SYPHILIS IN ADOLESCENCE: THE IMPORTANCE OF SEX EDUCATION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411142205
Bedjhinie Louis1,
Orientadora: Patrícia Farias2
RESUMO
Este estudo aborda o aumento da incidência de sífilis entre adolescentes e a importância da educação sexual como ferramenta de prevenção. A revisão bibliográfica realizada demonstra que fatores como a iniciação sexual precoce, o uso inconsistente de preservativos e a falta de programas educativos eficazes contribuem para a vulnerabilidade dessa população. O trabalho evidencia a necessidade de reformulação e fortalecimento das políticas públicas e dos programas de educação sexual, além de maior acesso a métodos de prevenção. A conclusão ressalta que somente com uma abordagem integrada e multidisciplinar será possível reduzir os índices de infecção por sífilis entre os jovens.
Palavras-chave: Sífilis, Adolescência, Educação Sexual
ABSTRACT
This study addresses the increasing incidence of syphilis among adolescents and the importance of sexual education as a prevention tool. The bibliographic review shows that factors such as early sexual initiation, inconsistent condom use, and the lack of effective educational programs contribute to this population’s vulnerability. The paper highlights the need for the reformulation and strengthening of public policies and sexual education programs, as well as increased access to preventive methods. The conclusion emphasizes that only through an integrated and multidisciplinary approach will it be possible to reduce syphilis infection rates among young people.
Keywords: Syphilis, Adolescence, Sexual Education
1 INTRODUÇÃO
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) que, apesar de ser conhecida e tratável, tem apresentado índices alarmantes de crescimento, especialmente entre adolescentes. Este aumento reflete uma lacuna na educação sexual oferecida a essa população, evidenciando a necessidade de intervenções mais eficazes para prevenir a disseminação da doença.
A adolescência é uma fase de descobertas, experimentações e vulnerabilidades, e, sem uma orientação adequada, os jovens ficam expostos a diversos riscos à saúde sexual, incluindo as ISTs. No Brasil, a sífilis congênita e adquirida continua a ser um problema de saúde pública, o que torna imprescindível a análise e proposição de estratégias educativas focadas nessa faixa etária.
O aumento da sífilis na adolescência aponta para falhas nos programas de prevenção e educação sexual, uma vez que a adolescência é um período marcado por intensa curiosidade sexual e a busca pela autonomia.
Nesse contexto, a falta de acesso a informações precisas e adequadas sobre sexualidade e saúde reprodutiva contribui para o aumento de comportamentos de risco, como a prática de sexo desprotegido, que favorece a transmissão de infecções como a sífilis. A educação sexual, se bem implementada, pode atuar como uma ferramenta poderosa para reduzir esses índices, promovendo o conhecimento e a conscientização sobre práticas seguras e sobre a importância do autocuidado.
Diante desse cenário, a questão que orienta este estudo é: de que forma a educação sexual pode atuar como uma estratégia eficaz para reduzir a incidência de sífilis entre adolescentes? A problemática reside na dificuldade em alcançar a população adolescente de maneira efetiva, seja por barreiras culturais, educacionais ou mesmo pela ausência de políticas públicas que priorizem essa faixa etária.
A ausência de uma abordagem contínua e contextualizada nas escolas e nos programas de saúde resulta em um desconhecimento generalizado sobre os perigos e as formas de prevenção da sífilis. Este estudo se justifica pela necessidade de promover estratégias preventivas direcionadas ao público adolescente, considerando que esta fase da vida é crucial para a formação de hábitos e comportamentos de saúde.
A sífilis, sendo uma IST prevenível, revela um problema de saúde pública que poderia ser minimizado com educação adequada. Portanto, este estudo busca contribuir com a discussão sobre a importância da educação sexual e propor medidas que possam ser adotadas nos ambientes escolares e nos programas de saúde pública.
O presente estudo tem como objetivo geral analisar o impacto da educação sexual na prevenção da sífilis entre adolescentes. Os objetivos específicos incluem:
a) Identificar os fatores que contribuem para a alta incidência de sífilis na adolescência; b) Avaliar o papel dos programas de educação sexual nas escolas públicas e privadas; c) Propor estratégias de intervenção educativa para a redução da sífilis entre adolescentes.
Este estudo será conduzido por meio de uma revisão bibliográfica, com o intuito de identificar e analisar artigos, publicações e dados estatísticos relevantes sobre o tema. A metodologia adotada permitirá uma visão crítica e aprofundada acerca das práticas educativas atuais e dos índices de sífilis na população adolescente. As fontes de pesquisa incluirão bases de dados acadêmicas, bem como relatórios governamentais e de organizações de saúde pública, fornecendo uma visão ampla e fundamentada sobre o problema.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Definição e histórico da sífilis
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum, que tem como principais alvos os órgãos genitais, a pele, as mucosas e, em estágios mais avançados, o sistema cardiovascular e nervoso. A transmissão ocorre majoritariamente por meio de relações sexuais desprotegidas, mas também pode acontecer de mãe para filho durante a gestação ou o parto, configurando a chamada sífilis congênita (Domingues et al., 2021).
Esse tipo de transmissão vertical é especialmente grave, pois pode resultar em malformações congênitas, aborto ou morte neonatal. A história da sífilis remonta ao século XV, sendo uma doença que, desde sua descoberta, tem provocado grandes impactos na saúde pública e na sociedade como um todo, principalmente nos continentes europeu e americano, onde as consequências foram devastadoras ao longo dos séculos (Marchesini, 2024). A doença foi amplamente temida devido à sua alta taxa de disseminação e à gravidade das complicações que surgiam em seus estágios mais avançados, afetando tanto a saúde individual quanto coletiva.
Descoberta no final do século XV, durante uma epidemia que varreu a Europa após as campanhas militares de Carlos VIII da França, a sífilis recebeu inicialmente o nome de “mal francês”, embora em diferentes regiões fosse associada a países estrangeiros inimigos, como “mal espanhol” ou “mal italiano”.
Esse reflexo de xenofobia evidenciava o temor em relação à doença, que se espalhou rapidamente pelo continente, levando a surtos epidêmicos que dizimaram populações inteiras (Ros-Vivancos et al., 2018). Naquela época, as opções de tratamento eram extremamente limitadas e incluíam o uso de mercúrio, um elemento que causava efeitos colaterais severos e, em muitos casos, resultava em um estado de saúde pior do que o provocado pela própria infecção (Magalhães et al., 2020). O uso de mercúrio não era eficaz e frequentemente resultava em envenenamento, prolongando o sofrimento dos pacientes sem oferecer uma cura real.
Foi apenas no início do século XX, com a descoberta da penicilina pelo cientista Alexander Fleming em 1928, que a sífilis começou a ser efetivamente tratada. No entanto, a aplicação em larga escala desse antibiótico no tratamento da doença só foi possível a partir dos anos 1940, após o trabalho do médico John Mahoney, que provou de forma conclusiva a eficácia da penicilina contra o Treponema pallidum (Marchesini, 2024).
Esse avanço revolucionou o controle da sífilis, permitindo que milhões de pessoas fossem tratadas e evitando complicações graves, como a sífilis terciária, que antes levava a quadros de paralisia, cegueira e demência. A introdução da penicilina marcou um ponto de virada na saúde pública, reduzindo drasticamente a taxa de mortalidade associada à sífilis e tornando-a uma doença tratável (Domingues et al., 2021).
“Apesar dos avanços no tratamento da sífilis com a descoberta da penicilina, a doença continua sendo um desafio significativo de saúde pública em várias partes do mundo. O aumento nos casos de sífilis, especialmente entre populações jovens e vulneráveis, destaca a necessidade urgente de ampliar as campanhas de conscientização e o acesso a métodos preventivos, como o uso de preservativos e a testagem rápida” (Domingues et al., 2021, p. 109).
Apesar dos avanços científicos e da eficácia da penicilina, a sífilis permanece uma questão de saúde pública relevante, especialmente em países em desenvolvimento, onde o acesso a diagnósticos precoces e tratamentos adequados ainda enfrenta barreiras significativas.
No Brasil, por exemplo, houve um aumento preocupante no número de casos de sífilis adquirida e congênita nos últimos anos, devido a fatores como a redução no uso de preservativos, o difícil acesso ao tratamento com penicilina em algumas regiões e a desinformação da população sobre a prevenção e os cuidados necessários (Araujo et al., 2020).
Dados epidemiológicos mostram que, entre 2010 e 2021, a taxa de incidência de sífilis adquirida em estados como Mato Grosso passou de 16,2 para 70 casos por 100 mil habitantes, refletindo um desafio crescente para as autoridades de saúde pública (Magalhães et al., 2020).
A evolução da sífilis segue uma trajetória em quatro estágios: primário, secundário, latente e terciário. Na fase primária, o principal sintoma é o aparecimento de uma lesão conhecida como cancro duro, que é indolor e geralmente se localiza nos órgãos genitais, ou em outras áreas expostas durante o ato sexual. Se não tratada, a doença avança para a fase secundária, na qual surgem erupções cutâneas e sintomas mais generalizados, como febre e mal-estar.
A fase latente é caracterizada pela ausência de sintomas visíveis, mas a bactéria continua ativa no organismo, podendo persistir por anos. Finalmente, a fase terciária é a mais grave e pode ocorrer décadas após a infecção inicial, afetando gravemente o sistema cardiovascular e o sistema nervoso, com o risco de provocar complicações fatais (Ministério da Saúde, 2020). Este estágio pode levar a consequências debilitantes, como aneurismas e danos neurológicos irreversíveis.
A detecção precoce da sífilis foi grandemente facilitada pelos testes rápidos, que são simples, acessíveis e podem ser realizados em campanhas de saúde pública. Estes testes permitem o diagnóstico imediato, fundamental para iniciar o tratamento e impedir a transmissão vertical, especialmente em gestantes (Magalhães et al., 2020).
No entanto, a subnotificação continua sendo um dos principais desafios no combate à sífilis. Muitos casos não são diagnosticados ou registrados corretamente, o que impede a implementação de políticas públicas mais eficazes para o controle da doença (Araujo et al., 2020). A subnotificação cria lacunas no sistema de saúde, dificultando o planejamento de ações preventivas e o acompanhamento das populações mais vulneráveis.
Esforços contínuos para combater a sífilis incluem a ampliação dos programas de testagem e tratamento, especialmente em populações mais vulneráveis, como gestantes e adolescentes. A educação sexual, focada na prevenção da sífilis e de outras infecções sexualmente transmissíveis, é uma estratégia central para reduzir a disseminação da doença, principalmente entre os jovens que estão no início de sua vida sexual ativa (Marchesini, 2024).
A falta de conhecimento sobre as formas de prevenção, como o uso de preservativos, e a importância de realizar testes regulares para ISTs, contribui para o aumento da transmissão da sífilis. Portanto, é fundamental o fortalecimento de campanhas de conscientização e programas educacionais (Magalhães et al., 2020).
Embora a sífilis seja uma doença controlável e tratável, ela permanece como um problema global de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve aproximadamente 6,3 milhões de novos casos de sífilis em todo o mundo em 2016, com a maior prevalência observada entre homens que fazem sexo com homens, destacando a importância de intervenções direcionadas a grupos de risco (Domingues et al., 2021).
Esses números enfatizam a necessidade de esforços contínuos em prevenção, diagnóstico e tratamento, especialmente em regiões com acesso limitado a serviços de saúde.
2.2 Fatores de risco na adolescência
Os fatores de risco para sífilis na adolescência são diversos e envolvem aspectos sociais, comportamentais e educacionais. Um dos principais fatores de risco é a iniciação sexual precoce, que está associada a maior vulnerabilidade às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Estudos mostram que adolescentes que começam a vida sexual antes dos 14 anos têm o dobro de chances de contrair sífilis em comparação àqueles que iniciam após essa idade (Motta et al., 2018). Esse comportamento impulsivo, aliado à falta de conhecimento sobre práticas seguras, contribui para a maior exposição a ISTs como a sífilis.
Outro fator relevante é a falta de uso consistente de preservativos durante as relações sexuais. Pesquisas indicam que o uso irregular de preservativos está diretamente ligado à maior incidência de sífilis entre adolescentes, especialmente aqueles que mantêm múltiplas parcerias sexuais (Slater & Robinson, 2014). Isso se agrava devido à percepção errônea de muitos jovens sobre a eficácia e a necessidade do preservativo em todas as relações sexuais, o que reforça a importância de campanhas educativas focadas nessa faixa etária (Denison et al., 2017).
A influência de substâncias como álcool e drogas também é um fator de risco significativo. O consumo de substâncias psicoativas está associado à desinibição comportamental, o que leva a comportamentos sexuais de risco, como sexo desprotegido e relações com múltiplos parceiros. Isso é particularmente prevalente em adolescentes, que muitas vezes não têm uma visão clara das consequências desses comportamentos (Guerra et al., 2021). O uso de drogas é frequentemente mencionado como um facilitador para a exposição ao risco de sífilis (Garbin et al., 2018).
Além dos fatores comportamentais, o contexto socioeconômico também desempenha um papel importante. Adolescentes provenientes de ambientes de baixa renda ou com baixo nível educacional tendem a ter menos acesso a informações de qualidade sobre saúde sexual e métodos de prevenção (Grillo et al., 2017). Isso cria um ciclo de vulnerabilidade, onde a falta de educação sexual adequada leva ao aumento das infecções (Guerra et al., 2021).
A troca de favores ou bens por sexo também é uma prática que eleva o risco de infecção por sífilis entre adolescentes. Essa prática, muitas vezes motivada por questões econômicas ou pela pressão de grupos, expõe os jovens a parcerias de risco e à transmissão de ISTs (Motta et al., 2018). A prostituição juvenil, embora menos discutida, é uma realidade que agrava o cenário de vulnerabilidade à sífilis nessa população (Grillo et al., 2017).
A relação com os pais e o ambiente familiar também tem grande influência sobre o comportamento sexual dos adolescentes. Jovens que têm um relacionamento aberto com os pais sobre questões sexuais tendem a ser mais informados e, portanto, menos propensos a comportamentos de risco (Denison et al., 2017). Por outro lado, a falta de diálogo sobre sexualidade em casa pode levar os adolescentes a buscarem informações em fontes não confiáveis, aumentando sua vulnerabilidade (Slater & Robinson, 2014).
Outro ponto crítico é a percepção de invulnerabilidade que muitos adolescentes têm em relação à sua saúde. Estudos mostram que adolescentes frequentemente subestimam o risco de contrair sífilis ou outras ISTs, acreditando que estão imunes ou que o problema não os afetará diretamente (Denison et al., 2017). Esse sentimento de invulnerabilidade está associado a comportamentos de risco, como a não utilização de preservativos e a negligência com o próprio cuidado.
Adolescentes que vivem em ambientes de violência ou abuso também estão em maior risco de contrair sífilis. A violência doméstica, por exemplo, tem sido associada a uma maior exposição a relações sexuais forçadas ou desprotegidas, aumentando a vulnerabilidade dos jovens a ISTs (Guerra et al., 2021). Essas situações criam um ambiente propício para o abuso e a exploração sexual, o que agrava a exposição à sífilis.
Por fim, a falta de acesso a serviços de saúde e a testagem regular também é um fator de risco crucial. Muitos adolescentes não têm o hábito de realizar exames preventivos, o que dificulta o diagnóstico precoce e a interrupção da cadeia de transmissão da sífilis (Garbin et al., 2018). A subnotificação da doença é um problema recorrente, especialmente entre os jovens, o que reforça a necessidade de ampliar o acesso aos serviços de saúde.
3. MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado com base em uma metodologia de revisão bibliográfica, o que permite a coleta e análise de dados já publicados sobre o tema. A revisão bibliográfica é uma estratégia adequada para estudos cujo objetivo é compreender o estado atual do conhecimento sobre um determinado assunto, possibilitando a identificação de lacunas e a proposição de novas abordagens.
O estudo adotado é do tipo qualitativo-descritivo, baseado em revisão da literatura existente sobre a sífilis na adolescência, com enfoque nos fatores de risco e nas medidas de prevenção através da educação sexual. A pesquisa qualitativa é ideal para analisar a percepção e o comportamento de uma população específica, como os adolescentes, em relação ao tema abordado. Por meio da revisão de publicações acadêmicas, foi possível extrair conclusões sobre o impacto de fatores socioeconômicos, comportamentais e culturais na vulnerabilidade à sífilis.
Os dados foram coletados por meio da análise de artigos acadêmicos, relatórios de saúde pública e estudos epidemiológicos. As bases de dados consultadas incluem SciELO, PubMed e BVS, selecionadas pela confiabilidade e pela vasta quantidade de material disponível sobre saúde pública e ISTs. Os artigos selecionados foram publicados entre os anos de 2014 e 2024, garantindo que as informações utilizadas fossem atuais e relevantes. Foram utilizados termos de busca como “fatores de risco para sífilis na adolescência”, “educação sexual” e “prevenção de ISTs”, sempre respeitando os critérios de inclusão e exclusão definidos previamente.
Foram incluídos no estudo artigos publicados entre 2016 e 2024, disponíveis na íntegra, em português ou inglês, e que abordassem diretamente a sífilis na adolescência ou a educação sexual como ferramenta de prevenção. Estudos que analisassem a relação entre fatores de risco e a prevalência da sífilis em populações adolescentes foram priorizados. Por outro lado, artigos que abordassem apenas outras ISTs sem relação com a sífilis ou estudos que não fossem revisados por pares foram excluídos. Além disso, foram descartados textos de opinião ou estudos que não apresentassem metodologia clara ou aplicável ao objetivo do presente estudo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados mais recentes mostram um aumento alarmante dos casos de sífilis entre adolescentes no Brasil, especialmente nos últimos dez anos. Entre 2010 e 2021, o estado de Mato Grosso apresentou um crescimento preocupante, com a incidência de sífilis adquirida aumentando de 16,2 para 70 casos por 100 mil habitantes (Magalhães et al., 2020). Esse aumento pode ser atribuído a diversos fatores, como a iniciação sexual precoce, o uso inconsistente de preservativos e a falta de acesso a programas de educação sexual adequados (Domingues et al., 2021).
Estudos revelam que adolescentes de regiões com menor acesso a serviços de saúde, especialmente em áreas rurais e de baixa renda, estão particularmente vulneráveis. Essas populações enfrentam barreiras tanto na prevenção quanto no tratamento da doença, o que agrava a disseminação da sífilis (Araujo et al., 2020). Além disso, a subnotificação de casos devido à falta de diagnóstico precoce é um fator que dificulta o controle da doença e a implementação de políticas públicas de prevenção (Marchesini, 2024).
Os programas de educação sexual são uma ferramenta poderosa na prevenção da sífilis e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Contudo, a eficácia desses programas no Brasil tem sido limitada por vários fatores, como a falta de continuidade e de abrangência no ensino de temas relacionados à saúde sexual (Garbin et al., 2018). A análise dos programas oferecidos nas escolas brasileiras revela que muitos são superficiais, sendo apresentados de forma pontual e sem a devida atualização, o que diminui sua capacidade de gerar mudanças significativas no comportamento dos adolescentes.
Além disso, a ausência de uma capacitação adequada para os professores compromete a qualidade das informações repassadas. Em muitas escolas, os professores não recebem formação específica para abordar temas de saúde sexual, o que resulta em conteúdos insuficientes ou até mesmo inadequados (Grillo et al., 2017). Outro obstáculo identificado é o preconceito e a resistência de comunidades mais conservadoras, que frequentemente dificultam a implementação de programas completos de educação sexual, focados tanto na prevenção da sífilis quanto na promoção de comportamentos saudáveis (Domingues et al., 2021).
Os resultados obtidos através da análise dos dados epidemiológicos e dos programas de educação sexual indicam que a sífilis ainda representa um desafio significativo à saúde pública, especialmente entre os adolescentes. A lacuna na implementação de programas preventivos e educativos eficazes contribui para a continuidade de comportamentos de risco e para o aumento da incidência da doença. O estudo mostrou que a educação sexual, quando aplicada de forma contínua e completa, pode ser uma ferramenta eficaz para a prevenção da sífilis (Araujo et al., 2020).
Apesar da existência de políticas públicas voltadas para a saúde dos adolescentes, a execução dessas políticas muitas vezes não alcança as populações mais vulneráveis, como adolescentes de baixa renda ou que vivem em áreas rurais. A falta de acesso a serviços de saúde, combinada com o desconhecimento sobre formas de prevenção, torna essa população particularmente suscetível à sífilis (Magalhães et al., 2020). Assim, torna-se evidente a necessidade de fortalecer os programas de educação sexual e garantir que eles sejam abrangentes e adaptados às realidades sociais e culturais dos adolescentes brasileiros (Marchesini, 2024).
O fortalecimento das políticas públicas voltadas para a educação sexual e a ampliação do acesso a métodos de prevenção, como o preservativo, são medidas urgentes para conter o avanço da sífilis entre os adolescentes. A ausência de diagnósticos precoces, aliada à subnotificação de casos, representa um desafio adicional para o controle da doença, uma vez que impede a formulação de estratégias eficazes para a contenção da sífilis (Domingues et al., 2021). Assim, os resultados indicam que o combate à sífilis na adolescência depende de uma abordagem multidisciplinar e integrada, que envolva tanto o sistema educacional quanto o de saúde pública.
5 CONCLUSÃO
A conclusão deste estudo destaca a importância da educação sexual como uma ferramenta fundamental na prevenção da sífilis entre adolescentes. O aumento da incidência da doença nessa faixa etária reflete lacunas significativas nos programas de prevenção e na disseminação de informações corretas sobre saúde sexual. O estudo revelou que fatores como a iniciação sexual precoce, o uso inconsistente de preservativos e a falta de programas educacionais contínuos contribuem diretamente para a vulnerabilidade dos adolescentes à sífilis.
É essencial que os programas de educação sexual sejam reformulados para serem mais inclusivos, completos e acessíveis a todas as camadas da população adolescente. O envolvimento de professores capacitados, a adaptação cultural dos conteúdos e a integração de políticas públicas voltadas para a saúde sexual são passos cruciais para enfrentar essa questão. Além disso, a promoção de campanhas contínuas de conscientização e o fácil acesso a métodos de prevenção, como preservativos, devem ser prioridade.
Este trabalho reforça que a prevenção da sífilis na adolescência não pode ser dissociada de uma abordagem multidisciplinar que envolva o sistema educacional, a saúde pública e a sociedade como um todo. Apenas com o fortalecimento dessas áreas será possível reduzir os índices de infecção e garantir que os adolescentes tenham uma vida sexual saudável e informada.
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1ORCID: https://orcid.org/0009-0000-0545-8844
Universidade do Sul de Santa Catarina, Brasil
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2ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4926-9815
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