological innovations, research needs and ethical considerations. The success of phage therapy as a viable alternative to treating resistant bacterial infections will depend on collaboration between different disciplines, careful consideration of ethical implications, and a commitment to ensuring that new technologies benefit society as a whole. The development of robust guidelines and regulations, along with increased public awareness, will be critical to the effective integration of phage therapy into clinical practice and public health. It was concluded that progress in this area represents a response to the bacterial resistance crisis, as it opens up new perspectives for biomedical research and clinical practice. Therefore, the continued engagement of researchers, health professionals and policy makers will be essential to ensure that phage therapy is established as an integral component in the fight against bacterial infections, benefiting public health in a broad and effective way.

Keywords: Phagotherapy. Escherichia coli. Antibacterial resistance. Bacterial infections. Antimicrobial therapy.

1 INTRODUÇÃO

As infecções bacterianas resistentes constituem uma das principais adversidades da saúde pública contemporânea, levando a um aumento substancial na morbidade e mortalidade associadas a doenças infecciosas. Nesse ínterim, Escherichia coli denota-se como uma das bactérias mais relevantes, especialmente as cepas uropatogênicas (UPEC) e enteropatogênicas (EPEC). As infecções causadas por essas linhagens têm se tornado uma preocupação devido à sua capacidade de adquirir resistência a múltiplos antibióticos, comprometendo assim as opções terapêuticas disponíveis (COSTA et al., 2019).

O fenômeno da resistência bacteriana é exacerbado por práticas inadequadas no uso de antimicrobianos, que resultam na seleção de cepas resistentes e na propagação de genes de resistência. Como consequência, infecções por E. coli são associadas, majoritariamente, a complicações graves, prolongando a hospitalização e aumentando os custos de tratamento. A compreensão das dinâmicas que envolvem a resistência a antibióticos é, portanto, imprescindível para a formulação de estratégias eficazes de controle e prevenção (VIEIRA et al., 2021).

Aliás, o surgimento de cepas de E. coli resistentes representa um desafio no tratamento de infecções, elucidando a necessidade de novas abordagens terapêuticas. Com isso, a pesquisa em alternativas ao uso de antibióticos se torna cada vez mais urgente. A resistência a antimicrobianos limita as opções de tratamento ao passo que também afeta a confiança na medicina moderna. Ou seja, a busca por soluções inovadoras que possam contornar a resistência bacteriana é um dos focos centrais da pesquisa científica contemporâneas, trazendo à tona a discussão sobre a fagoterapia como uma alternativa promissora (BARBOSA et al., 2022).

A fagoterapia refere-se ao uso de fagos, que são vírus que infectam e destroem bactérias, como uma abordagem terapêutica para o tratamento de infecções bacterianas. Este conceito não é novo, haja vista que a fagoterapia foi proposta no início do século XX e, embora tenha sido amplamente utilizada em algumas regiões, como na ex-União Soviética, sua adoção foi limitada em países ocidentais devido à ascensão dos antibióticos. Contudo, a preocupação constante com a resistência a antibióticos tem revitalizado o interesse por esta alternativa. Os fagos apresentam características únicas, como a especificidade para suas bactérias-alvo e a capacidade de se replicar dentro do ambiente infeccioso, o que os torna uma opção atraente em situações em que os antibióticos falham (LOBA et al., 2014).

A relevância da fagoterapia se evidencia por sua capacidade de estabelecer uma abordagem personalizada para o tratamento de infecções, considerando a variabilidade genética das cepas bacterianas. Aliás, os fagos podem ser usados em combinação com antibióticos, potencializando o efeito terapêutico e reduzindo os riscos associados à resistência. A pesquisa contemporânea tem se concentrado em compreender melhor os mecanismos de ação dos fagos, além de investigar protocolos eficazes para sua aplicação clínica (SANTANA, 2022).

Logo, a seleção desta temática correlata à fagoterapia como alternativa no combate a infecções bacterianas resistentes, sobretudo no tratamento de cepas de Escherichia coli como UPEC e EPEC, justifica-se por diversos fatores que envolvem tanto a gravidade do problema da resistência a antibióticos quanto a necessidade urgente de alternativas terapêuticas eficazes. A resistência bacteriana tem se tornado uma preocupação crescente em nível global, impactando negativamente a eficácia dos tratamentos convencionais. Esse fenômeno eleva as taxas de morbidade e mortalidade, enquanto resulta em custos adicionais para os sistemas de saúde, tornando a busca por novas soluções uma prioridade inadiável.

Com isso, o objetivo geral é averiguar a eficácia da fagoterapia como alternativa no combate a infecções bacterianas resistentes, com foco nas cepas UPEC e enteropatogênicas EPEC de Escherichia coli. Já os objetivos específicos, são caracterizar os mecanismos de resistência de Escherichia coli às terapias convencionais, identificando as cepas mais prevalentes e os fatores que contribuem para essa resistência, examinar a história, o desenvolvimento e a aplicação moderna da fagoterapia, e correlacionar os desafios regulatórios, éticos e logísticos relacionados à implementação da fagoterapia na prática clínica.

Isto posto, a problemática que direciona esta pesquisa advém da seguinte indagação: Como a fagoterapia pode ser utilizada efetivamente como uma alternativa no tratamento de infecções bacterianas resistentes causadas por cepas de Escherichia coli, como UPEC e EPEC?

Metodologicamente, incorporou-se uma revisão bibliográfica exploratória e comparativa embasada a partir de uma pesquisa qualitativa. De modo complementar, utilizou-se de bases documentais com foco em obras da última década. Como fatores de composição, excluiu-se dados advindos artigos com falta de correlação com o tema ou por serem fechados, excederem a regra temporal estabelecida, serem incoerentes com as definições de idioma (português e inglês) ou por se apresentarem como fragmentos ou obras incompletas.

Neste panorama, o método comparativo, em particular, aborda duas séries ou fatos análogos de diferentes meios sociais ou áreas do conhecimento, visando identificar elementos comuns entre eles. Este método encontra aplicação em diversas áreas científicas, especialmente nas ciências sociais, permitindo a pesquisa em grandes grupamentos humanos em universos populacionais distintos e geograficamente distantes (FACHIN, 2005).

Utilizou-se dados obras e artigos científicos de autores nacionais e estrangeiros com ênfase em datações posteriores a 2014, cujos resultados foram obtidos em bases de dados como Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Google Acadêmico. Similarmente, pontuou-se esta composição através dos termos: “fagoterapia”, “Escherichia coli”, “resistência antibacteriana”. “infecções bacterianas”. “terapia antimicrobiana”.

2 INFECÇÕES POR E. COLI

A Escherichia coli (E. coli), um bacilo gram-negativo pertencente à família Enterobacteriaceae, foi identificada pela primeira vez em 1885 pelo bacteriologista alemão Theodor Escherich, que a descreveu como parte da flora intestinal normal de humanos e animais. Desde então, a pesquisa sobre essa bactéria evoluiu substancialmente, elencando sua complexidade e diversidade (COSTA et al., 2019).

Primordialmente, a E. coli foi considerada um microrganismo benéfico, essencial para a digestão e síntese de certas vitaminas. Todavia, ao longo do tempo, diversos estudos identificaram cepas patogênicas que podem causar uma ampla gama de doenças, desde infecções leves, como diarreias, até condições mais graves, como septicemia e infecções do trato urinário. A evolução do conhecimento sobre a E. coli contempla a importância dessa bactéria como modelo em estudos microbiológicos e sua relevância clínica (MASSON et al., 2020).

A classificação das cepas de E. coli é de grande valia para compreender sua diversidade e implicações clínicas. As cepas patogênicas são geralmente categorizadas em várias categorias, sendo as mais relevantes as cepas uropatogênicas (UPEC), enteropatogênicas (EPEC), enterotoxigênicas (ETEC), enteroinvasivas (EIEC) e enterohemorrágicas (EHEC). Cada uma dessas cepas apresenta características singulares que determinam seu modo de ação, virulência e o tipo de infecção que pode causar. A título de exemplo, as UPEC são associadas a infecções do trato urinário, sendo capazes de adere às células do trato urinário e evadir o sistema imunológico do hospedeiro. Em contrapartida, as EPEC estão relacionadas a surtos de diarreia, especialmente em crianças, sendo caracterizadas por uma patogenicidade que interfere na absorção de nutrientes no intestino (VALIATTI et al., 2020).

A relevância clínica dessas cepas não pode ser subestimada. A identificação correta do tipo de cepa é essencial para o tratamento adequado das infecções, pois as estratégias terapêuticas podem variar significativamente. Por exemplo, enquanto as infecções causadas por UPEC podem exigir antibióticos específicos, as diarreias associadas a EPEC podem demandar intervenções diferentes, focando na reidratação e suporte nutricional (VALIATTI et al., 2020).

Inclusive, a crescente resistência a antibióticos observada em diversas cepas de E. coli acentua a necessidade de uma classificação precisa e de uma compreensão aprofundada de suas características biológicas. Esse conhecimento auxilia no diagnóstico e tratamento de infecções, enquanto orienta as estratégias de controle e prevenção em saúde pública, diante do desafio crescente das infecções bacterianas resistentes (BARBOSA et al., 2022).

As cepas uropatogênicas e enteropatogênicas de Escherichia coli apresentam características distintas que as tornam altamente patogênicas e responsáveis por infecções significativas em humanos. As UPEC são reconhecidas principalmente por sua capacidade de causar infecções do trato urinário (ITU), um dos tipos mais comuns de infecções bacterianas, especialmente em mulheres. Essas cepas são denotadas pela presença de fatores de virulência que lhes permitem colonizar e persistir nas vias urinárias. Em contraste, as EPEC são associadas a diarreias, particularmente em crianças, e são reconhecidas por sua habilidade em interferir na função intestinal normal, causando desidratação e desnutrição em populações vulneráveis (COSTA et al., 2019).

As características das cepas UPEC incluem a produção de fimbrias e adesinas, que facilitam a aderência às células epiteliais do trato urinário. Paralelamente, essas cepas frequentemente possuem sistemas de secreção tipo III, que permitem a injeção de proteínas virulentas nas células do hospedeiro, promovendo a inflamação e a evasão do sistema imune. Por sua parte, as cepas EPEC são conhecidas por sua capacidade de formar lesões no epitélio intestinal. Elas se ligam fortemente à superfície das células intestinais, promovendo a formação de uma “cobertura” que altera a absorção de nutrientes e resulta em diarreia aquosa. As EPEC são caracterizadas pela presença do gene bfp (bacterial adherence factor), que codifica uma fímbria que facilita a adesão a células epiteliais intestinais, além de proteínas efetoras que alteram a estrutura celular do hospedeiro (ROSA et al., 2016).

Os mecanismos de virulência e fatores de adesão são primordiais para a patogenicidade dessas cepas. As UPEC utilizam uma combinação de adesinas, que incluem fimbrias tipo I e P, para colonizar o trato urinário. Essas fimbrias são essenciais para a formação de biofilmes, que protegem as bactérias contra a ação do sistema imune e a ação de antibióticos. Além disso, a produção de hemolisinas e sideróforos por UPEC permite a destruição de células do hospedeiro e a captação de ferro, um elemento vital para o crescimento bacteriano, mesmo em ambientes hostis (VALIATTI et al., 2020).

Em paralelo, as EPEC empregam um mecanismo de virulência que envolve a secreção de proteínas que alteram a estrutura da célula hospedeira, induzindo a formação de pedúnculos que permitem uma adesão mais forte. A disfunção causada nas células intestinais resulta em inflamação e, consequentemente, em diarreia. Essa habilidade de manipular a resposta imunológica do hospedeiro, através da secreção de fatores de virulência, destaca a complexidade da patogenicidade das cepas de E. coli e sua adaptação a diferentes ambientes e condições patológicas (COSTA et al., 2019).

Nesta conjuntura, a epidemiologia das infecções causadas por Escherichia coli reverbera em padrões complexos de distribuição geográfica e grupos de risco, refletindo as características socioeconômicas, ambientais e de saúde pública de diferentes regiões. As cepas UPEC e EPEC estão distribuídas em várias partes do mundo, com particular destaque para áreas urbanas e rurais. As UPEC são mais frequentemente identificadas em populações femininas, especialmente em mulheres sexualmente ativas e gestantes, enquanto as EPEC predominam em crianças, particularmente em países em desenvolvimento, onde a desnutrição e a falta de saneamento básico aumentam a suscetibilidade às infecções (TOVAL et al., 2014).

Os grupos de risco incluem, mas não se limitam a, crianças menores de cinco anos, idosos, gestantes e indivíduos imunocomprometidos. A vulnerabilidade dessas populações está relacionada a fatores como a imaturidade do sistema imunológico em crianças, as alterações fisiológicas durante a gravidez e a diminuição da capacidade imune em idosos e imunodeprimidos. Inclusive, a exposição a ambientes de risco, como instituições de saúde e creches, eleva a probabilidade de surtos de infecções por E. coli, sobretudo nas cepas que apresentam alta virulência. Portanto, a compreensão da distribuição geográfica e dos grupos vulneráveis é essencial para direcionar intervenções de saúde pública eficazes (TOVAL et al., 2014).

As taxas de incidência e prevalência de infecções por E. coli variam amplamente de acordo com a região e o contexto epidemiológico. Globalmente, as infecções do trato urinário, muitas vezes atribuídas a cepas UPEC, são responsáveis por aproximadamente 50% de todas as infecções bacterianas em mulheres (COSTA et al., 2019).

De modo complementar, o aumento da resistência a antibióticos entre as cepas de E. coli corroborou para a gravidade das infecções, complicando seu tratamento e elevando as taxas de morbidade e mortalidade. Pesquisas revelam que, em algumas regiões, até 50% das cepas UPEC podem apresentar resistência a múltiplos antibióticos, dificultando a escolha terapêutica e exigindo a consideração de alternativas, como a fagoterapia. Esse panorama destaca a urgência de abordagens preventivas e de controle, bem como a necessidade de monitoramento contínuo das taxas de incidência e prevalência, a fim de implementar estratégias de intervenção adequadas (BARBOSA et al., 2022).

3 RESISTÊNCIA ANTIBACTERIANA

A resistência bacteriana refere-se à capacidade de uma bactéria em sobreviver e proliferar na presença de antibióticos ou agentes antimicrobianos que, em condições normais, seriam eficazes na sua eliminação. Essa resistência representa um dos maiores obstáculos para a medicina contemporânea, uma vez que compromete o tratamento de infecções bacterianas, levando a um aumento da morbidade, mortalidade e custos associados à saúde. Os mecanismos de resistência podem ser complexos e variados, englobando alterações na estrutura da célula bacteriana, modificações nas vias metabólicas, bem como a capacidade de bombear ativamente os fármacos para fora da célula, diminuindo assim sua efetividade (SANTANA, 2022).

Os mecanismos de resistência podem ser classificados em várias categorias. Entre os mais comuns, destacam-se a modificação ou degradação do antibiótico, a alteração do alvo do fármaco e a redução da permeabilidade da membrana celular. Em exemplificação, algumas bactérias produzem enzimas, como beta-lactamases, que degradam antibióticos beta-lactâmicos, tornando-os ineficazes (ROSA, 2015).

Inclusive, a modificação do sítio de ligação de um antibiótico ao seu alvo, como as proteínas de ligação à penicilina, impede que o fármaco exerça sua função de inibição da síntese da parede celular. Por conseguinte, os mecanismos de resistência também podem envolver a diminuição da permeabilidade celular, que reduz a entrada do antibiótico na célula bacteriana, favorecendo sua sobrevivência em ambientes hostis (LOBA et al., 2014).

A resistência bacteriana pode ser classificada em dois tipos principais: resistência intrínseca e resistência adquirida. A resistência intrínseca refere-se à capacidade natural de uma bactéria em resistir a um antibiótico devido a características inerentes à sua estrutura ou metabolismo. Aliás, as bactérias gram- negativas geralmente apresentam uma membrana externa que impede a passagem de muitos antibióticos, conferindo uma resistência natural a fármacos que têm dificuldade em atravessar essa barreira. Essa forma de resistência não é resultado de exposição prévia a antibióticos, mas sim uma característica que faz parte do seu perfil biológico (SANTANA, 2022).

Em contrapartida, a resistência adquirida ocorre quando uma bactéria, previamente suscetível a um antibiótico, desenvolve resistência após a exposição a esse agente. Esse fenômeno resulta de mutações genéticas espontâneas ou da aquisição de material genético de outras bactérias, frequentemente através de plasmídeos ou transposons. A resistência adquirida representa um sério problema de saúde pública, uma vez que muitas bactérias patogênicas, como Escherichia coli e Staphylococcus aureus, têm mostrado um aumento na taxa de resistência a múltiplos fármacos, dificultando as opções de tratamento e aumentando a gravidade das infecções (BARBOSA et al., 2022).

O fenômeno da resistência em Escherichia coli é influenciado pelo uso inadequado de antibióticos, que se destaca como uma das principais causas que contribuem para a seleção de cepas resistentes. A prescrição excessiva e inadequada de antibióticos em ambientes clínicos, aliada à automedicação e ao uso indiscriminado em medicina veterinária e na agricultura, intensifica a pressão seletiva sobre as populações bacterianas (SANTANA, 2022).

Quando antibióticos são utilizados de maneira inadequada, muitas vezes não alcançam as concentrações eficazes para erradicar as bactérias, permitindo que aquelas com características de resistência sobrevivam e proliferem. Essa prática não apenas favorece o desenvolvimento de cepas resistentes, mas também compromete a eficácia dos tratamentos disponíveis, tornando infecções anteriormente controláveis em situações graves e de difícil manejo (BARBOSA et al., 2022).

Para além do uso inadequado de antibióticos, fatores de seleção natural desempenham um papel crucial na dinâmica da resistência em E. coli. A resistência a antibióticos pode ser favorecida em ambientes onde os antibióticos estão presentes, criando uma pressão seletiva que beneficia as bactérias resistentes em detrimento das suscetíveis. Esse fenômeno é particularmente evidente em hospitais, onde o uso de antibióticos é intensivo e frequente. A exposição constante a essas substâncias cria um ambiente propício para a seleção e a disseminação de cepas resistentes, que se tornam predominantes nas infecções hospitalares. Assim sendo, a presença de antibióticos em concentrações subterapêuticas, seja por erro de dosagem ou pela utilização de agentes menos eficazes, pode contribuir significativamente para o aumento da resistência bacteriana (BARBOSA et al., 2022).

A conjugação, em exemplificação, permite que bactérias transferiram plasmídeos que contêm genes de resistência entre si, mesmo entre espécies diferentes, ampliando rapidamente o pool de resistência em populações bacterianas. Esses plasmídeos frequentemente carregam múltiplos genes de resistência, resultando em cepas que apresentam resistência a diversos antibióticos simultaneamente. A transformação e a transdução também contribuem para essa disseminação, sendo processos que permitem a aquisição de material genético de bactérias mortas ou de bacteriófagos, respectivamente. Como consequência, a transmissão horizontal de genes de resistência representa uma das principais estratégias pelas quais as bactérias se adaptam e sobrevivem em ambientes hostis (SANTANA, 2022).

Em suma, as causas da resistência em E. coli são multifatoriais e incluem o uso inadequado de antibióticos, que gera uma pressão seletiva significativa, e os mecanismos de transmissão de genes de resistência que facilitam a propagação de características vantajosas entre as populações bacterianas (BARBOSA et al., 2022).

A compreensão desses fatores é primordial para a formulação de estratégias de controle e mitigação da resistência, incluindo a promoção do uso responsável de antibióticos, a implementação de práticas de prevenção de infecções e a pesquisa contínua em novas abordagens terapêuticas. A luta contra a resistência em E. coli exige um esforço conjunto entre profissionais de saúde, pesquisadores e responsáveis por políticas públicas, visando proteger a eficácia dos antibióticos e garantir melhores resultados na gestão das infecções bacterianas (SANTANA, 2022). A resistência bacteriana, principalmente em cepas de Escherichia coli, exerce impactos acerca do tratamento de infecções, afetando tanto a eficácia das terapias quanto desfecho clínico dos pacientes. Quando uma bactéria se torna resistente a múltiplos antibióticos, as opções de tratamento se restringem, muitas vezes levando à necessidade de terapias mais agressivas, que podem ser menos eficazes e mais tóxicas. As infecções que antes eram tratáveis com antibióticos comuns passam a exigir o uso de medicamentos de segunda ou terceira linha, que são frequentemente mais caros e apresentam um perfil de efeitos colaterais mais severo (SANTANA, 2022).

Essa mudança no paradigma terapêutico eleva os custos dos tratamentos e, ainda, gera uma preocupação com a segurança dos pacientes, uma vez que terapias alternativas podem não ter sido tão extensivamente estudadas ou testadas (BARBOSA et al., 2022).

Aliás, a resistência bacteriana está associada ao aumento da morbidade e mortalidade nas infecções resistentes. Isto é, pacientes que desenvolvem infecções causadas por cepas resistentes frequentemente experimentam um prolongamento do tempo de internação hospitalar, uma vez que o tratamento se torna mais complicado e demorado (REINA; REINA, 2018). A prolongação da estadia no hospital não apenas sobrecarrega os sistemas de saúde, mas também aumenta a exposição dos pacientes a complicações secundárias, como infecções hospitalares, que podem agravar ainda mais seu estado de saúde. Essa situação é particularmente crítica em populações vulneráveis, como idosos e indivíduos com comorbidades, que já estão em maior risco de complicações (SANTANA, 2022).

A progressão da mortalidade associada a infecções resistentes também se destaca como um grave problema de saúde pública. Nesta lógica, o uso de antibióticos ineficazes ou o atraso no início do tratamento adequado resultante da resistência pode levar à falência múltipla de órgãos e, em última instância, ao óbito. Analogamente, a dificuldade em tratar infecções resistentes tem implicações mais amplas para a saúde pública, pois a propagação de cepas resistentes pode comprometer não apenas os resultados individuais, mas também a eficácia dos tratamentos em comunidades inteiras (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

A situação exige uma resposta coordenada, abrangendo a implementação de políticas de controle de infecções, vigilância rigorosa da resistência bacteriana e promoção do uso prudente de antibióticos. Tais ações são essenciais para mitigar os impactos clínicos da resistência em E. coli e outras bactérias patogênicas (SANTANA, 2022).

A conscientização sobre os riscos associados à resistência, tanto entre profissionais de saúde quanto na população em geral, deve ser uma prioridade para melhorar a resposta clínica e preservar a eficácia dos antibióticos para as futuras gerações (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

4 FAGOTERAPIA COMO ALTERNATIVA: AVANÇOS E DESAFIOS

A fagoterapia, uma abordagem terapêutica que utiliza bacteriófagos para tratar infecções bacterianas, possui um desenvolvimento histórico que remonta ao início do século XX. Os primeiros estudos sobre bacteriófagos, vírus que infectam e destroem bactérias, foram conduzidos de forma independente por dois cientistas: Felix d’Hérelle, na França, e Frederick Twort, na Inglaterra. D’Hérelle, em particular, é creditado como o pioneiro da fagoterapia, tendo observado que um agente filtrável em um meio de cultura poderia inibir o crescimento de bactérias patogênicas, estabelecendo assim as bases para a aplicação clínica dessa técnica. Em 1919, ele começou a aplicar bacteriófagos no tratamento de infecções em pacientes, demonstrando a eficácia da terapia em uma variedade de infecções bacterianas (SANTANA, 2022).

Nas décadas seguintes, a fagoterapia ganhou notoriedade, especialmente na Europa Oriental, onde se tornou uma prática comum no tratamento de infecções resistentes. Na Geórgia, em exemplificação, um centro de pesquisa dedicado à fagoterapia foi estabelecido, desenvolvendo tratamentos personalizados com base na caracterização dos fágicos específicos para as cepas bacterianas de cada paciente (PRADA-PEÑARANDA et al., 2015).

Contudo, o advento dos antibióticos na década de 1940 provocou uma diminuição do interesse pela fagoterapia, que foi vista como uma abordagem antiquada. A facilidade de uso e a eficácia dos antibióticos rapidamente se tornaram a norma no tratamento de infecções bacterianas, relegando a fagoterapia a um papel secundário na medicina ocidental (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

Contemporaneamente, o interesse pela fagoterapia foi revitalizado devido ao aumento alarmante da resistência bacteriana a antibióticos, um fenômeno que desafia as capacidades atuais de tratamento de infecções. A dificuldade em manejar infecções causadas por cepas resistentes levou pesquisadores e profissionais da saúde a reavaliar a fagoterapia como uma alternativa viável e necessária. Estudos contemporâneos têm mostrado que a terapia fágica pode ser adaptada para tratar infecções complexas, proporcionando uma abordagem personalizada que ataca especificamente as bactérias patogênicas sem afetar a microbiota normal do hospedeiro (SANTANA, 2022).

A revitalização do interesse pela fagoterapia também foi impulsionada pelo avanço nas técnicas de biotecnologia e engenharia genética, que permitiram o desenvolvimento de fágicos modificados que podem ser mais eficazes na erradicação de cepas bacterianas resistentes. Essa nova perspectiva tem fomentado uma colaboração interdisciplinar entre microbiologistas, clínicos e engenheiros, visando integrar a fagoterapia no arsenal terapêutico moderno. Além disso, a realização de ensaios clínicos controlados tem contribuído para a validação científica da fagoterapia, permitindo que sua segurança e eficácia sejam testadas rigorosamente (SANTANA, 2022).

Os mecanismos de ação dos fagos abrangem um ciclo de vida bem estruturado que dispõe de um papel central em sua eficácia como tratamentos antimicrobianos. Este ciclo pode ser dividido em duas fases principais: o ciclo lítico e o ciclo lisogênico. No ciclo lítico, após a penetração do fago na célula bacteriana, ocorre a replicação do material genético viral e a produção de proteínas fágicas (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

Essa fase culmina na lise da célula hospedeira, resultando na liberação de novas partículas virais. Esse processo não apenas reduz a carga bacteriana, mas também libera fagos adicionais que podem, por sua vez, infectar outras células. A velocidade e a eficiência dessa lises tornam os fagos agentes promissores no combate a infecções bacterianas, principalmente em cenários onde as terapias antibióticas tradicionais falham (SANTANA, 2022).

Paulatinamente, o ciclo lisogênico permite que o fago se integre ao genoma da bactéria, permanecendo em estado latente. Nesse estado, o fago é replicado juntamente com o DNA bacteriano durante a divisão celular, o que possibilita uma proliferação silenciosa do material viral. Essa estratégia confere uma vantagem adaptativa ao fago, permitindo que ele sobrevive em ambientes adversos, enquanto a bactéria hospedeira pode continuar a se replicar. Porém, sob condições estressantes, o fago pode ser ativado, retornando ao ciclo lítico e resultando na destruição da célula hospedeira. Esse aspecto dual dos ciclos de vida dos fagos é uma característica essencial que contribui para a sua eficácia em infecções complexas (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

A interação entre os fagos e as cepas de Escherichia coli é notável por sua especificidade e seletividade. Cada fago apresenta um espectro de hospedeiros limitado, significando que ele pode infectar apenas cepas bacterianas específicas. Esta seletividade é determinada pela presença de receptores específicos na superfície das células bacterianas, que geralmente consistem em proteínas ou carboidratos que atuam como locais de ligação para os fagos. O reconhecimento desses receptores é um fator crítico; uma interação bem-sucedida inicia o ciclo infeccioso do fago. Por exemplo, os fagos que visam cepas uropatogênicas de E. coli podem se ligar a receptores que são predominantes nessas cepas, enquanto os fagos direcionados a cepas enteropatogênicas podem reconhecer diferentes estruturas de superfície. Essa especificidade não apenas aumenta a eficácia do tratamento, mas também minimiza o impacto na microbiota normal do hospedeiro (PRADA-PEÑARANDA et al., 2015).

Ademais, a capacidade dos fagos de evoluir juntamente com as cepas bacterianas é uma característica que torna a fagoterapia uma alternativa promissora. As bactérias frequentemente desenvolvem resistência a antibióticos por meio de mutações genéticas ou aquisição de genes de resistência. Em contraste, os fagos podem adaptar-se rapidamente a essas mudanças, o que possibilita uma coevolução entre as bactérias e os fagos. Esse fenômeno de coevolução pode ser vantajoso em um ambiente clínico, onde as infecções causadas por bactérias resistentes representam um desafio crescente. Assim sendo, a fagoterapia ataca diretamente as bactérias patogênicas à medida que atua como um meio de controle da resistência bacteriana (SANTANA, 2022).

A fagoterapia apresenta um conjunto de vantagens, em especial no contexto atual em que a resistência bacteriana a antibióticos convencionais se tornou uma preocupação crescente. Uma das principais vantagens da fagoterapia reside em sua eficácia contra bactérias resistentes, particularmente aquelas que não respondem a tratamentos tradicionais (REINA; REINA, 2018).

Os fagos, sendo agentes altamente específicos, podem ser utilizados para direcionar cepas específicas de bactérias patogênicas, incluindo aquelas que manifestam resistência a múltiplos antibióticos. Essa especificidade permite que os fagos sejam utilizados em situações em que os antibióticos falharam, oferecendo uma alternativa viável para o tratamento de infecções complicadas e de difícil manejo clínico. Ou seja, as infecções causadas por cepas de Escherichia coli, como UPEC e EPEC, que frequentemente exibem resistência a uma variedade de antibióticos, podem ser tratadas eficazmente com fagos apropriados, resultando em uma redução da carga bacteriana e na recuperação do paciente (PRADA-PEÑARANDA et al., 2015).

Para além de sua eficácia contra infecções resistentes, a fagoterapia também apresenta um perfil de segurança que se destaca em comparação com os antibióticos tradicionais. Os antibióticos frequentemente provocam uma série de efeitos colaterais indesejados, que variam desde reações alérgicas até distúrbios gastrointestinais e alterações no microbioma intestinal. Em contraste, os fagos são geralmente bem tolerados e, em muitos casos, demonstram ter menos efeitos adversos (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

Essa característica é importante, uma vez que os antibióticos podem causar desequilíbrios na microbiota normal, levando a complicações como diarreias, infecções fúngicas secundárias e outras disbioses. A fagoterapia, por sua vez, pode ser administrada sem impactar negativamente a flora microbiana benéfica do hospedeiro, pois os fagos são altamente específicos para suas bactérias-alvo e não afetam outros microrganismos. Essa menor interferência no microbioma contribui para uma recuperação mais rápida e menos complicações associadas ao tratamento (SANTANA, 2022).

Aliás, a adaptação dos fagos ao ambiente bacteriano oferece uma vantagem adicional no combate às infecções. À medida que as bactérias evoluem e desenvolvem mecanismos de resistência, os fagos têm a capacidade de se adaptar e evoluir em resposta a essas mudanças. Essa coevolução é uma característica essencial que pode proporcionar uma solução duradoura contra a resistência bacteriana. A utilização de fagos não apenas fornece uma resposta imediata ao tratamento de infecções, mas também permite um controle contínuo da dinâmica bacteriana ao longo do tempo, ajudando a prevenir a propagação de cepas resistentes (MARÇAL; SOUZA; CÂNDIDO, 2023).

A personalização da terapia com fagos é outra vantagem exponencial, uma vez que a terapia pode ser ajustada com base nas características específicas da infecção de cada paciente. Isso abrange a possibilidade de realizar testes de sensibilidade para determinar quais fagos são mais eficazes contra a cepa bacteriana isolada do paciente. Essa abordagem personalizada não apenas maximiza a eficácia do tratamento, mas também minimiza o risco de efeitos adversos, oferecendo uma alternativa terapêutica mais segura e eficaz (SANTANA, 2022).

Tanto o isolamento quanto a caracterização de fagos específicos para Escherichia coli constituem etapas fundamentais para o desenvolvimento de terapias baseadas em fagos. O processo de isolamento começa com a coleta de amostras que contenham as bactérias-alvo (SANTANA, 2022).

Essas amostras podem ser obtidas de diversas fontes, como fezes de animais, água contaminada, solos ou infecções clínicas. Uma abordagem comum envolve a utilização de meios de cultivo que favorecem o crescimento das bactérias, permitindo a identificação de fagos que possam infectá-las. Os fagos são frequentemente isolados através de técnicas de diluição em série, onde amostras são diluídas e incubadas em presença de células de E. coli. Após a incubação, as placas são examinadas em busca de formações de lítises, que indicam a presença de fagos (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

Não obstante, é possível utilizar técnicas como o método de enriquecimento, que consiste em incubar a amostra em um meio que favoreça o crescimento da bactéria-alvo, seguida da adição de uma suspensão de fagos. Essa estratégia aumenta a chance de interação entre os fagos e as células bacterianas, resultando em um maior rendimento de isolamento (PRADA-PEÑARANDA et al., 2015).

A partir das lítises observadas, os fagos podem ser recuperados e purificados por meio de centrifugações e filtrações. A escolha do método de isolamento deve ser orientada pela fonte da amostra e pelas características específicas dos fagos que se deseja obter, considerando-se, por exemplo, a necessidade de seletividade para cepas específicas de E. coli, como as patógenas UPEC e EPEC (ROTHWELL, 2014).

Após o isolamento, a caracterização molecular e funcional dos fagos é central para a compreensão de suas propriedades e potenciais aplicações terapêuticas.

A caracterização molecular geralmente envolve a análise da estrutura do genoma do fago, que pode ser realizada através de técnicas como PCR (reação em cadeia da polimerase) e sequenciamento de DNA. Essas análises permitem a identificação de genes de interesse, como aqueles que codificam para proteínas de lítise e mecanismos de virulência. A presença de genes que conferem resistência a condições adversas, como a ação de anticorpos do hospedeiro, pode também ser investigada, fornecendo informações sobre a eficácia potencial do fago como agente terapêutico (MARÇAL; SOUZA; CÂNDIDO, 2023).

A caracterização funcional, por sua vez, diz respeito à avaliação da capacidade do fago em infectar e lisar a bactéria-alvo. Ensaios de lítise in vitro são frequentemente realizados para determinar a eficiência do fago em eliminar cepas específicas de E. coli. Essas análises podem incluir a determinação do titer do fago, que quantifica a concentração de partículas infecciosas, e testes de tempo de lítise, que avaliam a rapidez com que o fago provoca a morte das células bacterianas. Também é válido frisar a avaliação da especificidade do fago, que deve ser direcionada a cepas patogênicas sem afetar a flora bacteriana comensal do hospedeiro (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

Igualmente, a estabilidade do fago em diferentes condições ambientais, como pH, temperatura e presença de soluções salinas, também deve ser considerada. Esses fatores são relevantes para a potencial aplicação clínica, uma vez que os fagos precisam manter sua atividade lítica em condições fisiológicas do hospedeiro. Estudos adicionais podem incluir testes de resistência do fago a antibióticos, bem como a possibilidade de usar fagos em combinação com antimicrobianos convencionais, visando aumentar a eficácia do tratamento (SANTANA, 2022).

O desenvolvimento de produtos fágicos como terapias para infecções bacterianas representa um avanço na área da microbiologia e da medicina. A formulação de terapias baseadas em fagos requer uma abordagem metódica, que abarca desde a seleção dos fagos adequados até a escolha de veículos de administração. Este processo inicia-se com a identificação de fagos que demonstraram eficácia contra as cepas bacterianas específicas que causam infecções, como as cepas de Escherichia coli uropatogênicas e enteropatogênicas. Logo, a escolha dos fagos deve considerar sua especificidade, capacidade de lítise e estabilidade, além de garantir que eles não afetem negativamente a microbiota nativa do paciente (MARÇAL; SOUZA; CÂNDIDO, 2023).

Após a seleção dos fagos, a formulação do produto parte da definição do veículo em que os fagos serão administrados. Vários formatos de administração são possíveis, bem como soluções líquidas, géis e aerosóis, dependendo da localização da infecção e do perfil do paciente. A formulação líquida, por exemplo, pode ser utilizada para infecções gastrointestinais, enquanto géis podem ser mais adequados para aplicações tópicas em feridas (SILVA, 2022).

É devido considerar também a preservação da atividade dos fagos durante o armazenamento e a administração, o que pode ser alcançado através da adição de estabilizantes ou a utilização de tecnologias de encapsulação. A estabilidade e a viabilidade dos fagos em condições ambientais adversas, como variações de temperatura e pH, devem ser rigorosamente testadas, pois esses fatores influenciam diretamente a eficácia do tratamento (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

Dentre os produtos comerciais de terapia fágica já disponíveis no mercado, um dos mais notáveis é o Phage Therapy, desenvolvido pelo laboratório de terapia fágica, que utiliza fagos específicos para tratar infecções resistentes em pacientes. Outro exemplo é o Bacteriophage Preparation, que consiste em uma combinação de fagos direcionados a infecções por Staphylococcus aureus, demonstrando eficácia em casos de infecções cutâneas e profundas. Esses produtos foram testados em ensaios clínicos, os quais comprovaram não apenas sua eficácia, mas também a segurança da administração, apresentando efeitos colaterais mínimos em comparação com as terapias antimicrobianas convencionais (SANTANA, 2022).

Ainda mais, há iniciativas que buscam integrar a terapia fágica a tratamentos convencionais, como a administração combinada de fagos e antibióticos. Esse tipo de abordagem pode potencializar a eficácia do tratamento, reduzindo a carga bacteriana e prevenindo a emergência de cepas resistentes (REINA; REINA, 2018).

A pesquisa contínua no desenvolvimento de produtos fágicos também abrange a personalização das terapias. Essa estratégia envolve a coleta de amostras do microbioma do paciente e a análise das cepas bacterianas presentes, permitindo a seleção de fagos personalizados que atacam especificamente as bactérias patogênicas identificadas. Essa abordagem individualizada não apenas aumenta a eficácia do tratamento, mas também minimiza o impacto sobre a microbiota saudável, um aspecto crítico para a saúde geral do paciente (MARÇAL; SOUZA; CÂNDIDO, 2023).

A regulamentação e legislação relacionadas à fagoterapia apresentam complexidades, sobretudo em um contexto onde o desenvolvimento de novas terapias é necessário para combater as infecções bacterianas resistentes. A fagoterapia, apesar de sua promissora eficácia, enfrenta um panorama regulatório que muitas vezes não está completamente adaptado às especificidades dos tratamentos baseados em fagos. Isso ocorre porque a maior parte da legislação vigente foi elaborada com foco em medicamentos tradicionais, como os antibióticos, que possuem mecanismos de ação bem definidos e amplamente estudados (SANTANA, 2022).

Um dos principais pontos legais dificultosos na aprovação de terapias fágicas reside na necessidade de demonstrar a segurança e eficácia dos produtos fágicos, um processo que envolve ensaios clínicos rigorosos. Os fagos, por serem agentes biológicos que atuam de maneira distinta dos antibióticos, requerem uma abordagem regulatória que considere suas particularidades. Em muitos países, a falta de diretrizes claras pode levar a um processo de aprovação demorado e complicado, que desencoraja o investimento e a pesquisa nessa área. Além disso, a variabilidade na composição dos preparos fágicos, que podem ser únicos para cada paciente, adiciona uma camada de complexidade às exigências regulatórias (TAMARIZ; LEZAMETA; GUERRA, 2014).

A comparação com a regulamentação de antibióticos revela diferenças notáveis. Os antibióticos são tipicamente classificados como produtos farmacêuticos, o que implica que sua produção e distribuição devem seguir normas estritas, que garantem a uniformidade e a qualidade. Essa uniformidade é crucial para a previsibilidade dos resultados clínicos. Por outro lado, a natureza personalizada e heterogênea das terapias fágicas desafia essa lógica. Os fagos podem ser isolados e caracterizados a partir de amostras individuais, resultando em produtos que variam de um paciente para outro. Essa característica torna a padronização e a validação regulatória complexas, uma vez que não há um “produto fágico padrão” que possa ser facilmente avaliado (MARÇAL; SOUZA; CÂNDIDO, 2023).

Concomitantemente, a legislação que rege a produção e distribuição de antibióticos é bem estabelecida, com regulamentações específicas sobre a fabricação, controle de qualidade e monitoramento de segurança. Em contraste, a fagoterapia ainda carece de uma estrutura regulatória sólida em muitos países. Em algumas jurisdições, a falta de um marco regulatório específico para terapias fágicas resultou na classificação dessas intervenções como produtos experimentais, o que limita sua utilização clínica e o acesso dos pacientes a tratamentos inovadores. Este cenário cria uma lacuna significativa na assistência médica, especialmente em um momento em que as infecções resistentes se tornam cada vez mais prevalentes (REINA; REINA, 2018).

A conscientização e a educação sobre a fagoterapia, tanto entre os profissionais de saúde quanto entre os formuladores de políticas, são fundamentais para superar esses desafios. Ao passo que a pesquisa em fagoterapia avança e demonstra resultados positivos, é essencial que as agências regulatórias atualizem suas diretrizes para incluir claramente as especificidades das terapias baseadas em fagos. Neste enfoque, a colaboração entre pesquisadores, clínicos e autoridades regulatórias pode fomentar um ambiente propício para a inovação e a implementação de terapias fágicas eficazes (MARÇAL; SOUZA; CÂNDIDO, 2023).

A comparação com a regulamentação de antibióticos ilustra a necessidade de um marco regulatório adaptado às características únicas das terapias fágicas. Com o avanço das pesquisas e uma maior compreensão do potencial da fagoterapia, a criação de um ambiente regulatório favorável é fidedigno para promover a segurança e a eficácia das intervenções, beneficiando pacientes que sofrem com infecções resistentes (SANTANA, 2022).

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fagoterapia, enquanto alternativa promissora ao tratamento de infecções bacterianas resistentes, encontra-se em um momento de evolução. À medida que a resistência bacteriana se torna uma preocupação global crescente, as inovações tecnológicas e as perspectivas de pesquisa apresentam oportunidades significativas para expandir e otimizar o uso de fagos no combate a patógenos, como as cepas de Escherichia coli. O futuro da fagoterapia depende, portanto, de avanços em diversas frentes, bem como a biotecnologia, a colaboração multidisciplinar e a consideração de implicações éticas.

Os avanços na engenharia de fagos têm possibilitado a modificação e otimização dessas entidades virais para melhorar sua eficácia terapêutica. Por meio de técnicas de biotecnologia, como a edição genética, é viável aumentar a especificidade dos fagos em relação a determinadas cepas bacterianas, reduzindo assim o risco de efeitos adversos sobre a microbiota benéfica do hospedeiro.

Inovações como o uso de fagos sintéticos e a construção de fagos com características desejadas estão abrindo novas perspectivas para a personalização do tratamento, permitindo a criação de terapias mais direcionadas e eficazes.

Outrossim, a combinação de fagoterapia com outras modalidades de tratamento, como antibióticos e terapias imunológicas, surge como uma abordagem inovadora. Essa estratégia de terapia combinada pode potencializar os efeitos dos tratamentos existentes, superando a resistência bacteriana de forma mais eficaz. (REINA; REINA, 2018).

O estudo de Vieira et al. (2023), por sua parte, sugere que a utilização de fagos em conjunto com antibióticos pode não apenas melhorar os resultados clínicos, como também reduzir a carga de antibióticos necessários, contribuindo para a mitigação da resistência.

Perante tais explanações, a pesquisa futura na área de fagoterapia deve focar em várias necessidades, tais como a exploração de novos fagos, a compreensão de suas interações com o sistema imunológico do hospedeiro e a avaliação de sua eficácia em diferentes populações. A identificação de fagos eficazes contra patógenos emergentes é elementar para garantir que a fagoterapia permaneça relevante diante das constantes mudanças nos perfis de resistência bacteriana. Não obstante, a pesquisa deve investigar a farmacocinética e a farmacodinâmica dos fagos, aspectos que são cruciais para o desenvolvimento de protocolos de tratamento seguros e eficazes.

As colaborações interdisciplinares entre microbiologistas, clínicos, engenheiros e especialistas em saúde pública são demandadas para impulsionar a pesquisa em fagoterapia no período contemporâneo. A integração de conhecimentos de diferentes áreas permitirá uma abordagem mais inovadora, que aborde tanto a eficácia dos fagos quanto as questões de viabilidade econômica e aceitação social. Igualmente, as oportunidades de financiamento para pesquisa em fagoterapia precisam ser ampliadas, pois a falta de recursos frequentemente limita o avanço de projetos promissores. Parcerias entre universidades, instituições de pesquisa e indústrias são pertinentes para facilitar a mobilização de recursos necessários para a realização de estudos abrangentes.

À medida que a fagoterapia avança, surgem considerações éticas relacionadas à manipulação genética de fagos. A modificação genética pode levantar questões sobre segurança e potencial impacto no meio ambiente, exigindo uma abordagem cuidadosa e regulada. Inclusive, a transparência nas práticas de pesquisa e o envolvimento da sociedade nas discussões sobre o uso de fagos são cruciais para garantir a aceitação social. A criação de diretrizes éticas e regulamentações que orientem a pesquisa e aplicação da fagoterapia é notória para abordar as preocupações públicas e garantir a responsabilidade no uso dessas tecnologias.

O impacto da fagoterapia na saúde pública e no controle de infecções é uma área que merece atenção especial. A adoção generalizada de terapias baseadas em fagos pode representar um avanço ainda maior na luta contra infecções resistentes, requerendo uma avaliação dos possíveis efeitos a longo prazo na dinâmica epidemiológica. A fagoterapia pode, portanto, influenciar a prevalência de certas cepas bacterianas e, assim, torna-se necessário monitorar cuidadosamente suas implicações para a saúde pública.

6 CONCLUSÃO

À luz dos achados desta pesquisa, elucidou-se que a fagoterapia não apenas oferece uma abordagem inovadora para tratar infecções que não respondem mais aos antibióticos tradicionais, como também apresenta vantagens robustas, como um menor impacto no microbioma e a possibilidade de personalização do tratamento. A eficácia dos fagos, aliada à sua capacidade de atuar seletivamente sobre patógenos específicos, estabelece uma nova perspectiva para a terapia de infecções, aumentando a necessidade de sua integração na prática clínica.

Além disso, este trabalho alcançou todos os objetivos propostos, que incluíram a revisão da história da fagoterapia, a análise de seus mecanismos de ação e as vantagens em comparação com os antibióticos convencionais. A pesquisa também abordou as barreiras à aceitação clínica, a necessidade de regulamentação e as implicações éticas relacionadas ao uso de fagos, fornecendo uma visão holística das múltiplas dimensões envolvidas na implementação dessa abordagem terapêutica. A elucidação desses aspectos foi de suma importância para contextualizar a relevância da fagoterapia na contemporaneidade e as direções que o campo pode seguir.

As direções futuras para pesquisas em fagoterapia são vastas e essenciais para mitigar o problema da resistência bacteriana. A continuação da investigação na engenharia de fagos, a busca por novos isolados e o desenvolvimento de terapias combinadas são áreas que demandam atenção e recursos.

Por fim, salienta-se que a fagoterapia é uma alternativa viável e necessária no enfrentamento das infecções resistentes. O avanço nessa área representa uma resposta à crise de resistência bacteriana, haja vista que abre novas perspectivas para a pesquisa biomédica e a prática clínica. Assim sendo, o engajamento contínuo de pesquisadores, profissionais de saúde e formuladores de políticas será primordial para assegurar que a fagoterapia se estabeleça como um componente integral na luta contra as infecções bacterianas, beneficiando a saúde pública de maneira ampla e efetiva.

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1Formação acadêmica mais alta com a área: Mestrado em Nutrição Instituição de formação: Uniasselvi; E-mail: bessa@expressalimentacao.com.br