REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411141654
Maria Regina Fernandes do Nascimento Cordeiro1
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo compartilhar as experiências vividas em um estágio supervisionado, ocorrido no curso de pedagogia, pela Universidade Estadual da Paraíba, abordando os momentos, espaços e a relações que permeiam o ambiente escolar, sob um olhar crítico e aberto. Para isso, fundamentou-se em autores como: Corsino (2009), Freire (2004) e Nóvoa (2005).
Palavras chave: Crianças (s). Professor (a)(es). Relação.
ABSTRACT
This article aims to share the experiences lived in a supervised internship, which took place in the pedagogy course, at the State University of Paraíba, addressing the moments, spaces and relationships that permeate the school environment, from a critical and open perspective. For this, it was based on authors such as: Corsino (2009), Freire (2004) and Nóvoa (2005).
Keywords: Children(s). Teacher(s). Relationship.
1. INTRODUÇÃO
Nos cursos de Licenciatura, a observação das vivências em sala de aula são de extrema importância, através delas podemos conhecer as dificuldades e as direções a serem seguidas e como enfrentá-las. Sendo assim, o estágio supervisionado promove este contato com a prática. Segundo Lima (2008):
Defendemos este componente curricular como espaço de aprendizagem da profissão docente e de construção da identidade profissional, que permeia as outras disciplinas da formação, no projeto pedagógico dos cursos de formação, mas é o lócus da sistematização da pesquisa sobre a prática, no papel de realizar a síntese e a reflexão das vivências efetivadas. (LIMA, 2008, p. 198)
Deste modo, o artigo tem como objetivo compartilhar as observações das vivências em sala de aula no estágio supervisionado do Ensino Fundamental, anos iniciais, durante o curso de pedagogia. A experiência ocorreu no período de maio a julho de 2022 e os dados foram coletados através da observação e do diálogo com a professora responsável pela turma.
O presente estágio foi realizado em uma turma do 4º ano B, no turno da manhã na Escola Municipal de Ensino Fundamental. Esta comporta cerca de quinhentas crianças e adolescentes no turno da manhã, entre eles alunos do Ensino Fundamental anos iniciais e anos finais, além de uma sala de recursos AEE (Atendimento Educacional Especializado). Em sua estrutura física existe uma cozinha, dezoito salas de aula, uma sala da coordenação pedagógica, uma sala da diretoria, uma sala da secretaria, uma sala dos professores, dois banheiros: feminino e masculino sendo estes adaptados para pessoas com deficiência física, apenas um corredor horizontal que separa as salas dos anos iniciais e dos anos finais, no momento do intervalo todas as crianças e adolescentes se misturam. Em todas as salas existem carteiras e uma lousa. Os recursos pedagógicos que fazem parte do dia a dia dos professores são os livros didáticos, a lousa, material impresso quando os professores preparam, e um retroprojetor, sendo o livro didático o mais utilizado.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Quem são os alunos?
As crianças em sua maioria apresentam as idades de 9 a 10 anos, cada um com sua realidade de mundo, trazendo suas imensas experiências de vida, de saberes e culturas. As meninas em sua maioria mais quietas, reservadas, sempre afastadas dos meninos, que por sua vez são mais curiosos, tagarelas, sempre falando em futebol e apostas de bola de gude. Alguns meninos são nomeados como “indisciplinados” e “desinteressados”, porém uma definição mais cabível é que são curiosos, solitários pois quando chegam no momento da aula, o tempo fica curto para compartilhar conversas e experiências como os colegas, são crianças que apresentam aparente dificuldade na aprendizagem e em seus olhos é possível notar um pedido de atenção. Após observar a dinâmica da sala, o dia a dia dessas crianças é impossível não lembrar todos os dias, o que disse Malaguzzi no poema A criança é feita de cem:
Ao contrário, as cem existem / A criança / é feita de cem. / A criança tem / cem linguagens/ cem mãos / cem pensamentos / cem modos de pensar / de jogar e de falar /cem sempre cem / modos de escutar / as maravilhas de amar / cem alegrias / para cantar e compreender / cem mundos / para descobrir / cem mundos / para inventar / cem mundos / para sonhar. / A criança tem cem linguagens / (e depois cem cem cem) / mas roubaram-lhe noventa e nove. / A escola e a cultura / lhe separam a cabeça do corpo. / Dizem-lhe: / de pensar sem mãos / de fazer sem a cabeça / de escutar e de não falar / de compreender sem alegrias / de amar e maravilhar-se / só na Páscoa e no Natal. / Dizem-lhe: que descubra o mundo que já existe / e de cem roubaram-lhe noventa e nove. / Dizem-lhe: / que o jogo e o trabalho / a realidade e a fantasia / a ciência e a imaginação / o céu e a terra / a razão e o sonho / são coisas que não estão juntas. / E lhes dizem / que as cem não existem. / A criança diz: / ao contrário, as cem existem. (MALAGUZZI, 1999)
Esses “alunos/crianças” são feitos de cem, mas muitas vezes a escola e a cultura lhes roubam noventa e nove, os nomeiam e os excluem, quando na verdade podiam aproveitar e explorar os cem: cem modos de pensar, cem modos de se expressar, cem modos de aprender, de imaginar, de inventar. Ainda sobre isso, Nóvoa retrata que o ideal-tipo de aluno não existe mais, e temos uma diversidade de “explosiva” de alunos de todos as origens, que querem ou não estar na escola, e portanto alguns educadores direcionam sua atenção para as características individuais das crianças, enquanto “outros recusam-se a olhar para as diferenças entre as crianças e refugiam-se na sua missão de provedores de saberes, pouco cuidando de indagar se algum os aprendia” (NÓVOA, 2004, p.3).
2.2 O professor e a sala de aula:
2.2.1 Quem é a professora?
A professora é pontual, demonstra ser responsável com suas atribuições, procura estudar e aprofundar seus conhecimentos para partilhar em sala de aula. Apesar de se mostrar mais rígida é possível observar o afeto que esta tem pelos alunos. Quando a mesma deseja realizar alguma atividade e não obtém recurso disponível da escola, ela não hesita em fazê-lo por conta própria se estiver em suas condições. Este é um dos pontos positivos que se ressalta, pois, a mesma está condicionada a uma situação, mas entende que não é obrigada a se manter nela, ou seja em outras palavras ela não se conforma com a realidade da escola pública que por vezes não possui tanto recurso, e mesmo que seja com pouco ela transforma essa situação. Em pedagogia da autonomia, Freire fala sobre a importância de se reconhecer como sujeito da história. “Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado.” (FREIRE, 1996, p.52)
2.2.2 Como é a sala de aula?
A sala de aula é um ambiente amplo que comporta bem todos os 25 alunos, apesar de não ter a melhor das estruturas físicas, remete ser um ambiente aconchegante, em suas paredes estão colados inúmeros cartazes, alguns produzidos pelos próprios alunos e outros pela professora, o alfabeto está exposto no fundo da sala e algo que chama atenção é que este não está de forma ordenada ou em sequência. Existe um relógio confeccionado de material emborrachado onde as crianças podem colocar a hora do dia, e um cartaz em específico chama atenção, nele contém todas as datas de aniversário das crianças. Nestes pequenos detalhes que adornam a sala de aula observa-se uma sensação de familiaridade, aconchego, um lugar que eles se sintam pertencentes a ele, pelo fato de que boa parte dos materiais trazem algo que faz parte de suas realidades e foram eles mesmos que construíram. Sobre isso, Corsino diz: “o tamanho de um espaço para criança não tem relação só com a metragem dele, mas relaciona-se com a forma como o espaço é experimentado.” (CORSINO, 2009, p. 92)
Por outro lado, nota-se a falta de recursos, de materiais ou móveis que preencham o espaço da sala, pois nesta se encontram apenas cadeiras, lousa e uma mesa do professor. Segundo Corsino: “o espaço objetivo torna-se “lugar de…” experiências, relações, criações; torna-se ambiente de vida, a partir das experiências que nele compartilhamos.”, deste modo justifica-se a necessidade de mais recursos para que sejam experimentados e compartilhados entre as crianças.
As cadeiras não são confortáveis para as crianças, são de resina plástica e possuem um braço de apoio para o caderno, portanto se a criança for canhota esta não terá acesso para sua necessidade, além disso não há lugar para as crianças guardarem suas mochilas que sempre ficam no chão ao lado da cadeira. Deste modo isto pode prejudicar no dia a dia e nas condições fatoriais e ambientais que irão influenciar na aprendizagem. A sala não possui janelas, apenas no design das paredes laterais tem pequenos quadrados que permitem a ventilação, isso me remete uma sensação de escuro, e falta de contato com o ambiente externo. Como o espaço é bem amplo, janelas acrescentariam um ar puro e uma sensação mais aconchegante de luz.
2.3 O dia a dia e as relações:
Para que exista convivência no cotidiano da escola é necessário que haja a construção de diversas relações, entre elas: Professor-aluno, aluno-professor, aluno-aluno, professor família, professor-família-gestão.
2.3.1 Relação professor-aluno
Nos dias observados pôde-se notar que a relação da professora com alunos apesar de afetuosa é um pouco rígida, isso atribui-se às atitudes, ao tom de voz que ela utiliza quando se dirige aos alunos na maioria das vezes, em seus métodos de ensino voltados para o tradicionalismo, cadeiras sempre enfileiradas, meninas de um lado, meninos do outro, a professora fala e os alunos escutam. A educadora conhece o nome de todos os alunos e os chamam pelos mesmo, domina bem os conteúdos os quais ministra o que aparenta que esta estuda e realiza um planejamento do que ensinar. Neste tópico é válido retratar um certo acontecimento presenciado nos dias de observação, o qual gerou impacto de forma negativa, quando algumas das crianças não entendiam o porquê quando se está resolvendo uma situação problema de adição e o número somado resulta de uma dezena, leva-se o ‘um’ para cima do número anterior vizinho. A resposta vinda da professora foi curta: “Por que é assim, sempre foi assim, vocês já deviam saber”. Através deste acontecimento não se pode deixar de refletir o que disse Paulo Freire em um trecho de seu livro Pedagogia da Autonomia:
O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exige do cumprimento de seu dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência. (FREIRE, 1996, P.58-59)
Diante disso, reflete-se que esta não é uma atitude que deva ser reproduzida por educadores, pois entendendo a importância que tem a relação professor-aluno, relação esta que é preciso se fortalecer, conquistando a confiança das crianças, não deixando de lado a posição de autoridade (esta que não pode jamais ser confundida com autoritarismo), porém ainda assim ser generoso(a), bom ouvinte, alguém que os alunos possam ver como parceiro(a), incentivador(a), que eles fiquem confortáveis em expressar suas curiosidades, suas dificuldades, sabendo que juntos podem construir o conhecimento.
2.3.2 Relação aluno-professor
Os alunos por sua vez agem de acordo como são tratados, em sua maioria se mostram respeitosos, disciplinados, e sempre mais calados no que diz respeito aos assuntos da sala de aula, não demonstram muitas opiniões próprias, e até os mais “indisciplinados” agem reprimidos e cedem a tais comportamentos por medo de ameaças como: “ir para direção”, “ligar para os pais” ou até mesmo “chamar o conselho tutelar”. Neste sentido, reforça-se o que Paulo Freire diz, que ensinar exige bom senso e não se deve confundir autoridade com autoritarismo, e ainda enfatiza que o agir do educador deixa marcas no educando.
O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, serio, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum desses passa pelos alunos sem deixar sua marca. (FREIRE, 1996, P.64)
2.3.3 Relação aluno-aluno
As crianças convivem bem entre si, é possível notar que as meninas montam um ciclo de amizade mais sólido e fechado entre elas. Enquanto os meninos são divididos em grupos: os mais quietos e com aprendizagem mais avançada e os mais inquietos que em seu total apresentam dificuldades na aprendizagem, estes por não saberem ler e não acompanhar a turma no desenvolvimento das aulas sempre ficam juntos. Sendo assim, nota-se a falta de uma interação em conjunto, de práticas e atividades no dia a dia que aproximem todos os alunos, que não os dívida entre os que sabem mais e os que sabem menos, ou que os aproxime apenas por gênero.
2.3.4 Relação professor-família
Por se tratar de uma cidade pequena, a professora conhece todos os pais dos alunos, desta forma há uma boa relação entre eles, a professora relatou que sempre atende às dúvidas dos pais quanto às atividades, e contacta os pais quando percebe situações atípicas em sala, para assim poder resolvê-la.
2.3.5 Relação professor-família-gestão
Segundo a professora cerca de 90% das famílias são ativas na vida escolar das crianças, nos dias observados houve um plantão pedagógico, momento em que estão presentes estes três eixos, ali foi possível notar que justamente a maioria dos pais que os filhos apresentam dificuldades na aprendizagem, não compareceram. O que pode ocasionar na fragilidade desse vínculo professor-família-gestão que deveria está buscando formas de superar essas dificuldades que são refletidas no dia a dia do aluno. A gestão está sempre presente na escola e mantém uma boa relação com os professores, assim como com as famílias. Tanto a professora quanto a gestora se mostram preocupadas em relação a esse vínculo com a família, demonstrando saber da importância do mesmo.
Neste sentido, apesar de se perceber uma boa relação entre professor-família-gestão, observa-se que esta deveria ser ainda mais intensificada, no intuito de buscar medidas e ações que superem as dificuldades vivenciadas em sala de aula, não deveria haver um contato apenas nos dias de plantões pedagógicos, mas sempre que fosse necessário, pois o sucesso da escola não está ligado apenas a gestão escolar, nem tão pouco aos professores, mas no fortalecimento da relação entre os três. Não se pode resumir e atribuir os problemas unicamente ao aluno, pois este é um reflexo de sua realidade, que precisa de ajuda, apoio e ser compreendido acima de tudo.
2.3.6 O dia a dia e sua rotina
Antes de iniciar cada aula, é presente na rotina das crianças um momento no qual fazem uma breve reflexão sobre a vida, e agradecem pelo dia, pela oportunidade de estar com saúde, todos fazem a oração Pai Nosso, e só depois disso iniciam a aula. Isto reflete muito sobre a influência cultural/religiosa da professora que conduz o momento, e a pedagogia freiriana, a qual diz: “Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra.” (FREIRE, 1996, p. 75). É preciso concordar que este tempo de reflexão e gratidão é maravilhoso, transmite um sentimento de paz, de casa, de intimidade. Porém ao realizar todos os dias determinada oração, não se pode deixar de opinar contrariamente, pois, na sala de aula existem diversas crianças que trazem consigo inúmeras culturas e religiões. Sendo assim, não é justo que seja direcionado este momento apenas ao cristianismo, visto que alguns dos alunos não são praticantes desta linha religiosa.
Seguindo a rotina, ao final das aulas não existe uma despedida formal, quando a sirene é tocada as crianças pegam as bolsas e vão embora. Pode-se dizer que há uma falta nas interações do cotidiano o uso da música, das brincadeiras, da ludicidade de momentos mais descontraídos, nos quais os meninos e meninas exerçam a liberdade de ser criança e assim construam e compartilhem aprendizagens.
2.4 Como são vistas e tratadas as necessidades especiais?
Na sala de aula tem duas crianças com necessidades especiais, um deles tem Deficiência Intelectual, é acompanhado pelo cuidador, pois este é não verbal, e apesar de andar, não consegue realizar as necessidades do dia a dia, como se alimentar, usar o banheiro sozinho. A outra criança tem TDAH (Transtorno do Déficit de atenção com Hiperatividade), não é acompanhada por cuidador, realiza sozinho todas as necessidades do dia a dia, porém apresenta dificuldades na aprendizagem, ambos possuem boa relação com a professora, assim como os colegas. Para a criança com Deficiência Intelectual a professora sempre leva atividades específicas sobre o tema da aula, porém adaptadas para ele. O segundo realiza as mesmas atividades da turma, mas ainda não sabe ler e escrever, este escreve de forma espelhada o que ainda não havia sido notado pela professora. Em se tratando especificamente da última criança, este assiste aulas de reforço a cada 15 dias ( O que não chega nem perto do que ele precisa), mesmo possuindo laudo, não é atendida pelo AEE ( Atendimento Educacional Especializado).
Apesar da professora se esforçar em ajudar os meninos, é possível enxergar que ela precisa de apoio, deveria haver uma comunicação e apoio por parte dos profissionais como psicólogo e psicopedagogo na produção de atividades que atendessem as necessidades dessas crianças. Para que elas não fiquem dentro da sala de aula, mas como se não fizesse parte da mesma. Pois quando se trata de inclusão não se resolve o problema apenas ‘inserindo na sala de aula regular’, mas incluindo nas relações do cotidiano. Caso isso não aconteça, eles estarão sendo excluídos na tentativa de incluí-los.
2.5 O desenvolver das atividades
Como já mencionado na introdução um dos recursos mais utilizados em sala de aula é o livro didático, este pode ser levado para casa, mas não pode ser riscado com caneta esferográfica pois ao final do ano deve ser devolvido, então a lousa e o caderno fazem parte de todas as aulas. O desenvolver das atividades é direcionado pela proposta pedagógica municipal de ensino para cada bimestre, neste são direcionadas sequências didáticas do Programa Integra Educação PB, onde são destinados o que deve ser trabalhado em cada área de conhecimento, deste modo o livro didático que é um auxiliador não é trabalhado ao todo e em sequência, mas de acordo com cada assunto que o plano exige.
Na rotina da sala de aula, a cada dia são trabalhadas disciplinas diferentes. Segue abaixo as especificações.
Dia da semana | Disciplina |
Segunda feira | Português e Ciências. |
Terça feira | Matemática e Arte |
Quarta feira | Geografia e português |
Quinta feira | Matemática e História |
Sexta feira | Português, religião e Educação Física |
Fonte elaborada pela autora, 2022.
Em cada dia da semana a professora aborda um determinado assunto das disciplinas correspondentes a cada dia específico, explica e faz uma atividade na sala, o tempo é dividido pelo intervalo, no primeiro horário é uma disciplina e quando retornam do intervalo é a seguinte. Vale ressaltar que além do livro são levadas várias atividades impressas. Quando não se conclui uma atividade no tempo estipulado, esta fica para ser resolvida em casa ou na aula seguinte conforme o quadro acima. As tarefas que são levadas para casa são corrigidas no quadro pela professora, de acordo com o dia de se trabalhar a respectiva disciplina.
- Os livros didáticos são de editoras e coleções diferentes, segue abaixo as especificações:
Disciplina | Especificação do livro |
Português | Coleção Ápis – Editora Ática3ª Edição, São Paulo – 2019 (Atualizado de acordo com a BNCC) |
Matemática | Coleção Eu gosto – Editora IBEP 1ª Edição, São Paulo-2019 (Atualizada) |
Ciências | Coleção Ápis – Editora Ática3ª Edição, São Paulo – 2019 (Atualizado de acordo com a BNCC) |
Geografia | Coleção Aprender Juntos – Editora S M6ª Edição – São Paulo – 2017 (De acordo com a versão homologada da BNCC) |
História | Coleção Liga Mundo – Editora SARAIVA1ª Edição – São Paulo – 2017 (Atualizada de acordo com a BNCC) |
Arte | Coleção Conectados – Editora FTD1ª Edição, São Paulo – 2018 |
Ensino Religioso | Não possui livro específico ( De acordo com o conteúdo pedido no proposta pedagógica municipal, os professores pesquisam os assuntos.) |
Ensino de Educação física | Não possui livro específico ( De acordo com o conteúdo pedido no proposta pedagógica municipal, os professores pesquisam os assuntos.) |
Fonte elaborada pela autora, 2022.
- Segue abaixo, alguns dias os quais foram feitas observações significativas:
Dia 1 (30/05/2022): Foi iniciado o seguinte tema: Acentuação tônica: Palavras Oxítonas, Paroxítonas e Proparoxítonas. A professora explicou brevemente sobre o que significava cada uma, em seguida entregou uma folha na qual havia várias palavras, e as crianças deveriam acentuá-las, e após isso reescrevê-las em um quadro o qual tinham três colunas denominadas: OXÍTONAS / PAROXÍTONAS / PROPAROXÍTONAS. As crianças tiveram um tempo de cerca de 20 a 30 min para realizar a atividade, muitos deles apresentaram dificuldade em compreender, os que não sabiam ler colocaram os acentos de qualquer forma e consequentemente não escreveram no quadro, a professora pediu que a estagiária os auxiliassem enquanto os outros respondiam, de uma forma que eles pudessem entender, esta lia as palavras e pedia para que os meninos repetissem a palavra em voz alta como se eu estivesse bem longe para ouvi-los , desta forma eles faziam, e logo em seguida a mesma perguntava qual sílaba eles ouviram mais forte, na maioria das palavras eles acertaram e então foi exposto o porquê dos acentos serem colocados nas palavras e o que as tornavam oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, deste modo se conduzia em qual sílaba eles deviam acentuar. Após um longo tempo, a professora corrigiu a atividade na lousa com os alunos. No segundo momento, a maioria dos meninos e meninas saíram para ensaiar uma dança junina que seria apresentada na escola. (Este episódio aconteceu durante todos os dias do estágio). Para os poucos que ficaram na sala foi reforçada a atividade iniciada no primeiro momento.
No que diz respeito a atividade impressa levada pela professora, é bem interessante a proposta de acentuar as palavras e em seguida denominá-las, porém é visto que falta uma forma de explicação mais simples, que de fato as crianças no geral entendessem o sentido da acentuação, a explicação foi mais voltada para o ‘antigo decoreba’, o que não posso concordar, por entender que este método, futuramente acarreta no fracasso e não acrescenta aprendizagem significativa, para vida.
Dia 2 (31/05/2022): No segundo dia conforme o cronograma, foi iniciada a aula de matemática, aula expositiva, e atividade designada foi a resolução de problemas envolvendo diferentes situações de multiplicação, os recursos utilizados foram uma folha impressa com os problemas e em seguida, correção conjunta na lousa. Para os alunos que não sabem ler e escrever a estagiária foi designada a ajudá-los com operações de adição e subtração. Neste momento percebeu-se que alguns não conheciam os números, então reforçou-se a numeração simples de 1 a 10, e foram resolvidos os problemas usando as mãos dos meninos como ferramenta, junto com ele colocou-se uma quantidade X de dedos representando um número X, quando o problema era de adição os outros acrescentavam a quantidade nos seus dedos, e juntos faziam a soma em voz alta. Ex: Pedro levantava 7 dedos, José mais 5, Thiago mais 3, em seguida contávamos juntos o resultado, uns ajudando os outros. No segundo momento, foi socializado uma pesquisa que a professora encaminhou na semana passada sobre danças brasileiras, e os meninos trouxeram os desenhos que fizeram representando uma festa popular local. Nesta segunda parte eles se mostraram mais entusiasmados, pois a atividade era mais livre o que a torna mais envolvente, sem tanta pressão para que esteja certa.
Dia 3 (01/06/2022): Neste dia, foi retomado o assunto sobre sílaba tônica, desta vez com o apoio do livro didático e interpretações orais, através disto se compreendeu que desta forma, sem muita exigência de responder uma atividade específica, a aula fluiu mais leve. No segundo horário a professora levou imagens de danças e as crianças deviam identificar cada dança pela sua região. A proposta é interessante, mas poderia ter um recurso mais atrativo, como por exemplo: Mostrar através de vídeo, reproduzido no retroprojetor dessas danças, ou até mesmo tentar reproduzi-las, animando o clima da aula ao passo que se aprendia.
Dia 4 (03/06/2022): Neste dia a professora inicia a aula de português trazendo diversos textos curtos, para os alunos realizarem a leitura dos mesmos, porém foi utilizado um recurso fantástico como forma de atrair a atenção dos alunos, um microfone portátil, conectado a uma pequena caixa de som. As crianças perplexas e entusiasmadas faziam suas leituras. Segundo a professora, tal iniciativa acendeu uma chama que estava apagada pela leitura, e deste modo quando chega a sexta feira eles já estão ansiosos para realizar tal atividade. Esta iniciativa demonstra uma atitude muito nobre da professora em trazer inovações como forma de incentivar e tornar divertido o momento da aprendizagem. Esta é uma ideia e iniciativa que com certeza, deve ser tomada como exemplo para prática educativa de outros educadores.
Dia 5 (14/06/2022): A aula deste dia, inicia-se com resolução de problemas de adição, subtração e multiplicação, a discussão e a atividade impressa foi voltada para o tema junino, o que é interessante, pois foi possível em uma única atividade trabalhar a multidisciplinaridade: matemática e cultura regional. No segundo momento do dia, após o recreio, foi explicado sobre o que significa releitura, logo em seguida foi entregue uma imagem de uma obra de arte nordestina que representava Lampião e Maria Bonita, abaixo da imagem, havia um quadro em branco para que as crianças fizessem a releitura. A proposta de atividade é legal, porém a forma como foi executada, não foi satisfatória, cada criança desenhava a seu modo, mas quando mostravam a professora ela pedia para corrigir, o que tornou a atividade uma mera reprodução, perdendo o sentindo da releitura, que não deve apenas reproduzir, mas compreender a obra e a seu modo, usando a criatividade, refazê-la, o que não necessariamente deve usar a mesa técnica da obra original.
2.6 Que pena, Que bom e Que tal?
2.6.1 Que Pena!
Neste tópico serão abordados alguns problemas e desafios observados no estágio:
- Modos de atuação na sala de aula: Apesar de muito competente e esforçada a professora demonstra modos de educação voltados ao tradicionalismo, talvez essa tenha sido a educação a qual ela esteve inserida quando criança, e como já vimos citado, todo professor deixa marca em seus alunos, esta pode ter sido uma marca que ela carregue. Destarte este método tradicional pode levar a sala de aula a se tornar, enfadonha, cansativa e não prazerosa.
- Espaço externo escolar sem graça: Na escola não existe um espaço agradável para que as crianças possam correr e brincar na hora do recreio, assim como também não existe refeitório, o que faz muito dos meninos e meninas ficarem na própria sala neste momento. Mesmo sabendo que estas séries já não fazem mais parte da Educação Infantil, não anula o fato de que os alunos que estão ali, ainda sejam todos “crianças”, que precisam deste momento de descontração e brincadeira.
- Apoio pedagógico e trabalho em rede fragilizado: Como já mencionado em outro tópico, a professora sozinha não consegue dar conta de toda demanda da sala de aula que conta com duas crianças especiais e vários alunos ainda não alfabetizados, ressaltando que uma das crianças possui cuidador, mas este está na sala apenas como uma “babá” e não um apoio escolar de fato. Os meninos ainda não alfabetizados necessitam com urgência de suporte, pois estão ficando esquecidos na sala de aula uma vez que não acompanha as atividades curriculares propostas. A psicóloga e Psicopedagoga atende e estão presentes apenas uma vez na semana, o que não é suficiente para a demanda.
- Falta de projetos: Durante os dias de estágio observando e conversando com a professora, pude perceber que projeto é algo que dificilmente acontece. Cito mais uma vez que apesar desta fase não corresponder a educação essa barreira que é rompida entre o lúdico e aprendizagem, prejudicam muito os alunos, pois traz uma concepção que já devia ter acabado desde o século XVIII de que as crianças eram vistas como adultos em miniatura, portanto lhes privando do direito de viver a infância e suas fantasias. “A criança era, portanto, diferente do homem, mas apenas no tamanho e na força, enquanto as outras características permaneciam iguais” (ARIÈS, 1981, p.14).
2.6.2 Que bom!
Neste tópico serão abordados aspectos positivos observados:
- Sala de aula ampla: Apesar da falta de alguns elementos já mencionados a sala de aula é ampla e comporta os alunos, têm número de cadeiras suficientes e diante a realidade precária de muitas escolas localizadas em cidades pequenas, esta oferta condições humanamente dignas aos alunos e professores.
- Livro didático para todos: Este é um ponto a se destacar importantíssimo, todas as crianças possuem livros didáticos de quase todas as disciplinas, um avanço e vitória na educação brasileira, algo que tempos atrás não era possível. Porém através do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático). Sendo assim os alunos têm em mãos um material que auxilia na rotina da sala de aula.
- Incentivo a cultural local: Durante o período de estágio que ocorreu no mês junino, a cultura nordestina e local foi bem valorizada, o que destaca-se como ponto positivo, pois conhecer e se apropriar da cultura é algo riquíssimo não apenas para a aprendizagem, mas também para a vida.
2.6.3 Que tal?
Neste tópico serão abordadas sugestões para melhoria de acordo com os problemas e desafios identificados:
- Formação continuada sobre educação progressista e ludicidade no ensino fundamental: Como forma de solucionar os problemas relacionados aos métodos tradicionais, é importante que os educadores saibam um pouco mais sobre a proposta de educação progressista que consiste no desenvolvimento de atividades as quais considera o indivíduo como um ser que constrói a sua própria história, isso consequentemente resultará em meios de aprendizagens leves onde o conhecimento não é transmitido, mas construído em conjunto com as crianças. Assim como também seja enfatizado que a ludicidade deve fazer parte do dia a dia da aprendizagem da criança.
- Criação de ambientes recreativos: Seria de suma importância que fossem criados ambientes na escola como jardins, ambientes arborizados, com equipamentos que permitam as crianças brincarem se sentarem e aproveitar o momento de refeição junto com o tempo em que podem descansar até voltar a sala de aula. Estes espaços poderiam ser aproveitados até mesmo em aulas ao ar livre, experimentos, para que as aulas não se resumissem apenas às quatro paredes da sala.
- A formação de uma equipe multidisciplinar presente: Uma equipe de psicólogo, assistente social, psicopedagogo, nutricionista presente na escola, não apenas para atendimento, mas para organização, planejamento, apoio aos professores, traçando metas para atender e resolver os problemas enfrentados na sala de aula, que ministrasse capacitações aos profissionais, tornaria o trabalho escolar no geral bem melhor do que o existente.
- Criação de oficina: A criação de oficinas pode proporcionar a escola resultados maravilhosos, uma oficina de leitura seria essencial para os alunos e principalmente aqueles que ainda não estão alfabetizados, cito leitura porque vi que este é um desafio geral nas turmas de 4º e 5º ano da escola, mas estas podem variar em todas as áreas de aprendizagem, estimulando os alunos a aprenderem de forma divertida e apresentarem seus trabalhos.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os momentos vivenciados no estágio, acrescentaram uma bagagem significativa na formação da autora que o escreve. Por mais que durante quatro anos e meio se ouvisse falar e se estudasse sobre o ambiente escolar, o ser professor, o ser aluno, e fosse permitido imaginar essas realidade, jamais seria possível ter uma noção tão completa, tão significativa da mesma forma que se observando de perto a prática educativa, as relações, os desafios, os seres que a constroem.
Portanto este trabalho é concluído com sentimento de gratidão pela vivência ao vivo e a cores desta experiência, a qual em estágios anteriores foi privada, por conta da pandemia. Estar na sala de aula, acendeu uma chama que talvez ali dentro desta e de vários outros educadores ainda esteja não identificada, enxergar os desafios não desestimulou, mas pelo contrário fez-se entender o quanto é preciso estar ali, o quanto é preciso melhorar, o quanto é preciso estudar e pesquisar sempre, fez-se ver o quanto existe amor por esta profissão. Nóvoa diz: “Escolhemos a mais impossível de todas as profissões. É certo. Mas ao mesmo tempo a mais necessária” (NÓVOA, 2004, p. 11 ).
Por fim, observar aquela professora, aqueles alunos, o desenvolver da aprendizagem, não fez-se sentir-se melhor do que quem estava ali, mas saber que pode-se até estar condicionado(a) a esta realidade, porém jamais determinado(a). Este artigo traz consigo tudo de bom que foi observado, e também o desejo de induzir a realizar muito mais, de fazer valer a pena tudo que este curso e esta profissão pode oferecer, incitando educadores e futuros educadores a tornarem-se pessoas melhores, profissionais críticos, sensíveis, abertos, seguros, curiosos, e acima de tudo amantes da educação, admiradores da capacidade que esta possui de transformar realidades.
REFERÊNCIAS
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FREIRE, Paulo . Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
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1Graduada do curso de pedagogia da Universidade Estadual da Paraíba.