REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202411110925
Juan Victor Sales De Oliveira;
Tágora Samily Lopes Santos
RESUMO
Este artigo possui por objetivo por meio de uma revisão da literatura para determinar qual das duas modalidades (FES e corrente russa) qual seria mais eficaz em promover um aumento significativo de força em pacientes com diferentes tipos de comorbidades.
Palavras-chave: FES. Corrente russa. Comorbidades. Força..
INTRODUÇÃO
O fortalecimento muscular é uma das muitas estratégias e recursos fisioterapêuticos utilizados na elaboração de protocolos, pois ele pode ser usado para aumento da disposição, da força e do endurance, tendo assim impacto direto na melhoria de qualidade de vida do paciente, e favorecendo a autonomia pessoal nas atividades do dia a dia e diminuição do índice de acidentes através do aumento da circulação sanguínea, melhora da oxigenação dos músculos e tendões, redução da fadiga muscular e estresse físico (Soares; Campanholi, 2019).
É importante frisar que o fortalecimento muscular pode ser obtido por diversos meios, e a cinesioterapia por exemplo, ao utilizar-se de exercícios resistidos, ou contrações repetidas objetivando o fortalecimento muscular (Sandra, 2016). Porém não é a única, visto que existem correntes elétricas (corrente russa e FES) que tem o principal objetivo o fortalecimento muscular, seja de forma completamente passiva, em casos mais graves de imobilismo, visando principalmente a prevenção de atrofia, ou resistida em casos mais brandos com a função apenas de fortalecimento agindo em conjunto com a contração natural do musculo ao vencer uma determinada resistência (Delitto; Snyder-Mackler, 1990).
A corrente russa propagou-se após os trabalhos de um fisiologista russo chamado Yadov Kots, que no ano de 1976 exibiu o avanço da técnica de eletroestimulação com a capacidade de aumentar a obtenção de força muscular em até 40% (Agne, 2006). A estimulação elétrica é equivalente à contração voluntária, entretanto há uma evolução em relação ao trofismo, auxilia na melhora da oxigenação e amplia a massa muscular. Ademais, possui característica de alcançar fibras mais profundas, sua ação de relaxamento e contração causa um bombeamento nos vasos, impactando um maior número de fibras, e por consequência proporciona o fortalecimento muscular (Low; Reed, 2001). De acordo com Kitchen e Bazin (1998) há algumas contraindicações, tais como: marcapassos, hipertensos ou hipotensos, tecido neoplásico, tecido com infecção ativa, paciente diabético, gestação, prótese metálica no local da aplicação e doenças vasculares periféricas.
A estimulação elétrica funcional (FES – Functional Electrical Stimulation) pode ser denominada como um estímulo nervoso controlado que atua por meio da utilização de uma corrente de baixa frequência, com o objetivo de promover uma resposta em determinados músculos inativos (Bohórquez; Souza; Pino, 2013). Introduzida inicialmente no Brasil pelo Prof. Sérgio Lianza da Santa Casa de São Paulo, em 1989 acompanhando a técnica da Universidade de Ljubljana – Eslovênia, orientado pelo Dr. Franjo Gracanin e Dr. Tadej Bajd, responsável por proporcionar o suporte tecnológico para o desenvolvimento de um equipamento de fabricação nacional (Lianza, 1995). O FES é uma categoria das subclassificações da estimulação elétrica, termo este utilizado quando aplicado aos sistemas que tentam reestabelecer a função neuromuscular afetada ou perdida, mediante a atulização de pulsos elétricos (Agne, 2005).
Ao se observar no escopo comparativo as modalidades de corrente russa e FES pode-se observar que elas compartilham o fato de poderem ser utilizadas visando o fortalecimento muscular por meio da indução de contrações musculares; porém, segundo Low e Reed (2001) e Agne (2006) ao mesmo tempo em que elas possuam essa similaridade, ainda assim possuem suas particularidades, sendo uma de baixa e a outra de média frequência; onde, o objetivo desta revisão de literatura é saber qual das duas modalidades é responsável por promover um maior aumento de força em pacientes com diferentes comorbidades.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Determinar qual método de tratamento (FES ou corrente Russa) é mais efetivo para o ganho de força muscular em pacientes com diferentes tipos de comorbidade baseado nos estudos já existentes.
Objetivos Específicos
● Comparar os efeitos de ganho de força dos diferentes métodos de tratamentos e seus protocolos específicos
● Determinar qual protocolo teve maior sucesso em seu objetivo
● Determinar perfil sociodemográfico da população de estudo de acordo com cada comorbidade encontrada nos artigos.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente artigo é uma revisão integrativa de natureza bibliográfica, sendo as plataformas de pesquisa Google Acadêmico. Onde, Souza, Silva e Carvalho (2010) caracterizam a revisão integrativa como um método de pesquisa que permite sintetizar o conhecimento existente e aplicar os resultados de estudos relevantes na prática; trata-se de um estudo de coleta de informações que é realizado a partir de origens secundárias embasada em estudos bibliográficos.
Utilizando os descritores mencionados, artigos sendo estes, publicados na base de dados nos últimos 14 anos, e pela língua que foram escritos, sendo elas Inglês e Português. Foram encontrados 656 artigos referentes ao tema, que após utilizar os critérios de inclusão e exclusão, chegou-se a 6 artigos de maior relevância, que viraram focos da pesquisa; ressaltando o mais significativo protocolo de tratamento.
Critério de elegibilidade dos artigos
para realização desse estudo foram obtidas buscas na base de dados do Google Acadêmico, sendo usada nesse processo de pesquisa os seguintes descritores: Eletroterapia/Electrotherapy, Estimulação elétrica/Eletrictrical stimulation, Corrente Russa/Russian current, Kotz, FES, Fortalecimento com correntes elétricas, Strengh training, Pós cirúrgico/Post surgery rehabilitation, Electrical muscular stimulation post stroke.
Critérios de inclusão
Critério de inclusão selecionados nessa pesquisa foram os artigos científicos circulares nacionais e internacionais, artigos de intervenção relacionados com o tema abordado, artigos publicados nas bases dados supracitados dos últimos 14 anos.
Critérios de exclusão
Foram excluídos os artigos de revisão, estudos de caso, artigos pagos, artigos que não apresentam pelo menos dois dos descritores supracitados, artigos fora do intervalo dos anos citados.
RESULTADOS
O Quadro 1 mostrará de forma resumida os dados mais significativos dos artigos selecionados para este estudo de revisão integrativa com os seguintes conteúdos: título do artigo, autor/ano, objetivos do estudo, tipo de estudo, tamanho da amostra, intervenção e resultados, subdividido em três áreas.
Resultados (Traumato Ortopédica)
Título | Autores/Ano | Objetivos dos estudos | Tipo de Estudos | Tamanho da amostra | Intervenção | Resultados |
Eletroestimulação Neuromuscular, Exercícios Contrarresistência, Força Muscular, Dor e Função Motora em Pacientes com Osteoartrite Primária de Joelho | Thais Varanda Dadalto et al., 2013 | Comparar a eficácia da eletroestimulação neuromuscular (EENM) e dos exercícios contrarresistência no ganho de força extensora, redução da dor e função motora | Estudo controlado, randomizado, duplo cego | 23 pacientes com osteoartrite primária do joelho | Grupo 1: EENM. Grupo 2: Exercícios contrarresistência. Grupo controle. Três sessões por semana durante 24 sessões | A EENM promoveu maior ganho de força extensora e redução significativa da dor em comparação aos exercícios contrarresistência, que também diminuíram a dor, mas com menos impacto |
Combination of Eccentric Exercise and Neuromuscular Electrical Stimulation to Improve Quadriceps Function Post-ACL Reconstruction | Lindsey K. Lepley et al., 2016 | Avaliar a eficácia da combinação de exercícios excêntricos e estimulação elétrica neuromuscular (NMES) na recuperação da ativação e força do quadríceps pós-reconstrução do LCA | Estudo longitudinal paralelo | 36 pacientes pós-LCA + 10 controles saudáveis | Quatro grupos: NMES + excêntricos; excêntricos apenas; NMES apenas; cuidados padrão. NMES aplicado 2x por semana por 6 semanas; excêntricos iniciados após 6 semanas de cirurgia. | O grupo combinado (NMES + excêntricos) e o grupo excêntrico obtiveram maior recuperação da força e ativação do quadríceps comparado aos outros grupos. O tratamento combinado foi mais eficaz. A NMES não teve impacto significativo na força ou ativação. |
Resultados (Neurofuncional)
Título | Autores/Ano | Objetivos dos estudos | Tipo de Estudo | Tamanho da amostra | Intervenção | Resultados |
Estimulação elétrica funcional otimizada em pacientes com hemiparesia por doença cerebrovascular | Oshiro et al., 2012 [[13]] | Avaliar a eficácia da estimulação elétrica funcional otimizada (FES-O) sobre a destreza manual e amplitude de movimento (ADM) em pacientes com hemiparesia pós-AVC. | Estudo de caso. | 3 indivíduos com hemiparesia. | Estimulação elétrica funcional (FES-O) nos músculos extensores de dedos, punho e tríceps, por 45 minutos, 3 vezes por semana, durante 2 semanas. | Melhoras na destreza manual e na amplitude de movimento dos dedos e punho em alguns pacientes. |
Effect of Modulated Electromyostimulation on the Motor System of Elderly Neurological Patients | Amirova et al., 2022 [[6]] | Avaliar os efeitos da estimulação eletromiostática (EMS) com correntes russas no sistema motor de pacientes neurológicos idosos. | Estudo piloto clínico controlado. | 19 participantes (11 no grupo EMS e 8 no grupo controle). | Aplicação de EMS nas pernas (3 a 9 sessões) em pacientes com problemas de marcha e equilíbrio. | Melhoras significativas no equilíbrio e mobilidade (Teste de Tinetti, Rivermead e Timed Up and Go), sem alterações no tônus muscular. |
Resultados (Fortalecimento Muscular)
Título | Autores/Ano | Objetivos dos estudos | Tipo de Estudos | Tamanho da amostra | Intervenção | Resultados |
Análise Comparativa da Hipertrofia e Fortalecimento do Músculo Quadríceps a partir do Exercício Resistido X Eletroestimulação (FES) | Gisélia Cicera Santos et al., 2015 | Avaliar a eficácia dos métodos de exercícios resistidos e da eletroestimulação funcional (FES) no ganho de força e hipertrofia do músculo quadríceps | Estudo analítico e comparativo | 8 pacientes com lesões na articulação do joelho | Grupo 1: Exercícios resistidos. Grupo 2: Eletroestimulação Funcional (FES). Protocolos aplicados por 10 sessões de 50 minutos. | O exercício resistido promoveu aumento de volume muscular em todos os pacientes, enquanto o FES não produziu o mesmo efeito, mas reduziu a dor nas articulações lesadas |
Efeitos da Corrente Russa no Ganho de Força Muscular | Fábio Oliveira Maciel, 2010 | Determinar se a corrente russa aumenta a força muscular do quadríceps | Estudo experimental | 9 indivíduos saudáveis | Vinte sessões de eletroestimulação no quadríceps femoral, utilizando corrente alternada modulada em 100 Hz durante 20 minutos. | Houve aumento significativo na força muscular, mas sem mudanças expressivas na massa muscular ou percentual de gordura corporal |
Em sua pesquisa Maciel, 2010, utilizou 9 indivíduos não praticantes de nenhum tipo de treinamento muscular para membros inferiores e sem história pregressa de disfunção osteomioarticular nos mesmos.
O protocolo tratava-se de aplicações com repetição semanal de 3 a 5 vezes finalizando um total de 20 aplicações, fazendo uso de eletrodos autoadesivos sobre o ventre dos músculos vasto medial vasto lateral e reto femoral; a eletroestimulação realizada através de um aparelho de corrente russa.
Os indivíduos foram submetidos a um protocolo de eletroestimulação neuromuscular nos músculos quadríceps femoral do membro não dominante, onde a força dos selecionados foi avaliada através do teste de carga máxima (1RM) realizado com um aparelho de musculação para extensores de joelho.
Segundo o autor supracitado os resultados sugerem que a corrente russa foi capaz de proporcionar um aumento de força muscular, para o teste de 1 RM, e que ao longo do trabalho os voluntários passaram a suportar uma maior carga elétrica durante as aplicações, onde a estimulação russa foi capaz de aumentar a força muscular do quadríceps do membro não dominante de indivíduos saudáveis quando avaliada pelo teste de 1 RM.
De acordo com Santos, et al, participaram desse estudo 8 pacientes portadores de lesão na articulação do joelho. sendo divididos em 2 grupos, onde os participantes que compuseram o grupo 1 realizaram exercícios ativos resistidos e o outro grupo foram submetidos ao protocolo de aplicação da eletroestimulação funcional (FES). foram realizadas as 10 sessões de tratamento sequencialmente na frequência de 2 vezes na semana, e para a aplicação da corrente elétrica os eletrodos foram afixados de forma cruzada nos pontos de contratilidade do quadríceps nas regiões proximal e distal das coxas, para ambos os grupos o protocolo proposto teve a duração de 5 semanas compondo um total de 10 seções de 50 minutos cada.
Neste estudo observa-se que não ocorreu aumento do volume da massa muscular do quadríceps, porém foi observada a redução da sintomatologia apresentada na avaliação inicial, levando-nos ao entendimento de que seja necessária uma rigorosidade ou um período maior de aplicação do protocolo da FES para que se possa observar os efeitos fisiológicos da hipertrofia.
Ainda no presente estudo, os resultados obtidos com o grupo que executou os exercícios ativos resistidos como protocolo proposto para hipertrofia de quadríceps foi notado que houve aumento do volume da massa muscular, para todos os participantes observados, embora também a exemplo do grupo da FES, estes voluntários não tenham apresentado regularidade na continuidade das seções de exercícios físicos. Todos os participantes realizaram 10 sessões de exercícios ativos resistidos.
Segundo Leplay et al, 2014, foram testados 36 indivíduos após lesão de LCA, divididos em 4 grupos de tratamento e 10 controle saudáveis participaram, 2 grupos receberam o protocolo de estimulação elétrica neuromuscular 2 vezes por semana para as primeiras 6 semanas após a cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior, e os outros 2 grupos receberam o protocolo de exercício excêntrico 2 vezes por semana começando 6 semanas pós-reconstrução. A ativação do quadríceps foi avaliada por meio da técnica de explosão superimposta e quantificada por meio da razão de ativação central; e a força do quadríceps foi avaliada por meio de contrações isoméricas voluntárias máximas.
Concluiu-se que não houve diferenças nas medidas pré-operatórias, entretanto, o exercício excêntrico foi capaz de restaurar níveis de ativação e força do quadríceps semelhantes aos de adultos saudáveis e melhores do que a eletroestimulação neuromuscular sozinha.
No estudo de Dadalto et al, 2013. participaram da pesquisa 23 pacientes com diagnóstico de osteoartrite primária do joelho, alocados aleatoriamente em três grupos, tratando-se de um grupo com conduta de exercícios contra resistência, o outro de eletroestimulação neuromuscular, e um grupo controle; os quais foram submetidos aos procedimentos característicos de seu grupo três vezes por semana até completar 24 sessões.
Nos quais foram avaliadas de forma cega a força extensora de joelho, a dor e a função motora, utilizando o teste MANOVA. Obteve-se uma diferença significativa somente nas comparações intragrupos para força extensora de joelho no grupo da eletroestimulação neuromuscular e para dor nos grupos de eletroestimulação neuromuscular e de exercícios contra resistência.
Conforme a pesquisa realizada por Amirova et al, 2022, os pacientes foram inicialmente divididos em dois subgrupos, um grupo controle e o outro com conduta de eletroestimulação (EMS), onde inicialmente os mesmos foram internados no hospital com queixas de tontura e instabilidade ao caminhar. Após um exame inicial por um neurologista, os pacientes foram alocados aleatoriamente nos grupos EMC ou controle. Considerando o perfil do paciente em internação, a maioria dos pacientes recebeu terapia vascular e metabólica padrão, bem como antidepressivos e neurolépticos. O período de aplicação da eletroestimulação foi planejado para uma internação com duração de 2 semanas dois cursos de 5 dias cada), juntamente com o tratamento medicamentoso. Entretanto, em razão das limitações impostas pelo coronavírus, foram realizados entre 3 e 9 procedimentos de EMS, com uma mediana de 7.
Os pacientes no grupo EMS foram submetidos à estimulação dos membros inferiores no modo de corrente modulada sinusoidal, a amplitude da estimulação foi ajustada de acordo com a tolerância de pico do paciente. Cada sessão teve a duração total de 20 minutos, com 5 minutos cada para a estimulação dos músculos anteriores e posteriores do quadril (mm. semitendíneo, bíceps femoral, quadríceps femoral) e canela (mm. tríceps sural, tibial anterior) Os pacientes foram entrevistados e logo em seguida foi realizado uma bateria de testes foi realizada duas vezes: na admissão ao hospital e após a última sessão de EMS; fazendo uso dos testes Timed Up and Go (2010) sendo realizado de acordo com um protocolo padrão ( Kear et al., 2017 ), A Escala de Tinetti ( Scura e Munakomi, 2022 ) e o Índice de Mobilidade de Rivermead ( Williams, 2011 ) que foram usados para determinar o grau de atividade da vida diária. No qual O dispositivo MyotonPRO (MyotonLTD, Estônia) foi utilizado para avaliar o tônus muscular.
A pesquisa revelou que o procedimento de eletroestimulação do quadril e da canela foi bem aceito por todos os pacientes, independentemente da idade, sem qualquer efeito colateral notável relatado. Um paciente com grandes cistos de Baker (anamnésico) relatou dor moderada no joelho do membro afetado durante o EMS, sendo assim, excluído da pesquisa. Um segundo paciente experimentou um sangramento hemorroidário menor após o primeiro tratamento, causado pela combinação de medicamentos. Posteriormente, não se observou sangramento após a correção da terapia e o paciente concluiu o curso da terapia. Alguns pacientes relataram dor muscular moderada de curta duração, como após exercícios físicos intensos por 1 a 2 dias, o que provavelmente ocorreu por causa da amplitude de estimulação excessivamente ampla.
Foi observada uma ligeira melhoria subjetiva após 3-4 sessões. Depois de um ciclo de 8-9 sessões, todos os pacientes perceberam uma melhoria subjetiva na estabilidade postural, na marcha e na habilidade de subir escadas de maneira mais simples. Também é importante destacar que os procedimentos foram relevantes e benéficos para os pacientes.
Conforme o estudo realizado por Oshiro et al., 2012, trata-se de uma pesquisa de caso envolvendo três pessoas que sofreram hemiparesia devido a um AVC, que se encontram clinicamente estáveis. Todos os 3 pacientes estavam cientes das etapas do estudo. Não estavam em tratamentos alternativos para os membros superiores até o término do estudo. O procedimento envolve a estimulação dos músculos sobre os músculos extensores de dedos, punho e tríceps, por 45 minutos, 3 vezes por semana não consecutivos para evitar fadiga, durante 2 semanas, completando um total de 6 atendimentos. Foram associados ao estímulo elétrico exercícios ativos de extensão de dedos, punho e cotovelo, sem causar movimentos sinérgicos ou flexões de dedos, utilizando-se do teste caixa e blocos (TCB) que avalia a destreza manual unilateral e o goniômetro universal manual.
Na avaliação inicial, a paciente 1 mostrava um elevado tônus flexor, exibindo apenas um movimento mínimo. Após o tratamento, observou-se um aumento na extensão da MCF, não devido a um movimento ativo, mas à redução do tônus flexor. A capacidade funcional não foi alterada conforme observado no teste de caixas e blocos. Na primeira avaliação, o paciente 2 apresentava pouca mobilidade nos dedos e no punho. Evidenciou-se um edema na mão direita. Depois de aplicar o protocolo da estimulação elétrica funcional otimizada, houve melhorias na goniometria de flexão e extensão dos dedos, bem como no teste de caixas e blocos. O edema na mão direita diminuiu, porém não sumiu completamente. Por fim, o paciente 3 Encontrava-se sem comprometimento cognitivo, estava recebendo tratamento fisioterapêutico apenas nos membros inferiores. Na primeira avaliação, o paciente apresentava baixa mobilidade dos dedos do membro superior direito, sem manter a amplitude de movimento alcançada e facilmente exausto. Durante a extensão de dedos e punho, o tônus muscular era levemente intensificado. Mesmo com a mobilidade limitada dos dedos, o paciente foi capaz de executar preensão ulnar, passando 9 blocos do lado direito para o esquerdo. Depois do período de estimulação elétrica, o paciente notou melhorias na mobilidade dos dedos e do punho e tem conseguido empregar o MSD em suas tarefas cotidianas.
DISCUSSÃO
O artigo atual teve como objetivo determinar por meio de extrapolação qual seria o método de estimulação entre as correntes FES e corrente Russas seria mais efetiva para o ganho de força muscular e melhora do quadro geral em pacientes com diferentes tipos de comorbidade, porém, se limitando a 3 áreas principais: Traumato Ortopédica, Neurofuncional e na parte de fortalecimento simples (com pacientes saudáveis ou não) baseado em evidencias já existentes.
Primeiramente, ao se analisar de forma isolada a primeira tabela, pode-se observar que mesmo os dois artigos investigando a eficácia da eletroestimulação neuromuscular (EENM: FES/NMES: Corrente Russa) em diferentes contextos, porém com o pano de fundo da traumato ortopedia, os dois obtiveram resultados complementares sobre o papel da EENM tanto no fortalecimento muscular como na reabilitação. No estudo de Dadalto et al, (2013), a EENM se mostrou mais eficaz que os exercícios contra resistência no aumento da força extensora e na redução da dor em pacientes com osteoartrite de joelho, o que destacou seu impacto na função motora e no alívio dos sintomas crônicos. Por outro lado, o artigo de Lepley et al.(2016) focou na recuperação após a reconstrução de LCA, explicitando que a combinação de NMES com exercícios excêntricos resultou em melhores resultados em ganho de força do que quando comparado com uso isolado de corrente ou até mesmo de exercícios excêntricos, ademais é importante ressaltar também que neste segundo artigo o NMES isolado não apresentou nenhum impacto significativo, o que pode sugerir que sua efetividade estaria condicionada à associação com exercícios mecânicos. Assim, pode-se observar que no caso do manejo da osteoartrite de joelho o FES se mostrou efetivo de forma isolada, porém o mesmo não ocorreu com a corrente russa utilizada no pós operatório de LCA, pela mesma ter sido irrelevante quando colocada em contexto isolado.
Segundamente, os estudos de Oshiro et al, (2012), e Amirova et al, (2022), investigam a eficácia da estimulação elétrica em pacientes neurológicos, com ênfases distintas. Oshiro et al., utilizou FES-O (estimulação elétrica funcional otimizada) em pacientes com hemiparesia pós-AVC, o que resultou em melhorias na destreza manual e amplitude de movimento (ADM) dos dedos e punho, apesar do pequeno tamanho da amostra estes achados sugerem que a FES-O pode ser utilizada como uma ferramenta promissora para reabilitação motora de membros superiores pós-AVC, porém é imperativo mais estudos antes de apontar com certeza absoluta. Em contrapartida, Amirova et al., aplicou correntes russas em pacientes neurológicos idosos com problemas de mobilidade, com enfoque na reabilitação da marcha e do equilíbrio. Os resultados apontaram melhorias significativas no equilíbrio e na mobilidade, porém sem alterar o tônus muscular dos mesmos. Em síntese, ambos os estudos reforçam o potencial da estimulação elétrica na reabilitação neurológica, porém as correntes se demonstram mais efetivas em campos opostos, pois enquanto o FES se demostra efetivo na reabilitação motora fina, a corrente russa se mostra eficiente na melhora do controle motor grosso, com atividades mais ‘‘gerais’’.
Por fim, a tabela relativa a fortalecimento muscular trata sobre os estudos de Santos et al. (2015) e Maciel (2010) comparando a eficácia de diferentes modalidades de estimulação elétrica e exercícios resistidos para o ganho de força e hipertrofia do quadríceps, e apresentando resultados complementares. No estudo de Santos et al., os exercícios resistidos promoveram um aumento significativo do volume muscular em pacientes com lesões no joelho, porém com o FES não demonstrando tal efeito de hipertrofia de forma isolada, o que de certa forma contradiz o resultado da primeira tabela, porém o autor justifica que esta falta de eficiência pode ter sido resultado do protocolo não ter sido realizado de forma contínua pelos pacientes, por poder se observar algumas faltas ao longo da pesquisa, ademais o FES foi observado agindo de forma analgésica no músculo, o que teve uma resposta positiva por parte dos pacientes. Em contrapartida, o estudo de Maciel, investigou o uso da corrente russa em indivíduos saudáveis, e demonstrou um aumento significativo da força muscular do quadríceps após 20 sessões, porém sem mudanças notáveis na massa muscular, o que reforça a ideia de que correntes de alta frequência podem promover o aumento da força muscular mesmo sem promover hipertrofia. Em ambos estudos, a eletroestimulação demonstrou ser uma ferramenta útil para o ganho de força muscular, especialmente em contexto terapêutico de reabilitação, porém não substituindo a eficácia de exercícios resistido quando visando hipertrofia. Outrossim, tanto FES quanto a corrente russa demonstraram benefícios em aspectos distintos: alívio da dor e aumento de força, respectivamente, porém com limitações no desenvolvimento muscular comparado a métodos resistidos.
Em suma, as três discussões apresentam e reforçam a eficácia da eletroestimulação em diferentes contextos de reabilitação e fortalecimento muscular, porém com resultados variados dependendo da modalidade e do objetivo, muitas vezes se apresentando de forma complementar ao invés de antagônica. Na primeira tabela é demonstrado que a FES-O é eficaz na melhora do controle motor fino em pacientes com hemiparesia, enquanto a corrente russa foi útil na melhora da mobilidade em pacientes idosos neurológicos; enquanto comparativamente a terceira tabela demonstra que apesar de promover ganhos de força ambas as correntes são limitadas quando se tratando de hipertrofia (com os exercícios resistidos ainda sendo o método mais eficaz) o que demonstra um certo teor de equivalência que ainda precisa ser mais profundamente testado.
CONCLUSÃO
Conclui-se que as duas formas de estimulação aliadas à um protocolo efetivo podem aumentar bastante a eficácia da evolução do paciente podendo não só se limitar ao fortalecimento muscular, mas também mobilidade, equilíbrio, ADM, até mesmo na diminuição do quadro álgico, porém faltam provas mais concretas de que uma poderia se sobressair em frente à outra em uma comparação direta por conta das incompatibilidades dos protocolos utilizados, o que possibilitaria apenas uma suposição por meio de extrapolação de resultados. Outrossim é importante que mais estudos de caráter prático e comparativo direto sejam realizados para proporcionar uma maior eficácia da comparação dos efeitos dos dois protocolos quando sobrepostos em populações homólogas.
REFERÊNCIAS:
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SOUZA, Maria T. de; SILVA, Maria D.; CARVALHO, Roberta de. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo), São Paulo, v. 8, n. 1, p. 102-106, jan./mar. 2010.