SUPLEMENTAÇÃO DE CÁLCIO NA MENOPAUSA PARA PREVENÇÃO DA OSTEOPOROSE: UMA REVISÃO DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202411121404


Fátima Cristina Cavalcante Salles1
Maria Cristina Delvage de Souza Burdelis2
Nicole Dutra de Souza3
Simone Comelli da Silva Graeff4
Thaís Bonadio Buzzi5


RESUMO

Menopausa, um marco biológico que está associado à deficiência da densidade óssea e maior probabilidade do aparecimento da osteoporose.

As informações abaixo, estão direcionadas a busca sobre a eficácia da suplementação do cálcio, como uma das estratégias de suplementação para o tratamento e prevenção da patologia citada, em mulheres que se encontram na fase pós menopausa. O estudo é direcionado ao levantamento de dados, que se relacionam com a dose adequada de cálcio, sua biodisponibilidade e seus efeitos adversos, se determinam a prevenção da perda óssea através de sua suplementação isolada, além de apresentar a relevância e atuação do profissional nutricionista inserido neste contexto. Importante ressaltar que vários estudos comprovam a eficácia do mineral cálcio, dependendo de fatores individualizados e adequações das doses propostas e a sinergia do mesmo com outras vitaminas e minerais.

A metodologia utilizada foi desenvolvida através da revisão da literatura de artigos científicos de maior relevância ao tema, com periodicidade de 10 anos. Na busca dos artigos científicos publicados foram utilizados as seguintes palavras e associações: suplementação, cálcio, menopausa, osteoporose, diretrizes.

Diante de todos os artigos pesquisados, referentes ao tema, concluiu-se que se faz necessário dar continuidade e maior abrangência ao leque de pesquisas, pois diante das informações obtidas, até o momento, não há um consenso de negação ou confirmação quanto às conclusões sobre o trabalho científico apresentando por Bolland et al. (2010), que evidenciou maiores probabilidades sobre o desenvolvimento de riscos cardiovasculares associados a suplementação do cálcio.

Palavras-chaves: Menopausa. Osteoporose. Suplementação de cálcio.

1.  INTRODUÇÃO

Mulheres em período pós menopausa, com desenvolvimento da patologia osteoporose, necessitam de um acompanhamento mais efetivo em relação à suplementação do mineral cálcio que apresenta função de extrema relevância no combate e prevenção da patologia citada.

O cálcio apresenta se como um mineral essencial para a manutenção da saúde óssea, pela redução da produção do hormônio estrogênio, impactando diretamente sobre a densidade mineral óssea (DMO), aumentando a probabilidade de maiores chances no desenvolvimento da patologia osteoporose e suas consequências, sendo de extrema importância, o desenvolvimento de estratégias que possam levar à eficácia sobre as prevenções adequadas (Cozzolino, 2021).

Segundo o Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas para a Osteoporose, publicado pelo Ministério da Saúde em 2023, a patologia osteoporose é descrita como um estado de redução de massa óssea, consequentemente a maiores riscos de fraturas, devido à fragilidade da estrutura.

O protocolo enfatiza sobre a importância das orientações relacionadas ao diagnóstico e tratamento, com destaque à suplementação do cálcio, uma intervenção central, também a importância sobre alterações no estilo de vida, ingestão adequada de outros minerais e vitaminas e o próprio cálcio nas doses adequadas e individualizadas (Radominski et al., 2017).

O estudo referido apresenta como objetivo principal, análise e a eficácia da suplementação do cálcio , na prevenção e no tratamento da patologia osteoporose em mulheres na fase pós menopausa, através da abordagem sobre manejos adequados; dosagens recomendadas, a biodisponibilidade que as mesmas apresentam e até possíveis complicações devido à superdosagem, através de uma revisão de literatura que cita as evidências mais atualizadas referentes ao tema “Suplementação de Cálcio para Prevenção de Osteoporose”.

2.  METODOLOGIA

Como metodologia utilizada para a realização deste trabalho, de conclusão de curso, utilizou-se a busca de artigos científicos dos últimos 10 anos (2014 a 2024). Isso foi feito, por meio de revisão da literatura, em bases de dados como: Google Acadêmico, Scielo, PubMed, livros acadêmicos e outros que mostram dados importantes para a pesquisa. Artigos, fora dessa data, apenas foram citados quando muito relevância ao tema.

A busca de dados teve o período de agosto a dezembro de 2024 e foram pesquisados artigos sobre a suplementação de cálcio para mulheres no climatério preferencialmente na pós menopausa e excluindo aquelas que apresentem diagnóstico de Doença Renal Crônica ou hipercalcemia.

Na busca dos artigos científicos publicados foram utilizados as seguintes palavras e associações: suplementação, cálcio, menopausa, osteoporose, diretrizes e seus correspondentes em inglês: supplementation, calcium, menopause, osteoporosis, guidelines.

A busca na literatura incluiu, também, referências encontradas nos artigos científicos buscados nas bases de dados e em websites de sociedades médicas e fundações internacionais que publicaram estudos sobre o assunto do trabalho em questão.

3.  REVISÃO DA LITERATURA

3.1  Menopausa

Climatério e menopausa são determinados pela Organização Mundial de Saúde como um ciclo biológico da vida da mulher e não um processo patológico. Ao longo da vida, a mulher passa por diferentes fases hormonais, que começam na puberdade com a menarca e vão até a menopausa, quando esses ciclos encerram, o que ocorre geralmente entre 45 e 56 anos (Selbac et al., 2018).

Essas mudanças desestabilizam a saúde feminina, e o desequilíbrio do cálcio no organismo, ampliam o risco de condições como osteoporose, hipertensão, câncer, depressão entre outras (Carreiro, 2021; Souza, Martinez, 2022). Apesar de que, a menopausa não seja uma doença, ela pode trazer sinais e sintomas que necessitam de acompanhamento para garantir a qualidade de vida no decorrer do envelhecimento feminino (Selbac et al., 2018). Por essa razão, é importante que os profissionais da saúde conheçam os sinais e sintomas de climatério e menopausa para oferecerem um serviço de assistência à mulher mais eficaz e proporcionar melhor qualidade de vida nesse processo de envelhecimento.

A menopausa possui fases de transição que são do climatério até chegar no momento da menopausa. É uma fase crítica para a saúde feminina, em função das modificações hormonais importantes que ocorrem e podem aumentar a chance de desenvolvimento de diversas condições de saúde. Nessa fase, ocorre uma redução na produção de estrogênio, o hormônio que desempenha um papel primordial na densidade mineral óssea (DMO), uma vez que inibe a reabsorção óssea pelos osteoclastos. Além de que, ocorre também uma redução nos níveis de progesterona, que, embora tenha um desempenho menor que o estrogênio, impulsiona a atividade dos osteoblastos, responsável pela formação de novo tecido ósseo. Essas alterações hormonais prejudicam a saúde óssea, e também aumentam o risco de doenças como cistos mamários, osteoporose, câncer, depressão e pólipos uterinos (Souza, Martinez, 2022).

Para a conservação de uma boa saúde é importante que todos os suplementos estejam em doses apropriadas. O acompanhamento por profissionais de nutrição é muito importante pois pode oferecer orientações sobre dietas equilibradas, suplementação necessária e hábitos de vida saudáveis. Esclarecer a importância dos cuidados com a saúde, desde o momento da alimentação balanceada até a prática de exercícios físicos diários e regulares é importante para garantir que a passagem pelo climatério seja com uma melhor qualidade de vida e com menores riscos de desenvolvimento de doenças associadas (Souza, Martinez, 2022).

Em síntese, devido às alterações fisiológicas consideráveis que acontecem durante essa fase da vida das mulheres, a suplementação com esse mineral tem decorrido um tema de grande interesse na nutrição clínica. As mulheres na pós menopausa sempre enfrentam uma diminuição na densidade mineral óssea e um aumento do risco de doenças cardiovasculares, condição, que podem ser diminuídas através de intervenções nutricionais específicas. O estudo quer dar enfoque no cálcio suplementado se é eficiente para a prevenção e/ou tratamento da osteoporose em mulheres na menopausa.

3.2  Osteoporose

A Organização Mundial da Saúde (2023) define a osteoporose como:

“Uma doença metabólica óssea sistêmica, caracterizada por diminuição da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, com consequente aumento da fragilidade do osso e da suscetibilidade a fraturas”.

A osteoporose é uma doença que tem como causa principal a redução da deposição de novo osso pelos osteoblastos. A literatura diz que a falta de atividade física, ausência de estrogênio na pós menopausa (porque esse hormônio reduz o número de atividade dos osteoclastos), e o envelhecimento (que traz consigo a diminuição de hormônios como o do crescimento) contribuem para a diminuição da formação óssea. A menopausa acelera a perda óssea de 2 a 6 vezes em relação às taxas de mulheres na pré-menopausa e depois de 10 anos de menopausa a perda óssea se reduz a cerca de 1% ao ano. Além disso, existem nutrientes importantes para a integridade óssea e quando estão deficientes podem produzir problemas na estrutura esquelética mais do que outros. Esses nutrientes são o cálcio, o fósforo, a vitamina D (Ross et al.,2016).

A osteoporose provoca diminuição na resistência óssea permitindo que ocorram fraturas mesmo em traumas pequenos. A classificação da osteoporose pode ser em primária e secundária de acordo com sua etiologia. A primária acontece com a idade por perda cumulativa da massa óssea e a secundária por alterações da microarquitetura e perda óssea ocasionada por doenças ou pelo uso de medicações como glicocorticoides em valores menores ou iguais a 5 mg/dia de prednisona por mais de 3 meses ou histórico de fraturas após os 50 anos. (Garcia el al.,2021).

De acordo com as diretrizes terapêuticas para a osteoporose do Ministério da Saúde de 2023 e protocolos vigentes da Organização Mundial de Saúde, a massa óssea é medida através de absortometria por emissão de raio X chamada de densitometria óssea (DMO). E de acordo com esses relatórios, o diagnóstico de risco de fraturas ósseas foi elaborado a partir do T-escore, que descreve o número de desvios padrões em que a densitometria óssea do paciente difere do valor médio esperado para adultos jovens. Onde valores de T-escore menor ou igual a -2,5 desvios padrões são considerados diagnóstico de osteoporose (Brasil, 2023; Garcia et al., 2021).

A investigação através de exames laboratoriais como a dosagem de paratormônio (PTH), vitamina D, magnésio e cálcio urinário são feitos com o intuito de avaliar o paciente metabolicamente e identificar possíveis riscos ao desenvolvimento de osteoporose (Brasil, 2023).

Para o tratamento da osteoporose podemos dizer que ele pode ser medicamentoso e não medicamentoso, isso de acordo com o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da osteoporose publicados pelo Ministério da Saúde em conjunto com o Conitec em 2023. Para o tratamento não medicamentoso a prática de exercício físico diária, por atuar sobre a musculatura e promover aumento da densidade mineral óssea e atuar melhorando o equilíbrio, que contribui para a prevenção de possíveis quedas. Além disso, é importante que o fumo (tabagismo) como o consumo de álcool (etilismo) seja desencorajado. Já a conduta medicamentosa para o público-alvo deste trabalho inclui o carbonato de cálcio e vitamina D como principais ativos na terapia proposta (Brasil, 2023).

Além disso, há estratégias de prevenção e manejo da osteoporose através de cuidados alimentares e nutricionais. A ingestão adequada de cálcio e vitamina D e, também de magnésio, potássio e vitamina K, vitaminas do complexo B, carotenóides, vitaminas C e E, proteínas e ácidos graxos essências e o controle do consumo de álcool favorecem a prevenção e seu controle. Apesar de todos esses compostos serem indiscutivelmente importantes para essa estratégia de prevenção e cuidado, às mulheres que estão nessa faixa de risco, as recomendações de cálcio e vitamina D estão à frente de qualquer abordagem de tratamento preventivo. O consumo através da dieta ainda é a forma preferencial de obtenção de cálcio devido ao potencial risco, do excesso desse mineral, produzir efeitos adversos em dosagens maiores de 2.000 mg/dia (Ross et al.,2016).

3.3  Cálcio

O cálcio é um mineral que possui funções estruturais e funcionais essenciais além de ser o mais abundante no corpo humano. O seu mecanismo de liberação de cálcio e absorção pelo tecido ósseo é feito através dos osteoblastos que formam novo tecido ósseo e pelos osteoclastos que reabsorvem o cálcio do osso para o sistema circulatório, onde mantém o equilíbrio desse importante íon. Ele possui funções em todo o organismo, além da importância para os ossos, que são agindo como cofatores enzimáticos, no papel funcional da regulação metabólica, na contração muscular, no sistema imunológico e outros (Cozzolino, 2021).

O processo por onde o cálcio transita no organismo são chamados desde a ingestão, digestão, trânsito intestinal, por onde o cálcio é absorvido, e sua excreção. As vias de absorção são duas a transcelular, que é dependente de vitamina D e a via paracelular, que é controlada por hormônios. O controle hormonal acontece apenas com esse mineral devido a necessidade de manter a sua concentração sanguínea constante (Cozzolino, 2021).

Os hormônios que fazem esse controle homeostático do cálcio para dentro e fora da célula são: o paratormônio (PTH), a vitamina D e a calcitonina (Carreiro, 2021). O modo de funcionamento do PTH é aumentando os níveis de cálcio no sangue através da liberação dele do osso e atuando nos rins para a reabsorção de cálcio antes de sua excreção. Já o calcitriol, que é a forma ativa da vitamina D, atua aumentando a absorção do cálcio no intestino e promovendo, também, a reabsorção de cálcio pelos rins e através da retirada do cálcio dos ossos. E por último a calcitonina que atua diminuindo os níveis de cálcio no sangue por inibir a reabsorção óssea e aumentando o depósito dele nos ossos (Carreiro, 2020; Hall, 2021).

É importante destacar que há vários tipos de suplementos de cálcio e para saber qual o melhor tipo a ser utilizado, para o paciente, é preciso uma anamnese detalhada e individualizada dessa pessoa para entender qual o tipo de cálcio que melhor se adequa. Os dois tipos mais conhecidos e utilizados no mercado atual são o carbonato de cálcio e o citrato de cálcio. E com base nesse dado será feito uma avaliação quanto ao custo, biodisponibilidade, efeitos adversos que podem ser importantes para a escolha da melhor suplementação.

O carbonato de cálcio é utilizado, em sua maioria, para indivíduos com variações anormais na acidez gástrica. Ele também é uma escolha preferencial devido ao menor custo e uma melhor absorção apesar de causar alguns efeitos indesejados como constipação e náuseas. Já o citrato de cálcio é preferido em situações de acloridria, possui um custo mais elevado e precisa de maior quantidade de comprimidos para equivaler a dose do carbonato de cálcio o que, muitas vezes , afeta a adesão ao tratamento (Anzolin et al., 2020).

Outro fator importante a ser verificado é quanto a toxicidade desse mineral, e de acordo com as DRIs, as doses, para mulheres entre 51 e 70 anos ou mais, são de 1.200 mg/dia, com um limite máximo tolerável (UL) de 2.500 mg/dia. Vale ressaltar que dosagens acima dessas recomendações não podem ser prescritas pelo nutricionista por ser considerada dosagem medicamentosa.

3.4  Papel do Nutricionista no atendimento de mulheres no climatério

O ciclo de vida feminino traz mudanças comportamentais e biológicas ao longo de sua vida. Fases como a menarca, menopausa e o climatério trazem junto variações hormonais importantes que podem desencadear o desenvolvimento de doenças como osteoporose e doenças cardiovasculares. Nesse contexto, o nutricionista é o profissional mais adequado para acompanhar essa paciente e desenvolver condutas adequadas a minimizar o risco do desenvolvimento destas e outras patologias. Isso através da dieta ou da suplementação (Pereira et al., 2020).

Com esse foco o papel do nutricionista na intervenção e tratamento de mulheres pós menopausada é muito importante para que não ocorra complicações futuras de deficiência de cálcio. Isso visto que nessa fase a mulher se encontra em predisposição dessa perda por perda da densidade mineral óssea que acontece devido a diminuição do estrogênio que ocorre na fase de vida feminina. Através de modificações nutricionais, feitas pelo profissional de nutrição, é possível promover uma dieta com variedade nutricional composta por macro e micronutrientes importantes em suas doses recomendadas visando a diminuição dos riscos de desenvolvimento de patologias conhecidas nesse momento da vida da mulher no climatério (Silva et al., 2021).

As atribuições competentes do nutricionista em uma consulta são: avaliação nutricional, educação sobre a importância dos nutrientes em várias fases (da gestação ao envelhecimento), planejamento alimentar, suplementação, monitoramento da saúde e possíveis deficiências. Além disso, o nutricionista, também, apoia psicologicamente esclarecendo e orientando a busca de uma equipe multidisciplinar para o acompanhamento, se necessário dessa pessoa. Por último o profissional, em questão visa através de uma conduta individualizada atender esse paciente de forma única e com promoção de saúde do indivíduo como um todo e através da nutrição favorecer uma melhor qualidade de vida (NIH, 2024).

4.  DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

4.1  Discussões

Analisando pesquisas sobre a suplementação de cálcio em mulheres na pós-menopausa, observou-se situações variadas apontando tanto para benefícios quanto para riscos. A diminuição dos níveis hormonais de estrogênio, característica comum na menopausa, é considerada um fator chave na perda da densidade óssea, tornando a suplementação do mineral cálcio uma forma comum para a prevenção da osteoporose. No entanto, há divergências quanto à segurança e eficácia dessa terapia, mesmo combinando-a com outras substâncias.

De acordo com Selbac et al. (2018), o estrogênio tem um papel importante na regulação da atividade osteoblástica e consequentemente manutenção da integridade óssea, sua ausência na menopausa é um fator determinante para o desenvolvimento da osteoporose. Este estudo indica que a suplementação de cálcio pode desempenhar um papel importante na prevenção de fraturas decorrentes da osteoporose, porém conclui que mais estudos devem ser realizados para comprovar sua real eficácia.

Em outro estudo de revisão, que avaliou a suplementação de cálcio isolado, vitamina D e a combinação de ambos, concluiu que não há evidências benéficas da suplementação isolada de cálcio na prevenção de fraturas em mulheres na menopausa e ainda, encontrou indícios de que a suplementação de cálcio e vitamina D de forma inadequada aumenta a incidência de cálculos renais (Grossman et al., 2018).

O Ministério da Saúde (2023) em sua diretriz destacou a importância do tratamento da osteoporose, incluindo medidas preventivas e farmacológicas. A suplementação de cálcio é recomendada de forma cautelosa, devido às preocupações com eventos cardiovasculares associados à suplementação excessiva do mineral, especialmente em doses superiores a 1.400 mg/dia. A dose recomendada deve ser inferior a 1.400 mg/dia de cálcio elementar, fracionada em doses de 500 mg de cálcio elementar. O exame de densitometria óssea é indicado inicialmente para avaliação, repetindo o mesmo a cada 1 a 2 anos, até que se confirme a estabilização da massa (Brasil, 2023).

Cano et al. 2018 sugere que, doses elevadas de cálcio (>2.000 mg/dia) podem aumentar o risco de eventos cardiovasculares e formação de cálculos renais, o que gera preocupações sobre a segurança do uso envolvido de suplementos. Mesmo sendo o carbonato de cálcio mais acessível, pode causar efeitos gastrointestinais adversos, enquanto o citrato de cálcio é mais bem tolerado, especialmente para mulheres com menor acidez gástrica, característica comum na pós-menopausa.

Em contrapartida, estudos como o de Taylor et al. (2015); Harvey et al. (2018); Godinho et al. (2021) mostraram os seguintes resultados; o primeiro não encontrou associação da suplementação de cálcio ao desenvolvimento de cálculos renais, o autor seguinte não observou evidências que ligassem a suplementação de cálcio ao aumento de internações hospitalares por complicações cardiovasculares, e o último pesquisador, mostrou que não houve associação entre insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e doença cardíaca isquêmica na suplementação de cálcio com um intervalo de segurança de 95%.

As pesquisas anteriores contradizem, uma análise de Bolland (2010), que observou que a suplementação de cálcio com ou sem vitamina D pode aumentar o risco de eventos cardiovasculares.

Nesta meta-análise de Tai V et al. (2015); com 51 ensaios de controle randomizado, focados na suplementação de cálcio e mudanças na densidade mineral óssea (DMO), revelou que, a suplementação aumenta a DMO em um máximo de 1,8%, a partir do primeiro ano de tratamento, sem aumento progressivo ao longo do tempo. E o estudo ainda concluiu que a suplementação de cálcio é igual ao valor encontrado na ingestão do mineral da dieta.

Em um outro estudo Morelli, Santulli e Gambardella (2020) mostrou que os suplementos de cálcio aumentam rapidamente os níveis de cálcio circulante, o que pode levar a uma calcificação progressiva das artérias e posteriormente à doença arterial coronariana. Por outro lado, a ingestão de cálcio na dieta fornece o mineral através de uma assimilação mais lenta, o que permite manter os níveis fisiológicos de cálcio ao longo do tempo, condição essa que parece reduzir os riscos de doenças cardiovasculares.

Uma revisão de Radominski et al. (2017) traz um consenso importante, o consumo de até 1200 mg de cálcio por dia é seguro para mulheres com mais de 50 anos, mas o tratamento da osteoporose não deve ser feito exclusivamente com cálcio, reforçando a importância de uma abordagem combinada com outras terapias.

Segundo discussões ocorridas no Congresso Internacional de Envelhecimento Humano de 2015, para que haja adequada absorção do mineral cálcio no organismo é importante atentar-se a efetividade da digestibilidade e motilidade do intestino delgado, além de evitar algumas associações de vitaminas e minerais que podem potencializar ou inibir essa absorção. Partindo de uma dieta equilibrada, com redução dos fatores antinutricionais e das corretas práticas dietéticas, o alcance ao resultado seria de maior eficácia. Um dos fatores agravantes e pertinentes, que muitas vezes, pode estar sendo negligenciado e encontra-se presente na fase pós menopausa, seria a redução da produção do ácido clorídrico (acloridria) que implica em não otimizar o processo de absorção.

Um estudo com 300 mulheres na pós-menopausa, por 24 meses, analisou os efeitos da suplementação de cálcio (Ca) isolado e em combinação com frutooligossacarídeos de cadeia curta (FOS) na renovação óssea e na densidade mineral óssea (DMO). Embora a suplementação com FOS tenha benefícios potenciais, não há evidências de que essa combinação seja superior ao uso isolado de cálcio, merecendo investigação adicional (Slevin et al., 2014).

4.2  Conclusão

A patologia chamada osteoporose é influenciada por muitas causas que aumentam o risco do desenvolvimento dessa doença. Fatores de risco como o estilo de vida, condições endócrinas, genéticas, cirurgias, medicamentos e hábitos alimentares configuram os principais fatores desencadeantes da osteoporose. Destaca-se a importância de ingerir nutrientes essenciais para a saúde óssea de forma adequada. Nutrientes como proteínas, minerais (cálcio, fósforo, potássio) e vitaminas (D, K, B12) em consumo excessivo ou insuficientes podem acelerar a desmineralização óssea (Oselame et al.,2016).

O cálcio é o mineral mais abundante no corpo humano e é encontrado em alguns alimentos, presente em alguns medicamentos e disponível como suplementos alimentares. A suplementação desse mineral é dita como uma ferramenta de controle ao risco de desenvolvimento da osteoporose e de tratamento em alguns diagnósticos de osteoporose. Sendo ele parte da estrutura dos ossos e dos dentes esses dois lugares tornam-se reservatórios desse mineral e a busca de cálcio nesses reservatórios mantém a homeostasia dos fluidos corporais sempre constantes, mas a ingestão insuficiente e o declínio hormonal nessa fase da vida propiciam o desenvolvimento de fraturas e de osteopenia ou osteoporose por aumentar o consumo do mineral desses reservatórios. O controle da ingestão adequada é recomendado dependendo da faixa etária e momentos específicos da vida dessas mulheres, mas é indicado que a ingestão de cálcio esteja em torno de 1200 mg/dia, isso pelas RDA, e possui recomendações de doses de ingestão tolerável (UL), que indicam doses seguras para evitar efeitos adversos à saúde de cada pessoa (Brasil, 2023).

Na revisão da literatura, feita para a elaboração deste trabalho, foram encontrados resultados importantes sobre a suplementação do cálcio. Resultados de estudos indicam que uma suplementação de cálcio (de até 1900 mg/dia) é eficiente em diminuir o risco de desenvolvimento de câncer colorretal. Por outro lado, estudos encontrados, para uma validação de suplementação do cálcio na menopausa é contraditório. Encontrou-se resultados que não atestam achados anteriores dos riscos dessa suplementação, além da suplementada pela dieta. As conclusões encontradas, em sua maioria, é de que é preciso mais estudos clínicos randomizados para a verificação da eficiência dessa suplementação e do descarte de possíveis efeitos adversos que outros estudos relataram.

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1RA 125111345850
2RA 12522220177
3RA 125111369277
4RA 12522228198
5RA 125111369933