EL ARTE DE FRIDA KAHLO COMO HERRAMIENTA ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE DE LA LENGUA ESPAÑOLA
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411161049
FRANÇA, Nathália Alves de Araújo1
KAVALERSKI, Jully Borsoi Ximenes2
RESUMO
Destaca-se a importância da arte na educação e como a obra de Kahlo pode enriquecer a aprendizagem, abordando temas de identidade, cultura e emoção. O objetivo é incentivar abordagens culturais e linguísticas que integrem a arte ao ensino da língua, promovendo uma aprendizagem mais envolvente. A pesquisa adota uma metodologia que combina revisão bibliográfica e análise qualitativa das obras, investigando seus elementos visuais e simbólicos e suas implicações emocionais. Os resultados mostram que a análise das pinturas de Kahlo facilita a prática do espanhol e promove discussões sobre questões culturais e sociais, aproximando os alunos do conteúdo. Kahlo oferece um ponto de partida para reflexões sobre identidade cultural e resistência, contribuindo para um ensino mais dinâmico e reflexivo. Conclui-se que a arte de Kahlo no ensino de espanhol não só melhora a proficiência linguística, mas também incentiva a consciência crítica e cultural, reforçando a importância de uma educação integrada que valorize a diversidade cultural e as expressões artísticas.
Palavras-Chaves: Arte; Ensino; Frida Kahlo; Língua Espanhola.
RESUMEN
Se destaca la importancia del arte em la educación y cómo la obra de Kahlo puede enriquecer el aprendizaje, abordando temas de identidad, cultura y emoción. El objetivo es incentivar enfoques culturales y lingüísticos que integren el arte em la enseñanza de la lengua, promoviendo um aprendizaje más envolvente. La investigación adopta uma metodología que combina revisión bibliográfica y análisis cualitativo de las obras, investigando sus elementos visuales y simbólicos y sus implicaciones emocionales. Los resultados muestran que el análisis de las pinturas de Kahlo facilita la práctica del español y promueve discusiones sobre cuestiones culturales y sociales, acercando a los estudiantes al contenido. Kahlo ofrece um punto de partida para reflexiones sobre identidad cultural y resistencia, contribuyendo a uma enseñanza más dinámica y reflexiva. Se concluye que el arte de Kahlo em la enseñanza del español no solo mejora la competencia lingüística, sino que también fomenta la conciencia crítica y cultural, reforzando la importancia de uma educación integrada que valore la diversidad cultural y las expresiones artísticas.
Palabras clave: Arte; Enseñanza; Frida Kahlo; Lengua Española.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo explora a arte de Frida Kahlo (1907-1954) como ferramenta pedagógica no ensino de língua espanhola. Reconhece-se que a obra dessa artista é de enorme relevância para o enriquecimento cultural e formação linguística de qualquer aprendiz de espanhol. Assim, este estudo tem como objetivo incentivar professores de língua espanhola a incorporar elementos culturais e linguísticos hispânicos, utilizando as obras plásticas de Frida Kahlo como recurso didático. Busca- se, demonstrar como a arte pode contribuir positivamente no processo de ensino e aprendizagem da língua espanhola, promovendo uma abordagem mais enriquecedora e integradora.
Além disso, serão apresentadas as estratégias de aulas utilizando a arte, focada em duas telas intituladas As Duas Fridas (1939) e Raízes (1943), a fim de analisar as obras e traçar estratégias pedagógicas, se tornando um recurso para perceber a utilidade da obra de Kahlo no processo de ensino aprendizagem da língua espanhola.
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón foi uma artista mexicana reconhecida pela sua arte inspirada em autorretratos, na natureza e outros artefatos próprios de sua cultura. Com uma vida marcada pela dor física e psicológica, mesmo assim, ela conseguiu se tornar uma pintora renomada à frente do seu tempo, um ícone para as pessoas por causa da sua personalidade única e de sua vida multifacetada. Ainda hoje, ela é um símbolo de força interior das mulheres, do amor pelo México e sua cultura, pela coragem com que enfrentou suas adversidades, transformando sua dor e sofrimento em arte que nos faz refletir tanto a vida como outros aspectos.
A relevância deste tema se evidencia pela experiência no estágio supervisionado em Língua Espanhola na Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS). Observou-se que, o ensino baseado exclusivamente na gramática e em textos literários, limitava o interesse e a produtividade das aulas. Entretanto, durante as aulas de Literatura Espanhola I, ao realizar um seminário sobre as obras autobiográficas de Kahlo, despertou-me um interesse profundo por essa abordagem, levando-me a repensar minha postura como futura docente de língua espanhola.
Partindo desse viés, questiono como as obras Duas Fridas e Raízes, de Frida Kahlo, podem ser aproveitadas como ferramenta educativa nas aulas de Língua Espanhola? Acredita-se que, a arte autobiográfica da artista mexicana possa ser uma ferramenta versátil para os professores explorarem os conteúdos da referida disciplina, representando um potencial método para facilitar o aprendizado efetivo desse idioma. Isso também, valoriza a cultura e a arte hispânica, enriquecendo a experiência de aprendizagem dos alunos.
A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica, com foco na análise das referidas obras de Kahlo e de outros materiais científicos, incluindo artigos, livros e estudos de especialistas, que sustentam a fundamentação teórica do estudo. A análise das telas As Duas Fridas e Raízes, busca proporcionar uma compreensão cultural, social e autobiográfica de Frida Kahlo, o que se revela útil no contexto de ensino-aprendizagem do espanhol.
Para discutir a aplicabilidade das obras de Kahlo na educação, são convidados teóricos como Vygotsky (2022), Gil (2002), Sedycias (2005) e Freire (2013), cujas contribuições oferecem insights sobre métodos e estratégias de ensino, bem como sobre a importância de integrar arte e cultura no ensino de línguas.
O presente trabalho é composto pela introdução, referencial teórico, metodologia e considerações finais.
2 CONTEXTUALIZANDO O ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL
Para entendermos como se deu o espanhol no Brasil, precisamos conhecer sua trajetória histórica. Sedycias (2005), expõe que com o fluxo migratório implicou em consequências de crises econômicas da época, afetando região menos prósperas, como Galícia e a Andaluzia. No Brasil, a maioria dos imigrantes se deslocaram para regiões específicas como o Sul, nas proximidades dos países hispânicos, assim tendo um considerável crescimento do espanhol. Para Sedycias (2005), cerca de 4 milhões de espanhóis adentraram o Brasil, e em relação a presença histórica dos demais países espanhóis, é interessante destacar o contato pessoal e comerciais entre a fronteira do Paraguai com o Sul, contato este que criou o mercado comum. Em relação a aprendizagem do espanhol nesta época Sedycias salienta que:
Apesar do que foi dito, é necessário notar que a presença do uso e aprendizagem do espanhol no Brasil no século passado, exceto talvez nas áreas mais ao sul, foi reduzida e marginal. Tanto é que se pode dizer que o interesse pelo estudo desta lingua era escasso até cinco anos atrás, como demonstra o fato de o espanhol ser pouco levado em conta no sistema educacional brasileiro (Sedycias, 2005, p. 18).
De acordo com o mesmo teórico, no século 21, o espanhol é visto como uma língua de prestígio para aqueles que a falam como nativa, representando um símbolo de identidade cultural. Ademais, alunos e profissionais valorizam seu alcance global, proporcionando oportunidades em setores como comércio e turismo, se tornando uma língua fundamental para a comunicação e novas possibilidades. De acordo com o mesmo teórico houve um crescimento na demanda do espanhol.
A questão fundamental é: por que vivemos esta bonança e bom por que o espanhol ganhou prestígio? Qual é a razão pela qual há apenas dez anos quase não havia procura por cursos de espanhol em centros públicos e privados e hoje apresenta um crescimento exponencial? A resposta deve incluir três acontecimentos de notável importância na vida económica, social e cultural do país, a saber: a criação do Mercosul, o mercado comum dos países da América do Sul, em 1991; o aparecimento de grandes empresas de origem espanhola e os estreitos laços comerciais com Espanha, especialmente a partir de 1996, e o peso da cultura hispânica em geral. Estas circunstâncias também deram frutos num campo já fertilizado pelo trabalho de muitos hispanistas e professores brasileiros: uma tarefa inestimável de ensinar e difundir a língua e a cultura em espanhol (Sedycias, 2005, p. 19).
Como observamos o espanhol ganha prestígio por meio da criação do Mercosul a oferta de cursos de espanhol no Brasil também foi um importante acontecimento para a popularidade do espanhol, pois gerou uma demanda para professores habilitados a ensinar a língua.
Em relação ao sistema educacional brasileiro, incluindo a questão do ensino de línguas estrangeiras, de acordo com a LDB, o ensino de línguas deve ser parte do currículo escolar, e o espanhol, em particular. Para Sedycias (2005) as línguas estrangeiras constam na lei 9394/96 das diretrizes que regulamentam educação nacional (LDB), de 20 de dezembro de 1996.
A LDB em vigor incluio o ensino de línguas estrangeiras de forma obrigatória para nível do ensino fundamental nos seguintes termos: na parte diversificada do currículo, a partir das quintas série, o ensino de, pelo menos, um estrangeiro moderno lingua, cujá escolha caberá a comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição” (art. 26, § 5º). {…} Em relação ao Ensino Médio (15 a 18 anos), a Lei 9.394/96 estabelece que “será incluida uma lingua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter facultativo, dentro das possibilidades da instituição” (art. 36, III) (Sedycias, 2005, p. 22).
A implementação de políticas educacionais que promovem o ensino de línguas estrangeiras é fundamental na formação de pessoas preparados para um mundo interconectado. Nesse contexto, a Lei nº 11.161, sancionada em 5 de agosto de 2005, surge como um passo significativo na valorização do espanhol no Brasil, sendo integrada de acordo com a situação da escola. Essa legislação não apenas reflete a importância da língua, mas também estabelece diretrizes para sua inclusão no currículo das escolas de educação básica.
Compreendemos então que ouve a imposição da obrigatoriedade do ensino de Espanhol como Língua Estrangeira (ELE) no Ensino Médio, estabelecida em 2005. Porém, em 16 de fevereiro de 2017, durante o governo do presidente Michel Temer, foi apresentada uma nova reforma para o Ensino Médio. Reforma esta que revogou a Lei nº 11.161/2005, que anteriormente tornava obrigatória a oferta de Espanhol nas instituições de ensino públicas e privadas.
Altera as Leis n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Polltica de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral (BRASIL. 2017, s/p).
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece diretrizes claras para o ensino do espanhol, integrando-o nos itinerários formativos elaborados para oferecer uma educação mais flexível, reconhecendo que os estudantes possuem interesses variados. Dentro desse contexto, o ensino do espanhol se destaca por sua relevância cultural e comunicativa, permitindo que os alunos escolham diferentes caminhos de aprendizagem, como uma abordagem literária, cultural ou voltada para a comunicação prática. Assim, os itinerários formativos no ensino do espanhol são uma oportunidade maravilhosa para os estudantes se conectarem com uma língua rica em história e cultura, criando cidadãos críticos e preparados para interagir em um mundo diversificado e multicultural.
Essas diretrizes visam garantir que todos os alunos tenham acesso a uma formação linguística sólida e significativa.
(…) língua inglesa, podendo ser oferecidas outras linguas estrangeiras, em caráter optativa, preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade da instituição ou rede de ensino (Resolução CNE/CEBr 3/2018 Art. 11. § 4º) (BRASIL, 2018, p. 476).
Portanto, a partir disso a língua passou a ser optativa dentro das escolas, tendo a decisão de ofertá-la ou não de acordo com cada instituição, decisão que desvaloriza o ensino e aprendizagem da língua espanhola, acredito que o ensino do espanhol no Brasil precisa evoluir para além da mera aquisição de habilidades linguísticas. É fundamental que o ensino da língua seja integrado à cultura e a história da América Latina, promovendo o diálogo intercultural. Porém, sabemos que algumas instituições disponibilizam o ensino por intermédio dos itinerários formativos, utilizando as trilhas que também são conhecidas como roteiro de aprendizagem e uma parte flexível do currículo do Novo Ensino Médio, com o objetivo de ampliar a formação integral dos estudantes.
2.1 RELEVÂNCIA DO ENSINO ESPANHOL NO BRASIL
Quando falamos sobre o aprendizado do espanhol, não estamos apenas abordando a aquisição de uma nova habilidade, mas também a oportunidade de entender e apreciar a diversidade cultural que nos cerca. Hoje, o espanhol é visto como uma ferramenta valiosa, não só no mercado de trabalho, mas também nas relações pessoais e culturais. Dados de 2021 do Instituto de Cervantes, afirma ter cerca de 580 milhões de falantes em todo o mundo, incluindo aproximadamente 460 milhões de falantes nativos. O espanhol é a segunda língua mais falada em termos de nativos e a terceira mais utilizada globalmente. Além disso, sua influência no comércio é significativa, muitas empresas buscam profissionais bilíngues para se conectar com os mercados hispanofalantes em expansão. Assim como o inglês, o espanhol é muito valorizado no mercado de trabalho, oferecendo vantagens competitivas para aqueles que dominam a língua. Sabemos que a língua espanhola, assim como o inglês, é muito valorizada no mercado de trabalho.
Conforme Sedycias (2005),
A posição que a língua espanhola ocupa hoje no mundo é de tal importância que quem “decidir ignorá-la não poderá fazê-lo sem correr o risco de perder muitas oportunidades de cunho comercial, econômico, cultural, acadêmico ou pessoal (SEDYCIAS, 2005, p. 36).
Portanto, o destaque do espanhol no Brasil vai além de aspectos linguísticos, influenciando também as esferas econômicas, educacionais e impulsionando relações comerciais e de compreensão mútua entre os povos latino-americanos. Para o mesmo autor, outro aspecto, não menos importante, é a influência da cultura hispânica no mundo contemporâneo:
[…] o sucesso adquirido nos últimos anos pela música e literatura hispânica, a nível internacional é uma realidade, como é a simpatia que Espanha causa em seus eventos artísticos e culturais, assim como no esporte (SEDYCIAS, 2005, p. 21).
Muitas instituições de ensino superior ofertam a disciplina de espanhol, como a Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS), em que de forma gratuita oferta o curso de Letras (licenciatura) no qual está integrado o ensino do espanhol, assim, formando profissionais capacitados para o mercado de trabalho. Assim como outras instituições como o Instituto Cervantes de São Paulo, considerada a maior instituição dedicada ao ensino espanhol, com mais de 200 mil estudantes por ano, outras instituições como o Instituto da Cultura e Língua Espanhola oferece cursos regulares, para empresas, grupos privados e individuais, com formadores nativos. O Instituto Colón, fundado em 1996, em Ribeirão Preto, é referência no ensino de espanhol na região. O Instituto Hispano Brasileiro, tem unidades em João Pessoa, Belo Horizonte e Salvador, bem como em diversos outros estados.
Mesmo com as limitações da disciplina nos espaços escolares, o espanhol continua sendo atrativo para futuros professores que escolhem essa habilitação em cursos de graduação, pois o mercado de trabalho ainda oferece oportunidade profissional em diversos setores.
3 O PAPEL DA ARTE NO ENSINO APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA
A arte é uma forma de linguagem visual, emocional e comunicativa de ideias, assim como a língua verbal, a arte se molda pelo contexto histórico, cultural e social, em que as obras podem variar dependendo do ambiente em que o espectador está inserido. Vygotsky (1999), afirmou que a obra de arte é composta por determinados elementos, que para compreendê-la é necessária uma relação dialética entre pensamento, razão e emoção. A arte é uma forma de expor questões tanto sociais, políticas, bem como desigualdade, guerra justiça social e afins.
Segundo Fernandes (2012), a imaginação faz parte da vida do homem, porque ela acompanha as ações e pensamentos do sujeito. A arte é influenciada por questões pessoais de cada artista, trazendo diversas questões sobre sua vida, como traumas e alegrias, e essa conexão exercida entre pintura e artista, permite a quem visualiza a obra criar um diálogo entre passado e presente, tornando a pintura rica de significado.
Apesar de ser um produto da fantasia e da imaginação, a arte não está se- parada da economia, política e dos padrões sociais que operam na sociedade. Idéias, emoções, linguagens diferem de tempos em tempos e de lugar para lugar e não existe visão desinfluenciada e isolada. Construímos a História a partir de cada obra de arte examinada pelas crianças, estabelecendo conexões e relações entre outras obras de arte e outras manifestações culturais (BARBOSA, 1985, p. 178).
Frida Kahlo evidenciava sua cultura dentro das obras feitas, sendo rica em elementos culturais indígenas, suas obras abrem espaço ao discurso relacionado à cultura, obras profundas e autobiografias que falam sobre as experiências delas vividas, obras essas que nos levam a se inserir dentro de sua cultura, nos tornando íntimos das suas questões emocionais e políticas. Percebo que ao estudar essas obras, os alunos podem sim, serem encorajados a discutir sobre a dor e a alegria da pintora mencionada, que são coisas que coexistem entre os humanos e que se manifesta nas suas obras, podendo se tornar ricos debates sobre questões como saúde mental e a importância de se expressar.
Barbosa comenta acerca disto que:
Através das artes temos a representação simbólica dos traços espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam a sociedade ou grupo social, sem modo de vida, seu sistema de valores, suas tradições e crenças. A arte, como uma linguagem presentacional dos sentidos, transmite significados que não podem ser transmitidos através de nenhum outro tipo de Lnguagem, tais como as linguagens discursiva e científica (BARBOSA, 2007, p. 16).
Barbosa (2007) expõe que nas artes visuais, estar apto a produzir uma imagem e ser capaz de ler uma imagem são duas habilidades inter-relacionadas. Isso se faz importante, pois, quando os alunos criam suas artes e possuem a capacidade de interpretar a dos colegas, eles terão também o poder de provocar mudanças sociais. Dentro da educação, a arte tem diversas contribuições:
A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento. Através das artes é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente. Desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada. “Relembrando Fanon”, eu diria que a arte capacita um homem ou uma mulher a não ser um estranho em seu meio ambiente nem estrangeiro no seu próprio país. Ela supera o estado de despersonalização, inserindo o indivíduo no lugar ao qual pertence (BARBOSA, 2007, p. 16).
Em resumo, utilizamos as expressões artísticas de forma interdisciplinar, neste caso, dentro da língua espanhola temos em mãos uma ferramenta poderosa dentro do ensino aprendizagem, tanto da língua espanhola como de diversas outras matérias, pois a arte irá contribuir com o ensino, com os estudantes e seus desenvolvimentos de habilidades críticas. Portanto, a arte desta forma não apenas favorece o processo educativo como intensifica as conexões emocionais dos alunos com a língua, então, ao abordarmos a arte dentro do ensino da língua espanhola, o docente terá um espaço em que a linguagem se torna facinante.
3.1 O PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA ESPANHOLA COMO INCENTIVADOR UTILIZANDO A ARTE
O papel do docente nas aulas de língua estrangeira se faz muito significativo no caminhar do aprendizado dos discentes, pois ele é o ministrante que encaminhará o aluno da melhor forma ao aprendizado da língua trabalhada, facilitando a comunicação e compreensão dos alunos do novo idioma. Zagury (2006), afirma que o professor precisa mostrar a beleza e o poder das ideias, mesmo que use apenas os recursos de que dispõe quadro-negro e giz. Com isso compreende-se que o professor deve sempre estar em busca de novos métodos, mesmo não tendo grandes recursos tecnológicos, pois as aulas tradicionais da língua alvo, quase sempre focadas em aspectos gramaticais, podem se tornar cansativas para os educandos.
O docente precisa se colocar no papel de agente condutor Freire (2013), expõe que educar não e repassar conhecimento mas sim, fornecer possibilidades para sua própria produção, assim sendo, compreendemos que o incentivo a integração dos estudantes nas culturas hispânicas se faz importante, para que estimule a aprendizagem da língua de forma prática e sempre desenvolvendo ambientes inclusivos e diversos que possibilitem o crescimento cultural dos discentes.
Sabemos que, apesar das dificuldades enfrentadas pelos profissionais tanto dentro quanto fora da sala de aula, existem razões para que eles escolham essa carreira. Alguns educadores encontram satisfação no exercício da profissão, demonstram interesse pela prática de ensinar e aprender com os alunos e com outros colegas, compartilhando experiências enriquecedoras.
Compreendemos, assim, a importância do papel do professor, que vai além de simplesmente transmitir conteúdo. Ele também deve ensinar valores como respeito, pensamento crítico, desenvolvimento pessoal e motivação, contribuindo para a formação de estudantes capacitados. Com isso, observa-se que utilizando as pinturas de Frida Kahlo, o educador pode explorar diversas questões presentes nelas, como a identidade e autorretrato, dor e sofrimento, cultura e nacionalidade, feminismo e gênero, amor e relacionamentos, natureza e morte, simbolismo e surrealismo. Assim despertando a curiosidade e o interesse dos alunos, facilitando o processo educacional e a ampliação do conhecimento das culturas hispânicas neles. Pensando nestes pontos, Paulo Freire afirma que:
Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura. Sem “tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência ou tecnologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem ideias de formação, sem politizar, não é possível (FREIRE, 1996, p.30).
Freire (2013), expõe que ensinar exige segurança e competência profissional, assim como rigorosidade metódica, tanto no estímulo da capacidade crítica do aluno, quanto no ensino de conteúdos e atitudes éticas. Com isso, evidenciamos a importância da formação e que junto com o aluno deve buscar o caminho do diálogo, O educador está em constante aprendizado e troca de experiências no exercício docente, ele constrói e amplia seus conhecimentos em sala de aula, incentiva a produção intelectual dos alunos e utiliza sua autonomia crítica para contribuir positivamente no crescimento educacional deles.
4 FATOS BIOGRÁFICOS DE MAGDALENA CARMEN FRIDA KAHLO Y CALDERÓN (1907-1954)
Nascida em uma vila chamada Coyoacán em 1907, Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, foi uma pintora mexicana que conquistou o mundo e as pessoas por meio de suas obras de arte, nas quais retratava toda a sua vida, incluindo dificuldades, dores e alegrias, e evidenciando sua cultura e amor pelo México.
Desde criança, sua vida foi marcada por dor e sofrimento, que a acompanharam pelo resto da sua vida. Aos seis anos de idade, contraiu poliomielite, deixando sequelas em uma perna (James,1995). Neste período Kahlo foi chamada de “Frida da perna de pau”, (Kattenmann, 1990). Aos dezoito anos, sofreu um acidente automobilístico em que o ônibus em que estava colidiu com um bonde, resultando em várias fraturas pelo corpo.
Frida teve a coluna quebrada em três lugares na região lombar. Quebrou a clavicula, fraturou a terceira e a quarta vértebras teve onze fraturas no pé direito (o Atrofiado), que foi esmagado, sofreu luxação do cotovelo esquerdo, a pélvis se quebrou em três lugares. A barra de aço tinha literalmente entrado pelo quadril. Esquerdo e saído pela vagina, rasgando o lábio esquerdo. (HERRERA, 2018, p.71)
Devido a esses ferimentos, ela passou muito tempo acamada e imóvel para se recuperar. Foi neste período que ela começou a pintar para passar o tempo. Ali percebeu o amor pelo que fazia. Para que ela pudesse pintar, seus pais adaptaram um cavalete sobre a cama e instalaram um espelho sobre sua cabeça para que ela pudesse se ver de outros ângulos.
Observa-se que, nas suas obras eram retratados temas que estavam à sua volta como sua família e a ela, mesmo os animais e a cultura do México.
Segundo Frida,
Sem meus quadros eu já estaria louca. Eles me ajudam a superar meus lutos, minhas dores quando pintava, todos os bebês mortos, a infidelidade de Diego […]. Nos meus quadros, nos meus inúmeros autorretratos, reencontrei-me Depois de não mais saber quem eu era de verdade. Meus quadros me tornam Independente das asperezas da vida (BERNARD, 2021, p. 210).
A pintora foi uma mulher que se destacava por onde passava, não apenas por suas obras de arte, mas também por sua maneira única de se vestir. Ela optava por roupas chamativas, saias longas com bordados feitos por ela mesma, além de muitos anéis e pedrarias, incorporando elementos do folclore mexicano em seu estilo pessoal. Além disso, sua expressão autêntica e originalidade não se limitavam apenas as telas, mas também à forma como se apresentava ao mundo.
Por suas roupas chamativas e coloridas, a pintora teve influência na moda, Inspirando designers e modelos, como cita Bernard (2021).
Não conheço ninguém que misture cores e padronagens de maneira tão Pouco convencional […] “o significado das padronagens é importante” […] no México cada cidade tem a sua. As mulheres solteiras usam padronagens Diferentes das casadas; há tecidos e roupas que servem apenas para determinadas ocasiões (BERNARD, 2021, p.230).
Aos 21 anos, em 1928, tornou-se membro do partido comunista (PCM), nessa época, já conhecia Diego Rivela, moralista conhecido no México, que na época tinha 41 anos, também fazia parte do mesmo partido de Frida (Kettenmann, 1990). Diego se tornou o grande amor da vida da pintora, e compartilharam não apenas o amor, mas também a luta política. Eles viajavam juntos para que Diego pudesse trabalhar em seus murais.
Além disso, Frida enfrentou a dolorosa experiência de três abortos, algo que impactou sua vida.
Uma nova onda de dor se apoderou dela e uma torrente de sangue escuro tingiu os lençóis. Frida notou a tristeza no rosto de Diego e depois retorceu-se de dor. A ambulância levou ao hospital Henry Ford, mas ela nem percebeu, quando acordou, frida sentia-se vazia, {…} O que aconteceu com meu bebê?, ela perguntou, embora já soubesse. “a enfermeira balançou a cabeça, lamentando” (BERNARD, 2021, o. 137).
Após enfrentar esses desafios e lidar com o uso excessivo de álcool, ela ficou gravemente doente e acamada até, infelizmente, amputar um de seus pés devido à gangrena. Sua última aparição pública foi em sua exposição no México, onde foi levada em sua cama para poder participar. Não resistindo a suas condições, ela faleceu em 13 de julho de 1954, aos 47 anos de idade, na “Casa Azul”, onde nasceu e viveu. Sua casa foi transformada em um museu dedicado à sua vida e obra, a luta pessoal da artista e seu impacto cultural, mantendo viva a memória e legado da pintora.
Frida Kahlo, a icônica pintora mexicana, marcada por intensos autorretrato e uma profunda conexão com a cultura mexicana, oferece uma oportunidade singular para explorar a língua espanhola de forma rica e significativa. Ao explorar duas de suas obras mais icônicas, Raizes (1943) e Duas Fridas (1939) é possível não apenas melhorar a competência linguística dos alunos, mas também promover a formação de valores culturais e emocionais.
5 ANÁLISE & DISCUSSÃO DAS OBRAS RAÍZES (1943) E DUAS FRIDAS (1939) E SUA UTILIDADE PARA O ENSINO APRENDIZAGEM DA LINGUA ESPANHOLA
A análise das obras Raízes (1943) e As Duas Fridas (1939), de Frida Kahlo, apresenta uma rica fonte de elementos culturais, históricos e autobiográficos que podem ser explorados no ensino de língua espanhola, proporcionando aos alunos uma imersão no contexto artístico e cultural do México (Baudot, 2016). As obras da artista mexicana não só retratam seu universo pessoal, mas também abordam temas universais, como identidade, dor e pertencimento, que geram um ambiente de reflexão e de conexão emocional. Por meio dessa abordagem, é possível contextualizar o ensino da língua espanhola, aproximando o estudante do idioma de forma mais significativa e multifacetada (Herrera, 2018).
A obra Raízes (1943), de Frida Kahlo, representa uma das mais intensas explorações da artista sobre sua conexão com a natureza e suas raízes culturais mexicanas. No quadro, Kahlo se retrata deitada, fundindo seu corpo à terra, de onde emergem raízes vigorosas que se conectam à sua figura, enfatizando uma ligação quase visceral com a natureza e com a fertilidade da terra. Esse cenário onírico remete ao sentimento de pertencimento e à valorização de sua identidade mexicana, um tema recorrente em sua obra (Herrera, 2018).
Figura 1- Raizes (1943) de Frida Kahlo
Fonte: Disponivel em https://wwwu.com/2020/11/12/la-obra-ralces-de-frida-kahic-obtrecord-de-mayor- precio-pagado-por-te-latinoamericana/. Acesso em: 10 jun 2024.
Ao explorar os elementos simbólicos em Raízes, Kahlo utiliza cores vibrantes, especialmente tons de verde, marrom e vermelho, para evocar uma estética que remete à vitalidade e à fertilidade. A representação das raízes que brotam de seu corpo tem sido interpretada como uma manifestação de sua busca por estabilidade e conexão com suas origens, especialmente diante das dores físicas e emocionais que marcaram sua vida (Baudot, 2016). Essa imagem de integração com a terra, torna-se um reflexo de sua identidade e dos elementos culturais do México, ressaltando o simbolismo da fertilidade como um componente central de sua visão artística.
Segundo Prignitz-Poda (2008), Raízes também reflete a influência da iconografia indígena mexicana, frequentemente presente no trabalho de Kahlo, que recorreu a elementos estéticos e temas que exaltavam suas heranças culturais. A obra sugere uma união entre corpo e natureza, capturando o desejo de Kahlo de transformar suas próprias dores em uma expressão artística que fala tanto de renovação quanto de resistência. Ao associar seu corpo à terra, Kahlo cria uma narrativa visual que comunica o ciclo de vida, morte e renascimento, abordando questões de identidade, resiliência e pertencimento cultural.
Portanto, Raízes é uma obra complexa que vai além do retrato pessoal, situando-se como uma expressão de identidade e de resistência cultural. O trabalho de Kahlo revela-se aqui não só como uma autobiografia pictórica, mas também como uma afirmação de sua conexão com a terra e com o México, um elemento que ajuda a consolidar sua imagem como um símbolo de resistência e força feminina (Zamora, 2014).
Raízes retrata uma mulher conectada à terra, simbolizando a fertilidade e a ligação profunda com a natureza e as raízes culturais mexicanas. No contexto educacional, esta pintura pode ser utilizada para ensinar vocabulário específico relacionado à natureza, à cultura e à identidade. Os alunos podem ser incentivados a descrever obra em espanhol, explorando adjetivos, substantivos e verbos que enriqueçam seu léxico. Além disso, ao discutir o simbolismo da obra, os alunos podem desenvolver um maior apreço pela diversidade cultural e pela importância das raízes culturais, promovendo valores como o respeito e a valorização da identidade. Criada em um período de intensa conexão de Kahlo com suas próprias origens indígenas, a obra reflete sua busca por uma identidade mexicana autêntica durante um periodo de nacionalismo cultural no México.
Figura 2- Duas Fridas (1939) de Frida Kahlo.
Fonte: Disponível em https://historia-arte.com/obras/las-dos-fridas. Acesso em: 10 jun 2024.
A obra As Duas Fridas (1939), por sua vez, explora a dualidade e o conflito interno da artista, abordando questões de identidade e pertencimento cultural. No quadro, Kahlo retrata duas versões de si mesma: uma vestida com trajes tradicionais mexicanos e outra com roupas europeias, simbolizando as influências culturais distintas em sua vida. Kahlo, filha de mãe indígena e pai europeu, vivenciou desde cedo a fusão e o contraste dessas raízes, o que marcou profundamente sua identidade e é refletido na composição do quadro (Lowenfeld, 2019).
As Duas Fridas também representam o lado emocional e conflituoso da artista, especialmente após seu divórcio de Diego Rivera, com quem manteve um relacionamento intenso e ambivalente. Na obra, as duas figuras de Kahlo estão de mãos dadas, mas enquanto uma carrega um coração exposto e pulsante, a outra mostra um coração rompido e sangrando, criando uma metáfora para suas dores físicas e emocionais. Essa representação é uma manifestação visual da luta interna e das decepções que marcaram a vida de Kahlo, particularmente suas vivências
amorosas e os traumas físicos que enfrentou (Lopes, 2017). O contraste entre os trajes reforça a tensão entre as influências mexicanas e ocidentais em sua identidade. Segundo Bosi (2016), As Duas Fridas também é um estudo profundo sobre a multiplicidade da identidade, revelando a complexidade cultural e emocional que Kahlo expressa em sua arte. A anatomia exposta nas figuras simboliza o sofrimento psíquico e físico, ao mesmo tempo que transforma sua dor em uma força expressiva. A conexão entre as duas figuras, por meio de um sistema vascular e do aperto das mãos, representa a tentativa de unir as partes conflitantes de sua vida e seu esforço por uma coesão emocional e cultural.
Assim, As Duas Fridas, destaca-se não apenas como uma representação da dor e dos dilemas enfrentados por Kahlo, mas também como uma alegoria de resistência e autoafirmação. A obra tornou-se um ícone da luta pela aceitação de uma identidade multifacetada e dos desafios de integrar diferentes experiências e raízes culturais, ilustrando a visão única de Kahlo sobre as complexidades do pertencimento e da identidade (Acervo masp, 2020).
Destaca-se que Duas Fridas é uma obra introspectiva que repreesenta dualidade interna da artista, duas figuras idênticas, mas contrastantes. Este quadro oferece uma excelente oportunidade para trabalhar aspectos gramaticais do espanhol, como o uso do presente e do passado, fazendo udo da narração da biografia de Frida e da interpretação da dualidade apresentada na pintura. A discussão sobre o contexto histórico e pessoal de Kahlo durante a criação da obra pode levar os alunos a refletirem sobre temas como a identidade, a dor e a resiliência, promovendo a empatia e a compreensão das emoções humanas.
A obra As Duas Fridas pode ser uma ferramenta para introduzir vocabulário e estruturas gramaticais em torno de temas como emoções, identidade e cultura. A análise da pintura permite que os alunos explorem adjetivos e expressões para descrever sentimentos, como “tristeza”, “solidão” e “força”, presentes na imagem. Além disso, o estudo do simbolismo e da narrativa visual da obra pode incentivar discussões em espanhol, ajudando os alunos a desenvolverem habilidades de comunicação ao expressarem interpretações pessoais e observações sobre os elementos culturais e emocionais retratados.
Além disso, As Duas Fridas possibilita uma conexão com o contexto cultural hispânico, permitindo que os alunos discutam questões de identidade e de herança cultural, temas muito presentes no universo hispano-americano. A obra pode ser usada para introduzir vocabulário sobre trajes tradicionais, como “ropa tradicional” e “raíz cultural”, além de expressões para descrever contrastes e conflitos internos. Essas discussões oferecem uma abordagem contextualizada e interdisciplinar ao ensino do espanhol, permitindo que os alunos não só pratiquem o idioma, mas também desenvolvam uma compreensão mais profunda da cultura mexicana e do legado artístico de Frida Kahlo.
Além de melhorar a proficiência na língua espanhola, o estudo dessas obras permite aos alunos uma imersão cultural significativa. A análise das pinturas de Frida Kahlo incentiva o pensamento crítico e a expressão pessoal, habilidades essenciais no aprendizado de qualquer idioma. Assim, o uso das duas pinturas referidas na sala de aula de espanhol, não só aprimora o conhecimento linguístico, mas também contribui para a formação integral dos alunos, cultivando valores humanos fundamentais e uma maior conexão com o patrimônio cultural latino-americano.
Essas obras, também incentivam o desenvolvimento do pensamento crítico e da análise de discurso, habilidades essenciais na aprendizagem de qualquer língua. Ao interpretar os significados simbólicos e autobiográficos presentes nas pinturas, os estudantes são motivados a refletir sobre temas complexos e a expressar suas opiniões e interpretações, aprimorando a expressão oral e escrita. O estudo de obras artísticas como essas ajuda a promover uma visão mais crítica da língua, estimulando os alunos a usarem-na como ferramenta para analisar e comunicar sentimentos, ideias e questionamentos.
Além do enriquecimento linguístico, o uso de obras de arte no ensino de espanhol permite que o aluno aprofunde seu entendimento sobre a cultura e a história do mundo hispânico. Kahlo, por exemplo, é considerada um ícone cultural, e seu trabalho serve de porta de entrada para discutir temas como colonialismo, identidade, gênero e resistência, que são fundamentais na cultura mexicana e latino-americana. Incorporar esses elementos ao ensino da língua promove uma experiência mais holística, em que os estudantes desenvolvem uma consciência cultural que vai além do simples aprendizado gramatical.
Outro ponto relevante é o impacto emocional que a arte de Kahlo provoca, possibilitando um aprendizado mais envolvente. Ao trabalhar com obras como Raízes e As Duas Fridas, os alunos têm a oportunidade de relacionar o conteúdo artístico com experiências pessoais, facilitando a internalização do idioma e tornando o processo de ensino-aprendizagem mais profundo e significativo. Esse engajamento emocional, potencializa o aprendizado e promove uma conexão mais duradoura com o idioma.
6 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta pesquisa emprega os métodos bibliográficos e qualitativos. A pesquisa bibliográfica desempenha um papel fundamental na análise das obras de Frida Kahlo ao oferecer um embasamento teórico que contextualiza sua produção artística, especialmente as pinturas Raízes (1943) e As Duas Fridas (1939). Por meio da revisão de literatura, é possível reunir e examinar o conhecimento acumulado sobre o estilo, as influências culturais e o impacto emocional das obras de Kahlo, bem como os aspectos pedagógicos e metodológicos que fundamentam o ensino de língua espanhola através da arte. Gil (2002), destaca que a pesquisa bibliográfica é essencial para identificar o que já foi explorado sobre o tema e construir um quadro teórico que oriente a interpretação dos dados, servindo de base para uma análise crítica e detalhada das obras em questão.
Segundo Lakatos e Marconi (2010), a pesquisa bibliográfica é útil para oferecer uma visão ampla e fundamentada sobre o problema de pesquisa, promovendo uma reflexão embasada e coerente. Dessa forma, a revisão bibliográfica não só enriquece a compreensão das obras analisadas, como também integra perspectivas educacionais e metodológicas que orientam o uso dessas obras como recursos no ensino de espanhol. Partindo desse pressuposto, Gil (2002) assevera que:
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos cientificos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas (GIL, 2002, p. 44).
A metodologia desta pesquisa fundamenta-se em uma abordagem que alia a análise literária com base no livro Frida Kahlo e as cores da vida (2021), de Caroline Bernard. Complementando essa perspectiva, adotam-se as contribuições de renomados teóricos da educação e da pesquisa metodológica, como Vygotsky (2022), que enfatiza o papel da cultura e da interação social no desenvolvimento cognitivo. Gil (2002) é outra base fundamental para a pesquisa exploratória, igualmente, os estudos de Sendycias (2005) e Freire (2013) fornecem diretrizes para a construção de uma prática pedagógica crítica e transformadora, essencial para contextualizar o uso das obras de Kahlo em sala de aula.
Já o uso da pesquisa qualitativa tem por objetivo, nesse estudo, reunir as informações e abordar o que precisa ser trabalhado em relação ao assunto tratado dentro do projeto, considerando o tema e seus objetivos de apresentar recursos e novas abordagens da lingua, conforme Gil (2002):
Nas pesquisas de cunho qualitativo, sobretudo naquelas em que não se dispõe previamente de um modelo teórico de análise, costuma-se verificar um vaivém entre observação, reflexão e interpretação à medida que a análise progride, o faz com que a ordenação lógica do trabalho torne-se significativamente que mais complexa, retardando a redação do relatório (GIL, 2002, p. 90).
A pesquisa qualitativa é especialmente adequada para a análise das obras de Frida Kahlo, como Raízes (1943) e As Duas Fridas (1939), pois permite uma interpretação detalhada e subjetiva das imagens, dos símbolos e das emoções expressas, aspectos que são essenciais para compreender a complexidade cultural e emocional presente nas pinturas. Ao adotar uma abordagem qualitativa, busca-se explorar não apenas os elementos visuais, mas também as narrativas que emergem das experiências pessoais da artista e de seu contexto cultural, utilizando as obras como fontes de significado e reflexão. Segundo Minayo (2009), a pesquisa qualitativa é valiosa para interpretações que envolvem subjetividade e contextos específicos, o que possibilita uma análise mais rica e profunda das obras de Kahlo, considerando suas vivências e identidade cultural.
Para a obtenção dos resultados, serão analisadas duas obras da artista mexicana para traçar estratégias nas aulas de espanhol apoiadas nelas, a fim de apresentar ao docente de Língua Espanhola que é possível trabalhar essa língua por meio da arte de Frida Kahlo, bem como ainda proporcionar ao docente uma capacitação de conhecimento com esta pesquisa.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para acercar-se ao tema das obras de Frida Kahlo nas aulas de Língua Espanhola, é fundamental utilizar recursos didáticos que sejam ao mesmo tempo acessíveis e envolventes, dada a limitação de horas de aula e o nível inicial de proficiência dos alunos. Recursos visuais, atividades interativas e multimídia podem tornar o aprendizado mais eficaz e atraente para os estudantes.
Uma abordagem inicial eficaz, é o uso de imagens e materiais visuais. Ao apresentar Raizes e As Duas Fridas, os professores podem utilizar cartazes, projeções ou até mesmo reproduções em alta qualidade das pinturas para que os alunos possam observar e discutir em pequenos grupos. Atividades simples de “observar e descrever” podem ser realizadas, onde eles praticam o vocabulário básico relacionado a cores, formas e emoções. Esses exercícios podem ser complementados com cartões de vocabulário visual, que ajudam a associar palavras em espanhol com imagens e conceitos relacionados às obras de Kahlo.
Atividades interativas, como jogos e quizzes, são outra excelente maneira de engajar os alunos e reforçar o aprendizado. Por exemplo, os professores podem criar jogos de memória com imagens das pinturas e palavras em espanhol, ou quizzes online usando plataformas como Kahoot! Para revisar o vocabulário e fatos sobre a vida e obra de Frida Kahlo. Essas atividades não só tornam a aula mais divertida, mas também incentivam a participação ativa dos alunos, essencial para a retenção do conteúdo.
O uso de vídeos e animações é particularmente eficaz para estudantes com pouco conhecimento da língua. Documentários curtos sobre Frida Kahlo, disponiveis com legendas em espanhol ou português, podem fornecer contexto histórico e cultural de forma acessível. Animações que recontam a vida da artista em linguagem simples ajudam a captar a atenção dos alunos e facilitam a compreensão. Após assistir aos vídeos, os alunos podem participar de discussões guiadas com perguntas simples, como ¿Qué aprendiste sobre Frida Kahlo?” ou “¿Qué te gustó de su arte?”, incentivando a prática oral.
As atividades de artes integradas podem ser uma maneira criativa de explorar o tema. Os estudantes podem ser incentivados a criar suas próprias obras de arte inspiradas em Raizes e Duas Fridas, utilizando materiais disponíveis na escola. Durante o processo de criação, podem aprender e praticar o vocabulário relacionado a cores, formas e sentimentos em espanhol. Além disso, escrever breves descrições ou histórias sobre suas obras em espanhol, mesmo que de forma simples, ajudará a reforçar a aprendizagem da língua de maneira contextualizada e significativa.
Desse modo, a implementação de recursos visuais, atividades interativas, vídeos educativos e projetos de arte pode tomar o ensino das obras de Frida Kahlo nas aulas de espanhol mais acessível e envolvente para alunos do ensino básico no Brasil. Essas estratégias não apenas facilitam a aprendizagem do espanhol, mas também promovem um maior interesse pelas culturas e história latino-americanas.
Por fim, o uso dessas obras no ensino do espanhol favorece a integração entre as artes e a língua, alinhando-se a métodos pedagógicos contemporâneos que defendem a interdisciplinaridade. A arte, nesse caso, torna-se uma ferramenta pedagógica que vai além da mera ilustração de temas culturais, servindo como catalisador para debates e análises. Isso amplia as possibilidades de aprendizado, ao mesmo tempo que fortalece a capacidade dos estudantes de expressarem-se em espanhol com fluidez e propriedade.
Em síntese, as obras Raízes e As Duas Fridas de Frida Kahlo oferecem um recurso valioso para o ensino de língua espanhola, que abrange vocabulário, estrutura gramatical, interpretação de textos visuais e uma profunda conexão com a cultura hispânica. Ao adotar essas obras no contexto educacional, o professor oferece aos alunos não apenas o conhecimento linguístico, mas também uma vivência rica e multidimensional da língua, que se conecta a aspectos culturais e artísticos do universo hispânico.
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1 Acadêmica de Letras (UNITINS/Campus Araguatins). E-mail: 999139597n@gmail.com
2 Especialista em Ensino para Surdos- Libras pela UNOPAR. Especialista em Língua Espanhola pela FAIARA. Especialista em Gestão Pública Municipal pela UFT. Graduada em Letras (Línguas Portuguesa e Espanhola) UNITINS. Graduada em Bacharel em Administração pela FAB. Docente do curso de Letras na Universidade Estadual do Tocantins UNITINS. Professora efetiva da Educação Básica na SEDUC do Tocantins. E-mail: jully.bx@unitins.br