OS RISCOS DA AUTOMEDICAÇÃO NO BRASIL E O PAPEL DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO NO ENFRENTAMENTO AO PROBLEMA

THE RISKS OF SELF-MEDICATION IN BRAZIL AND THE ROLE OF THE PHARMACEUTICAL PROFESSIONAL IN ADDRESSING THE PROBLEM 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411141425


Antonia Thaís Souza Mota1
Cintya de Queiroz Santos2
Professor(a) Orientador(a): M.Sc. Lorena Silva Matos Andrade3


Resumo

A automedicação é uma prática comum no Brasil e no mundo, e seu crescimento tem causado preocupações devido aos riscos envolvidos. Este estudo visa analisar os principais riscos associados à automedicação e destacar o papel do profissional farmacêutico na prevenção dessa prática. A pesquisa foi realizada por meio de uma revisão de literatura integrativa, utilizando fontes secundárias de dados para mapear os principais problemas e possíveis soluções. Entre os principais resultados, identificou-se que a automedicação pode levar a graves consequências, como intoxicações, dependência química e o aumento da resistência bacteriana. O farmacêutico, ao atuar na orientação e conscientização dos pacientes, desempenha um papel crucial na promoção do uso racional de medicamentos. A assistência e atenção farmacêutica, campanhas educativas e a regulamentação do comércio de medicamentos também foram apontadas como estratégias essenciais no combate à automedicação.

Palavras-chave: Automedicação. Farmacêutico. Intoxicação. Resistência bacteriana. Riscos. 

1. INTRODUÇÃO

Ao contrário do que imaginamos, a automedicação não se trata de uma temática recente. No Brasil, teve origem ainda no período colonial, em plena colonização portuguesa. Naquela época, os responsáveis pela saúde eram os boticários, prescrevendo receitas sem base científica para a população. Séculos depois, muitos brasileiros vão diretamente às farmácias em busca de soluções para diversos sintomas e problemas de saúde. No entanto, a automedicação, além de ser uma prática cultural, contribui para a morte de cerca de 20 mil pessoas anualmente no país, conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma) (CORREIO BRAZILIENSE, 2010).

Caracterizada como a prática de consumir medicamentos sem a orientação ou supervisão de um profissional de saúde qualificado, a automedição ocorre comumente quando o indivíduo apresenta algum sintoma de dor ou pretende tratar uma possível doença por conta própria sem que antes consulte ou busque ajuda de um especialista. Apesar de não ter a competência necessária para identificar problemas de saúde, avaliar sua gravidade ou selecionar o tratamento apropriado, o indivíduo escolhe o medicamento a ser utilizado, seja com base em experiências anteriores ou por recomendações de pessoas não capacitadas, como amigos, vizinhos e familiares.

Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) “a medicação é essencial quando utilizada adequadamente para o tratamento de doenças. Mas quando os medicamentos são usados de maneira incorreta ou consumidos sem critérios médicos podem prejudicar sua saúde, causando desde uma intoxicação a problemas mais graves que podem, inclusive, levar à morte.”

Embora para algumas pessoas a automedicação seja uma forma significativa de autocuidado, ela apresenta riscos. Utilizar medicamentos sem a orientação de um médico ou farmacêutico pode resultar em sérias consequências para a saúde, tanto individual quanto coletiva.

Os riscos associados à automedicação são variados e incluem, entre outros, o atraso no diagnóstico ou diagnósticos incorretos, uma vez que o uso de medicamentos pode mascarar sintomas e agravar problemas de saúde. A utilização inadequada de medicamentos, a forma de administração errada, doses incorretas e o uso prolongado podem causar diversos danos à saúde, como dependência, reações alérgicas, intoxicações, aumento nas internações hospitalares, resistência de patógenos e até mesmo a morte. (SILVA, 2021).

O Brasil, dentre todos os países da América Latina, destaca-se por ter uma das populações que mais compram medicamentos sem passar previamente por algum tipo de consulta médica. Os medicamentos são bens de saúde e não bens de consumo comuns como roupas e revistas. Eles devem ser tratados como instrumentos de promoção, recuperação e manutenção do bem-estar, portanto, não podem ser anunciados como produtos de livre mercado (ANVISA, 2022). 

A Resolução – RDC Nº 96, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2008 dispõe sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos. No Art. 8º “É vedado na propaganda ou publicidade de medicamentos estimular e/ou induzir o uso indiscriminado de medicamentos.” 

O papel do farmacêutico vai muito além de comercializar medicamentos atrás de uma bancada. Ele é o profissional responsável por todos os processos de produção de medicamentos, desde a fabricação até o consumidor final. Além de utilizar o próprio conhecimento para orientar os pacientes quanto ao uso racional de medicamentos, e acompanhá-los durante o tratamento a fim de alcançar resultados satisfatórios (SOUZA; ANDRADE, 2022).

Segundo Alves et al. (2023, p. 3-4) “o profissional farmacêutico tem como atuação a assistência visando preservar a vida do indivíduo e a minimizar impactos referentes à temática. Ele enfatiza a diminuição dos índices de automedicação, obtendo o acesso seguro e adequado a medicamentos e tratamentos pela população.”

O farmacêutico é o profissional responsável por duas práticas importantes que envolvem o cuidado com a saúde, a primeira delas é a Assistência Farmacêutica (AF), que surge no intuito de melhorar a qualidade de vida das pessoas. É composta por um conjunto de procedimentos dirigidos de forma coletiva ou individual aos usuários de todos os serviços de saúde. Com isso, a AF engloba uma série de atividades com o objetivo de promover o acesso e o uso racional de medicamentos essenciais à população. Porém, não se restringe somente às etapas da logística de medicamentos, mas de forma a proporcionar ferramentas complementares às ações de saúde (RUBERT; DEUSCHLE; DEUSCHLE, 2020).

A segunda prática, por sua vez, é conhecida como Atenção Farmacêutica, sendo uma interação direta do farmacêutico com o usuário. É um serviço prestado por meio de uma consulta com o paciente que faz uso ou não de medicamentos, com o objetivo de otimizar o tratamento farmacológico e prevenir problemas relacionados ao uso de medicamentos, para que esse paciente tenha resultados positivos que melhorem a sua saúde e a qualidade de vida. (MOURA, 2022)

Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo analisar e descrever o que é a automedicação e quais são os riscos dessa prática que atualmente tem sido bastante desenvolvida no Brasil, a fim de alertar e conscientizar a população acerca do tema, como também mostrar a importância do farmacêutico, e quais papeis esse profissional deve desempenhar para tentar combater o problema.  

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Definição e Caracterização da Automedicação

Segundo Castro et al. (2006), a automedicação é uma prática cultural que se manifesta em todas as classes sociais e é incentivada pela familiaridade das pessoas com certos medicamentos, que são amplamente divulgados e acessíveis. Essa prática se torna ainda mais preocupante quando consideramos que muitos medicamentos são consumidos de forma inadequada, seja pela dosagem incorreta ou pela utilização em situações onde o medicamento não é necessário. Em muitos casos, os indivíduos recorrem à automedicação devido à dificuldade de acesso a serviços de saúde, o que acaba por reforçar esse comportamento prejudicial. 

Um dos grandes desafios na prevenção da automedicação é a percepção de que esta prática não é nociva. O ato de ingerir medicamentos por conta própria é muitas vezes visto como uma forma de solucionar rapidamente problemas de saúde, sem a necessidade de consultar um médico. No entanto, conforme Almeida, Rocha e Balteiro (2022), essa percepção equivocada pode gerar um impacto negativo significativo no sistema de saúde, aumentando os casos de internações por intoxicação medicamentosa e complicações decorrentes do uso incorreto de medicamentos.

Outro fator que contribui para a automedicação é a publicidade de medicamentos, que muitas vezes reforça a ideia de que determinados produtos são soluções rápidas e seguras para diversos problemas de saúde. A Resolução RDC nº 96 de 17 DE DEZEMBRO DE 2008, da ANVISA, estabelece diretrizes rigorosas sobre a propaganda de medicamentos, visando impedir que a população seja induzida ao uso indiscriminado. Entretanto, mesmo com essas regulamentações, a publicidade ainda pode exercer uma influência considerável sobre as escolhas dos consumidores, que muitas vezes não estão cientes dos riscos associados à automedicação.

É importante ressaltar que a Organização Mundial da Saúde (2020) aponta que mais de 50% dos medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada em todo o mundo. Esse dado alarmante destaca a magnitude do problema e a necessidade de políticas mais eficazes para garantir o uso racional dos medicamentos. Além disso, metade de todos os pacientes não utiliza os medicamentos de maneira correta, o que agrava ainda mais a situação e pode resultar em complicações sérias, como reações adversas e resistência a antibióticos.

Nesse sentido, Silva (2021) discute que as causas da automedicação estão muitas vezes relacionadas à cultura do imediatismo, onde o indivíduo busca alívio rápido para sintomas como dor e mal-estar, sem considerar os efeitos de longo prazo do uso inadequado de medicamentos. Essa prática pode resultar em diversos efeitos negativos, como a intoxicação, a resistência a medicamentos, e o mascaramento de sintomas, o que pode retardar o diagnóstico correto e o tratamento adequado.

A automedicação também está associada ao comportamento de consumo de medicamentos, conforme Paiva e Mendes (2019), que identificam que muitos brasileiros têm o hábito de comprar medicamentos sem consultar um profissional de saúde, influenciados tanto pela facilidade de acesso quanto pela recomendação de familiares e amigos. Esse comportamento, além de prejudicar a saúde individual, sobrecarrega o sistema de saúde, que precisa lidar com as consequências dos erros de automedicação.

Almeida, Rocha e Balteiro (2022) destacam que, além das campanhas de conscientização, é fundamental fortalecer a fiscalização sobre a venda de medicamentos, de modo a garantir que os medicamentos sujeitos à prescrição médica não sejam adquiridos sem a devida orientação. O cumprimento das normas estabelecidas pela ANVISA, bem como a promoção de uma cultura de cuidado responsável, são essenciais para reduzir os riscos da automedicação.

2.2 Riscos e Consequências da Automedicação

A utilização inadequada de medicamentos está associada a uma série de riscos, que envolvem tanto aspectos individuais quanto coletivos. Para Ferreira e Costa (2021), um dos principais problemas relacionados à automedicação é o uso indevido de substâncias que podem provocar reações adversas severas. Mesmo medicamentos considerados relativamente seguros podem ter efeitos imprevisíveis quando consumidos sem orientação adequada. 

Embora existam medicamentos que podem ser comprados sem receita médica, os chamados MIPs (Medicamentos Isentos de Prescrição), as pessoas não devem ingeri-los na dose e no momento que acharem conveniente. Considerando que nenhuma substância farmacologicamente ativa é totalmente inofensiva ao organismo, a automedicação pode ser prejudicial tanto à saúde individual quanto à coletiva. (NETO et al., 2006). Um exemplo clássico é o uso de analgésicos e anti-inflamatórios, que, se ingeridos em excesso podem causar danos aos rins e ao fígado, reações alérgicas, dependência, sangramentos digestivos e até mascarar sintomas que requerem investigação médica mais detalhada.

Além disso, há o risco de reações alérgicas, que podem variar de leves a fatais, dependendo da sensibilidade do indivíduo ao princípio ativo da medicação. Muitas vezes, as pessoas desconhecem sua própria vulnerabilidade a certas substâncias, e a automedicação acaba expondo-as a um perigo que poderia ser evitado com uma consulta médica prévia. Ramos e Silva (2022) ressaltam que o aumento das reações alérgicas graves tem sido uma das consequências diretas do uso indiscriminado de medicamentos, destacando a importância de intervenções para promover o uso consciente de remédios.

Outro problema significativo está relacionado à resistência a antibióticos, um fenômeno que tem se intensificado nas últimas décadas e está diretamente associado à automedicação. Em alguns lugares, principalmente em regiões de difícil acesso, os antimicrobianos podem ser dispensados sem receituário médico, por não existir nenhum tipo de fiscalização dos órgãos competentes. Quando antibióticos são consumidos de forma inadequada, seja pela escolha do tipo errado de medicamento ou pelo uso em dosagens incorretas, as bactérias têm a oportunidade de se adaptar, tornando-se resistentes aos tratamentos convencionais. Pereira et al. (2021) apontam que o uso incorreto de antibióticos está entre as principais causas da resistência bacteriana, um problema global que dificulta o tratamento de infecções e aumenta os custos com saúde.

O impacto da automedicação não se restringe ao indivíduo que faz uso do medicamento sem orientação. As consequências se estendem ao sistema de saúde como um todo, que acaba sobrecarregado com pacientes que apresentam complicações devido ao uso incorreto de remédios. O aumento nas internações hospitalares por intoxicações medicamentosas, reações adversas e falhas terapêuticas são reflexos diretos desse comportamento. Segundo Santana (2020), o número de hospitalizações relacionadas à automedicação tem crescido de maneira preocupante, colocando pressão sobre os serviços de saúde e aumentando os custos associados ao tratamento de condições que poderiam ser evitadas com o uso adequado de medicamentos.

Além dos efeitos diretos na saúde, a automedicação pode levar ao agravamento de doenças preexistentes. Muitas pessoas utilizam medicamentos para mascarar sintomas, sem perceber que, ao fazer isso, estão retardando o diagnóstico correto de uma condição subjacente. Isso é especialmente preocupante em casos de doenças graves, como câncer e doenças cardíacas, onde o tempo é um fator crucial para o sucesso do tratamento. Oliveira (2021) destaca que a automedicação pode prolongar o sofrimento do paciente, já que o uso de medicamentos inadequados pode camuflar os sinais de alerta de doenças que necessitam de intervenção médica precoce.

O papel dos farmacêuticos na prevenção da automedicação é fundamental. Esses profissionais são uma peça-chave no controle do uso indevido de medicamentos, pois estão em contato direto com os pacientes e podem fornecer orientações essenciais sobre o uso correto dos fármacos. Souza (2022) defende que a promoção do uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade dos farmacêuticos, que têm a responsabilidade de educar o público sobre os perigos da automedicação e garantir que os medicamentos sejam dispensados de maneira segura.

A conscientização sobre os riscos da automedicação deve ser uma tarefa conjunta entre os profissionais de saúde e as autoridades sanitárias. As campanhas educativas são um importante instrumento para informar a população sobre os perigos dessa prática e sobre a importância de consultar um médico antes de tomar qualquer medicamento. Além disso, como Costa (2021) afirma, é necessário que a sociedade desenvolva uma cultura de saúde que valorize o papel do profissional farmacêutico como um agente de prevenção, e não apenas como um dispensador de medicamentos.

Os riscos da automedicação também envolvem a possibilidade de dependência química, especialmente no caso de medicamentos psicotrópicos e analgésicos de uso contínuo. Muitas pessoas, ao automedicar-se, desenvolvem uma relação de dependência com certos medicamentos, especialmente aqueles que oferecem alívio imediato para dores ou ansiedade. Isso pode levar a um ciclo de uso abusivo, onde o indivíduo passa a consumir quantidades cada vez maiores da substância para obter o mesmo efeito. Ferreira e Costa (2021) alertam para o fato de que a automedicação com analgésicos, em particular, tem contribuído para o aumento dos casos de dependência, um problema que necessita de atenção especial dos profissionais de saúde.

Outro risco significativo está relacionado às interações medicamentosas. Quando uma pessoa consome múltiplos medicamentos sem orientação, há a possibilidade de que essas substâncias interagem de forma negativa, potencializando efeitos colaterais ou diminuindo a eficácia dos tratamentos. Muitas vezes, o paciente desconhece que certos medicamentos não devem ser tomados juntos, e a falta de supervisão médica agrava ainda mais esse cenário. Ramos e Silva (2022) ressaltam que as interações medicamentosas são um dos principais fatores que contribuem para a falha terapêutica e o aumento das complicações relacionadas à automedicação.

A automedicação, além de ser um problema de saúde pública, é também um reflexo das desigualdades no acesso aos serviços de saúde. Em muitos países, incluindo o Brasil, a dificuldade de acesso a consultas médicas faz com que as pessoas recorram à automedicação como uma alternativa para lidar com seus problemas de saúde. Santana (2020) argumenta que a precariedade do sistema de saúde e a demora no atendimento são fatores que contribuem para o aumento da automedicação, especialmente entre as populações mais vulneráveis. Essa realidade evidencia a necessidade de investimentos em saúde pública e na ampliação do acesso a serviços médicos de qualidade, de modo a reduzir a dependência da automedicação.

2.3 O Papel do Farmacêutico na Prevenção da Automedicação

O farmacêutico tem uma função central na cadeia de cuidados à saúde, sendo responsável não apenas pela dispensação dos medicamentos, mas também pela orientação dos pacientes sobre o uso correto dessas substâncias. Ferreira e Costa (2021) destacam que a orientação farmacêutica é essencial para combater a automedicação, pois o conhecimento técnico deste profissional permite identificar os riscos de uso indevido e orientar os pacientes sobre as alternativas mais seguras de tratamento. O papel do farmacêutico, portanto, vai além da simples entrega de medicamentos; ele é um educador em saúde, contribuindo diretamente para a redução de complicações decorrentes da automedicação.

É importante ressaltar que a automedicação pode trazer uma série de consequências negativas, desde reações adversas até o agravamento de doenças. Muitos medicamentos vendidos sem prescrição médica são utilizados de forma inadequada, seja em dosagens erradas ou para condições que não requerem o uso daquela substância específica. Ramos e Silva (2022) argumentam que o farmacêutico, ao promover o uso racional de medicamentos, atua como um agente de saúde pública, evitando que os pacientes utilizem medicamentos de forma indiscriminada e, assim, prevenindo complicações sérias. A educação dos pacientes, portanto, é uma das principais estratégias para mitigar os riscos da automedicação.

Um dos grandes desafios enfrentados pelos farmacêuticos é a falta de conscientização da população sobre os perigos da automedicação. Muitos indivíduos acreditam que, por terem utilizado determinado medicamento no passado, podem continuar a usá-lo sem consultar um profissional. Pereira et al. (2021) ressaltam que esse comportamento é especialmente comum em doenças crônicas e em casos de sintomas recorrentes, como dores de cabeça e resfriados, o que aumenta o risco de complicações graves. A atuação do farmacêutico nesse cenário envolve não apenas a orientação no momento da compra, mas também a realização de campanhas de conscientização e a participação em programas de saúde pública que visem educar a população sobre os riscos da automedicação.

Quando falamos em orientação farmacêutica e educação em saúde, podemos citar duas práticas que devem ser aplicadas na rotina de todo profissional farmacêutico no que tange ao combate a automedicação: a Assistência Farmacêutica e a Atenção Farmacêutica. A Assistência Farmacêutica trata-se do conjunto de ações que tem como objetivo orientar o uso e as restrições de medicamentos aos pacientes. Nesse contexto, o farmacêutico assume a responsabilidade e o papel central na criação de estratégias que promovam o uso racional de medicamentos, considerando os danos potenciais do uso inadequado. Se executado devidamente, este trabalho impacta de forma positiva os sistemas de saúde e o sucesso das terapias medicamentosas.  

Por sua vez, a Atenção Farmacêutica é a relação direta do farmacêutico com o paciente. Esse modelo de abordagem engloba aspectos como o uso seguro e racional, o acompanhamento da terapia e a continuidade do cuidado. Essa integração possibilita um monitoramento mais eficaz da evolução do paciente, fornecendo informações que podem ser usadas para ajustar o tratamento e melhorar os resultados em saúde. Com esse modelo, o foco passa a ser um cuidado mais holístico, que leva em conta não apenas a eficácia do medicamento, mas também a adesão do paciente ao tratamento e sua qualidade de vida.  

Outro ponto relevante é o papel do farmacêutico na identificação de interações medicamentosas. Muitos pacientes, ao se automedicarem, desconhecem os potenciais riscos de combinar diferentes substâncias. Santana (2020) enfatiza que o farmacêutico é o profissional mais qualificado para identificar possíveis interações e alertar os pacientes sobre os perigos de utilizar múltiplos medicamentos sem orientação adequada. Ao prevenir essas interações, o farmacêutico reduz o risco de reações adversas graves, que podem levar a internações hospitalares e até mesmo à morte.

O aumento da resistência bacteriana é outro problema que está diretamente relacionado à automedicação, especialmente no caso de antibióticos. O uso indiscriminado de antibióticos sem a orientação de um profissional de saúde favorece o desenvolvimento de cepas bacterianas resistentes, tornando o tratamento de infecções cada vez mais difícil e oneroso para o sistema de saúde. Oliveira (2021) aponta que os farmacêuticos desempenham um papel vital na prevenção do uso inadequado de antibióticos, orientando os pacientes sobre a importância de seguir as prescrições médicas corretamente e explicando os perigos de interromper o tratamento antes do tempo recomendado.

Além disso, o farmacêutico tem um papel fundamental na prevenção de intoxicações medicamentosas, que são frequentemente resultado da automedicação. Muitos medicamentos, quando usados de forma inadequada, podem causar efeitos tóxicos no organismo, levando a complicações sérias. Souza (2022) destaca que os farmacêuticos, ao orientar os pacientes sobre a dosagem correta e a frequência de uso dos medicamentos, contribuem significativamente para a redução dos casos de intoxicação. A educação dos pacientes sobre os perigos do uso excessivo de medicamentos é uma das principais formas de prevenção nesse contexto.

É importante mencionar que, para que o papel do farmacêutico seja efetivo na prevenção da automedicação, é necessário que haja uma relação de confiança entre o profissional e o paciente. Muitas vezes, os indivíduos hesitam em buscar orientação de um farmacêutico por acreditarem que sua função se restringe à venda de medicamentos. No entanto, Costa (2021) afirma que o farmacêutico deve ser visto como um consultor de saúde, capaz de fornecer informações detalhadas sobre os medicamentos e de ajudar o paciente a tomar decisões informadas sobre seu tratamento. A construção dessa relação de confiança é essencial para que os pacientes se sintam confortáveis em buscar orientação antes de utilizar qualquer medicamento.

O farmacêutico também pode atuar como um intermediário entre o paciente e outros profissionais de saúde, mas é fundamental que haja uma compreensão clara de suas competências e dos limites de sua atuação no processo saúde-doença. Assim, ele poderá adotar a postura adequada no momento certo, avaliando a condição do paciente e, se necessário, encaminhando-o a uma consulta médica ou ao hospital em situações de urgência. Essa colaboração entre farmacêuticos e outros profissionais da área da saúde é essencial para garantir que o paciente receba o cuidado adequado e para evitar que ele se automedique em situações que requerem uma avaliação mais detalhada. Ferreira e Costa (2021) destacam que a integração dos farmacêuticos em equipes multidisciplinares de saúde é uma estratégia eficaz para a promoção do uso racional de medicamentos e para a prevenção de complicações relacionadas à automedicação.

A regulamentação do comércio de medicamentos também desempenha um papel crucial na prevenção da automedicação, e o farmacêutico tem a responsabilidade de garantir que as normas sejam cumpridas. Muitos medicamentos são vendidos sem a devida prescrição, o que facilita o acesso da população a substâncias que deveriam ser utilizadas apenas com orientação médica. Ramos e Silva (2022) apontam que a fiscalização rigorosa e a observância das regulamentações são fundamentais para reduzir a automedicação e garantir que os medicamentos sejam utilizados de forma segura e eficaz.

Outro aspecto relevante é o papel do farmacêutico na prevenção do uso de medicamentos em grupos vulneráveis, como crianças e idosos, que são particularmente suscetíveis aos efeitos adversos da automedicação. Pereira et al. (2021) ressaltam que o acompanhamento farmacêutico é essencial para garantir que esses grupos recebam a orientação adequada sobre o uso de medicamentos, prevenindo complicações graves que podem resultar de interações medicamentosas ou do uso incorreto de dosagens.

Finalmente, é necessário destacar que a automedicação também está ligada a questões socioeconômicas, onde o acesso limitado a cuidados médicos leva muitas pessoas a buscar alternativas no uso indiscriminado de medicamentos. Santana (2020) argumenta que, em contextos onde a assistência médica é escassa, o papel do farmacêutico se torna ainda mais importante, pois ele pode atuar como um ponto de orientação acessível e de confiança para a população, ajudando a reduzir os riscos associados à automedicação.

Dessa forma, o papel do farmacêutico na prevenção da automedicação é multifacetado, abrangendo desde a orientação direta aos pacientes até a participação em campanhas de conscientização e a garantia do cumprimento das regulamentações sobre a venda de medicamentos. Oliveira (2021) defende que a promoção do uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade para os farmacêuticos, que têm a responsabilidade de proteger a saúde pública e de educar a população sobre os perigos do uso inadequado de substâncias terapêuticas.

3. METODOLOGIA

Os dados analisados foram abordados em forma de pesquisa qualitativa, buscando compreender os fenômenos a partir de sua explicação e motivos, bem como, traduzir opiniões e números em informações que serão classificadas e analisadas a fim de direcioná-las à prática, fundamentando-se em conhecimento científico. Quanto ao objetivo, a pesquisa do presente estudo, portanto, é descritiva.

Desse modo, foram sintetizadas as pesquisas disponíveis sobre o tema “Riscos da automedicação no Brasil e o papel do profissional farmacêutico no enfrentamento ao problema”, através de critérios de inclusão previamente estabelecidos, sendo eles: artigos relacionados ao tema abordado utilizando as palavras-chave “automedicação”, “farmacêutico”, “intoxicação”, “riscos”, “resistência bacteriana”, no idioma português, publicados entre os anos de 2006 e 2024. E como critérios de exclusão: todos os estudos os quais não se adequaram aos critérios estabelecidos.  

O estudo foi elaborado a partir de buscas em materiais existentes e já publicados nas seguintes fontes eletrônicas: Google Acadêmico, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), além de sites como Ministério da Saúde do Brasil, Organização Mundial de Saúde (OMS), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e Conselho Nacional de Saúde.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao longo deste estudo, foi possível identificar e discutir a relevância do papel desempenhado pelo farmacêutico na prevenção da automedicação. A análise das referências apontou que a assistência e a atenção farmacêutica são fundamentais para educar a população sobre os riscos associados ao uso inadequado de medicamentos. Profissionais da área de farmácia, ao promover o uso racional de medicamentos, não apenas reduzem os perigos imediatos, como intoxicações e reações adversas, mas também contribuem para a prevenção de problemas a longo prazo.

Os dados levantados revelam que a automedicação continua a ser um problema significativo em muitas sociedades, especialmente em regiões onde o acesso aos serviços de saúde é limitado. O estudo de Ramos e Silva (2022) destacou que o farmacêutico pode atuar de forma preventiva ao identificar comportamentos de risco, aconselhando os pacientes sobre o uso correto de medicamentos e evitando que recorrem à automedicação como solução rápida para seus problemas de saúde.

Outro ponto relevante é o papel do farmacêutico no combate ao uso inadequado de antibióticos. Estudos demonstraram que o uso incorreto desses medicamentos é uma das principais causas da resistência bacteriana, um dos maiores desafios para a saúde pública global. A pesquisa de Oliveira (2021) sugere que, ao educar os pacientes sobre a importância de seguir as prescrições corretamente, os farmacêuticos podem mitigar significativamente esse problema.

Além disso, as interações medicamentosas, que muitas vezes passam despercebidas pela população, foram destacadas como um risco grave da automedicação. Santana (2020) mostrou que o farmacêutico, ao orientar sobre possíveis interações entre diferentes medicamentos, atua diretamente na prevenção de reações adversas e outras complicações.

A importância da regulamentação do comércio de medicamentos foi outro aspecto enfatizado nos estudos analisados. A fiscalização da venda de medicamentos, especialmente daqueles que exigem prescrição, é fundamental para reduzir o acesso fácil a substâncias que podem ser perigosas se usadas sem orientação. Ferreira e Costa (2021) ressaltam que o cumprimento das regulamentações, associado à atuação responsável dos farmacêuticos, pode ser uma estratégia eficaz para limitar a automedicação e proteger a saúde pública.

Ao refletir sobre esses fatores, fica claro que a automedicação é uma prática complexa, que envolve tanto questões de acesso à saúde quanto aspectos culturais e comportamentais. A ANVISA, por meio de suas regulamentações, tenta controlar a propagação dessa prática, mas os desafios são muitos, principalmente em um contexto onde a educação em saúde ainda é deficiente para grande parte da população. 

O papel da educação na prevenção da automedicação é fundamental. É necessário que a população compreenda os riscos de ingerir medicamentos sem orientação profissional e tenha consciência de que os remédios não são produtos de consumo comum, mas instrumentos terapêuticos que devem ser utilizados com critério e responsabilidade. Essa conscientização só pode ser alcançada por meio de campanhas educativas eficazes como a do Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, comemorada anualmente em 05 de maio, e da ampliação do acesso a serviços de saúde, que permitam à população buscar orientação profissional antes de tomar qualquer decisão sobre o uso de medicamentos.

Portanto, é imprescindível que o sistema de saúde adote medidas mais efetivas para prevenir a automedicação, garantindo que as pessoas tenham acesso a informações corretas sobre o uso de medicamentos e promovendo o uso racional desses produtos. A atuação dos profissionais de saúde, especialmente dos farmacêuticos, é crucial nesse processo, pois são eles os responsáveis por orientar os pacientes sobre o uso adequado dos medicamentos e por alertá-los sobre os perigos da automedicação.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Este estudo evidenciou a importância fundamental do farmacêutico na prevenção da automedicação, uma prática que, apesar de comum, traz inúmeros riscos à saúde individual e coletiva. Através de uma atuação proativa, os farmacêuticos se posicionam como educadores e orientadores, promovendo o uso racional de medicamentos e contribuindo para a redução de problemas graves como intoxicações, reações adversas e resistência bacteriana. Além disso, o estudo destacou que a conscientização da população sobre os perigos da automedicação, a regulamentação eficaz do comércio de medicamentos e a identificação de interações medicamentosas são estratégias essenciais para mitigar os riscos dessa prática.

A atuação do farmacêutico é indispensável para a proteção da saúde pública, especialmente em contextos onde o acesso aos serviços médicos é limitado e a automedicação surge como uma solução fácil, porém arriscada. Assim, conclui-se que os farmacêuticos devem ser vistos como peças centrais na promoção da saúde, desempenhando um papel ativo na prevenção de complicações e na educação dos pacientes para o uso seguro e responsável de medicamentos.

O profissional farmacêutico tem se esforçado diariamente para conquistar seu espaço, mesmo que a desvalorização da profissão seja evidente em muitas regiões do Brasil. Embora combater a automedicação seja um desafio difícil, é possível reduzir seu impacto. Para isso, é fundamental estabelecer o fortalecimento da relação entre farmacêuticos e pacientes, bem como a integração desses profissionais em equipes multidisciplinares de saúde, são passos importantes para enfrentar os desafios da automedicação e garantir um sistema de saúde mais eficiente e seguro para todos.

REFERÊNCIAS

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