INVESTIGAÇÃO CLÍNICA DE DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL EM CÃES (DII): ESTUDO DE CASO 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202411161015


Kimberlyn Martins de Moraes;
Orientadora: Profa. Dra. Paola Almeida de Araujo Goes


RESUMO

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) em cães é uma condição crônica que afeta o trato gastrointestinal, manifestando-se por meio de sintomas como diarreia, vômito e perda de peso. Este estudo de caso analisou a ocorrência da DII em um cão, destacando as dificuldades no diagnóstico precoce e no tratamento adequado. Foi revisado o prontuário médico de um cão com sintomas gastrointestinais crônicos, com ênfase nos exames realizados e no tratamento instituído. A análise revelou falhas no processo diagnóstico, incluindo a subutilização de exames complementares, como a endoscopia com biópsia, e a ausência de encaminhamento precoce para um especialista em gastroenterologia veterinária. O estudo reforçou a importância de um protocolo clínico específico para o diagnóstico diferencial e o tratamento adequado da DII.

Palavras-chave: Doença em cães. Diagnóstico. Tratamento.  

ABSTRACT

Inflammatory Bowel Disease (IBD) in dogs is a chronic condition that affects the gastrointestinal tract, manifesting through symptoms such as diarrhea, vomiting, and weight loss. This case study aims to analyze the occurrence of IBD in a dog, highlighting the difficulties in early diagnosis and appropriate treatment. The medical record of a dog with chronic gastrointestinal symptoms was reviewed, focusing on the tests performed and the treatment administered. The analysis revealed shortcomings in the diagnostic process, including the underutilization of complementary tests, such as endoscopy with biopsy, and the lack of early referral to a veterinary gastroenterology specialist. The study emphasizes the importance of a specific clinical protocol for differential diagnosis and appropriate treatment of IBD.

Keywords: Inflammatory Bowel Disease, dogs, diagnosis, treatment, case study.

INTRODUÇÃO 

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) em cães é uma condição crônica que impacta o trato gastrointestinal, manifestando-se por sinais clínicos persistentes, como diarreia, vômito e perda de peso. Essa patologia é caracterizada pela inflamação da mucosa intestinal, o que resulta em desconforto e comprometimento da saúde do animal (Burrows et al., 2004). Embora o diagnóstico precoce e preciso seja essencial para um tratamento eficaz, muitos casos de DII permanecem subdiagnosticados devido à semelhança dos sintomas com outras doenças gastrointestinais (Magalhães et al., 2018). A exclusão de outras doenças com sintomas semelhantes, como infecções parasitárias, é um passo crucial, mas frequentemente negligenciado (Cascon et al., 2017). 

Essa iniciativa é fundamental para melhorar a qualidade de vida dos cães afetados e aumentar a eficácia dos tratamentos (Hall; German, 2010). A coleta de relatos de casos e a análise crítica dos métodos diagnósticos utilizados atualmente permitirão identificar falhas e propor melhorias que podem ser adotadas pelos médicos veterinários.

O objetivo geral deste trabalho é avaliar a incidência de cães com DII que não recebem tratamento adequado devido à falta de diagnóstico precoce, auxiliando assim os médicos veterinários no desenvolvimento de técnicas que permitam uma identificação mais rápida e eficaz da doença. 

Os objetivos específicos incluem a análise de um relato de caso clínico e a identificação de falhas no processo de diagnóstico.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho é de natureza bibliográfica, com o uso de fontes acadêmicas disponíveis no Google Acadêmico, complementada pela análise do prontuário médico de um cão atendido em um hospital veterinário. Os dados serão correlacionados com exames e tratamentos realizados, com o intuito de identificar as principais dificuldades enfrentadas no diagnóstico da DII.

Este estudo de caso visa analisar a ocorrência da Doença Inflamatória Intestinal (DII) em um cão, utilizando um relato clínico obtido em um hospital veterinário. A abordagem de estudo de caso permite uma análise detalhada de fenômenos complexos em situações reais, sendo amplamente utilizada para investigar condições clínicas específicas em profundidade.

Os dados foram coletados a partir do prontuário médico de um cão diagnosticado com DII, que apresentava sintomas gastrointestinais crônicos. A análise incluiu a revisão dos exames laboratoriais e de imagem, como ultrassonografia e endoscopia, além de uma descrição detalhada do tratamento realizado. Também foram consideradas as informações fornecidas pelo tutor do animal, com foco nos sintomas relatados durante as consultas.

O caso foi selecionado com base em critérios de inclusão que envolviam um histórico de sintomas gastrointestinais persistentes e a confirmação do diagnóstico de DII, com acesso a exames complementares, como a endoscopia com biópsia. O prontuário foi revisado retrospectivamente, registrando as informações relevantes sobre o diagnóstico e o tratamento da DII.

A análise dos dados deste caso clínico permitiu identificar as principais dificuldades no diagnóstico precoce da DII e a eficácia da abordagem terapêutica adotada. Com base nos resultados observados, foi elaborado um fluxograma qualitativo para auxiliar os médicos veterinários na identificação de casos suspeitos de DII e na condução de procedimentos diagnósticos mais assertivos. O estudo busca contribuir para a melhoria dos protocolos de atendimento e tratamento de cães com DII, destacando a importância do diagnóstico precoce e do manejo adequado da doença.

DESCRIÇÃO DO CASO

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) em cães é uma condição crônica que impacta significativamente o trato gastrointestinal, manifestando-se por sinais clínicos persistentes como diarreia, vômito e perda de peso. Essa patologia é caracterizada pela inflamação da mucosa intestinal, levando ao desconforto e comprometimento da saúde do animal (Burrows et al., 2004). O impacto da DII pode ser severo, afetando não apenas a saúde física do cão, mas também sua qualidade de vida.

O diagnóstico precoce e preciso da DII é crucial para um tratamento eficaz. No entanto, muitos casos permanecem subdiagnosticados devido à semelhança dos sintomas com outras doenças gastrointestinais (Magalhães et al., 2018). Essa dificuldade no diagnóstico é uma das principais barreiras enfrentadas por veterinários e tutores, pois pode resultar em tratamentos inadequados e agravamento do quadro clínico.

Um caso emblemático envolve um paciente canino, macho da raça Golden Retriever, com 1 ano e 5 meses de idade e pesando 24 kg. O animal foi atendido devido a um quadro complexo de gastroenterite, com histórico de sintomas persistentes que incluíam perda de peso progressiva, hematoquezia (presença de sangue nas fezes) e vômito intermitente, com duração aproximada de um ano e três meses. Esses sinais geraram preocupação significativa no tutor, levando-o a buscar atendimento veterinário especializado.

Nos exames laboratoriais iniciais, que incluíam hemograma, funções renal e hepática, não foram observadas alterações significativas. Entretanto, a realização de uma ultrassonografia abdominal revelou alterações nas alças intestinais, com ecotextura levemente aumentada e a presença de duodenite. Isso sugeria um comprometimento intestinal que poderia estar contribuindo para os sintomas apresentados.

Durante os episódios de crise, o paciente demonstrava melhora parcial com o uso de antibióticos e fluidoterapia. No entanto, a recorrência dos sintomas indicava a necessidade de uma investigação mais aprofundada. Essa fase da pesquisa é crucial, pois reflete a importância de um diagnóstico diferencial que considere outras possíveis patologias.

Ao longo do tratamento, o paciente foi submetido a múltiplos tratamentos para giardíase, incluindo metronidazol e sulfadimetoxina, além de antieméticos, anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e probióticos. Infelizmente, apesar das intervenções terapêuticas, o quadro clínico continuava a recidivar, levando o animal a retornar ao hospital veterinário com frequência.

Diante das sucessivas recaídas e do agravamento do quadro clínico, o paciente foi encaminhado a um gastroenterologista em um hospital veterinário especializado em São Paulo. Após uma avaliação detalhada, o diagnóstico de Doença Inflamatória Intestinal (DII) foi confirmado. Essa confirmação foi possibilitada pela realização de novos exames hematológicos, que não apresentaram alterações relevantes, e de uma endoscopia com biópsia de estômago e duodeno.

O laudo da biópsia revelou gastrite e enterite crônica linfoplasmocitária discreta a moderada, consolidando o diagnóstico de DII crônica. Essa confirmação é um marco no manejo da doença, pois permite a implementação de um tratamento mais direcionado e eficaz. O papel das biópsias endoscópicas na confirmação da DII não pode ser subestimado, já que são fundamentais para uma análise histopatológica precisa.

Com a confirmação do diagnóstico, o tratamento foi ajustado para atender às necessidades específicas do paciente. A introdução de uma dieta hipoalergênica, juntamente com a administração de ciclosporina, omeprazol e domperidona, foi realizada para minimizar a inflamação e melhorar a saúde gastrointestinal do animal. Essa abordagem multidisciplinar é essencial para otimizar os resultados clínicos e a saúde do paciente.

Após a implementação dessas mudanças, o paciente demonstrou uma melhora significativa em seu estado geral, evidenciando a importância de um diagnóstico especializado e da realização de exames mais específicos desde o início dos sintomas. Essa melhora reforça a necessidade de intervenções precoces na gestão da DII, enfatizando a relevância de um acompanhamento contínuo.

A experiência do tratamento deste paciente ressalta a importância do acompanhamento contínuo em casos de doenças inflamatórias crônicas. A DII, por ser uma condição complexa e multifatorial, demanda uma abordagem que envolva tanto o veterinário quanto o tutor do animal. O tutor deve ser orientado sobre a importância da adesão ao plano de tratamento e à dieta prescrita.

A educação do tutor sobre a doença, seus sintomas e a necessidade de monitoramento regular é fundamental para prevenir recaídas e garantir a qualidade de vida do paciente. Isso implica um compromisso mútuo, onde a comunicação e o suporte contínuos são vitais para o manejo da DII em cães.

Outro desafio significativo é a dificuldade no diagnóstico precoce da DII em cães, frequentemente resultando em tratamentos inadequados e recorrência dos sintomas. A exclusão de outras doenças com sintomas semelhantes, como infecções parasitárias, é um passo crucial, mas frequentemente negligenciado (Cascon et al., 2017). Essa omissão pode atrasar o tratamento adequado e comprometer a saúde do animal.

A hipótese deste estudo é que a implementação de protocolos clínicos que utilizem exames complementares, como endoscopia com biópsia, pode aumentar significativamente a taxa de diagnósticos corretos. Um diagnóstico preciso é fundamental para a eficácia do tratamento e para a melhoria da qualidade de vida dos cães afetados.

A complexidade do quadro clínico deste paciente canino destaca a importância do diagnóstico precoce e da individualização do tratamento na prática veterinária. Essa individualização deve levar em consideração não apenas a condição do animal, mas também as particularidades de cada tutor e seu contexto.

A experiência vivida por esse Golden Retriever reforça a necessidade de uma abordagem proativa e colaborativa na medicina veterinária. O trabalho em equipe entre profissionais de saúde animal é essencial para o manejo eficaz de condições crônicas, como a Doença Inflamatória Intestinal. Essa colaboração pode envolver veterinários clínicos, especialistas em gastroenterologia e nutricionistas veterinários.

Com os devidos cuidados e acompanhamento, espera-se que o paciente continue a responder positivamente ao tratamento, proporcionando uma vida saudável e confortável. A DII não é uma sentença de morte; com o tratamento adequado, muitos cães conseguem viver de forma plena e ativa.

A DII é uma condição desafiadora que pode afetar significativamente a qualidade de vida de cães, especialmente devido à sua natureza crônica e multifatorial. O manejo da DII exige uma compreensão abrangente dos fatores que contribuem para a inflamação intestinal, incluindo predisposições genéticas, dietéticas e ambientais.

Estudos demonstram que a DII em cães pode ter uma etiologia complexa, envolvendo tanto aspectos imunológicos quanto interações com o microbioma intestinal (Jergens et al., 2018). Essas interações tornam o diagnóstico e tratamento ainda mais complicados, evidenciando a necessidade de pesquisa contínua na área.

O diagnóstico da DII frequentemente requer uma abordagem sistemática que combine a história clínica detalhada, achados do exame físico e exames complementares. Os sinais clínicos podem ser vagos e se sobrepor a outras condições gastrointestinais, como infecções parasitárias ou neoplasias. Segundo Willard e Gookin (2009), a integração de exames laboratoriais, como hemogramas e bioquímicas, juntamente com técnicas de imagem como ultrassonografia e endoscopia, pode ajudar a esclarecer o diagnóstico.

A biópsia endoscópica é uma ferramenta valiosa que permite a obtenção de amostras de tecido para análise histopatológica, crucial para a confirmação da DII. Esta análise histológica é um componente essencial na avaliação e diagnóstico, permitindo uma abordagem terapêutica mais dirigida e efetiva.

Além disso, a escolha do tratamento deve ser adaptada às necessidades específicas de cada paciente. A utilização de dietas hipoalergênicas e a administração de medicamentos imunossupressores, como a ciclosporina, têm mostrado resultados promissores na redução da inflamação e controle dos sintomas gastrointestinais (Scherl et al., 2015). A personalização do tratamento pode ter um impacto significativo na resposta clínica do paciente.

A implementação de um regime alimentar rigoroso, combinada com a administração de probióticos, pode melhorar a saúde intestinal e minimizar episódios de recidiva. A educação do tutor sobre a importância de seguir as diretrizes dietéticas e terapêuticas é fundamental para a eficácia do tratamento.

Outro ponto a ser considerado é a importância do suporte contínuo ao tutor do animal. A comunicação aberta e frequente entre o veterinário e o tutor facilita a detecção precoce de recaídas, permitindo ajustes no tratamento de maneira oportuna. Segundo McCarthy et al. (2016), a adesão ao tratamento em pacientes com condições crônicas depende fortemente da compreensão do tutor sobre a doença.

O envolvimento ativo do tutor no manejo da DII não apenas melhora os resultados clínicos, mas também fortalece o vínculo entre o tutor e o veterinário, resultando em um cuidado mais eficaz. Essa relação de confiança é essencial para o sucesso do tratamento.

Além disso, a pesquisa sobre DII em cães está em constante evolução, e novas terapias estão sendo desenvolvidas para abordar as lacunas existentes no tratamento atual. A terapia com anticorpos monoclonais, por exemplo, está sendo explorada como uma opção terapêutica potencial para casos refratários (Wilkinson et al., 2020).

A DII em cães é uma condição desafiadora que requer uma abordagem colaborativa e multidisciplinar. A interação entre veterinários, especialistas e tutores é crucial para otimizar o manejo da doença e melhorar a qualidade de vida dos cães afetados.

Diante da complexidade e dos desafios que a DII apresenta, é imperativo que os profissionais da veterinária continuem a se atualizar e aprimorar seus conhecimentos sobre a doença. O conhecimento atualizado e a aplicação de novas pesquisas são fundamentais para a evolução do manejo da DII em cães, garantindo que os tutores tenham acesso às melhores práticas e opções de tratamento disponíveis.

Assim, a experiência deste paciente canino não é apenas uma ilustração do desafio da DII, mas também um chamado à ação para os veterinários e tutores. A parceria entre ambos é a chave para proporcionar uma vida mais saudável e confortável aos cães afetados por esta condição.

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) em cães é uma condição complexa que apresenta desafios diagnósticos significativos, como evidenciado no caso de um cão macho da raça Golden Retriever, com 1 ano e 5 meses de idade, que foi atendido com um histórico de gastroenterite, perda de peso progressiva, hematoquezia e vômito intermitente. Os sintomas se manifestaram ao longo de aproximadamente um ano e três meses, com o tutor relatando episódios recorrentes de perda de peso. Esse quadro clínico destaca a necessidade de um diagnóstico precoce e preciso, uma vez que a DII pode se assemelhar a várias outras doenças gastrointestinais, como a giardíase e infecções bacterianas (HALL; GERMAN, 2010).

O diagnóstico inicial do cão envolveu uma série de exames laboratoriais, incluindo hemograma, testes renais e hepáticos, que não apresentaram alterações significativas. Exames de ultrassom revelaram alterações nas alças intestinais, com ecotextura levemente aumentada e presença de duodenite. Esses achados de imagem, aliados aos sinais clínicos, foram fundamentais para direcionar a investigação diagnóstica. No entanto, a semelhança dos sintomas com outras condições dificultou a identificação da DII logo no início, o que pode resultar em um tratamento inadequado e em um prolongamento do sofrimento do animal (CASCON et al., 2017).

Um dos principais obstáculos enfrentados neste caso foi a falta de encaminhamento precoce para um especialista em gastroenterologia veterinária. A intervenção de especialistas é essencial em situações de doenças complexas como a DII, onde a realização de exames complementares, como a endoscopia com biópsia, pode ser decisiva para um diagnóstico preciso. A subutilização de exames específicos é uma falha comum na prática clínica, e a implementação de protocolos clínicos que incentivem a investigação detalhada é crucial para o manejo adequado (DE PAULA et al., 2019).

A biópsia é considerada o padrão-ouro para o diagnóstico da DII, pois permite a observação dos infiltrados linfoplasmocitários característicos da condição. O exame histopatológico confirmou a presença de gastrite e enterite crônica linfoplasmocitária discreta a moderada no cão em questão. Esses resultados reforçam a importância da biópsia na confirmação do diagnóstico e na exclusão de outras patologias, como o linfoma (MAGALHÃES et al., 2018).

Além disso, o tratamento da DII no caso analisado foi adaptado às necessidades específicas do paciente. A introdução de uma dieta hipoalergênica, em combinação com a administração de imunossupressores como a ciclosporina, contribuiu para a redução dos sintomas e a melhora da qualidade de vida do animal. O uso de omeprazol e domperidona também foi incluído no plano terapêutico, visando o controle da inflamação e da motilidade gastrointestinal (JUNIOR, 2003). Essa abordagem multifacetada destaca a importância da personalização do tratamento na medicina veterinária.

A adesão do tutor ao manejo contínuo da DII é outro aspecto crucial para o sucesso do tratamento. O envolvimento ativo do tutor no processo de monitoramento e intervenção pode influenciar significativamente a evolução da condição do animal. A comunicação efetiva entre o veterinário e o tutor é essencial para garantir que o tutor esteja bem informado sobre a doença e sobre as práticas de manejo (BURROWS et al., 2004). Essa relação colaborativa fortalece a confiança e a adesão ao tratamento.

DISCUSSÃO

O problema central deste trabalho é a dificuldade no diagnóstico precoce da DII em cães, frequentemente resultando em tratamentos inadequados e recorrência dos sintomas. Assim, a hipótese deste estudo é que a implementação de protocolos clínicos que utilizem exames complementares, como endoscopia com biópsia, pode aumentar significativamente a taxa de diagnósticos corretos e, por consequência, a eficácia do tratamento.

Adicionalmente, a literatura destaca o papel do microbioma gastrointestinal na DII. O desequilíbrio da microbiota tem sido associado ao desenvolvimento de doenças gastrointestinais crônicas, sugerindo que intervenções voltadas para a modulação do microbioma podem ser benéficas para os pacientes. A suplementação com probióticos foi considerada uma estratégia para ajudar a restaurar o equilíbrio da microbiota e diminuir a inflamação intestinal, o que é particularmente relevante no caso analisado (MEDEIROS, 2021).

A inflamação linfoplasmocítica observada no cão também evidencia a complexidade da resposta imunológica associada à DII. Exames complementares, como a endoscopia com biópsia, foram necessários para determinar a extensão da inflamação e descartar outras causas possíveis, como o linfoma gastrointestinal. Essa abordagem cuidadosa é fundamental para a realização de um diagnóstico diferencial eficaz (OLIVEIRA; VOLKWEIS, 2024).

As particularidades do tratamento no caso discutido enfatizam a importância da personalização do manejo terapêutico. O uso de imunossupressores, associado a uma dieta específica e à administração de probióticos, demonstrou ser eficaz na melhoria dos sintomas do paciente. Embora a DII seja uma condição crônica que exige monitoramento contínuo, a adaptação das intervenções ao perfil individual do cão é essencial para alcançar resultados positivos (AMARAL; BRUNETTO, 2020).

A diferenciação correta entre a DII e outras patologias gastrointestinais, como o linfoma, é vital para o sucesso do tratamento. No caso em análise, a utilização de exames específicos, como a biópsia, facilitou a confirmação do diagnóstico e direcionou a terapia de maneira mais assertiva. A necessidade de um diagnóstico preciso ressalta a importância de um conhecimento abrangente por parte dos veterinários sobre as diversas condições que podem afetar o trato gastrointestinal dos cães (QUINTINA, 2021; RIBEIRO, 2021).

Além disso, a atualização contínua dos veterinários sobre diretrizes e pesquisas recentes é crucial para garantir que os pacientes recebam o melhor tratamento possível. A participação em conferências e workshops, além da educação continuada, são estratégias que podem ajudar os profissionais a se manterem informados sobre os avanços no diagnóstico e na terapia da DII, capacitando-os a oferecer cuidados de qualidade e baseados em evidências.

Neste contexto, a educação dos tutores sobre a DII é igualmente importante. Eles devem ser orientados sobre os sinais clínicos a serem observados, a importância da dieta e a necessidade de acompanhamento regular. O suporte psicológico e emocional também é essencial, pois a gestão de uma condição crônica pode ser desafiadora tanto para o animal quanto para o tutor (MIRANDA et al., 2022).

A experiência clínica também mostra que, em alguns casos, o estresse pode agravar os sintomas da DII. Portanto, recomendações sobre a criação de um ambiente de vida saudável e estável para o cão são fundamentais. O enriquecimento ambiental e a promoção de interações sociais podem contribuir para a redução do estresse e, consequentemente, para a melhoria da saúde intestinal do animal.

Além disso, é importante considerar as implicações nutricionais na DII. A seleção de alimentos de alta qualidade e com ingredientes limitados pode ajudar a minimizar a resposta inflamatória do sistema gastrointestinal. Um plano alimentar que leva em conta a individualidade do animal e possíveis intolerâncias pode ser um fator determinante na gestão da DII (FREITAS et al., 2021).

O monitoramento regular da saúde do cão, por meio de consultas veterinárias e exames de acompanhamento, é crucial para avaliar a eficácia do tratamento e fazer ajustes necessários. A avaliação periódica permite a identificação precoce de possíveis complicações e a adequação do manejo, garantindo que o cão receba o suporte contínuo de que necessita (SOUZA et al., 2020).

A pesquisa contínua sobre a DII em cães é essencial para o avanço do conhecimento e para a melhoria das práticas clínicas. A coleta de dados por meio de registros veterinários e a participação em estudos clínicos podem facilitar essa pesquisa e levar a novas descobertas sobre a DII. O fortalecimento da colaboração entre veterinários e pesquisadores é vital para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes no manejo da DII.

Assim, o caso clínico analisado não apenas ilustra as complexidades da Doença Inflamatória Intestinal em cães, mas também enfatiza a necessidade de um manejo terapêutico integrado, que inclua desde o diagnóstico diferencial até o uso de intervenções personalizadas. Esse enfoque abrangente, que considera as múltiplas facetas da DII, é fundamental para proporcionar uma melhora significativa na qualidade de vida dos cães afetados e garantir um suporte robusto para seus tutores.

Por fim, é importante ressaltar que a comunicação interdisciplinar entre veterinários, nutricionistas e especialistas em comportamento animal pode enriquecer o manejo da DII. Um trabalho em equipe que considere todas as áreas envolvidas na saúde do animal pode resultar em um tratamento mais holístico e eficaz, que leve em conta a interdependência entre a saúde física, emocional e nutricional do paciente.

A capacitação e atualização dos profissionais de medicina veterinária em relação às novas descobertas sobre a DII são fundamentais para garantir que o manejo seja baseado em evidências e melhores práticas. Incentivar a troca de experiências e conhecimentos entre profissionais pode ser uma estratégia valiosa para aprimorar as abordagens diagnósticas e terapêuticas.

Em conclusão, a Doença Inflamatória Intestinal em cães requer uma abordagem multidisciplinar e integrada, que leve em consideração não apenas o diagnóstico e tratamento, mas também o papel ativo dos tutores e o impacto do ambiente na saúde do animal. O desenvolvimento de protocolos de manejo que incorporem esses aspectos pode resultar em melhores desfechos clínicos e na promoção do bem-estar dos cães afetados.

CONCLUSÃO

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) em cães, conforme demonstrado no caso analisado, apresenta uma série de desafios que vão além da simples identificação dos sintomas. O estudo do paciente canino evidenciou que a complexidade dessa condição requer um entendimento aprofundado por parte dos profissionais de medicina veterinária. Muitas vezes, os sinais clínicos da DII são indistinguíveis de outras patologias gastrointestinais, como giardíase e infecções bacterianas, o que retarda o diagnóstico e o tratamento adequados.

A análise minuciosa dos dados clínicos e a realização de exames complementares, como ultrassonografia e biópsia, foram fundamentais para estabelecer um diagnóstico preciso. O caso ressaltou a importância de uma abordagem multidisciplinar, na qual a colaboração entre clínicos gerais e especialistas em gastroenterologia veterinária é essencial para otimizar o manejo da DII. Essa sinergia pode facilitar a identificação de diagnósticos diferenciais e garantir um tratamento mais assertivo.

Outro ponto crucial observado foi a necessidade de implementar protocolos clínicos que orientem os veterinários desde a primeira consulta. A falta de um guia estruturado pode levar à subutilização de exames necessários, prolongando o sofrimento do animal e comprometendo a eficácia do tratamento. A literatura reforça que o uso de ferramentas de diagnóstico apropriadas é indispensável para a diferenciação da DII em relação a outras condições clínicas que apresentam sintomas semelhantes.

Portanto, o caso apresentado destaca não apenas a complexidade do diagnóstico e tratamento da DII, mas também a importância de um enfoque holístico e integrado. A colaboração entre veterinários, tutores e especialistas é fundamental para aprimorar as práticas clínicas e, assim, elevar a qualidade de vida dos cães afetados. As lições aprendidas com este estudo devem servir como base para futuras pesquisas e inovações na área.

Finalmente, é essencial que a comunidade veterinária se empenhe em compartilhar conhecimentos e experiências relacionadas à DII. A troca de informações entre profissionais, bem como a divulgação de casos clínicos e estudos, contribuirá para um maior entendimento da doença, possibilitando avanços no diagnóstico e no tratamento. Essa evolução contínua é fundamental para garantir que os cães afetados pela DII recebam o cuidado e a atenção que necessitam.

REFERÊNCIAS

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