OS RISCOS ASSOCIADOS AO USO INDISCRIMINADO DE SIBUTRAMINA NA BUSCA PELO EMAGRECIMENTO RÁPIDO

THE RISKS ASSOCIATED WITH THE INDISCRIMINAL USE OF SIBUTRAMINE IN THE SEARCH FOR RAPID WEIGHT LOSS

LOS RIESGOS ASOCIADOS AL USO INDISCRIMINADO DE SIBUTRAMINA EN LA BÚSQUEDA DE LA PÉRDIDA RÁPIDA DE PESO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411061317


Hermínio Oliveira Medeiros1
Hatus Kenupp Tarden2
Liliam Vieira3


RESUMO

Este trabalho teve como finalidade investigar os riscos associados ao uso indiscriminado da sibutramina, um medicamento utilizado para a perda de peso. O estudo visou explorar a eficácia da sibutramina, seus efeitos colaterais, contraindicações e a influência de fatores socioculturais e midiáticos na adesão ao tratamento. A pesquisa foi conduzida por meio de uma revisão bibliográfica abrangente, utilizando fontes acadêmicas e científicas para coletar informações sobre a obesidade, o funcionamento da sibutramina e suas implicações para a saúde. A análise incluiu a avaliação dos padrões de uso do medicamento, bem como as regulamentações existentes sobre sua prescrição e dispensação. Os resultados mostraram que, embora a sibutramina seja eficaz na indução da saciedade e na redução do peso, seu uso inadequado tem se tornado uma prática comum, principalmente entre indivíduos sem diagnóstico de obesidade. Essa tendência é impulsionada por pressões sociais e estéticas, exacerbadas por representações midiáticas de padrões de beleza. Os efeitos adversos identificados incluem taquicardia, hipertensão, ansiedade e risco de dependência, além de interações medicamentosas que podem agravar o estado de saúde dos usuários. A automedicação e o fácil acesso à sibutramina foram destacados como questões preocupantes. O estudo conclui que a utilização indiscriminada da sibutramina configura um grave problema de saúde pública, com potenciais consequências para a saúde individual e coletiva. Recomenda-se uma abordagem multidisciplinar no tratamento da obesidade, que combine intervenções farmacológicas com mudanças de estilo de vida. O papel do farmacêutico é fundamental para garantir o uso seguro da sibutramina, por meio de orientação adequada e acompanhamento médico, promovendo a conscientização sobre os riscos associados ao seu uso.

Descritores: Anorexígenos; automedicação; corpo perfeito; obesidade; uso racional de medicamentos.

ABSTRACT

This study aims to investigate the risks associated with the indiscriminate use of sibutramine, a medication used for weight loss. The study aims to explore the efficacy of sibutramine, its side effects, contraindications, and the influence of sociocultural and media factors on treatment adherence. The research was conducted through a comprehensive literature review, using academic and scientific sources to collect information on obesity, the functioning of sibutramine, and its health implications. The analysis included an assessment of the drug’s use patterns, as well as existing regulations on its prescription and dispensing. The results show that, although sibutramine is effective in inducing satiety and weight loss, its inappropriate use has become a common practice, especially among individuals without a diagnosis of obesity. This trend is driven by social and aesthetic pressures, exacerbated by media representations of beauty standards. The adverse effects identified include tachycardia, hypertension, anxiety, and risk of dependence, in addition to drug interactions that can worsen the health status of users. Self-medication and easy access to sibutramine were highlighted as issues of concern. The study concludes that the indiscriminate use of sibutramine constitutes a serious public health problem, with potential consequences for individual and collective health. A multidisciplinary approach to the treatment of obesity is recommended, combining pharmacological interventions with lifestyle changes. The role of the pharmacist is essential to ensure the safe use of sibutramine, through appropriate guidance and medical monitoring, promoting awareness of the risks associated with its use.

Descriptors: Anorectic; self-medication; perfect body; obesitye; rational use of medications.

RESUMEN

Este trabajo tiene como objetivo investigar los riesgos asociados al uso indiscriminado de sibutramina, un medicamento utilizado para bajar de peso. El estudio tiene como objetivo explorar la eficacia de la sibutramina, sus efectos secundarios, contraindicaciones y la influencia de factores socioculturales y mediáticos en la adherencia al tratamiento. La investigación se llevó a cabo mediante una revisión exhaustiva de la literatura, utilizando fuentes académicas y científicas para recopilar información sobre la obesidad, cómo funciona la sibutramina y sus implicaciones para la salud. El análisis incluyó la evaluación de los patrones de uso de medicamentos, así como de la normativa existente sobre su prescripción y dispensación. Los resultados muestran que, aunque la sibutramina es eficaz para inducir saciedad y reducir el peso, su uso inadecuado se ha convertido en una práctica común, especialmente entre personas sin diagnóstico de obesidad. Esta tendencia está impulsada por presiones sociales y estéticas, exacerbadas por las representaciones mediáticas de los estándares de belleza. Los efectos adversos identificados incluyen taquicardia, hipertensión, ansiedad y riesgo de dependencia, además de interacciones medicamentosas que pueden empeorar el estado de salud de los usuarios. Se destacaron como motivos de preocupación la automedicación y el fácil acceso a la sibutramina. El estudio concluye que el uso indiscriminado de sibutramina constituye un grave problema de salud pública, con potenciales consecuencias para la salud individual y colectiva. Se recomienda un enfoque multidisciplinario para el tratamiento de la obesidad, combinando intervenciones farmacológicas con cambios en el estilo de vida. El papel del farmacéutico es fundamental para garantizar el uso seguro de la sibutramina, a través de una adecuada orientación y seguimiento médico, promoviendo la conciencia sobre los riesgos asociados a su uso.

Descriptores: Anorexígenos; automedicación; cuerpo perfecto; obesidad; uso racional de medicamentos.

INTRODUÇÃO

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo de tecido gorduroso em partes específicas do corpo ou de forma generalizada, resultante de um desequilíbrio, ou seja, o peso excede o ideal para a altura. Isso pode causar danos à saúde, como problemas respiratórios, dermatológicos e distúrbios do aparelho locomotor, além de aumentar o risco de doenças potencialmente letais, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo II, dislipidemias e alguns tipos de câncer (DA SILVA, 2019).

Nos últimos anos, a busca pelo emagrecimento rápido tornou-se uma preocupação crescente entre diversas populações, influenciada tanto por padrões estéticos promovidos pela mídia quanto por preocupações legítimas com a saúde. Desse modo, em uma sociedade que valoriza a magreza, o excesso de peso pode gerar problemas emocionais, além de problemas físicos. Em certos casos, indivíduos com sobrepeso podem se sentir excluídos dos padrões “impostos” pela sociedade, o que pode levar ao desenvolvimento de ansiedade e depressão (BERNARD; CICHERELO; VITOLO 2011).

Na busca por resultados imediatos, o senso comum frequentemente considera os medicamentos inibidores de apetite como a melhor opção. O risco surge quando esses medicamentos são usados sem acompanhamento profissional e de forma indiscriminada, com base em autossugestão (ALVES et al., 2009. Nesse contexto, um dos medicamentos mais utilizados é a sibutramina, o qual age no Sistema Nervoso Central (SNC)  inibindo o apetite e gerando a sensação de saciedade.

A sibutramina é um inibidor da recaptação de noradrenalina e serotonina, aprovado para o controle de peso em pacientes que não conseguem emagrecer apenas com dieta e exercícios. Ela age promovendo a sensação de saciedade, o que leva à redução da ingestão alimentar, e aumentando o gasto energético. Originalmente desenvolvida como antidepressivo, a sibutramina mostrou, em estudos posteriores, efeitos significativos na perda de peso devido às suas propriedades sacietógenas e calorigênicas (JÚNIOR, 2020).

O uso indiscriminado da sibutramina representa um risco elevado para a saúde, especialmente em indivíduos com problemas cardíacos, pois pode resultar em eventos graves como derrame e infarto. Além disso, o medicamento pode causar uma série de efeitos colaterais, incluindo boca seca e com gosto amargo, náuseas, irritação estomacal, constipação, dificuldades para dormir, tonturas, dores menstruais, cefaleia, sonolência, alterações de humor e dores musculares e articulares (FRANCO, 2014). Nessa perspectiva, a atuação do farmacêutico é essencial para o controle da dispensação inadequada do medicamento e para a promoção de seu  uso racional.

A relevância deste estudo reside na necessidade de conscientizar a população e os profissionais de saúde sobre os perigos do uso não supervisionado desse medicamento. Além disso, o estudo buscou contribuir para a discussão sobre a regulamentação e o controle de sua prescrição e venda, dada a crescente prevalência de seu uso inadequado.

Este trabalho teve como objetivo principal investigar os riscos associados à utilização indiscriminada da sibutramina na busca pelo emagrecimento rápido. Para atingir esse objetivo, foram definidos os seguintes objetivos específicos: analisar os efeitos adversos da sibutramina, avaliar a frequência e circunstâncias do uso indiscriminado, identificar os perfis de usuários que utilizam sibutramina sem supervisão médica.

Esta revisão bibliográfica descritiva explicativa visou consolidar a literatura disponível sobre os riscos relacionados ao uso indiscriminado da sibutramina. Os artigos foram coletados em bases de dados como PubMed e Scielo, utilizando termos de busca como “sibutramina”, “riscos”, “efeitos colaterais” e “uso indiscriminado”. Foram considerados artigos publicados entre 2010 e 2023, revisados por pares e disponíveis em texto completo.

MÉTODO

Esta revisão bibliográfica descritiva explicativa teve como objetivo consolidar a literatura existente sobre os riscos associados ao uso indiscriminado da sibutramina.

A coleta de artigos foi realizada nas bases de dados acadêmicas PubMed, Scielo e Google Acadêmico. Utilizou-se termos de busca como “sibutramina”, “riscos”, “efeitos colaterais” e “uso indiscriminado”.  Os critérios de inclusão abrangeram artigos relevantes ao tema da revisão, estudos publicados em revistas científicas revisadas por pares, disponibilidade de texto completo e publicações no período de 2010 a 2023. Foram excluídos artigos sem dados empíricos significativos, estudos duplicados ou com dados irrelevantes, e publicações não disponíveis em texto completo.

Para garantir uma amostra representativa, os artigos que atendiam aos critérios de inclusão foram selecionados aleatoriamente utilizando um software de amostragem aleatória, assegurando a ausência de viés de seleção. Cada artigo selecionado foi lido na íntegra. As informações relevantes, como metodologia, resultados e conclusões, foram extraídas e organizadas em uma planilha para análise sistemática.

A análise descritiva e explicativa dos dados concentrou-se na identificação de padrões e tendências nos efeitos adversos reportados. Além disso, foram comparadas as conclusões dos diferentes estudos para proporcionar uma visão abrangente dos riscos associados ao uso indiscriminado de sibutramina.

RESULTADOS

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no corpo. Historicamente, ela foi frequentemente associada a uma suposta falta de caráter, autoindulgência ou distúrbios psicológicos dos indivíduos obesos (RADAELLI; PEDROSO; MEDEIROS, 2016; MARINI; SILVA; OLIVEIRA, 2014). Atualmente, a obesidade é considerada um fenômeno contemporâneo, refletindo mudanças nos hábitos familiares, como a falta de alimentação saudável e o aumento do sedentarismo (OLIVEIRA et al., 2016).

A obesidade é vista como uma condição multifatorial, influenciada por fatores genéticos, metabólicos e ambientais. Sua alta prevalência demanda a atenção de médicos, pesquisadores e outros profissionais das áreas social e sanitária (DUTRA; SOUZA; PEIXOTO, 2015).

A obesidade aumenta o risco de hipertensão, dislipidemias, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, apneia do sono, alguns tipos de câncer, cálculos biliares, doenças respiratórias, resistência à insulina e doenças osteoarticulares (FRANCO; COMINATO; DAMIANI, 2014; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2012; FORTES et al., 2006).

O diagnóstico da obesidade é um processo complexo que exige dois ou mais exames. O mais comum é a medição do Índice de Massa Corporal (IMC), embora este método seja criticado por não diferenciar entre massa gorda e massa magra, além de não mostrar a distribuição da gordura corporal. A obesidade geralmente é diagnosticada quando o excesso de gordura nos tecidos atinge níveis que podem representar grandes riscos para a saúde (MAGALHÃES; DINELLY; OLIVEIRA, 2016; DUTRA; SOUZA; PEIXOTO, 2015).

O IMC é calculado dividindo a massa corporal pelo quadrado da estatura. Um IMC entre 25 kg/m² e 29,9 kg/m² indica sobrepeso. Já um IMC de 30 kg/m² ou mais indica obesidade, sendo classificada como: obesidade moderada entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m²; obesidade severa entre 35 kg/m² e 39,9 kg/m²; e obesidade muito severa acima de 40 kg/m². (OLIVEIRA et al., 2016; RADAELLI; PEDROSO; MEDEIROS, 2016; COLOMBO; MORAIS, 2012).

O tratamento não farmacológico da obesidade inclui a prática de atividades físicas e mudanças nos hábitos alimentares, como comer devagar em ambientes tranquilos, evitar associar emoções aos alimentos, mastigar corretamente e fazer refeições saudáveis. Se essas práticas não resultarem em perda de peso, o tratamento farmacológico ou a cirurgia bariátrica são considerados (OLIVEIRA et al., 2016; RADAELLI, PEDROSO e MEDEIROS, 2016; MARINI, SILVA, OLIVEIRA, 2014; FORTES et al., 2006).

O tratamento farmacológico é recomendado quando o tratamento não farmacológico não é eficaz e quando existem fatores de risco. Também é indicado para pacientes com circunferência abdominal de 102 cm ou mais em homens e 88 cm ou mais em mulheres (MOREIRA, ALVES, 2015).

O sistema nervoso central exerce uma influência significativa no equilíbrio energético e no peso corporal por meio de três mecanismos principais: (1) afetando o comportamento, incluindo hábitos alimentares e níveis de atividade física; (2) estimulando o sistema nervoso autônomo, que regula o gasto energético e outros aspectos do metabolismo; e (3) impactando o sistema neuroendócrino, que abrange a secreção de hormônios como o hormônio do crescimento, hormônios da tireoide, cortisol, insulina e hormônios esteroides. Assim, diversos fatores interagem na regulação da ingestão alimentar e do armazenamento de energia, contribuindo para o desenvolvimento e a manutenção da obesidade, entre os quais se destacam fatores neuronais, endócrinos, adipocitários e intestinais (COSTA et al., 2002).

O tratamento medicamentoso da obesidade continua a gerar controvérsias e debates sobre sua segurança, eficácia e benefícios, tanto na população adulta quanto na pediátrica. Existem alternativas ao tratamento farmacológico, incluindo anoréxicos, sibutramina, orlistate, inibidores da recaptação de serotonina e a combinação de bupropiona com naltrexona. Cada uma dessas opções apresenta vantagens e desvantagens específicas (FERNANDES et al., 2024).

Atualmente, o principal desafio da indústria farmacêutica é criar e disponibilizar medicamentos mais seguros e eficazes para a perda de peso. Isso também requer que o farmacêutico seja mais rigoroso na dispensa desses medicamentos (OLIVEIRA et al., 2016).

A prescrição de medicamentos para a redução ou manutenção do peso deve ser feita com critérios rigorosos, para garantir sua eficácia no tratamento da obesidade. Esses critérios incluem: comprovar eficácia na redução de peso e na melhoria das comorbidades; ter efeitos colaterais que sejam temporários e toleráveis; não possuir propriedades que possam levar à dependência; demonstrar eficiência e segurança a longo prazo; e ter um custo razoável

(FORTES et al., 2006). Seguindo essa linha de raciocínio, nota -se que um dos medicamentos mais utilizados nesses casos é a sibutramina, porém, na maioria das vezes, os critérios anteriormente citados não são seguidos na prática.

Oliveira et al. (2016) enfatizam que o uso de fármacos anoréxicos deve ser acompanhado por mudanças nos hábitos alimentares, a adoção de uma dieta balanceada e a prática regular de exercícios. É igualmente importante verificar a eficácia e a segurança desses medicamentos para a saúde dos indivíduos, uma vez que podem apresentar efeitos colaterais que comprometem o bem-estar.

A Sibutramina tem sua eficácia terapêutica comprovada por diversos estudos clínicos desenvolvidos. Sua dosagem usual é de 10 ou 15 miligramas, sendo ingerida uma vez ao dia. O uso de sibutramina, em conjunto com modificações no estilo de vida, prática de atividades físicas, mudanças de atitudes, relacionamentos e hábitos alimentares, resultou em uma maior perda de peso. Isso demonstra a importância da prescrição de medicações para perda de peso como adjuvante no tratamento da obesidade (RADAELLI et.al, 2016).

De acordo com Dutra, Souza e Peixoto (2015), a sibutramina não atua no controle direto do apetite, mas acelera a sensação de saciedade. Dessa forma, os indivíduos que fazem uso desse medicamento tendem a ingerir menos alimentos, não pela ausência de fome, mas por atingirem a satisfação mais rapidamente. Ao proporcionar essa sensação de saciedade, a sibutramina ajuda a reduzir o padrão de alimentação excessiva que o usuário possuía antes, conduzindo-o a um comportamento alimentar mais adequado ao longo do tratamento (OLIVEIRA et al., 2016).

A sibutramina é rapidamente absorvida e passa por um metabolismo extensivo de primeira passagem. Esse processo de absorção ocorre no trato gastrointestinal, enquanto sua biotransformação acontece no fígado, sendo mediada pelas isoenzimas do citocromo P450, especialmente pela CYPB6. Durante essa transformação, são gerados os metabólitos monodesmetilsibutramina (M1) e didesmetilsibutramina (M2).(COSTA; DUARTE, 2017).

Considerando que este fármaco atua sobre o sistema nervoso central, ele é classificado como psicotrópico, e deve ser usado exclusivamente sob prescrição e acompanhamento médico, devido a seu potencial em gerar dependência em seus usuários. No Brasil, a comercialização de medicamentos psicotrópicos é regulamentada pela Portariadevido a  nº 344/1998 da ANVISA, que estabelece que medicamentos sujeitos a controle especial, incluindo fármacos anorexígenos da Lista B2, devem ser dispensados mediante apresentação de notificação de receita B (GONZAGA et al., 2015). Conforme a Portaria 344/98, as embalagens desses medicamentos devem conter uma tarja preta com as inscrições: “O abuso deste medicamento pode causar dependência” e “Venda sob prescrição médica” (OLIVEIRA; LAGES; ASSIS, 2013).

Segundo a RDC 52, a prescrição de sibutramina deve incluir um “Termo de Responsabilidade do Prescritor”. A venda é permitida mediante apresentação de receita médica, que é retida pelo estabelecimento. O termo de responsabilidade deve ser preenchido em três vias: uma via é arquivada no prontuário do paciente, outra fica arquivada na farmácia ou drogaria, e a última via permanece com o paciente (SANTOS; BELO, 2016).

Embora haja normas regulamentadoras para o uso de tal fármaco, sabe – se que seu uso por pessoas que não possuem sobrepeso ou que não apresentam alterações no IMC (Índice de Massa Corporal) tornou – se uma situação comum. Nesses casos, a utilização de sibutramina é estimulada por questões particulares e sociais. Os principais fatores motivadores são a adequação aos padrões estéticos preestabelecidos e a busca pelo corpo perfeito, o que torna o assunto alvo de discussões no âmbito da saúde pública e também das ciências sociais (OLIVEIRA et.al 2016).

DISCUSSÃO

Desse modo, o uso de sibutramina de forma inadequada torna -se um problema de saúde pública, devido aos efeitos adversos que podem ser ocasionados e a outras comorbidades que podem se desenvolver, o que colabora com a diminuição da qualidade de vida da sociedade e com o aumento de gastos públicos. Entre os efeitos estão: palpitações, boca seca, taquicardia, náuseas e vômitos, constipação, obstrução nasal, faringite, ansiedade, insônia, irritabilidade, convulsões, cefaleia, dores nas costas, dor e hemorragia ocular (CRUZ, 2020).

O gasto de verbas públicas com a compra de medicamentos e procedimentos médicos para atender indivíduos que apresentam complicações ocasionadas pelo uso inadequado de medicamentos é uma questão a ser destacada. O uso inadequado de anorexígenos, como a sibutramina, corrobora com o aumento de casos de hospitalizações e investimentos em tratamentos farmacoterapêuticos, o que reflete em um decréscimo na qualidade de vida da sociedade e no aumento dos gastos públicos com programas do SUS  (Sistema Único de Saúde) (ROMANO-LIEBER,2002). 

O uso indiscriminado de sibutramina apresenta um risco significativo para o organismo, especialmente em pessoas com problemas cardíacos, pois pode causar derrame e infarto. Além disso, pode provocar inúmeros efeitos colaterais, como boca seca e amarga, náusea, irritação no estômago, constipação, problemas de sono, tontura, dores menstruais, dor de cabeça, sonolência, alterações de humor e dores nos músculos e articulações (FRANCO, 2014).

Outro fator relevante em relação ao uso inadequado de sibutramina consiste nas interações medicamentosas que podem ocorrer em casos de automedicação. Nessa perspectiva, sabe- se que o uso de sibutramina é contraindicado nas seguintes situações: quando o paciente utiliza outros medicamentos anorexígenos, descongestionantes, sedativos para tosse, ergotamina e seus derivados, ou lítio; para indivíduos com histórico de transtornos alimentares; para pessoas que apresentam ou já apresentaram convulsões; em casos de lesões ou doenças cerebrais; para pacientes que já sofreram derrame; e para aqueles que têm ou já tiveram cálculos biliares. Desse modo, percebe – se a importância do acompanhamento médico e farmacêutico em tratamentos medicamentosos que visam o emagrecimento (DA SILVA, 2019).

Dessa forma, medicamentos como a eritromicina, a qual é um antimicrobiano de amplo espectro, a cimetidina, utilizada em desconfortos gástricos e o cetoconazol, amplamente utilizado em infecções fúngicas, podem interagir com o citrocromo P450, responsável por metabolizar diversos fármacos, incluindo a sibutramina, fazendo com que os níveis séricos de tal anorexígeno se mantenham elevados por períodos maiores que o previsto, o que acarreta no prolongamento de sua ação, podendo ocasionar vários distúrbios, dentre os quais se destacam a crise serotoninérgica, caracterizada pelo aumento dos níveis de serotonina no Sistema Nervoso Central (SNC) (DA SILVA, 2019).

Vale ressaltar que determinadas comorbidades podem influenciar na farmacocinética e na farmacodinâmica da sibutramina. Com isso, evidências científicas indicam que a sibutramina é contraindicada em casos de hipertensão arterial grave, doenças cardiovasculares com sintomas, glaucoma, histórico de dependência química, arritmias cardíacas, gravidez, em crianças menores de 12 anos, epilepsia, insuficiência renal e hepática, transtornos psiquiátricos e durante o uso de inibidores da monoaminoxidase (IMAO). Sendo assim, percebe – se que o uso de anorexígenos exigem a observação de diversos critérios terapêuticos (DA SILVA, 2019).

Nessa perspectiva, deve – se levar em consideração alguns fatores que estimulam o uso indiscriminado de sibutramina. A pressão para alcançar um padrão idealizado de beleza pode levar à busca por soluções rápidas e perigosas, como o uso de medicamentos para emagrecer sem considerar a existência de uma causa fisiológica para o uso desses medicamentos. Nesse contexto, as drogas anorexígenas são vistas como um recurso estético, mas podem colocar a saúde do usuário em risco, gerando dependência e causando efeitos adversos quando ingeridas de forma descontrolada. (LOBO; SENA JÚNIOR; ANDRADE, 2021).

A contemporaneidade promove um modelo estético quase inalcançável, com corpos extremamente perfeitos exibidos nas redes sociais. Isso leva a população a se submeter cada vez mais a procedimentos, dietas e ao uso de medicações sem orientação médica, na tentativa de se adequar aos padrões estabelecidos pela mídia digital e televisiva (TORRES et.al, 2022).

A mídia, através de canais visuais como TV, jornais, revistas e outros meios, veicula informações sobre novos medicamentos que prometem resultados impressionantes, como a perda de peso sem a necessidade de mudanças no estilo de vida, incentivando uma promessa de emagrecimento com mínimo esforço. Frequentemente, vemos corpos quase inatingíveis estampando capas de revistas e propagandas, nas quais personagens, representadas por pessoas atraentes e extremamente magras, são associadas ao consumo desses medicamentos (SPILLERE, 2011).

Além disso, a mídia projeta uma imagem contraditória ao mostrar pessoas com corpos idealizados consumindo alimentos extremamente calóricos como sorvetes, o que gera um paradoxo. Por um lado, promove medicamentos anorexígenos como caminho para o corpo magro, por outro, desmotiva aqueles que veem esse ideal como inalcançável. Simultaneamente, a indústria alimentícia incentiva o consumo de produtos hipercalóricos, contribuindo para a crise de obesidade global. As mulheres, em especial, enfrentam intensa pressão social para aderir a padrões de beleza rígidos, embarcando em uma busca muitas vezes obsessiva e insatisfatória, que frequentemente desconsidera o cuidado saudável com o próprio corpo em prol de ideais difíceis de alcançar (SPILLERE, 2011).

Outro fator importante que deve ser considerado é a falta de informações em relação a automedicação de anorexígenos. No Brasil, há poucos estudos sobre o uso inadequado de medicamentos e os riscos associados ao seu consumo. Essa escassez de informações contribui para a alta porcentagem de pessoas que praticam automedicação, seja por iniciativa própria, por recomendações de leigos ou pelo uso de receitas antigas. Com isso, observa – se que a falta de informação é um fator determinante na intensificação dos casos de automedicação envolvendo a sibutramina, o que demonstra a necessidade de medidas públicas e privadas, que tenham como objetivo o esclarecimento da sociedade quanto aos riscos do uso inapropriado de medicamentos (TORRES et al, 2022).

Vale destacar que a utilização de anorexígenos de forma inadequada tem sido intensificada devido a facilitação do acesso a tais medicamentos.Nessa perspectiva, observa-se que em algumas situações, a pessoa consegue acesso a esses medicamentos por meio de receitas obtidas de outros membros de seu grupo social (SPILLERE, 2011). Seguindo a mesma linha de raciocínio, nota -se que algumas farmácias optam por vender a medicação mesmo sem a apresentação de receita médica, o que demonstra o fácil acesso a esses medicamentos e favorece a automedicação em certos indivíduos (SPILLERE, 2011).

O tratamento da obesidade exige uma abordagem complexa e multidisciplinar, incluindo intervenções medicamentosas e não medicamentosas. A mudança no estilo de vida é essencial e, por isso, as intervenções não medicamentosas devem fazer parte de todos os protocolos de tratamento da obesidade. Nesse contexto, é fundamental desenvolver estratégias de manejo em colaboração com o Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF), contando com profissionais como educadores físicos, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, médicos, farmacêuticos, entre outros. A obesidade é uma condição crônica, de modo que o uso de medicamentos não cura a doença, mas pode auxiliar no controle do peso e na redução das comorbidades associadas (FERNANDES et al., 2024).

Diante disso, nota – se que o papel do farmacêutico é de suma importância para a resolução da problemática em questão. O uso inadequado e a superdosagem desses medicamentos podem ser prevenidos pelo farmacêutico por meio de orientações e aconselhamentos no momento da dispensação. Este profissional desempenha um papel fundamental no combate à obesidade e ao sobrepeso, aplicando seu conhecimento tanto para instruir o paciente sobre o uso correto dos medicamentos quanto para incentivar hábitos saudáveis que promovam uma melhor qualidade de vida (DA SILVA, 2019)

Com isso, destaca-se a importância de um profissional qualificado nas drogarias para esclarecer as dúvidas dos pacientes sobre o uso de medicamentos. A obrigatoriedade da presença do farmacêutico, devidamente registrado no Conselho Regional de Farmácia, em farmácias e drogarias em todo o território nacional é regulamentada pelo artigo 15 da Lei nº 5.991, de 1973, garantindo a segurança na comercialização e dispensação de medicamentos nesses estabelecimentos (DA SILVA, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou elucidar os riscos associados ao uso indiscriminado da sibutramina, especialmente quando empregada para fins estéticos e de emagrecimento rápido, fora do contexto clínico adequado. Embora a sibutramina seja reconhecida por sua eficácia como adjuvante no tratamento da obesidade, seu uso deve sempre ser acompanhado de supervisão médica e mudanças no estilo de vida. Os achados da pesquisa indicam que o uso sem orientação profissional, influenciado pela pressão estética e pela busca imediatista pela perda de peso, acarreta efeitos colaterais severos, incluindo taquicardia, hipertensão e elevação do risco cardiovascular.

Além disso, a análise revelou como os ideais estéticos, amplamente difundidos pela mídia, desempenham um papel significativo na escolha de medicamentos para o emagrecimento, muitas vezes sem considerar os riscos envolvidos. A facilitação no acesso ao fármaco e a prática da automedicação agravam o problema, ressaltando a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa e do cumprimento das regulamentações vigentes para a venda e o uso de medicamentos psicotrópicos.

Conclui-se que uma abordagem multidisciplinar e responsável é essencial no tratamento da obesidade. O papel dos profissionais de saúde, especialmente dos farmacêuticos, é de extrema importância na orientação ao paciente, não apenas quanto ao uso seguro e responsável da sibutramina, mas também para conscientizá-los sobre os riscos e os benefícios reais do tratamento. Dessa forma, promover a educação em saúde e incentivar uma compreensão realista sobre a importância de práticas de emagrecimento saudáveis e duradouras são ações fundamentais para a mitigação dos riscos à saúde associados ao uso inadequado da sibutramina.

Recomenda-se que futuras pesquisas explorem alternativas terapêuticas seguras para o controle da obesidade, além de estratégias mais eficientes para a fiscalização e a regulamentação da comercialização de anorexígenos. A atuação dos farmacêuticos deve ser ampliada, de modo a incluir campanhas de educação em saúde pública, especialmente no combate à automedicação e à dependência de soluções medicamentosas para o emagrecimento, visando uma abordagem equilibrada e sustentável na promoção da saúde

REFERÊNCIAS

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1 Docente, Doutor em Saúde Pública,Faculdade do Futuro, prof.herminiomedeiros@gmail.com

2 Bacharelado em Farmácia, Faculdade do Futuro, hatuskenupptarden@gmail.com

3 Bacharelado em Farmácia, Faculdade do Futuro, vieiraliliam1206@gmail.com