ANÁLISE DA SITUAÇÃO VACINAL CONTRA COVID-19 EM CRIANÇAS DE 0 A 11 ANOS EM PORTO NACIONAL-TO, BRASIL.

ANALYSIS OF THE VACCINATION STATUS AGAINST COVID-19 IN CHILDREN AGED 0 TO 11 YEARS IN PORTO NACIONAL-TO, BRAZIL.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411101437


Alissa Bezerra Lima Verde1; Layanne Dias de Souza2; Thâmara Stefanny Soares da Silva Sampaio3; Vitória Hinaê Alves de Souza4; Sarah Emilia de Oliveira Souto5; Andreza de Oliveira Borges6; Lucas Baltazar Adamoglu de Mendonça7; Isabella Afonso de Souza8; Clarissa da Silva Pereira9; Vanessa Regina Maciel Uzan de Moraes10


Resumo

Introdução: A COVID-19 é uma doença infecciosa respiratória de etiologia viral, causada pelo SARS-CoV-2, sigla em inglês para coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave e que em março de 2020 a OMS declarou-a uma pandemia. A forma mais eficaz de evitar sua transmissão e suas complicações em crianças, como a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), é por meio da vacinação. Entretanto, observa-se uma baixa procura vacinal na faixa etária de 0 a 12 anos incompletos. Dessa forma, o presente trabalho visa a análise da situação vacinal do público infantil na cidade de Porto Nacional-TO, a fim de identificar o índice de crianças vulneráveis ao contágio da infecção pela COVID-19. Metodologia: O presente trabalho trata-se de um estudo descritivo retrospectivo. A amostra é de crianças de 0 a 11 anos e 29 dias residentes em Porto Nacional-TO e que foram vacinadas contra a COVID-19 durante os anos de 2021-2023. O processo de busca e obtenção de informações se dá por meio do acesso aos dados do Ministério da Saúde, como o DATASUS e o Vacinômetro COVID-19: plataformas digitais com acesso livre a toda a população. Discussão e resultados: Como resultado, foi identificado que somente 6,195% da população total de crianças residentes em Porto Nacional, no intervalo determinado, receberam pelo menos 1 dose da vacina contra a COVID-19, revelando que houve uma baixa adesão vacinal desse público no período analisado. Conclusão: Essa realidade demonstra a necessidade de ações de incentivo à vacinação do público infantil, além da implementação de políticas públicas, parcerias comunitárias e o estímulo à educação sobre a importância da saúde e prevenção.

Palavras-chave: COVID-19. Criança. Saúde Pública. Vacina.

1 INTRODUÇÃO

A COVID-19 é uma doença infecciosa respiratória de etiologia viral, causada pelo SARS-CoV-2, sigla em inglês para coronavírus 2, um vírus causador da síndrome respiratória aguda grave. A nova variação do coronavírus foi identificada pela primeira vez em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a COVID-19 como uma emergência de saúde pública de importância internacional e, em 11 de março de 2020, a OMS declarou pandemia global (DIRIKOV et al., 2021).

O coronavírus representa uma extensa família de vírus de RNA de fita simples e sentido positivo, encontrados em uma ampla variedade de animais. É encontrado principalmente em morcegos rinolofídeos, porém, o principal meio de propagação da nova variante viral ocorre entre humanos (RAHMAN et al., 2020).

Em relação às manifestações clínicas, os sintomas são diversos e o quadro clínico pode variar de assintomático a sintomático leve, moderado e grave. Os sintomas mais comuns são: tosse seca, febre, dispneia, cefaleia, confusão mental, dor de garganta, hemoptise, coriza, calafrios, mialgia, dor torácica, rinorreia, diarreia com náuseas e vômitos (RAHMAN et al., 2020). Em pacientes que apresentaram sintomatologia leve, sem complicações, bom prognóstico e, com cuidados de suporte, recuperaram-se após 7 a 10 dias. No entanto, pacientes que desenvolveram complicações graves como: edema pulmonar, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e falência de múltiplos órgãos, mesmo com o tratamento, podem chegar a óbito (RAHMAN et al., 2020).

As vacinas são os recursos mais utilizados para a prevenção de doenças virais, desde a sua descoberta. Nesse contexto, em relação a COVID-19, em setembro de 2020, a OMS, anunciou o Mecanismo de Acesso Global a Vacina contra COVID-19 (COVAX), cujo objetivo é garantir a equidade no acesso às vacinas para países pobres, em desenvolvimento e com maior vulnerabilidade (CASTRO-NUNES et al., 2022).

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, a vacinação contra a COVID-19 deu início, em janeiro de 2021, com a imunização dos idosos e profissionais de saúde. O Programa Nacional de Imunização (PNI) obteve uma boa adesão de quase todas as faixas etárias e classes sociais na campanha de vacinação contra o SARS-CoV-2. No entanto, nota-se, um desafio maior na adesão da última categoria populacional a ser contemplada com a vacinação: as crianças de 0 a 11 anos. A escassez de estudos e informações sobre os efeitos da COVID-19 na população infantil, além do desconhecimento da população e os movimentos anti-vacinas acarretaram uma baixa procura; informações do DATASUS mostram que as doses consecutivas a primeira, sofreram quedas drásticas (BRASIL, 2023).

O acometimento de crianças e adolescentes pela COVID-19 teve um menor impacto quando comparados aos adultos. Estima-se que os casos na faixa etária pediátrica representam 1 a 5% do total de casos confirmados, predominando as formas clínicas mais leves ou assintomáticas. Entretanto, a ocorrência de formas mais graves, como a síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) associadas à COVID-19, além do registro de 1.245 óbitos na faixa etária de 0 a 19 anos, representando 0,4% dos 346.554 óbitos por SRAG no Brasil até setembro de 2021, confirma que essa população não está isenta de possíveis e importantes causas de morbimortalidade pelo SARS-CoV-2, além de serem potenciais transmissores. (LIMA et al., 2021).

O negacionismo foi um dos principais problemas enfrentados pela pandemia da COVID-19; esse acontecimento foi marcado pela propagação maciça de fake news e movimento antivacina mundial. Educação em saúde, democratização da informação e incentivo à vacinação foram e são peças fundamentais para combater a desinformação e pôr um fim na calamidade pública mundial em que a saúde se encontrava. É essencial discutir a equidade no acesso aos serviços de saúde, na aquisição e distribuição de vacinas, além da propagação de informações e orientação sobre saúde embasadas em dados científicos, pois esta é a principal fonte de prevenção da infecção e transmissão do SARS-CoV-2 (CASTRO-NUNES et al., 2022).

Portanto, o presente trabalho visa a análise da situação vacinal do público infantil na cidade de Porto Nacional-TO, a fim de identificar o índice de crianças vulneráveis ao contágio da infecção pela COVID-19 e sugerir medidas de intervenção que promovam a expansão da cobertura vacinal à essa faixa etária. 

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

No período de surgimento da COVID-19, as primeiras informações epidemiológicas não detectaram o público infantil como principal meio de transmissão e adoecimento, embora estudos demonstrem que essa população possui alta capacidade de infectar-se, uma vez que foi verificado no trato respiratório superior de crianças menores de 5 anos uma quantidade de carga viral entre 10 e 100 vezes maior do que crianças mais velhas e adultos (MACIEL et al., 2021). 

No que diz respeito às manifestações clínicas da doença na faixa etária infantil, esta apresenta sintomatologia mais branda quando comparada aos adultos, com bom prognóstico e recuperação de 7 a 14 dias após as primeiras manifestações. Dentre os sintomas mais comuns observa-se: tosse, anosmia, febre, mialgia, fadiga e dispneia. Ademais, os efeitos indiretos da COVID-19 na infância apresentam relevância no processo de desenvolvimento infantil. Nesse viés, nota-se prejuízo no ensino e na socialização desse grupo, visto que durante o período de pandemia houve o fechamento das instituições educacionais e de lazer. Além disso, identificaram-se um maior índice de violência contra as crianças, uma maior exposição à mídia/telas e consequente sedentarismo, bem como um aumento na incidência da obesidade e, em outros casos, de fome (NEHAB et al., 2022). 

Nesse sentido, o programa de imunizações brasileiro oferece, de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mais de 20 imunizantes para diversas doenças, sendo 17 vacinas para crianças, sete para adolescentes, cinco para adultos e idosos e três para gestantes. Todas fazem parte do Calendário Nacional de Vacinação, um documento que estabelece a aplicação das vacinas de rotina para cada fase da vida (BRASIL, 2022).

Para que qualquer vacina seja incorporada ao Calendário Nacional de Vacinação do PNI, é necessária uma avaliação técnica, considerando a situação epidemiológica, o comportamento da doença ao longo do tempo e o tipo de vacina.   Esse processo também passa pela análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). As vacinas COVID-19 utilizadas no Brasil – Vaxzevria®, JANSSEN-CILAG®, Comirnaty® e CoronaVac® – após a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aplicação nos brasileiros, seguiu as diretrizes do PNO (Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19), documento criado pelo Ministério da Saúde que seria o norte da campanha de vacinação, garantindo sua execução de forma igualitária em todo país. Isso foi necessário diante da emergência causada pelo vírus e do pouco tempo para a estruturação de uma campanha de vacinação (BRASIL, 2022).

O papel da vacinação infantil contra a COVID-19 desempenha uma importante ação preventiva na disseminação da doença, visto que as crianças se apresentam como significativo agente no processo de transmissão do vírus. Além disso, os menores de 2 anos e aqueles que possuem comorbidades são beneficiados com as vacinas, uma vez que apresentam um maior risco de desenvolver quadros graves da COVID-19. Dessa forma, verifica-se que as vacinas disponíveis para imunização infantil se mostram com alto grau de eficácia e segurança, embora esse processo ainda seja negligenciado pelos responsáveis dos menores de idade (LASONI et al., 2023).

3 METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de um estudo descritivo retrospectivo, na qual os instrumentos de coleta e análise dos dados foram por meio do acesso às plataformas digitais DATASUS e Vacinômetro COVID-19, ambas de competência do Ministério da Saúde. As plataformas digitais são de acesso livre a toda população, dispensando a necessidade de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa. Nesse estudo, a população de interesse foram crianças de 0 a 11 anos e 11 meses e 29 dias, residentes em Porto Nacional – TO. 

A amostra considera a porcentagem de crianças de 0 a 11 anos e 11 meses e 29 dias, que residem no município de Porto Nacional-TO, que foram vacinadas contra a COVID-19 durante os anos de 2021-2023, em relação a população absoluta de crianças na mesma faixa etária.

As variáveis utilizadas na pesquisa foram idade, número de doses de vacinas aplicadas por idade, quantidade de doses aplicadas por período de campanha vacinal e marca das vacinas utilizadas na imunização. Os critérios de inclusão abrangeram crianças na faixa etária de 0 a 11 anos completos residentes em Porto Nacional -TO, de ambos os sexos e que foram vacinadas contra a covid-19 entre os anos de 2021-2023, independentemente da quantidade de doses recebidas.  

Os critérios de exclusão do estudo foram as crianças na faixa etária de 0 a 11 anos completos de ambos os sexos que não receberam a vacina da covid-19 por apresentarem alguma contraindicação; ou que alguma dose tenha sido suspensa após apresentar algum efeito adverso grave e as doses subsequentes tenham sido contraindicadas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Segundo dados coletados no TabNet, plataforma digital do DATASUS, órgão de competência do Ministério da Saúde, no ano de 2021, foi realizada uma estimativa, na qual foram registradas 9.782 crianças de 0 a 11 anos residentes no município de Porto Nacional-TO. A análise da população absoluta foi necessária para coletar a amostra da pesquisa.

Tabela 1 – População de 0 a 11 anos residente no município de Porto Nacional no período de 2021.

MUNICÍPIOPOPULAÇÃO EM 2021
PORTO NACIONAL9.782

Fonte: 2000 a 2021 – Estimativas preliminares elaboradas pelo Ministério da Saúde/SVSA/DAENT/CGIAE

A análise da porcentagem das crianças vacinadas, em relação a população absoluta, indica que com o passar dos anos, houve uma crescente procura pela vacina, usando como base o ano de 2021, momento em que se iniciou a campanha de imunização contra a COVID-19 para o público infantil. No ano de 2021, menos de 1% das crianças foram imunizadas. Em 2022, essa porcentagem subiu para mais de 2% das crianças imunizadas. No ano de 2023, 342 crianças receberam a 1° dose da vacina da COVID-19, representando 3,496% da população total. A soma de crianças vacinadas com a primeira dose no triênio totalizou 606, representando 6,195% das 9.782 crianças residentes em Porto Nacional, conforme tabela abaixo.

Tabela 2 – Porcentagem de crianças de 0 a 11 anos vacinadas em relação a população absoluta de crianças na mesma faixa etária, entre os anos de 2021 e 2023.

ANOCRIANÇAS DE 0 A 11 ANOS VACINADASPOPULAÇÃO TOTALPORCENTAGEM
20214 9.7820,041%
20222602,658%
2023342 3,496%
TOTAL606 6,195%

Fonte: elaborado pelo autor

Na Tabela 3, observa-se a quantidade de doses aplicadas da vacina contra a COVID-19 em crianças de 0 a 11 anos completos no município de Porto Nacional – Tocantins, nos anos de 2021 a 2023, tendo como base a primeira, segunda e terceira dose. Nessa tabela, percebe-se que foram aplicadas 606 doses da primeira dose nos três anos, mas da segunda e terceira doses foram aplicadas, respectivamente, 546 e 169 doses, com um total de 1321 doses no triênio. Ademais, ao observar somente as doses aplicadas anualmente, independentemente de serem primeira, segunda ou terceira dose, percebe-se que houve um aumento progressivo da quantidade total de doses aplicadas, pois em 2021, 2022 e 2023 foram aplicadas, respectivamente, 4, 421 e 865 doses.

A Tabela 4 analisa a relação percentual entre as doses aplicadas e a população total de crianças de 0 a 11 anos completos no município de Porto Nacional-Tocantins, em complemento, a população total pode ser observada na Tabela 1 e a quantidade de doses aplicadas pode ser vista na Tabela 3. Primeiramente, vê-se, na Tabela 4, que a relação entre a 1ª dose e a população total de crianças do município de Porto Nacional-TO é de 6,195%, ou seja, somente 6,195% das crianças totais do município de Porto Nacional-TO entre os anos de 2021-2023 teve a aplicação da primeira dose da vacinação contra COVID-19. Além disso, a relação entre a segunda e a primeira dose também pode ser vista na Tabela 4, ou seja, concluiu-se que 90,099% das crianças portuenses que tomaram a primeira dose da vacina também tomaram a segunda dose. Também pode-se observar a relação entre a terceira dose e a segunda, que se concluiu que 30,952% das crianças portuenses que tiveram a segunda dose aplicada tiveram, ainda, a aplicação da terceira. Em conclusão, constata-se que somente 13,504% das crianças portuenses totais tiveram a aplicação de qualquer dose da vacina contra COVID-19.

Tabela 3 – Quantidade de doses aplicadas das vacinas contra COVID-19 em crianças de 0 a 11 anos completos nos anos de 2021, 2022 e 2023 no município de Porto Nacional-TO.

DOSE202120222023TOTAL/DOSE
1ª DOSE4260342606
2ª DOSE1161384546
3ª DOSE00169169
TOTAL/ANO54218651321

Fonte: elaborado pelo autor

Tabela 4 – Relação percentual entre as doses aplicadas e a população total de crianças de 0 a 11 anos completos no município de Porto Nacional-TO.

DOSEDIVIDENDODIVISORPORCENTAGEM
RELAÇÃO ENTRE A 1ª DOSE E A POPULAÇÃO TOTAL6069.7826,195%
RELAÇÃO ENTRE A 2ª DOSE E A 1ª DOSE54660690,099%
RELAÇÃO ENTRE 3ª DOSE E A 2ª DOSE16954630,952%
RELAÇÃO ENTRE AS DOSES TOTAIS E A POPULAÇÃO TOTAL1.3219.78213,504%

 Fonte: elaborado pelo autor

Segundo dados do Vacinômetro da COVID-19, a quantidade de vacinas aplicadas em crianças de 0 a 11 anos, no município de Porto Nacional-TO, com relação aos variados laboratórios que as produziram engloba três tipos de vacinas:  Coronavac, Pfizer e Pfizer Pediátrica.

Tabela 5 – Relação percentual entre a quantidade aplicada de cada tipo de vacina da primeira dose e o total de crianças de 0 a 11 anos vacinadas em Porto Nacional-TO, entre 2021 e 2023.

TIPO DE VACINAQUANTIDADE APLICADA% COM RELAÇÃO AO TOTAL
CORONAVAC26443,564%
PFIZER71,155%
PFIZER PEDIÁTRICA33555,280%
TOTAL606

Fonte: elaborado pelo autor

De acordo com a análise da Tabela 5, observa-se que o tipo de vacina mais aplicada no público de 0 a 11 anos, no município de Porto Nacional-TO, foi a Pfizer Pediátrica, responsável por 55,280% (335 aplicações) do total aplicado. Seguida pela Coronavac que apresentou 43,564% (264 aplicações) com relação ao total. Por último, a Pfizer representou apenas 1,155% (7 aplicações) do total aplicado.

Como resultado, a amostra da pesquisa comprovou que somente 6,195% da população total de crianças residentes em Porto Nacional, no intervalo determinado, receberam pelo menos 1 dose da vacina contra a COVID-19. A campanha de imunização contra a afecção na população infantil, no Brasil, se iniciou em outubro de 2021, ano que registrou os menores índices de procura pela vacina, apenas 4 doses aplicadas, valor esse que não conseguiu atingir nem 1% das 9.782 crianças residentes no município.

Ao analisar a quantidade de doses aplicadas ao longo do triênio (2021-2023), percebe-se uma inconstância na continuidade da procura pela vacinação. Logo, observa-se que após a primeira dose, houve uma queda da adesão das doses complementares. Essa relação é melhor descrita quando se observa a porcentagem da quantidade de doses subsequentes baseada no valor da dose anterior; a segunda dose representa um pouco mais de 90% do valor da primeira dose, demonstrando que quase todas as crianças que receberam a primeira dose, também receberam a segunda dose, no entanto, a terceira dose representa apenas 30,95% do total da segunda dose, demonstrando que menos da metade das crianças concluíram o calendário determinado pelo Programa Nacional de Imunização (PNI).

Esse cenário é consequência de vários fatores pré-pandemia, pandemia e pós-pandemia. Durante o período de surgimento da COVID-19, as primeiras informações epidemiológicas não detectaram o público infantil como principal meio de transmissão e adoecimento. Desse modo, os escassos dados epidemiológicos contribuíram para que houvesse uma baixa preocupação com esse grupo (MACIEL et al., 2021).

Aliado a isso, o crescimento de movimentos antivacina, anticiência e de caráter conspirador que difundem notícias falsas em mídias digitais de todo o mundo, impactaram na baixa adesão. Essas notícias falsas compartilhadas provocaram sentimento de medo, hesitação e dúvida nos responsáveis sobre a sua segurança. Essa realidade foi ainda mais significativa durante o processo de vacinação contra a COVID-19, em que houve uma grande resistência, especialmente com relação a vacinação do público infantil (RODRIGUES et al., 2022).

Em relação ao tipo de vacina destinada ao público infantil, A CoronaVac® e a Cominarty® (Pfizer e Pfizer pediátrica) foram as escolhidas. A Pfizer pediátrica foi a mais utilizada. Das 606 doses aplicadas na 1° campanha de vacinação infantil, 335 foram da Pfizer pediátrica, totalizando 55,28%. Já a Pfizer só contribuiu com o 1,155% do total. Segundos dados do Ministério da Saúde, em 16 de dezembro de 2021, a vacina Comirnaty®, produzida pela farmacêutica Pfizer em parceria com o laboratório BioNtech, recebeu autorização da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para ampliar a faixa etária de aplicação para crianças de 5 a 11 anos e em setembro de 2022, a mesma vacina, na versão pediátrica, recebeu a aprovação da ANVISA para uso em crianças de 6 meses a menores de 5 anos de idade. Cabe ressaltar, que apesar de ter o mesmo princípio ativo, a vacina para a faixa etária de 6 meses a menos de 5 anos de idade possui apresentação e dosagem diferenciada da formulação hoje utilizada para os demais grupos etários. Os efeitos colaterais se apresentam na minoria e são caracterizados por serem leves a moderados, incluindo: dor no local da injeção, fadiga, dor no peito e cefaleia. (LANSONI et al., 2023)

A CoronaVac®, representou 46,53% das 606 doses aplicadas. A vacina produzida pelo instituto farmacêutico chinês Sinovac e pelo Instituto Butantan no Brasil, apresenta uma boa resposta imunológica em crianças acima de 3 anos, com menos efeitos adversos e com mais produção de anticorpos quando comparados aos adultos. Desse modo, os efeitos colaterais, que se apresentam na minoria, são caracterizados por serem leves a moderados, incluindo: dor no local da injeção, fadiga, dor no peito e cefaleia. Com relação ao mecanismo de ação da vacina, esta utiliza vírus inativado, na qual as cepas inativas do SARS-CoV-2 induz uma resposta imunológica no indivíduo. (LANSONI et al., 2023)

Ademais, é fundamental compreender acerca do limiar da imunidade de rebanho e como é realizado seu cálculo com base no SARS-CoV-2, para que, assim, possa estabelecer uma meta da porcentagem nacional a ser vacinada. O limiar da imunidade de rebanho, tem como definição a porcentagem de pessoas a serem vacinadas para a melhoria dos indicadores de doença e controle da pandemia. Este limite é baseado na taxa básica de reprodução (R0) do vírus, assumindo que a porcentagem da população vacinada está uniformemente distribuída em todas as faixas etárias e que a eficácia da vacina é próxima a 100%. O cálculo da taxa de reprodução do vírus que surgiu na cidade de Wuhan, China, resultou em um R0 próximo a 3. Portanto, foi considerado o cálculo de [1 – (1/Taxa de Reprodução do Vírus] * [1/Eficácia Vacinal]. Para SARS-CoV-2, usando um valor R0 de 3 e eficácia da vacina igual a 100%, o cálculo seria: [1 – (1/3)] * (1/1)], portanto, [1 – (0,3)] * 1, ou seja, [0,70] * 1, o que resultaria em uma proporção de 70% da população necessária para alcançar a imunidade de rebanho (SIQUEIRA et al., 2022).

Dessa forma, considerando o limiar da imunidade de rebanho esperado, percebe-se que, no município de Porto Nacional, no triênio analisado, não foi atingida a porcentagem esperada da população infantil vacinada contra a COVID-19. Pois, analisou-se que somente 6,195% das crianças residentes no município receberam pelo menos 1 dose da vacina, de encontro aos 70% da população necessária para atingir a imunidade de rebanho.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Por meio da análise dos dados apresentados no Vacinômetro COVID-19, a pesquisa revelou que houve uma baixa adesão vacinal na população de 0 a 11 anos no município de Porto Nacional-TO, no período de 2021 a 2023. Estudos indicam que a influência dos movimentos anti-vacinas e a disseminação de notícias falsas contribuíram para a resistência dos responsáveis em optarem por não realizar a vacinação das crianças. Tal cenário, consequentemente, prejudica a saúde do público infantil, uma vez que estarão suscetíveis à doença e suas complicações. Além disso, a reduzida quantidade de crianças vacinadas compromete a imunidade coletiva, visto que esse público representa um grande potencial na disseminação do SARS-CoV-2.

Portanto, essa realidade demonstra a necessidade de ações de incentivo à vacinação do público infantil, contando com a contribuição de políticas públicas, parcerias comunitárias e o estímulo à educação sobre a importância da saúde e prevenção. Nesse contexto, o vínculo entre os profissionais de saúde e a comunidade deve ser fortalecido de modo que as inseguranças e dúvidas existentes sejam sanadas com o objetivo de estimular a adesão vacinal. Além disso, a divulgação de dados científicos que comprovem a eficácia das vacinas, sobretudo em mídias e locais de fácil acesso à população, é uma importante estratégia no combate à disseminação de notícias falsas.

Dessa forma, a importância das vacinas contra a COVID-19 vai além da proteção individual. Elas são fundamentais para garantir a saúde coletiva e prevenir surtos que possam gerar impactos sociais e econômicos críticos. Em uma geração cada vez mais interligada, a vacinação é uma responsabilidade global, que demanda o compromisso de todos na garantia de um futuro mais saudável para as próximas gerações.

REFERÊNCIAS

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1 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Campus Porto Nacional-TO. e-mail: alissablv@gmail.com
2 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Campus Porto Nacional-TO. e-mail: laydias04@gmail.com
3 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Campus Porto Nacional-TO. e-mail: thamarastefanny2010@hotmail.com
4 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Federal do Oeste da Bahia Campus Barreiras-BA. email: vitoria-hinae@hotmail.com
5 Discente do Curso Superior de Medicina do Centro Universitário FIPMoc Campus Montes Claros-MG. email:
sarah.souto@aluno.unifipmoc.edu.br
6 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba Campus Ministro Reis Velloso, Parnaíba-PI. email: oliveiraborgesandreza@gmail.com
7 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Campus Palmas-TO. email: baltazaradamoglu@hotmail.com
8 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Campus Porto Nacional-TO. email: bela_afonso@hotmail.com
9 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Campus Palmas-TO. email: ClarissaACP09@hotmail.com
10 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Campus Porto Nacional-TO. e-mail vanessa.moraes@itpacporto.edu.br