REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411061443
Jordânia Souza Lins de Vasconcelos; Analicy Silva Souza; Camila Lopes Franklin Bezerra; Lóide Ferreira Miranda; Maria Eduarda Silva de Aguiar; Marianne Adelina Seixas de França Lavor; Tiago Miranda Nunes; Orientador: Matheus Gurgel Saraiva.
RESUMO
INTRODUÇÃO: A cefaleia migrânea é um problema neurológico, variando na forma e intensidade, sendo um fator disruptivo na vida dos afetados. OBJETIVO: Apresentar os principais tratamentos farmacológicos profiláticos para a migrânea, avaliando seus efeitos e segurança em comparação a outros tratamentos. MÉTODOS: A busca foi realizada por meio da BVS, nas bases MEDLINE e LILACS, utilizando estudos dos últimos 5 anos e com texto completo disponível nos idiomas inglês e português. Dos 200 artigos inicialmente avaliados, foram selecionados 61 para compor o corpus final do estudo. RESULTADOS: Foram encontrados 32 tratamentos disponíveis para profilaxia da migrânea, em destaque os anticorpos monoclonais do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, que reduzem a frequência, duração e intensidade das crises de migrânea, havendo uma melhora comparativa em relação às terapias convencionais. Medicamentos como betabloqueadores, antagonistas da angiotensina II, antiepilépticos e a onabotulinumtoxinA também demonstraram eficácia em obter respostas positivas ao tratamento da enxaqueca. CONCLUSÕES: As evidências sugerem que, devido às múltiplas abordagens terapêuticas para a migrânea, é necessário um tratamento personalizado, considerando a resposta individual à intervenção e o risco de danos no plano de cuidado.
Palavras-chave: Cefaleia Enxaquecosa; Fármacos; Profilaxia.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Migraine headache is a neurological problem, varying in form and intensity, being a disruptive factor in the lives of those affected. OBJECTIVE: To present the main prophylactic pharmacological treatments for migraine, evaluating their effects and safety in comparison to other treatments. METHODS: The search was carried out through the VHL in the MEDLINE and LILACS databases, using studies from the last 5 years and with full text available in English and Portuguese. Of the 200 articles initially evaluated, 61 were selected to compose the final corpus of the study. RESULTS: 32 treatments were found available for migraine prophylaxis, with emphasis on monoclonal antibodies to the peptide related to the calcitonin gene, which reduce the frequency, duration and intensity of migraine attacks, providing a comparative improvement in relation to conventional therapies. Medications such as beta-blockers, angiotensin II antagonists, antiepileptics and onabotulinumtoxinA have also demonstrated efficacy in obtaining positive responses to migraine treatment. CONCLUSION: Evidence suggests that, due to the multiple therapeutic approaches to migraine, personalized treatment is necessary, considering the individual response to the intervention and the risk of damage in the care plan.
Keywords: Migraine Headache; Drugs; Prophylaxis.
INTRODUÇÃO
De acordo com BENTIVEGNA et al., (2024)¹a cefaleia migrânea, denominada enxaqueca, representa o distúrbio neurológico mais comum e é caracterizada por ataques recorrentes de dor de cabeça de intensidade moderada a grave. Sendo caracterizada por uma doença com enorme impacto social, econômico e ocupacional, apresentando crises recorrentes de cefaleia de intensidade moderada a grave acompanhadas de alguns sintomas característicos, como fotofobia, fonofobia e náusea.
Dessa forma, conforme PALACIOS-CEÑA et al., (2023)², vale destacar que a enxaqueca possui uma prevalência geral de cerca de 2%, sendo considerada a principal causa da dor de cabeça crônica diária. Além disso, é importante ressaltar que os fatores de risco para a migrânea são mulheres, alta frequência de cefaleia basal, depressão, uso de alta frequência ou uso excessivo de analgésicos agudos e baixo nível socioeconômico.
Portanto, seguindo as palavras de LAMPL et al., (2023)³, os pacientes que sofrem com migrânea precisam de medicamentos profiláticos para reduzir a carga de enxaqueca, seja em casos para diminuir a ocorrência das crises e/ou a necessidade de analgésicos.
Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo elaborar uma apresentação dos diversos medicamentos encontrados na íntegra que demonstraram eficácia e segurança para o manejo farmacológico e profilático de doentes com quadro de cefaléia migrânea, popularmente conhecida como enxaqueca.
METODOLOGIA
Esta análise foi realizada com base nos princípios da revisão integrativa da literatura, seguindo os 6 passos indicados pelo autor SOUZA et al., (2010)4., o qual sugere uma divisão de tópicos em: 1) Elaboração da pergunta norteadora, 2) Busca ou amostragem na literatura, 3) Coleta de dados, 4) Análise crítica dos estudos incluídos, 5) Discussão dos resultados, 6) Apresentação da revisão integrativa. Portanto, com base nas orientações, elaboramos uma pergunta norteadora da revisão: “Entre os pacientes diagnosticados com migrânea, quais medicamentos demonstraram maior eficácia e segurança no tratamento profilático farmacológico da condição?”, como também uma pergunta visando facilitar a identificação dos artigos coerentes com o nosso tema, o qual foi “Quais medicamentos apresentam a maior eficácia e segurança no tratamento farmacológico da migrânea, em comparação com placebo ou outros medicamentos ativos, para reduzir significativamente a frequência, duração e intensidade das crises de migrânea, melhorando a qualidade de vida e minimizando os efeitos adversos, de acordo com os estudos?”
A busca foi realizada pela Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os Descritores em Ciência da Saúde (DeCs): “Migraine Disorders” AND “Prophylactic” AND “Drug Therapy”. Além disso, utilizamos na pesquisa os filtros de idioma (inglês e português), período de tempo nos últimos cinco anos (2019-2024), texto completo disponível e selecionamos as bases Medical Literature Analysis (MEDLINE) e Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Após isso, os artigos foram selecionados com base em uma busca criteriosa pelas informações mais relevantes que se adequem ao tema, feita a partir da formulação de uma tabela com sete colunas: (a) procedência, (b) título do artigo, (c) autores, (d) periódico (volume, número, página e ano), (e) tipo de estudo, (f) incluído ou não, (g) resultados. Sete revisores realizaram de forma independente a seleção inicial dos trabalhos encontrados incluindo-os na tabela citada, visando garantir uma justificativa clara para cada decisão de inclusão ou exclusão, garantindo a transparência e replicabilidade do processo. Seguindo essa triagem, dois revisores realizaram outra seleção filtrando as informações encontradas na revisão inicial, avaliando criticamente a qualidade metodológica dos estudos incluídos na revisão, incluindo a avaliação do risco de viés e com base nos critérios de exclusão: (a) fuga ao tema, (b) indisponibilidade na íntegra e (c) duplicados.
RESULTADOS
Com base na literatura pesquisada e metodologia escolhida, foram encontrados 200 estudos, posteriormente utilizou-se o fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), com o objetivo de identificar, analisar, eleger e incluir os artigos relevantes para o estudo. Portanto, realizou-se uma seleção rigorosa com base nos critérios de inclusão e exclusão, nos quais foram eliminados 51 artigos por motivo de texto completo indisponível, 87 artigos por fuga ao tema e 1 artigo por duplicidade, totalizando um corpus final de 61 artigos incluídos no trabalho, sendo representado no fluxograma (Figura 1).
Na pesquisa realizada, diversas medicações foram encontradas na íntegra para o tratamento profilático farmacológico da cefaleia migrânea, dentre elas, temos: Ácido Eicosapentaenóico (EPA) e Ácido Docosahexaenóico (DHA); Onabotulinumtoxin-A (ONABoNTA); Anticorpos Monoclonais (mAbs) do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), contra CGRP (CGRP-mAb) (eptinezuma, fremanezumab e galcanezumab) ou o seu receptor (CGRP-R-mAb) (erenumab); Topiramato; Flunarizina; Amitriptilina; L-arginina e AGE; Candesartan; Melatonina; Levetiracetam; Coenzima Q10; Venlafaxina; Atogepant; Sumatriptano; L-camitina; Valproato de Sódio; Yokukansan; Propranolol; Infusão de Cetamina; Lidocaína Intravenosa; Metilprednisolona Intravenosa; Antagonistas de Angiotensina II; Antiepilépticos; Betabloqueador; Vitamina D3; Antagonistas do receptor CGRP, sendo Rimegepant e Atogepant; Neuroestimulação supraorbital transcutânea; Gengibre.
No gráfico abaixo (Figura 2) foram inseridas as porcentagens de cada medicação que teve seu uso e eficácia comprovada para a profilaxia medicamentosa da enxaqueca, sendo defendida pelos estudos analisados, não diferenciando-as entre os tipos crônica ou episódica. Além disso, é válido salientar que diversos artigos abordaram o uso e comprovaram a eficácia de mais de uma medicação.
DISCUSSÃO
Diante dos diferentes medicamentos defendidos para o tratamento farmacológico como profilaxia da enxaqueca migrânea (EM), 37,6% dos estudos demonstram a eficácia do uso de Anticorpos Monoclonais (mAbs) do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) no geral (eptinezumabe, galcanezumabe, fremanezumabe, erenumabe), sendo destes, 13,8% tratando especificamente do Enerumabe e 5% sobre o Galcanezumab. Esses anticorpos são indicados para a profilaxia da enxaqueca em adultos que apresentam pelo menos quatro dias de enxaqueca por mês e se apresentam como uma promissora opção terapêutica nova no tratamento profilático da migrânea, com menos efeitos colaterais comparado com os profiláticos convencionais, tendo resultados positivos em relação ao placebo, e demonstraram ser eficazes no tratamento de EM (nível de recomendação A) (MOTOLA et al., 20225; WURTHMANN et al., 20206; MELHADO et al., 20227).
O uso dos CGRP-mAb apresentaram redução nos dias de enxaqueca, uma boa taxa de resposta (pelo menos 50% de redução nos dias de enxaqueca), redução no uso de medicamentos para ataques agudos e um bom perfil de segurança (BENTIVEGNA et al., 2024)¹. Além disso, mostraram segurança e tolerabilidade a longo prazo durante um intervalo de tratamento de até 12 meses na coorte de pacientes com enxaqueca resistente a medicamentos e parecem ter menos ou nenhum efeito secundário em comparação com Ergots, Triptanos ou mesmo os tratamentos profiláticos clássicos existentes, sendo seguros mesmo a longo prazo no caso do Erenumab (SCHENK et al., 20228; RIVERA-MANCILLA et al., 20209).
Em relação ao uso do Galcanezumabe, foi considerado um tratamento seguro e eficaz para pacientes adultos não apenas para a enxaqueca crônica, mas também episódica. O Fremanezumabe também foi eficaz na profilaxia da enxaqueca crônica e episódica, resultando em menor frequência de dor de cabeça do que o placebo. Além disso, esta medicação não foi associada à toxicidade hepática ou interações medicamentosas (LIONETTO et al., 2019)10. O Erenumabe é uma opção terapêutica segura e eficaz em pacientes com enxaqueca crônica, particularmente em pacientes que tiveram falha no tratamento com diversas classes de medicamentos (MAHOVIC et al., 2022)11.
O uso do Erenumabe em pacientes com enxaqueca altamente refratários à terapia tradicional, mostrou-se como opção terapêutica promissora reduzindo consideravelmente os dias mensais de dor de cabeça e o uso de medicamentos agudos, bem como a melhora dos escores de deficiência física e de atividades cotidianas. (SCHEFFLER et al., 202012; STORCH et al., 202213; KOCH et al., 202114). Foi verificada uma alta taxa de resposta ao Erenumabe na dose de 140 mg em uma população resistente ao tratamento, com alta prevalência de uso excessivo de medicamentos e alta carga de dor de cabeça. Esta resposta foi independente de falhas de tratamento anteriores e uso excessivo de medicamentos (LOWE, 2022)15.
Um estudo canadense verificou que, quando administrado em pacientes com enxaqueca, que experimentaram terapia profilática repetida e ineficaz para enxaqueca, o tratamento com Erenumabe resultou em redução ≥50% dos dias mensais de enxaqueca em 33,7% dos participantes (BECKER et al., 2022)16. Conforme Troy et al. (2023)17, entre 177 pacientes que iniciaram o tratamento com Erenumabe, 61,6% dos pacientes relataram melhora clinicamente significativa após 6–12 meses e desejavam continuar o tratamento. Nesse contexto, Straube et al. (2022)18 afirma que o tratamento com este anticorpo levou a uma redução relevante na intensidade da dor de cabeça em 77% da população e a uma melhoria da qualidade de vida relevante para o paciente em 76%.
O Galcanezumab apresentou uma diminuição na frequência (80,0%), gravidade (85,7%) e uso agudo de medicação para crises de enxaqueca (71,4%) (DIKMEN et al., 2023)19. De acordo com Ashina et al., (2023)20 após 3 meses de tratamento com este mAbs, a incidência de sintomas premonitórios que foram seguidos de cefaleia, a incidência de aura visual e sensorial seguida de dor de cabeça e o número de desencadeantes seguidos de dor de cabeça diminuíram. No entanto, números mais elevados de medicação preventiva anterior estão associados a uma resposta fraca ao Galcanezumab (KIM et al., 2023)21. Além disso, a presença/ausência de alodínia não ictal foi associada à identificação dos respondedores ao Galcanezumabe com quase 80% de precisão e os não respondedores com quase 85% de precisão (ASHINA et al., 2023)20. Assim, devido à sua excelente tolerabilidade e facilidade de utilização, o principal valor acrescentado dos mAbs CGRP, em comparação com os medicamentos preventivos clássicos anti-enxaqueca, parece, portanto, ser a sua elevada eficácia sem precedentes em relação ao perfil de efeitos adversos (VANDERVORST et al., 2021)22.
Evers et al. (2022)23,trazem um estudo sobre o levetiracetam, onde concluiu-se que os pacientescom enxaqueca que não são gravemente afetados e os pacientes com enxaqueca com aura se beneficiam mais do tratamento profilático com levetiracetam, apesar de tomar em conta o fato de que a redução média da frequência das crises de enxaqueca tenha sido abaixo da esperada – mas ainda dentro da faixa de taxas de resposta conhecidas em estudos de profilaxia da enxaqueca controlados por placebo, por isso não apoia a hipótese de que o levetiracetam seja de melhor eficácia do que os medicamentos profiláticos da enxaqueca aprovados.
Sobre a amitriptilina, abordada em 2,5% dos estudos presentes nesse artigo, Lampl et al. (2023)3, citam-na como um medicamento que reduz em 50% ou mais os dias mensais de enxaqueca, podendo continuar sendo um medicamento de primeira escolha para alguns pacientes que se beneficiem de forma individual do seu efeito. Todavia, deixam claro que não há embasamento científico para a sua obrigatoriedade como tratamento de primeira linha para prevenção da enxaqueca. No que diz respeito às reações adversas a medicamentos, os pacientes do grupo Amitriplina queixaram-se mais de reações adversas a medicamentos do que os pacientes do grupo Venlafaxina (HEDAYAT et al., 2022)24.
Entre os artigos selecionados, 5% trazem uma análise sobre o uso dos antagonistas do receptor CGRP. Dentre eles, TAO et al. (2022)25, cita o atogepant com uma eficácia vantajosa no tratamento da enxaqueca em relação a todas as medidas, desde o início até o final dos ensaios. A sua segurança também foi validada por comparação com o placebo. Não houve diferenças significativas nos resultados de eventos adversos entre o atogepant e o placebo. No mesmo sentido, Edvinsson (2022)26, assevera que os antagonistas dos receptores CGRP, como atogepant, rimegepant e ubrogepant, são eficazes no alívio agudo das crises de enxaqueca e também podem ser úteis como profiláticos. Para corroborar com essa linha de raciocínio, tanto os estudos promovidos por Rivera-mancilla et al. (2020)9, como os descritos por Ducros et al. (2021)27, reiteram a eficácia dessa classe no tratamento da enxaqueca.
A melatonina mostrou um papel profilático benéfico na enxaqueca, com uma melhor taxa de resposta em comparação ao placebo na redução da gravidade da enxaqueca, duração média dos ataques, frequência média dos ataques e uso de analgésicos, mas não mostrou efeitos significativos em comparação com amitriptilina ou valproato (PULIAPPADAMB et al., 2022)28. Com relação ao sumatriptano, estudado por 1,3% dos artigos, há resultados favoráveis em termos de eficácia e segurança de novas formulações deste, DFN-02 (sumatriptano 10 mg com intensificador de permeação spray nasal) e DFN-11 (injeção de sumatriptano 3 mg), os quais são considerados alternativas úteis as suas formas convencionais para profilaxia da migrânea (YANG et al., 2021)29.
De forma geral, sobre o uso de medicamentos tradicionais, tais como betabloqueadores, antagonistas da angiotensina II ou antiepilépticos, Hansen et al. (2019)30, afirma que os mesmos são suficientes para prever uma resposta positiva ao tratamento da enxaqueca crônica. Por sua vez, Goetz et al. (2022)31, cita como sendo as principais classes de medicamentos preventivos orais para enxaqueca, os anticonvulsivantes, anti-hipertensivos, antidepressivos, gepantes e triptanos. Ainda, descreve os anticorpos monoclonais anti-CGRP: erenumabe, fremanezumabe, galcanezumabe e eptinezumabe como sendo bem tolerados e eficazes, alertando sobre as opções parenterais, que geralmente têm custos proibitivos sem cobertura de seguro. Coloca ainda a OnabotulinumtoxinA (Botox) como sendo uma opção eficaz para enxaqueca crônica. Ainda sobre o uso de medicamentos tradicionais, Ducros et al. (2021)27, é mais um que aborda as evidências da eficácia dos anticorpos monoclonais antiCGRP, anti-receptor de CGRP e a toxina onabotulínica A no tratamento profilático eficaz da enxaqueca crônica.
Tseng et al. (2024)32, afirma que o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA) apresentam efeito promissor e superior comparado a outros medicamentos e ao placebo em relação à frequência, intensidade, aceitabilidade, e outros fatores envolvidos na enxaqueca aguda e crônica.
Charleston et al. (2021)33 afirma que a L-carnitina faz parte das novas terapias nutragênicas, como os suplementos mitocondriais sendo eficaz na prevenção de enxaqueca, e tratamento da cefaléia crônica. Com relação ao uso do gengibre, embora tenham estudos que demonstrem eficácia no tratamento profilático na redução da enxaqueca, Martins et al. (2020)34 concluiu que o gengibre tem resposta semelhante ao placebo no que diz respeito à diminuição e frequência das crises de cefaleia migrânea. Entretanto, diminui a intensidade da dor quando usado para crises episódicas.
A Toxina Onabotulínica tipo A, teve sua eficácia defendida em 16,3% dos artigos analisados neste estudo. Esta medicação demonstrou ser eficaz na profilaxia da enxaqueca, atuando pelo bloqueio da transmissão da dor. Foi considerada útil em pacientes que não respondem a medicamentos profiláticos comuns, sendo atualmente utilizada como opção de tratamento por muitos profissionais (YAMANI; OLESEN, 2019)35. Em ambiente de clínica médica, a BoNT/A intramuscular é mais benéfica que a medicação oral de topiramato e que o placebo (BRULOY et al., 2019)36. Todavia, mesmo sendo bem tolerada e segura, alguns pacientes ainda podem apresentar um desgaste de resposta ao OnabotA no primeiro ciclo utilizado (QUINTAS et al., 2019)37. Ainda assim, esta toxina continua sendo um dos melhores medicamentos para enxaqueca, não apenas diminuindo frequência, intensidade e duração, como melhorando a qualidade de vida desses pacientes (PALACIOS-CEÑA et al., 20232; KEPCZYNSKA; DOMITRZ, 202238).
Dakhale et al., 201939, fez um estudo comparativo do Propanolol com o Valproato de sódio em doses baixas, tendo sido obtidos resultados iguais na resposta no que diz respeito à frequência e duração das crises de enxaqueca, porém em relação à gravidade há maior eficácia com uso do Propranolol. A análise também se estendeu aos efeitos adversos de ambos os medicamentos e a comparação com outros fármacos pela literatura de outros autores, dentre esses sintomas adversos, se encontram a sonolência, vertigem, ganho de peso, que foram maiores com o valproato de sódio, mas não resultaram na sua descontinuação.
O Yokukansan é uma medicação tradicional do Japão, abordada em apenas 1,3% dos estudos, que reduziu com sucesso a frequência e gravidade da enxaqueca crônica refratária a diversos medicamentos, sendo esses: anti-hipertensivos, fluoxetina, duloxetina, valproato de sódio, cloridrato de lomerizina e aos Kampo ocidentais, como Goshuyuto e Chotosan, sendo esse mais eficaz no tratamento de neuralgia occipital, enxaqueca e outros tipos de dores de cabeça (AKIYAMA; HASEGAWA, 2019)40.
O Candesartan teve sua eficácia defendida em 2,5% dos estudos, sendo considerado como superior ao placebo e ao Propanolol de ação lenta na profilaxia da migrânea, pelos ensaios duplo-cego e randomizados, considerando o número médio de dias com cefaleia dos pacientes estudados (RUSSO et al., 2022)41. Entre os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e os bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA), há consenso de que o candesartan é uma boa opção para o tratamento preventivo do EM (recomendação grau A) (SANTOS et al., 2022)42. No mesmo sentido, a coenzima Q10 mostrou eficácia na redução, frequência, duração e gravidade das crises de enxaqueca de acordo com os 2,5% dos artigos estudados. Yaghini (2022)43, comparou a CoQ10 com a amitriptilina, mostrando maior efeito benéfico, principalmente a longo prazo, exceto em velocidade de resposta, até três meses. Além disso, foi evidenciada uma melhoria significativa na frequência, gravidade e duração das crises de enxaqueca no grupo de pacientes que fez uso de CoQ10 em comparação com o placebo (DAHRI et al., 2019)44.
O Topiramato, abordado em 2,5% dos artigos, apresenta aos pacientes com enxaqueca crônica uma chance 61% maior de alcançar uma taxa de resposta de 50% em comparação com o placebo. No entanto, o topiramato tem um risco aumentado de eventos adversos, limitando sua utilização clínica devido à baixa tolerabilidade (RAFFAELLI et al., 2023)45. HU et al. (2021)46, evidenciou uma redução notável na frequência da enxaqueca após um período de 16 semanas de frequência no grupo que utilizou o topiramato em relação ao placebo. Quanto a relação da profilaxia da migrânea com uso de vitaminas, obteve-se que pacientes em uso de vitamina D3 apresentaram redução significativa na frequência da enxaqueca em comparação com o placebo. Entretanto, a gravidade da enxaqueca, os limiares de dor à pressão ou a soma temporal não mostraram uma mudança significativa (GAZERANI et al., 2019)47.
De forma geral, não há evidências suficientes para indicar o uso de citalopram, escitalopram, fluoxetina, sertralina, fluvoxamina, paroxetina ou mirtazapina para prevenção da enxaqueca. Há consenso quanto à eficácia da flunarizina e sua indicação no tratamento profilático da enxaqueca, levando-se em consideração as contra indicações absolutas e relativas. Por sua vez, a varfarina é possivelmente eficaz na profilaxia do EM, especialmente em pacientes com enxaqueca com aura. Há uma concordância de que, devido à relação riscobenefício, a varfarina não deve ser utilizada na profilaxia da enxaqueca (SANTOS et al., 2022)42. A flunarizina pode ser uma opção benéfica para a profilaxia em pacientes com enxaqueca e doenças cardiovasculares, como arritmias, devido aos seus efeitos inibitórios sobre a contração do músculo liso vascular relacionada ao cálcio (DELIGIANNI et al., 2023)48.
CONCLUSÃO
Por fim, a revisão integrativa de literatura aqui apresentada nos traz o entendimento de que o tratamento profilático farmacológico da migrânea impacta sobremaneira na qualidade de vida e saúde – levando em consideração, conforme o conceito vislumbrado pela OMS, os aspectos físico, mental e social, de pacientes que sofrem com esta condição debilitante.
O artigo demonstra uma vasta disponibilidade de opções terapêuticas, cada uma com seus benefícios e especificidades. Dentre os medicamentos citados, destacam-se os Anticorpos Monoclonais (mAbs) do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), que são vistos como uma opção promissora, podendo citar o eptinezumabe, fremanezumabe, galcanezumabe e erenumabe. Entre os seus principais benefícios, podemos mencionar a redução da frequência, duração e intensidade das crises de migrânea, preponderando sobre o placebo e outros tratamentos profiláticos tradicionais. Além disso, foi constatado que estão associados a menos efeitos adversos em comparação com as terapias convencionais, o que os torna uma opção tangível para pacientes com migrânea crônica ou refratária.
Outros medicamentos como Topiramato, Flunarizina, Amitriptilina, Levetiracetam e Candesartan foram revisados, além da inclusão de comparações entre diferentes classes de medicamentos, como foi o caso dos IECA e BRA. De forma geral, observa-se que cada um dos medicamentos estudados dispõem de vantagens e considerações quanto à eficácia e tolerabilidade. Outrossim, a diversidade de opções terapêuticas reflete a complexidade da condição da migrânea, evidenciando a importância da individualização do tratamento a partir de uma abordagem personalizada, baseada na tolerância aos medicamentos, na resposta individual do paciente, como também em fatores que impactam de forma deliberada à adesão medicamentosa, como as comorbidades associadas. Além disso, cumpre destacar a importância de um acompanhamento regular para ajustes terapêuticos conforme necessário.
No mais, o estudo realizado proporciona um panorama atualizado sobre as principais estratégias farmacológicas disponíveis para o tratamento profilático da migrânea. Ademais, cabe destacar, por fim, a necessidade contínua de estudos comparativos vislumbrando avanços e novas perspectivas em tratamentos ainda mais eficazes e melhor tolerados no futuro, possibilitando práticas clínicas baseadas, de fato, em evidências.
Figura 1. Fluxograma PRISMA 2020 representando a seleção dos estudos incluídos neste artigo
Fonte: Autoria própria
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