REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411060750
Antony Oseval Silva Nascimento
Edilson Alves da Silva Junior
Samuel dos Santos Silva
Danilo Mendes de Figueiredo
RESUMO
Este estudo revisa a eficácia do CrossFit como modalidade de treinamento para aprimoramento da aptidão física global e do bem-estar psicológico, destacando tanto seus benefícios quanto seus riscos. Os resultados indicam que o CrossFit favorece o aumento de força muscular, resistência e promove o desenvolvimento de uma mentalidade resiliente, além de fortalecer o senso de comunidade entre os praticantes. Entretanto, a prática apresenta riscos significativos, especialmente relacionados a lesões, que são mais comuns entre iniciantes e indivíduos que treinam sem supervisão adequada. Para otimizar os benefícios do CrossFit e mitigar os riscos, é essencial que os praticantes sigam uma progressão de treinamento estruturada, orientada por profissionais qualificados. Recomenda-se que treinadores e boxes de CrossFit adotem programas preventivos de lesões, abordando o desenvolvimento técnico, mobilidade e o uso correto de cargas. A pesquisa sugere que investigações futuras explorem métodos para reduzir a incidência de lesões no CrossFit e examinem o impacto a longo prazo da modalidade na saúde física e mental dos praticantes. Além disso, o desenvolvimento de diretrizes rigorosas para a prática do CrossFit pode contribuir para uma prática mais segura, ampliando o acesso aos benefícios desta abordagem multifacetada de treinamento.
Palavras-chave: Exercício. Crossfit. Bem-Estar Psicológico. Capacidade Cardiorrespiratória. Lesões.
1 INTRODUÇÃO
O treinamento CrossFit incorpora uma variedade de atividades, incluindo exercícios de força, corrida e movimentos ginásticos. Tais exercícios são projetados para aprimorar o equilíbrio, a coordenação motora e a força central dos atletas. Além disso, visam promover o controle corporal e a resistência muscular, que são fatores fundamentais para o desempenho atlético (Wang & Yao, 2023). O CrossFit foi originalmente desenvolvido com o objetivo de maximizar as respostas adaptativas do organismo, distinguindo-se dos métodos tradicionais por não se restringir a uma única disciplina e, sim, por buscar otimizar dez capacidades físicas fundamentais, como força, flexibilidade, potência e velocidade, consideradas essenciais para a construção de um corpo equilibrado e forte (Partridge et al., 2014). Essa abordagem multifacetada possibilita que os praticantes desenvolvam uma base ampla de habilidades físicas, capacitando-os para enfrentar desafios esportivos e cotidianos com mais eficácia e segurança.
O treinamento CrossFit é estruturado principalmente em torno de movimentos funcionais realizados em alta intensidade, comumente conhecidos como “Workout of the Day” (WOD). Esses exercícios são realizados em ritmo rápido e de forma repetitiva, com curtos intervalos de descanso entre as séries, o que eleva a intensidade geral do treino. A proposta do WOD é desafiar continuamente o organismo, promovendo melhorias em força, resistência, flexibilidade e capacidade cardiovascular dos praticantes (Claudino et al., 2018). Um estudo avaliou os efeitos do CrossFit na aptidão física de atletas de ginástica aeróbica, apontando que a prática pode contribuir para o aprimoramento do condicionamento físico e para a melhora do desempenho em movimentos funcionais (Yimeng, 2023). Outro estudo indicou uma relação entre o treinamento CrossFit e a redução da taxa média de gordura corporal, aumento da capacidade vital média, melhoria no tempo médio de corrida e incremento da força de tração horizontal, em análise realizada com atletas de basquete (Li, 2023). Além dos aspectos biológicos, o CrossFit está associado a um senso de comunidade elevado, maior satisfação e motivação (Claudino et al., 2018), e há evidências que indicam uma contribuição positiva para a saúde mental dos praticantes (Cansler et al., 2023). Um estudo sugeriu que profissionais de saúde deveriam considerar o CrossFit como um modelo de treinamento seguro, eficiente e aplicável para indivíduos em risco de desenvolver doenças crônicas relacionadas ao sedentarismo, incluindo distúrbios musculoesqueléticos (Brandt et al., 2022).
Entretanto, alguns estudos destacam o risco considerável de lesões entre os praticantes de CrossFit. Entre os agravos mais frequentes estão estiramentos, luxações e distensões musculares (Boeira et al., 2023). Outras lesões incluem tendinopatias, lesões osteoarticulares nos ombros e lombar, além de problemas em joelhos, peitoral e cotovelos (Hetaimish et al., 2024). Um estudo espanhol identificou comportamentos de risco para lesões no CrossFit, como treinar em locais não regulamentados, possuir menos de seis meses de experiência e participar de competições, sem identificar diferenças de sexo na incidência de lesões, mas indicando o levantamento de peso como uma das atividades mais propensas a ferimentos (Navarro-Bernardo et al., 2023). Outro fenômeno observado é a incidência de incontinência urinária em mulheres praticantes (Álvarez-García & Doulanai, 2022; Maita et al., 2020). Segundo Maita et al. (2020), o CrossFit inclui movimentos que aumentam a pressão intra-abdominal, favorecendo a perda involuntária de urina.
A relevância deste estudo está na necessidade de uma análise científica equilibrada sobre os impactos do CrossFit. Ao explorar tanto os aspectos positivos quanto os negativos, esta pesquisa oferece uma visão abrangente que apoia praticantes, treinadores e profissionais de saúde na tomada de decisões informadas. Além disso, a análise multidimensional proposta possibilita uma compreensão mais profunda das variáveis envolvidas, abrangendo biomecânica dos exercícios, psicologia do praticante e efeitos fisiológicos a longo prazo.
O objetivo geral desta investigação é analisar os aspectos positivos e negativos do treinamento de CrossFit, sob uma perspectiva multidimensional que inclua fatores físicos, psicológicos e sociais. Para alcançar este objetivo, propõem-se os seguintes objetivos específicos: identificar os benefícios físicos do CrossFit; avaliar os impactos psicológicos nos praticantes; investigar as lesões associadas à prática e suas causas; e examinar a influência do CrossFit nas interações sociais e no senso de comunidade dos praticantes.
2 METODOLOGIA
Este estudo constitui uma revisão sistemática da literatura de natureza qualitativa, com subtipo descritivo. Segundo Adlini (2022), uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo envolve a coleta e análise de dados com o propósito de compreender fenômenos de maneira holística, destacando o contexto e as perspectivas subjetivas por meio de métodos sistemáticos de revisão da literatura. Para a condução desta pesquisa, foram consultadas as bases de dados PubMed, Scielo e BVS, utilizando-se como descritores: “Lesões”, “Exercício”, “Bem-estar psicológico”, “Capacidade cardiorrespiratória” e “Comportamento social”. Embora “CrossFit” não seja um descritor oficial, foi utilizado como palavra-chave na pesquisa. Os operadores booleanos “AND”, “OR” e “NOT” foram empregados para refinar as buscas.
Para a seleção dos estudos, adotaram-se critérios de inclusão e exclusão rigorosos. Os critérios de inclusão consideraram artigos em inglês, português e espanhol; estudos originais; pesquisas que abordam diretamente o tema investigado; e artigos publicados nos últimos cinco anos. Os critérios de exclusão foram aplicados a artigos que não estivessem nesses idiomas, a estudos que não fossem originais, a pesquisas que não tratassem do tema de forma essencial e a publicações anteriores ao período de cinco anos.
Os procedimentos metodológicos seguiram três etapas principais: (I) Identificação dos estudos, na qual foram inicialmente encontrados 184 estudos nas bases de dados mencionadas; (II) Aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, resultando em 19 artigos selecionados para fundamentação do estudo; e (III) Análise dos dados, na qual os artigos escolhidos foram analisados qualitativamente para identificar os aspectos positivos e negativos da prática do CrossFit, considerando múltiplas dimensões, incluindo lesões, bem-estar psicológico, capacidade cardiorrespiratória e comportamento social.
Figura 1- Fluxograma da metodologia da etapa de seleção e inclusão dos estudos
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O CrossFit se consolidou como uma modalidade de treinamento físico popular em escala mundial, atraindo desde atletas de elite até indivíduos comuns que buscam uma vida mais saudável e ativa. Caracteriza-se pelo foco em movimentos funcionais, executados com alta intensidade e em variações constantes, promovendo ganhos físicos em diversas áreas e estabelecendo um forte senso de comunidade entre os praticantes. Apesar de seus reconhecidos benefícios, o CrossFit é alvo de críticas, especialmente em relação aos riscos de lesão e à segurança da prática quando realizada sem supervisão adequada. A seguir, são discutidos os principais achados sobre o CrossFit, comparando-os a outros métodos de treinamento físico e examinando as implicações para a saúde física e mental dos praticantes.
Na melhoria da aptidão física, o CrossFit é destacado por promover um desenvolvimento multidimensional que integra força, resistência cardiovascular, flexibilidade e mobilidade. Lenz et al. (2023) observaram que a prática regular do CrossFit melhora significativamente a força muscular e a capacidade cardiorrespiratória. Em um estudo com praticantes que realizaram o CrossFit por seis meses, foi constatado um aumento na força para exercícios como levantamento terra e agachamento, além de uma recuperação cardiovascular mais rápida após atividades intensas. Movimentos que envolvem grandes amplitudes articulares, típicos do CrossFit, requerem mobilidade robusta, como apontado por Jusdado-García e Cuesta-Barriudo (2023), que relataram aumento da flexibilidade e da mobilidade em articulações como ombros e quadris. Essa flexibilidade é crucial para melhorar o desempenho e reduzir o risco de lesões, especialmente nos exercícios de alta carga.
O CrossFit também é eficaz no controle de peso e na composição corporal. Em um estudo de Xiang Li (2023), a prática proporcionou redução significativa da gordura corporal, mesmo em indivíduos com dieta equilibrada e praticantes de outras atividades físicas. Essa modalidade, caracterizada pela alta intensidade, combina esforços anaeróbicos e aeróbicos, promovendo queima calórica elevada e aumento da massa muscular magra, o que resulta em uma taxa metabólica basal maior. Além disso, a resistência muscular localizada é aprimorada, como observado por Tibana et al. (2021), especialmente nas pernas e ombros, o que é fundamental para atletas e para o cotidiano dos praticantes.
Os benefícios psicológicos do CrossFit também são notáveis, promovendo resiliência e bem-estar mental. Estudos como o de Cansler et al. (2023) indicam que o CrossFit pode reduzir os níveis de ansiedade e depressão, graças à intensidade dos treinos e à superação de desafios, que liberam neurotransmissores associados ao bem-estar. Outro aspecto relevante é o senso de comunidade; Claudino et al. (2018) destacam que o ambiente de apoio mútuo no CrossFit é incomum em outras práticas, aumentando a motivação e a adesão aos treinos. Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, Cataldi et al. (2021) observaram que um programa de CrossFit de oito semanas auxiliou adolescentes a manterem a saúde mental, oferecendo não apenas atividade física, mas também suporte social e emocional.
Contudo, a prática de CrossFit não é isenta de riscos, sendo as lesões uma preocupação significativa. A alta intensidade e a complexidade dos movimentos aumentam a probabilidade de lesões, especialmente em articulações e músculos, como identificou Boeira et al. (2023), que encontrou uma incidência de 38% de lesões em praticantes, predominantemente nos ombros, lombar e joelhos. A falta de supervisão adequada e o treinamento progressivo inadequado são agravantes, aumentando as taxas de lesão, principalmente entre novatos, conforme observado por Hetaimish et al. (2024). Estudos sugerem que a educação em técnica de levantamento e prevenção de lesões pode mitigar tais riscos.
Comparado a outros métodos de treinamento, o CrossFit se sobressai por sua abrangência em aptidão física. Evangelista e Santos (2023) observaram que policiais que praticavam CrossFit apresentaram maior aptidão física em comparação com métodos tradicionais, com maior flexibilidade e menor percentual de gordura corporal. No entanto, o CrossFit pode não ser ideal para quem busca desenvolver capacidades específicas, como resistência aeróbica prolongada, sendo mais adequado para explosão e resistência muscular de curta duração, conforme sugerido por Tibana et al. (2021).
Por fim, o CrossFit tem aplicações no ambiente ocupacional e na reabilitação física. Brandt et al. (2023) relataram melhorias na saúde musculoesquelética de trabalhadores sedentários, com redução de dores nas costas e aprimoramento da postura. Já Torres-Banduc et al. (2023) identificaram que o CrossFit adaptado pode ser eficaz na reabilitação de lesões, promovendo a recuperação funcional de forma mais eficiente que programas tradicionais.
Quadro 1 – Artigos selecionados para compor a Revisão
TÍTULO | AUTOR | OBJETIVO | RESULTADO |
Do suor à tensão: uma análise epidemiológica das lesões relacionadas ao treinamento no CrossFit® | LENZ et al. | Investigar a epidemiologia dos tipos e causas de lesões durante o treinamento CrossFit® na Alemanha. | Dos 308 participantes, 28,6% sofreram lesões, principalmente durante o meio dos treinos. As lesões mais comuns foram feridas (23,3%) e entorses (30,8%). Exercícios com barra causaram 36,3% das lesões, com o Box Jump representando 14,3%. A maioria dos casos (96,5%) resultou em perda de tempo de treino. |
Mobilização e alongamento de tecidos moles para ombros em CrossFitters: um estudo piloto randomizado | Jusdado-García e Cuesta-Barriudo. | Determinar a eficácia da mobilização de tecidos moles assistida por instrumentos e do alongamento de adução horizontal na melhoria da mobilidade do ombro em praticantes de CrossFit. | O estudo mostrou que a mobilização de tecidos moles assistida por instrumentos melhorou a mobilidade do ombro em praticantes de CrossFit, com ganhos significativos na adução horizontal e rotação interna. O grupo experimental teve melhorias em todas as variáveis, enquanto o controle mostrou avanços em movimentos específicos. |
Lesões em praticantes de CrossFit: um estudo transversal | BOEIRA et al. | Investigar parâmetros epidemiológicos associados ao início de lesões em praticantes de CrossFit. | O estudo identificou uma taxa de lesões de 38% em praticantes de CrossFit, com 3,7 lesões por 1000 horas de treino. Alongamentos foram o tipo mais comum (41%), e ombros e lombar foram as regiões mais afetadas (34% cada). O levantamento de peso olímpico foi o exercício mais associado a lesões. |
A resistência e a força muscular locais tiveram uma forte relação com o CrossFit® Open 2020 em atletas amadores | TIBANA et al. | analisar a relação entre medidas antropométricas, capacidade cardiorrespiratória, força, potência e resistência muscular local com o desempenho no CrossFit® Open 2020. | O estudo revelou que a resistência muscular localizada e a força muscular foram os principais fatores associados ao desempenho no CrossFit® Open 2020, enquanto a gordura corporal e a capacidade cardiorrespiratória não tiveram correlação significativa. Treinadores devem usar esses dados para ajustar o treinamento e melhorar áreas físicas menos desenvolvidas. |
Efeitos da Prática de Crossfit no Desempenho de Atletas de Basquete | XIANG LI | Explorar os efeitos da prática de CrossFit no desempenho esportivo de atletas de basquete. | O estudo mostrou que o treinamento baseado no CrossFit melhorou a aptidão física e o desempenho de atletas de basquete. Houve redução na gordura corporal, melhora na capacidade vital e no tempo de corrida de 3000 m, além de aumentos na força e na precisão de arremessos. Esses resultados sugerem que o CrossFit pode ser eficaz no treinamento de basquete. |
Aptidão física de policiais militares que praticam CrossFit | EVANGELISTA E SANTOS | Avaliar a aptidão física de policiais militares que praticam CrossFit. | O estudo mostrou que policiais que praticavam CrossFit tinham melhores níveis de atividade física, menor percentual de gordura (12,3% vs. 15,18%) e melhor flexibilidade (24,5 cm vs. 14,66 cm) em comparação com não praticantes. A força muscular foi similar entre os grupos, e a capacidade cardiorrespiratória foi ligeiramente maior no grupo CrossFit. |
O estudo MEDxFIT – CrossFit como intervenção em saúde no local de trabalho: um estudo de intervenção prospectivo, controlado e longitudinal de um ano | BRANDT et al. | Avaliar a eficácia do CrossFit como uma intervenção de saúde no local de trabalho durante um período de um ano. | Após 12 meses, o grupo de intervenção apresentou melhorias significativas na mobilidade, força e redução da dor nas costas em comparação com o grupo controle. Houve um aumento de 6,3 pontos na Tela de Movimento Funcional e 62,1% dos participantes relataram ausência de dor, contra 25,9% no grupo controle. |
Proposta de um programa de condicionamento físico no ambiente escolar durante a pandemia de COVID 19: efeitos de um programa CrossFit de 8 semanas no bem-estar psicofísico de adolescentes saudáveis | CATALDI et al. | Verificar a eficácia de um programa CrossFit de 8 semanas na mitigação dos déficits de condicionamento físico causados pelas medidas de prevenção da COVID-19. | O estudo com trinta indivíduos mostrou que o grupo de intervenção que participou do programa CrossFit de 8 semanas teve melhorias significativas em todos os testes de condicionamento físico e em medidas psicológicas, incluindo agachamentos, estocadas e corrida de 20 m, além de aumento na autoeficácia emocional regulatória. O grupo controle não apresentou mudanças significativas, exceto no teste de Push-Up, que teve efeito insignificante. Assim, o programa CrossFit mostrou maiores benefícios em comparação com exercícios regulares. |
I CrossFit; Do You? Similaridade transversal do comportamento de atividade física entre pares em um ambiente de treinamento funcional de alta intensidade em grupo. | PROCHNOW et al. | Fornecer evidências da influência social da atividade física (PA) em um ambiente CrossFit. | Em um estudo com 62 participantes, a maioria mulheres brancas com média de 34,58 anos, 72,6% eram altamente ativos. A atividade física dos parceiros de treino não influenciou os níveis individuais, mas a atividade de quem discutiam assuntos pessoais foi positivamente associada a esses níveis. |
Lesões de Ombro por Levantamento de Peso Apresentando-se em Departamentos de Emergência dos EUA: 2000–2030 | PIRRUCCIO e KELLY | Identificar a carga de saúde e as características demográficas de pacientes que se apresentaram aos departamentos de emergência dos EUA com lesões no ombro associadas ao levantamento de peso de 2000 a 2017. | O estudo revelou um aumento significativo nas lesões no ombro associadas ao levantamento de peso nos EUA, com casos subindo de 8.073 em 2000 para 14.612 em 2017 (p < 0,001). Esse aumento foi mais rápido em comparação com lesões totais. A porcentagem de visitas a emergências devido a essas lesões também cresceu, passando de 0,062 em 2000 para 0,099 em 2017 (p < 0,001). Um modelo previu que o número de casos poderia chegar a 22.691 até 2030. |
Parte II: Comparação de lesões relacionadas ao crossfit apresentadas à clínica de medicina esportiva por sexo e idade | SUGIMOTO et al. | Examinar as lesões relacionadas ao CrossFit com base no sexo e na idade. | Atletas femininas de CrossFit sofreram mais lesões nas extremidades inferiores, enquanto lesões no ombro foram mais comuns entre os masculinos. Além disso, atletas com 19 anos ou menos apresentaram uma maior incidência de lesões no tronco/coluna em comparação com os acima de 19 anos. Esses achados sugerem uma suscetibilidade específica a lesões por sexo e idade, o que pode ajudar a desenvolver programas de exercícios mais seguros para jovens. |
Identificando as lesões mais comuns do CrossFit em uma variedade de atletas | ALEKSEYEV et al. | Identificar as lesões musculoesqueléticas mais comuns sofridas durante o treinamento CrossFit entre atletas de diferentes níveis de especialização. | O estudo com 885 participantes mostrou que 33,3% sofreram lesões, principalmente nas costas (32,2%) e ombros (20,7%). Atletas avançados e internacionais apresentaram maior risco, enquanto aqueles com mais de 3 anos de experiência tinham 3,3 vezes mais chances de se machucar. Treinos acima de 11 horas por semana e alongamento pré-exercício também estavam associados a mais lesões. |
Lesões em participantes novatos durante um programa inicial de oito semanas de CrossFit – um estudo de coorte prospectivo | LARSEN et al. | Investigar a incidência e a taxa de lesões entre participantes novatos em um programa CrossFit de oito semanas. | O estudo com 168 participantes novatos em um programa de oito semanas de CrossFit documentou 28 lesões, resultando em uma incidência de 14,9%. A taxa de lesões foi de 9,5 por 1000 horas de exposição, indicando maior risco de lesões entre novatos em comparação com participantes experientes. |
Quebrando os mitos da competição: uma análise transversal de lesões entre participantes treinados em CrossFit | FEITO et al. | Examinar as taxas de lesões de indivíduos envolvidos no treinamento CrossFit. | O estudo revelou que competidores de CrossFit, independentemente do nível, apresentaram taxas semelhantes de lesões, variando de 0,21 a 1,30 por 1000 horas de treinamento. Menos tempo de treinamento aumentou as chances de lesões (OR = 1,82), enquanto treinar em afiliadas oficiais teve efeito protetor (OR = 0,85). O risco de lesões é baixo, com lesões musculoesqueléticas associadas a planos de progressão inadequados. |
Correlação entre estilo de vida sedentário anterior e lesões relacionadas ao CrossFit | PAIVA et al. | Correlacionar lesões relacionadas ao CrossFit com um estilo de vida sedentário anterior. | O estudo com 121 praticantes de CrossFit revelou que 34,7% eram sedentários antes, com 45,2% relatando lesões, em comparação com 30,4% dos ativos. As lesões mais comuns ocorreram em ombro/cotovelo (60,5%) e coluna lombar (30,3%). Treinamento intenso foi associado a mais lesões (p = 0,043), e aqueles com histórico de lesão treinaram mais tempo (68,4 minutos) do que os sem lesões (61,7 minutos; p = 0,044). A taxa geral de lesões foi de 35,5%. |
Perfil isocinético de força e potência da articulação do ombro em homens que participam do treinamento CrossFit e competem em diferentes níveis | TORRES-BANDUC et al. | Determinar o perfil isocinético de força-potência da articulação do ombro em homens engajados no treinamento CrossFit em diferentes níveis competitivos. | O estudo mostrou que participantes avançados de competição apresentaram picos de rotação interna e potência média significativamente maiores em relação à massa corporal, com 180 .s−1 e 300 .s−1, em comparação com iniciantes e intermediários. Eles também exibiram maior pico de torque diagonal interno e potência média a essas velocidades, além de uma relação de pico de torque externo-interno menor em ambas as velocidades. |
Epidemiologia das lesões do treinamento funcional de alta intensidade (HIFT) no Brasil | SERAFIM et al. | Avaliar a incidência de lesões no Treinamento Funcional de Alta Intensidade (HIFT), caracterizando a gravidade, a localização e os fatores de risco associados. | O estudo de HIFT no Brasil revelou uma taxa de lesões de 3,51 por 1000 horas de treinamento, com 59,2% dos participantes relatando duas ou mais lesões, principalmente no ombro (21,3%), lombar (18,3%) e joelho (13,4%). Atletas experientes tiveram mais lesões, e metade delas não interrompeu o treinamento. Não foram observadas diferenças significativas nas taxas de lesões entre gêneros ou em relação a aquecimento e frequência de treinamento. |
Suplementação de 6 semanas com Tribulus terrestris L. para atletas masculinos treinados de CrossFit® sobre biomarcadores musculares, inflamatórios e antioxidantes: um estudo randomizado, cego e controlado por placebo | FERNANDÉZ-LÁZARO et al. | Examinar o efeito de 6 semanas de suplementação de Tribulus terrestris L. (TT) no metabolismo muscular, biomarcadores de inflamação e estado oxidante em atletas masculinos treinados de CrossFit®. | O estudo sobre Tribulus terrestris L. (TT) em atletas de CrossFit não mostrou redução significativa nos danos musculares ou inflamação após 6 semanas, mas o grupo que tomou TT apresentou diferenças significativas nos biomarcadores LDH, PCR e TAS, indicando potencial para reduzir estresse oxidativo e inflamação. |
Prevalência e tipos de lesões por uso excessivo em academias Um estudo transversal na Arábia Saudita | HETAIMISH et al. | Estimar a prevalência de lesões por práticas excessivas em academias na Arábia Saudita. | O estudo com 1012 participantes, principalmente homens (76,2%), revelou que sessões de ginástica de 1 a 2 horas eram comuns. As lesões mais frequentes foram distensões musculares (35,7%) e cãibras (19,3%), afetando principalmente ombros e joelhos. Sessões mais longas aumentaram o risco de lesões, enquanto sessões mais curtas mostraram mais cãibras. A duração e o tipo de atividade influenciaram o risco de lesões. |
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os achados revisados neste estudo evidenciam que o CrossFit é uma modalidade de treinamento com alto potencial para promover melhorias significativas na aptidão física global e no bem-estar psicológico dos praticantes. Entre os benefícios observados, destacam-se o incremento na força muscular e na resistência, bem como o desenvolvimento de uma mentalidade resiliente e o fortalecimento do senso de comunidade. Entretanto, os riscos associados à prática, especialmente no que se refere à ocorrência de lesões, representam uma preocupação substancial, sobretudo para iniciantes e praticantes que treinam sem a supervisão adequada.
Para que os praticantes possam maximizar os benefícios do CrossFit e minimizar os riscos, é imprescindível que sigam uma progressão apropriada no treinamento e sejam acompanhados por profissionais qualificados. Adicionalmente, recomenda-se que treinadores e boxes de CrossFit implementem programas de prevenção de lesões, que incluam a educação dos praticantes sobre técnicas adequadas, mobilidade e uso seguro das cargas.
Recomenda-se que pesquisas futuras explorem estratégias para mitigar os riscos de lesões no CrossFit, além de investigar os impactos de longo prazo da modalidade na saúde física e mental dos praticantes. Ademais, o desenvolvimento de diretrizes mais rigorosas para a qualificação de treinadores e a regulamentação de boxes pode contribuir para que o CrossFit seja praticado de maneira segura e eficiente, ampliando o acesso aos benefícios dessa modalidade multifacetada.
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