REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411101605
Lethicia Araújo Cordeiro;
Filipe Souza de Azevedo.
Resumo: O estudo investiga o perfil epidemiológico de adolescentes com transtornos psiquiátricos atendidos em um pronto-socorro infantil, identificando características clínicas e socioeconômicas do principais transtornos psiquiátricos, partindo-se do pressuposto da vulnerabilidade dos adolescentes a problemas de saúde mental. Foi realizado um estudo documental, analítico retrospectivo, com base em prontuários eletrônicos de pacientes atendidos entre janeiro de 2019 e dezembro de 2021 no Hospital Regional de Taguatinga. Dados sobre idade, sexo, motivos de atendimento, diagnóstico e comorbidades foram analisados para identificar padrões e correlações, contribuindo para o aprimoramento dos cuidados e prevenção em saúde mental. Foram avaliados um total de 2000 atendimentos entre as idades de 0 a 17 anos. Destes, houve coleta das informações no prontuário eletrônico de pacientes entre 2 e 17 anos de idade. No total, foram identificadas 183 internações em todo o período estudado, com surtos psicóticos frequentes em adolescentes, especialmente aos 12 e 13 anos. Esses surtos frequentemente envolvem agressividade, alucinações e automutilação, exigindo intervenções multidisciplinares. O transtorno de ansiedade também foi significativo, com adolescentes exibindo sintomas físicos precoces. As tentativas de autoextermínio geralmente envolveram intoxicação medicamentosa e ligados a conflitos familiares e traumas. Conclui-se a necessidade de abordagem multidisciplinar e intervenções precoces para minimizar riscos e promover a saúde mental
Palavras-chave: Transtornos mentais. Saúde Mental. Adolescência
Abstract: The study investigates the epidemiological profile of adolescents with psychiatric disorders treated in a pediatric emergency room, identifying clinical and socioeconomic characteristics of the main psychiatric disorders, based on the assumption of adolescents’ vulnerability to mental health issues. A retrospective analytical documentary study was conducted using electronic medical records of patients treated between January 2019 and December 2021 at the Regional Hospital of Taguatinga. Data on age, sex, reasons for attendance, diagnoses, and comorbidities were analyzed to identify patterns and correlations, contributing to the improvement of care and prevention in mental health. A total of 2000 attendances were evaluated for ages 0 to 17 years. Information was collected from the electronic medical records of patients aged 2 to 17 years. A total of 183 hospitalizations were identified over the studied period, with frequent psychotic episodes occurring in adolescents, especially at ages 12 and 13. These episodes often involved aggression, hallucinations, and self-harm, requiring multidisciplinary interventions. Anxiety disorders were also significant, with adolescents displaying early physical symptoms. Suicide attempts commonly involved medication overdose and were linked to family conflicts and trauma. The conclusion emphasizes the need for a multidisciplinary approach and early interventions to minimize risks and promote mental health.
Keywords: Mental disorders. Mental helth. Adolescente.
1. INTRODUÇÃO
Na realidade brasileira, adolescentes e jovens são definidos por diferentes aspectos, emergindo opiniões diferenciadas quanto às formas de situá-los nos marcos referenciais que os caracterizam. O Ministério da Saúde segue como definição de adolescência a prescrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que caracteriza o período de 10 e 19 anos e compreende como juventude a população dos 15 a 24 anos (BRASIL, 2010, p. 46). No entanto, a definição de adolescência pode variar de acordo com a legislação e a organização estudada.
Trata-se de um período crítico para o desenvolvimento de hábitos sociais e emocionais que influenciam o bem-estar mental, pois durante esse período, estes jovens enfrentam constantes situações de avaliação social, incluindo as expectativas escolares e comportamentais de familiares e pares (Papalia; Feldman, 2013).
Embora seja um momento de amadurecimento, desenvolvimento de empatia e aprendizado no gerenciamento das emoções, essa fase também é marcada por ansiedade, medo, insegurança, além da construção da autoimagem e autoestima. Esses fatores podem aumentar a predisposição para o surgimento de problemas de saúde mental (Rossi et al., 2019).
Diversos fatores afetam a saúde mental dos adolescentes, como a pressão para se encaixar nos grupos, adversidades, exploração da identidade, influência das redes sociais e normas de gênero. Além disso, adolescentes em situações vulneráveis, como ambientes humanitários fragilizados, doenças crônicas, deficiências neurológicas, gravidez na adolescência ou pertencentes a minorias marginalizadas, são mais propensos a desenvolver problemas de saúde mental. Segundo a OPAS (2019) um em cada seis pessoas que estão nessa faixa etária retratam problemas de saúde mental, sendo que metade desses problemas surge até os 14 anos, mas a maioria permanece sem diagnóstico ou tratamento adequado.
Globalmente, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade nessa faixa etária. Jovens à margem do sistema de ensino e do mercado de trabalho e sujeitos às vulnerabilidades econômicas e sociais estão mais expostos a problemas mentais e abuso de substâncias lícitas e ilícitas. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (2022), cerca de um bilhão de pessoas, em 2019, incluindo 14% dos adolescentes, sofriam de algum transtorno mental, tendo o número de casos de ansiedade e depressão agravados em cerca de 25% apenas no início da pandemia
Além da depressão corresponder a uma das principais causas de incapacidade, está também é responsável pelo suicídio de mais de 700 mil pessoas todos os anos. Destaca-se que o suicídio é a quarta principal causa responsável pela morte de adolescentes entre 15 a 29 anos de idade O rompimento do silêncio sobre o suicídio abre possibilidades de recolocá-lo no campo das relações sociais e das políticas públicas e não apenas como uma patologia individual. Compreender a dimensão e complexidade dessa tarefa é fundamental para que adolescentes e jovens se sintam acolhidos na sua integralidade.
A American Academy of Pediatrics (AAP) recomenda o rastreamento universal da depressão em adolescentes a partir dos 12 anos usando ferramentas validadas como o Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) e a triagem para pensamentos e comportamentos suicidas utilizando a Columbia-Suicide Severity Rating Scale (C-SSRS) (AAP, 2016; AAP, 2021). Da mesma forma, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sugere a triagem para depressão com a Escala de Depressão de Beck para Adolescentes (BDI-Y) e a avaliação do risco de suicídio em adolescentes com sinais de sofrimento psicológico ou comportamentais (SBP, 2020; SBP, 2019).
Durante essa fase, é vital estabelecer padrões de sono saudáveis, praticar exercícios físicos, desenvolver habilidades de enfrentamento e resolução de problemas, além de aprender a gerenciar emoções. Ambientes protetores e de apoio familiar, escolar e comunitário são fundamentais nesse processo.
Estudar o perfil epidemiológico de adolescentes com transtornos psiquiátricos atendidos em um serviço de saúde é essencial para identificar padrões e fatores de risco presentes nessa população vulnerável. A análise detalhada de diversos relatos evidencia a frequência e a intensidade de episódios psiquiátricos, como surtos psicóticos, tentativas de autoextermínio e crises de ansiedade, e suas possíveis causas, incluindo contextos de abuso, uso de substâncias e ambientes familiares conflituosos. Compreender essas dinâmicas permite desenvolver estratégias de intervenção mais eficazes e integradas, direcionando políticas públicas e práticas clínicas para promover a saúde mental e prevenir futuras crises nesses jovens.
Destarte, norteia-se este estudo a responder a seguinte problemática: Qual é a prevalência e os padrões demográficos dos diferentes transtornos psiquiátricos em adolescentes atendidos em um pronto-socorro infantil, considerando fatores associados como idade, gênero, apresentação clínica, e comorbidades no período de atendimento?.
OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar o perfil de adolescentes com transtornos psiquiátricos atendidos em um pronto-socorro infantil
1.1.2 Objetivos específicos
- Identificar e categorizar os principais tipos de transtornos psiquiátricos (ansiedade, surto psicótico, tentativa de autoextermínio, entre outros) apresentados entre adolescentes e suas respectivas prevalências.
- Avaliar os fatores desencadeantes e condições concomitantes (uso de substâncias, eventos traumáticos, doenças preexistentes) associados aos transtornos psiquiátricos nos adolescentes atendidos.
- Verificar os fatores de risco e comorbidades associadas aos transtornos psiquiátricos nos adolescentes, como histórico de uso de drogas, abuso sexual, conflitos familiares e antecedentes de doenças físicas ou psiquiátricas.
2 METODOLOGIA
Foi realizado um estudo documental, analítico e retrospectivo, de caráter transversal. Tal método tem como objetivo investigar a relação entre variáveis, com a possibilidade de determinar essa relação.
A coleta dos dados foi realizada no sistema de prontuário eletrônico do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), utilizando o número de identificação da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) de cada paciente. A amostra baseia-se nos pacientes que foram atendidos com queixas diagnósticas compatíveis com critérios do DSM-V entre janeiro de 2019 e dezembro de 2021 no serviço de Pronto Socorro Pediátrico do HRT, localizado em uma região administrativa do Distrito Federal brasileiro.
Os dados extraídos incluíram informações sobre a idade, sexo, motivos de atendimento, diagnóstico, história clínica relevante, e eventuais comorbidades. Os diagnósticos principais foram categorizados em transtornos de ansiedade, depressão, tentativas de autoextermínio, surtos psicóticos, uso de substâncias ilícitas, entre outros.
Cada caso foi registrado com detalhes dos eventos clínicos apresentados, como síncopes, alterações de comportamento, tentativas de autoextermínio, uso de drogas, crises psicóticas, episódios de agitação psicomotora, e transtornos psicossomáticos. Incluíram-se também as intervenções realizadas, medicações prescritas e os desfechos dos atendimentos, como altas hospitalares, evasões e internações em unidades psiquiátricas.
Ainda, foi importante destacar as circunstâncias sociais e familiares reportadas nos prontuários, compreendendo fatores como histórico de abuso sexual, violência familiar, uso de drogas por familiares, e acompanhamento por serviços de saúde mental, como Centro de Atenção Psicossocial infantil – CAPSi. Também foram considerados eventos estressantes recentemente vivenciados, como separação dos pais, morte de familiares e bullying.
A análise dos dados procurou identificar padrões e correlações entre os tipos de transtornos psiquiátricos e os fatores sociodemográficos e clínicos observados, contribuindo para uma melhor compreensão das necessidades de saúde mental do público adolescente e fornecendo subsídios para melhorias nos cuidados e na prevenção de crises psiquiátricas em adolescentes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram avaliados um total de 2000 atendimentos entre as idades de 0 a 17 anos. Destes, houve coleta das informações no prontuário eletrônico de pacientes entre 2 e 17 anos de idade, ou seja, com exclusão dos lactentes. No total, foram identificadas 183 internações em todo o período estudado. Foram excluídos, além dos menores de 2 anos de idade, pacientes com diagnóstico prévio de condições médicas que poderiam interferir na análise de patologias incluídas no DSM-V, tais como: pacientes com deficiência auditiva, diagnosticados com epilepsia, pacientes com distúrbios metabólicos e infecções.
Os resultados encontrados revelam que a maioria dos adolescentes com transtornos psiquiátricos é diagnosticada aos 13 anos. Nesta faixa etária, a tentativa de suicídio é o problema mais prevalente, seguida por surtos psicóticos. Para os adolescentes de 12 anos, a tentativa de suicídio também é a condição mais associada, com surtos psicóticos apresentando predominância significativa, conforme mostrado na Tabela 1.
Tabela 1- Prevalência dos tipos de transtornos entre os adolescentes atendidos no período entre janeiro de 2019 e dezembro de 2021
Fonte: Dados da pesquisa, 2021
No estudo conduzido, observou-se uma maior prevalência de surtos psicóticos, transtorno de ansiedade e tentativas de autoextermínio. Com base nisso, a pesquisa focará nesses tipos de casos, detalhando os transtornos específicos, a história atual da doença, as medidas adotadas pela equipe hospitalar, bem como as comorbidades associadas.
3.1 Surto psicótico
Nos últimos dez anos, o reconhecimento de doenças psiquiátricas em adolescentes, especialmente transtornos psicóticos, aumentou significativamente. Essa conscientização, juntamente com mudanças no sistema de saúde mental, fez com que médicos de atenção primária e pediatras se tornassem os principais cuidadores desses jovens. A prevalência de sintomas psicóticos entre adolescentes pode ser alta, com estudos indicando taxas de 9% a 14%. Sintomas como alucinações precisam ser avaliados cuidadosamente devido à sua conexão com tentativas de suicídio, conforme demonstrado por pesquisas longitudinais (Stevens et al., 2014).
A pesquisa realizada no prontuário eletrônico do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) traz uma série de casos de surtos psicóticos em adolescentes variando de 10 a 13 anos, com diversas comorbidades associadas e distintos tipos de intervenções médicas, sendo que todas elas requerem atenção especializada para uma gestão adequada, conforme observado na tabela 2.
Tabela 2- Casos de surto psicótico entre os adolescentes no Hospital Regional de Taguatinga
Idade | HDA (História da Doença Atual) | Procedência do Médico | Comorbidade |
10 anos e 1m | Surto psicótico, ouvindo vozes, mãe ansiosa, consulta no particular. | Alta sem emergência psiquiátrica, seguimento ambulatorial | Psicopatia |
11 anos e 6m | Alteração de comportamento, agressividade, segue em CAPS | Alta com orientações gerais | Transtorno depressivo e ansiedade |
12 anos e 7m | Surto após frustração; irritabilidade, agressividade, pediu socorro, boa evolução. | Avaliação por psiquiatra e neurologia; diagnósticos e medicações feitas pela equipe médica. | Vulnerabilidade social, surto psicótico |
12 anos e 9m | Surto psicótico, usuário de drogas, tentativa de suicídio, TDH, opositor | | Criança internada, sem novos surtos, alta com orientações | TDAH e TOD |
12 anos e 11m | Agitação começa após acusação de abuso, tentativa de autoextermínio | Parecer psicologia, serviço social, transferência, Haldol, prometazina | Automutilação, tentativa de auto-extermínio |
12 anos e 8m | Agitação psicomotora, agressividade após brincadeira | Haldol, Fenergan, receita Risperidona, regulo consultas com neuropediatra e psiquiatra | Pós datismo, hipoxia, atraso DNPM, agitação psicomotora |
12 anos e 8m| | Agitação psicomotora, risperidona regulada | Pós datismo, hipoxia, atraso DNPM, agitação psicomotora | Alta regulada para acompanhamento psiquiátrico |
12 anos e 3m | Não toma medicação há 03 dias | Haldol, observação, consulta ambulatorial já agendada | Sem informação |
12 anos e 7m | Agitação, insônia, pensamentos de morte, tentativa de autoextermínio | Internação, TC de crânio, avaliação psiquiátrica, CAPS, medicações fluoxetina e risperidona | Ansiedade, automutilação |
12 anos e 7m | Encontrado na rua em surto psicótico | Haldol, Fenergan, Midazolam, Levomepromazina, orientação ao pai para buscar CAPS | Esquizofrenia, retardo mental leve, F80 |
13 anos e 2m | Agressividade, tentativa de autoextermínio, batendo no animal de estimação | Interno, parecer psiquiátrico, alta com orientação, renovação de receita | Tentativa de auto exterminio prévio, surto prévio |
13 anos e 1m | Agressivo com a mãe com arma branca, tentou fogo no sofá | Parecer psiquiátrico, transferência ao Hospital de Base, alta após | Síndrome de Moebius |
13 anos e 5m | Agressividade devido a videogame, faz acompanhamento psiquiátrico | Alta com orientações gerais | Síndrome de Moebius |
13 anos e 10m| | Usou faca para assustar a mãe, comportamento negligente do pai após separação | Avaliação do serviço social, psicologia e psiquiatria, evadiu | Violência física |
13 anos e 5m | Mais agressivo, doses de medicações aumentadas, aguardando transferência | Alta médica | Síndrome de Moebius |
Ao observar a prevalência das idades em que os surtos ocorrem, observa-se que os adolescentes de 12 anos parecem ser os mais afetados, seguidos por aqueles de 13 anos. O predomínio de surtos psicóticos nessa faixa etária pode ser explicado por diversos fatores, entre eles as mudanças hormonais e emocionais típicas dessa fase de vida, além de possíveis eventos traumáticos ou estressores ambientais e sociais. A adolescência é, por natureza, um período de grandes transformações e de busca de identidade, o que pode exacerbar pré-disposições a transtornos mentais e fazer com que surtos psicóticos sejam mais prováveis de acontecer (Sunshine; McClellan, 2023).
Segundo Bearden et al., (2011), os adolescentes com psicose frequentemente apresentam alucinações, afeto embotado e retraimento social. Antes da psicose, o período pródromo pode mostrar desenvolvimento social e cognitivo irregular, com retraimento social e comportamento suspeito. Da mesma forma que adultos, adolescentes podem ter alucinações auditivas e delírios.
A análise revela que surtos psicóticos em adolescentes de 12 e 13 anos são frequentes e graves, exibindo sintomas como agressividade, alucinações, automutilação e tentativas de suicídio. Esses surtos variam em intensidade e manifestam comportamento destrutivo e psicose aguda, como ouvir vozes ou ver figuras ameaçadoras. Tais sintomas indicam desregulação emocional e cognitiva crítica, necessitando de monitoramento contínuo e apoio preventivo tanto no ambiente escolar quanto nos serviços de saúde e suporte social. Esse cuidado é imprescindível para identificar e tratar precocemente esses quadros, minimizando riscos e promovendo a estabilidade emocional dos adolescentes afetados (McDonell; McClellan, 2007).
O acontecimento dos surtos psicóticos nos adolescentes analisados muitas vezes tem um gatilho identificável, como frustrações com os pais, uso de drogas, desavenças familiares, ou situações traumáticas pregressas como abuso sexual (Stevens et al., 2014).. Diversos adolescentes apresentam comorbidades significativas que interagem e possivelmente exacerbam a ocorrência de surtos psicóticos.
Diversos adolescentes apresentam comorbidades significativas que podem exacerbar surtos psicóticos, como Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtorno Desafiador de Oposição, Síndrome de Moebius, esquizofrenia, retardo mental e transtornos de ansiedade.
O transtorno de oposição desafiante (TOD) é caracterizado por distúrbios do controle de impulsos e da conduta, e por comportamentos agressivos. O indivíduo acometido apresenta oposição hostil e proposital a qualquer figura de autoridade, como pais, cuidadores e professores, pela negação constante de tudo o que lhe é solicitado. Frequentemente é associado a outros transtornos, em especial ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento definido por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade, indivíduos com TDAH tendem a ser interpretados como preguiçosos e irresponsáveis influenciando diretamente em suas relações pessoais e profissionais. O modo e intensidade que afeta suas interações interpessoais são vinculados a forma de suas manifestações (Souza Silva et al. 2022).
Essas condições complicam o diagnóstico e tratamento, requerendo abordagens multidisciplinares que atendam tanto às condições psiquiátricas principais quanto aos surtos psicóticos em si. Tratamentos incluem antipsicóticos como haloperidol e risperidona, estabilizadores de humor como lítio e medicamentos para ansiedade como diazepam. Hospitalizações breves são comuns para gerir sintomas agudos. O acompanhamento contínuo com psicólogos e psiquiatras, geralmente através dos Centros de Atenção Psicossocial, é essencial para o tratamento preventivo e manutenção da saúde mental desses adolescentes.
A dificuldade na gestão dos surtos psicóticos é exacerbada pelas comorbidades e condições sociais dos adolescentes. Muitos dos jovens atendidos no Hospital enfrentam vulnerabilidade social significativa, famílias disfuncionais, uso de drogas e histórico de abusos, todos fatores que intensificam a complexidade dos seus cuidados (Morin et al., 2023).
A intervenção precoce nesses casos, incluindo suporte psiquiátrico, psicológico, e em alguns casos, intervenção do conselho tutelar ou serviços de proteção infantil, é muito importante para mitigar os riscos associados a surtos psicóticos recorrentes.
3.2 Transtorno de Ansiedade
A análise dos casos apresentados demonstra que o transtorno de ansiedade pode se manifestar em adolescentes de diferentes idades, mas há uma concentração relevante entre idades específicas, particularmente entre 10 e 14 anos, demonstrado na tabela 3.
Tabela 3- Casos de transtorno de ansiedade entre os adolescentes no Hospital Regional de Taguatinga
Idade | HDA (História da Doença Atual) | Procedência do Médico | Comorbidade |
10 anos e 7m | Queixa-se de estar “cansada”. Criança em bom estado geral, chorosa, medo de piorar. | Prescrição de diazepam 0.1mg/kg e alta. | Sem informação |
11 anos e 4m | Cefaleia diária desde os 2 anos. Uso diário de analgésicos. Vê “vulto preto”. Crises de Ansiedade. | Internação. Parecer da psiquiatria. Caso discutido. Início de fluoxetina 10mg/dia.. | Cefaleia a/e, mãe usuária de drogas. Peso: 27kg |
11 anos e 5m | Cefaleia, nervosa, chorosa, desmaio. Dor frontal, obstrução nasal e tosse. Piora com ansiedade | Solicitação de internação para observação clínica. Conversa com paciente e mãe para tentar manter calma. Sintomáticos. Solicitação de exames. | Nega comorbidades, mãe presente |
13 anos e 4m | Falta de ar em festa. Sem queixas atuais. Negou algo que pudesse chateá-la. | Alta com orientações gerais. | Sem informação |
13 anos e 8m | Pai relata ingestão de dipirona há 5 dias. Epigastralgia. Dificuldade de relacionamento com a mãe. | Encaminhada ao serviço de saúde mental pela psicologia e ao conselho tutelar pelo serviço social. | Ansiedade |
13 anos e 9m | Ingesta de medicação por ansiedade. Palpitação, falta de ar. Lesões cicatrizadas em pulso. | Solicitado parecer da psicologia. Notificação de violência física. Solicitação de parecer para o Serviço Social. Acompanhamento ambulatorial. | Automutilação |
Tabela 4- Casos de transtorno de ansiedade entre os adolescentes no Hospital Regional de Taguatinga
Idade | HDA (História da Doença Atual) | Procedência do Médico | Comorbidade |
11 anos e 11m | Criança com história prévia de abuso sexual em 2019; episódios de insônia, falta de apetite, auto-mutilação, cefaleia com auras, dor na coluna há 3 anos; ansiosa, triste. | TC, neuroped, adolescentro, pareceres, retorno em enfermaria | Abuso sexual, automutilação |
11 anos e 11m | Trazida pelos bombeiros e pai que relatam quadro agudo de “falta de ar, agitação seguida de desfalecimento”. | Internação/ fenergam im / iniciado fluoxetina 10mg / CAPS | 2º episódio; 1º foi há 2 meses; nega conhecimento de quadros anteriores |
12 anos e 10m | | Crise de ansiedade; 2ª crise, 1ª há ± 1 ano; período de separação dos pais e perda de ente querido | Exames /pai evadiu com criança /OBS: história de criança irritada e agitada na internação | Bronquite |
Clark e Beck (2012) “define ansiedade como um confuso sistema de respostas emocionais, cognitivas e comportamentais”. Assim sendo, a ansiedade é um estado emocional complexo mais prolongado, que às vezes é desencadeado por um medo inicial, um estado de apreensão e de excitação física em que o sujeito acredita que não pode controlar ou prever eventos futuros potencialmente aversivos, sendo traduzida por antecipação de ameaças futuras, um foco indevido na verdadeira probabilidade ou impacto de um evento
Os resultados da pesquisa destacam a presença de sintomas de ansiedade em uma paciente de 11 anos, mesmo desde tenra idade. Esta paciente relatou cefaleia diária desde os 2 anos e crises de ansiedade manifestadas em dificuldades para dormir e alucinações visuais. Um fator relevante identificado é o histórico de uso de drogas por parte da mãe durante a gestação, o que pode estar correlacionado com a manifestação precoce de ansiedade na criança, como investigado por Willingham (2021).
Neste estudo, a atividade genética nos tecidos placentários foi alterada com a exposição à cannabis. Especificamente, genes relacionados à resposta inflamatória mostraram função diminuída. Além disso, os níveis de ansiedade e hiperatividade foram maiores em crianças de gestações expostas à cannabis, o que também foi associado aos padrões genéticos placentários. Sugere-se nesta pesquisa que a exposição a substâncias como a cannabis durante a gestação pode ter impactos significativos no desenvolvimento neurológico e emocional das crianças (Willingham, 2021).
Estudo realizado por Lopes, Carvalho e Barbosa (2014) sobre ansiedade, demonstrou os sintomas mais comuns entre os adolescentes com transtorno de ansiedade; inquietação, dificuldades de concentração, irritabilidade, tensão muscular e dificuldade para dormir ou dormir demais, nervosismo, desconforto abdominal, fadiga ao acordar, aperto no peito, impacto na qualidade de vida (QV) em adolescentes, aqueles que optam por se isolar na maior parte do tempo por faltas à escola (ausência e evasão) ou baixo rendimento escolar, negando-se muitas vezes seus cuidados pessoais, foram os mais relatados e constatados.
O transtorno de ansiedade em adolescentes apresenta-se como uma questão multifacetada e crescente, refletindo a complexidade do desenvolvimento emocional e social durante essa etapa da vida. A análise dos casos apresentados na tabela revela dados importantes sobre a idade de ocorrência, prevalência das idades afetadas, circunstâncias do acontecimento e comorbidades associadas.
Primeiramente, observa-se que os adolescentes tendem a experimentar crises de ansiedade com maior prevalência em torno dos 11 e 12 anos. Essa fase coincide com a transição para a adolescência, um período marcado por intensas mudanças físico- emocionais e sociais. A pressão acadêmica, as transformações corporais e a busca por identidade são fatores iminentes que podem contribuir para o desencadeamento de crises de ansiedade (Duque; Rezende; Sena, 2017).
O registro de três casos distintos ilustra uma variação nas idades, com dois relatos envolvendo crianças de aproximadamente 11 anos e 12 anos. Nos casos apresentados, há uma incidência notável de crises de ansiedade relacionadas a eventos traumáticos e estressores significativos. Por exemplo, um adolescente de 11 anos e 11 meses sofre de ansiedade após histórico de abuso sexual pelo tio e experiências de preconceito e agressão física na escola. Essas experiências traumáticas têm um impacto profundo na saúde mental do adolescente, refletindo-se em comportamentos de automutilação, insônia e isolamento social (Florentino, 2015).
Outro aspecto relevante é o papel dos fatores de risco na amplificação dos sintomas de ansiedade em adolescentes, eles incluem abuso sexual, automutilação e histórico familiar de alcoolismo. Fatores relacionados à família (histórico de transtornos na família, violência verbal ou física no âmbito doméstico, uso de álcool e drogas além de mortes e separações) e fatores socioculturais (fatores socioeconômicos, vulnerabilidade e suporte social), também podem influenciar no surgimento dos transtornos de ordem emocional ou psíquica na adolescência; a sociedade contemporânea, tem gerado uma população estressada, com mentes inquietas e impacientes, cada vez mais propensas a desenvolver ansiedade (BARROS et al, 2020).
Do ponto de vista do tratamento, os relatos refletem uma abordagem multidisciplinar envolvendo psicologia, psiquiatria e outros serviços de saúde mental. As intervenções podem incluir o uso de medicação, como diazepam e fluoxetina, e encaminhamentos para serviços de apoio emocional e psicossocial. O tratamento varia conforme a natureza e gravidade dos episódios de agudização do transtorno de ansiedade, envolvendo acompanhamento psicológico intensivo, tratamento medicamentoso e possivelmente encaminhamento a serviços especializados como CAPS.
3.3 Tentativa de autoextermínio
Tabela 5- Casos de tentativa de autoextermínio entre os pré-adolescentes no Hospital Regional de Taguatinga
Idade | HDA (História da Doença Atual) | Procedência do Médico | Comorbidade |
10 anos e 9m | Ingeriu 5 cp de Diazepam hoje, 1 cp de Diazepam, 1 cp de Fluoxetina e 1 cp de Lítio ontem | Fase rápida, parecer serviço social e psicologia, vigilância clínica, ficha de notificação compulsória, orientações | Nega |
10 anos e 11 meses | Tentativa de autoextermínio com corda, presença de edema e hematomas no pescoço. | Internação, hidratação venosa, TC crânio e cervical, parecer social, psiquiatria, cirurgia geral. | Automutilação |
10 anos e 11 meses | Ingestão de 2 comprimidos de Zolpidem após briga com pai, relatos de agressão paterna. | Serviço social e psicologia, conselho tutelar – encaminhado ao HCB / evasão antes. | Obesidade e dislipidemia |
10 anos e 11m | Tentativa de auto-extermínio com corda, edema moderado. | Internação, dieta zero, hidratação venosa, vários pareceres, aguarda transferência | Automutilação | |
10 anos e 11m | | Ingestão de 2 comprimidos de Zolpidem. | Parecer serviço social e psicologia, conselho tutelar – evasão antes do tratamento | | Obesidade e dislipidemia |
10 anos e 7m | Queixa de cansaço, estado geral bom, chorosa. | | Diazepam 0,1mg/kg, alta | Nenhuma |
10 anos e 9m | Ingesta de 8 comprimidos de Dorflex, choro frequente. | CIATOX, parecer psiquiatria, encaminhamento ao CAPSi | Nenhuma |
10 anos e 9m | Ingesta de 2 cp de Rivotril, tontura, primeira tentativa de suicídio, ambiente familiar conturbado | Parecer assistência social e parecer psiquiatra | Dermatite atópica | |
11 anos e 6m | Tentativa de auto Extermínio. Ingestão de aproximadamente 3g de paracetamol há 30 minutos. | Acetilcisteína, exames, sintomáticos, alta. | Automutilação |
11 anos e 9 meses | Tentativa de autoextermínio, ideação suicida após abuso sexual e jogos de celular. | CIATOX; parecer social, psicologia, psiquiatria; Fluoxetina; Enc. CAPSi; Conselho tutelar. | Sem informação |
11 anos e 9m | Ideação suicida, tomou 12cp de Decongex. | CIATOX; parecer serviço social e notificação; parecer psicologia e psiquiatria | Sem informação |
11 anos e 8m | Ingeriu cerca de 20 comprimidos diversos, fala arrastada | BOX; CIATOX – lavagem gástrica, Flumazenil, Serviço social e psicologia | Nega |
11 anos e 4m | Cefaléia diária, crises de ansiedade, vê “vulto preto”. Mãe usuária de drogas na gestação. | Interno, parecer da psiquiatria, discutido caso em conjunto, iniciado fluoxetina 10mg/dia e Cefaleia | Nenhuma |
11 anos e 5m | Cefaleia, nervosismo, desmaio, dor frontal, obstrução nasal e tosse. | Internação para observação clínica, converso com paciente e mãe para se manter calma, sintomáticos, solicito exames | Nenhuma |
11 anos e 8 meses | Ingestão de 20 comprimidos diversos, evoluiu com fala arrastada e sonolência. | BOX; CIATOX – lavagem gástrica, Flumazenil, Avaliação serviço social e psicologia, psiquiatria | Nega |
12 anos e 11m | | Tentou cortar o pulso, primeira tentativa de suicídio. | Parecer psiquiatria | Nenhuma |
12 anos e 0m | Ingesta de remédios (Amoxicilina, Dipirona, Dorflex) após discussão com mãe. | Contato com CIAT, avaliação psicologia e psiquiatria, serviço social | Nenhuma |
12 anos e 11m | Ingesta de medicações (Clonazepam, Valproato, Risperidona, Fluoxetina), história de abuso sexual | Parecer psiquiatria, observação | Automutilação, tentativa de auto-extermínio |
12 anos e 6m | Uso de clonazepam, agitação psicomotora e agressividade. | OBS, diazepam, sem eficácia. Contenção física, haloperidol com prometazina | | Quadro crônico de agitação, agressividade, baixa intolerância a frustrações, comportamento desafiador, alucinações auditivas de vozes de comando, déficit intelectual associado |
12 anos e 10m | Violência sexual pelo pai desde 6 anos, notificado pelo conselho tutelar. | Acionado PAV, profilaxia e exames, transferência para IHBDF | Nenhuma |
12 anos e 4m | Ingeriu 15 comp de Infralax 300mg + 7 comp de Dipirona 500mg há cerca de | Fase rápida, exames laboratoriais, parecer psic, serviço social, psiq, iniciar Fluoxetina e Carbonato de Lítio | Álcool: abuso histórico, abstinência há 9 meses. Cannabis: uso único, apenas em caráter experimental, neste ano |
12 anos e 7m | Encontrado na rua em surto psicótico. | Haldol, fenergam, Midazolam, Levomepromazina, Clorpromazina / Pai orientado | Esquizofrenia, retardo mental leve, F80 |
12 anos e 6m | Tentativa de auto Extermínio. Ingestão de cartela de ACO Tess, procurou formas de suicídio na internet, epigastralgia. | Avaliação serviço social e psicologia, observação função hepática, omeprazol, parecer psiquiátrico – Escitalopram. | Nega | |
12 anos e 7 meses | Surto psicótico na rua. Mãe não sabia se adolescente tomou medicações. | Haldol, Fenergan, Midazolam, Levomepromazina, Clorpromazina / Pai orientado. – Alta Médica. | Esquizofrenia, retardo mental leve, F80 |
12 anos e 11m | Amarrou cinto na grade e cortou o lábio. | HBDF- consultou com a psiquiatria, retornou para unidade, alta vespertina | Sem informação |
12 anos e 11 meses | Tentativa de autoextermínio com cinto, sutura no lábio. | HBDF – psiquiatria, alta no período vespertino. | Sem informação |
13 anos e 6m | Tentativa de auto Extermínio há 2 horas. Ingestão de paracetamol, ciprofloxacino e topiramato | Sintomáticos e suporte, internação para avaliação psiquiátrica, serviço social, acompanhamento psicológico. | Nega |
13 anos e 5m | Tentativa de auto Extermínio. Ingestão de sulfametoxazol + trimetoprim, náuseas, palpitações e dor abdominal. | Observação clínica por 8h, sintomáticos, parecer serviço social, notificação, encaminhamento adolescentro. | Nega |
13 anos e 10m | Ingeriu 8 cp de Amoxicilina 500mg há +/- 40 min. Náuseas, dor abdominal. Nega vômitos. | Lavagem gástrica, carvão ativado, omeprazol, função renal e hepática, observação, parecer psiquiátrico | Automutilação |
13 anos e 11m | Ingeriu medicamento tentando autoextermínio, referiu depressão | N-acetilcisteína, colher TGO e TGP, vigilância para agitação e convulsão, encaminhamento a enfermaria para avaliação psiquiátrica | Depressão |
13 anos e 5m | Ingeriu 5 cps de fluoxetina e 3 cps de omeprazol. Sente-se preterida pela mãe. | Notificação, parecer para serviço social e psicologia | Depressão |
13 anos e 5m | Ingeriu 10 comprimidos de fluoxetina e 2 dedos de água sanitária, vomitou 6 comp | Internação, alta do PS. | Automutilação |
13 anos e 9m | Tentativa de auto Extermínio. Ingestão de Torsilax, omeprazol e Dprev há 01 hora. Nega vômitos. | Lavagem gástrica com 6l de SF á 0,9%, carvão ativado VO, solicitar exames e parecer psiquiátrico. | Sem dados |
13 anos e 8m | Ingeriu 30 comprimidos de risperidona, sensação de angústia e ansiedade | ECG, monitorização, contato com CIAT, solicitar hemograma, função renal e hepática, eletrólitos, alta com orientação | Sem informação |
13 anos e 8m | Ingeriu mais 20 comp. de Amitriptilina há aproximadamente 1h | Internação, lavagem gástrica, carvão ativado, monitorização, parecer psiquiatria, psicologia, serviço social, conselho tutelar | Depressão |
13 anos e 8m | Ingeriu 7-8 cp de Nevralgex, tontura, sialorreia, dormência na língua e membros. | Carvão ativado, pedido de avaliação de psicologia e psiquiatria. | Ansiedade ( Alta por evasão ) |
13 anos e 9 meses | Ingestão de 29 comprimidos de Risperidona, relato de inutilidade pela mãe. | Lavagem gástrica, carvão, serviço social, psicologia, hospital de Base para psiquiatria, clonazepam. | Depressão e ansiedade |
13 anos e 11 meses | Ingestão de noritriptilina e lamitor, relato de automutilação recente, sonolência. | Psiquiatria / Adolescentro, CAPS infantil (Taguatinga), troco escitalopram por Desvenlafaxina. | Distúrbio do sono |
13 anos e 6 meses| | Sonolência e vômitos, suspeita de ingestão de medicamentos variados, ideações suicidas. | PAreceres / psiquiatria – Paroxetina, acompanhamento ambulatorial – F43 + F90.3. | Nega |
13 anos e 9m | Ingeriu 29 comprimidos de Risperidona. | Lavagem gástrica, carvão, serviço social e psicologia, hospital de Base – psiquiátrico. | Depressão e ansiedade |
13 anos e 6m | Sonolência persistente, suspeita de ingestão de medicação. | Pareceres, psiquiatria – Paroxetina, acompanhamento ambulatorial – F43 + F90.3 | Nega |
13 anos e 11m | Tomou 10cp de nortriptilina e 5cp de lamitor 100mg | Psiquiatria, relatório de encaminhamento, troca escitalopram por Desvenlafaxina | Distúrbio do sono |
13 anos e 5m | Ingesta de comprimidos de Piroxicam após morte do cachorro. Histórico de automutilação e tentativa de suicídio. | Lavagem gástrica, carvão ativado, parecer psiquiatria, alta | Depressão e ansiedade |
13 anos e 10m | Ingesta de Fluoxetina e Paracetamol dor epigástrica e náuseas. | CIAT, n-acetilcisteína, pareceres, conselho tutelar, CAPSi | Vulnerabilidade social, tentativa de auto-extermínio | |
13 anos e 1m | | Ingesta de várias medicações após briga com a mãe, referindo-se sozinha e triste. | Pareceres, 2º andar, CAPSi | Nenhuma |
13 anos e 10m | Tentou cortar o braço após briga com mãe. Histórico de tentativas anteriores de suicídio | Sutura, cefadroxila, orientações e reforço com a mãe, alta médica | | Tentativa de auto-extermínio |
13 anos e 4m | Crise de ansiedade há 2 meses, tentativa de auto-mutilação. Faz uso de Fluoxetina | Alta, retorno antecipado para psicologia e psiquiatria, pareceres | Ansiedade e depressão |
13 anos e 8m | Uso de cigarros eletrônicos e bebida alcoólica, vómitos e ideação suicida | Pareceres | Nenhuma |
13 anos e 2m | Auto-mutilação, múltiplas internações por tentativa de auto-extermínio e agressividade. | | Pareceres, transtorno misto ansioso/ depressivo e provável transtorno de personalidade cluster B em desenvolvimento | Nenhuma |
13 anos e 7m | Agressividade, tentativa de auto-extermínio com enforcamento e faca. Drogadição | Pareceres, medicação pela psiquiatria, CAPSi | Transtorno depressivo leve a moderado; Alucinações visuais e delírio, múltiplas internações por drogadição e tentativa de auto-extermínio |
13 anos e 2m | Assédio pelos vizinhos, tentativa de enforcamento com fio de celular. Usa carbonato de lítio e quetiapina | Pareceres | Transtorno misto ansioso/ depressivo e provável transtorno de personalidade cluster B em desenvolvimento |
13 anos e 8m | Ingesta de frasco de Dipirona, dor epigástrica, dificuldade de relacionamento com a mãe. | Encaminhada ao serviço de saúde mental pela psicologia e ao conselho tutelar pelo serviço social | Ansiedade |
13 anos e 9m | Ingesta de medicação devido sintomas de ansiedade, lesões cicatrizadas em pulso esquerdo. | Aguardo parecer da psicologia, notificação de violência física, parecer para o serviço social, acompanhamento ambulatorial | Automutilação |
13 anos e 4m | Sentiu falta de ar em festa de família, passou a noite bem | Alta com orientações gerais | Nenhuma |
13 anos e 11m | Ingesta de medicamentos (Dipirona, Paracetamol, Plasil) há 6 horas, vómitos e náuseas | | CIATOX, pareceres | BVA |
13 anos e 7m | Ingesta de múltiplas medicações (Rivotril, Dramin) há 1 dia atrás, tontura e sono. | Parecer serviço social, psic, psiq – fluoxetina; CAPSi | Depressão |
13 anos e 1m | Tentativa de enforcamento com lençol após avistar agressor de abuso sexual. | Pareceres e observação | Transtorno misto ansioso/ depressivo e provável transtorno de personalidade Cluster B em desenvolvimento |
13 anos e 2m | Ingesta de 11 comprimidos de Buclizina, tontura, vomitou 4 comprimidos. Faz acompanhamento no CAPS. | CIATOX, pareceres | Tentativa de auto-extermínio |
Os dados coletados evidenciam uma prevalência de tentativas de autoextermínio em adolescentes, com uma faixa etária predominantemente em torno dos 13 anos. Porém, a idade dos adolescentes envolvidos nas tentativas de autoextermínio varia entre 10 anos e 11 meses a 13 anos e 11 meses.
As tentativas de autoextermínio descritas na tabela 5 envolvem variados métodos de intoxicação medicamentosa, com o uso de medicamentos como Amoxicilina, Fluoxetina, Omeprazol, Diazepam, Lítio, Amitriptilina, dentre outros. A gravidade de tais episódios é evidente não só pela quantidade de medicamentos ingeridos, mas também pela diversidade e a combinação de substâncias.
Um aspecto crucial a ser abordado é a prevalência de diagnósticos de comorbidades, principalmente de problemas psicológicos e psiquiátricos, associados às tentativas de autoextermínio (Sadath et al., 2023). Muitos dos adolescentes listados foram diagnosticados com depressão e estavam sob acompanhamento psiquiátrico e psicológico antes das tentativas. As histórias pregressas indicam um padrão frequente de automutilação e depressão, evidenciando a necessidade de acompanhamento contínuo para esses adolescentes, destacando a importância de uma rede de apoio constante para prevenir novas tentativas (Lara et al., 2023).
O estudo revela surtos depressivos e impulsividade em adolescentes, desencadeados por desavenças familiares. Um adolescente de 13 anos perdeu a fé na vida após uma briga familiar; uma adolescente de 13 anos lidava com a separação dos pais. Esses surtos frequentemente envolviam ingestão intencional de medicamentos em altas doses, resultando em sintomas físicos como náuseas e dores abdominais. Procedimentos médicos emergenciais como lavagem gástrica e administração de carvão ativado foram essenciais. A intervenção psiquiátrica incluiu referências a serviços sociais e psicológicos. Orientações detalhadas foram dadas aos pais sobre acompanhamento rigoroso em saúde mental. A abordagem multidisciplinar, envolvendo psiquiatria, psicologia e serviço social, foi fundamental para estabilizar e apoiar os adolescentes.
Relatos adicionais indicaram ambientes familiares disfuncionais e abuso de substâncias, como no caso de um adolescente de 13 anos cuja tentativa foi associada a um contexto de violência familiar. A vulnerabilidade de crianças e adolescentes em ambientes familiares conflitantes é significante, reforçando a necessidade de intervenções sistêmicas que abordem o indivíduo e o ambiente familiar (Souza; Panúncio-Pinto; Fiorati et al., 2019).
As tentativas de autoextermínio e surtos psicóticos entre adolescentes são questões alarmantes e multifacetadas que revelam diversas interconexões entre saúde mental, contexto social e dinâmicas familiares. A análise dos casos apresentados evidencia uma vulnerabilidade específica nessa fase da vida, com um padrão claro de comportamentos autoagressivos e comorbidades (Silva Júnior et al., 2024).
Em um caso, uma adolescente que sofreu abuso sexual começou a manifestar comportamentos autoagressivos e tentativas de suicídio, evidenciando a necessidade de intervenção do conselho tutelar e serviços sociais. Conflitos familiares frequentemente emergem como gatilhos significativos para tentativas de autoextermínio. Um adolescente de 12 anos e 11 meses tentou enforcar-se após uma discussão familiar, enquanto outro da mesma idade ingeriu múltiplos medicamentos depois de conflitos em casa, sublinhando o impacto emocional profundo das interações familiares.
Eslava et al. (2023) destacam que o conflito familiar está consistentemente associado a uma maior probabilidade de ideação suicida, ressaltando sua robustez como fator de risco para comportamento suicida durante a adolescência. Em nosso estudo, observamos que adolescentes expostos a um ambiente doméstico conflituoso, caracterizado por interações familiares negativas, tendem a exibir comportamentos autodestrutivos significativos. Esses dados reforçam a ideia de que o ambiente familiar exerce uma pressão psicológica intensa sobre os adolescentes, frequentemente exacerbando sua vulnerabilidade emocional.
Por exemplo, os casos de adolescentes que tentaram autoextermínio após discussões ou observações pejorativas dos pais destacam a importância do ambiente doméstico na saúde mental dos jovens. A tentativa de suicídio de um adolescente de 13 anos após ingerir comprimidos de Risperidona devido um comentário depreciativo da mãe ilustra a pressão emocional gerada por interações familiares negativas. Eslava et al. (2023) apontam que essas interações podem sobrecarregar os mecanismos de enfrentamento dos adolescentes, especialmente aqueles com habilidades de enfrentamento menos desenvolvidas, aumentando sua vulnerabilidade ao comportamento suicida.
O ambiente familiar pode ser tanto um fator de risco quanto de proteção para adolescentes depressivos com comportamento suicida. O impacto familiar varia de acordo com cada caso. Investir em intervenções que fortalecem a rede de apoio e o ambiente familiar é fundamental para prevenir o suicídio em adolescentes. (Silva Júnior et al., 2024).
A OMS (2022) adverte que após uma tentativa de suicídio, é necessário oferecer cuidado e atenção especial ao indivíduo. Isso se deve à alta probabilidade de reincidência, exigindo a mobilização da rede de saúde e do núcleo familiar para prevenir futuros eventos trágicos. O suicídio representa a consumação do comportamento autodestrutivo, um desfecho devastador que pode ser prevenido com medidas adequadas de apoio e acompanhamento.
A abordagem terapêutica para tentativas de autoextermínio entre adolescentes inclui o uso de antidepressivos, como fluoxetina e escitalopram, e antipsicóticos, como quetiapina e risperidona, além de intervenções imediatas. No entanto, os desafios na continuidade do acompanhamento destacam a necessidade de estratégias integradas e de um suporte contínuo nas intervenções.
Tentativas variam desde ingestão de medicamentos a métodos agressivos como enforcamento. Traumas e conflitos familiares são comuns. Intervenções abrangentes incluem avaliações psiquiátricas, administração de antídotos, contenções mecânicas em agitação extrema, e notificação ao Conselho Tutelar. O acompanhamento nos CAPSi é vital; manter esse suporte contínuo é desafiador, assim como a necessidade de intervenções preventivas, suporte contínuo e formação de pais, professores e profissionais de saúde para prevenção e resiliência.
CONCLUSÃO
Ao analisar o perfil epidemiológico dos adolescentes atendidos com transtornos psiquiátricos, o estudo revela dados secundários significativos coletados no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Os resultados indicam uma prevalência de surtos psicóticos especialmente em adolescentes de 12 e 13 anos. As hipóteses levantadas sobre a influência de mudanças hormonais e emocionais típicas da faixa etária corroboram a literatura existente sobre a vulnerabilidade dos adolescentes a desencadear transtornos mentais durante períodos de transição e estresse.
Entre as comorbidades mais frequentes em adolescentes com surtos psicóticos, destacam-se o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno Desafiador de Oposição (TOD). O TDAH se manifesta por dificuldades de concentração, impulsividade e hiperatividade, aumentando a vulnerabilidade emocional e contribuindo para crises intensas. Já o TOD é caracterizado por um padrão de desobediência e comportamentos desafiadores, que podem resultar em conflitos frequentes com figuras de autoridade e explosões emocionais, exacerbando a gravidade dos surtos psicóticos.
Além dessas condições, fatores sociais, como ambientes familiares instáveis e experiências traumáticas, e o abuso de substâncias são relevantes. A interação dessas comorbidades e fatores sociais não apenas agrava os sintomas psiquiátricos, mas também dificulta o tratamento.
Especificamente, observou-se que a adolescência é um período crítico para o surgimento de transtornos psicóticos devido à interação complexa entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. Os relatos de abuso sexual e conflitos familiares agravam a saúde mental dos jovens, evidenciando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar. Assim, a gestão médica para esses casos incluiu desde intervenções farmacológicas com antipsicóticos e estabilizadores de humor até hospitalizações breves e acompanhamento contínuo por meio dos Centros de Atenção Psicossocial.
O estudo também abordou a prevalência de transtornos de ansiedade que, assim como os surtos psicóticos, são observados em adolescentes entre 10 e 14 anos. Os dados analisados destacaram sintomas de ansiedade associados a eventos traumáticos e estressores significativos, como problemas de relacionamento e experiências de abuso. A cefaleia diária foi um sintoma físico recorrente ligado aos casos de ansiedade, reforçando a tese sobre a interação entre fatores emocionais e físicos. Como tratamento, as intervenções utilizaram ansiolíticos como diazepam e antidepressivos como fluoxetina, além de suporte emocional e psicossocial contínuo.
Os transtornos de ansiedade mostraram uma prevalência mais alta durante os 11 e 12 anos. Os eventos traumáticos e as comorbidades relacionadas foram determinantes para a severidade e frequência das crises. O suporte multidisciplinar e intervenções clínicas regulares eram consistentemente necessárias para manejar esses casos, reiterando a complexidade envolvida no tratamento da ansiedade em adolescentes.
As tentativas de autoextermínio foram frequentemente ligadas a métodos de intoxicação medicamentosa e estavam associadas a antecedentes de conflitos familiares e depressão. O registro de casos de automutilação e a falta de acompanhamento adequado antes das tentativas de autoextermínio sublinham a necessidade de uma rede de apoio preventivo e diagnóstico precoce de transtornos depressivos em meio aos adolescentes.
Conclui-se, portanto que a prevalência dos transtornos psiquiátricos analisados é elevada entre os adolescentes atendidos no HRT. Os dados indicam a importância de uma abordagem multidisciplinar e preventiva, incluindo suporte psiquiátrico, psicológico e intervenções sociais para abordar os fatores de risco e comorbidades associadas. Ressalta-se, diante do exposto que a identificação precoce e intervenções contínuas são essenciais para mitigar os efeitos adversos desses transtornos e promover a recuperação e bem-estar dos adolescentes afetados.
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