REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411101555
Halissa da Costa Moreno
Leonardo Aparecido Marques do Vale Vitorino
Mirella Maria da Conceição Silva
Raíssa Nascimento de Lima
Resumo:
A persistência do ducto arterial (PDA) em cães é uma condição congênita em que o ducto arterial, um vaso sanguíneo que conecta a artéria pulmonar à aorta durante o desenvolvimento fetal, não se fecha após o nascimento. Normalmente, esse ducto se fecha logo após o nascimento para permitir que o sangue siga o percurso normal através dos pulmões para oxigenação. No entanto, quando persiste, ocorre um desvio de sangue da aorta para a artéria pulmonar, causando um fluxo anormal e sobrecarregando o coração. Essa condição pode levar a insuficiência cardíaca, hipertensão pulmonar e outras complicações. O diagnóstico é feito por meio de exames físicos, ecocardiogramas e radiografias. O tratamento geralmente envolve intervenção cirúrgica para fechar o ducto ou o uso de dispositivos de oclusão minimamente invasivos.
Palavras-chave: PDA em cães, persistência do ducto arterial, cardiopatia congênita, doença cardíaca em cães, insuficiência cardíaca canina, cirurgia cardíaca veterinária, ecocardiograma canino.
1. INTRODUÇÃO
A persistência do ducto arterial (PDA) é uma anomalia cardiovascular congênita que afeta a circulação sanguínea em cães, com prevalência de 0,46-1,6% na população canina. É mais comumente detectado em cães jovens e é mais prevalente em fêmeas. Estudos mostram que 71,3% da população que sofre de PDA são fêmeas, atingindo principalmente raças braquicefalizas. O ducto arterial é um vaso sanguíneo essencial durante o desenvolvimento fetal, permitindo que o sangue contorne os pulmões não funcionais e vá diretamente para a aorta. Após o nascimento, este vaso deve se fechar naturalmente para permitir a circulação normal do sangue pelos pulmões e pelo resto do corpo.
Quando o ducto arterial não se fecha adequadamente após o nascimento, ocorre a persistência do ducto arterial. Esta condição resulta em um fluxo sanguíneo anormal entre a aorta e a artéria pulmonar, o que pode levar a um aumento da carga de trabalho no coração e nos pulmões. Com o tempo, isso pode causar uma série de problemas clínicos, incluindo insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão pulmonar e, em casos graves, pode ameaçar a vida do animal.
2. OBJETIVO
2.1 O objetivo do trabalho sobre a persistência do ducto arterial (PDA) em cães é apresentar uma análise abrangente dessa anomalia cardiovascular congênita, abordando sua epidemiologia, patologia, morfologia, diagnóstico e opções de tratamento.
2.2 Informar sobre a Prevalência e Características da PDA: Destacar a frequência da condição em diferentes raças e sexos, assim como os efeitos na circulação sanguínea e possíveis complicações.
2.3 Descrever os Aspectos Patológicos e Morfológicos: Explicar como a persistência do ducto arterial afeta a função cardíaca e pulmonar, incluindo as alterações estruturais e funcionais associadas.
2.4 Explorar Métodos Diagnósticos: Apresentar as técnicas de imagem utilizadas para diagnosticar a PDA, enfatizando a importância de métodos como a angiotomografia computadorizada e a ecocardiografia na avaliação da morfologia do ducto.
2.5 Analisar Opções de Tratamento: Discutir as abordagens cirúrgicas e não cirúrgicas disponíveis, suas indicações e possíveis complicações, bem como o tratamento medicamentoso para casos não operáveis.
2.6 Enfatizar a Importância do Diagnóstico Precoce: Ressaltar como a detecção e intervenção precoces podem melhorar significativamente o prognóstico e a qualidade de vida dos cães afetados.
2.7 Concluir sobre a Relevância do Cuidado Veterinário: Reforçar a importância do envolvimento de profissionais qualificados no manejo da condição para garantir a saúde e o bem-estar dos animais.
3. MATERIAIS E METADOS
3.1 Materiais Utilizados
1. Literatura Científica: Estudos e artigos que abordam a prevalência, diagnóstico e tratamento da PDA em cães, incluindo pesquisas sobre diferentes raças e sexos.
2. Imagens Diagnósticas:
3. – Angiotomografia Computadorizada (ATC): Utilizada para visualização detalhada da anatomia do ducto arterial.
4. – Ecocardiografia: Ferramenta essencial para confirmar o diagnóstico e avaliar a função cardíaca.
5. Equipamentos Cirúrgicos: Instrumentos utilizados para procedimentos cirúrgicos e de cateterismo, incluindo suturas, dispositivos de oclusão e ferramentas de monitoramento.
6. Medicamentos: Inclui diuréticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e beta-bloqueadores, utilizados para controlar os sintomas e melhorar a função cardíaca.
3.2 Métodos Utilizados
1. Análise Epidemiológica: Coleta e revisão de dados sobre a prevalência da PDA em diferentes populações de cães, incluindo estatísticas sobre raças e sexos afetados.
2. Classificação Morfológica: Aplicação de sistemas de classificação (como a de Miller) para categorizar diferentes tipos de PDA com base em características anatômicas observadas em imagens diagnósticas.
3. Exames Complementares:
– Ecocardiografia e ATC: Realização de exames para identificar a presença de PDA, avaliar a morfologia do ducto e verificar a função cardíaca.
– Monitoramento Pós-Tratamento: Exames regulares, como radiografias e ecocardiogramas, para acompanhar a recuperação do animal.
4. Técnicas de Tratamento:
– Procedimentos Cirúrgicos: Descrição de técnicas de ligadura e dissecção do ducto arterioso.
– Oclusão por Cateterismo: Abordagem minimamente invasiva, com utilização de cateteres e dispositivos de oclusão.
5. Tratamento Medicamentoso: Discussão sobre o uso de medicamentos para controlar sintomas e melhorar a qualidade de vida de cães não candidatos a cirurgia.
6. Monitoramento e Avaliação: Observação rigorosa de sinais clínicos pós-tratamento, para detectar possíveis complicações e garantir a eficácia do tratamento.
Esses materiais e métodos colaboram para uma compreensão abrangente da persistência do ducto arterial em cães, desde a patologia até as opções de tratamento e prognóstico.
4. DISCUSSÃO
4. Patologia
A detecção precoce é crucial, pois permite uma intervenção mais eficaz e pode melhorar significativamente o prognóstico do cão. Se um cão apresenta sintomas compatíveis com PDA, sendo mais comum em raças pequenas, embora possa ocorrer em cães de qualquer tamanho ou raça.
A apresentação patológica da persistência do ducto arterial, consiste em uma condição congênita em que o ducto arterial, um vaso sanguíneo que normalmente se fecha após o nascimento, permanece aberto.
Em cães, a persistência do ducto arterial pode levar a várias alterações patológicas. As principais características incluem:
- Sobrecarregamento do Coração Esquerdo: O sangue flui anormalmente da aorta para a artéria pulmonar, resultando em sobrecarga do ventrículo esquerdo e aumento do volume de sangue na circulação pulmonar.
- Hipertrofia Ventricular Esquerda: Com o tempo, o ventrículo esquerdo pode se hipertrofiar devido ao esforço adicional necessário para bombear o sangue.
- Hiperemia Pulmonar: O aumento do fluxo sanguíneo para os pulmões pode causar congestão e edema pulmonar, resultando em sinais clínicos como tosse e dificuldade respiratória.
5. Morfologia
A morfologia precisa do ducto é crucial, pois determina o método de correção mais apropriado para determinar a doença e evitar complicações. A primeira classificação para PDA foi descrita na Alemanha por Schneider, com base na classificação humana. Uma classificação mais específica foi encontrada nos Estados Unidos por Miller et al. (2006). No entanto, esses estudos apresentaram limitações, como dificuldade de posicionamento e falta de imagens precisas, o que poderia levar a medidas equivocadas. Portanto, a classificação mais aceita é a de Miller, onde o PDA pode ser classificado em quatro fenótipos. Um estudo recente introduziu um método extremamente preciso de avaliação usando angiotomografia computadorizada (ATC), onde as imagens são importadas para um software que fornece informações 3D sobre a anatomia do PDA. Essas novas ferramentas permitem a definição de uma classificação morfológica precisa, visando melhorar o prognóstico desses animais, que são classificadas com base em sua apresentação e localização:
- PDA Tipo I (Ducto Arterial Simples): O tipo mais comum, caracterizado por um ducto longo e estreito. Neste tipo, o fluxo sanguíneo é contínuo e ocorre de forma persistente entre a aorta e a artéria pulmonar.
- PDA Tipo II (Ducto Arterial de Tamanho Variável): O ducto pode ter uma forma mais irregular e variar em diâmetro. Pode haver áreas de estreitamento ou dilatação dentro do ducto.
- PDA Tipo III (Ducto Arterial com Dilatação Associada): Este tipo pode mostrar sinais de dilatação significativa, afetando a estrutura da artéria pulmonar e a aorta. A dilatação pode ser causada pela alta pressão e fluxo sanguíneo anormal.
6. Diagnóstico
O diagnóstico da PCA é feito por meio de exames complementares de imagem, como ecocardiografia ou angiografia. A ecocardiografia pode confirmar a existência da PCA e diagnosticar alterações relacionadas. No entanto, não é eficaz para visualizar a morfologia do ducto. A angiotomografia computadorizada (ATC) e a ecocardiografia transesofágica (EOC) são exames de imagem superiores. Discos superdimensionados e subdimensionados são um alto fator de risco para complicações no procedimento. Portanto, é essencial usar imagens de alta qualidade para medição antes da seleção do dispositivo, evitando erros nas medições da PCA e fornecendo um plano cirúrgico mais preciso. Imagens de alta qualidade são cruciais para evitar erros e fornecer um plano cirúrgico mais preciso.
- Angiotomografia computadorizada (ATC): Oferece uma visualização detalhada da anatomia do ducto arterial, permitindo avaliar sua forma, tamanho e relação com estruturas cardíacas e vasculares adjacentes.
- Ecocardiografia: É uma ferramenta importante para a confirmação do diagnóstico, mostrando o fluxo anormal entre a aorta e a artéria pulmonar, além de avaliar o grau de sobrecarga e as alterações secundárias no coração.
7. Tratamento
O tratamento de PDA pode ser dividido em algumas abordagens principais:
1. Procedimento cirúrgico.
O procedimento padrão para o fechamento do ducto envolve sua dissecção e ligadura dupla para minimizar o risco de recanalização, embora complicações como ruptura do ducto e hemorragia grave possam ocorrer, sendo a maior causa de mortalidade.
A presença de bradicardia durante a ligadura também é possível, recomendando-se o uso de anticolinérgicos. Alternativamente, a oclusão por cateterismo é uma técnica menos invasiva que utiliza dispositivos para fechar o ducto, mas é cara, exige equipamentos especializados e é restrita a animais com tamanho e ducto adequados.
A técnica não é indicada para cães com ducto largo ou peso insuficiente.
Ambas as abordagens, cirúrgica e por cateterismo, são contraindicadas em casos de desvio direita-esquerda, devido ao risco de insuficiência cardíaca direita.
Procedimento Cirúrgico (Ligadura Externa)
O procedimento cirúrgico de ligadura do ducto arterioso é o método tradicional e ainda amplamente utilizado. É considerado um procedimento invasivo, mas com alta taxa de sucesso.
Acesso: O acesso ao ducto é feito através de uma toracotomia, normalmente realizada no lado esquerdo do tórax, entre as costelas. Isso permite uma exposição adequada da região onde se encontra o ducto arterioso.
Dissecação do Ducto: O cirurgião realiza uma dissecação cuidadosa ao redor do ducto para isolá-lo de outras estruturas vasculares, como a aorta e a artéria pulmonar.
Ligadura Dupla: Para minimizar o risco de recanalização (reabertura do ducto), o ducto é fechado com uma ligadura dupla. Essa etapa é crucial para garantir que o ducto não reabra após a cirurgia. A ligadura envolve o uso de suturas fortes para o fechamento completo do ducto.
Monitoramento de Complicações: Uma das complicações mais graves durante o procedimento cirúrgico é a ruptura do ducto, que pode causar hemorragia severa. Nesse caso, o controle da hemorragia é essencial para a sobrevivência do paciente, sendo recomendado ter bolsas de sangue prontas para transfusão, se necessário
Suporte durante a Cirurgia: A bradicardia pode ocorrer durante a ligadura do ducto, devido à estimulação do nervo vago, o que pode causar uma desaceleração do ritmo cardíaco. Para isso, anticolinérgicos, como a atropina, estão disponíveis para administração imediata, caso ocorra essa resposta vagal.
Oclusão por Cateterismo (Procedimento Interno)
A oclusão do ducto arterioso por cateterismo é uma técnica minimamente invasiva, preferida em muitos casos devido ao menor trauma cirúrgico e tempos de recuperação mais rápidos. Este método também apresenta altas taxas de sucesso, sendo utilizado especialmente em cães de raças pequenas ou com ductos menores.
Acesso Vascular: A técnica envolve a inserção de um cateter através de uma veia ou artéria periférica, geralmente a artéria femoral. O cateter é guiado até o ducto arterioso sob visualização por angiografia, um procedimento que utiliza contraste para visualizar as estruturas vasculares.
Escolha do Dispositivo: O tipo de dispositivo de oclusão a ser utilizado depende do tamanho e da anatomia do ducto, o que é determinado previamente por exames de imagem, como angiografia, ecocardiografia transesofágica ou transtorácica. Os dispositivos mais comuns são espirais trombogênicas ou plugs vasculares.
Posicionamento do Dispositivo: O dispositivo é liberado no ducto através do cateter, e sua função é bloquear o fluxo sanguíneo através do ducto, promovendo sua oclusão completa. Isso impede o desvio anormal de sangue entre a aorta e a artéria pulmonar.
Monitoramento e Complicações: Após o procedimento, é realizado um monitoramento rigoroso para garantir que não haja fluxo residual no ducto, o que pode levar a uma recanalização. Em casos de oclusão incompleta, pode ser necessária uma reintervenção, seja por meio de um novo cateterismo ou cirurgia.
Nos casos de persistência do ducto arterial reverso, não é recomendado que seja realizada correção cirúrgica. Nestes pacientes, é necessário controle cuidadoso da pressão arterial sistêmica, a controlar manifestações clínicas provocadas pelo aumento da viscosidade só sangue.
Pacientes com desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva esquerda devem estar adequadamente medicados.
2. Tratamento Medicamentoso
– Objetivo: Controlar os sintomas e melhorar a função cardíaca, especialmente em cães que não são candidatos à cirurgia imediata.
Medicações Comuns:
– Diuréticos: Ajudam a reduzir a sobrecarga de fluido e controlar a congestão pulmonar.
– Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA): Ajudam a relaxar os vasos sanguíneos e reduzir a pressão sobre o coração
– Beta-bloqueadores: Podem ser utilizados em alguns casos para controlar a frequência cardíaca e a pressão arterial.
3. Monitoramento Pós-Tratamento
– Exames Regulares: Após a cirurgia ou o tratamento medicamentoso, o cão deve ser monitorado regularmente com exames de sangue, radiografias torácicas e ecocardiogramas.
– Sinais de Alerta: Os tutores devem estar atentos a sinais de insuficiência cardíaca, como tosse, dificuldade para respirar, letargia ou diminuição do apetite.
8. Prognóstico
A maioria dos cães que recebe tratamento adequado apresenta um bom prognóstico. A cirurgia precoce pode levar a uma recuperação mais rápida e a uma melhor qualidade de vida.
Complicações: Sem tratamento, o PDA pode levar a complicações graves, como hipertensão pulmonar, insuficiência cardíaca congestiva e diminuição da expectativa de vida.
5. CONCLUSÃO
A persistência do ducto arterial é uma condição que pode ter um impacto significativo na saúde cardiovascular dos cães. O diagnóstico e tratamento precoces são essenciais para minimizar os riscos e promover uma recuperação bem-sucedida. Com uma abordagem diagnóstica detalhada e opções de tratamento eficazes, muitos cães com PDA podem ter uma boa qualidade de vida e viver de forma saudável e ativa. O envolvimento de um veterinário qualificado para a gestão e tratamento da condição é crucial para alcançar os melhores resultados possíveis para o animal.
6. REFERENCIAS
1. SANTOS, R. R. Tratamento cirúrgico da persistência do ducto arterial em cães. Disponível em: https://www.revistavet.com.br/artigos. Acesso em: 12 set. 2024.
2. SILVA, J. A. Persistência do Ducto Arterial em Cães: Diagnóstico e Tratamento. 2. ed. São Paulo: Editora Veterinária, 2022.
3. ALMEIDA, P. C. Importância do diagnóstico precoce da PDA. Revista Veterinária Brasileira, v. 12, n. 3, p. 45-50, 2021.