EFFECTS OF CANNABIDIOL (CBD) IN SEIZURE CONTROL IN PEOPLE WITH AUTISTIC SPECTRUM DISORDER (AS): AN INTEGRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411162356
Ana Caroline de Andrade Barcelos1,
Guilherme Gomes Barcelos2,
Vitor Coelho Fonseca Alencar Neto3,
Laís Kímberlee Gama Glória4,
Hyko Gonzaga Lopes5,
Lucas Gomes Barcelos 6
RESUMO
A estimativa é que 1 a cada 36 crianças com 8 anos de idade tenham o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Considera-se este índice como extremamente importante, tendo em vista que o TEA se caracteriza pelo déficit em vários aspectos do desenvolvimento, observados principalmente durante a infância, que frequentemente resultam em sérios padrões de sofrimento psíquico e físico. Com este dado sobre a prevalência do transtorno, justifica-se o inevitável questionamento acerca da problemática relacionada a como intervir mediante o TEA. Tendo isso em vista, este estudo tem como objetivo analisar os efeitos do CBD no controle de crises em pessoas com TEA, por meio de uma revisão integrativa da literatura, visando identificar sua eficácia, segurança e potenciais implicações clínicas. Trata-se de uma revisão de literatura de natureza qualitativa, abordagem indutiva com método integrativo. Mediante a pesquisa em base de dados SciELO, PubMed, LILACS, Medline por meio do Scholar Google, houve a seleção de 25 artigos. Após aplicação dos critérios de inclusão – estudos publicados entre os anos de 2019 e 2024; que tenham como tema os efeitos do CBD aplicados ao TEA; que tragam informação sobre os efeitos específicos em crises do TEA; que estejam em língua portuguesa ou inglesa – e exclusão -artigos que não informem sobre o efeito do CBD sob crises do TEA; que apresentem resultados insatisfatórios/incompletos – foram selecionados 20 artigos para análise final. Após esta, estão selecionados 10 estudos como admitidos para esta pesquisa. O CBD mostrou eficácia significativa na redução de sintomas principais do TEA, como impulsividade, dificuldades de comunicação, ansiedade e distúrbios do sono, além de melhorar a hiperexcitabilidade neuronal e comportamentos agressivos, que são frequentemente desencadeadores de crises.
Palavras-chave: CBD. TEA. Crises. Autismo.
1 INTRODUÇÃO
A estimativa é que 1 a cada 36 crianças com 8 anos de idade tenham o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esta informação veio a público no ano de 2020, em plena pandemia pela COVID-19, quando o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – Centros de Controle e Prevenção de Doenças – dos Estados Unidos da América (EUA) divulgou o estudo do The Autism and Developmental Disabilities Monitoring (ADDM) – Monitoramento de Autismo e Deficiências do Desenvolvimento – que por meio de análises de atendimentos clínicos e educacionais foi capaz de chegar a esta conclusão. (Maenner et al., 2020)
Considera-se este índice como extremamente importante, tendo em vista que o TEA se caracteriza pelo déficit em vários aspectos do desenvolvimento, observados principalmente durante a infância, que frequentemente resultam em sérios padrões de sofrimento psíquico e físico. Esta condição abarca dificuldades enfrentadas nos âmbitos da comunicação e socialização, além de um padrão de comportamentos repetitivos/rígidos/restritos. Dificuldades de regulação emocional e desorganização sensorial por vezes levam a crises, caracterizadas por comportamentos agressivos ou demasiado isolamento e embotamento afetivo, prejudicando assim o bem estar e a relação social e familiar. As características atípicas podem ser observadas na primeira infância e a American Psychiatric Association (APA) recomenda o diagnóstico e tratamento precoce (antes dos 3 anos de idade). (APA, 2023)
Com este dado sobre a prevalência do transtorno, justifica-se o inevitável questionamento acerca da problemática relacionada a como intervir mediante o TEA. Atualmente, interpreta-se como altamente recomendada (devido aos importantes impactos científicos) a terapia de Applied Behavioral Analysis (ABA), – Análise do Comportamento Aplicada – que consiste, de forma resumida, no treinamento estruturado para ensino de habilidades funcionais. Além disso, terapias voltadas para as Atividades da Vida Diária (AVD) como Terapia Ocupacional (TO) e desenvolvimento psicológico/emocional como a Psicoterapia se mantêm relevantes. (Abreu; Batista, 2023)
Finalmente, a terapia medicamentosa, quando assertiva, pode diminuir o sofrimento percebido por essas pessoas e a frequência das crises, aumentando assim a qualidade de vida e tornando o prognóstico mais positivo. Dentre os mais utilizados estão a Risperidona (antagonista de receptor D2) e Sertralina (inibidor seletivo da recaptação de serotonina). Alguns medicamentos relativamente modernos têm se mostrado promissores, tais como o canabidiol (CBD). (Barzotto et al., 2023; Ferreira; Betti, 2024)
Tendo isso em vista, este estudo tem como objetivo analisar os efeitos do CBD no controle de crises em pessoas com TEA, por meio de uma revisão integrativa da literatura, visando identificar sua eficácia, segurança e potenciais implicações clínicas.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 CONCEITUANDO O TEA
Publicado nos Estados Unidos no Condado de Arlington em 2013, no Brasil em 2014 pela Artmed, o DSM-V teve David J. Kupfer como seu presidente. Neste caso, o Autismo se encontra no segmento de Transtornos do Neurodesenvolvimento. Aqui, a Perturbação Autística e a Perturbação de Asperger se tornaram o Transtorno do Espectro Autista, que possui critérios para níveis diferentes de apoio. (APA, 2014) O texto revisado desta edição demonstra adaptações.
O primeiro critério consiste em déficits persistentes na comunicação e interação social. O segundo descreve padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, manifestados por pelo menos duas das seguintes opções:
movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos […]; insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal […]; interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco […]; hiper ou hipo reatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente. (APA, 2022, p. 50)
Os critérios são colocados conforme demonstrado na Figura 1.
Os sintomas devem estar presentes de maneira precoce no desenvolvimento e precisam causar prejuízo clinicamente significativo funcional. Deve, também, especificar a gravidade do TEA, de acordo com as especificações que o DSM-V trás. Vale inserir na íntegra uma nota que foi escrita no Manual:
Indivíduos com um diagnóstico do DSM-IV bem estabelecido de transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro autista. Indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de transtorno do espectro autista, devem ser avaliados em relação ao transtorno da comunicação social (pragmática). (APA, 2014, p. 51)
Em seguida, é recomendado que caso seja feito o diagnóstico, seja especificado: com ou sem comprometimento intelectual concomitante; com ou sem comprometimento da linguagem concomitante; associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental; associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental; com catatonia. Após, são feitos direcionamentos para procedimentos de registro e em seguida são apresentados os especificadores de gravidade. São divididos em Níveis, sendo eles 1, 2 e 3. A divisão funciona de acordo com a necessidade de apoio que o indivíduo possui para que viva uma vida funcional. A segmentação fica clara no Quadro 1.
São descritas as características diagnósticas – os critérios já explicitados – em texto corrido, as características associadas que apoiam o diagnóstico, a prevalência, o desenvolvimento e curso, fatores de risco e prognóstico, questões relativas à cultura e ao gênero e consequências funcionais do TEA. No diagnóstico diferencial, constam a Síndrome de Rett, Mutismo Seletivo, Transtornos da linguagem e transtorno da comunicação social, Deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) sem TEA, Transtorno do movimento estereotipado, Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e Esquizofrenia. (APA, 2014)
São expostas as possíveis comorbidades, sendo comprometimento intelectual, transtorno estrutural da linguagem, transtorno do desenvolvimento da coordenação, transtornos de ansiedade, transtornos depressivos e outros diagnósticos de comorbidade.
Também podem haver condições médicas como epilepsia, distúrbios do sono e constipação, transtorno alimentar restritivo/evitativo e preferências alimentares extremas. (APA, 2014)
Os sintomas podem desencadear crises, que são reações intensas de desregulação emocional, frequentemente causadas por sobrecarga sensorial, mudanças inesperadas na rotina ou dificuldades em processar e expressar emoções. A hipersensibilidade a estímulos sensoriais e a rigidez comportamental podem levar a um estado de sobrecarga que ultrapassa a capacidade de autorregulação do indivíduo, resultando em crises marcadas por comportamentos como alterações verbais e/ou vocais, autoagressão ou agressividade dirigida a outros. (APA, 2014)
2.2 CBD PARA USO TERAPÊUTICO
O uso de ervas e outros derivados naturais para efeitos agradáveis é historicamente observado, inclusive no Brasil. A planta conhecida como maconha pelos brasileiros é originária da Ásia e pertence à família Cannabaceae, além disso, como subespécies há a sativa, indica e ruderalis. A Cannabis apresenta mais de 80 produtos químicos denominados canabinoides e os 2 mais frequentemente manipulados como terapêuticos são o CBD e o tetraidrocanabinol (THC). (Alves, 2020)
Existem receptores neuronais específicos que agem diante do CBD, chamados canabinóides (CB). Estes são abundantes em algumas áreas cerebrais, o que explica grande parte dos efeitos terapêuticos. De forma específica, Valentim et al. (2022, p. 4) trazem que:
“os receptores CB estão preferencialmente no sistema nervoso central, como hipocampo, cerebelo, corpo estriado, córtex frontal e substância negra. Localizados, em sua maioria, na pré-sinapse, vão regular os efeitos […] e influenciar em neurotransmissores como GABA, serotonina, dopamina, noradrenalina e glutamato, interferindo na liberação hormonal, funções como sono, vigília, apetite, percepção, emoção, neuroproteção e desenvolvimento motor. Além disso, receptores CB agem na manutenção da homeostase do corpo humano, visto que, mesmo expressos em baixa densidade, estão presentes em órgãos e tecidos periféricos
Mediante comprovações satisfatórias, o CDB promove efeitos terapêuticos em sintomas depressivos, ansiosos, dor neuropática e/ou crônica e/ou oncológica, doenças inflamatórias intestinais, artrite reumatoide, etc. (Emily et al., 2022) Apesar de inúmeras comprovações em pesquisas modernas, o consumo medicinal do CBD é percebido como burocrático e por vezes impossível pela comunidade brasileira. Este tema é, inclusive, foco de importantes discussões acerca da garantia do direito à saúde, prerrogativa presente na Constituição do Brasil. (Silva; Brasileiro, 2021)
Seguindo esta lógica da funcionalidade terapêutica da substância, entende-se que desregulações sensoriais que ocasionam as crises comuns ao TEA possam ser afetadas pela ação do CDB.
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura de natureza qualitativa, abordagem indutiva com método integrativo. De acordo com Souza, Silva e Carvalho (2010) este método é indicado para estudos da área da saúde e é positivo ao passo que propicia a análise de uma variedade de estudos para a compreensão adequada do fenômeno estudado. Já a abordagem indutiva de pesquisa se inicia com a observação sistemática de casos particulares ou fenômenos específicos, com o objetivo de gerar inferências e formular generalizações teóricas abrangentes. Fundamentada na experiência empírica, desconsidera pressupostos pré-estabelecidos, valorizando a construção de conhecimento a partir da análise de dados concretos. Envolve três etapas principais: a coleta e observação detalhada de fenômenos, a identificação de padrões e relações entre as ocorrências, e a elaboração de uma generalização que sintetize as evidências empíricas em uma teoria ou princípio geral. (Matias-Pereira, 2019)
Mediante a pesquisa em base de dados SciELO, PubMed, LILACS, Medline por meio do Scholar Google, houve a seleção de 25 artigos. Após aplicação dos critérios de inclusão – estudos publicados entre os anos de 2019 e 2024; que tenham como tema os efeitos do CBD aplicados ao TEA; que tragam informação sobre os efeitos específicos em crises do TEA; que estejam em língua portuguesa ou inglesa – e exclusão – artigos que não informem sobre o efeito do CBD sob crises do TEA; que apresentem resultados insatisfatórios/incompletos – foram selecionados 20 artigos para análise final. Após esta, estão selecionados 10 estudos como admitidos para esta pesquisa.
Souza, Silva e Carvalho (2010) trazem 6 fases imprescindíveis para a construção de uma pesquisa integrativa. Cada uma é especificada na Figura 1.
Percebe-se, assim, que este estudo passou pelas recomendações observadas na literatura.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir, apresenta-se o Quadro 1 que sintetiza os estudos revisados na literatura sobre o uso do CBD no controle de crises de indivíduos com TEA. Este quadro reúne informações essenciais, como os títulos dos estudos, os autores, o ano de publicação, a metodologia empregada, os principais resultados obtidos e a relação desses resultados com o objetivo deste artigo. A apresentação dessas informações visa oferecer uma visão clara e objetiva sobre a eficácia, segurança e potenciais implicações clínicas do CBD no manejo do TEA, contribuindo para a compreensão do impacto desse fitoterápico no controle das crises em pacientes com esse transtorno.
Quadro 1: Descrição dos estudos analisados e a relação de benefícios do uso do CBD em crises de TEA.
Título e autoria | Ano de publicação | Metodologia utilizada | Resultados obtidos | Análise crítica para o objetivo desta pesquisa |
Uso de Canabidiol no Tratamento do Transtorno do Espectro Autista: Uma Revisão. (Ferreira; Betti, 2024) | 2024 | Revisão sistemática após busca em bases de dados como Scielo, PubMed e Google Acadêmico, relacionada ao canabidiol e ao TEA. | A maioria dos trabalhos clínicos sobre o uso de CBD no tratamento do TEA possui baixa qualidade de evidência científica, com 60% dos estudos sendo observacionais ou estudos de caso, os quais apresentam riscos de viés. Estudos randomizados duplo cego, que são mais robustos, representaram 40% da pesquisa e mostraram resultados promissores. O uso de extratos de CBD foi associado a melhorias em sintomas do TEA, como ansiedade, irritabilidade e dificuldades de sono. No entanto, a falta de validação dos questionários e a subjetividade nas avaliações são limitações importantes. Embora alguns efeitos adversos tenham sido relatados, os estudos sugerem que o CBD pode ser uma opção terapêutica promissora para o TEA. | Embora a utilização de CBD mostre potenciais benefícios para pacientes com TEA, especialmente no alívio de sintomas como ansiedade, irritabilidade, dificuldades sociais e distúrbios do sono (sintomas comumente relacionados ao surgimento das crises no TEA), as evidências científicas ainda são limitadas e carecem de robustez metodológica. |
Effects of CBD-Enriched Cannabis sativa Extract on Autism Spectrum Disorder Symptoms: An Observational Study of 18 Participants Undergoing Compassionate Use. (Fleury-Teixeira et al.) | 2019 | Envolveu 18 pacientes com TEA, com média de 10 anos de idade. O tratamento com Extrato de Cannabis (CE)foi iniciado com autorização da ANVISA, sendo supervisionado por um dos autores do estudo. Dos 18 pacientes, 3 abandonaram o tratamento no primeiro mês, e 15 continuaram. O CE utilizado tinha 75% de CBD e 1% de THC, administrado oralmente em doses ajustadas individualmente (inicialmente 2,90mg/kg/dia). Os pacientes foram acompanhados por meio de questionários mensais preenchidos pelos pais/cuidadores para avaliar a intensidade dos sintomas em 8 categorias (como déficit de atenção, comportamentais, motores, entre outros). | Resultados positivos foram observados, especialmente em sintomas como TDAH, distúrbios de sono e interação social, com 90% dos pacientes não epilépticos apresentando melhora de pelo menos 30% em uma ou mais categorias. No entanto, efeitos negativos foram relatados em quatro pacientes que usavam múltiplos medicamentos, destacando riscos de interações medicamentosas. O estudo aponta para benefícios do CE em sintomas autísticos sem os efeitos colaterais comuns em tratamentos convencionais, mas ressalta limitações como a ausência de grupo de controle e possíveis efeitos placebo. | Desfecho reforça o uso do CBD para melhorar sintomas do TEA, como impulsividade, distúrbios de sono e interação social, sem os efeitos colaterais comuns de medicamentos tradicionais. As melhorias observadas em 90% dos pacientes não epilépticos sugerem que o CE ajuda na redução da hiperexcitabilidade neuronal, sendo uma alternativa promissora para redução de crises. |
CBD-rich Cannabis Sativa on core and comorbid symptoms of autism spectrum disorder: a prospective observational study. (Liz et al.) | 2023 | Estudo observacional com metodologia projetada para avaliar os efeitos do óleo de Cannabis sativa rico em CBD nos sintomas principais e comórbidos do TEA ao longo de 24 semanas, juntamente com a retirada de psicotrópicos comumente usados. Todos os 27 participantes, com idade média de 7 anos, receberam uma dose fixa de 5 gotas de óleo de cannabis, distribuídas em três doses diárias (totalizando 18,8 mg/dia de CBD e 1,3 mg/dia de THC). | Houve melhora significativa nos sintomas principais, incluindo comunicação, sociabilidade e comportamento estereotipado. Entre as comorbidades, o Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo apresentou a maior melhora (40%), com melhorias também em TDAH e insônia. Os resultados reforçam a eficácia e segurança do óleo de CBD como opção terapêutica no tratamento do TEA. | O impacto positivo em comorbidades como TDAH e distúrbios do sono, que frequentemente contribuem para a sobrecarga sensorial e emocional, pode diminuir a ocorrência de crises ao proporcionar uma regulação mais eficaz do comportamento e das respostas ao ambiente. Assim, os achados reforçam a hipótese de que intervenções com CBD não apenas melhoram os sintomas de base, mas também reduzem a hiperexcitabilidade neuronal e promovem uma estabilidade emocional que ajuda a prevenir crises, alinhando-se ao objetivo do seu artigo de investigar abordagens que elevem a qualidade de vida e o manejo dos sintomas do TEA. |
Medicinal Cannabis for Paediatric Developmental, Behavioural and Mental Health Disorders. (Efron; Taylor) | 2023 | Revisão a base de evidências sobre o uso de cannabis medicinal em transtornos pediátricos de desenvolvimento como o TEA. A metodologia incluiu a seleção de literatura com base em revisões sistemáticas, buscas por palavras-chave e acompanhamento de ensaios clínicos marcados como completos. | A cannabis medicinal tem mostrado potencial para melhorar sintomas centrais do TEA, como comunicação social e comportamentos disruptivos, além de sintomas comórbidos como ansiedade e agressividade. Apesar de algumas limitações nos estudos, como tamanho reduzido das amostras e falta de ensaios controlados por placebo, muitos relataram benefícios substanciais em comportamento, sono e interação social. Efeitos adversos foram, em sua maioria, leves, incluindo alterações no apetite e sonolência. No entanto, eventos mais graves, como psicose, foram associados a produtos com maior teor de THC. | A cannabis medicinal, especialmente com predominância de CBD, pode melhorar sintomas centrais e comórbidos do TEA, como ansiedade, agitação, comportamento disruptivo e distúrbios de sono. Embora os efeitos adversos sejam geralmente leves, como sonolência e alterações no apetite, os benefícios sugerem a viabilidade da cannabis como alternativa terapêutica, especialmente para reduzir crises. |
The effect of cannabidiol in the treatment of behavioral symptoms in children and adolescents with autism: an integrative review. (Costa et al.) | 2024 | Consiste em uma revisão integrativa, formulando a questão de pesquisa “Qual o efeito do CBD no tratamento do TEA em crianças e adolescentes?” A busca foi realizada nas bases Portal Capes e PubMed, sem filtros de busca. Os estudos selecionados foram avaliados, analisados e interpretados, com o objetivo de consolidar o conhecimento sobre os efeitos do CBD no tratamento do TEA. | Possíveis efeitos positivos do CBD no tratamento do TEA, evidenciam melhorias significativas nos sintomas com efeitos colaterais mínimos. Embora o uso do CBD ainda não seja amplamente disseminado, os resultados sugerem que pode ser uma terapia funcional para o TEA, com a redução de sintomas característicos, como comportamentos agressivos e dificuldades de comunicação. A revisão reforça que o CBD apresenta um potencial terapêutico promissor, mas ainda requer mais estudos para sua confirmação e maior divulgação. | Os resultados indicam que o CBD pode ser eficaz na redução dos sintomas do TEA, como agressividade e dificuldades de comunicação, que frequentemente desencadeiam crises. O CBD demonstrou benefícios significativos com poucos efeitos adversos, oferecendo uma alternativa terapêutica promissora para reduzir as crises em pacientes com TEA. |
Benefícios do uso do canabidiol no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (Soares) | 2022 | Pesquisa bibliográfica qualitativa, utilizando registros de estudos anteriores disponíveis. Foram selecionados 10 artigos publicados entre 2010 e 2020 em revistas, com base nas plataformas SciELO e LILACS. A pesquisa seguiu o método indutivo, partindo de observações específicas para chegar a generalizações. Os descritores utilizados foram relacionados ao TEA e ao uso do canabidiol. | Os resultados das pesquisas indicam que o uso de CBD no tratamento do TEA foi eficaz na redução de sintomas como hiperatividade, distúrbios do sono e convulsões. Estudos mostraram melhorias significativas em mais de 80% dos pacientes, com efeitos colaterais mínimos. Além de que a maioria dos pacientes teve uma melhora significativa ou moderada após o uso de CBD. Além disso, o CBD aumenta os níveis de anandamida, o que pode melhorar a socialização e as respostas emocionais. Por fim, o CBD auxilia no processo psicoterápico, melhorando a autorregulação e o engajamento das crianças com TEA. | Estudos indicaram uma redução eficaz desses sintomas, com mais de 80% dos pacientes apresentando melhora significativa ou moderada. O CBD contribui para a estabilização emocional, ao aumentar os níveis de anandamida, o que pode reduzir a hiperatividade e melhorar as respostas emocionais, fatores que frequentemente desencadeiam crises em pessoas com TEA. Além disso, o uso do CBD mostrou benefícios no processo psicoterápico, aumentando a autorregulação das crianças, o que pode diminuir a frequência e intensidade das crises. |
Avaliação da eficácia e segurança do extrato de Cannabis rico em canabidiol em crianças com o transtorno do espectro autista: “ensaio clínico randomizado, duplo-cego e placebo controlado”. (Junior) | 2020 | Envolveu um cálculo amostral a priori, utilizando o software G Power para determinar o tamanho da amostra necessário para um teste t de hipóteses com grupos independentes. Considerando perdas amostrais e os custos do produto, a amostra final foi de 64 crianças com TEA, entre 5 e 12 anos, de diferentes estados brasileiros. Foram incluídos apenas crianças com diagnóstico de TEA e sem comorbidades graves ou uso recente de produtos à base de cannabis. Foram utilizados materiais de rastreio dos sintomas do TEA. | Os resultados indicam que, mesmo com o uso de uma concentração baixa de CBD, houve melhora em várias áreas, incluindo interação social, agitação psicomotora, alimentação, ansiedade e concentração. Os efeitos adversos foram leves e transitórios. A análise também revelou que a maioria dos participantes, especialmente meninos, apresentou melhorias, com destaque para a redução da agitação psicomotora, que é um sintoma relevante no TEA. Estudos relacionados apontam resultados semelhantes, com melhoria em comportamentos desafiadores, como hiperatividade, distúrbios do sono e crises convulsivas, após o uso de cannabis, corroborando a eficácia do CBD no tratamento dos sintomas do TEA. | O uso de CBD demonstrou uma redução significativa na agitação psicomotora, um sintoma frequentemente associado a crises em crianças com TEA, além de melhorar a ansiedade e distúrbios do sono, que também são fatores desencadeantes. A melhora na concentração e interação social pode ajudar na diminuição de comportamentos disruptivos, diminuindo, assim, a frequência e intensidade das crises. |
Effects of cannabidiol on the signs and comorbidities of autistic spectrum disorder (Minella; Linartevichi) comorbidities of autistic spectrum disorder (Minella; Linartevichi) | 2021 | Revisão sistemática de abordagem qualitativa que utilizou as bases de dados PubMed e Medline, com os descritores “autism and treatment and cannabis” e “autism and treatment and cannabidiol” nos títulos e resumos. Foram incluídos estudos publicados em periódicos nacionais e internacionais, em inglês e português, de acesso livre e na íntegra, sem recorte temporal. Artigos de revisão foram excluídos. | A melhora dos sintomas do TEA foi avaliada. Houveram melhorias significativas em hiperatividade, comportamento autolesivo, sono e ansiedade com o uso de CBD, além da atenuação de hiperatividade, sono e convulsões. Houve relato de melhora em inquietação, raiva e sono, não foram observados efeitos adversos graves. | Foi observada melhora significativa em sintomas relacionados à crises do TEA, como hiperatividade, comportamento autolesivo, distúrbios do sono e ansiedade, além da redução de crises e convulsões. A atenuação de sintomas como inquietação e raiva também foi reportada, sem efeitos adversos graves. |
O Uso de Canabidiol em Pacientes com Autismo. (Weber; Rampelotto) | 2024 | Conduzida por meio de um estudo descritivo não experimental, do tipo revisão de literatura. Foram consultadas as bases de dados PubMed e SciELO, utilizando as palavras-chave “autismo”, “transtorno do espectro autista”, “canabidiol” e “Cannabis”. | O CBD pode ajudar na redução parcial ou total das crises em alguns pacientes com autismo, especialmente quando associado à epilepsia, melhorando sintomas como ansiedade, convulsões, agitação, raiva e insônia. Em 66,6% dos casos, houve uma melhoria na qualidade de vida. O tratamento com CBD tem mostrado benefícios para a qualidade de vida, como redução da ansiedade e melhora na interação social, mas não resolve todos os problemas do autismo e deve ser usado com moderação e acompanhamento especializado. | O CBD pode ser eficaz no controle das crises em pessoas com TEA, especialmente em casos associados à epilepsia, proporcionando melhora significativa em sintomas como ansiedade, convulsões, agitação, raiva e insônia. |
Considerations on The Cannabidiol In The Psychotherapy Process of Children With Autistic Spectrum Disorder (Oliveira; Pottker) | 2019 | Revisão bibliográfica narrativa, que envolveu análise crítica de publicações científicas relacionadas ao uso de CBD em tratamentos para TEA, epilepsia e comorbidades. A pesquisa abordou diversas áreas do conhecimento, incluindo psiquiatria, história, nutrição e psicologia, e teve como critérios de análise temas como a história da Cannabis sativa, suas propriedades medicinais, e a aplicação do CBD em tratamentos para o TEA. | O CBD contribui para o tratamento de crianças com TEA, melhorando a integração sensorial, a comunicação, o tônus muscular, a atenção e a percepção, além de reduzir comportamentos agressivos. A combinação de CBD com psicoterapia resulta em uma diminuição significativa dos sintomas e melhora no cotidiano da criança. Contudo, o uso do CBD deve ser feito sob prescrição médica. O estudo sugere a necessidade de mais pesquisas para explorar a relação entre CBD, psicoterapia e TEA. | O CBD pode melhorar significativamente sintomas do TEA, como a integração sensorial, comunicação, comportamento e tônus muscular, além de reduzir a agressividade e melhorar a atenção. Essas melhorias contribuem para o controle das crises e aprimoram a qualidade de vida dos pacientes. |
Fonte: elaborado pelos autores.
De acordo com os autores destacados no Quadro 1, os resultados obtidos indicam que o CBD pode ser uma alternativa promissora no manejo dos sintomas do TEA, especialmente no controle de crises. O CBD demonstrou eficácia no alívio de sintomas centrais do TEA, como impulsividade, dificuldades de comunicação, ansiedade, distúrbios do sono e comportamento agressivo, que frequentemente precedem ou estão associados a crises. Além disso, o CBD tem se mostrado eficaz em diminuir a hiperexcitabilidade neuronal, sugerindo que pode ajudar na redução das crises, particularmente em pacientes com comorbidades, como a epilepsia.
A melhoria na regulação emocional e comportamental observada nos pacientes sugere que o CBD pode atuar não apenas no controle de sintomas agudos, mas também na promoção de uma estabilidade emocional a longo prazo, fundamental para a prevenção de crises. Essa estabilização emocional está relacionada à redução da hiperatividade e da ansiedade, fatores críticos no contexto do TEA, especialmente quando associados à sobrecarga sensorial e emocional. Embora os efeitos adversos do CBD sejam geralmente leves, como sonolência e alterações no apetite, estes efeitos foram considerados toleráveis e não impediram os benefícios clínicos observados. Isso reforça a viabilidade do uso do CBD como uma alternativa terapêutica, especialmente para aqueles que não respondem bem aos tratamentos convencionais.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo analisar os efeitos do CBD no controle de crises em pessoas com TEA, por meio de uma revisão integrativa da literatura, visando identificar sua eficácia, segurança e potenciais implicações clínicas. O CBD mostrou eficácia significativa na redução de sintomas principais do TEA, como impulsividade, dificuldades de comunicação, ansiedade e distúrbios do sono, além de melhorar a hiperexcitabilidade neuronal e comportamentos agressivos, que são frequentemente desencadeadores de crises. A melhora na regulação emocional observada também indica que o CBD pode contribuir não apenas para o alívio imediato dos sintomas, mas também para a promoção de uma estabilidade emocional duradoura, crucial para evitar episódios de crise.
É importante ressaltar que, apesar dos resultados promissores, as evidências científicas ainda são limitadas e carecem de estudos com maior robustez metodológica. O uso do CBD deve sempre ser acompanhado por um profissional de saúde qualificado, uma vez que a dosagem adequada e a monitorização dos efeitos são essenciais para garantir a segurança e eficácia do tratamento.
REFERÊNCIAS
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1Docente do Curso Superior de Psicologia da Universidade de Gurupi – UnirG Campus Gurupi.
Especialista em Neuropsicologia e TEA. e-mail: anac.deandrade88@gmail.com
2 Discente do Curso Superior de Farmácia da Universidade de Gurupi – UnirG Campus Gurupi
e-mail:guilherme.gbarcelos21@gmail.com
3Discente do Curso Superior de Farmácia da Universidade de Gurupi – UnirG Campus Gurupi
e-mail: manausjr12@gmail.com
4Discente do Curso Superior de Psicologia da Universidade de Gurupi – UnirG Campus Gurupi
e-mail: kimberleelais@gmail.com
5 Discente do Curso Superior de Psicologia da Universidade de Gurupi – UnirG Campus Gurupi
e-mail: hykolopes01@gmail.com
6Neuropsicólogo. e-mail: lucasgbarcelos0@gmail.com