REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202411111240
Francisco Pereira Simões Júnior;
Orientador(a): Profa. Francilena Maria Campos Santos Dias;
Coorientador: Maria Tereza Dias Lobato
RESUMO
A biossegurança é um conjunto de medidas voltadas para a prevenção, controle e eliminação de riscos que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente. Este estudo é uma revisão narrativa da literatura, com o objetivo de analisar práticas de biossegurança na odontologia. A pesquisa foi realizada em bases de dados, abrangendo publicações dos últimos dez anos, e incluiu artigos originais, revisões de literatura e diretrizes sobre medidas de controle de infecção e o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) no ambiente odontológico. Os resultados da revisão identificaram que as principais práticas de controle de infecção em odontologia envolvem o uso adequado de EPIs, como máscaras, luvas e aventais, além da esterilização e desinfecção rigorosa de instrumentos e superfícies clínicas. A pandemia de COVID-19 trouxe novos desafios para a biossegurança odontológica, com a implementação de protocolos mais rigorosos, como o uso de máscaras específicas, aventais descartáveis e o distanciamento entre atendimentos para evitar a propagação de aerossóis contaminados. A literatura também destaca a importância da vacinação da equipe odontológica como parte essencial das medidas de proteção. Conclui-se que a biossegurança na odontologia é fundamental para a proteção de pacientes e profissionais, sendo essencial o cumprimento de normas rigorosas de controle de infecção, sendo que a pandemia de COVID 19 evidenciou a necessidade de aprimorar as práticas já existentes e adotar novos protocolos de proteção. Recomenda-se a contínua atualização dos profissionais e a realização de novos estudos que avaliem a efetividade das práticas de biossegurança em diferentes contextos odontológicos.
Palavras-chave: Biossegurança. Equipamento de Proteção Individual. Odontologia.
ABSTRACT
Biosafety is a set of measures aimed at preventing, controlling, and eliminating risks that may compromise human and animal health, and the environment. This study is a narrative review of the literature, with the objective of analyzing biosafety practices in dentistry. The research was conducted in databases, covering publications from the last ten years, and included original articles, literature reviews, and guidelines on infection control measures and the use of personal protective equipment (PPE) in the dental environment. The results of the review identified that the main infection control practices in dentistry involve the appropriate use of PPE, such as masks, gloves, and aprons, in addition to the rigorous sterilization and disinfection of instruments and clinical surfaces. The COVID-19 pandemic has brought new challenges to dental biosafety, with the implementation of more rigorous protocols, such as the use of specific masks, disposable aprons, and distancing between appointments to prevent the spread of contaminated aerosols. The literature also highlights the importance of vaccination of the dental team as an essential part of protective measures. It is concluded that biosafety in dentistry is essential for the protection of patients and professionals, and compliance with strict infection control standards is essential. The COVID-19 pandemic has highlighted the need to improve existing practices and adopt new protection protocols. It is recommended that professionals continue to update their knowledge and conduct new studies to evaluate the effectiveness of biosafety practices in different dental contexts.
Keywords: Biosafety. Personal Protective Equipment. Dentistry.
1. INTRODUÇÃO
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) define biossegurança, em seu portal, como um estado de segurança obtido através de um conjunto de medidas voltadas para a prevenção, controle, redução ou eliminação de riscos inerentes a atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente (ANVISA, 2024).
A Biossegurança, tanto na Odontologia como em outras áreas da saúde, baseia-se num conjunto de medidas destinadas a controlar e prevenir a propagação de diversas patologias infecciosas e contagiosas. O termo Biossegurança combina os conceitos de “vida” e “situação livre de riscos” (Amaral; Ribeiro, 2021).
O risco de contaminação ou infecção pode aumentar significativamente quando profissionais ou estudantes negligenciam os protocolos de biossegurança. Nesse sentido, para evitar a contaminação cruzada, é essencial implementar medidas que impeçam a transmissão de microrganismos patogênicos (Lopes et al., 2019).
As contaminações no ambiente odontológico podem ocorrer devido ao spray gerado pelas peças de mão utilizadas pelos profissionais, assim como pelos respingos que surgem durante o atendimento clínico, contendo partículas de secreções contaminadas (Amaral; Ribeiro, 2021).
Assim, nota-se que a biossegurança, aliada ao controle de infecções, é fundamental no ambiente clínico odontológico. Com o surgimento de um número crescente de doenças infectocontagiosas, mais pacientes estão se recusando a receber tratamento sem as devidas medidas de proteção. É essencial que os cirurgiões-dentistas se mantenham continuamente atualizados sobre os procedimentos e normas de biossegurança, com o objetivo de reduzir os focos de contaminação nos consultórios (Lindoso et al., 2023).
Cumprir as normas de biossegurança é crucial para prevenir a contaminação cruzada e garantir a segurança tanto do paciente quanto da equipe de profissionais (Atkinson; Freitas; Amorim, 2020).
Conforme cabe ao cirurgião-dentista (CD) orientar, manter e promover a constante atualização de toda a equipe sobre as normas de biossegurança (Viana et al., 2020), objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre a Biossegurança na Odontologia, destacando seu histórico e medidas nos ambientes odontológicos, evidenciando a importância da sua atuação na prática diária do consultório odontológico.
2. METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão de literatura narrativa de aspecto qualitativo realizada com o objetivo de explorar e sintetizar as práticas de biossegurança no âmbito da Odontologia. A revisão de literatura narrativa foi escolhida por permitir uma análise ampla e crítica das publicações relevantes sobre o tema, sem se restringir a um método específico de coleta de dados.
A busca por artigos científicos e materiais relevantes foi realizada nas seguintes bases de dados: PubMed, Scielo, Lilacs e Google Acadêmico. Foram utilizados termos de busca combinados em português e inglês, incluindo as palavras-chave: “Biossegurança,” “Odontologia,” “Práticas de Controle de Infecção,” “Protocolos de Segurança,” “Biosafety,” “Dentistry,” “Infection Control,” e “Safety Protocols.”
Foram incluídos na revisão estudos publicados entre 2019 a 2024, escritos em português, inglês ou espanhol, que abordassem aspectos de biossegurança em contextos odontológicos. Consideraram-se artigos originais, revisões de literatura, diretrizes e documentos técnicos que discutissem medidas de controle de infecção, uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), esterilização de instrumentos, e procedimentos para prevenção de contaminação cruzada.
Excluíram-se estudos caracterizados como editoriais, resumos publicados em anais de eventos científicos e aquelas produções científicas com foco exclusivo em biossegurança fora da área odontológica, bem como artigos de opinião e publicações com acesso restrito.
Inicialmente, foram identificados os títulos e resumos que atendiam aos critérios de inclusão, seguindo-se uma leitura completa dos artigos selecionados para verificar a relevância e adequação ao tema proposto. A triagem foi realizada por dois revisores de forma independente para minimizar vieses na seleção dos estudos.
Os dados extraídos dos estudos selecionados foram organizados em categorias temáticas, como: (1) práticas de controle de infecção, (2) uso de EPIs, (3) procedimentos de esterilização, e (4) desafios e avanços na biossegurança odontológica. A análise foi conduzida de maneira descritiva, destacando as práticas recomendadas e as lacunas identificadas na literatura.
Os resultados foram sintetizados de forma a apresentar uma visão abrangente das práticas de biossegurança na odontologia, com foco em aspectos críticos para a proteção tanto dos profissionais quanto dos pacientes. As conclusões da revisão também identificaram áreas que necessitam de maior atenção e estudo no futuro, com recomendações baseadas nas melhores práticas encontradas na literatura revisada.
3. DESENVOLVIMENTO
3.1 PRÁTICAS DE CONTROLE DE INFECÇÃO EM ODONTOLOGIA
A prática odontológica pode expor profissionais e pacientes a diversas formas de contaminação por uma ampla variedade de microrganismos patogênicos presentes na saliva e no sangue. Esses patógenos são os principais responsáveis pela propagação de doenças graves, aumentando o risco de infecção cruzada entre a equipe odontológica, tornando tanto os profissionais quanto os pacientes potenciais portadores e disseminadores de enfermidades graves (American Dental Association, 2022).
As medidas fundamentais para a prevenção e controle de infecções em ambientes odontológicos incluem: proteger a saúde da equipe através da realização de anamnese dos pacientes, vacinação da equipe e lavagem frequente das mãos; evitar o contato direto com materiais potencialmente contaminantes por meio do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs); e limitar a propagação de microrganismos utilizando sugadores de alta qualidade, além de realizar a limpeza, infecção e esterilização adequada dos instrumentais odontológicos (Atkinson et al., 2021).
Superfícies como maçanetas, cadeiras, mesas, elevadores e banheiros, entre outras, devem ser regularmente limpas e desinfetadas. Para a descontaminação das superfícies, podem ser utilizados desinfetantes como hipoclorito de sódio a 0,1-0,5%, etanol a 62-71% ou glutaraldeído a 2%. Tanto o etanol a 62% quanto o glutaraldeído a 2% devem ser aplicados em soluções recém-preparadas e nas embalagens adequadas para garantir (Kampf et al., 2020).
Barreiras de proteção devem ser usadas para cobrir superfícies de contato clínico, especialmente aquelas que são de difícil limpeza, como interruptores em cadeiras odontológicas, equipamentos de informática e telas. Essas barreiras servem para evitar a contaminação cruzada e devem ser trocadas entre cada atendimento ao paciente, garantindo a manutenção da biossegurança no ambiente clínico (Sexton et al., 2018).
É recomendado a peça de mão, o micromotor e qualquer equipamento específico da unidade que seja esterilizado e/ou autoclavado entre cada atendimento, conforme especificações do fabricante. O mesmo procedimento deve ser aplicado a instrumentos não aplicáveis. Além disso, o equipamento de raio-X, as luzes e a cadeira odontológica devem ser desinfetadas de acordo com as orientações (Lucaciu; Tacrzali; Petrescu, 2020).
A esterilização pode ser realizada através de métodos químicos ou térmicos. A esterilização química utiliza produtos específicos e sua eficácia depende de diversos fatores, como o tipo e o nível de contaminação microbiana dos instrumentos a serem esterilizados, a concentração do produto químico e o tempo de exposição necessário (Amaral et al., 2021).
As vacinas mais importantes para o cirurgião-dentista e a equipe auxiliar incluem: hepatite B, influenza, tríplice viral (que protege contra caxumba, sarampo e rubéola) e a dupla tipo adulto (para difteria e tétano). Além disso, é importante que os profissionais considerem as características da região e da população atendida, pois vacinas adicionais podem ser indicadas. A imunização não apenas diminui o risco de infecção, mas também serve como uma medida de proteção à saúde do profissional, de seus pacientes e de suas famílias (Sousa; Leal, 2018).
3.2 USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL EM ODONTOLOGIA
É fundamental alertar os cirurgiões-dentistas sobre a importância de seguir rigorosamente as regras de biossegurança nos consultórios odontológicos. Isso inclui o uso obrigatório de EPIs, a supervisão adequada da esterilização e da imunização, que são essenciais tanto em instituições públicas quanto privadas. Professores e alunos de odontologia também devem receber uma orientação adequada, pois muitas vezes estão expostos a riscos biológicos e químicos que podem afetar a saúde do profissional, do paciente e de todos (Costa et al., 2023).
Uma recomendação gerais de biossegurança nas clínicas odontológicas antes e após cada consulta incluem: o uso de materiais desinfetantes para as mãos, a prevenção do contato físico próximo (como apertos de mão) e a proteção constante de todos os objetos e superfícies tocadas. Além disso, é primordial o uso adequado de EPIs, como máscaras N95 ou FFP2, luvas, aventais e óculos de proteção ou protetores faciais, com o objetivo de proteger tanto os pacientes quanto os profissionais de saúde (Meng; Hua; Bian, 2020).
Antes de iniciar procedimentos ou cirurgias odontológicas, é recomendado que o cirurgião-dentista remova barbas, maquiagens e quaisquer adornos. Em seguida, deve-se realizar a lavagem das mãos com água e sabão, podendo também usar álcool gel 70%. É importante seguir a correta colocação e uso de propriedade e gorro aplicação. Você deve usar um avental para cada paciente ou procedimento, e sempre se proteger com uma máscara cirúrgica ou uma máscara N95/PFF2 sem válvulas respiratórias. Além disso, é essencial usar um protetor facial, óculos de proteção e luvas aplicadas ou cirúrgicas, que devem ser colocados antes do início do procedimento e removidos imediatamente após os atendimentos (Conselho Federal de Odontologia, 2020).
Máscaras N95 e/ou PFF2 com válvulas respiratórias não são recomendadas, pois permitem que o ar expire pelo usuário, o que pode levar à contaminação de outras pessoas ao redor, especialmente se o usuário estiver doente. Em situações em que não há disponibilidade de máscaras N95 ou equivalentes, uma máscara com válvula pode ser utilizada apenas em combinação com um protetor facial, mas nunca em ambiente cirúrgico, pois isso pode aumentar o risco de infecção cruzada. Máscaras de tecido também devem ser evitadas em atendimentos odontológicos clínicos (Chagas et al., 2021).
3.3 BIOSSEGURANÇA NA ODONTOLOGIA EM TEMPOS DE PANDEMIA POR COVID-19
Em função da pandemia de COVID-19, tornou-se necessária a adoção de novas estratégias de biossegurança nos atendimentos odontológicos, já que, na maioria dos casos, esses procedimentos geram grandes quantidades de aerossóis e aumentam o risco de infecção cruzada. Esse risco não se limita ao coronavírus, mas também envolve outros microrganismos aos quais o cirurgião-dentista está exposto em sua prática clínica (Spagnuolo et al., 2020).
Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou medidas de biossegurança a serem seguidas pelos profissionais de saúde durante o atendimento aos pacientes, com o objetivo de reduzir o alto risco de exposição. Além disso, no início de abril, a American Dental Association (ADA) emitiu diretrizes específicas para consultórios odontológicos, visando manter a biossegurança e minimizar o risco de transmissão da COVID-19 antes, durante e após os procedimentos. Dentre as recomendações, destaca-se o uso de aventais descartáveis sobre jaquetas e calças com gola longa. Também são recomendados óculos de proteção, máscaras respiratórias como a N95 ou FFP2, viseiras faciais, toucas cirúrgicas e protetores descartáveis para os calçados, visando à segurança tanto do profissional quanto do paciente. As diretrizes ainda reforçam a importância de não utilizar as roupas de proteção fora do ambiente de atendimento odontológico (Cabrera-Tasayco et al., 2020).
A medição da temperatura corporal do paciente antes da consulta odontológica tornou se essencial durante a pandemia, devendo ser realizada com uma concentração digital infravermelha. Caso a temperatura esteja acima de 37,8°C, a consulta deve ser adiada. Os pertences do paciente, se não fornecerem um local adequado para guardá-los, deverão ser colocados em um saco plástico e devolvidos ao final da consulta (Chagas et al., 2021).
Em tempos de pandemia por COVID-19, recomendava-se priorizar apenas emergências, como dores agudas, traumas e infecções de origem dentária. Durante o atendimento, os pacientes devem utilizar equipamentos de proteção individual, como protetores aplicados para calçados e toucas. Além disso, os procedimentos clínicos devem, sempre que possível, incluir o uso de dique de borracha e aspiradores de saliva de alta potência para garantir maior segurança (Guiñez, 2020).
Na sala de espera, o ideal é que fossem removidos revistas, folhetos ou qualquer outro objeto que possa servir como superfície de transmissão do vírus entre os pacientes, sendo essencial manter a ventilação contínua do ambiente, garantindo que os pacientes fiquem sentados a, no mínimo, 1 metro de distância uns dos outros, em um local bem ventilado. A presença de acompanhantes não era indicada, mas, se necessário, eles devem permanecer do lado de fora até o término do atendimento (Peng et al., 2020).
Após qualquer procedimento odontológico, a remoção das roupas e acessórios deve seguir esta ordem: avental cirúrgico, luvas, protetor facial e, por último, uma máscara. A máscara deve ser retirada pela parte de trás, evitando o contato com a parte frontal. Recomenda-se colocá-la em um saco plástico e submergi-la em água fervente por 5 minutos para garantir a desinfecção adequada. Outra opção é realizar uma verificação utilizando hipoclorito de sódio (Ather et al., 2020).
Os resíduos descartados devem ser desinfetados com solução de hipoclorito de sódio a 0,5% e, em seguida, acondicionados em um saco de dupla camada, fechado com nó do tipo “pescoço de cisne”. O saco deve ser preenchido até, no máximo, 80% de sua capacidade para garantir um fechamento adequado. Objetos cortantes devem ser comprados em sacos duplos para maior segurança (Cabrero- Tasayco et al., 2020).
As diretrizes de biossegurança para prevenção e controle da COVID-19, elaboradas nos primeiros meses da pandemia, incluíam uma ampla gama de recomendações, mas a qualidade de algumas delas era insuficiente. Além disso, as diretrizes avaliadas apresentaram pouca homogeneidade, dificultando a formação de um consenso científico sólido e limitando a oferta de procedimentos mais seguros e confiáveis. Algumas recomendações ainda requerem mais estudos para comprovar sua eficácia. Diante das incertezas geradas pela COVID-19, com muitos fatores e mecanismos ainda desconhecidos, as recomendações de biossegurança devem ser continuamente atualizadas conforme novas evidências de alta qualidade (Soares et al., 2021).
4. DISCUSSÃO
As práticas de controle de infecção em odontologia envolvem uma série de medidas destinadas a proteger tanto os profissionais quanto os pacientes contra a transmissão de microrganismos patogênicos presentes na saliva e no sangue. O principal risco nesses ambientes é a infecção cruzada, que ocorre devido à exposição constante a patógenos (American Dental Association, 2022). Amaral e Ribeiro (2021) destacam que a biossegurança, ao combinar os conceitos de “vida” e “situação livre de riscos”, fornece as bases para o desenvolvimento dessas práticas, abrangendo ações como a utilização de EPIs, materiais de limpeza de superfícies e esterilização de instrumentais.
Atkinson et al. (2021) argumentam que, além do uso de EPIs, a proteção dos profissionais deve incluir a anamnese detalhada dos pacientes, a vacinação da equipe e a esterilização dos instrumentos odontológicos. Essa abordagem é complementada por Kampf et al. (2020), que enfatizam a importância de limpar superfícies com desinfetantes adequados, como hipoclorito de sódio e etanol, para prevenir a propagação de infecções. No entanto, Costa et al. (2023) apontam que essas medidas devem ser aplicadas de maneira rigorosa tanto em clínicas públicas quanto em privadas, e que a orientação adequada de alunos e professores em instituições de ensino é essencial para garantir a saúde de todos os envolvidos no ambiente odontológico.
A discussão sobre o uso de EPIs, uma das práticas fundamentais de controle de tecnologia, é abordada por diversos autores. Meng, Hua e Bian (2020) ressaltam a importância de usar máscaras N95 ou FFP2, luvas e protetores faciais, além de aventais descartáveis, para minimizar o risco de contaminação. No entanto, Chagas et al. (2021) alertam que máscaras com válvulas não devem ser utilizadas em ambientes clínicos, pois permitem a saída de partículas potencialmente infectadas. A aplicação correta dos EPIs é fundamental para evitar infecção cruzada e proteger tanto o paciente quanto o profissional.
Em tempos de pandemia, as práticas de biossegurança passaram por adaptações significativas. Segundo Spagnuolo et al. (2020), a pandemia de COVID 19 trouxe a necessidade de rever os protocolos odontológicos, dada a elevada produção de aerossóis durante os procedimentos e o consequente aumento do risco de infecção cruzada. Guiñez (2020) e Peng et al. (2020) concordam que, além de priorizar atendimentos de emergência, foi necessário adotar novas práticas, como o uso de dique de borracha, aspiradores de alta potência e a ventilação constante dos ambientes. Essas ações visam minimizar o risco de transmissão de COVID-19 e outras doenças.
Contudo, as diretrizes condicionantes para o controle da COVID-19 na odontologia foram especificadas. Soares et al. (2021) apontam que, apesar de abranger uma ampla gama de recomendações, algumas diretrizes apresentam qualidade insuficiente e falta de homogeneidade, dificultando a formação de um consenso científico robusto. Isso, por sua vez, limita a eficácia dos protocolos de segurança aplicados, e a necessidade de mais estudos sobre a eficácia de algumas dessas recomendações.
Entre os principais desafios propostos, foi enfatizada a necessidade de atualização constante das diretrizes de biossegurança em função das incertezas sobre o vírus e seus mecanismos de transmissão. Amaral et al. (2021) destacam que os métodos de esterilização, por exemplo, ainda precisam de maior padronização, considerando os diferentes níveis de contaminação e o uso de produtos químicos.
Além disso, a escassez de EPIs, relatada por vários autores durante a pandemia (Cabrera Tasayco et al., 2020; Chagas et al., 2021), impôs dificuldades adicionais para garantir a segurança nos consultórios odontológicos.
Outro ponto de limitação, segundo Costa et al. (2023), é a variação nas práticas de biossegurança entre diferentes instituições e regiões, o que pode comprometer a segurança tanto dos profissionais quanto dos pacientes. A implementação dessas práticas é, muitas vezes, desafiada pela falta de uniformidade nas orientações e recursos disponíveis, especialmente em contextos de saúde pública, onde a em
Portanto, apesar das evoluções significativas nas práticas de biossegurança, persistem desafios importantes que bloqueiam a atenção contínua, como a necessidade de protocolos mais claros e o aprimoramento das práticas de controle de infecções. À medida que novas evidências surjam, será crucial atualizar os procedimentos com base em estudos robustos e adequados à área.
5. CONCLUSÃO
A biossegurança é um pilar fundamental na prática odontológica, garantindo a proteção dos profissionais de saúde e dos pacientes contra riscos biológicos, especialmente diante do aumento das doenças infectocontagiosas e da crescente conscientização dos pacientes quanto à segurança nos consultórios odontológicos. O cumprimento adequado dessas medidas é essencial para prevenir contaminações cruzadas, promovendo um ambiente seguro e controlado.
A aplicação específica de práticas de controle de infecção, como a esterilização de instrumentos, a exposição de superfícies e o uso correto de equipamentos EPIs, é indispensável para prevenir contaminações cruzadas. Apesar dos desafios, como a necessidade de atualização constante e a adesão completa aos protocolos por parte de toda a equipe, os avanços tecnológicos e a ampliação do conhecimento na área contribuíram para uma maior segurança nos consultórios odontológicos.
Além disso, a atualização contínua dos cirurgiões-dentistas e suas equipes sobre as melhores práticas em biossegurança é necessária para minimizar os riscos de infecções e garantir a qualidade no atendimento. Com isso, reforça-se a necessidade de divulgar amplamente o conhecimento sobre biossegurança, contribuindo para uma prática odontológica segura.
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