PERCEPÇÕES E CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DE MEDICINA DO ALTO PARANÁ – PARAGUAI SOBRE PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA E REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR: ESTUDO DESCRITIVO.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202411160008


VELAZQUEZ, Makarena Soledad1
ALVES, Letícia Vendrametto de Castro2
RIBEIRO, Lucas da Silva3


RESUMO:

OBJETIVO: Investigar o conhecimento teórico dos conceitos básicos da reanimação cardiopulmonar (RCP) entre estudantes de medicina. MÉTODOS: Trata-se de um estudo descritivo misto, com abordagem quantitativa e qualitativa. Os dados foram coletados por meio de questionário online, utilizando a ferramenta Google Docs. Foi aplicado um questionário de 11 questões sobre o conhecimento dos alunos sobre Parada Cardiorrespiratória e Reanimação Cardiopulmonar e sobre simulação clínica. Foi implementado um método de amostragem não probabilístico conhecido como amostragem bola de neve. RESULTADOS: A amostra foi composta por 53 estudantes universitários de medicina. Observou-se que 32,08% (17) dos participantes declararam ter nível de confiança médio, enquanto 30,19% (16) indicaram o nível de confiança mais baixo e apenas 13,21% (7) consideraram quem tinha o nível de confiança mais alto para realizar Reanimação Cardiopulmonar. Os estudantes que relataram ter aprendido sobre Reanimação Cardiopulmonar nas instituições médicas do Alto Paraná deram respostas, em sua maioria, incompletas, sendo que 80% não conseguiram identificar o ciclo correto de RCP ou a frequência atualmente aceita. Aproximadamente 89% dos participantes indicaram, de diferentes formas, que a continuidade do ensino desde o início da formação, abrangendo tanto o conteúdo teórico como a prática com simulações, seria benéfica para melhorar a aprendizagem. CONCLUSÃO: Encontramos uma fragilidade no processo de ensino-aprendizagem, onde os alunos demonstraram algum conhecimento da teoria desse processo, mas não possuíam confiança para atender a parada cardiorrespiratória. É importante que as instituições de ensino invistam em práticas simuladas, principalmente as de alta fidelidade, para que os alunos ganhem autoconfiança no cuidado de seus pacientes. É também importante promover organizações como as ligas acadêmicas, que são espaços extracurriculares onde os alunos podem desenvolver competências teóricas e práticas.  

Palavras-chave: Parada Cardíaca, Educação Médica, Treinamento Simulado, Reanimação Cardiopulmonar, Atendimento Pré-hospitalar.

INTRODUÇÃO

Nas emergências, o atendimento médico eficaz consiste em conhecer e executar protocolos de atendimento de forma imediata e correta, com o objetivo de minimizar o tempo de resposta, evitar complicações e aumentar as chances de sobrevivência. Idealmente, o tratamento deve ser seguido pelo encaminhamento do paciente para um ambiente hospitalar. Contudo, nem sempre isso é possível e é nestes casos que o atendimento pré-hospitalar (APH) torna-se essencial. Portanto, APH pode ser definida como qualquer assistência médica realizada em ambiente extra-hospitalar, abrangendo desde protocolos básicos de resgate até recomendações e manobras médicas mais complexas.1,2

Dentre as emergências atendidas no APH, a parada cardiorrespiratória (PCR) caracteriza-se pela interrupção súbita e potencialmente reversível de toda atividade cardíaca e respiratória, aumentando o risco de morte imediata por falta de fornecimento de sangue e oxigênio ao organismo. Estima-se que a cada ano entre 20 e 140 em cada 100.000 pessoas necessitam de RCP em todo o mundo e estima-se que 55 desses casos ocorram em atendimento extra-hospitalar.3,4 Além disso, estima-se que a RCP extrahospitalar é responsável pela morte de mais de 3 milhões de pessoas por ano4, tornando-se um grande problema de saúde pública atualmente.

Como parte dos serviços APH, a American Heart Association (AHA) desenvolveu a chamada Cadeia de Sobrevivência, que descreve os passos gerais a seguir em situações de RCP. A cadeia é dividida em situações intra-hospitalares (PCRIH) e situações extra-hospitalares (PCREH), com variações nas ações a serem realizadas. 5.6

Em geral, a cadeia de sobrevivência segue estas etapas: 1) Reconhecimento imediato da parada cardíaca, 2) Ativação rápida dos órgãos de suporte, 3) RCP de alta qualidade, 4) Desfibrilação rápida e reanimação avançada e 5) Cuidados abrangentes após RCP5, 6. Em situações hospitalares, recomenda-se a observação precoce e a prevenção da parada cardíaca e enfatiza-se a importância dos cuidados pós-reanimação abrangentes para a recuperação completa do paciente. Em situações pré-hospitalares, recomenda-se iniciar a RCP mesmo que não tenha sido confirmada a existência de paragem cardiorrespiratória, dando prioridade às compressões torácicas imediatas. A ênfase também é colocada no uso de protocolos avançados de reanimação em ambulâncias. 6

Segundo a American Heart Association, todas essas recomendações são divididas em Suporte Básico de Vida (SBV), que engloba parte dos cuidados com a APH e segue uma sigla geral: CABD (C – circulação e controle de hemorragia, A – via aérea aberta, B – boa ventilação e D – desfibrilação rápida com DEA) e Suporte Avançado de Vida (SAV), que complementa as técnicas anteriores. 6.7

A RCP é uma técnica que consiste em comprimir com alguma força a região central do tórax, entre os mamilos, até uma profundidade de pelo menos 5 cm. As compressões devem ser realizadas de forma a simular a atividade cardíaca, com frequência de 100-120 compressões por minuto. O ciclo padrão de RCP consiste em 30 compressões de alta qualidade seguidas de duas ventilações (boca a boca, via aérea avançada, etc.). Qualquer pessoa treinada pode realizar a RCP, lembrando da recomendação de não fazer sozinha e de fazer um rodízio a cada dois minutos. 6.7

No entanto, de acordo com a atualização da AHA de 2020, a sobrevivência dos pacientes que recebem RCP em cuidados extra-hospitalares não melhorou significativamente desde 2012.6 Vários fatores podem contribuir para esta realidade, incluindo lacunas no conhecimento dos prestadores de RCP e na aplicação técnica. 3.6

Dada a relevância e o impacto potencialmente negativo das paradas cardiorrespiratórias, é essencial que a aprendizagem sistemática sobre este tema faça parte da formação médica desde o início. De acordo com a AHA 2020, o treino eficaz e contínuo pode ser uma variável importante na melhoria das taxas de sobrevivência após paragem cardíaca. 6

Assim, este projeto tem como objetivo avaliar o nível de conhecimento dos estudantes de medicina sobre protocolos de parada cardiorrespiratória e reanimação cardiopulmonar, promovendo a reflexão sobre o ensino e a formação médica.

MATERIAIS E MÉTODOS

Estudo descritivo misto, ou seja, com abordagem quantitativa e qualitativa.

A pesquisa descritiva baseia-se na resolução de problemas e na melhoria de práticas por meio da observação objetiva e exaustiva de um determinado fenômeno. Entre os principais objetivos deste tipo de pesquisa estão a descrição das características de uma determinada população ou de um determinado fenômeno e tem como propriedade a utilização de técnicas bem definidas para coleta de dados. 8

Nos estudos descritivos, o pesquisador deve realizar pesquisa, análise, registro e interpretação dos dados coletados sem interferir neles, ou seja, tem como premissa a observação, registro e análise de fenômenos ou sistemas técnicos, levando em consideração que é não é permitida a interferência do pesquisador. 8

A pesquisa de métodos mistos é composta por abordagens quantitativas e qualitativas e oferece ferramentas para investigar sistemas e processos em saúde. A metodologia quantitativa é normalmente implementada para estudar questões de pesquisa sobre causalidade, generalização e magnitude do efeito, ou seja, para compreender a importância ou impacto de uma variável sobre outra. Por sua vez, a metodologia qualitativa é utilizada por pesquisadores que buscam responder por que e como determinado fenômeno pode estar ocorrendo ou descrever uma experiência individual. 9 

Os dados foram coletados por meio de questionário on-line, por meio da ferramenta Google Docs, disponibilizado aos estudantes de medicina. A população do estudo foi composta por estudantes de medicina que frequentam regularmente o ciclo básico, pré-clínico, clínico ou de internato. A amostra foi composta por estudantes devidamente matriculados em curso de graduação em medicina, que aceitaram participar da pesquisa de forma voluntária, mediante preenchimento de termo de consentimento no formulário do Google Docs.

Foi aplicado um questionário de 11 questões sobre o conhecimento dos alunos sobre Parada Cardiorrespiratória e Reanimação Cardiopulmonar e sobre simulação clínica. Apenas os autores da pesquisa tiveram acesso aos dados de identificação coletados. A coleta de dados ocorreu no mês de agosto de 2024.

O questionário foi disponibilizado através do WhatsApp por alunos de diversas instituições de ensino, localizadas no Alto Paraná-Paraguai. Foi implementado um método de amostragem não probabilístico conhecido como “amostragem bola de neve”ou Snow ball Sampling.

Esse método funciona indicando indivíduos pertencentes à população estudada, que indicam outros indivíduos que também possam fazer parte do estudo e assim por diante, caracterizando o que os autores chamam de bola de neve que rola até atingir um tamanho maior. 10

Esta técnica de pesquisa é implementada quando se estudam populações de difícil acesso, por exemplo: aquelas contendo poucos membros, dispersas por uma área geográfica muito grande, ou membros de um grupo que não se preocupam com a necessidade de dados do pesquisador.11

Trata-se de um processo permanente de coleta de dados em que o pesquisador faz uso das redes sociais dos participantes, o que possibilita disponibilizar ao pesquisador um conjunto mais amplo de potenciais participantes.11

Os dados foram tabulados com auxílio do Planilhas Google para análise estatística descritiva. A cada participante foi atribuído um código alfanumérico (número e letra), a fim de preservar sua privacidade. Posteriormente, foi realizada uma integração de dados quantitativos e qualitativos.

ASPECTOS ÉTICOS

A pesquisa deve seguir os pressupostos do Código de Nuremberg para pesquisas com seres humanos.

FINANCIAMENTO

Todas as despesas decorrentes da pesquisa serão de responsabilidade exclusiva dos pesquisadores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra foi composta por 53 estudantes universitários de medicina, com idade média de 30,26 anos. A mediana de idade foi de 26,5 anos, a moda, ou seja, a idade que mais aparece entre os participantes, foi de 21 anos e o desvio padrão foi de 9,52 anos. Dos participantes da pesquisa, 77,37% já haviam concluído pelo menos 6 semestres (3 anos) e, desse total, 5,66% já estavam cursando internato médico, período considerado por alguns autores como o final da carreira médica.

Em relação à formação anterior, 48,51% (22) dos participantes afirmaram já ter tido outras formações e, desse total, 77,27% (17) vieram da área da saúde.

SIMULAÇÃO REALÍSTICA:

A maioria dos estudantes (86,79%) relatou já ter ouvido falar em simulação realística e a descreveu como uma importante ferramenta de aprendizagem:

Participante A13:Esta simulação é fundamental na formação médica porque permite praticar sem arriscar os pacientes. Ajuda a aprimorar habilidades, tomar decisões e trabalhar em equipe com segurança, deixando os futuros médicos mais bem preparados.

Participante A15: Vai ajudar o profissional a estar treinado e preparado para que quando acontecer na vida real ele já saiba o que tem que fazer.

Participante A16: Através da simulação aprenderemos a lidar com o protocolo e o nervosismo em uma situação real.

Participante A23: A simulação realista é uma ferramenta valiosa para preparar futuros profissionais de saúde, proporcionando-lhes um ambiente seguro para adquirir e aprimorar suas habilidades antes de enfrentar pacientes reais.

Com a ampliação da visão sobre a segurança do paciente, a prática simulada tem se mostrado uma importante ferramenta de aprendizagem, onde antes o aprendizado era feito diretamente na beira do leito do paciente, hoje em um ambiente controlado é possível o aluno praticar quantas vezes for necessário para desenvolver habilidades.12

Alguns estudos também mostram que a prática simulada aumenta o desempenho dos profissionais em situações de reanimação e trauma.12

Um estudo recente observou que a atividade simulada demonstra mais satisfação do que autoconfiança, e que quanto maiores os níveis de satisfação dos alunos com a simulação, maiores são os níveis de autoconfiança com a aprendizagem.13

CONHECIMENTO SOBRE PCR E RCP:

Do total de participantes, 35,85% (19) descreveram adequadamente a definição de Parada Cardiorrespiratória (PCR):

Participante A13: A PCR é caracterizada por ausência de pulso, ausência de respiração e ausência de resposta.

Participante A 15: …Em caso de acidente, o paciente vai responder, sem sinais de batimentos cardíacos e possivelmente sem sinais de respiração também.

Participante A37: Paciente inconsciente, sem respirar e latindo no coração.

É possível corroborar as respostas apresentadas pelos participantes com a literatura. Dentre as emergências médicas, a PCR é bastante comum e se caracteriza pela cessação da atividade mecânica do coração, identificada pela ausência de pulso central detectável devido à interrupção da circulação, além disso, o paciente deve apresentar apneia ou ausência parcial de respirando.2.14

Quanto às etapas que antecedem a Reanimação Cardiopulmonar propriamente dita, aproximadamente 26,42% dos participantes descreveram adequadamente a importância da identificação precoce da RCP e do “pedido de ajuda”, o que está de acordo com a cadeia de sobrevivência da AHA para PCR extra-hospitalar em adultos e que garante maior sobrevivência da vítima:

Participante A3: Primeiro chama socorro, tipo samu e se tiver DEA no local eu vou pedir também…

Participante A17: Segurança, peça ajuda.

Participante A35: Chame uma ambulância.

Participante A45: peça ajuda.

Figura 1: Cadeia de sobrevivência da AHA para parada cardíaca extra-hospitalar em adultos

Fonte: AHA, 2020

A cadeia de sobrevivência é uma sequência lógica para a execução dos cuidados de PCR e as etapas interligadas que devem ser seguidas para garantir maior sobrevivência do paciente. Supõe-se que o profissional que está cuidando precisa primeiro chamar o socorro necessário para depois iniciar compressões torácicas de boa qualidade, em caso de ritmos desfibriláveis, a literatura indica que há um benefício maior quanto mais cedo os choques forem realizados no paciente, seguido de transporte adequado até a instituição de saúde de referência, atendimento pós-parada cardíaca e recuperação. 6

Quanto ao conhecimento sobre os medicamentos mais comuns na PCR, 77,36% (41) souberam relatar apenas Adrenalina/Epinefrina e do total 14,66% (6) participantes souberam descrever adequadamente os principais medicamentos, conforme mostra a diretriz da AHA.

Pelo menos 71,7% (38) dos participantes relataram estar familiarizados com Reanimação Cardiopulmonar e 62,26% do total de participantes relataram ter recebido educação e/ou treinamento em Reanimação Cardiopulmonar. Porém, apenas 8,03% (5) dos participantes relataram que essa formação foi realizada pela instituição de ensino à qual estão vinculados atualmente, o que demonstra fragilidade no processo de ensino/aprendizagem.  

Participante A10: Trabalhei no SAMU por 12 anos, tive vários treinamentos relacionados à RCP da instituição.

Participante A12: na academia militar.

Participante A16: em curso independente do corpo docente.

Participante A17: curso de primeiros socorros

Participante A27: Suporte Avançado de Vida em Cardiologia

Quando questionado sobre o ciclo mais adequado (compressões de variações semânticas.

Em relação à frequência das compressões (compressões por minuto) na RCP de alta qualidade, a maioria dos participantes (55%) identificou corretamente uma faixa de 100-120 compressões por minuto ou o termo exato. Além disso, 29 participantes referiram-se ao centro do tórax (parte média do tórax, dois dedos acima do processo xifóide, no centro do esterno, entre outros termos aceitos) como o local anatômico adequado para realizar a massagem cardíaca, e 28 respostas identificaram corretamente a profundidade das compressões a serem realizadas.

O conhecimento teórico demonstrado é satisfatório nesta amostra, mas é importante ressaltar que aproximadamente 56% dos acertos vieram de estudantes já formados na área da saúde, dos quais 80% afirmaram ter recebido treinamento em RCP em suas profissões anteriores.

Participante A10: Formação anterior: Química (bacharelado) e Enfermagem/ Se recebeu formação anterior: Trabalhei no SAMU por 12 anos, tive vários treinamentos relacionados à RCP da instituição.

Participante A18: Formação anterior: Enfermagem/ Se recebeu formação em PCR: Sim em pós-graduação (especialização).

Participante: A36: Formação anterior: Técnico em Enfermagem/ Se recebeu formação em PCR: Sim, quando trabalhei no SAMU, e formação interna no Hospital.

Os estudantes que relataram ter aprendido sobre Reanimação Cardiopulmonar (RCP) nas instituições médicas do Alto Paraná deram respostas, em sua maioria, incompletas, sendo que 80% não conseguiram identificar o ciclo correto de RCP ou a frequência atualmente aceita. Além disso, é importante destacar que a maioria dos participantes (novamente, 80%) que receberam formação na instituição afirmam ter adquirido esses conhecimentos exclusivamente nas aulas do ciclo clínico, correspondente ao quarto ano da licenciatura, e apenas no aspecto teórico.

Segundo a American Heart Association, os parâmetros para garantir a qualidade da Reanimação Cardiopulmonar (RCP) incluem a realização de compressões no centro do tórax com profundidade aproximada de 5 a 6 cm e a uma frequência de 100-120 compressões por minuto, garantindo o fluxo necessário para órgãos vitais. Recomenda-se minimizar interrupções durante as manobras (sem especificar um número exato de ciclos) e uma proporção geral de 30 compressões para 2 ventilações, independentemente do uso de via aérea avançada.6

Embora esses parâmetros teóricos sejam amplamente conhecidos, o desenvolvimento de habilidades práticas é fundamental para um cuidado adequado. Estudo com metodologia semelhante realizado em um curso de medicina da Universidade do Estado do Pará -BR em 2020 revelou correlação entre o bom conhecimento dos parâmetros de RCP e a conclusão de cursos teóricos e práticos tanto no primeiro ano da graduação quanto no ciclo clínico da instituição.2

CONFIANÇA NA REALIZAÇÃO PRÁTICA:

Os participantes também foram questionados sobre seu nível de confiança no atendimento à parada cardiorrespiratória (PCR) e na execução correta das manobras. A questão pedia aos participantes que indicassem, numa escala de 1 a 5, o grau de confiança que sentiam, sendo 1 o nível de confiança mais baixo e 5 o mais elevado. Observou-se que 32,08% (17) dos participantes declararam ter nível de confiança médio, enquanto 30,19% (16) indicaram o nível de confiança mais baixo e apenas 13,21% (7) consideraram quem tinha o nível de confiança mais alto para realizar RCP.

Ressalta-se que aproximadamente 34% (18) dos participantes que forneceram respostas completas e atualizadas não acreditam ter o maior nível de confiança, e 5,66% destes indicaram ter o menor nível de confiança, apesar de fornecerem respostas corretas. Adicionalmente, 8 dos alunos com respostas completas e com baixo nível de confiança encontram-se atualmente no ciclo clínico ou estagiários, próximos da conclusão do curso.

É fato reconhecido que a autoavaliação em estudos pode envolver muitas variáveis ​​subjetivas e limites na coleta de dados. Esse fenômeno também foi observado em estudo realizado com enfermeiros atuantes na atenção básica em 2020, no qual cerca de 80% dos participantes demonstraram conhecimento satisfatório (com ressalvas quanto à sequência dos cuidados). Porém, 62,5% desses profissionais não se sentiam confiantes na realização dos procedimentos, apesar de possuírem experiência prática significativa.15

Porém, ao analisar conjuntamente os aspectos relacionados ao nível de segurança e as principais preocupações nos cuidados de RCP, observa-se que a dificuldade na autoavaliação não é a única variável que reduz a confiança dos estudantes. A falta de prática no treinamento dos participantes contribui para a maior preocupação em relação aos cuidados: 39,62% dos estudantes afirmam se preocupar com aspectos da realização da RCP na prática, tanto pela falta de experiência quanto por aspectos da qualidade das manobras. As outras grandes dificuldades estão relacionadas ao gerenciamento do estresse emocional e ao controle da cena, situações que também podem ser exercidas em práticas e simulações.

Participante A22:Acho que na parte mecânica, na hora de realizar as compressões corretamente.

Participante A28:Fale o suficiente para se sentir seguro.

Participante A31:Técnica, mantenha a frequência + profundidade apropriada.

Participante A53:Tenha confiança em si mesmo e faça os procedimentos corretamente.

MELHORIAS NA APRENDIZAGEM:

Em relação aos recursos e treinamentos que poderiam ser incluídos para melhorar o aprendizado da RCP, aproximadamente 89% dos participantes indicaram, de diferentes maneiras, que o ensino contínuo desde o início do treinamento, abrangendo tanto o conteúdo teórico como a prática com simulações, seria benéfico para melhorar o aprendizado. A palavra “prática” foi utilizada 21 vezes, o termo “simulação” foi mencionado por 4 participantes e 21 estudantes demonstraram interesse em frequentar cursos de primeiros socorros ou APH.

A ideia de aprendizagem mais eficaz sugerida pela maioria dos participantes corrobora as recomendações da American Heart Association. De acordo com as diretrizes de Ciência da Aprendizagem da AHA, o ensino de RCP é mais eficaz quando é conduzido como um treinamento de reforço de curto intervalo para aumentar a retenção de habilidades e quando inclui prática acompanhada de feedback e padrões de aprovação para garantir a melhoria das habilidades práticas.6

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Diante dos resultados apresentados, pode-se compreender que a maioria dos participantes da pesquisa possuía formação prévia e afirmaram ter familiaridade com o processo de atendimento à parada cardiorrespiratória. Porém, encontramos uma fragilidade no processo de ensino-aprendizagem, onde os alunos demonstraram algum conhecimento da teoria desse processo, mas não tinham confiança no cuidado da parada cardíaca. Os dados são muito preocupantes, principalmente considerando que alguns dos participantes já estão fazendo estágio e estão próximos de se formar. Vários fatores podem estar relacionados com esta fragilidade no processo de ensino-aprendizagem, como a falta de instalações de ensino adequadas, estruturas desatualizadas ou uma carga limitada de trabalhos práticos na licenciatura.

Verificou-se que a maioria dos participantes compreendeu os conceitos de simulação realística e a defendeu como significativa no processo de aprendizagem.  

É importante que as instituições de ensino invistam em práticas simuladas, principalmente aquelas com alta fidelidade, levando em consideração que quanto maior a fidelidade, mais próxima ela fica da realidade, para que o aluno ganhe autoconfiança no cuidado de seus pacientes. É também importante que as instituições de ensino superior promovam organizações como as ligas acadêmicas, que são espaços extracurriculares onde os estudantes podem desenvolver competências teóricas e práticas.

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1 maka66870@outlook.con
Professora do curso de Medicina, Paraguai
2 letivendrametto@gmail.com – ORCID: 0009-0003-7193-7132
3 ribeiro250995@gmail.com SILVA – ORCID: 0000-0001-8078-6346

Alunos do curso de Medicina, Paraguai‌