REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202411132150
Camila Dayanne Ferreira da Silva
Everton Saraiva de Lima
Luana Jambo Lins de Farias
Danilo Mendes de Figueiredo
RESUMO
A Organização Mundial da Saúde define população idosa, como sendo pessoas acima dos 60 anos, a literatura demonstra que nessa faixa etária ocorre um declínio das capacidades funcionais que levam os indivíduos a se tornarem dependentes para a realização de atividades comuns da vida diária. O exercício vem demonstrando ser uma alternativa de combate a esse declínio, sendo assim, o estudo investigou quais os efeitos da prática de dança na capacidade funcional de pessoas idosas, buscando consolidar a dança como um exercício recomendado para essa faixa etária da população. Objetivou-se descrever como a dança pode influenciar positivamente a capacidade funcional por meio de uma revisão bibliográfica sistemática. Para o desenvolvimento, foi adotada a metodologia descritiva, exploratória e qualitativa, sendo selecionados dez artigos datados dos últimos dez anos para esta análise. Os resultados revelaram respostas positivas para melhoria dos aspectos funcionais dos idosos praticantes de dança, concluindo assim, que a dança é uma alternativa eficaz para a promoção da saúde e qualidade de vida da pessoa idosa apesar de serem necessários estudos com amostragens maiores e diversidade de ritmos para validar seu papel nos diferentes aspectos da funcionalidade.
Palavras-Chaves: Qualidade de Vida. Terceira Idade. Desenvolvimento Motor.
1. INTRODUÇÃO
O movimento do corpo humano pode ser caracterizado como uma interação dinâmica entre gestos, deslocamentos e mudanças de postura. Esse fenômeno físico permite que o corpo entre em harmonia com o espaço ao seu redor, gerando uma relação fluida entre ambos. Quando esses movimentos são organizados dentro de um ritmo ou sequência, formam o que chamamos de dança (Foster, 2010). A dança, portanto, pode ser compreendida como uma manifestação corporal que transcende o simples deslocamento físico, incorporando elementos expressivos, culturais e sociais.
Segundo Laban (1980), o movimento humano, seja nas atividades cotidianas ou na dança como expressão artística, é constituído pelos mesmos elementos fundamentais. Ele foi um dos principais teóricos a dissecar o movimento corporal para compreendê-lo em suas especificidades, dividindo-o em quatro fatores essenciais: tempo, espaço, peso e fluxo. A partir dessa análise detalhada, Laban desenvolveu a “labanotation”, um sistema teórico pioneiro de análise do movimento, amplamente utilizado até hoje como uma ferramenta para a compreensão e registro de movimentos (Fernandes, 2022).
Comumente, a dança é associada ao movimento corporal vinculado à música, mas teóricos como Laban já defendiam, em 1960, que a dança é, antes de tudo, a arte de mover o corpo no espaço e no tempo, sem necessariamente depender de música ou ritmo. Para Infante (2011), a dança vai além de uma simples sequência de passos organizados em ritmo; ela está profundamente enraizada no corpo humano. Desde o nascimento, o movimento faz parte da nossa essência, e quando se adiciona ritmo a esses movimentos, a dança se transforma em uma poderosa forma de expressão de sentimentos, cultura e interação social.
A dança como uma das formas de expressão mais antigas do ser humano, utilizada para manifestar seus sentimentos, crenças e desejos. Santos et al. (2019) destaca a dança como uma atividade física que vai além da estética ou do entretenimento, promovendo transformações no estilo de vida das pessoas, especialmente dos idosos. Ao praticar a dança regularmente, tem-se um estilo de vida mais saudável, o que é indicado para a manutenção de sua saúde e qualidade de vida. Além disso, quando realizada em grupos de convivência, a dança oferece benefícios sociais importantes, como a interação com outras pessoas e a elevação da autoestima.
No âmbito da educação física, a dança é também considerada uma prática de exercício físico. Como tal, pode contribuir significativamente para o aumento da funcionalidade e das capacidades físicas dos indivíduos, especialmente na terceira idade. Segundo Barbosa et al. (2014), a capacidade funcional é a habilidade de realizar, de forma autônoma, as atividades da vida diária, e está diretamente relacionada a fatores como estilo de vida, genética, condições ambientais, sociais e psicológicas. Assim, a preservação dessa capacidade ao longo dos anos é essencial para garantir um envelhecimento saudável e com qualidade de vida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015) define a população idosa, em países em desenvolvimento como o Brasil, como pessoas com 60 anos ou mais, e destaca que um envelhecimento saudável vai além da ausência de doenças. A manutenção da funcionalidade física é um fator crucial para assegurar qualidade de vida na terceira idade. Nesse sentido, mesmo idosos com doenças crônicas podem ser considerados saudáveis se mantiverem uma boa capacidade funcional, sendo mais relevante a habilidade de desempenhar atividades diárias do que a presença de doenças, que podem ser controladas.
Embora o processo de envelhecimento envolva alterações morfofuncionais que podem reduzir a capacidade funcional, muitos estudos, como o de Sebastião et al. (2008), demonstram que idosos que praticam exercícios físicos regularmente apresentam uma maior capacidade funcional em comparação aos que levam uma vida sedentária. Pesquisas mais recentes, como a de Santos et al. (2019), destacam que, embora o treinamento funcional tenha sido amplamente recomendado para idosos, a dança também se mostra altamente eficaz tanto na manutenção quanto na promoção da capacidade funcional.
Tem-se, portanto, a necessidade de investigar se a inclusão da dança como parte de um programa de exercícios físicos orientados está diretamente associada a melhorias significativas na qualidade de vida dos idosos, considerando tanto aspectos físicos quanto sociais e emocionais. A partir da reflexão sobre os benefícios da dança para a saúde física e emocional dos idosos, surge a seguinte questão de pesquisa: “A prática regular de dança em programas de atividades físicas supervisionadas pode proporcionar uma melhor qualidade de vida para os idosos, em comparação àqueles que não participam dessa atividade?”
Nesse contexto, compreender de que maneira a dança pode melhorar os aspectos funcionais é fundamental para consolidá-la como uma prática física recomendada para idosos. Portanto, o presente estudo tem como objetivo geral identificar as formas pelas quais a dança pode influenciar positivamente a capacidade funcional de pessoas idosas. Para atingir esse objetivo, serão perseguidos os seguintes objetivos específicos: (1) analisar como a produção acadêmica dos últimos dez anos aborda a dança no campo da educação física; (2) examinar de que maneira os estudos tratam o uso da dança para o desenvolvimento das capacidades físicas; (3) buscar evidências na literatura sobre os efeitos da dança na funcionalidade de idosos; e (4) investigar como diferentes modalidades de dança podem promover adaptações funcionais em indivíduos com 60 anos ou mais.
2. METODOLOGIA
2.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA
Esta pesquisa possui uma abordagem descritiva, exploratória e qualitativa, centrada em uma revisão sistemática bibliográfica. Primeiramente, observa-se que o artigo aqui exposto se apresenta como uma pesquisa descritiva, que é um tipo de investigação cujo principal objetivo é descrever as características de um fenômeno ou problema, sem manipulá-lo ou interferir diretamente Rodrigues (2007). Ela busca retratar de forma detalhada o objeto de estudo, relatando “o que é” ou “como é” determinado fenômeno
Aqui, portanto, tem-se como objetivo principal descrever as características e os efeitos da prática da dança entre idosos em programas de atividades físicas supervisionadas. Esse tipo de estudo busca documentar e relatar com precisão como a dança influencia a qualidade de vida dos idosos, abordando aspectos como a melhora da capacidade funcional, a saúde física e os benefícios sociais. A pesquisa descritiva não intervém diretamente nos fenômenos estudados, mas sim os observa e registra de forma sistemática.
Além disso, ela também é exploratória, uma vez que visa explorar um tema que ainda não foi investigado de forma específica Rodrigues (2007). Neste caso, o foco é o conhecimento sobre o impacto da dança na qualidade de vida dos idosos, compreendendo melhor os mecanismos e efeitos dessa prática na vida cotidiana. O caráter exploratório se revela ao buscar a compreensão de uma temática que, apesar de já discutida, ainda carece de maior sistematização e aprofundamento em certos aspectos.
Tem-se, também, quanto à sua natureza, trata-se de uma pesquisa qualitativa. Uma pesquisa qualitativa é um tipo de investigação focada em compreender fenômenos de maneira detalhada, explorando os significados, percepções e experiências dos indivíduos envolvidos. Ao invés de se concentrar em números e quantificações, a pesquisa qualitativa busca captar aspectos subjetivos e contextuais, como sentimentos, opiniões, motivações e dinâmicas sociais.
Assim, entende-se que o referido trabalho se preocupa em entender o fenômeno da dança e seus impactos de forma subjetiva, levando em consideração as experiências, percepções e significados atribuídos pelos idosos à prática dessa atividade. O enfoque qualitativo permite uma análise dos relatos e dos efeitos da dança, indo além dos números e estatísticas para compreender como essa prática se relaciona com a qualidade de vida.
Para fundamentar essa investigação, foi realizada uma revisão sistemática e bibliográfica. Para tal, a pesquisa segue um processo rigoroso e estruturado de levantamento, análise e síntese de estudos existentes sobre o impacto da dança na qualidade de vida de idosos em programas de atividades físicas. Uma revisão sistemática busca reunir todas as evidências empíricas relevantes sobre uma questão de pesquisa específica, utilizando uma metodologia bem definida para localizar, avaliar e sintetizar os dados disponíveis. O objetivo é identificar padrões, bem como possíveis lacunas no conhecimento. Diferente de uma revisão tradicional, uma revisão sistemática segue critérios metodológicos pré-determinados para minimizar vieses e garantir que os resultados sejam confiáveis.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como retratado no Quadro 1, foram selecionados dez artigos originais tanto nacionais quanto internacionais, datados dos últimos dez anos (2014 à 2024). Para se adequar aos critérios de inclusão, eles deveriam utilizar quaisquer modalidades de dança em sua intervenção.
Quadro 1 – Artigos selecionados para compor a revisão
TÍTULO | AUTOR/ANO | OBJETIVO | RESULTADO |
Capacidade funcional entre idosos ativos: um estudo comparativo. | Pinheiro; Broch e Gasparin (2019) | Analisar a capacidade funcional de idosos ativos participantes de Grupos de Danças Tradicionais (CTG) e do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). | constatou-se que nos testes de capacidade funcional, o grupo do CTG apresentou melhores resultados ao ser comparado com o grupo CRAS, isso de deu pelo fator idade, pois a maioria dos integrantes possuía 60 anos e também pelo fato da realização de atividades consideradas complementares no desenvolvimento do conjunto das capacidades motoras nos idosos. |
Efeitos da dança no equilíbrio postural, na cognição e na autonomia funcional de idosos | Borges et al. (2018) | Objetivo: avaliar o equilíbrio postural, a cognição e a autonomia funcional de idosos com demência, institucionalizados de longa permanência, submetidos à dança de salão. | O grupo controle apresentou no miniexame do estado mental média de 24,27, e o experimental 22,75. Autonomia funcional para atividades da vida diária – experimental: 54,47 ± 7,24 (p < 0,0001) x controle: 61,77 ± 8,47 (p = 0,011). Equilíbrio postural – experimental: X = 3,16 ± 3,44 (p = 0,02) x controle = X = 6,30 ± 7,62 (p = 0,04). |
Tango-therapy vs physical exercise in older people with dementia; a randomized controlled trial | Bracco et al. (2023) | Investigar a eficácia da tangoterapia na velocidade da marcha, mobilidade funcional, equilíbrio, quedas, capacidade de realizar atividades da vida diária e qualidade de vida. | Após 3 meses, o IG melhorou a velocidade da marcha (p = 0,016), implicando uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos a favor do IG (p = 0,003). O GC piorou significativamente o tempo para completar o TUG (p = 0,039). Ambos os grupos declinaram na capacidade de realizar atividades da vida diária, sendo estatisticamente significativo apenas no GC (p < 0,001). |
Influence of square dancing on motor function of middle-aged and elderly womenEffects of traditional concurrent training and | Jiang (2022) | Explorar o efeito dos exercícios de dança quadrilha de longa duração na função motora em mulheres de meia-idade e idosas | Após o exercício, a força de preensão das mulheres de meia-idade no grupo de dança de quadrilha e as sessões de 1 minuto foram significativamente melhoradas, em particular, o valor médio da resposta de seleção foi reduzido de 516,20±83,87 antes do exercício para 440,28±58,07, houve uma diferença muito significativa |
Functional capacity evaluation of elderly people: activity of the family health strategy teams | Marandini, Silva e Abreu (2017) | Avaliar a capacidade funcional de idosos que participam de grupos em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da família e verificar como a participação no grupo influencia a capacidade funcional para realização das atividades de vida diária. | Os participantes do grupo são maioria independente nas atividades básicas de vida diária, sendo 97% (29). Nas atividades instrumentais da vida diária, 37% (11) apresentaram pontuação máxima, sendo independentes. Os idosos avaliaram que o grupo auxilia na manutenção de independência e autonomia. |
Effects of Dance/Movement Training vs. Aerobic Exercise Training on cognition, physical fitness and quality of life in older adults: A randomized controlled trial | Esmail et al. (2020) | O objetivo deste estudo foi comparar os efeitos do Treinamento de Dança/Movimento (DMT) ao Treinamento de Exercícios Aeróbicos (AET) na cognição, aptidão física e qualidade de vida relacionada à saúde em idosos inativos saudáveis. | 41 participantes completaram o estudo. As pontuações compostas executivas e não executivas mostraram um aumento significativo após o treinamento (F (1,37) = 4,35, p = 0,04; F (1,37) = 7,01, p = 0,01). As melhorias na aptidão cardiovascular foram específicas para o grupo AET (F (2,38) = 16,40, p < 0,001), enquanto as melhorias na mobilidade não foram dependentes do grupo (caminhada de 10 m: F (1,38) = 11,67, p = 0,002; Timed up and go: F (1,38) = 22,07, p < 0,001). |
Effect of Creative Dance on Fitness, Functional Balance, and Mobility Control in the Elderly | Joung e Lee (2019) | Investigamos os efeitos de um programa de DC na aptidão física, equilíbrio funcional e mobilidade em idosos. | Foi encontrada uma interação significativa grupo × tempo para os testes de ficar em pé por 30 s e flexão de braço por 30 s, e para o BBS, TUG, DGI e velocidade da marcha. Testes t pareados post hoc revelaram pontuações significativamente maiores para os testes de ficar em pé por 30 s, flexão de braço por 30 s, alongamento das costas e sentar e alcançar na cadeira, e para o TUG, BBS, TUG, DGI e velocidade da marcha no grupo CD. As pontuações dos testes de flexão de braço por 30 s e sentar e alcançar na cadeira aumentaram significativamente no grupo ST. |
A influência da dança sênior na capacidade funcional em idosas. | Santos et al. (2019) | Avaliar os efeitos promovidos na capacidade funcional pré e pósrealização de dança sênior em um grupo de mulheres idosas | Os valores obtidos após a análise dos dados evidenciaram um incremento no TC6’ quando comparado pré (433,00 ±62,85) e pós (475,42 ± 67,49) intervenção. No valor predito observamos que as idosas ultrapassaram a média para idade e sexo comparando pré (475,42 ± 67,49) e pós (458,58 ± 43,73) intervenção. A PEmáx não apresentou melhora significativa no pré (68,63 ± 15,08) e pós (75,00 ± 19,05) intervenção e a PImáx demonstrou um decréscimo nos valores no pré (101,84 ± 43,46) e pós (92,47 ± 23,83) intervenção |
Efeitos da dança no equilíbrio postural, na cognição e na autonomia funcional de idosos | Borges et al. (2018) | Avaliar o equilíbrio postural, a cognição e a autonomia funcional de idosos com demência, institucionalizados de longa permanência, submetidos à dança de salão. | O grupo controle apresentou no mini exame do estado mental média de 24,27, e o experimental 22,75. Autonomia funcional para atividades da vida diária – experimental: 54,47 ± 7,24 (p < 0,0001) x controle: 61,77 ± 8,47 (p = 0,011). Equilíbrio postural – experimental: X = 3,16 ± 3,44 (p = 0,02) x controle = X = 6,30 ± 7,62 (p = 0,04). |
Efeito da capoterapia e da dança sênior na flexibilidade e qualidade de vida de idosas. | Vieira, Silva e Rêgo (2022) | Avaliar quais são os efeitos da capoterapia e da dança sênior na flexibilidade e qualidade de vida de idosas | Os resultados revelam que a maioria das idosas ativas apresentaram um bom nível de qualidade de vida nos domínios capacidade funcional e aspectos sociais; enquanto a maioria das inativas apresentaram um bom nível no domínio saúde mental. Na análise da flexibilidade, as idosas apresentaram diferença significativas (p = 0,12 vs. p = 0,28) |
Fonte: Autores (2024)
A presença de declínio funcional não deve ser considerada uma característica do envelhecimento e sim um sinal de doença precoce, por esse motivo, identificá-lo na população idosa é o primeiro passo para se proporcionar um envelhecimento de qualidade (Marandini et al, 2017). As unidades básicas de saúde (UBS) possuem papel importante tanto na identificação de perda de capacidade funcional, como na promoção de atividades para melhoria desses aspectos (Marandini et al., 2017).
A melhoria da capacidade funcional é um fator importante para o grupo populacional de idosos e o que torna esse aspecto imprescindível é o fato de que, quanto melhor a capacidade funcional de um indivíduo, maior a sua autonomia e saúde, aumentando assim, a qualidade de vida. Quanto menor é a incidência de acidentes potencialmente debilitantes, como as quedas, maior longevidade eles poderão alcançar, a partir desta premissa, estudos mais antigos como o de Pena (2008) se propuseram a observar se a aplicação de um programa de dança, com momentos de aquecimento específicos para a melhoria de flexibilidade, em um grupo de idosas seria eficiente positivamente para a diminuição de quedas.
Acabaram constatando que, as idosas que participaram da intervenção tiveram menos acidentes do tipo, quando comparadas às que não participaram, porém, sem grandes diferenças estatísticas, fazendo com que essa afirmativa não possa ser considerada como representativa da sociedade. No entanto, é importante considerar as limitações do estudo, como a baixa frequência semanal de atividade (aulas com duração de uma hora, apenas duas vezes por semana), o grupo amostral era somente composto por mulheres, todas residentes de um bairro de Salvador.
A partir dos estudos analisados, é possível compreender que idosos que praticam dança regularmente, apresentam melhora na agilidade e resistência aeróbia, além de manter outros componentes funcionais em níveis favoráveis para uma vida independente, conforme afirma o estudo de Santos et al, (2019), que selecionou dois grupos amostrais, sendo 15 indivíduos que participam de um protocolo de dança com duração de 1 hora, três vezes por semana e o grupo controle que era composto por 5 idosos que não praticam atividade física sendo observados por 12 semanas.
Essa afirmativa é corroborada por Pinheiro et al. (2018), que analisou pessoas idosas de 60 a 81 anos, sem doenças crônicas, reiterando que além dessas capacidades, o equilíbrio, a força dos membros superiores e inferiores, a resistência anaeróbia, a massa muscular, a massa óssea e o sistema articular são reforçados pela prática de danças tradicionais, no entanto, quando comparados os idosos do grupo praticante de ginástica aeróbica e recreação com os praticantes apenas de dança tradicionalista, os praticantes de dança apesar de apresentarem melhores resultados em todos os testes e principalmente no teste de resistência anaeróbia, as diferenças estatísticas foram mínimas, o que pode demonstrar que a ginástica também é um excelente exercício para a população idosa, assim como indica Santos et al. (2019).
Quando partimos para outros estudos, vemos que uma frequência de três dias de prática de dança de estilos musicais variados (foxtrote, valsa, rumba, swing, samba e bolero) já apresenta mudança significativa (p < 0,05) no aumento dos níveis de autonomia funcional para as atividades da vida diária (AVD) dos participantes, além de melhoria do estado mental dos mesmos devido aos estímulos musicais e interação social, fatores que também contribuem para a boa qualidade de vida (Borges et al., 2018). Outro ponto interessante visto por Borges et al., (2018) é que a dança de salão além de promover a melhora do equilíbrio e do desempenho motor, demonstrou ser uma forma de prevenção e controle de agravamentos de doenças demenciais e motoras já existentes no paciente idoso que são outros fatores debilitantes para o idoso.
Outros artigos de revisão como o de Amaral (2014), que analisou pesquisas de 2007 a 2010, chegou à conclusão de que a dança sênior provoca melhorias significativas na capacidade funcional de seus participantes, assertiva que também pode ser considerada no presente estudo, tendo em vista, que a maioria dos artigos selecionados apresentou melhorias em seus resultados, mesmo que em pequena escala.
Em estudos realizados por Bracco et al. (2023), analisou eficácia da tangoterapia na velocidade da marcha, mobilidade funcional, equilíbrio, quedas, capacidade de realizar atividades da vida diária e qualidade de vida em idosos. O ensaio clínico randomizado foi conduzido entre dezembro de 2022 e março de 2023, controlado com 31 participantes que vivem em uma unidade especializada em demência, com idades entre 65 e 93 anos, que foram aleatoriamente designados para o grupo tango (GI) ou grupo exercício físico (GC).
A intervenção consistindo em duas sessões semanais de 60 minutos por três meses em uma única sala para a intervenção, promovendo uma atmosfera de camaradagem e aprendizado em grupo. As sessões foram lideradas por equipe de enfermagem que recebeu treinamento prévio em tango terapêutico pela Universidade da Borgonha. Assim concluindo que as intervenções de tango mostraram eficácia na melhora da velocidade da marcha e na mitigação do declínio na mobilidade funcional e nas capacidades de habilidades ADL. Permitir que idosos com demência tenham acesso a intervenções não farmacológicas pode ser uma estratégia bem-sucedida para prevenir o declínio funcional.
Em outra abordagem, agora trazida por Jiang (2022), explora-se o efeito dos exercícios de dança de quadrilha de longa duração sobre a função motora nas mulheres de meia-idade e idosas. A qualidade de vida das mulheres de meia idade e idosas são afetadas pelos efeitos fisiológicos do envelhecimento no sistema locomotor; o exercício aeróbico moderado é comprovadamente uma das práticas que pode retardar esses efeitos deletérios.
A dança de quadrilha tem características funcionais de exercício aeróbico, Yoshida et al. (2020) disse que a dança quadrilha é uma combinação de condicionamento físico e corpo no esporte e na arte, uma atividade de dança fitness em grupo que é acompanhada por uma bela música rítmica e realizada em locais espaçosos como praças, é a fusão perfeita de esporte e arte na dança. No devido estudo foram recrutadas 45 mulheres de meia-idade e idosas, divididas em grupo experimental e controle, participaram do experimento. As mulheres do grupo experimental (n=25) realizaram exercícios de dança de quadrilha de 90 minutos, 4 vezes por semana durante 6 meses.
Foram coletados indicadores de função física, capacidades vitais e índices de função motora. Os resultados do teste mostram que o exercício de dança quadrada de longo prazo tem um certo efeito na melhoria da função cardiopulmonar de mulheres de meia-idade e idosas a força de preensão melhorou, a força da cintura e do abdômen também foi melhorada, a força muscular também foi fortalecida até certo ponto.
Em um ensaio clínico Esmail et al. (2019), analisou os efeitos do treinamento de dança/movimento versus treinamento de exercícios aeróbicos na cognição, aptidão física e qualidade de vida em idosos. Foi conduzido de março de 2015 a abril de 2016. Todos os participantes potenciais foram selecionados por telefone com uma descrição geral do projeto e um questionário médico para determinar sua elegibilidade.
Dos critérios de inclusão, tem-se homens e mulheres com 60 anos ou mais que eram inativos (ou seja, que não atendiam às diretrizes de atividade física do Colégio Americano de Medicina Esportiva para praticar 150 minutos de exercícios estruturados de intensidade moderada por semana) foram alvos deste estudo. O risco dos participantes em se inscrever neste estudo foi avaliado usando o Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Qþ) autorrelatado, os participantes foram randomizados em um dos três grupos (DMT, AET, CG).
Foram inscritos em um programa de treinamento com três sessões de 60 minutos por semana. Ambos os programas DMT e AET ocorreram no mesmo centro de pesquisa da instituição geriátrica em uma academia dedicada à pesquisa. Os participantes foram solicitados a comparecer a pelo menos 80% das sessões de treinamento (ou seja, não poderiam faltar a mais de 7 das 36 sessões), caso contrário, eles foram excluídos das análises. Os resultados sugerem que o DMT pode ter um impacto positivo na cognição e no funcionamento físico em adultos mais velhos, no entanto, mais pesquisas são necessárias.
As atividades físicas desempenham um papel importante na prevenção do declínio físico. Assim, combinar atividade física e certas atividades criativas, como Dança Criativa (DC), pode ajudar a facilitar o envelhecimento bem-sucedido. Essa afirmativa é respaldada por Joung e Lee (2019), que realizaram estudo com o objetivo de investigar os efeitos de um programa de DC na aptidão física, equilíbrio funcional e mobilidade em idosos.
Os participantes foram recrutados na província de Soon-Chang, República da Coreia, por meio da publicação de folhetos e anúncios em jornais locais. Oitenta e seis idosos residentes na comunidade foram recrutados voluntariamente. Os critérios de inclusão foram os seguintes: (1) eram idosos residentes na comunidade saudáveis, (2) tinham entre 65 e 80 anos, (3) estavam dispostos a participar deste estudo, (4) eram capazes de andar independentemente, (5) tinham um Korea Mini Mental State Examination (K-MMSE), e (6) não tiveram problemas para completar o questionário ou entender o protocolo do estudo. Os critérios de exclusão foram os seguintes: (1) tinham sido diagnosticados com uma doença neurológica e/ou musculoesquelética, (2) foram submetidos a cirurgia nos 6 meses seguintes à primeira sessão de coleta de dados, ou (3) tinham uma doença crônica.
Os critérios de inclusão e exclusão foram avaliados por meio de um questionário com uma entrevista complementar. Participantes devido a problemas de saúde, quatro idosos foram excluídos antes do Os 86 participantes elegíveis foram alocados aleatoriamente para um grupo de CD (n = 43) ou um grupo de treinamento de alongamento (ST; n = 43). As sessões de CD e ST duraram 90 minutos e foram realizadas duas vezes por semana durante 8 semanas. As intervenções ocorreram em um centro comunitário para idosos. Um coreógrafo profissional de dança contemporânea liderou a sessão de CD, enquanto um treinador profissional liderou a sessão de alongamento.
Os resultados do estudo atual indicam que a DC é eficaz para melhorar a força, a flexibilidade, o equilíbrio funcional e a mobilidade, e é uma atividade física agradável para adultos mais velhos. Envolver-se em atividades criativas e manter um desempenho funcional saudável são importantes para um envelhecimento bem-sucedido. Além disso, sabe-se que as intervenções que aumentam a criatividade têm um efeito positivo nos indicadores de saúde fisiológica.
Já os estudos de Borges et al. (2018) explora os efeitos da dança sênior na capacidade funcional de mulheres idosas, especialmente em relação à resistência, mobilidade e flexibilidade. A prática da dança sênior é uma atividade aeróbica que busca estimular as capacidades sensório-motoras e cognitivas, sendo uma alternativa para retardar o processo de envelhecimento ao manter ou melhorar a funcionalidade das participantes.
A amostra, de Borges et al. (2018) foi composta por 19 mulheres com idade média de 64 anos, que participaram de sessões de dança duas vezes por semana, durante cerca de uma hora, ao longo de 21 semanas. Os resultados indicaram uma melhora significativa na distância percorrida no Teste de Caminhada de 6 Minutos (TC6′), aumentando de uma média de 433,00 metros no pré-teste para 475,42 metros no pós-teste, o que demonstrou que a dança sênior contribuiu para a melhora da resistência física.
Já em relação à Pressão Expiratória Máxima (PEmáx) e à Pressão Inspiratória Máxima (PImáx), os resultados foram mistos. A PEmáx teve um aumento não significativo, de 68,63 para 75,00, enquanto a PImáx apresentou uma leve queda, de 101,84 para 92,47. Isso indicou que, apesar dos benefícios em resistência e mobilidade, a dança sênior não teve um impacto positivo consistente sobre a capacidade respiratória das participantes.
Para o estudo de Vieira, Silva e Rêgo (2022) foi realizada uma investigação sobre os efeitos da capoterapia e da dança sênior sobre a flexibilidade e qualidade de vida em idosas. Essas atividades físicas são promovidas para aumentar a flexibilidade e melhorar a qualidade de vida de pessoas idosas. O estudo é do tipo observacional e de coorte, envolvendo uma amostra de 94 idosas, divididas entre 66 praticantes de capoterapia e dança sênior, e 28 idosas sedentárias.
Para avaliar o impacto dessas atividades, foi aplicado o questionário Medical Outcomes Study-36 (MOS-36) abreviado, que analisa diferentes domínios da qualidade de vida, juntamente com uma avaliação de flexibilidade. A análise dos dados utilizou o teste t de Student para amostras dependentes, comparando os resultados entre idosas ativas e sedentárias. Os resultados indicaram que as idosas ativas apresentaram um bom nível de qualidade de vida nos domínios de capacidade funcional e aspectos sociais, enquanto o grupo sedentário teve melhores índices no domínio de saúde mental. Em relação à flexibilidade, as idosas ativas mostraram uma diferença significativa em comparação ao grupo sedentário, ainda que os valores de significância (p = 0,12 e p = 0,28) indiquem limitações na interpretação dos efeitos.
4. CONCLUSÃO
A prática da dança é uma atividade física que proporciona múltiplos benefícios para a população idosa, contribuindo na manutenção da capacidade funcional, essencial para uma vida independente e de qualidade. Além de fortalecer o sistema muscular e melhorar o equilíbrio, também promove o desenvolvimento da resistência aeróbia e anaeróbia, reduzindo o risco de quedas e lesões, aspectos críticos para a segurança e autonomia dos idosos.
No âmbito social e emocional, a dança também é uma poderosa ferramenta para reduzir o isolamento, incentivando a interação e criando um ambiente de convivência saudável que melhora o bem-estar psicológico. Ademais, os estímulos cognitivos presentes na dança como a memorização de passos e a coordenação com a música ajudam a preservar funções mentais como memória e atenção.
Assim, a dança revela-se uma prática completa, que não apenas promove saúde física e mental, mas também transforma o envelhecimento em uma experiência mais prazerosa e fortalecedora.
REFERÊNCIAS
ALVES, L. et al., 2008. Conceituando e mensurando a incapacidade funcional da população idosa: uma revisão de literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, p. 1199–1207. https://doi.org/10.1590/S1413-81232008000400016
AMARAL, Paulo Costa. Efeitos funcionais da prática de dança em idosos. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício, v. 13, n. 1, p. 43-49, 2014.
BARBOSA, Bruno Rossi et al. Avaliação da capacidade funcional dos idosos e fatores associados à incapacidade. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, p. 3317-3325, 2014.
BORGES, Eliane Gomes da Silva et al. Efeitos da dança no equilíbrio postural, na cognição e na autonomia funcional de idosos. Revista brasileira de enfermagem, v. 71, p. 2302-2309, 2018.
CONRADSSON, M.; ROSENDAHL, E.; et al. Usefulness of the geriatric depression scale 15-item version among very old people with and without cognitive impairment. Aging & Mental Health [Internet], v. 17, n. 5, p. 638-645, 2013. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3701937/. Acesso em: 27 out. 2024.
FERNANDES, Ciane. O corpo em movimento: o sistema Laban/Bartenieff na formação e pesquisa em artes cênicas. São Paulo: Annablume, 2002. ISBN 85-7419-238-4.
FOSTER, Susan Leigh. Coreografando empatia: cinestesia na performance. Nova York: Routledge, 2010.
INFANTE, Rocio. Fundamentos da dança: Corpo – movimento – dança. Guarapuava: UNICENTRO, 2011.
LABAN, Rudolf. O domínio do movimento. Boston: Plays, Inc., 1960.
LABAN, Rudolf. The Mastery of Movement. 4. ed. Plymouth: Northcote House, 1980.
LOURENÇO, Tânia Maria et al. Capacidade funcional no idoso longevo: uma revisão integrativa. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 33, p. 176-185, 2012.
MARANDINI, Ban, et al. Functional capacity evaluation of elderly people: activity of the family health strategy teams. Rev Fun Care Online. 2017 out/dez; 9(4): 1087-1093. DOI: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361.2017.v9i4. 1087-1093
PAIVA, Ana Clara et al. Dança e envelhecimento: uma parceria em movimento. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 15, n. 1, p. 70-72, 2010.
PENA, Norberto. Eficácia de um programa de dança para prevenir quedas entre idosos. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 32, n. 2, p. 168-168, 2008.
RODRIGUES, William Costa et al. Metodologia científica. Faetec/IST. Paracambi, v. 2, 2007.
PINHEIRO, Mônica; BROCH, Daiane; GASPARIN, Vanessa Aparecida. Capacidade funcional entre idosos ativos: um estudo comparativo. RBNE-Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 12, n. 74, p. 766-775, 2018.
ROSA, Tereza Etsuko da Costa et al. Fatores determinantes da capacidade funcional entre idosos. Revista de Saúde Pública, v. 37, p. 40-48, 2003.
SEBASTIÃO, Emerson et al. Efeitos da prática regular de dança na capacidade funcional de mulheres acima de 50 anos. Revista da Educação Física, Maringá, v. 2, p. 205-214, 2008. DOI:10.4025/reveducfisv19n2p205-214. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/277101337>. Acesso em: 11 set. 2024.
SANTOS, Tatiane et al. A influência da dança sênior na capacidade funcional em idosos. Revista Saúde Integrada, v. 23, 2019. ISSN 2447-7079. Disponível em: <http://local.cnecsan.edu.br/revista/index.php/saude/index>. Acesso em: 11 set. 2024.
VIANNA, Klauss. A dança. Summus Editorial, 2005.
VIEIRA, José Newton Lacet; SILVA, Flor de Maria Araújo Mendonça; RÊGO, Adriana Sousa. Efeito da capoterapia e da dança sênior na flexibilidade e qualidade de vida de idosas. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, v. 19, n. 1, p. 29-36, 2022.