IMPLANTES DENTÁRIOS INSTALADOS EM PACIENTES PORTADORES DO VIRUS DA IMUNODEFICIENCIA HUMANA (HIV)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411161009


Ali Ahmad Fadel;
Ali Alhadi Mohamad Farhat.


RESUMO

O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) compromete o sistema imunológico e, ao progredir, causa a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), caracterizada pelo surgimento de infecções oportunistas. A transmissão ocorre principalmente por contato sexual ou via sanguínea e, no Brasil, entre 1980 e 2022, mais de 1 milhão de casos de AIDS foram registrados. Em relação à implantodontia, pacientes com HIV enfrentam complicações bucais, como gengivite e candidíase e, embora o impacto dos implantes osseointegráveis nesses pacientes ainda não seja totalmente claro, a avaliação prévia da saúde e condições ósseas é essencial. Essa pesquisa tem como objetivo descrever os cuidados no processo de osseointegração em pacientes HIV positivo, investigando as possíveis complicações e a importância da biossegurança, além de destacar a relevância do tratamento para melhorar a qualidade de vida desses pacientes. A metodologia usada foi a revisão bibliográfica, utilizando artigos publicados entre 2012 e 2022 no idioma português. A reabilitação oral com implantes dentários em pacientes HIV positivos tem ganhado importância devido ao aumento da expectativa de vida proporcionado pela terapia antirretroviral. Esses pacientes, com uma qualidade de vida melhorada, buscam opções viáveis para substituir dentes perdidos, sendo os implantes dentários uma alternativa atraente. Embora a literatura sobre o tema seja limitada, os resultados indicam que as taxas de sucesso dos implantes em pacientes com HIV são semelhantes às de pacientes saudáveis, desde que o tratamento considere o estado imunológico. No entanto, são necessários cuidados específicos, como o monitoramento de possíveis complicações decorrentes do uso contínuo de antirretrovirais, que podem causar problemas hepáticos e renais. Além disso, protocolos rigorosos de biossegurança são essenciais para garantir a segurança de pacientes e profissionais de saúde. Pesquisas adicionais são recomendadas para esclarecer questões pendentes e melhorar os cuidados pré e pós-operatórios, proporcionando resultados mais previsíveis e maior segurança no tratamento com implantes osseointegráveis.

Palavras-chave: Implantes Dentários. Vírus da Imunodeficiência Humana; Osseointegração; Doenças Sistêmicas; Vírus HIV; AIDS.

ABSTRACT

The Human Immunodeficiency Virus (HIV) compromises the immune system and, as it progresses, causes acquired immunodeficiency syndrome (AIDS), characterized by the emergence of opportunistic infections. Transmission occurs mainly through sexual contact or via blood and, in Brazil, between 1980 and 2022, more than 1 million cases of AIDS were recorded. Regarding implantology, patients with HIV face oral complications such as gingivitis and candidiasis, and although the impact of osseointegrated implants in these patients is not yet entirely clear, prior evaluation of bone health and conditions is essential. This research aims to describe the care in the osseointegration process in HIV-positive patients, investigating the possible complications and the importance of biosafety, in addition to highlighting the relevance of treatment to improve the quality of life of these patients. The methodology used was the bibliographic review, using articles published between 2012 and 2022 in Portuguese. Oral rehabilitation with dental implants in HIV-positive patients has gained importance due to the increase in life expectancy provided by antiretroviral therapy. These patients, with an improved quality of life, are looking for viable options to replace missing teeth, with dental implants being an attractive alternative. Although the literature on the topic is limited, the results indicate that the success rates of implants in patients with HIV are similar to those of healthy patients, as long as the treatment considers the immune status. However, specific care is needed, such as monitoring for possible complications resulting from the continuous use of antiretrovirals, which can cause liver and kidney problems. Additionally, strict biosafety protocols are essential to ensure the safety of patients and healthcare providers. Further research is recommended to clarify outstanding issues and improve pre- and postoperative care, providing more predictable outcomes and greater safety in treatment with osseointegrated implants.

Keywords: Dental Implants. Human Immunodeficiency Virus; Osseointegration; Systemic Diseases; Hiv; AIDS.

INTRODUÇÃO

O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) provoca uma supressão no sistema imune e causa a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), com a aparecimento de infecções oportunistas. A transmissão ocorre pelas mucosas do trato genital ou retal em relações sexuais, mas também através do sangue, agulhas e seringas contaminadas e ainda na gravidez, da mãe para filho. Mesmo contaminada, a pessoa pode não apresentar sintomas por meses ou anos. A infecção primária do HIV é considerada para qualquer pessoa que foi possivelmente exposta ao vírus e que apresenta febre sem causa conhecida, enquanto a infecção aguda apresenta sintomas brandos e não específicos, como febre e mialgias, fadiga, faringite, perda de peso e dor de cabeça (SOUZA, 2021).

O Ministério da Saúde diz que desde o primeiro caso de HIV informado em território nacional no ano de 1980 até junho de 2022, já foram detectados 1.088.536 casos de AIDS e, apenas em 2021, mais de 11 mil óbitos foram registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o tratamento antirretroviral e mesmo assim, entre 2011 e 2021, mais de 52 mil jovens de 15 a 24 anos com HIV evoluíram para AIDS. Em 2021, 40,8 mil casos de HIV e 35,2 mil casos de AIDS foram notificados no Brasil pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) (BRASIL, 2023).

A implantodontia é uma área que busca devolver a função mastigatória e a estética com a reposição de um ou mais dentes ausentes na cavidade bucal, onde essa reposição ocorre ao implantar um dispositivo metálico em titânio onde falta a dentição. A partir desse momento, é realizado todo um mecanismo para se confeccionar uma prótese dentária sobre esse implante. Essas reabilitações protéticas podem ser suportadas ou retidas por implantes dentários, sendo objetivo da implantodontia a implantação, na mandíbula e na maxila, de material apropriado destinado a suportar próteses unitárias fixas ou próteses parciais removíveis e próteses totais (OLIVEIRA, 2015).

Quando se fala em pacientes com HIV, podem surgir complicações na cavidade bucal como gengivites ulcerativa necrosante, doenças periodontais, candidíase, aumento das infecções herpéticas etc. Mas para aqueles pacientes HIV positivo que sofrem com o declínio de elementos dentários, a literatura ainda não é clara sobre o impacto das reabilitações com implantes osseointegráveis. Não se pode esquecer que para a instalação de um ou mais implantes na cavidade bucal do paciente, é preciso fazer uma avaliação prévia da saúde geral e das condições ósseas. Apesar disso, não se tem um protocolo de indicação clínica para esse tipo de paciente, que pode apresentar complicações ou até mesmo o fracasso dos implantes (NASCIMENTO, 2018).

Essa pesquisa tem como objetivo geral descrever quais são os cuidados pré e pós-operatórios para pacientes HIV positivo que realizam a técnica de osseointegração. Também são objetivos específicos do estudo pesquisar sobre as possíveis complicações de implantes dentários instalados em pacientes HIV positivo e falar sobre a importância da biossegurança no procedimento de implantes dentários para diminuir o risco de infecções.

Quanto a justificativa para realização dessa pesquisa, dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), criado em 1996 para ajudar a encontrar soluções e combater a AIDS no mundo, apontam que no ano de 2021 cerca de 38,4 milhões de pessoas no mundo viviam com HIV e 1,5 milhão de pessoas se tornaram recém-infectadas por HIV. Essa instituição informa que mulheres e meninas foram 49% de todas as pessoas recém-infectadas em 2021 e que as populações-chave são 70% das infecções por HIV mundialmente. Populações-chave são os profissionais do sexo e seus clientes, gays e homens que fazem sexo com outros homens, pessoas que usam drogas injetáveis e pessoas trans, além de suas parcerias sexuais (UNAIDS, 2022).

A AIDS é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo, mesmo que essa epidemia esteja estabilizada desde 1996. O avanço nos estudos da imuno patogênese da infecção pelo HIV e a criação dos Antirretrovirais (ARV) mudou a história da epidemia de HIV/AIDS, ajudando a reduzir a incidência de infecções oportunistas e a incidência da AIDS, diminuir o número de internações e mortes e aumentar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida. Os ARV causam uma supressão viral, diminuindo a quantidade do vírus no sangue, mas apesar dos benefícios, o uso contínuo causa efeitos adversos, alguns deles graves, onde a maior sobrevida torna mais frequente o aparecimento de manifestações decorrentes de coinfecções como as hepatites B e C (TANCREDI, 2010).

As pessoas infectadas com HIV podem ser afetadas por uma ampla variedade de problemas de saúde bucal e se esses problemas forem negligenciados, podem levar à perda parcial ou total da dentição natural. Com isso, cada vez mais pacientes edêntulos infectados pelo HIV estão buscando informações sobre saúde bucal e estão solicitando uma variedade de procedimentos, incluindo implantes dentários. Muitos estudos vem buscando investigar o resultado de implantes dentários osseointegrados em pacientes com HIV, mas ainda há uma controvérsia considerável sobre se esse procedimento cirúrgico oral deve ser realizado em pacientes infectados pelo HIV (STEVENSON et al., 2007).

Com essas informações expostas, acredita-se que é importante pesquisar sobre o tratamento reabilitador com implantes dentários em pacientes HIV positivo, pois essas pessoas vem alcançando maiores taxas de sobrevida e, muitas vezes, com a perda de elementos dentários, não conseguem se adaptar às próteses convencionais de reabilitação oral. A realização dessa pesquisa pode também colaborar para que pacientes com HIV alcancem uma melhora da qualidade de vida e com resultados duradouros, obtendo o sucesso clínico de implantes osseointegráveis.

RELAÇÃO ENTRE A ODONTOLOGIA, A ÉTICA E OS PACIENTES SOROPOSITIVOS

O tema abordado nessa pesquisa engloba, além dos implantes dentários instalados em pacientes com HIV, a questão da diversidade e inclusão e, para que seja possível falar disso, é preciso considerar o documento que norteia a profissão, o Código de Ética Odontológica (Resolução CFO-118/2012). Esse documento menciona alguns termos importantes, como a dignidade do paciente e o sigilo profissional, deixando claro que é preciso prestar um atendimento humanizado ao paciente. Assim, na relação construída entre o profissional e o paciente soropositivo, devemos priorizar a questão da ética, dos valores, dos direitos e do atendimento integral e humanizado de pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana.

A maneira como os pacientes HIV+ são atendidos e tratados pelos profissionais de saúde tem sido amplamente discutida desde a primeira confirmação da doença no Brasil. Desde o surgimento do HIV, os principais documentos usados para trazer informações sobre os direitos das pessoas com HIV são os códigos de ética odontológica, que destacam pontos cruciais no atendimento, mesmo sem diretrizes explícitas sobre o HIV/AIDS e o atendimento aos portadores. Não existe a obrigatoriedade de que o cirurgião-dentista informe o paciente sobre a suspeita de infecção pelo HIV, mas é preciso orientar o paciente a buscar avaliação com um infectologista caso haja alterações bucais ou sistêmicas que indiquem essa necessidade (TOLEDO, 2022).

A prática odontológica cotidiana envolve dilemas éticos relacionados a questões contemporâneas, como o atendimento de pacientes soropositivos para o HIV. Apesar dos avanços no conhecimento sobre o vírus ao longo dos anos, o preconceito e a discriminação ainda representam barreiras no atendimento odontológico dessas pessoas. No entanto, muitos cirurgiões-dentistas lidam rotineiramente com esses pacientes, dado o elevado número de indivíduos com HIV em todo o mundo. O principal objetivo do tratamento odontológico para esses pacientes é promover uma melhor qualidade de vida, sendo necessário revisar o histórico médico, compreender as expectativas e considerar seu estado emocional, adaptando o tratamento às necessidades médicas individuais de cada caso (SILVA FURLAN; LIMA; AMORIM, 2020).

CUIDADOS PRÉ E PÓS-OPERATÓRIOS PARA REABILITAÇÃO ORAL DE PACIENTES HIV POSITIVO

Observa-se que indivíduos portadores do HIV podem provocar um desequilíbrio na interação microbiológica e na resposta imunológica do organismo, o que pode agravar a deterioração dos tecidos na presença de doença periodontal. À medida que a doença periodontal avança, a ocorrência de lesões bucais, perda dentária e alteração do paladar impacta diretamente a qualidade de vida dos pacientes, afetando aspectos como o sorriso, a fala e a deglutição, o que pode contribuir para um quadro de desnutrição, fraqueza e, consequentemente, aumentar o risco de infecções em decorrência da imunossupressão. As manifestações periodontais observadas em pacientes HIV+ são frequentemente subdiagnosticadas e tratadas de forma inadequada, muitas vezes devido à falta de conhecimento dos profissionais de odontologia sobre a gravidade da condição e a resistência às abordagens convencionais de tratamento (CLEMENTE et al., 2024).

Segundo Oliveira et al. (2023), é amplamente reconhecido que a infecção pelo HIV resulta em imunodeficiência, uma vez que o vírus tem uma afinidade particular por infectar células do sistema imunológico, notadamente os linfócitos T CD4+ (LTCD4+). Na ausência de tratamento adequado, a infecção pode evoluir para sua forma mais grave, a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), o que acarreta um aumento significativo na morbidade e mortalidade dessa população vulnerável. Assim, os riscos associados a infecções secundárias, decorrentes de coinfecções entre HIV e bactérias periodontais ou peri implantares, bem como a dificuldade na cicatrização, a nutrição tecidual comprometida e a intensa atividade de mediadores pró-inflamatórios, podem impactar negativamente o processo de osseointegração e, consequentemente, a durabilidade dos implantes dentários em indivíduos afetados.

A reabilitação oral com implantes dentários em pessoas vivendo com HIV (PVH) é um tema de relevância que tem sido investigado ao longo dos anos. Inicialmente, a principal preocupação dos estudos era verificar se a osseointegração, as taxas de sucesso e a longevidade dos implantes seriam comparáveis àquelas observadas em pacientes não infectados pelo HIV. Isso se deve às alterações imunológicas e metabólicas, especialmente nos níveis ósseos basais, que poderiam afetar o processo de osseointegração. Fatores como a qualidade e quantidade de osso, o contato direto entre osso e implante, cicatrização e remodelação óssea, além de riscos como infecção pelo HIV, tabagismo, consumo de álcool e deficiências vitamínicas, podem influenciar esse processo.

Em relação aos principais cuidados pré-operatórios, Shiya e Figueiredo (2020) referem a necessidade de realização de uma avaliação clínica detalhada, revisão do histórico médico e do estado imunológico do paciente, incluindo a carga viral e a contagem de linfócitos CD4. Pacientes com carga viral indetectável e contagem de CD4 adequada tendem a apresentar melhores resultados em implantes. Também é necessário que o paciente faça adesão à Terapia antirretroviral (HAART), crucial para o controle da infecção e prevenção de complicações durante a cicatrização, onde o profissional deve monitorar os medicamentos para evitar interações medicamentosas adversas com fármacos odontológicos. Ainda, sugere-se a Profilaxia antibiótica, que deve ser recomendadas a depender do estado imunológico do paciente para evitar infecções oportunistas.

Francescon et al. (2018) falam sobre os cuidados pós-operatórios: monitoramento e acompanhamento rigoroso da cicatrização, já que pacientes HIV+ podem apresentar maior risco de complicações inflamatórias e infecciosas; manutenção da higiene oral e educação do paciente para evitar infecções peri-implantares, recomendando-se o uso de antissépticos bucais pode ser recomendado; cuidados com medicamentos usados na reabilitação oral que podem interagir com a terapia antirretroviral, exigindo ajustes nas dosagens e na escolha de analgésicos e antibióticos​; acompanhamento a longo prazo e monitorização periódica para garantir a longevidade do implante.

POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES DE IMPLANTES DENTÁRIOS INSTALADOS EM PACIENTES HIV POSITIVO

Atualmente, conforme Silva (2019), indivíduos portadores do HIV apresentam uma condição que pode ser progressivamente controlada, permitindo que próteses suportadas por implantes sejam consideradas uma alternativa viável às próteses removíveis, desde que os pacientes estejam em boas condições de saúde geral e não apresentem manifestações orais da doença. Inicialmente, a ênfase no tratamento desses pacientes estava voltada para o alívio da dor aguda e, com a expectativa de uma melhoria na qualidade de vida, o foco passou a ser a gestão de cuidados restauradores e protéticos. Por essas razões, os implantes dentários são considerados uma opção de tratamento, embora a sua viabilidade ainda não tenha sido corroborada por evidências clínicas que demonstrem a longevidade dos resultados.

De acordo com a literatura, as taxas de sucesso e longevidade dos implantes dentários em PVH são favoráveis e comparáveis às de pacientes não infectados. Entre os fatores que contribuem para esses resultados positivos estão o uso da terapia antirretroviral altamente ativa (HAART), a manutenção da imunocompetência, os cuidados adequados no pré e pós-operatório e as condições clínicas adequadas para a colocação de implantes unitários. Embora poucos estudos explorem a diversidade de situações clínicas, há uma baixa prevalência de complicações odontológicas em PVH, com taxas variando entre 2,2% e 4,8% (MINATEL et al., 2018).

Um estudo de caso-controle foi realizado com pacientes HIV+ que estavam em tratamento com terapia antirretroviral ativa. As avaliações foram realizadas aos 6 e 12 meses na região peri implantar, concluindo-se que a inserção de implantes dentários nesses pacientes pode ser realizada independentemente da contagem de células CD4, do nível de carga viral e do tipo de terapia antirretroviral utilizada. No entanto, a colocação de implantes dentários em indivíduos com comprometimento do sistema imunológico deve ser considerada uma contraindicação relativa, requerendo uma avaliação cuidadosa em colaboração com o médico assistente, incluindo a realização de exames complementares quando necessário, além de implementar um controle rigoroso da infecção nesses pacientes (LEVANDOSKI, 2019).

IMPORTÂNCIA DA BIOSSEGURANÇA NO PROCEDIMENTO DE IMPLANTES DENTÁRIOS PARA DIMINUIR O RISCO DE INFECÇÕES

Os dentistas e suas equipes de saúde bucal estão constantemente expostos a diversos riscos ocupacionais em suas atividades diárias, riscos associados principalmente ao contato com saliva, sangue e outros fluidos orgânicos, o que pode levar ao surgimento de doenças, desde gripes mais leves até condições graves como hepatite e HIV. É fundamental que os cirurgiões-dentistas revisem constantemente seus conhecimentos sobre os protocolos de biossegurança, de forma a evitar acidentes com instrumentos perfurocortantes contaminados por sangue ou outros fluidos orgânicos. Esses riscos podem variar conforme a profundidade do ferimento, o contato prolongado com o material biológico e a exposição de áreas mucosas ou da pele (LIMBERGER, 2018).

Do Nascimento et al. (2020) evidenciam que os profissionais de odontologia e suas equipes estão constantemente expostos a riscos provenientes de aerossóis e gotículas gerados pelo uso da caneta de alta rotação, bem como pela saliva dos pacientes, o que pode contaminar o ambiente e seu vestuário. Para garantir a segurança tanto dos pacientes quanto da equipe, é essencial que esses profissionais sigam rigorosamente os princípios de ética e biossegurança, o que inclui o adiamento do tratamento odontológico de pacientes em fase ativa de doenças infecciosas, a fim de evitar a disseminação do vírus para outras partes do corpo ou a contaminação do profissional.

Além disso, o cumprimento das medidas de biossegurança depende do manejo adequado de materiais perfurocortantes e da segregação correta desses resíduos, conforme o nível de risco de contaminação. A adoção consistente de barreiras de proteção durante os atendimentos, tanto durante a formação acadêmica quanto na prática clínica diária, contribui para a redução do risco de infecção por patógenos como o HIV. Portanto, é fundamental que os profissionais de saúde mantenham uma atenção especial, não só no manuseio de instrumentos cortantes, mas também no uso adequado de barreiras físicas, independentemente do conhecimento sobre a condição sorológica do paciente (DO NASCIMENTO et al., 2020).

Independentemente da condição de saúde de cada indivíduo, é fundamental que todos os pacientes recebam atendimento de acordo com as diretrizes do Código de Ética Odontológica, a Constituição Federal de 1988 e as normas de biossegurança. O principal objetivo desse serviço é promover uma melhor qualidade de vida aos pacientes. Por essa razão, o histórico de saúde do paciente deve ser considerado na definição dos objetivos e formas de tratamento. No caso de pacientes com diagnóstico de HIV/AIDS, é necessário seguir procedimentos específicos, como comprovar que o paciente já foi atendido por um médico especializado (MORENO et al., 2021).

Antes de iniciar o tratamento, algumas normas definidas pela Coordenação Nacional de DST e Aids devem ser seguidas. 1 Perguntar como está se sentindo; 2 Revisar a história médica; 3 Postergar procedimentos invasivos quando houver uma queixa médica não esclarecida; e 4 Fazer todas as anotações necessárias e planejar o procedimento antecipadamente evitando qualquer manipulação do prontuário até o final do tratamento (BRASIL, 2000).

No contexto de cirurgias orais e implantes, é crucial que os dentistas sigam rigorosamente as medidas de higiene em seus consultórios, prevenindo a disseminação de contaminações. Essas práticas são essenciais para garantir a segurança dos pacientes e seguem protocolos de controle de infecção, como higienização das mãos, desinfecção e isolamento. O Ministério da Saúde determina que instrumentos que penetram na pele e mucosas sejam esterilizados, enquanto os que tocam apenas a pele exigem apenas limpeza ou desinfecção. Instrumentos como as brocas são considerados críticos devido à retenção de resíduos e ao risco de contaminação com fluídos dos pacientes, o que pode aumentar o risco de infecção cruzada e diminuir sua eficiência (FLORENZANO; LIMA; SILVA, 2023).

Para Dias (2023), na área da Implantodontia, uma das etapas mais cruciais é o planejamento pré-operatório, fase em que é fundamental a utilização de todos os recursos tecnológicos disponíveis, a fim de evitar falhas no plano de tratamento. Entre esses recursos, destacam-se a anamnese, o exame físico, a análise de modelos, bem como os exames laboratoriais e radiográficos, além das questões relacionadas à biossegurança. Falhas e intercorrências durante os tratamentos de reabilitação oral podem acarretar contratempos que resultam em um aumento do tempo terapêutico, custos adicionais, desconforto para o paciente e constrangimento para o profissional.

Os insucessos no tratamento de osseointegração podem ocorrer em diferentes fases (antes, durante ou após a cirurgia), sendo os fatores transoperatórios aqueles que demandam maior atenção do cirurgião-dentista para garantir o êxito do procedimento. É imprescindível a adesão aos protocolos básicos de cirurgia oral, com o intuito de prevenir contaminações durante o ato cirúrgico. A biossegurança representa uma área crucial na odontologia e pode impactar de maneira significativa o sucesso dos tratamentos com implantes dentários (BRITO et al., 2023).

Diversos estudos têm enfatizado a relevância da biossegurança na odontologia, especialmente em procedimentos que envolvem implantes dentários. A contaminação do implante pode ocorrer devido a erros do operador ou falhas do fabricante, o cirurgião-dentista pode comprometer a superfície do implante durante a cirurgia, seja pelo contato com bactérias presentes na cavidade oral, seja pelo manuseio de instrumentos que não sejam de titânio, ou ainda pela presença de partículas de pó nas luvas do profissional. Assim, a ausência de medidas adequadas de biossegurança pode resultar em complicações, como infecções, inflamações e falhas nos implantes (BRITO et al., 2023).

MATERIAL E MÉTODO

Para a realização desse estudo, foram pesquisadas as seguintes palavras-chave para buscar materiais: Implantes dentários; Implantodontia; Vírus da imunodeficiência humana; Osseointegração; Doenças sistêmicas; Vírus HIV; AIDS. Quanto ao algoritmo de pesquisa, foi utilizado o termo AND para juntar dois conceitos, no caso os estudos que falam de implantes dentários e de HIV/AIDS, pois não servem as pesquisas que falam de implantes ou implantodontia, mas não citam a doença.

Quanto aos critérios de inclusão para selecionar os materiais de pesquisa, desejou-se incluir apenas publicações entre 2012 e 2022; artigos escritos no idioma português e que contenham as palavras-chave acima descritas. Os critérios de exclusão para selecionar os materiais de pesquisa foram: materiais duplicados, teses, dissertações e livros e artigos que não tenham relação com os objetivos da pesquisa ou que utilizam palavras-chave não relacionadas com o tema.

A busca para seleção será realizada a partir de consultas nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PUBMED), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e outras revistas específicas.

Figura 1Diagrama Prisma e seleção de artigos da pesquisa

Fonte: Organizado pelo autor (2024)

A partir da busca nas bases de dados, considerando os anos de 2012 e 2022, foram encontrados inicialmente 98 artigos. Foram excluídos os textos duplicados, os textos que não tinham relação com o tema de pesquisa, os artigos que estavam em outro idioma e aqueles que não tinham os descritores de interesse, restando 05 artigos a serem explorados nessa pesquisa. No capítulo abaixo, são apresentados os resultados da busca e a discussão dos estudos encontrados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao longo da pesquisa, foram encontrados estudos que usavam os descritores Implantes dentários; Implantodontia; Osseointegração, mas não abordavam (ou abordavam muito superficialmente) HIV, Vírus da imunodeficiência humana; Vírus HIV; AIDS). Além disso, foram encontrados resumos expandidos, trabalhos de conclusão de curso, dissertação de mestrado, especialização e estudos de caso que, embora abordem o tema de pesquisa, focavam em um conjunto de doenças sistêmicas e não exploraram a reabilitação oral de pacientes HIV positivo que realizaram implantes e/ou não mencionaram os tipos de complicações que podem ocorrer e as taxas de sucesso.

Por essa razão, esses trabalhos não foram considerados elegíveis para a pesquisa e foram eliminados. Assim, conforme mencionado no capítulo da metodologia, a amostra final de artigos foi composta por 06 textos, que serão apresentados no Quadro 1, conforme segue:

Quadro 1 Informações sobre a amostra final da pesquisa, composta por 06 artigos utilizados na discussão, contendo título, autor(es) e ano de publicação, metodologia da pesquisa e objetivo(s) do estudo:

Título da pesquisa  Autor(es) e ano MetodologiaObjetivos
O tratamento com implantes dentários para pacientes com HIV é uma realidade?SANTIAGO JÚNIOR, Joel Ferreira et al., 2012.Revisão de literaturaDiscutir, com base na literatura, o tratamento reabilitador com Implantes Osseointegrados em pacientes HIV positivo.
Síndrome da imunodeficiência humana como fator de risco para osseointegração.PATERNO JÚNIOR, Dario. 2012.Revisão de literaturaAvaliar a utilização de implantes, mediante revisão de literatura, em pacientes portadores de HIV.
O efeito da sobrevivência de implantes dentários em pacientes HIV Positivo. Revisão sistemática com meta-análise.NASCIMENTO, C. A. et al., 2017.Revisão sistemática  com  meta-análiseEstudar  a  taxa  de  sobrevivência  de  implantes  dentários  instalados neste  grupo  de  pacientes.
Implantes osseointegráveis em pacientes HIV positivos: uma revisão de literatura sobre histórico, cuidados e riscos.SHIYA, Mateus Toneli; DE FIGUEIREDO, Marina Montosa Belluci Marques.Revisão de literaturaObservar quais os problemas e sucessos encontrados referente à reabilitação com implantes osseointegráveis de um paciente que vive com HIV.
Implantes dentários versus doenças sistêmicas.NOBRE, Francisca Amanda Ximenes et al., 2022.Revisão de literatura narrativaAvaliar a interferência de fatores sistêmicos na indicação de implantes dentários
Reabilitação oral com protocolo All on Four em paciente infectado com HIV: Relato de caso e acompanhamento de 2 anos.OLIVEIRA, Douglas Voss et al., 2023.Relato de caso.Realizar um estudo de caso sobre reabilitação oral com protocolo All on Four em paciente infectado com HIV
Fonte: dados da pesquisa (2024)


Santiago Junior et al. (2012) tratam da gestão de cuidados restauradores e protéticos para os pacientes com HIV, especialmente em virtude do aumento da expectativa de vida dessas pessoas. Os autores  deixam claro que existem poucos relatos em implantodontia sobre a forma de tratamento reabilitador por meio de implantes neste grupo de pacientes. Ainda que existam poucos relatos, as complicações pós-operatórias são comparáveis às de extrações dentárias, embora o risco de peri-implantite possa ser maior, de forma que estudos mais amplos são necessários para esclarecer esse tema.

Santiago Junior et al. (2012) citam que alguns estudos sugerem que pacientes com AIDS apresentam maior risco de mortalidade após cirurgias de grande porte, mas isso não é um consenso entre os pesquisadores. Enquanto alguns autores relatam um leve aumento nas complicações pós-operatórias, outros indicam que os implantes ortopédicos e dentários são opções viáveis para pessoas HIV+. Pacientes com imunossupressão severa (CD4+ abaixo de 200/mL) e neutropenia grave apresentam maior risco de complicações pós-operatórias, além de possíveis danos hepáticos e renais. Nessas condições, procedimentos invasivos podem ser temporariamente contraindicados.

Paterno Junior (2012) afirma que a implantodontia é atualmente uma das alternativas mais eficientes para substituir dentes perdidos, sem causar danos aos dentes adjacentes ou aos tecidos moles. Com os avanços contínuos e o sucesso comprovado da osseointegração, os implantes tornaram-se uma excelente opção de reabilitação para pacientes que possuem os pré-requisitos locais e sistêmicos adequados. Apesar disso, existem poucos trabalhos publicados relacionados ao uso de implantes osseointegrados em pacientes com HIV-positivo.

Segundo Paterno Junior (2012), a infecção pelo HIV não é considerada uma contraindicação definitiva para tratamentos com implantes, mas é importante avaliar fatores locais e sistêmicos para determinar o momento mais adequado para a colocação dos implantes. Pacientes com contagem de células CD4 inferior a 200 células/mm³ e carga viral detectável podem apresentar manifestações orais que contraindicam temporariamente procedimentos invasivos, como a colocação de implantes. Além disso, esses pacientes podem ter alterações hematológicas, hepáticas e renais, o que aumenta o risco de hemorragias durante e após a cirurgia, dificultando a cicatrização dos tecidos.

Shiya e Figueiredo (2020), em seu estudo, abordaram os conceitos de implante e osseointegração, além de falar sobre o paciente soropositivo e as chances de desenvolvimento de complicações clínicas, além de informar que o estado de saúde  desses indivíduos pode  mudar  rapidamente. A reabilitação de pacientes com HIV utilizando implantes osseointegráveis apresenta como uma das principais preocupações a prevenção de infecções locais e sistêmicas, além de possíveis interferências que comprometam a osseointegração.

O protocolo clínico e as diretrizes terapêuticas para o manejo da infecção por HIV em adultos, recomendados pelo Ministério da Saúde, indicam que a contagem de CD4 não deve ser usada como único critério de monitoramento clínico em pacientes que estejam em tratamento antirretroviral, assintomáticos, com carga viral indetectável e com dois exames consecutivos, realizados com intervalo de seis meses, que mostrem CD4 superior a 350 células/mm³. Ainda, a literatura aponta que há poucas contraindicações ao tratamento odontológico de rotina para a maioria dos pacientes com HIV, considerando sua resposta imunológica, e não há evidências robustas que justifiquem o uso profilático de antibióticos (SHUYA; FIGUEIREDO, 2020).

Shiya e Figueiredo (2020) completam dizendo que há poucos estudos sobre o tratamento reabilitador com implantes osseointegráveis em pacientes HIV+, mas os poucos estudos desenvolvidos afirmam que complicações pós-operatórios realizadas após raspagens, extrações dentárias são baixas, o que inclui pacientes com AIDS.

Nobre et al. (2022) buscaram pesquisar a relação entre os implantes dentários e a presença de doenças sistêmicas, dentre as quais o HIV. Em sua revisão de literatura narrativa, é mencionado um estudo realizado em 2021 em que a prevalência de peri-implantite (alteração patológica dos tecidos ao redor dos implantes osseointegrados) em pacientes HIV positivos foi de 26%. Além disso, não foi identificada uma correlação entre os fatores imunológicos e sorológicos dos pacientes e o desenvolvimento de peri-implantite, sendo que o principal fator de risco para a sua ocorrência foi a idade do implante. Uma pesquisa realizada no ano de 2019 em que foi analisado o impacto de desordens sistêmicas, incluindo HIV, na osseointegração de implantes, não indicou elevação da taxa de falha do implante dentário.

Uma pesquisa anterior, realizada em 2017, onde foram realizados 578 implantes em pacientes com HIV e AIDS não indicou correlações significativas entre a imunodeficiência associada ao HIV e a falha dos implantes. Um outro estudo realizado em 2021 revelou que a taxa de sobrevivência dos implantes foi semelhante tanto em pacientes saudáveis quanto nos portadores do HIV, atribuindo esse resultado ao uso da terapia antirretroviral. Logo, um rigoroso protocolo de controle de infecção é fundamental ao tratar pacientes HIV positivo, garantindo a segurança do tratamento, já que o estado imunológico e os parâmetros de coagulação sanguínea são fatores importantes na escolha dos pacientes (NOBRE et al., 2022).

Nascimento et al. (2023), informam que o risco de infecções secundárias, resultantes de coinfecções entre HIV e bactérias periodontais ou peri-implantares, bem como dificuldades na cicatrização, nutrição tecidual e a alta atividade de mediadores pró-inflamatórios, podem impactar negativamente a osseointegração e, consequentemente, reduzir a durabilidade dos implantes dentários nos pacientes soropositivos. No ano de 1996, com o início da terapia antirretroviral altamente ativa, mais pacientes começaram a procurar tratamentos odontológicos, incluindo a reabilitação oral com implantes dentários.

Com o sucesso da terapia antirretroviral de alta eficácia, a partir de 1998 começaram a ser desenvolvidas pesquisas para investigar a reabilitação de pessoas vivendo com HIV (PVH) por meio de implantes dentários, com foco na cicatrização, osseointegração, longevidade dos implantes, Regeneração Óssea Guiada (ROG) e doenças peri-implantares. A maioria dessas pesquisas demonstra sucesso na terapia com implantes dentários em PVH em diferentes situações clínicas, incluindo a técnica de reabilitação “All on Four” (AoF). Esses estudos também destacam que o uso da HAART e o controle adequado de comorbidades influenciam diretamente o êxito da reabilitação e a qualidade de vida dos pacientes (NASCIMENTO et al., 2023).

O estudo de Nascimento et al. (2023), por se tratar de um estudo de caso, trouxe uma informação relevante que não abordado nos outros artigos sobre o nível de vitaminas nos pacientes, uma vez que a osseointegração depende diretamente do metabolismo ósseo. Baixos níveis séricos de vitaminas C, D e K podem impactar negativamente a vascularização, a nutrição tecidual e, consequentemente, a formação óssea ao redor dos implantes dentários. Portanto, é importante considerar os níveis dessas vitaminas, especialmente em populações vulneráveis, como as pessoas vivendo com HIV, como fatores de risco relevantes para a reabilitação com implantes dentários. As vitaminas K e D desempenham um papel fundamental na regulação da homeostase do cálcio, fósforo e magnésio, além de manterem a saúde óssea e dentária, sendo essencial avaliar adequadamente os níveis séricos dessas vitaminas, pois isso pode influenciar positivamente o sucesso e a durabilidade dos implantes dentários de pacientes HIV+.

Ao longo da leitura dos artigos selecionados, verificou-se que autores como Santiago Junior et al. (2012) e Paterno Junior (2012) enfatizam que o sucesso do implante está, em grande medida, condicionado à condição clínica do paciente no momento da cirurgia, sendo a contagem de células CD4 e a carga viral indicadores críticos para a tomada de decisão sobre a realização ou o adiamento de procedimentos invasivos.

Em resumo, os pesquisadores explicaram que pacientes com contagens de CD4 inferiores a 200 células/mm³ ou que apresentam sinais de neutropenia grave são classificados como de alto risco para o desenvolvimento de complicações, em especial infecções, dificuldades na cicatrização, bem como problemas hepáticos e renais. Nesses casos, a realização de procedimentos como a instalação de implantes dentários pode ser temporariamente contraindicada, devendo ser retomada apenas após a estabilização dos parâmetros clínicos.

Por outro lado, para pacientes em tratamento antirretroviral com carga viral controlada e contagens de CD4 superiores a 350 células/mm³, conforme orientações das diretrizes do Ministério da Saúde, a colocação de implantes dentários pode ser realizada de forma segura, desde que sejam seguidos protocolos rigorosos de biossegurança. Assim, os estudos revisados evidenciam que os implantes dentários constituem uma alternativa viável e eficaz para a reabilitação oral de indivíduos vivendo com HIV, especialmente quando estes estão sob tratamento antirretroviral e apresentam condições clínicas estáveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objetivo geral descrever quais são os cuidados pré e pós-operatórios para pacientes HIV positivo que realizam a técnica de osseointegração, além de pesquisar sobre as possíveis complicações de implantes dentários instalados em pacientes HIV positivo e falar sobre a importância da biossegurança no procedimento de implantes dentários para diminuir o risco de infecções.

Ao longo da pesquisa, ficou claro que a reabilitação oral por meio de implantes dentários em pacientes HIV positivos é um tema de crescente relevância, em virtude do aumento da expectativa de vida dessa população, amplamente atribuído ao avanço da terapia antirretroviral. Os progressos nos tratamentos para o HIV têm proporcionado uma melhoria na qualidade de vida, levando muitos pacientes infectados a buscarem alternativas para a substituição de dentes perdidos, sendo os implantes dentários uma das opções mais viáveis. No entanto, esse contexto apresenta desafios importantes relacionados ao manejo clínico, complicações pós-operatórias e à necessidade de cuidados específicos.

A literatura revisada indica que, apesar de existirem poucos estudos focados em implantes osseointegráveis em pacientes HIV+, os resultados disponíveis até o momento são encorajadores. De maneira geral, as taxas de sucesso dos implantes dentários em indivíduos com HIV têm se mostrado comparáveis às de pacientes saudáveis, especialmente quando o tratamento é realizado de forma adequada e considera o estado imunológico dos pacientes.

Além das questões biológicas, é imprescindível levar em conta os protocolos de biossegurança durante o tratamento de pacientes com HIV. A implementação de medidas rigorosas de controle de infecções, tanto para a proteção do paciente quanto da equipe odontológica, é fundamental para assegurar o sucesso do procedimento. A terapia antirretroviral tem contribuído de maneira significativa para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes; no entanto, seu uso contínuo pode acarretar efeitos adversos, como complicações hepáticas e renais, que devem ser monitorados de forma rigorosa durante o planejamento e a execução dos implantes.

Em conclusão, apesar de a literatura sobre a aplicação de implantes dentários em pacientes HIV positivos ainda ser escassa, as evidências disponíveis indicam um panorama positivo, desde que haja um controle adequado das condições sistêmicas e que o paciente cumpra os critérios clínicos necessários. Diante disso, sugere-se que investigações adicionais através de novos estudos sejam realizados para elucidar questões ainda controversas e melhorar os cuidados pré e pós-operatórios, assegurando maior previsibilidade nos resultados e segurança para pacientes HIV+ que buscam tratamentos com implantes osseointegráveis.

Até mesmo a adoção de protocolos personalizados, que levem em consideração o estado imunológico, as comorbidades e a nutrição dos pacientes, pode ser útil para garantir o sucesso clínico e proporcionar uma melhoria significativa na qualidade de vida de pacientes que vivem com HIV.

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