O IMPACTO DAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS COMPLEMENTARES EM PACIENTES COM TRANSTORNO MENTAIS E DO COMPORTAMENTO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411081505


Hitalo George Alves Souza1,
Luiza Ricarda de Almeida Pereira2,
Maria Clara de Farias Vitor3,
Orientador: João de Sousa Pinheiro Barbosa4


RESUMO

Nas últimas décadas os serviços de saúde e a comunidade de forma geral vem se aprimorando no cuidado e proteção à pessoa com transtorno mental e do comportamento que no passado foi tão negligenciado. Os recursos terapêuticos há consenso e é pautado na evidência científica que são estratégias para reabilitação psicossocial das pessoas com esses tipos de transtornos. O objetivo é analisar os benefícios das PICS em pacientes com transtornos mentais e do comportamento em estudos científicos com maior grau de evidência científica. Foi realizada uma revisão de escopo utilizando os vocábulos padronizados: práticas integrativas, medicina tradicional, saúde mental, humanização da assistência e cuidados centrado no paciente com operador booleano “or” e “and” na PubMED. Resultado foram eleitos 11 estudos sobre a temática investigadas todos os estudos foram unanimes quanto a importante são as PICs na assistência do paciente com transtorno mental e do comportamento. Considerações finais: As Práticas Integrativas Complementares (PICs) têm emergido como uma alternativa relevante no tratamento de transtornos mentais e do comportamento, sendo frequentemente utilizadas em conjunto com abordagens tradicionais de cuidado, como psicoterapia e medicamentos.

Palavras-chave: práticas integrativas, medicina tradicional, saúde mental, humanização da assistência e cuidados centrado no paciente

ABSTRACT

In recent decades, health services and the community in general have been improving the care and protection of people with mental and behavioral disorders, which were so neglected in the past. There is a consensus on therapeutic resources and are based on scientific evidence that are strategies for the psychosocial rehabilitation of people with these types of disorders. The objective is to analyze the benefits of PICS in patients with mental and behavioral disorders in scientific studies with a higher degree of scientific evidence. A scoping review was carried out using the standardized terms: integrative practices, traditional medicine, mental health, humanization of care and patient-centered care with the Boolean operators “or” and “and” in PubMED. The result was 11 studies on the topic investigated; all studies were unanimous regarding the importance of PICs in the care of patients with mental and behavioral disorders. Final considerations: Complementary Integrative Practices (CIPs) have emerged as a relevant alternative in the treatment of mental and behavioral disorders, and are often used in conjunction with traditional care approaches, such as psychotherapy and medication.

Keywords: integrative practices, traditional medicine, mental health, humanization of care and patient-centered care

1 INTRODUÇÃO

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças 10 (CID.10) da Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos mentais são sofrimentos emocionais em suas variadas manifestações, por tanto pode indicar o desenvolvimento ou agravo dos sinais e sintomas (Almeida, 2020). O acolhimento a essas pessoas é essencial para sabermos qual a necessidade e singularidade, assim o trabalho tem como objetivo reduzir e evitar o sofrimento e planejamento de intervenções terapêuticas, medicamentosas ou não, conforme a necessidade de cada sujeito (Aguiar,2019) Entre os transtornos mentais que mais atingem o mundo, de acordo com são: Transtorno do Humor, como depressão, transtorno afetivo bipolar e esquizofrenia (OMS, 2022).

A OMS publicou no ano de 2019 que quase 1 bilhão de pessoas no mundo viviam com transtorno mental, sendo 14% do total em adolescentes. No Brasil, estudos indicam ansiedade, depressão e transtornos de personalidade como os mais prevalentes. A depressão destaca-se como um sério problema médico, atingindo cerca de 5,8% da população ao longo da vida, segundo a OMS (2017) (BOAVENTURA et al., 2021). Globalmente, 30% dos adultos apresentam critérios para diagnóstico de transtorno mental, com 80% desses casos em países de baixa e média renda. A carga global de doenças mostra que transtornos mentais representam 32,4% dos anos vividos com incapacidade. No Brasil, transtornos depressivos e ansiosos ocupam respectivamente a quinta e sexta posições como causas de anos de vida vividos com incapacidade, destacando a necessidade urgente de abordar questões de saúde mental (WHO, 2022)

O tratamento ocorre na base comunitária nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), onde o paciente pode chegar e ser atendido sem agendamento prévio e iniciar seu tratamento. Com isso, há necessidade de uma abordagem nessas bases comunitárias. Devem estar ao alcance do paciente, perto de sua casa e/ou trabalho. O tratamento deve inseri-lo no dia a dia e não o isolar. (Greco, 2009).

De acordo com o Ministério da Saúde as Práticas integrativas complementares (PICS) são abordagens interdisciplinar para complementar o tratamento terapêutico, com 29 opções de PICS que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece ao usuário temos as principais que são Terapia comunitária, dança circular e Reiki, por tanto as práticas aferem o paciente como um todo, levando em consideração suas condições físicos, emocionais, mentais e sociais. As PICS são complementares, com isso, ela não substitui o tratamento convencional (Brasil, 2018).

Dentre os benefícios das PICS que se destacam: maior relaxamento e bem-estar; melhora da qualidade do sono, ansiedade e quadros depressivos; redução e alívio da dor; diminuição de sinais e sintomas de diversas doenças; fortalecimento do sistema imunológico; estimula o contato com o profissional de referência, destacando-se sua interação social; redução do uso de medicamentos; diminuição de reações adversas à medicação e melhoria da qualidade de vida. Além dos benefícios terapêuticos, as PICS também geram redução de gastos devido ao baixo custo de sua aplicabilidade, em comparação a outros tipos de tratamentos (Soares; Girondoli, 2021).

Com base nas análises realizadas, torna-se evidente que a ausência de conhecimento/formação entre os profissionais, a falta de suporte da gestão para a implementação, a deficiência no ensino das Práticas Integrativas e Complementares (PICs) durante a graduação, a insuficiência de recursos financeiros e infraestrutura, juntamente com a fragilidade do trabalho em equipe, emergem como principais obstáculos e desafios. Esses fatores contribuem para um déficit na operacionalização das PICs, resultando, por conseguinte, em prejuízos para os usuários. (SILVA et al., 2021).

Nessa perspectiva o objetivo do trabalho é analisar os benefícios das PICS em pacientes com transtornos mentais e do comportamento em estudos científicos com maior grau de evidência científica.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A construção da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), veio através de conferências nacionais de saúde e das recomendações da Organização Mundial da Saúde (ONU) (Brasil,2006). Dando visibilidade a 8ª conferência nacional de saúde por ter sido primordial a decisão de implementação da PNPIC. As Práticas Integrativas Complementares (PICs) foi implantada no Sistema Único de Saúde (SUS) pela portaria GM/MS nº 971 em 3 de maio de 2006 por meio da PNPIC. Mas em fevereiro do mesmo ano foi aprovada unanimemente pelo conselho nacional de saúde documento que ampara a PNPIC no SUS (Brasil, 2006).

As PICs são recursos terapêuticos e buscam a prevenção de doenças, recuperação da saúde, melhor qualidade de vida e bem-estar de indivíduos. Em casos de usuários dos serviços de saúde mental as PICs fazem parte do Projeto Terapêutico Singular (PTS) dos usuários do serviço de saúde mental com objetivo de proporcionar o bem-estar com a utilização do processo saúde-doença, considerando os aspectos, físicos, mental, espiritual, comportamental, emocional e social (Soares, Girondoli 2021).

Como meta das PICs é possível observar que as abordagens de trabalho com a união dos recursos terapêutico, tais como: medicações associado a outras práticas com evidências científicas proporcionam aos frequentadores dos serviços de saúde uma ligação que integra a qualidade de vida, eficácia, eficiência e segurança, inserção social, redução do consumo de medicamentos, melhoria da autoestima e da qualidade de vida, entre outros benefícios (Brasil, 2006).

São utilizados vários ferramentas terapêuticos como: elementos da natureza, práticas de expressão artríticas, práticas advindas de culturas orientais; exercícios e atividades em grupos; meditações e movimentos corporais para proporcionar relaxamento e conforto mental; psicoterapias com abordagens sistêmicas; massagens; relaxamento; acupuntura; uso de gases medicinais; tratamento manual das disfunções mecânicas do sistema neuromusculoesquelético; e formação de redes sociais de apoio (Soares, Girondoli 2021).

No Brasil as PICs são incorporadas no SUS inicialmente em 2006 pela a portaria GM/MS nº 971/2006 com apenas 5 práticas. Em 2017 foram acrescentadas 14 a partir da publicação da Portaria Nº 849/2017 e a última atualização em 2018 acrescenta mais 10 “Nº 702 de 2018 Altera a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir novas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC.” Totalizando 29 PICs (Brasil, 2018).

As práticas:

Fonte: Ministério da saúde, 2018.

2.1. Terapias Comunitária Integrativa (TCI)

Surgiu em 1986 em uma comunidade em Fortaleza-CE, Brasil chamada de Pirambú, considerada a maior favela do estado. Criada a partir do Dr. Adalberto de Paula Barreto, para atender as necessidades daquela população. Atualmente a TCI está integrada em 23 estados do Brasil, com um total de 7 mil terapeutas especialistas em TCI. Com grande poder de extensão no nosso território e no mundo, sendo trabalhada no exterior como, França, Suíça, Uruguai, Argentina entre outros (Jataí, Silva, 2012)

É desenvolvida através de uma roda de conversação em grupo onde os acolhidos que se sentirem confortáveis poderão estar partilhando das suas experiências de vida, com o propósito de se melhorar, autonomia, autoestima, resgate da identidade e a possibilidade de resolução dos problemas (Brasil,2017).

De acordo com a portaria GM/MS, Nº 84/2017 “é uma prática de intervenção nos grupos sociais e objetiva a criação e o fortalecimento de redes sociais solidárias. Aproveita os recursos da própria comunidade e baseia-se no princípio de que se a comunidade e os indivíduos possuem problemas, mas também desenvolvem recursos, competências e estratégias para criar soluções para as dificuldades. É um espaço de acolhimento do sofrimento psíquico, que favorece a troca de experiências entre as pessoas” (Brasil, 2017).

2.2. Dança Circular

Criada pelo bailarino e coreógrafo Alemão, Bernhard Wosien em 1976, em uma visita pela Europa percebeu que as danças originárias da região faziam bem aos seus participantes e estavam sendo extintas. A partir daí ele começou a visitar várias culturas, se expandindo para a criação da dança circular que conhecemos hoje que traz a essência de diversas culturas e épocas diferentes. Dança circular é uma dança em roda onde os indivíduos dançam juntos com o propósito de ter estímulos de aprendizagem e harmonia entres eles. A dança circular cria espaços positivos e seguros para expressar seus sentimentos e emoções através do seu corpo para manter harmonia entre corpo-mente-espírito (Andrada, Souza, 2015).

De acordo com a portaria GM/MS nº 849/2017 “O principal enfoque na Dança Circular não é a técnica e sim o sentimento de união de grupo, o espírito comunitário que se instala a partir do momento em que todos, de mãos dadas, apoiam e auxiliam os companheiros. Assim, ela auxilia o indivíduo a tomar consciência de seu corpo físico, harmonizar o emocional, trabalhar a concentração e estimular a memória” (Brasil,2017).

2.3. Reiki

Baseado no livro “Reiki a cura e a harmonia-através das mãos” O Reiki ou terapia energética é uma prática tibetana, redescoberta no Japão, em meados do século XIX, por Mikao Usui. A prática dela é baseada na sobreposição, toque das mãos sobre o corpo para estimular os mecanismos naturais e recuperar a saúde, trabalhando equilíbrio do corpo físico, harmonia mental, emocional e espiritual (Brasil,2017).

De acordo com a portaria GM/MS, Nº 849/2017 “A prática promove a harmonização entre as dimensões físicas, mentais e espirituais. Estimula a energização dos órgãos e centros energéticos. A prática do Reiki, leva em conta dimensões da consciência, do corpo e das emoções, ativa glândulas, órgãos, sistema nervoso, cardíaco e imunológico, auxilia no estresse, depressão, ansiedade, promove o equilíbrio da energia vital” (Brasil,2017).

2.4. Benefícios dos PICs

As Práticas Integrativas Complementares tem como objetivo beneficiar todos aqueles que participam e aderem a sua proposta, com isso, seu público-alvo. Pois é acessível a qualquer grupo populacional sem distinção de idades, classes sociais, condições físicas, socioeconômica e profissional (Brasil, 2022)

As PICs estão relacionadas à prevenção, mas também são utilizadas para aliviar sintomas de enfermidades e auxiliar os participantes no combate do sedentarismo, pois temos práticas associadas à movimentação do corpo por exemplo: yoga, dança circular, Reiki e entre outros. Essas práticas têm maior amplitude no tratamento de doenças fisiológicas, patológicas e mentais onde a maioria tem baixo custo-benefício ao SUS e requer qualificação do profissional. Cada Prática Integrativa terá suas variações de benefícios de acordo com o que foi ofertado e praticado, assim mostrando a sua amplitude no tratamento. A integração dos fármacos, PICs e equipe multidisciplinar amplia ainda mais os benefícios gerando boas intervenções (Mendes, Dayana 2019).

Os benefícios das PICs de acordo com manual de PICs da SES-MG, 20xx:

  1. Maior relaxamento e bem-estar;
  2. Melhora da qualidade do sono, ansiedade e quadros depressivos;
  3. Redução e alívio da dor;
  4. Diminuição de sinais e sintomas de diversas doenças;
  5. Fortalecimento do sistema imunológico;
  6. Estimula o contato profissional- -interagente;
  7. Redução do uso de medicamentos;
  8. Diminuição de reações adversas à medicação e;
  9. Melhoria da qualidade de vida.

Na internação de frequentadores do serviço psiquiátrico a principal forma de cuidado efetivo é o toque terapêutico, pois proporciona aos usuários do serviço a tranquilidade de estar recebendo atenção do profissional de enfermagem e, com isso, estabelecendo um vínculo e confiança. Em contextos de internações de saúde mental, as terapias complementares como a aromaterapia auxiliam no tratamento de modo que os frequentadores do serviço se sintam equilibrados e tranquilizados, de forma que, diminua a utilização de medicamentos (Medeiros, Lima 2010).

A enfermagem, assim como demais profissionais que compõem a equipe de saúde precisam visualizar as práticas integrativas e complementares como um modelo de cuidado a ser ensinado e praticado no ambiente do cuidado, valorizando as intervenções biomédicas e farmacológicas que em sua maioria são agressivas e podem ter muitos efeitos colaterais (Bastos, Lopes, 2010). Faz-se necessário protagonismo e empoderamento da enfermagem em relação à utilização das PICs em suas práticas assistenciais, porém, para isto são necessários a profissionalização e o conhecimento acerca das PICs em seu contexto de trabalho, promovendo assim autonomia dos usuários do serviço e redução dos custos do SUS (Mendes et al., 2019).

Os locais que oferecem Práticas Integrativas em Saúde (PIS) no Distrito Federal são separados por Regiões de Saúde, que possuem superintendências que são responsáveis por gerir políticas e ações de saúde, em todos os níveis de atenção, na sua área de abrangência, tendo como eixo coordenador a Atenção Primária à Saúde, além de fortalecer a governança do Sistema Único de Saúde na região (Distrito Federal, 2023).

As superintendências são diretamente subordinadas ao Gabinete e devem promover, fortalecer e articular as ações de saúde de forma integrada na região Central, Centro-Sul, Norte, Sul, Leste, Oeste e Sudoeste:

  • A Região Central por Asa Sul, Asa Norte, Cruzeiro, Lago Norte e Vila Planalto.
  • Região Centro-Sul por Candangolândia, Estrutural, Guará, Park Way, Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo I e II, Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) e Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA).
  • Região Norte por Planaltina, Sobradinho, Sobradinho II e Fercal.
  • Região Sul por Gama e Santa Maria.
  • Região Leste por Paranoá, Itapoã, São Sebastião, Jardim Botânico e Jardins Mangueiral.
  • Região Oeste por Brazlândia e Ceilândia e por fim Região
  • Sudoeste por Águas Claras, Recanto das Emas, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires. Vale ressaltar que nem todas as Regiões Administrativas (R.A) têm as Práticas Integrativas inseridas em suas UBS.

Atualmente, na Secretaria de Saúde do Distrito Federal, são instituídas dezessete (17) práticas: Acupuntura, Arteterapia, Auriculoterapia, Auto Massagem, Fitoterapia, Homeopatia, Lian Gong em 18 terapias, Medicina e Terapias Antroposóficas, Meditação, Musicoterapia, Reiki, Shantala, Tai Chi Chuan, Terapia Comunitária Integrativa, Ayurveda, Yoga (Hatha e Laya) e a Técnica de Redução de Estresse (T.R.E.) São exercidas por profissionais de saúde presentes no SUS-DF desde que devidamente habilitados por meio de cursos de capacitação ou com formação específica, e ainda por profissionais aprovados em concurso público e contratados para esse fim (Distrito Federal, 2023).

A Política Distrital de Práticas Integrativas em Saúde (PDPIS) foi instituída em 2014, regulamenta a oferta das PIS no SUS-DF. Em 2019, a PDPIS passou a contar com as áreas de Ayurveda e Técnica de Redução de Estresse – TRE, além de ampliar o Yoga com a inclusão da metodologia (linha) Layoga, o que se deu por força da Portaria N° 371 de 03 de junho de 2019. Em 06 de maio de 2022, a Portaria Nº 351 introduziu a Auriculoterapia na Política Distrital (Brasil, 2023).

Então podem ser oferecidas abertamente para a comunidade, geralmente sem requisitos, por profissionais de saúde e voluntários cadastrados devidamente habilitados por meio de cursos de capacitação ou formação específicas. Algumas ofertas de práticas integrativas são voltadas para usuários das unidades de saúde, outras são exclusivas para os servidores. Os atendimentos podem ser coletivos ou individuais, sendo que estes últimos necessitam de agendamento prévio. As atividades costumam ser oferecidas de forma regular na própria unidade de saúde ou em local próximo (Brasil, 2023).

A identificação de um Transtorno Mental é caracterizada por uma fusão de emoções, comportamentos, percepções e pensamentos que podem afetar a vida do indivíduo. Para identificá-los é importante estar atentos aos comportamentos que podem manifestar sinais como:

  • Mudanças de humor repentinas;
  • Mudanças no comportamento;
  • Dificuldade em se concentrar;
  • Dificuldade em raciocinar;
  • Problemas em expressar ideias;
  • Dificuldade em conviver com outras pessoas;
  • Entre outros.

Então o ideal quando apresentado esses sinais, importante que o indivíduo busque uma ajuda profissional, para um diagnóstico exato, preferencialmente por um Médico Psiquiatra e um Psicólogo. Juntos num acordo com uma minuciosa avaliação, poderão dar o diagnóstico e prognóstico (Cuani, 2021).

Não é possível definir uma causa somente para esses tipos de distúrbios, existem várias situações que podem desencadear algum distúrbio mental, como fatores psicossociais, genéticos, ambientais e biológicos. O fato é que independentemente das causas que desencadeiam algum distúrbio, é importante ressaltar como os problemas afetam a qualidade de vida e bem-estar das pessoas (Cuani, 2021).

Alguns dos transtornos mais comuns incluem:

Ansiedade

Ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho (Allen, Leonard, Swedo, 1995) (Allen, Leonard, Swedo, 1994).

A ansiedade, pode ser situada como uma resposta ao estresse, onde o agente estressor está obscurecido (num processo inconsciente). No cotidiano, os seres humanos experimentam algum grau de ansiedade, ou seja, um sentimento vago da iminência de um acontecimento ameaçador, que o indivíduo não sabe identificar. Pode ser entendida como um estado de nervosismo sem causa. Tem como manifestação taquicardia, boca seca. Enquanto processo adaptativo, a ansiedade reduz o nível de tensão, porém torna-se improdutiva quando se cronifica, porque impede que o sujeito lide diretamente com o objeto que a originou. A ansiedade ocorre em graus variados, desde leve, que serve para tornar a pessoa mais alerta, física e mentalmente – até alta – que torna o indivíduo incapaz de reagir ou levando-a a reações aparentemente irracionais (Taylor, 1992).

Foram definidos dois conceitos distintos de ansiedade: ansiedade-estado e ansiedade-traço (Spielberger & Sarason, 1975). A ansiedade-estado é uma condição transitória de tensão frente a uma circunstância percebida como ameaçadora, sem identificar-se o objeto de perigo, ou seja, simbólica, inespecífica e antecipadamente. Pode variar de intensidade e flutuar no tempo, em função do estímulo estressor com o qual o organismo se depara. A ansiedade-traço se refere às diferenças individuais relativamente estáveis, de propensão para a ansiedade. É uma predisposição ou tendência do indivíduo para vivenciar a ansiedade (Spielberger, Gorsuch, Lushene, 1979).

Depressão

Os sentimentos de tristeza e alegria colorem o fundo afetivo da vida psíquica normal. A tristeza constitui-se na resposta humana universal às situações de perda, derrota, desapontamento e outras adversidades. Cumpre lembrar que essa resposta tem valor adaptativo, do ponto de vista evolucionário, uma vez que, através do retraimento, poupa energia e recursos para o futuro. Por outro lado, constitui-se em sinal de alerta, para os demais, de que a pessoa está precisando de companhia e ajuda. As reações de luto, que se estabelecem em resposta à perda de pessoas queridas, caracterizam-se pelo sentimento de profunda tristeza, exacerbação da atividade simpática e inquietude (Praecox, 1989).

O sintoma de depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos, entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas (Sedler, 1983). Enquanto síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite) (Parker et al., 1994). Finalmente, enquanto doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na dependência do período histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado. Entre os quadros mencionados na literatura atual encontram-se: transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante do transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, etc (Akiskal, 1995).

Esquizofrenia

A esquizofrenia segundo a Organização Mundial de Saúde (2000) é conhecida como uma das doenças psiquiátricas mais graves e desafiadoras e ainda por muito a ser estudada até hoje. Segundo a Classificação Internacional das Doenças é uma enfermidade complexa, caracterizada por distorções do pensamento, da percepção de si mesmo e da realidade externa, além de inadequação e embotamento do afeto (OMS, 1998).

A esquizofrenia é subdividida em tipos, na qual cada uma possui características próprias: A esquizofrenia paranoide caracteriza-se pela presença de ideias delirantes relativamente estáveis, frequentemente de perseguição, em geral acompanhadas de alucinações e de perturbações das percepções. A esquizofrenia hebefrênica caracteriza-se pela presença proeminente de uma perturbação dos afetos; as ideais delirantes e as alucinações são fugazes e fragmentárias, o comportamento é irresponsável e imprevisível. A Esquizofrenia Catatônica é caracterizada por distúrbios psicomotores proeminentes que podem alternar entre extremos tais como hipercinesia e estupor, ou entre a obediência automática e o negativismo. A esquizofrenia residual é caracterizada pela presença persistente de sintomas “negativos” embora não forçosamente irreversíveis. A esquizofrenia simples caracteriza-se pela ocorrência insidiosa e progressiva de excentricidade de comportamento, incapacidade de responder às exigências da sociedade, e um declínio global do desempenho. Há ainda a esquizofrenia indiferenciada, Depressão pós-esquizofrênica, outras e não especificadas (Giacon, 2006).

Transtorno Afetivo Bipolar

O Transtorno afetivo bipolar (TAB) é uma doença crônica, complexa e com altos índices de morbidade e  mortalidade  no  mundo  (Costa, 2007).  Segundo o 5º Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mental (DSM-V), esse transtorno é denominado de Transtorno bipolar  (TB),  classificado  em  transtornos  bipolares  tipo  I  (um  ou  mais episódios  maníacos  ou  episódios  mistos),  tipo  II  (um  ou  mais  episódios  depressivos maiores  acompanhados  por,  pelo  menos,  um  episódio  hipomaníaco),  ciclotímicos (perturbação crônica e flutuante do humor) e aqueles sem outra especificação. (Brasil, 2022).

De acordo com a OMS, o TAB era a sexta causa de incapacidade e  a  terceira  entre  as  doenças  mentais,  após  depressão  unipolar  e esquizofrenia, que cursam com maior carga (Murray; Lopez, 1997).

Transtorno Ciclotímico, caracterizado  pela alternância  entre  períodos  hipomaníacos  e  depressivos  ao  longo  de  pelo menos dois anos em adultos ou um ano em crianças sem atender os critérios para um episódio de mania, hipomania ou depressão maior; e 2. Transtorno Relacionado Especificado que se refere a quadros atípicos,  em  que  a ocorrência dos sintomas não preenche os critérios de duração e frequência mínimos necessários para caracterizar pelo menos um episódio hipomaníaco (APA, 2014).

DADOS

Segundo a OMS as PICS em cada país elas recebem uma denominação diferente. No Brasil, por exemplo Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas são chamadas de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde; no Peru são denominadas Medicinas Alternativas e Complementares; no Equador, Medicinas Tradicionais e Complementares; na Colômbia, Medicinas Alternativas e Terapias Alternativas e Complementares; em Cuba adota-se o termo Medicina Natural e Tradicional (Sousa, 2021).

Nos últimos anos, tem havido um crescente reconhecimento e demanda pelas Práticas Integrativas e Complementares (PIC), mesmo em países desenvolvidos com sistemas de saúde baseados na biomedicina (OMS; 2013). 

O crescimento e a valorização das PICs têm afetado os profissionais de saúde.  Por exemplo, na Suíça, 46% dos médicos, incluindo os que trabalham na APS, possuem algum tipo de formação em PIC; no Canadá, médicos realizam 57% das terapias à base de ervas, 31% dos tratamentos quiropráticos e 24% das sessões de acupuntura; na Inglaterra, 50% dos médicos generalistas do Serviço Nacional de Saúde (NHS) utilizam e recomendam alguma forma de PIC; 32% dos médicos na França e 20% na Alemanha utilizam PIC; na Holanda, 50% dos médicos generalistas prescrevem plantas medicinais, realizam terapias manuais e/ou acupuntura, e 45% consideram os medicamentos homeopáticos eficazes. Esses dados ilustram a crescente integração das PIC no sistema de saúde em diversos países (Levin, 2021).

Essas terapias são frequentemente utilizadas de forma autônoma, antes, depois ou em conjunto com os cuidados biomédicos, em um contexto de pluralismo nos cuidados de saúde. Esse crescimento científico e institucional foi impulsionado pela alta demanda da população, que busca as PIC por várias razões, como a facilidade de acesso e sua relativa eficácia, especialmente em regiões de baixa renda. Além disso, há uma insatisfação com a abordagem impessoal, invasiva e iatrogênica da biomedicina, o que leva à valorização das vantagens oferecidas pelas PIC, como a promoção da participação ativa no cuidado, uma experiência mais satisfatória e um melhor relacionamento entre terapeuta e usuário. Essas tendências são fortalecidas por movimentos culturais que reconhecem e valorizam cada vez mais as PIC (Tesses; Souza; Nascimento, 2018) .

Embora sejam usadas em várias áreas da saúde, a Atenção Primária à Saúde (APS) é identificada como o principal campo de atuação das PIC, devido à sua capacidade de promover a autocura, evitar iatrogenias e abordar sintomas não explicáveis pela medicina convencional (Levin, 2021).

No que diz respeito à formação em serviço, o Ministério da Saúde oferece alguns cursos à distância sobre PIC, a maioria deles de caráter introdutório. Isso tem estimulado os profissionais da rede pública de saúde interessados no tema (Tesser, 2009).

Algumas secretarias municipais de saúde no Brasil também oferecem ações de educação permanente e cursos de especialização em PIC, especificamente voltados para a APS. No entanto, a incorporação das PIC na formação universitária em saúde no Brasil ainda é incipiente e modesta em comparação com outros países. Estudos de Azevedo e Pelicione, de 2011, mostram que menos de 10% dos cursos de medicina no país incluem conteúdos sobre PIC em seus currículos. Em contraste, em nível internacional, mais de 80% das escolas médicas canadenses já ofereciam esses conteúdos em 1988, com destaque para acupuntura e homeopatia. Na União Europeia, cerca de 40% das escolas médicas já abordavam as PIC em 1999, enquanto nos Estados Unidos, 64% das 117 escolas médicas pesquisadas em 1998 também as incluíam (Oliveira; Peluso; Freitas; Nascimento, 2018).

Estudos sobre iniciativas de ensino de PIC no Brasil mostram que os alunos têm interesse em aprender sobre o assunto. Nas universidades públicas brasileiras, a inclusão do ensino de PIC está ocorrendo gradualmente nos cursos de graduação da área da saúde, embora em menor proporção nos cursos de especialização (Nascimento; Romano; Chazan; Quaresma, 2018).

O perfil das disciplinas e ligas acadêmicas com abordagem sobre as PICs era predominantemente opcional e informativo, com foco nas diferenças paradigmáticas das PIC em relação à medicina convencional, em vez de priorizar a integração das PIC no cuidado de forma abrangente. Apesar da existência de disciplinas optativas sobre PIC em várias universidades brasileiras, parece haver resistência ou pouca evolução para sua incorporação nos currículos formais. Isso também dificulta a pesquisa acadêmica sobre o tema, uma vez que a falta de integração nos currículos dificulta o desenvolvimento de estudos mais aprofundados (Barros; Siegel; Otani, 2011)

3. MÉTODOS          

O protocolo de revisão de escopo é uma metodologia proposta pelo Joanna Briggs Institute (JBI) para revisões de escopo (Brady SL et al., 2022). Esse tipo de método segue recomendações elaboradas pela Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis Protocols (PRISMA-P) (Peters MDJ et al., 2015). Considerando a natureza iterativa deste tipo de revisão, pode haver alterações metodológicas no protocolo.

O desenho do estudo, uma pesquisa não clínica, conforme descrito por Brun, foi integrado aplicando-se a metodologia Problema, Conceito e Contexto (PCC) para nortear a coleta de dados. A estratégia PCC é uma mnemônica que auxilia a identificar os tópicos-chave: Problema, Conceito e Contexto. Tal estratégia será adotada para conduzir a questão de pesquisa da revisão de escopo (SANCHES, 2018).

A pesquisa será realizada através Descritores em Saúde (DeCS)/ Medical Subject Headings (MeSH): combinado com o operador booleano AND e OR: das palavras chaves que serão usadas “mental health”, “mental disorder”, “psychosocial rehabilitation”, “Complementary Integrative Practices”. Nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed Central® (PMC), Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME).

Serão utilizados os seguintes critérios para inclusão: artigos publicados entre os anos de 2019 até julho de 2024, artigos escritos em língua portuguesa, artigos escritos em inglês, artigos escritos em língua espanhola, artigos publicados em revistas, artigos originais, artigos se enquadra nessa pesquisa, artigos que fala sobre assistência humanizada ao idoso admitidos em instituições assistenciais em saúde.

Serão estabelecidos os seguintes critérios para exclusão: artigos de revisão, artigos publicados fora da temporalidade estabelecido, tese de doutorado, dissertação de mestrado, trabalho de conclusão de curso, artigos escritos em outras línguas sem ser a portuguesa, espanhola e inglesa, artigos que não fossem originais, artigos que não abordasse sobre o tema da pesquisa.

Para análises dos artigos serão através de leitura dos resumos e títulos foi importante para excluir os estudos que não atendem objetivo do estudo levando em consideração os critérios de inclusão e exclusão do trabalho.

Para elaboração dos resultados será avaliado as seguintes variáveis dos estudos selecionados: Local, Base de dados/Periódico, Autor (es) do artigo/ Ano, objetivo, aplicação da assistência de enfermagem humanizada ao idoso, Nível de Evidência. Para classificação da qualidade metodológica das pesquisas selecionadas foi conforme os seis níveis de categorias da Oxford Centre for Evidence-based Medicine.

Figura 1 – Fluxograma da revisão sistemática da literatura

Fonte: Souza HGA, Pereira LRA, Victor MCF, 2024.Dados SciELO e PubMed

4. RESULTADOS

Tabela 1. Descrição do impacto das Práticas Integrativas Complementares na reabilitação psicossocial em pessoas com Transtorno Mental e do Comportamento.

Fonte: Souza HGA, Pereira LRA, Victor MCF, 2024. Dados SciELO e PubMed

5. DISCUSSÃO

5. 1. Ansiedade e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

A ansiedade e o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) são condições psiquiátricas que afetam milhões de pessoas no mundo todo, caracterizadas por uma preocupação excessiva e persistente sobre diversas questões cotidianas. Diante da busca por abordagens terapêuticas alternativas para o manejo desses transtornos, as Práticas Integrativas Complementares (PICs) têm ganhado destaque como potenciais intervenções complementares. Estudos como o de Jeremy Y Ng e Arquiteto Jain (2022) apontam para a importância da clareza e do envolvimento das partes interessadas na utilização de PICs, sugerindo que o uso de abordagens como o relaxamento e a meditação pode auxiliar na redução dos sintomas ansiosos. No entanto, a aplicabilidade das PICs no tratamento da ansiedade ainda necessita de mais evidências robustas, uma vez que muitos estudos apresentam recomendações pouco claras ou conflitantes​.

Especificamente no contexto do TAG, Fei-Yi Zhao e Geraldo Kennedy (2023) avaliaram diretrizes clínicas e identificaram que algumas modalidades de medicina complementar, como o relaxamento aplicado, são comumente recomendadas. Entretanto, a falta de consenso nas diretrizes sobre outras modalidades, como a fitoterapia e a fototerapia, revela uma limitação no suporte científico para seu uso no tratamento desse transtorno. Isso reflete a necessidade de estudos de maior rigor metodológico e de mais investigações sobre o impacto a longo prazo das PICs no manejo do TAG. Embora práticas como meditação e técnicas de relaxamento possam ser uma opção viável para alguns pacientes, o grau de suporte para o uso dessas abordagens varia, e é fundamental que sejam acompanhadas de tratamentos convencionais já estabelecidos​.

É possível observar sobre o impacto das Práticas Integrativas Complementares (PICs) na reabilitação psicossocial de pessoas com transtornos mentais e comportamentais revela uma diversidade de abordagens e níveis de eficácia. Ao analisar os estudos incluídos, é possível identificar tanto potenciais benefícios quanto limitações associadas ao uso dessas práticas.

No estudo de Jeremy Y Ng e Arquiteto Jain (2022), foram observadas 11 PICs para tratar a ansiedade, com ênfase na clareza, escopo, independência editorial e envolvimento das partes interessadas. No entanto, esse estudo não detalha a eficácia específica das PICs em termos quantitativos, sugerindo que a aplicabilidade ainda carece de mais evidências robustas​. Já no estudo de Fei-Yi Zhao e Geraldo Kennedy (2023), que avaliou 10 diretrizes clínicas sobre TAG, embora algumas modalidades de medicina complementar, como o relaxamento aplicado, tenham sido incluídas, as recomendações específicas para outras práticas foram classificadas como pouco claras ou incertas​.  Essa falta de clareza nas recomendações indica a necessidade de estudos com maior rigor metodológico para validar o uso de tais práticas no tratamento da ansiedade.

5.2. Depressão

No contexto da depressão, há uma maior quantidade de estudos que demonstram a eficácia das PICs, especialmente quando combinadas com intervenções tradicionais. No estudo de Xinyu Zhou e Teng Teng (2020), foi demonstrado que a combinação de Fluoxetina com Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é mais eficaz do que a TCC ou a Fluoxetina isoladas. Além disso, o uso da acupuntura como adjuvante à medicação antidepressiva mostrou-se significativamente eficaz na redução da gravidade da depressão​. Esses achados são consistentes com os resultados de Mike Armadura e Caroline A Soares (2019), que confirmaram a redução significativa dos sintomas de depressão com o uso de acupuntura. Isso sugere que a combinação de práticas integrativas com tratamentos farmacológicos pode potencializar os resultados no manejo da depressão.

Por outro lado, Jeremy Y Ng e Zainib Nazir (2020) apontaram que, entre as 931 diretrizes avaliadas, apenas 19 mencionaram CAM (Complementary and Alternative Medicine, ou Medicina Alternativa e Complementar), e as avaliações de qualidade variaram significativamente, com baixa aplicabilidade (254%) e rigor de desenvolvimento (520%) para CAM​. Esses dados reforçam a necessidade de mais estudos de alta qualidade para que a medicina complementar possa ser amplamente recomendada.

5.3. Insônia

A insônia, um dos distúrbios do sono mais comuns, afeta uma grande parcela da população, causando dificuldades para iniciar ou manter o sono, o que leva a uma piora na qualidade de vida e no bem-estar geral. Nesse contexto, as Práticas Integrativas Complementares (PICs) surgem como uma alternativa ou complemento aos tratamentos convencionais, oferecendo abordagens menos invasivas e com menor risco de efeitos colaterais. Estudos como o de Fei-Yi Zhao e Peijie Xu indicam que modalidades como a acupuntura, o Tai Chi, a yoga e a auriculoterapia são frequentemente utilizadas como tratamentos complementares para a insônia. No entanto, as evidências sobre a eficácia dessas práticas ainda são limitadas e, em muitos casos, as recomendações são pouco claras ou conflitantes, como no caso de fitoterápicos como a valeriana e a camomila, que não foram recomendados devido ao perfil de risco e aos benefícios limitados​.

Apesar das incertezas, algumas PICs têm mostrado resultados promissores. A acupuntura, por exemplo, quando combinada com tratamentos convencionais, demonstrou eficácia na redução dos sintomas de insônia em alguns estudos. No entanto, a maior parte das recomendações para essas práticas integrativas ainda carece de uma base científica sólida que valide sua eficácia de maneira generalizada. A inclusão dessas práticas nos tratamentos clínicos para insônia deve, portanto, ser acompanhada de cautela, e é essencial que mais estudos de alta qualidade sejam conduzidos para confirmar os benefícios e a segurança dessas abordagens​.

Para o tratamento da insônia, o estudo de Fei-Yi Zhao e Peijie Xu destaca a inclusão de 17 diretrizes clínicas, das quais 14 apresentaram qualidade metodológica moderada a alta. No entanto, as recomendações para o uso de PICs, como a fitoterapia e a homeopatia, foram consideradas pouco claras ou conflitantes. O estudo desaconselhou o uso de fitoterápicos, como valeriana e camomila, devido ao perfil de risco e benefícios limitados​. Esse resultado sugere que, embora as PICs sejam amplamente utilizadas, ainda há incertezas quanto à sua eficácia para distúrbios como a insônia.

5.4. Massoterapia no. Pré-natal

Em relação ao uso da massoterapia para tratar ansiedade e depressão em mulheres grávidas, o estudo de Salão H G e R Cant (2020) apresentou resultados promissores, sugerindo que essa abordagem pode reduzir os níveis de ansiedade e sintomas depressivos durante o pré-natal. No entanto, os autores destacam a necessidade de mais pesquisas para confirmar a segurança e eficácia dessa prática antes que recomendações formais possam ser feitas​. Isso ilustra a prudência necessária ao recomendar PICs para populações vulneráveis, como gestantes.

5.5. Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT)

Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) é uma condição mental grave que pode se desenvolver após a exposição a eventos traumáticos, como acidentes, desastres naturais ou violência. Pacientes com TEPT frequentemente experimentam flashbacks, pesadelos e uma intensa ansiedade, tornando a busca por tratamentos eficazes uma prioridade. As Práticas Integrativas Complementares (PICs) têm sido exploradas como opções terapêuticas para o manejo dos sintomas de TEPT, especialmente em conjunto com tratamentos convencionais. Práticas como meditação, yoga, acupuntura e arteterapia são frequentemente citadas como potenciais intervenções que podem ajudar a reduzir a hiperexcitação e os estados de ansiedade intensa associados ao transtorno. No entanto, o estudo de Kai Canção et al. (2020) aponta que, embora algumas dessas práticas tenham mostrado potencial, ainda é necessário reunir mais evidências científicas robustas para solidificar seu uso no tratamento do TEPT​.

Ainda que as PICs ofereçam uma abordagem promissora para o alívio dos sintomas de TEPT, a falta de consenso em relação à sua eficácia limita seu uso clínico de forma generalizada. Algumas modalidades, como a meditação e a acupuntura, têm mostrado resultados positivos em estudos preliminares, sugerindo que podem ser eficazes em reduzir sintomas como a ansiedade e a insônia, que frequentemente acompanham o TEPT. Contudo, como a pesquisa ainda está em fases iniciais e muitas diretrizes carecem de clareza, é fundamental que essas práticas sejam utilizadas de forma complementar a tratamentos convencionais, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a farmacoterapia. O uso de PICs, portanto, deve ser realizado com cautela, e a necessidade de estudos mais robustos permanece essencial para validar o impacto dessas intervenções no tratamento do TEPT​.

Para o tratamento de TEPT, o estudo de Kai Canção et al. (2020) sugere que as PICs, especialmente as práticas baseadas em medicina complementar, podem oferecer abordagens terapêuticas viáveis. No entanto, são necessários mais dados para solidificar essas recomendações e entender quais terapias específicas oferecem os melhores resultados​.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Práticas Integrativas Complementares (PICs) têm emergido como uma alternativa relevante no tratamento de transtornos mentais e do comportamento, sendo frequentemente utilizadas em conjunto com abordagens tradicionais de cuidado, como psicoterapia e medicamentos. Nos últimos anos, o aumento do interesse por essas práticas reflete a necessidade de intervenções menos invasivas e com menor risco de efeitos colaterais. Abordagens como acupuntura, meditação, yoga, fitoterapia e massoterapia têm sido amplamente estudadas e aplicadas em contextos clínicos e comunitários. Embora algumas dessas práticas tenham apresentado resultados promissores, a evidência científica ainda é limitada em termos de rigor metodológico, e as recomendações para seu uso no tratamento de condições como ansiedade, depressão e insônia nem sempre são claras.

No caso de transtornos de ansiedade, as PICs oferecem um potencial de redução dos sintomas sem o uso exclusivo de medicamentos, que muitas vezes apresentam efeitos colaterais. A meditação, por exemplo, tem sido amplamente reconhecida por sua capacidade de promover o relaxamento e reduzir a hiperexcitação, que é comum em pessoas com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Além disso, práticas mente-corpo, como o yoga e o Tai Chi, mostram uma relação positiva com a regulação emocional e a redução dos níveis de estresse. No entanto, muitos dos estudos sobre essas práticas carecem de controle rigoroso, e as diretrizes clínicas frequentemente apresentam recomendações conflitantes, sugerindo que ainda há um caminho a percorrer para que essas abordagens sejam amplamente aceitas como tratamento de primeira linha.

A depressão, um dos transtornos mentais mais prevalentes globalmente, também tem sido alvo de estudos envolvendo PICs. A acupuntura, por exemplo, demonstrou eficácia em ensaios clínicos como um complemento à medicação antidepressiva, ajudando a reduzir a gravidade dos sintomas depressivos. Outras práticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) combinada com abordagens de medicina complementar, também têm se mostrado eficazes, potencializando os efeitos do tratamento. No entanto, como evidenciado por estudos de Jeremy Y Ng e Zainib Nazir (2020), as diretrizes que abordam a medicina complementar e alternativa para o tratamento da depressão apresentam variações significativas em termos de qualidade e clareza, destacando a necessidade de mais pesquisas para garantir que essas práticas sejam usadas de maneira segura e eficaz​.

No que diz respeito ao Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT), as PICs, como a meditação, a yoga e a acupuntura, são frequentemente indicadas como estratégias complementares para lidar com sintomas como flashbacks e hiperexcitação. Essas práticas visam proporcionar uma maior autoconsciência e controle sobre as respostas emocionais, ajudando os pacientes a lidar melhor com os gatilhos traumáticos. Embora algumas evidências sugiram que essas intervenções podem ser eficazes, os estudos disponíveis ainda são inconclusivos em termos de seu impacto a longo prazo. Para garantir que as PICs sejam utilizadas de maneira ética e eficaz no tratamento do TEPT, mais ensaios clínicos com amostras maiores e controles rigorosos são necessários.

Por fim, é importante refletir sobre o papel que as PICs desempenham no contexto dos transtornos mentais. Essas práticas oferecem uma abordagem holística ao cuidado, considerando o paciente em sua totalidade — corpo, mente e espírito — e promovendo a ideia de que o tratamento da saúde mental pode ir além da farmacologia. No entanto, a implementação dessas práticas na clínica ainda enfrenta desafios significativos. A falta de consenso nas diretrizes e a escassez de pesquisas robustas impedem que as PICs sejam universalmente recomendadas. Portanto, é essencial que essas práticas sejam sempre integradas ao tratamento convencional de maneira cautelosa e supervisionada, para garantir a segurança dos pacientes e maximizar os benefícios potenciais.

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1Graduando do Curso Enfermagem, do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: hitalogeore13@gmail.com.

2Graduanda do Curso Enfermagem, do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: luapereira98@gmail.com.

3Graduanda do Curso Enfermagem, do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: mariaclara.farias190@gmail.com

4Professor do Curso de Enfermagem, do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. E-mail: joao.barbosa@uniceplac.edu.br