COMPORTAMENTO ALIMENTAR E MICROBIOTA INTESTINAL E SUA RELAÇÃO COM A ANSIEDADE

EATING BEHAVIOR AND INTESTINAL MICROBIOTA AND RELATIONSHIP WITH ANSITY

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102411151656


Gabriela Gomes Alencar¹
Francisca Marta Nascimento de Oliveira Freitas²
Rosimar Honorato Lobo3


RESUMO

Introdução: O comportamento alimentar é um reflexo da saúde e equilíbrio mental, abrangendo os estudos sobre a influência da microbiota intestinal e sua relação com a ansiedade. Objetivo: Descobrir como o comportamento alimentar se relaciona com a microbiota intestinal do ansioso e seus efeitos. Trata-se de uma pesquisa de revisão de literatura. Resultado: A microbiota intestinal pode influenciar o funcionamento do eixo intestino-cérebro e alterar funções cerebrais e até mesmo o comportamental. A relação entre ansiedade e alimentação é individual e pode variar em cada organismo, geralmente resulta em preocupações com o peso, autoestima, imagem corporal ou aversão a alimentos e refeições. Enquanto que para outros, as escolhas alimentares tende-se a ser um alivio e equilíbrio. Discussão: As alterações de humor, psicológicas, estilo de vida e alimentação refletem na saúde do ansioso. Conclusão: Para que seja possível promover mudanças e avanços é necessário abordagens distintas e particular em cada indivíduo.

Palavras-chave: microbiota intestinal, ansiedade, eixo intestino-cérebro, comportam ento alimentar.

ABSTRACT

Introduction: Eating behavior is a reflection of health and mental balance, and studies on the influence of the intestinal microbiota and its relationship with anxiety.Objective: To discover how eating behavior relates to the intestinal microbiota of the anxious and its effects. This is a literature review. Results: The intestinal microbiota can influence the functioning of the gut-brain axis and alter brain functions and even behavior. The relationship between anxiety and food is individual and can vary in each organism, usually resulting in concerns about weight, self-esteem, body image or aversion to food and meals. While for others, food choices tend to be a relief and balance. Discussion: Changes in mood, psychology, lifestyle and diet have an impact on the health of anxiety sufferers. Conclusion: In order to promote change and progress, it is necessary to take a distinct and individual approach.

Keywords: gut microbiota, anxiety, gut-brain axis, eating behavior.

1. INTRODUÇÃO

O século XX resultou em mudanças mundiais nos setores da economia, saúde, ambientais e sobretudo, comportamental. De acordo com o dicionário Michaelis (2020), o comportamento tem como conceito “Conjunto de atitudes que refletem o meio social”. As mudanças de comportamento humano são constantes e variáveis sendo influenciadas pela moda, redes sociais, contexto histórico e meio social, acontecendo por diversos fatores individuais ou coletivos (Vaz; Bennemann, 2014).

Na nutrição, o termo “Comportamento Alimentar” refere-se ao conjunto de cognições e emoções que influenciam as ações e hábitos alimentares. Nesse contexto, ao abordar a mudança de comportamento relacionada à alimentação, é fundamental que o nutricionista identifique esses comportamentos e disfunções, realizando estratégias para promover mudanças nos hábitos e resolver problemas (Alvarenga et al., 2015). De acordo com Klotz-Silva, Prado e Marques (2016), os hábitos alimentares estão ligados à noção de consumo alimentar, abrangendo tanto a ingestão de energia quanto de nutrientes, além de refletir comportamentos alimentares ser associados frequentemente a aspectos psicológicos. O comportamento alimentar é um dos fatores determinantes para a saúde e equilíbrio da mental, os hábitos alimentares são provenientes de crenças, pensamentos, conceitos e sentimentos relacionados à alimentação, resultando em relações positivas com os alimentos (Manochio-Pina et al., 2018).

Os estudos sobre a microbiota intestinal tiveram seu marco teórico em 1972 por Thomas Luckey, publicando que um homem adulto carrega cerca de 100 trilhões de bactérias no sistema digestivo e mais de um trilhão sobre a pele. O conjunto de microrganismos que habitam um determinado ambiente recebe o nome de microbiota enquanto ao conjunto de genes e genomas presentes dentro da microbiota se dá o nome de microbioma (Eloy-Fadrosh; Rasko, 2013).

A função da MI é promover a digestão e a absorção dos alimentos e fornecer energia ao hospedeiro (Rajilic; De Vos, 2014; Hsu et al., 2015). O desequilíbrio da microbiota é chamado de disbiose intestinal, ocorrendo desarmonização na comunidade microbiana do intestino, normalmente caracterizado por um crescimento excessivo de bactérias nocivas ou uma redução das benéficas, podendo ocasionar multiplicação de bactérias patogênicas gerando a produção de toxinas metabólicas, induzindo a processos inflamatórios (Conrado et al., 2018). O eixo intestino-cérebro desempenha um papel crucial na saúde mental, devido à interação entre o sistema gastrointestinal e o sistema nervoso central.

A ansiedade é uma resposta emocional, natural de sentir quando se estar com medo, funcionando como um “alerta futuro” (Silva et al., 2020) caracterizada por nervosismo, apreensão, medo ou preocupação excessiva por eventos futuros, sejam eles reais ou imaginários. É essencial entender que a ansiedade é uma reação natural do organismo ao estresse. No entanto, quando essa ansiedade se torna persistente e começa a impactar as atividades diárias, ela é classificada como patológica, afetando a qualidade de vida, a estabilidade emocional e o desempenho cotidiano da pessoa (Castillo et al., 2000).

Tem-se como objetivo revisar como o comportamento alimentar e como este se relaciona com a microbiota intestinal no portador da ansiedade bem como seus efeitos, interferências e influências.

2 METODOLOGIA
2.1 Tipo de estudo

Este estudo é uma investigação exploratória que utiliza uma abordagem de revisão da

literatura.

2.2 Coleta de dados

Os dados foram pesquisados em bibliotecas como: Scielo, Google Acadêmico, PubMed e Biblioteca Virtual de Saúde, bem como a busca em livros e periódicos. Os descritores pesquisados foram microbiota, alimentação, hábitos alimentares, comportamento alimentar, eixo intestino-cérebro e disbiose. Os dados foram analisados segundo os critérios de elegibilidade e inelegibilidade, respectivamente apresentados na tabela 1. Tabela 1 – Critérios de elegibilidade e inelegibilidade

ElegibilidadeInelegibilidade
Público alvo crianças, adolescentes, adultos e idosos
Artigos e pesquisas publicados em 10 anosArtigos e pesquisas publicados + 10 anos
Artigos ou periódicos publicados que com downloads de forma gratuitaArtigos ou periódicos publicados em linguagem diferente ao português e inglês
Artigos ou estudos publicados em sites sem credibilidades, fontes autorais e científicas.
2.3 Análise de dados

Como obras atualizadas, conteúdo referente a saúde mental, alimentação, microbiota intestinal e ansiedade.

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção de artigos e obras literárias.”

Fonte: Autoria própria (2024)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Comportamento alimentar

Em 1913 foi publicado “A Psicologia como um behaviorismo vê” por John B. Watson (surgindo o termo Behaviorismo que significa comportamento) pois houve a necessidade de ser estudado o comportamento não atribuído somente à saúde mental mas também ao comportamento, anos depois a ser considerado por Bock; Furtado; Teixeira, (1992) tornandose um marco importante para a psicologia, rompendo o status de ser até então apenas uma ciência filosófica.

Na Nutrição o termo “comportamento alimentar” é tratado como um conjunto de cognições e afetos que regem as ações e condutas alimentares, nesta forma na abordagem de mudança do comportamento para o alimento, cabe ao nutricionista identificar os comportamentos e disfunções, aplicando estratégias para as mudanças de costumes e solução de problemas (Alvarenga et al., 2015). O comportamento alimentar é um campo interdisciplinar onde vários componentes biológicos, psicológicos e sociais convergem para moldar a forma como interagimos diariamente com os alimentos (Alvarenga et al., 2019).

3.2 Elementos que afetam o Comportamento Alimentar
3.2.1 Fisiológicos

Os fatores fisiológicos desempenham um papel crucial no comportamento alimentar tais como a fome e saciedade. O hipotálamo funciona como o codificador químico do apetite e da saciedade, apresentando regiões morfologicamente diferentes que regulam esses processos, como o Centro da Ingestão Alimentar e o Centro da Saciedade (Tezoto; Muniz, 2020; Kalra et al., 1999).

A leptina é uma proteína cuja a produção está relacionada com a quantidade de massa adiposa. Está presente nos adipócitos, no trofoblasto placentário, no músculo esquelético, no epitélio gástrico e na glândula mamária. A adipocitocina inibe a produção e liberação do NPY, um neuropeptídeo estimulador potente da fome, controlando a ingestão alimentar, o metabolismo glícidico e lipídico, o aumento do gasto energético e o controle neuroendócrino da fome por meio de neurotransmissores hipotalâmicos (Friedmann; Hallas, 1998).

A grelina é um hormônio que regula a ingestão alimentar, inibindo os neurônios POMC (pró-opiomelanocortina). Além disso, ela estimula a liberação do hormônio de crescimento (GH), regula a acidez e a motilidade gástrica, e influencia as atividades cardiovasculares (Tschop; Smiley; Heiman, 2000). Esse hormônio é secretado principalmente pelas células do trato gastrointestinal, embora também sejam produzidos em menor quantidade pelo hipotálamo, duodeno, coração, rins e pulmões (Ariyasu et al., 2001). Além disso, refeições ricas em glicose podem inibir a secreção de grelina (Haqq, 2003).

Recompensa e prazer: Certos alimentos podem desencadear respostas de recompensa no cérebro, liberando neurotransmissores como dopamina, que estão associados ao prazer (Kaufmann et al., 2021). Isto pode influenciar nas escolhas alimentares e o comportamento alimentar (Baik, 2021).

Extímulos externos: Aroma, sabor, aparência e disponibilidade de alimentos, também desempenham um papel importante no comportamento alimentar, ativando sistemas sensoriais que podem influenciar a ingestão alimentar (Campraia, 2004).

3.2.2 Psicológico

A psicologia brasileira tem se concentrado no fenômeno do comportamento alimentar quase principalmente sob a perspectiva da psicologia social (Amon, 2014). A psicologia desempenha um papel importante na explicação do que comemos, da própria seleção dos alimentos, ou seja, da escolha dos alimentos; e QUANDO comemos está relacionado ao horário em que a comida é ingerida. Sobretudo, vale ressaltar que existem outros parâmetros importantes para categorizar o comportamento alimentar humano contemporâneo, aqui denominado COMO comemos, como o contexto e os gatilhos a partir dos quais o comportamento alimentar se inicia, onde, quando, respostas a curto, médio e longo prazo, etc. Aspectos de COMO comemos é ainda um campo pouco estudado (Alvarenga et al., 2015).

A psicologia possui tamanha importância na explicação na compreensão clássica sobre o processo de seleção alimentar, representando tanto os componentes que podem compor o processo de seleção alimentar como as áreas de estudo dentro do campo considerado (Alvarenga, Dahás e Moraes, 2021).

Figura 2 – Curso da Seleção alimentar.

Fonte: Alvarenga, Dahás e Moraes, (2021).

Por muita das vezes ou quase sempre, somente educação nutricional e dietas não são o suficiente para mudanças de padrões alimentares, são necessárias medidas especificas ou até mesmo particulares com cada indivíduo para que se tenha êxito em mudanças de hábitos alimentares e comportamentais. Compreender, entender, avaliar as escolhas dos indivíduos, como encaram a comida, o que pensam, o sabor, o prazer, consequências é competência ao nutricionista (Alvarenga et al., 2019).

3.2.3 Social

De acordo com a teoria da comparação social de Festinger (1954) as pessoas possuem uma necessidade natural de buscar firmações entre suas crenças, atitudes ou comportamentos, e fazem isso frequentemente comparando-se com os outros. Quando encontram divergências, sentem um desconforto psicológico mais conhecido como dissonância cognitiva e para reduzir essa dissonância, as pessoas podem mudar suas crenças ou comportamentos para se alinhar com os outros, ou podem buscar novas informações que apoiem suas próprias crenças. Além disso, as pessoas tendem a se comparar com pessoas que têm características semelhantes, como idade, gênero e habilidades. As comparações se tornam mais presentes na medida em que os consumidores têm cada vez mais acesso aos resultados obtidos por outras pessoas por meio da internet (Bortoli; Santos, 2014).

A mídia também é um fator determinante na construção de hábitos alimentares torna-se cada dia mais influente no meio social de todas as idades. A adolescência é a fase da vida que é marcada por diversas mudanças físicas, comportamentais e psicossociais estando relacionada com a modulação da autoimagem. (Bittar; Soares, 2020). A mídia pode se apresentar de diversas formas, tais como apresentada na Tabela 2.

Tabela 2 – Formas de Mídias

Referência Forma Característica

Collins, 2018.Propaganda e PublicidadesPrincipalmente no ramo alimentício, os meios de despertar o consumo alimentar (geralmente não saudáveis) estão a televisão, internet e redes sociais. As empresas costumam usar estratégias de marketing persuasivas para atrair clientes, principalmente crianças e adolescentes mas é capaz de atingir até o público da terceira idade.
Fernandes, 2019.Padrões de belezaA mídia frequentemente associa a magreza a padrões de beleza ideal, podendo resultar a adoção de dietas extremas ou restritivas para atingir esses padrões. Distúrbios alimentares e problemas de saúde graves como anorexia, bulimia, depressão podem estar relacionados.
Ferreira, 2022.Influencers sociaisOs influenciadores de mídias sociais têm um grande poder de influência sobre o comportamento alimentar de seus seguidores. Eles frequentemente compartilham suas dietas, exercícios e recomendações de produtos alimentícios normalmente sem orientações médicas e nutricionais.

3.3 Microbiota intestinal

Os estudos sobre a microbiota intestinal teviram seu marco teórico em 1972 realizado por Thomas Luckey, publicando que um homem adulto carrega cerca de 100 trilhões de bactérias no sistema digestivo e mais de um trilhão sobre a pele (Luckey, 1972). O conjunto de microrganismos que habitam um determinado ambiente, como por exemplo o intestino humano, recebe o nome de microbiota enquanto ao conjunto de genes e genomas presentes dentro da microbiota se dá o nome de microbioma (Eloy-Fadrosh; Rasko, 2013).

Em sua totalidade, a microbiota possui mais de 5 filos e aproximadamente 160 milhões de espécies no intestino grosso. Embora a composição bacteriana da microbiota possa variar entre indivíduos, foi sugerido que a microbiota intestinal de todos os humanos se pode classificar como um de três enterotipos principais, sendo cada um destes caraterizado por níveis elevados de um único género: Bacteroides spp., Prevotella spp. ou Ruminococcus spp. (Arumugam et al., 2011).

A função da MI é promover a digestão e a absorção dos alimentos e fornecer energia ao hospedeiro (Rajilic; De Vos, 2014; Hsu et al., 2015).

Os humanos nascem praticamente livre de microrganismos, um pouco depois, vários microrganismos derivados da mãe ou do ambiente são adquiridos e instalados ao longo do corpo (Kataoka, 2016). Segundo Rajilic; De Vos (2014), a Escherichia coli e Enterococcus são detectados pela primeira vez logo após o nascimento, a exposição deve-se provavelmente durante o parto, passado da mãe para o filho e ambiente. Enquanto, Bifidobacterium e Lactobacillus são adquiridos durante a amamentação. Sobretudo, o microbioma adquirido pelo recém-nascido depende do modo como nasce, uma vez que o microbioma dos bebés nascidos por parto vaginal se assemelha ao microbioma vaginal e intestinal da mãe, enquanto os bebés nascidos por cesariana possuem um microbioma semelhante ao que geralmente se encontra na pele ou no ambiente hospitalar (Biasucci et al., 2010; Domingez-Belo et al., 2010).

Figura 3 – Desenvolvimento do Microbioma

Fonte: Adaptado de Grenham et al., 2011).

O relacionamento entre hospedeiro e microbiota são simbióticos, sendo o intestino do hospedeiro um local para crescimento bacterianos e nutrição dos alimentos não digeridos e muco removido, enquanto as bactérias garantem tecido e desenvolvimento imunológico do intestino. Assim, o bom funcionamento dos sistemas hospedeiros e a microbiota é vital para a homeostase intestinal (Kataoka, 2016).

O desequilíbrio da microbiota é chamado de disbiose intestinal, ocorre quando há uma desordem na comunidade microbiana do intestino, normalmente caracterizado por um crescimento excessivo de bactérias nocivas ou uma redução das benéficas, podendo ocasionar multiplicação de bactérias patogênicas gerando a produção de toxinas metabólicas, induzindo a processos inflamatórios (Conrado et al., 2018).

Os sintomas da disbiose intestinal podem variar para cada organismo, mas no geral, podem incluir inchaço, gases, diarreia, prisão de ventre, dor abdominal e fadiga e suas causas estão relacionadas com a má alimentação, bebidas alcoólicas, uso de antibióticos, o estresse, a disponibilidade de material fermentável, o tempo de trânsito intestinal, o pH intestinal e o estado imunológico do hospedeiro (Neto, 2022).

O tratamento mais eficaz para a disbiose é realizado com prebióticos e probióticos. Os alimentos prebióticos possuem a capacidade de estimular o crescimento de algumas espécies de bactérias que vivem nesse ambiente, resultando em uma série de benefícios ao organismo (Ziemer; Gibson, 1998) como lactulose, inulina e diversos oligossacarídeos.

Os probióticos são microrganismos vivos que administrados em quantidades ideais oferecem benefícios para a saúde do hospedeiro, como a homeostase da microbiota, diminuição da permeabilidade intestinal, proteção contra invasores patogênicos, auxílio nos reestabelecimentos pós antibicoterápicos e estimulação do sistema imunológico (Wall et al., 2009; Santos; Varavalho, 2011). Este desequilíbrio pode levar a vários sintomas gastrointestinais etambém relaciona-se com a saúde geral. As mudanças da disbiose pode resultar negativamente na fisiologia do intestino, ocorrendo transmissões inadequada de estímulos ao longo do eixo intestino-cérebro, podendo provocar alterações nas funções do sistema nervoso central e o desenvolvimento de doenças. O stress também pode afetar a microbiota modificando a sua composição, uma vez que pode influenciar as funções do intestino (Grenham et al., 2011). A figura abaixo revela as diferenças entre o estado saudável e o stress, resultando em alterações significativas na microbiota e como ela se relaciona com o bem-estar do ser humano.

Figura 4 – Eixo microbiota-intestino-cérebro

Fonte: Adaptado de Cryan; Dinan, (2012).

3.3.1 Eixo intestino-cérebro e a saúde emocional

O eixo cérebro-intestino é uma via de comunicação bidirecional entre o sistema nervoso autônomo e o sistema nervoso entérico, funcionando principalmente por meio do nervo vago. Essa conexão se estende do tronco cerebral ao trato digestivo, regulando vários aspectos da passagem dos materiais digeridos pelo intestino e, assim, formando o eixo cérebro-intestino (Eisensten, 2016; Clarke et al., 2013).

A M.I pode influenciar o funcionamento do eixo intestino-cérebro, alterando suas funções cerebrais e até mesmo o comportamental, tornando-se ainda mais importante para o estudo e compreensão de doenças mentais e psiquiátricas (Mayer et al., 2014). Possui um papel determinante durante as diferentes fases do neurodesenvolvimento, durante a colonização inicial e desenvolvimento da microbiota eventos podem determinar o estado de saúde mental, em fases mais tardias da vida do indivíduo (Borre et al., 2014).

Devido a influência da comunicação entre o sistema gastrointestinal e o sistema nervoso central, o eixo intestino-cérebro desempenha um papel relevante na saúde mental. Esta interação não afeta somente digestão, mas também o humor, o comportamento e a saúde mental como já relatado anteriormente. A influência pode ocorrer das seguintes formas:

Produção de Neurotransmissores: O intestino é uma importante fonte de neurotransmissores, como a serotonina, que desempenham um papel fundamental no controle do humor, fome e sede. (Vedovato et al., 2014). A serotonina é um neurotransmissor excitatório considerado importante por ser responsável por estimular as contrações peristálticas e secretórias pós-prandial, além de ativar os nervos sensoriais extrínsecos. Cerca de mais de 90% da serotonina é produzida no intestino, alterações podem afetar diretamente o humor e o bemestar mental (Gershon; Tack, 2007; Vedovato et al., 2014).

Inflamação e resposta imunológica: Distúrbios gastrointestinais, como a síndrome do intestino irritável (doença gastrointestinal funcional caracterizada por dor ou desconforto abdominal associados a alterações na característica das evacuações) e a doença inflamatória intestinal, frequentemente associados a distúrbios de saúde mental, como depressão e ansiedade. A inflamação crônica e a ativação do sistema imunológico podem afetar negativamente no organismo (Vedovato et al., 2014).

Estresse: O estresse pode perturbar o equilíbrio do eixo intestino-cérebro, resultando em alterações na permeabilidade intestinal, na motilidade e na composição da microbiota. Essas mudanças contribuem para distúrbios de saúde mental, como transtorno bipolar, ansiedade e depressão (Moreira et al., 2023).

3.4 ANSIEDADE

A ansiedade é uma resposta emocional, natural de sentir quando se estar com medo, funcionando como um “alerta futuro” caracterizado por nervosismo, apreensão, medo ou preocupação excessiva por eventos futuros, sejam eles reais ou imaginários. É fundamental reconhecer que a ansiedade é uma resposta natural do corpo ao estresse, mas quando se torna persistente atrapalhando a vida diária, precisa de tratamento adequado. A ansiedade elevada é desencadeada por pensamentos acelerados (pensamentos do tipo catastróficos), que superestimam a probabilidade do pior evento possível ocorrer (Lopes, 2024).

A ansiedade e o medo constante são reconhecido como patológicos quando não há controle tornando-se desproporcional em relação ao estímulo, interferindo a qualidade de vida, o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo (Castillo et al., 2000).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas somando 9,3% da população. O alerta aos brasileiros sobre a saúde mental é importante visto que, uma em cada quatro pessoas no país sofrerá com algum transtorno mental em algum momento da vida. A Vittude (plataforma online voltada para a saúde mental e trabalho) realizou um levantamento resultando que 37% das pessoas estão com estresse extremamente severo, enquanto 59% se encontram em estado máximo de depressão e a ansiedade atinge níveis mais altos, chegando a 63% (WHO, 2023).

A ansiedade possui relação direta com escolhas e padrões alimentares como por exemplo, certos nutrientes e neurotransmissores desempenham papel importante na regulação do humor e saciedade. Alimentos ricos em triptofanos podem aumentar a produção de serotonina no intestino elevando o bem-estar emocional, sobretudo, alimentos ricos em gorduras e teor elevado de sódio, gorduras e ultraprocessados aumentos os riscos de depressão e ansiedade (Pereira, 2023; Zanello, 2012).

Lidar com ansiedade em relação à alimentação pode ser desafiador, mas existem maneiras de lidar com isso como: manter uma rotina alimentar regular, priorizar alimentos nutritivos, alimentos em excesso e principalmente apoio profissional. O crescente número de diagnósticos de transtornos, como depressão e ansiedade, é devido, as manifestações dos sintomas da doença indevido ao ritmo da vida moderna, sociedade, dieta alimentar e estresse (Schnorr; Bachner, 2016).

A importância do conhecimento sobre sinais e sintomas da ansiedade é de caráter mundial, sendo necessário intervenções psicológicas, medicamentosas e nutricionais para o bemestar físico e mental do ser humano.

4 CONCLUSÃO

O comportamento alimentar é resultante de fatores externos, internos e meio que o indivíduo está inserido, que resultam na modulação das escolhas e preferências alimentares visto que a microbiota intestinal através da relação entre o eixo intestino-cérebro influencia as funções cerebrais e até mesmo o comportamentais. Indivíduos com disbiose não possuem esta barreira de proteção devido ao descontrole da população de bactérias benéficas contribuindo para a produção de toxinas metabólicas , indução a processos inflamatórios, inchaço, gases, diarreia, prisão de ventre, dor abdominal e fadiga. Sobretudo, este desequilíbrio aumenta o risco para transtornos neurodesenvolvimenal como TDH, hiperatividade, autismo, doenças neurodegenarativas como Alzheimer. Pessoas com ansiedade, estresses e depressão apresentam alterações nos filos de bactérias benéficas da microbiota intestinal, influenciando nas escolhas e definindo padrões alimentares não saudáveis.

O consumo de prebióticos, probióticos, redução do consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açucares, gorduras e modificações da dieta têm se mostrado eficientes na redução de comportamento de estresse e ansiedade, melhorando o humor, saciedade, regulando a população microbiana benéfica e equilíbrio de neurotransmissores como dopamina.

A revisão contribui também socialmente para a formação de opinião e conhecimentos, identificando as necessidades e prevenção.

Quanto as limitações teórica encontram-se dificuldades nas referências sobre os temas propostos, resultando na necessidade de expandir essa temática no campo da Nutrição e Ciências Sociais. Posto isto, é importante destacar que esses resultados não são conclusivos, sugerindo futuras pesquisas sejam utilizadas para maiores evidências e ampliar a compreensão da temática proposta.

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Graduanda ou Graduando do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: Gabrielagomesalencar123@gmail.com
² Orientadora do TCC, Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: francisca.freitas@fametro.edu.br
3 Co-orientador(a) do TCC, Nutricionista pela Faculdade Nilton Lins. Especialista em Psicopedagogia. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: Rosimar.lobo@fametro.edu.br