LOMBALGIA OCUPACIONAL: CAUSA MULTIFATORIAL, ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411100804


Autor principal: Kamila Vasconcelos Neves Troper; Co-autores: Pedro Miguel Mestre; Ana Sofia Pinela; Ana Luísa Lima; Orientadora: Teresa Martinho Valente; Afiliação: Hospital prof. Doutor Fernando Fonseca/Amadora-Sintra (Serviço de Saúde Ocupacional)


RESUMO

Introdução

O termo lombalgia ocupacional refere-se ao tipo de lombalgia que se encontra ligada ao ofício do indivíduo. É uma das maiores causas de transtornos relacionados ao trabalho.

Objetivos

Identificar os fatores de risco e atividades relacionados à lombalgia ocupacional mais prevalentes.

Material e Métodos

Revisão compreensiva da literatura através de estudos publicados em inglês, português e espanhol no período de 1994 e 2024.

Resultados

 Após critérios de seleção, resultaram 27 (vinte e sete) artigos para análise e 22 (vinte e dois) como resultado na seleção final.

Discussão

A carga de trabalho, o levantamento de pesos, os movimentos repetitivos e o posicionamento foram as principais associações. Outras também foram referidas como o gênero, a realização de trabalho noturno e por turnos, o tipo de profissão e fatores individuais do trabalhador.

Conclusões

Observou-se uma associação diversificada entre a lombalgia e os fatores de risco associados com o trabalho. Mostra-se necessário a realização de uma abordagem multiprofissional a fim de se abranger a maior quantidade possível de etapas das tarefas mais referenciadas quanto à associação entre a lombalgia e o trabalho.

PALAVRAS-CHAVES: Lombalgia ocupacional + Dor lombar + Lesões músculo-esqueléticas 

Introdução

A prevalência da lombalgia é elevada na população ativa, resultando num fardo social e econômico substancial.1

Quando utilizamos o termo “lombalgia ocupacional” estamos nos referindo àquela cujo surgimento ou piora esteja relacionada ao ofício do indivíduo. Acomete principalmente adultos jovens e é a maior causa isolada de transtorno relacionado ao trabalho, incluindo absenteísmo e incapacidade total ou parcial para o trabalho.2

A saúde do trabalhador tem sido definida por um conjunto de ações de vigilância e assistência que visam a promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde da pessoa submetida aos riscos e agravos laborais. Dessa forma, deve-se reconhecer, avaliar, prevenir e analisar os fatores de riscos impostos pelo local de trabalho, pela forma em que é realizado o serviço, as condições do local, o clima, contato com substâncias nocivas, riscos de acidentes, de injúrias mentais e posturais. Sendo assim, fica mais provável a possibilidade de uma intervenção prévia a fim de evitar, eliminar ou controlar os danos causados no trabalho.(3,4)

A relação da lombalgia com o trabalho pode acontecer, basicamente, de três modos: aquelas que têm o trabalho como causa direta do adoecimento, aquelas para as quais o trabalho é um dos fatores envolvidos e, por último, aquelas em que o trabalho pode funcionar como agravante de problemas já existentes2. Para qualquer uma das relações entre a lombalgia e o trabalho, caberá às áreas da Saúde Ocupacional e Medicina do Trabalho a avaliação e a gestão dos riscos ocupacionais.

Uma consulta clínica minuciosa, focada na explicação da causa da dor e nas instruções para se manter ativo, pode promover uma saúde física e mental duradoura em indivíduos com dor lombar1como uma possibilidade, por exemplo, de ação e de atividades desenvolvidas pelos Serviços de Saúde Ocupacional (SSO) como forma de prevenção da dor lombar crónica ou evicção de um episódio agudo em trabalhadores suscetíveis.

Outros fatores que não ocupacionais, contudo, também poderão estar associados. Entre eles, fatores constitucionais do indivíduo e relativos a antecedentes pessoais prévios, por exemplo, traumas músculo-esqueléticos no contexto desportivo ou de acidentes pessoais. Outras especialidades médicas poderão estar envolvidas no seguimento da patologia como a Ortopedia ou a Neurocirurgia. Ainda assim, mesmo sem ter origem ocupacional, é necessária uma identificação e documentação adequada da alteração na região lombar no âmbito dos exames ocupacionais para evicção quanto ao agravamento da situação e atribuição de funções que possam ser consideradas inadequadas ou incapacitantes à realidade do trabalhador em causa.

Objetivos

Identificar os fatores de risco e atividades mais prevalentes com relação à lombalgia ocupacional numa abordagem multifatorial realizada de modo multiprofissional com foco à vigilância de saúde do trabalhador.

Material e métodos

 A metodologia utilizada para a construção da revisão compreensiva da literatura foi subdividida nos métodos de busca e nos critérios de seleção.

Relativamente aos métodos de busca:

Os descritores utilizados foram: lombalgia + ocupacional, dor lombar, fatores de risco musculoesqueléticos.  As bases de dados utilizadas para a busca dos estudos foram por ordem de utilização:

1)Pubmed

2)Research Gate

3)ScienOpen

4)SCIELO

5)Academia.edu

6)Database da Saúde e Segurança Ocupacional Internacional

Relativamente aos critérios de seleção utilizados:

Os estudos selecionados, na maioria artigos publicados entre 1994 e 2024 escritos em português, inglês e espanhol nas principais bases de dados descritas anteriormente.

Em todos os estudos, preconizou-se a relação entre a lombalgia ocupacional e causas multifatoriais além das medidas de prevenção relativamente à saúde do trabalhador. Foram excluídos estudos que priorizaram outras abordagens, tais como, metodologias de prevenção não utilizadas em contexto laboral ou causas voltadas aos antecedentes pessoais sem relação com a origem ocupacional ou ainda que descreviam possibilidades de intervenções cirúrgicas. Uma quantidade pequena mas ainda relevante de 7 (sete) estudos foram excluídos pela dificuldade quanto ao acesso. Estudos publicados anteriormente ao período estabelecido na seleção também foram excluídos por utilizarem metodologias, algumas vezes, menos usuais no momento atual além do elevado intervalo de tempo relativamente às próprias referências bibliográficas utilizadas.  

Resultados

Encontraram-se inicialmente 2620 (dois mil seiscentos e vinte) artigos após pesquisa nas bases de dados citadas. Numa segunda etapa, após definição dos critérios de seleção, 124 (cento e vinte e quatro) artigos foram selecionados. Após a última etapa de seleção, resultaram 27 (vinte e sete) artigos para análise e 20 (vinte) como resultado na seleção final. Alguns artigos selecionados foram excluídos pelo acesso restrito. Ao final da leitura na íntegra dos estudos na seleção final, construi-se a tabela descrita abaixo.

Discussão

Em 20(vinte) dos artigos analisados houve alguma evidência entre a associação da dor lombar e fatores associados ao trabalho. Entre os principais fatores destacaram-se:

A carga de trabalho, no que diz respeito ao número elevado de horas utilizadas para a execução de tarefas que requeiram realização de esforço físico, tais como, o levantamento de pesos, o tipo de posição executada pelo tronco durante a atividade laboral e o período de tempo de execução da atividade, a repetitividade de movimentos desempenhadas pelo profissional em questão em alta cadência. Outros fatores ainda relativos à atividade como permanecer numa mesma posição, por exemplo, sentado por longos períodos, ou em posição de pé (ortostática) por longos intervalos também surgiram como relevantes em alguns estudos. Outras associações também surgiram como o gênero, a realização de trabalho noturno e por turnos, o tipo de profissão desempenhada.

Entre as profissões, as que mais apareceram na revisão foram àquelas relacionadas, principalmente, ao trabalho que exige esforço físico, entre elas, trabalhadores braçais (vinícola, construção civil, distribuição de alimentos, motoristas). Destacam-se também profissionais da saúde, principalmente, auxiliares e técnicos de enfermagem além dos enfermeiros.

O Índice de Massa Corporal (IMC), a idade, a história pregressa de lombalgia e o sedentarismo foram observados como fatores de risco individuais que contribuem ao agravamento.

Os fatores de riscos psicossociais foram referidos com uma menor associação em comparação aos fatores de risco relacionados à atividade ou aos fatores de risco ergonômicos. Outros fatores como o baixo suporte social e a associação com questões relativas à percepção de saúde no geral também apareceram com uma menor prevalência.

Dentre os artigos avaliados, apenas 1(um) único não mostrou evidência relativamente à associação da lombalgia com fatores associados ao trabalho. O resultado encontrado nesse estudo referiu que embora as intervenções da medicina ocupacional possam ajudar a reduzir as licenças médicas, as evidências disponíveis sobre o efeito dessas intervenções são limitadas.

Assim, diante da revisão realizada, observa-se uma elevada prevalência relativamente à associação entre a lombalgia e os fatores de risco associados com o trabalho além da diversidade de fatores encontrados. Diante da multiplicidade de fatores associados, mostra-se necessário a realização de uma abordagem multiprofissional a fim de se abranger a maior quantidade possível de etapas das tarefas mais referenciadas quanto à associação entre a lombalgia e o trabalho.

Dentro das equipes de saúde ocupacional podem-se destacar, entre outros profissionais, os técnicos de saúde e segurança do trabalho, os auxiliares e assistentes de saúde e enfermeiros do trabalho, os profissionais da psicologia e o médico do trabalho como responsáveis por desenvolverem medidas educativas e preventivas. O desenvolvimento de ações junto aos trabalhadores tanto no que diz respeito aos aspectos físicos quanto aos relacionados aos riscos psicossociais podem ser abordados.

Conclusões

A lombalgia ocupacional, isto é, percepcionada pelo trabalhador como relacionada a solicitações do contexto laboral5, é uma das principais causas de absenteísmo já descrita na literatura. Os principais fatores de risco ocupacionais identificados através da revisão realizada foram: esforço físico excessivo, jornadas de trabalho intensas, levantamento manual de carga, postura inadequada, vibração, turno noturno, sedentarismo e outras questões relacionadas ao próprio indivíduo além dos fatores de risco psicossociais. 

O Índice de Massa Corporal (IMC), história pregressa de lombalgia e idade, identificados, ainda, como fatores de risco individuais apresentaram elevada prevalência na população de trabalhadores com queixa de lombalgia, o que corrobora a relevância dos antecedentes pessoais na origem da patologia e a importância de instituir-se práticas relativas à modificação no estilo de vida. Nesse sentido, o trabalho multiprofissional da equipe envolvida com o serviço de saúde ocupacional, incluindo os técnicos de saúde e segurança do trabalho, através das medidas de ensino/orientação relacionadas à ergonomia, os profissionais de enfermagem, ao instituírem práticas direcionadas ao seguimento dos dados antropométricos e ensino de boas práticas alimentares, ao serviço de psicologia no auxílio à gestão do estresse, enfim, todo o trabalho em equipe poderá repercutir na prevenção, principalmente, do quadro álgico agudo e na evicção do desenvolvimento do quadro crônico com possíveis alterações no sistema músculo-esquelético.

Os achados deste estudo auxiliam na prevenção da lombalgia crônica com repercussões na aptidão ao trabalho, uma vez que, identificados os principais fatores de risco, intervenciona-se para adequação das condições em que o trabalho é executado além da evicção de um maior número de episódios agudos nos trabalhadores mais suscetíveis, reduzindo assim o absenteísmo e proporcionando maior qualidade de vida ao trabalhador.

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2) Acesso ao site em 05/11/2024:  https://www.reumatologia.org.br/orientacoes-ao-paciente/lombalgia-ocupacional/

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