AVANÇOS E DESAFIOS NA CIRURGIA LAPAROSCÓPICA PARA HÉRNIAS INGUINAIS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

ADVANCES AND CHALLENGES IN LAPAROSCOPIC SURGERY FOR INGUINAL HERNIAS: AN INTEGRATIVE REVIEW

Graduação em Bacharelado em Medicina – Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411081234


Ana Victoria Ferreira Gimenes1
Ariane Railda Morelli do Prado2
Arthur Dutra Botelho3
Ayumi Marcella Furuyama Coelho4
Beatriz Riemer Quintino Suett5
Bruno de Freitas Silva6
Bruno Franco Vitusso7
Danilo Elmiro dos Santos Salin8
Emanuelly de Camargo9
Gustavo Flores de Souza Neves10
Igor Paiva de Oliveira Silva11
Luiza Raschke12
Talini Cechinel Fogaça13
Whallas da Silva Coutinho14
Weverson Ferreira Tavares15


RESUMO

A hérnia inguinal é uma das condições cirúrgicas mais comuns, e seu tratamento tem evoluído com o desenvolvimento de técnicas menos invasivas, como a laparoscopia. Esta revisão integrativa busca avaliar a eficácia da cirurgia laparoscópica no reparo de hérnia inguinal, comparando-a com os métodos tradicionais, com foco em taxas de recidiva, complicações e qualidade de vida dos pacientes. A revisão indica que a laparoscopia apresenta menores taxas de recidiva e recuperação pós-operatória mais rápida, além de proporcionar menor dor e satisfação aumentada entre os pacientes, especialmente em casos de hérnias bilaterais e recorrentes. No entanto, a técnica laparoscópica demanda treinamento especializado, possui custos mais elevados e apresenta limitações em certos perfis de pacientes. Futuros estudos devem focar em análises de custo-benefício e em melhorias tecnológicas para consolidar a laparoscopia como uma alternativa padrão no tratamento de hérnias inguinais.

Palavras-chave: hérnia inguinal, laparoscopia, cirurgia minimamente invasiva, recidiva, recuperação pós-operatória, técnicas convencionais.

ABSTRACT

Inguinal hernia is one of the most common surgical conditions, and its treatment has evolved with the development of less invasive techniques such as laparoscopy. This integrative review aims to assess the effectiveness of laparoscopic surgery in inguinal hernia repair, comparing it with traditional methods, focusing on recurrence rates, complications, and patients’ quality of life. The review indicates that laparoscopy has lower recurrence rates, faster postoperative recovery, reduced pain, and higher patient satisfaction, especially in cases of bilateral and recurrent hernias. However, laparoscopic technique requires specialized training, has higher costs, and shows limitations for certain patient profiles. Future studies should focus on cost-benefit analyses and technological improvements to consolidate laparoscopy as a standard alternative in inguinal hernia treatment.

Keywords: inguinal hernia, laparoscopy, minimally invasive surgery, recurrence, postoperative recovery, conventional techniques.

1. INTRODUÇÃO

As hérnias inguinais representam uma das condições cirúrgicas mais comuns, caracterizadas pela protrusão de parte do conteúdo abdominal através de uma fraqueza ou abertura na parede inguinal, localizada na região inferior do abdômen. Essas hérnias podem ser classificadas em diretas e indiretas, conforme a localização e o tipo de deslocamento (Skandalakis et al., 2004). Estima-se que as hérnias inguinais afetem cerca de 27% dos homens e 3% das mulheres ao longo da vida, sendo responsáveis por uma alta demanda de atendimentos médicos e intervenções cirúrgicas em diversos países (Townsend et al., 2008).

Além de seu impacto direto sobre a saúde dos pacientes, as hérnias inguinais possuem uma relevância econômica considerável devido ao custo associado aos tratamentos, incluindo cirurgias e o tempo de recuperação, além de sua alta taxa de recidiva e complicações pós-operatórias (Tatay, 2001). Os desafios no tratamento de hérnias inguinais, como a prevenção da recorrência e a minimização de complicações, são fatores que impulsionam a constante busca por técnicas cirúrgicas mais eficazes e menos invasivas, a fim de promover uma recuperação mais rápida e com menor custo para o sistema de saúde.

A cirurgia para correção de hérnia inguinal evoluiu significativamente ao longo das últimas décadas, passando de métodos abertos tradicionais para técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia laparoscópica. Tradicionalmente, as hérnias inguinais eram tratadas por meio de cirurgia aberta, onde uma incisão considerável é feita na parede abdominal para reposicionar o tecido herniado e reparar o defeito. Embora essa técnica ainda seja amplamente utilizada, ela apresenta desvantagens, como maior dor no pós-operatório, tempo de recuperação prolongado, e uma taxa considerável de recidiva em alguns casos (NICE, 2004).

Em contraste, a laparoscopia é uma abordagem minimamente invasiva que utiliza pequenas incisões para inserir uma câmera e instrumentos cirúrgicos, permitindo que o cirurgião visualize e repare a hérnia com menor trauma tecidual. Estudos sugerem que a cirurgia laparoscópica oferece benefícios como menor dor pós-operatória, recuperação mais rápida e uma taxa de recidiva reduzida, especialmente em casos de hérnias bilaterais e recidivas (Skandalakis et al., 2004). No entanto, a técnica laparoscópica requer maior treinamento especializado e pode ser associada a custos mais altos, o que a torna um método menos acessível em alguns contextos.

Diante dos avanços na técnica laparoscópica e das crescentes evidências sobre seus benefícios em comparação com os métodos convencionais, esta revisão integrativa tem como objetivo avaliar a eficácia da cirurgia laparoscópica no tratamento de hérnias inguinais. Através da análise de estudos relevantes e diretrizes clínicas, pretende-se fornecer uma visão abrangente e fundamentada dos resultados clínicos, das complicações, e das taxas de sucesso dessa técnica cirúrgica, contribuindo para uma melhor compreensão de suas aplicações e limitações na prática médica.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Hérnia Inguinal: Conceito e Classificação

A hérnia inguinal é caracterizada pela protrusão de estruturas abdominais através de uma abertura ou área de fraqueza na parede abdominal, ocorrendo principalmente na região inguinal. Esta condição representa uma das causas mais frequentes de cirurgia eletiva, com uma incidência significativa entre homens, sendo menos comum em mulheres. Cerca de 90% de todas as hérnias inguinais ocorrem em homens, com estimativas sugerindo que até 27% da população masculina terá algum tipo de hérnia inguinal ao longo da vida (McClusky et al., 2006).

Existem duas classificações principais para as hérnias inguinais: diretas e indiretas.

  • Hérnias Inguinais Diretas: Esse tipo de hérnia ocorre devido ao enfraquecimento da parede posterior do canal inguinal, particularmente na região conhecida como triângulo de Hesselbach. Por ser frequentemente associada ao processo de envelhecimento e à perda da integridade muscular, a hérnia direta é mais prevalente em adultos e raramente tem uma causa congênita. Nesse tipo, as estruturas abdominais empurram diretamente contra o músculo, causando protrusão no interior do canal inguinal (Nyhus, 1993). A fraqueza estrutural da musculatura abdominal inferior e fatores de risco como tabagismo, obesidade e doenças pulmonares crônicas, que aumentam a pressão intra-abdominal, estão associados ao desenvolvimento dessa condição.
  • Hérnias Inguinais Indiretas: Esse tipo de hérnia é o resultado de um defeito congênito. Durante o desenvolvimento fetal, o canal inguinal se fecha, mas, em alguns casos, ele permanece parcialmente aberto, permitindo que o conteúdo abdominal se projete por essa via. A hérnia inguinal indireta é mais frequente em crianças e jovens adultos, sendo comum observar esse tipo de hérnia em recém-nascidos e adolescentes. A protrusão ocorre lateralmente aos vasos epigástricos inferiores, penetrando o canal inguinal através do anel inguinal profundo. Em casos não tratados, pode se expandir progressivamente, causando desconforto significativo e aumentando o risco de complicações, como encarceramento e estrangulamento (McClusky et al., 2006; Nyhus, 1993).

Estudos sugerem que a hérnia inguinal é influenciada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Indivíduos com histórico familiar positivo para hérnia inguinal apresentam maior risco, e fatores como obesidade, constipação crônica, tosse persistente (como em fumantes) e atividades que elevam a pressão intra-abdominal (ex.: levantamento de peso) são reconhecidos como influenciadores no desenvolvimento e progressão da condição (Simons et al., 2009; Bendavid, 2004).

2.2. Técnicas de Reparação de Hérnia Inguinal

O tratamento das hérnias inguinais evoluiu substancialmente, passando por diferentes abordagens técnicas, que variam em termos de complexidade, invasividade, tempo de recuperação e taxa de recidiva. Atualmente, duas grandes categorias de tratamento são reconhecidas: as técnicas tradicionais abertas e as técnicas laparoscópicas, que são minimamente invasivas.

2.2.1. Cirurgia Aberta de Reparo de Hérnia

A cirurgia aberta tradicional, também conhecida como hernioplastia ou herniotomia, envolve uma incisão na região inguinal diretamente sobre o local da hérnia. Após a exposição do saco herniário, o conteúdo é reposicionado na cavidade abdominal e a área enfraquecida é reparada com suturas e, frequentemente, reforçada com a colocação de uma tela de material sintético para reduzir a chance de recidiva. Técnicas como a de Shouldice, Lichtenstein e Bassini são exemplos de abordagens abertas que têm sido amplamente utilizadas com sucesso.

A técnica de Shouldice, desenvolvida na década de 1940, é um método sem tensão que utiliza uma sutura contínua em camadas sobrepostas do tecido inguinal, sem o uso de uma tela sintética. Esse método, embora eficaz em mãos experientes, é altamente dependente da habilidade técnica do cirurgião e está associado a maior desconforto pós-operatório e tempo de recuperação prolongado (Miserez et al., 2007).

2.2.2. Cirurgia Laparoscópica de Reparo de Hérnia

A cirurgia laparoscópica representa um avanço importante na reparação de hérnias inguinais, sendo uma técnica minimamente invasiva que utiliza pequenas incisões através das quais uma câmera e instrumentos cirúrgicos são introduzidos. A laparoscopia é indicada principalmente para casos de hérnias bilaterais e recorrentes, onde oferece resultados promissores, incluindo menor dor pós-operatória, tempo de recuperação mais curto e menor taxa de complicações (LeBlanc, 2003).

Existem duas abordagens laparoscópicas principais:

  • TEP (Totalmente Extraperitoneal): Esta técnica envolve o acesso ao espaço pré-peritoneal sem entrada na cavidade peritoneal, o que diminui o risco de lesões viscerais e complicações intra-abdominais. No procedimento, o cirurgião cria um espaço entre as camadas da parede abdominal onde a hérnia pode ser reparada com a inserção de uma tela. Embora tecnicamente mais exigente, a TEP é vantajosa em termos de menores complicações intra-abdominais e menos dor pós-operatória em comparação com a técnica aberta (Campanelli et al., 2006).
  • TAPP (Transabdominal Pré-Peritoneal): Neste procedimento, o cirurgião entra na cavidade peritoneal e cria um acesso ao espaço pré-peritoneal onde a tela será fixada. A técnica TAPP permite uma visualização direta do conteúdo abdominal e facilita o aprendizado e a prática cirúrgica. Embora a TAPP proporcione resultados similares à TEP em termos de recuperação e alívio da dor, a entrada na cavidade abdominal aumenta o risco de complicações como lesão de vísceras e infecções em potencial (Zollinger et al., 2002; Simons et al., 2009).

Os estudos que comparam a laparoscopia com as técnicas abertas indicam que o reparo laparoscópico proporciona maior satisfação dos pacientes devido ao menor tempo de recuperação e melhores resultados estéticos, além de oferecer uma taxa de recidiva reduzida em muitos casos, especialmente em pacientes com hérnias bilaterais ou recidivantes. No entanto, a técnica laparoscópica exige treinamento especializado e é associada a custos mais elevados, o que pode limitar sua aplicabilidade em alguns contextos clínicos, especialmente onde o acesso a recursos financeiros e treinamento adequado seja limitado (Bendavid, 2004; Miserez et al., 2007).

Assim, a escolha da técnica de reparo de hérnia inguinal deve ser cuidadosamente considerada com base nas características da hérnia, no perfil do paciente e na experiência do cirurgião. A individualização do tratamento é recomendada, conforme enfatizado por Nyhus (1993), para otimizar os resultados e minimizar complicações. A adoção de diretrizes, como as da European Hernia Society, pode auxiliar na padronização de critérios para a escolha da técnica cirúrgica e no aprimoramento dos cuidados oferecidos aos pacientes (Simons et al., 2009).

3. RESULTADOS

3.1. Efetividade da Cirurgia Laparoscópica

A eficácia da cirurgia laparoscópica no tratamento de hérnias inguinais é evidenciada por estudos que destacam sua elevada taxa de sucesso e recidiva reduzida quando comparada às técnicas convencionais de reparo aberto. Segundo Matthews e Neumayer (2008), a laparoscopia apresenta taxas de recidiva em torno de 1% a 3%, enquanto a cirurgia aberta, especialmente aquelas técnicas realizadas sem o uso de telas, pode apresentar uma taxa de recidiva superior, alcançando até 15% em alguns cenários. Esse aspecto é crucial, pois a recidiva de hérnia é um dos principais problemas pós-operatórios que afeta a qualidade de vida dos pacientes, implicando em novas intervenções cirúrgicas e períodos adicionais de recuperação.

A meta-análise realizada por Karthikesalingam et al. (2010), que analisou ensaios clínicos randomizados comparando o reparo laparoscópico com o reparo aberto de malha para hérnias inguinais recorrentes, reforça a eficácia da laparoscopia em reduzir a taxa de recidiva, especialmente em pacientes que já passaram por cirurgias prévias. Em pacientes com hérnias bilaterais, a técnica laparoscópica mostra-se particularmente vantajosa, pois permite acesso simultâneo a ambos os lados inguinais, sem a necessidade de múltiplas incisões, o que também contribui para a diminuição das complicações. A abordagem laparoscópica, além disso, demonstra uma maior taxa de sucesso na correção de hérnias ocultas contralaterais, frequentemente identificadas durante o reparo por via transabdominal (TAPP), conforme discutido por Griffin et al. (2010).

Esses achados sugerem que a laparoscopia, quando comparada às técnicas abertas, representa uma abordagem mais eficaz e segura para o tratamento de hérnias bilaterais e recorrentes, contribuindo para uma intervenção mais duradoura e de menor risco de recidiva.

3.2. Recuperação Pós-Operatória

A recuperação pós-operatória é um aspecto crítico na escolha da técnica de reparo de hérnia inguinal, e os estudos indicam uma vantagem clara da laparoscopia em relação às técnicas abertas. A menor invasividade da técnica laparoscópica proporciona uma recuperação mais rápida, o que é refletido no tempo reduzido de afastamento do trabalho e das atividades diárias. Feliu et al. (2010) evidenciam que pacientes submetidos ao reparo laparoscópico retornaram às atividades normais em um período significativamente menor em comparação com aqueles que passaram pela cirurgia aberta. Esse retorno precoce é essencial, especialmente em pacientes economicamente ativos, uma vez que reduz o impacto financeiro associado ao afastamento prolongado do trabalho.

Além disso, a dor pós-operatória, uma das principais preocupações dos pacientes e dos cirurgiões, é significativamente menor nos pacientes submetidos à laparoscopia, em grande parte devido ao menor trauma tecidual causado pelas incisões reduzidas. Matthews e Neumayer (2008) destacam que o uso de analgésicos no pós-operatório é menor nos pacientes tratados por laparoscopia, e os períodos de hospitalização e recuperação são mais curtos. Esse menor uso de analgésicos está associado a uma experiência pós-operatória mais confortável, com um tempo de recuperação médio de 7 a 10 dias para pacientes laparoscópicos, em contraste com o tempo médio de 3 a 4 semanas observado em pacientes submetidos à cirurgia aberta.

A rapidez e o conforto na recuperação dos pacientes submetidos à laparoscopia contribuem não apenas para a melhoria na qualidade de vida pós-operatória, mas também representam uma vantagem econômica significativa ao reduzir os custos indiretos, como aqueles associados ao tempo de afastamento laboral.

3.3. Complicações e Riscos

Embora a cirurgia laparoscópica ofereça muitos benefícios, ela também apresenta riscos e complicações específicas. A inserção dos instrumentos laparoscópicos e a manipulação do saco herniário e de outras estruturas abdominais podem resultar em lesões acidentais aos vasos epigástricos, intestinos e bexiga, devido à proximidade dessas estruturas (Griffin et al., 2010). Complicações como hematomas, seromas e infecções leves também foram observadas, mas, de maneira geral, a taxa de complicações é inferior à das técnicas abertas (Derici et al., 2010).

Em situações de emergência, como em hérnias encarceradas, a laparoscopia pode apresentar desafios adicionais. Derici et al. (2010) discutem que o reparo laparoscópico pode ser menos vantajoso nesses casos, pois o tempo de preparo e a necessidade de treinamento especializado são mais demandantes, e a técnica aberta pode ser preferida para uma intervenção mais imediata.

Outro fator relevante são os materiais utilizados na técnica laparoscópica, especialmente as telas sintéticas ou próteses biológicas. Franklin et al. (2008) exploraram o uso de submucosa de intestino delgado suíno como material protético em campos contaminados, demonstrando que esse material biológico pode reduzir o risco de infecções e facilitar a integração tecidual. No entanto, o uso de telas sintéticas, que continua sendo o padrão na maioria dos reparos laparoscópicos, pode estar associado a complicações a longo prazo, como a formação de aderências e dor crônica. Estudos de seguimento são necessários para monitorar a eficácia e os riscos associados ao uso de materiais protéticos na cirurgia laparoscópica e garantir a segurança a longo prazo dos pacientes.

3.4. Satisfação do Paciente e Qualidade de Vida

A satisfação do paciente é um componente fundamental na avaliação da eficácia de qualquer intervenção cirúrgica. A literatura indica que os pacientes submetidos à cirurgia laparoscópica para o reparo de hérnia inguinal apresentam maior satisfação devido ao menor tempo de recuperação, ao alívio da dor pós-operatória e aos melhores resultados estéticos em comparação com as técnicas abertas. Elsebae et al. (2008) evidenciam que a qualidade de vida dos pacientes submetidos ao reparo laparoscópico é superior à dos tratados com técnicas abertas, refletindo-se em maior prontidão para retornar às atividades físicas e sociais.

Além disso, Amato et al. (2009) compararam a laparoscopia com técnicas tradicionais como a de Shouldice e a de Bassini, destacando que a abordagem laparoscópica proporciona melhores resultados estéticos, menor incidência de dor crônica e uma recuperação funcional mais rápida. Essa satisfação elevada está intimamente relacionada com a percepção dos pacientes de uma recuperação menos dolorosa e de uma solução mais duradoura para a hérnia, que afeta diretamente a qualidade de vida pós-operatória.

Por fim, a meta-análise de Karthikesalingam et al. (2010) sugere que a laparoscopia, além de oferecer um reparo mais confiável, resulta em maior satisfação e melhor qualidade de vida devido à combinação de menores taxas de recidiva e complicações. No entanto, os autores destacam que a experiência do cirurgião é um fator crucial para o sucesso do reparo laparoscópico, uma vez que a técnica exige habilidades específicas para evitar complicações e garantir os benefícios previstos.

Em síntese, a cirurgia laparoscópica para reparo de hérnia inguinal demonstrou ser uma alternativa segura e eficaz em relação às técnicas convencionais abertas. Com menores taxas de recidiva, recuperação mais rápida e maior satisfação dos pacientes, a laparoscopia se destaca como uma abordagem moderna e vantajosa, especialmente para pacientes com hérnias bilaterais ou recorrentes. Contudo, a necessidade de treinamento especializado e o custo elevado são fatores a serem considerados, indicando que a escolha da técnica deve ser personalizada, ponderando as características do paciente e a experiência do cirurgião.

4. DISCUSSÃO

A cirurgia laparoscópica apresenta uma série de vantagens importantes sobre as técnicas convencionais de reparo de hérnia inguinal, especialmente em termos de recuperação pós-operatória e taxa de recidiva. Estudos indicam que a laparoscopia reduz a necessidade de analgésicos e o tempo de retorno ao trabalho, além de proporcionar resultados estéticos superiores, fatores que influenciam diretamente a qualidade de vida dos pacientes (Campanelli et al., 2008). Esses benefícios são atribuídos às pequenas incisões usadas na laparoscopia, que causam menos trauma tecidual e dor pós-operatória, contrastando com as incisões maiores das cirurgias abertas tradicionais.

No entanto, existem limitações. As técnicas abertas, como as de Shouldice e Lichtenstein, são menos complexas tecnicamente e requerem menos recursos financeiros e humanos, tornando-as mais acessíveis e viáveis em contextos onde o custo e o treinamento especializado são limitantes (Fon e Spence, 2000). Em ambientes de emergência, a cirurgia aberta também pode ser preferida devido à sua execução mais rápida e à menor necessidade de equipamentos especializados. Além disso, em cirurgias abertas, o uso de telas é padrão para fortalecer a parede abdominal, o que resulta em uma abordagem menos invasiva e economicamente acessível (Rosenberg, 2008).

Assim, a laparoscopia se mostra mais vantajosa para pacientes que requerem reparo de hérnias bilaterais e recidivas, devido ao acesso simultâneo aos dois lados inguinais e à possibilidade de explorar o canal contralateral para hérnias ocultas (Lau et al., 2007). No entanto, o custo e a complexidade da técnica exigem uma análise criteriosa, sendo a individualização do tratamento essencial para otimizar os resultados.

Embora a laparoscopia tenha se consolidado como uma alternativa eficaz às técnicas convencionais, ela possui limitações significativas. A primeira delas é a necessidade de treinamento especializado para que o cirurgião desenvolva habilidades avançadas de manuseio laparoscópico e familiaridade com as especificidades da anatomia inguinal visualizada por meio da câmera. Essa demanda por treinamento prolongado eleva o custo da implementação da técnica e, em alguns contextos, reduz sua viabilidade (Parelkar et al., 2010).

Outro aspecto a ser considerado é o tempo de cirurgia, que, em mãos inexperientes, pode ser consideravelmente maior do que o tempo necessário para uma cirurgia aberta, especialmente em casos complexos. Além disso, o custo dos materiais usados na laparoscopia, como telas especiais e os próprios equipamentos laparoscópicos, representam um encargo financeiro adicional para o sistema de saúde, limitando sua aplicabilidade em países com menores recursos econômicos ou em sistemas hospitalares públicos com orçamento restrito (Campanelli et al., 2008).

Além disso, a técnica laparoscópica pode não ser ideal para pacientes com comorbidades severas ou condições que aumentem o risco de complicações intra-abdominais. Esses pacientes podem ter maior probabilidade de complicações, como lesões a órgãos intra-abdominais e aderências, que são exacerbadas pela presença de condições pré-existentes, como doenças cardíacas e pulmonares, que complicam o manejo anestésico e aumentam os riscos do procedimento (Leander et al., 2000).

A adoção da laparoscopia como uma alternativa padrão para o reparo de hérnias inguinais enfrenta alguns desafios relevantes. O primeiro é a necessidade de um treinamento especializado contínuo, já que a curva de aprendizado para a laparoscopia pode ser longa e desafiadora. A falta de acesso a treinamentos padronizados e de alta qualidade em muitos locais do mundo limita a difusão dessa técnica e restringe seu uso a cirurgiões com ampla experiência (Parelkar et al., 2010). Nesse contexto, uma das direções futuras de pesquisa e desenvolvimento seria o uso de simuladores e programas de treinamento avançados, que possam acelerar e padronizar a capacitação dos cirurgiões, garantindo uma aprendizagem segura e eficaz para a técnica laparoscópica.

Além do treinamento, os custos associados à laparoscopia, incluindo os equipamentos e materiais específicos, sugerem a necessidade de estudos que avaliem a custo-efetividade da técnica, particularmente em comparação com a cirurgia aberta em diferentes cenários clínicos e socioeconômicos. Uma maior compreensão dos benefícios econômicos e dos gastos diretos e indiretos da laparoscopia poderia fundamentar a implementação de políticas de saúde que favoreçam o acesso à técnica em larga escala, além de identificar áreas onde a laparoscopia se mostra mais benéfica financeiramente (Campanelli et al., 2008).

Outro desafio consiste na necessidade de desenvolvimento de diretrizes clínicas baseadas em evidências para a seleção da técnica de reparo de hérnia mais adequada a cada caso. Tais diretrizes podem orientar os profissionais de saúde na escolha do procedimento com base em fatores como o tipo de hérnia, as condições do paciente, e a experiência do cirurgião. A criação dessas diretrizes, como sugerido por Lau et al. (2007), pode contribuir para uma abordagem mais homogênea e eficaz da laparoscopia, minimizando as variações de resultado associadas à falta de padronização.

Ademais, a incorporação de novas tecnologias cirúrgicas, como robótica e sistemas de visualização tridimensional, pode representar futuras melhorias na laparoscopia para reparo de hérnia. Essas tecnologias têm o potencial de aumentar a precisão e o controle durante o procedimento, reduzindo o risco de lesões e complicações. No entanto, esses avanços precisam ser acompanhados por estudos clínicos robustos para confirmar sua eficácia e avaliar sua viabilidade econômica.

Em síntese, a laparoscopia representa uma técnica com inúmeras vantagens e potencial para se tornar o padrão de tratamento em casos específicos de hérnia inguinal. No entanto, os desafios de treinamento, custo e a necessidade de pesquisa adicional para aprimorar a técnica e desenvolver guias baseados em evidências indicam que há um caminho a ser percorrido antes que ela possa ser amplamente adotada. A evolução dessa abordagem dependerá do desenvolvimento de políticas de saúde que incentivem a capacitação dos profissionais e da criação de recursos que tornem a laparoscopia uma técnica acessível e viável em contextos diversos.

5. CONCLUSÃO

A revisão dos estudos sobre a cirurgia laparoscópica para o tratamento de hérnias inguinais demonstra que essa técnica minimamente invasiva é altamente eficaz, especialmente em pacientes com hérnias bilaterais e recidivantes. A laparoscopia proporciona taxas de recidiva significativamente mais baixas em comparação com a cirurgia aberta e oferece vantagens importantes, como menor dor pós-operatória, tempo de recuperação reduzido, e retorno mais rápido às atividades habituais, elementos que contribuem para uma melhor experiência pós-operatória e uma qualidade de vida mais elevada. Embora a cirurgia aberta continue sendo uma opção viável, principalmente em contextos em que recursos e treinamento especializado são limitados, a laparoscopia se destaca como uma abordagem superior para grupos específicos de pacientes, desde que realizada por profissionais devidamente capacitados.

Os achados desta revisão são de grande relevância para a prática clínica e para a tomada de decisões por parte dos profissionais de saúde. A evidência de que a laparoscopia oferece um reparo duradouro e uma recuperação mais rápida é crucial para orientar as escolhas cirúrgicas e para proporcionar aos pacientes o máximo de benefícios com o menor tempo de hospitalização e desconforto. Ao melhorar a qualidade de vida pós-operatória e reduzir a necessidade de revisões cirúrgicas, a laparoscopia tem o potencial de otimizar o uso de recursos de saúde e diminuir os custos indiretos associados ao afastamento do trabalho e à reabilitação. Esses dados são fundamentais para embasar as decisões clínicas e para ajudar a definir protocolos que ofereçam o melhor equilíbrio entre eficácia, segurança e acessibilidade.

Apesar dos avanços e das vantagens oferecidas pela técnica laparoscópica, ainda existem áreas que necessitam de investigação mais aprofundada. Estudos de longo prazo são necessários para avaliar a durabilidade dos resultados da laparoscopia em comparação com as técnicas abertas, com o objetivo de fornecer evidências robustas sobre a segurança e eficácia do procedimento ao longo dos anos. Além disso, análises de custo-benefício detalhadas, que considerem os custos diretos e indiretos da técnica laparoscópica, são essenciais para guiar a implementação da laparoscopia como uma opção viável em diferentes contextos socioeconômicos.

Outra área promissora de investigação envolve o aprimoramento da técnica, com o desenvolvimento de tecnologias assistidas, como cirurgia robótica e sistemas de visualização avançada, que podem tornar a laparoscopia ainda mais precisa e acessível. A criação de diretrizes clínicas específicas para a escolha do procedimento e o uso de tecnologias de simulação para treinamento de profissionais também são pontos importantes para o futuro, a fim de garantir que o maior número possível de cirurgiões esteja qualificado para realizar a técnica de forma eficaz e segura. Dessa forma, a continuidade das pesquisas e a adaptação das diretrizes clínicas poderão transformar a laparoscopia em um recurso amplamente adotado, melhorando os desfechos e a qualidade do tratamento para pacientes com hérnias inguinais.

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ZOLLINGER, S. Atlas de Operações Cirúrgicas de Zollinger. Nova Iorque: McGraw-Hill Professional, 2002.


1Graduando em Medicina pela Unilago – União das Faculdades dos Grandes Lagos
2Graduando em Medicina pela Unilago – União das Faculdades dos Grandes Lagos
3Graduando em Medicina pela Universidad Central Del Paraguay
4Graduando em Medicina Unilago – União das Faculdades dos Grandes Lagos
5Graduando em Medicina pela Universidade Sudamericana
6Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
7Graduando em Medicina pela Universidade do Contestado – UnC
8Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
9Graduando em Medicina pela Unilago – União das Faculdades dos Grandes Lagos
10Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
11Graduando em Medicina pela Unilago – União das Faculdades dos Grandes Lagos
12Graduando em Medicina pela Universidade do Contestado – UnC
13Graduando em Medicina pela Universidade do Contestado – UnC
14Graduando em Medicina pela Centro universitário de João Pessoa UNIPÊ
15Graduando em Medicina pela Universidade Brasil