SAÚDE DOCENTE NO AMBIENTE ESCOLAR: INTERFACES DO FAZER PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

TEACHER HEALTH IN THE SCHOOL ENVIRONMENT: INTERFACES OF PEDAGOGICAL PRACTICE IN INCLUSIVE EDUCATION

LA SALUD DOCENTE EN EL ÁMBITO ESCOLAR: INTERFACES DE LA PRÁCTICA PEDAGÓGICA EN LA EDUCACIÓN INCLUSIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411051755


Cristiano Pereira Moreira
Emídia Glaúcia Tavares Goncalves
Francisco Nazareno Torres Nobre
Maria Elenilda do Nascimento
Maria Euzeli de Sousa Costa


RESUMO

A análise das interações entre o exercício da função docente, as condições reais em que ocorre no contexto da Educação Inclusiva e o bem-estar emocional desses profissionais diante da prática educativa tem se mostrado um desafio constante. Observa-se um aumento nos casos de problemas de saúde entre os professores no ambiente de trabalho, porém são insuficientes as iniciativas voltadas para o cumprimento das leis e políticas específicas que visam proteger a saúde do docente no exercício da profissão. Frente a essa situação, a proposta da pesquisa foi analisar as principais razões do adoecimento ocupacional dos docentes no ambiente escolar a partir do prisma do fazer pedagógico e a Educação Inclusiva. O estudo é realizado empregando o mapeamento sistemático da literatura que evidenciou os fatores determinantes das principais causas que levam os docentes as doenças ocupacionais na atualidade, apontando a necessidade de desenvolvimento de ações referentes à reorganização do trabalho e a promoção de saúde. Para mais, foi observada a necessidade em priorizar estratégias e medidas relacionadas aos aspectos que impactam a saúde-doença dos professores no ambiente educacional, considerando as principais dificuldades enfrentadas no processo de inclusão escolar e de que forma isso implica em sua qualidade de vida.

Palavras-chave: Fazer pedagógico,Educação inclusiva, Adoecimento docente, Ambiente educacional.

ABSTRACT

The analysis of the interactions between the exercise of the teaching role, the real conditions in which it occurs in the context of Inclusive Education and the emotional well-being of these professionals in the face of educational practice has proven to be a constant challenge. There is an increase in cases of health problems among teachers in the workplace, but there are insufficient initiatives aimed at complying with laws and specific policies that aim to protect the health of teachers in the exercise of their profession. Faced with this situation, the research proposal was to analyze the main reasons for teachers’ occupational illness in the school environment from the perspective of pedagogical practice and Inclusive Education. The study is carried out using the systematic mapping of literature that highlighted the determining factors of the main causes that lead teachers to occupational illnesses today, pointing out the need to develop actions related to the reorganization of work and health promotion. Furthermore, the need to prioritize strategies and measures related to aspects that impact the health-illness of teachers in the educational environment was observed, considering the main difficulties faced in the school inclusion process and how this affects their quality of life.

Keywords: Pedagogical practice, Inclusive education, Teacher illness, Educational environment.

Resumen

El análisis de las interacciones entre el ejercicio del rol docente, las condiciones reales en que se da en el contexto de la Educación Inclusiva y el bienestar emocional de estos profesionales de cara a la práctica educativa ha demostrado ser un desafío constante. Hay un aumento de casos de problemas de salud entre los docentes en el ámbito laboral, pero existen insuficientes iniciativas encaminadas a cumplir con leyes y políticas específicas que apuntan a proteger la salud de los docentes en el ejercicio de su profesión. Ante esta situación, la propuesta de investigación fue analizar los principales motivos de enfermedad profesional de los docentes en el ámbito escolar desde la perspectiva de la práctica pedagógica y la Educación Inclusiva. El estudio se realiza utilizando el mapeo sistemático de la literatura que destacó los determinantes de las principales causas que conducen a los docentes a las enfermedades profesionales en la actualidad, señalando la necesidad de desarrollar acciones relacionadas con la reorganización del trabajo y la promoción de la salud. Además, se observó la necesidad de priorizar estrategias y medidas relacionadas con aspectos que impactan la salud-enfermedad de los docentes en el ámbito educativo, considerando las principales dificultades que enfrenta el proceso de inclusión escolar y cómo esto afecta su calidad de vida.

Palabras-­­­­­clave: Práctica pedagógica, Educación inclusiva, Enfermedad docente, Entorno educativo.

1 INTRODUÇÃO

               Nos últimos anos, o assunto relacionado à saúde dos docentes tem sido objeto de estudos com maior profundidade científica. Contudo, nota-se que ainda faltam dados e estratégias adequadas para promover soluções que visem à melhoria das condições de trabalho enfrentadas pelos professores, o que tem provocado o adoecimento em muitos deles.

Conforme Gasparini, Barreto e Assunção (2005), novas exigências surgiram nas escolas, mas estas não estavam preparadas para atendê-las adequadamente, resultando em desconforto e desgaste emocional para os educadores. A atividade docente tem se tornado cada vez mais complexa, pois constantemente tem se tornado progressivamente mais desafiadora e as soluções disponíveis já não satisfazem as necessidades da sociedade.

Presume-se que, independentemente do nível de ensino que atue, o docente está exposto a estressores ocupacionais, sendo, portanto, necessárias “reformas educacionais e implantação de novos modelos pedagógicos […], assim como efetiva participação da comunidade no planejamento de ações e programas voltados à temática” (DIEHL, MARIN, 2016).

Diante das reflexões postas, considerando o contexto educacional, discutir a saúde docente tem-se tornado essencial. A verdade é que frente aos desafios sócio-educacionais e as buscas por estratégias que atendam as necessidades educacionais na oferta da Educação como direito inalienável de todos os estudantes, tem levado muito professores (as) ao adoecimento.

Com isso, o estudo intitulado “saúde docente no ambiente escolar: interfaces do fazer pedagógico na educação inclusiva”, tornou-se primordialmente importante na busca de respostas que nos permitiu, através do mapeamento da literatura, acerca dos acontecimentos que vem interferindo na vida saudável desses profissionais, termos uma visão mais autêntica sobre a inter-relação saúde, trabalho docente e inclusão escolar.

Além disso, a pesquisa busca promover uma compreensão mais abrangente da natureza multifacetada do sofrimento do professor no local de trabalho. Esse conhecimento fundamental é essencial para a posterior exploração das causas, impactos e estratégias potenciais para abordar a saúde docente, lançando luz sobre os desafios e estressores que os educadores enfrentam em seu ambiente de trabalho.

A partir desse contexto, a investigação se fundamenta na revisão de literatura, sob uma abordagem analítica, tendo como objetivo, problematizar, a luz das contribuições acadêmicas, as dimensões da saúde dos professores no ambiente escolar. Para isso, foram definidos critérios de inclusão para a seleção dos artigos, priorizando os periódicos mais significativos, com o intuito de traçar um o panorama sobre o tema proposto.

            Como aspecto importante do estudo é fulcral destacar que a partir de discussões e leituras de algumas publicações anteriores, despertaram-nos o interesse em realizar levantamentos bibliográficos e mapear em futuras investigações a relevância dessa abordagem em diferentes contextos globais, buscando compreender assim, como estão sendo constituídos os estudos relacionados a saúde desses profissionais no ambiente escolar e de que maneira isso pode impactar tanto seus trabalhos quanto sua qualidade de vida.

A abordagem metodológica adotada incluiu a utilização do software rankIn – que classificou os artigos pesquisados de acordo com número de citações, fator de impacto e ano de publicação. Além disso, foi realizada análise bibliométrica – feita pelo pacote de programas Bibliometrix, utilizando o RStudio, no qual proporcionou uma visão abrangente da produção científica sobre a temática, evidenciando contribuições de diferentes países e instituições, padrões e tendências no que concerne ao estudo em questão.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 IMPACTOS DO SOFRIMENTO LABORAL NA SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES

Os efeitos do trabalho na saúde mental dos professores tem se tornado uma preocupação que tem atraído cada vez mais atenção da comunidade escolar. A natureza exigente da profissão, combinada com fatores como cargas de trabalho pesadas, estudantes desafiadores e recursos limitados, contribui para altos níveis de estresse, estado de exaustão mental e física experimentados por muitos docentes (ESTEVE, 1999).

A discussão sobre este assunto é fundamental e, em nossa opinião, deve ser intensamente abordada nos serviços de educação e saúde. Apesar de estar ganhando cada vez mais atenção no meio acadêmico, com várias investigações apontando para o aumento das taxas de adoecimento e afastamento no setor educacional, ainda existem poucos estudos focados especificamente em propostas para intervenções com ênfase na saúde mental docente.

Na atualidade o professor, no seu cotidiano, apresenta, em suas atividades pedagógicas, sentimentos de desilusão, desencantamento, desmotivação e dificuldades de lidar com as situações novas requeridas no ambiente educacional. Diante da cobrança advinda da sociedade, da escola, dos pais e a própria exigência em permanecer atualizado a fim de responder às expectativas e necessidades dos alunos, conduz o professor na busca de alternativas diferenciadas para dar conta de suas atividades pedagógicas, enquanto educador. A insatisfação frente às circunstâncias desfavoráveis e os constantes desafios que necessita enfrentar provoca sentimento de impotência, desejo de fugir de tudo, culpa, indignidade, cansaço, irritabilidade, nervosismo, desgaste físico e mental. Como consequência dessas queixas frequentes, das pressões internas, das crenças e valores de cada um, encontramos professores mais vulneráveis ao stress (MARTINS, 2007, p. 110).

Reconhecemos que, frequentemente, o tema é tratado de maneira discreta por parte das instituições, sem espaços adequados para discutir o problema. Acreditamos que os achados deste estudo possam estimular a reflexão a respeito de intervenções efetivas focadas na saúde dos docentes. Pois conforme Vale e Aguillera (2016), a falta de atenção à saúde dos professores influenciam nos resultados no processo de ensino e aprendizagem.

O cenário atual no setor educacional demanda educadores motivados para que possam executar suas funções com excelência. No entanto, na prática enfrentamos um sistema de ensino severo, com jornadas de trabalho excessivas e educadores sobrecarregados por inúmeras exigências e escassa compensação, além de outros elementos que impactam diretamente na saúde e em seu desempenho profissional (STAVRAKAKI, 2018).

“O profissional docente passa por um processo doloroso, relegando sua condição de trabalho a um plano escondido, recalcado e silencioso. Vivemos num tempo de enormes exigências de atualização, onde, com a implantação da tecnologia, supostamente diminuiremos o trabalho e teremos tempo livre, entendendo o tempo livre como: tempo livre do trabalho. Não tempo livre para exercer outra função ou ocupação que não a docente”. (WEBLER, 2007)

Caldas (2012) aponta que, recentemente, houve um aumento significativo no número de licenças médicas por motivos de saúde entre os professores. Em diversos países, foi observada uma maior incidência de problemas de saúde mental nesse grupo em comparação com outras doenças relatadas em atestados médicos, sem deixar de considerar que a docência é apontada pela Organização Internacional do Trabalho – OIT como uma das mais desgastantes em termos de estresse e esgotamento psíquico.

O professor, em seu trabalho, enfrenta inúmeros desafios e assume grandes  responsabilidades, constituindo uma das categorias profissionais mais sujeitas a  apresentar  sofrimento mental. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta a categoria docente como sendo a segunda a apresentar doenças ocupacionais (TOSTES, ET. AL, 2018, p. s/n).

Aspectos relacionados ao dinamismo, pluralidade estudantil, elevado número de estudantes em salas de aula, as novas concepções de ensino, inviabilidade do uso de Tecnologia Digitais da Informação e Comunicação – TDIC, falta de recursos/suporte pedagógico e as expectativas educacionais cada vez mais elevadas em relação aos resultados podem estar contribuindo para o adoecimento psíquico docente.

Teoricamente, a escola tem o papel de formar indivíduos […] autônomos, críticos e capazes de atuar na sociedade para torná-la melhor, para, desta maneira, também melhorar sua qualidade de vida. No entanto, as mudanças no contexto social e econômico alteraram significativamente o papel do professor e as exigências pessoais e do meio em relação à eficácia de sua atividade (SOUZA, 2007, p. 38).

A pressão crescente para atender às demandas da sociedade contemporânea, juntamente com a percepção de que seu trabalho vem se tornando cada vez mais complexo, pode ter consequências negativas para sua saúde mental desses profissionais. Para mais, Gasparini (2006) destaca que,

Além das mudanças no trabalho docente, as escolas deixaram de representar um local seguro e protegido e incorporaram a violência do cotidiano e do entorno dos estabelecimentos de ensino. A OIT e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) relatam um aumento progressivo da violência nas instituições escolares em todo o mundo e interpretam a violência escolar como expressão de fenômenos como a globalização e a exclusão social.  A violência no Brasil tornou-se uma situação social grave e esse contexto tem repercussões importantes no trabalho, sendo uma fonte importante de estresse nas  escolas (GASPARINI, 2006 p.2679-2691).

Neste sentido, diante do exposto, fica nítido que há necessidade urgente de implementação de políticas públicas que reconheçam e valorizem a importância da saúde mental dos professores.  Isso inclui a criação de programas de suporte psicológico oportunizando aos docentes compartilhar suas experiências, expressar preocupações e receber orientações que destaquem a importância da cultura do autocuidado e da qualidade de vida.

Em suma, faz-se necessário promover espaços escolares que reconheçam e valorizem o papel dos professores, proporcionando-lhes as redes de apoio (suporte psicológico e clínico), capacitação permanente e melhores condições de trabalho. Pois efetivar programas eficazes que visam à promoção da saúde mental dos professores não apenas beneficia esses profissionais, mas também contribui para um ambiente educativo mais salubre.

2.A CONTEXTO EDUCACIONAL INCLUSIVO E SUA RELAÇÃO COM O ADOECIMENTO DOCENTE

Durante sua trajetória, a escola passou por diversos ciclos que se estabeleceram através dos movimentos sociais contínuos ou até mesmo de rupturas teórico-ideológicas. Cada um desses momentos carrega uma dualidade intrínseca ao seu tempo e espaço, que influenciaram as práticas culturais, sociais e relacionais – quanto na alteração e atualização de atitudes/conceitos, que promoveram mudanças necessárias para sociedade (PETITAT, 1994).

Nesse contexto, caracterizado pela multiplicidade de sentidos que foram conferidas ao trabalho docente no espaço escolar em relação à sua essência, que se complementam e se opõem, em função das atividades que desempenham, levando-nos a refletir sobre a amplitude do fazer pedagógico e aprendizagem dos estudantes na atualidade.

Assim, o trabalho pedagógico concebido e vivenciado ao longo do tempo tem refletido princípios concepções e posturas que podem promover avanços educativos em determinados tempos e espaços e ainda verdadeiras ciladas em processos interpretativos da realidade. Mas qualquer que seja o resultado dessa interpretação, as marcas deixadas vão se explicitando de maneira a compor um rico mosaico, com muitas co-autorias (RESENDE, 2006, p. 10).

Entretanto, apesar de reconhecermos a relevância do exercício docente na facilitação da aprendizagem escolar e, por consequência, no desenvolvimento humano, permanecem necessários ajustes/adequações para aprimorar o processo de inclusão educacional de estudantes com deficiência nas classes comum do ensino regular (MANTOAN, 2007).

A inclusão educacional emergiu como um dos tópicos mais relevantes na contemporaneidade para enfrentar posturas discriminatórias que perpetuam a exclusão no ambiente escolar, conforme afirmam Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – PNNEPEI (2008),

Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas no sistema de ensino evidenciam a necessidade de confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las, a educação inclusiva assume um espaço central no debate acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da lógica de exclusão (BRASIL, 2008 p. 16).

Embora a inclusão escolar não seja vista como uma responsabilidade exclusiva do professor, já que a Educação para todos envolvem elementos de natureza ideológica, políticas, sociais e institucionais, compreende-se que o docente é um agente que desempenha um papel fundamental no contexto educacional inclusivo. Segundo Barbosa e Souza (2010, p. 353), “o sucesso ou não da inclusão depende, em grande medida, das atitudes e crenças do professor.”

Sobretudo, a nova concepção de educação, que busca a inclusão escolar no ensino regular, como direito inalienável de todos, ao reconhecer a diversidade de diferenças, suscita reflexões acerca da função do professor na formulação de uma abordagem pedagógica inovadora, capaz de adequar o ensino às necessidades individuais dos estudantes.

De acordo Codo & Batista (1999); Dejours (1994), a incessante busca por aperfeiçoamento e os desafios na adaptação à abordagem educacional inclusiva parecem influenciar a prática dos educadores, o que pode resultar em problemas de saúde mental entre os professores, manifestando sintomas associados ao sofrimento psicológico.

É essencial considerar que as dificuldades que os educadores enfrentam em sua prática não devem ser vistas apenas como consequências da presença de estudantes com necessidades educativas especiais em suas turmas. No entanto, as demandas geradas na contemporaneidade que são atribuídas aos professores, entre elas a inclusão escolar, podem, de fato, tendenciar o sentimento de adoecimento dos professores (MARCONDES, 2005).

Inclusive o adoecimento de educadores no Brasil é abordado em pesquisas de Tostes et al. (2018),  que revelam que, entre os docentes afastados do exercício de suas funções por questões de saúde, 26,72% relatam que são submetidos a isso em decorrência de sofrimento psíquico relacionado a fatores diversos vivenciados no ambiente de trabalho.

Em conformidade Cruz, et al. (2010), destacam que docentes que lecionam nas redes regulares de ensino público e privada em todo país, vem sinalizando elevada ocorrência de sentimentos  de  esgotamento, negativismo, ineficácia e falta de realização – conhecida como síndrome de Burnout – condição que pode estar associada ao estresse e à depressão e que tem se tornado problema de saúde pública.

O Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Caracteriza-se por três dimensões: 1) sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia; 2) aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo em relação ao trabalho; e 3) uma sensação de ineficácia e falta de realização. Burnout refere-se  especificamente  a  fenômenos  no  contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida (OMS, 2022).

Ademais, o processo de inclusão educacional envolve uma série de mudanças necessárias que são multifatoriais, seja no contexto escolar quanto no ambiente de trabalho e, desse modo, as particularidades individuais somadas às exigências pedagógicas inferidas no contexto escolar inclusivo, podem tornar o professor suscetível a questões de saúde.

3. METODOLOGIA

A proposta da pesquisa foi analisar os efeitos do adoecimento dos docentes no ambiente escolar a partir do prisma do fazer pedagógico e a Educação Inclusiva através do levantamento sistemático da literatura. Sendo assim, a metodologia adotada constitui-se mediante o ranqueamento de artigos por meio da metodologia Rankln e do software Bibliometrix para a automatizar as etapas de análises e visualização dos dados do estudo.

Os artigos foram, em um primeiro momento, obtidos a partir da base de dados da Scopus, considerada base de dados amplamente reconhecida por sua abrangência e diversidade de fontes acadêmicas, por meio das seguintes palavras-chave: “teaching health, pedagogical practice, inclusive education” através seleção de artigos.

No que se refere aos critérios de inclusão para a seleção dos artigos serão considerados: I) Publicação nos anos compreendidos entre 2019 e 2024; II) Abordagem relacionada a saúde docente no ambiente escolar, prática pedagógica e educação inclusiva; III) Área de estudos das ciências sociais e multidisciplinares.

Para mais, após a obtenção dos artigos, adotou-se a metodologia Rankln, o que possibilitou a identificação dos trabalhos mais significativos para nossa revisão integrativa. Essa escolha levou em conta fatores como o número de citações e a presença de palavras-chave nos títulos e resumos, visando realizar uma análise minuciosa e específica.

Na fase subsequente, levando em conta os resultados obtidos, os artigos que se destacaram em relevância foram submetidos a uma análise qualitativa de natureza documental. As informações que foram coletadas e analisadas incluem:

– Informações principais dos Artigos: Dados com intervalos de tempo, quantidade de artigos analisados, taxa de crescimento anual e outros aspectos.

– Distribuição dos artigos ao longo dos anos: levantamento conduzido para analisar a distribuição dos artigos escolhidos entre 2019 e 2024. Essa análise nos possibilitou identificar eventuais tendências e transformações ao longo do tempo sobre adoecimento dos docentes no ambiente escolar a partir do prisma do fazer pedagógico e a Educação Inclusiva.

– Distribuição de acordo com o país/regiões: A investigação explorou a distribuição geográfica dos estudos escolhidos, apontando os países e regiões que mais têm contribuído para a produção científica nesse campo. Essa avaliação pôde evidenciar desigualdades regionais e oferecer compreensões sobre a abrangência global do assunto.

– Distribuição segundo as universidades afiliadas dos autores: Adicionalmente, foram analisadas as afiliações das universidades dos autores dos artigos escolhidos, no qual possibilitarou identificar as instituições que se destacam na realização de pesquisas voltadas a questão da saúde docente, práticas pedagógicas e inclusão escolar.

Levando em conta os trabalhos identificados na literatura da base de dados da Scopus, ao final da análise, todos os dados coletados foram meticulosamente organizados e debatidos para proporcionar uma perspectiva ampla e analítica sobre a pesquisas.

4 resultadoS e discuSSõES

Nesta seção, apresentaremos os resultados referentes à utilização da abordagem RankIn e do pacote de programas (software) Bibliometrix. Primeiramente, destacamos que, ao realizar a busca nas bases de dados da Scopus, com as palavras-chave definidas, conseguimos obter/identificar um total de 82 publicações/artigos.

A abordagem RankIn foi aplicada para ordenar os 82 artigos identificados com o objetivo de reconhecer tanto os mais relevantes quanto os menos relevantes em nossa revisão de literatura. No qual, a partir da combinação de fatores que é expresso pelo InOrdinatio se pôde constituir parâmetro de relevância entre os periódicos.

a) Metodologia RankIn – Resultados da aplicação

A partir dos dados do RankIn, foram identificados os cinco artigos mais relevantes, relacionada à investigação, como demostrado na tabela a seguir:

Foram ainda estabelecidos os cinco artigos considerados menos relevantes, em relação ao estudo, conforme tabela a abaixo:

b) Metodologia RankIn – Discussão dos resultados

Para começarmos, é fundamental ressaltar que, com base nos artigos encontrados por meio da metodologia RankIn, foi possível identificar uma seleção de publicações que se destacam como mais significativas na área de pesquisa em análise.

Como tomada de decisão optamos não remover artigos com base em sua classificação para assegurar a solidez da análise bibliométrica. Assim, ao incluir os 82 artigos identificados, possibilitamos uma investigação mais completa e variada dos dados investigados.

Em resumo, a utilização da metodologia RankIn possibilitou identificar os artigos mais significativos e os de menor importância, enriquecendo a revisão e oferecendo uma análise mais completa da literatura existente sobre o adoecimento dos docentes, as práticas pedagógicas e a Educação Inclusiva.

a) Análises bibliométricas – Resultados

O software Bibliometrix, aplicado no RStudio, foi empregado para oferecer uma perspectiva ampla, sistemática e imparcial sobre a produção acadêmica vinculada ao tema em análise. Os parâmetros a seguir foram julgados como os mais adequados nesta investigação:

– Informações principais;

– Distribuição das produções científicas ao longo dos anos;

– Produção dos países ao longo do tempo;

As informações iniciais coletadas do Bibliometrix referem-se aos dados gerais dos artigos analisados. Como demonstrado abaixo, as informações obtidas mais importantes a serem destacados incluem: I) intervalo de tempo (2019 à 2024); II) número de documentos (82) e III) taxa de crescimento anual (3.89%). Dessa forma, torna-se nítido aumento nas investigações ligadas ao assunto abordado.

Em relação à distribuição das produções científicas ao longo dos anos, foram analisadas as produções entre 2019 e 2024. Segue abaixo os resultados encontrados:

As publicações científicas conforme países, ano e número de estudos realizados, os resultados mais relevantes estão dispostos na tabela a seguir:

b) Análise Bibliométrica – Discussão dos resultados

A análise investigativa, conduzida com o auxílio do pacote Bibliometrix no RStudio, ofereceu uma perspectiva ampla e clara sobre a produção acadêmica que aborda a saúde dos professores no contexto escolar.

Os critérios que foram considerados como mais significativos neste estudo englobaram as principais informações dos artigos, as distribuições das produções científicas ao longo dos anos e a contribuição dos países ao longo do tempo.

Na seção que abordou as Informações gerais dos artigos pesquisados, foi possível observar que a análise foi realizada em um intervalo de tempo compreendido entre 2019 e 2024, totalizando 82 artigos. No entanto, chama a atenção o fato de que a taxa de crescimento anual apresentou um valor 28.29%, o que indica um aumento de estudos relacionado ao tema.

Ao examinar a Distribuição das produções cientifica entre os anos de 2019 a 2024, percebe-se que nos anos de 2023 e 202 apresentaram o maior número de pesquisas, sendo publicados 15 e 17 artigos. Esse aumento pode estar relacionado pela necessidade de aprofundamento de estudos relacionada aos casos de sobrecarga de trabalho, estresse e outras questões vivenciadas pelos docentes no espaço escolar.

No que diz respeito à Produções científicas dos países no período de 2019 a 2024., foi observado que a maioria das pesquisas foi desenvolvida nos EUA, Brasil, Canadá, Reino Unido e Países Baixos. Isso pode indicar uma maior concentração de interesses e investimentos nessas regiões específicas em relação as pesquisas voltadas a saúde docente.

Em resumo, a análise bibliométrica conduzida ofereceu uma perspectiva ampla e organizada sobre a produção científica relacionada ao nosso estudo. É importante destacar que, apesar de a análise ter trazido informações significativas, há limitações a serem levadas em conta, tais como o alcance limitado dos termos de pesquisa e a disponibilidade de dados em determinadas bases de dados.

Assim, a análise bibliométrica se configura como um elemento crucial para a revisão da literatura, proporcionando dados essenciais que ajudam na compreensão do cenário acadêmico. Além disso, ela estimula a busca por novas abordagens e investigações futuras na formulação de hipóteses e na procura de respostas relacionadas ao estudo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as mudanças significativas no sistema educacional, o professor tem enfrentado diversas questões que alteram sua relação com os estudantes, seus colegas e a instituição onde trabalha. Constata-se uma prática marcada por diversos elementos desgastantes, quando combinados, resultam em uma sobrecarga emocional considerável para os docentes, o que pode desencadear uma variedade de sintomas e condições patológicas.

De maneira significativa, compreendemos a intricada natureza da questão e almejamos que os achados gerados pela pesquisa possam auxiliar o domínio acadêmico e científico, favorecendo o aprimoramento e a ampliação de investigações futuras. Contudo, a partir da análise da literatura, é possível notar que as situações ligadas à saúde dos professores no contexto escolar estão se tornando cada vez mais relevantes e reconhecidas na atualidade.

O estudo investigativo buscou contribuir com reflexões em torno do fazer do docente, no que concerne a sua multifuncionalidade de sala e o contexto educacional inclusivo. Trazendo a tona, fatores como cargas horárias elevadas, estudantes indisciplinado e desinteressado e por vezes um número elevado de matriculados em uma mesma sala, determinantes para adoecimento dos professores no ambiente escolar.

Para finalizar, consideramos essencial compreender que as questões relacionadas a saúde docente  não devem serem abordadas apenas sob a ótica dos fatores biológicos. É fundamental reconhecer a relevância de entender os significados da prática docente, através da perspectiva daqueles que vivenciam e atuam nos contextos dessa atividade. Dessa forma, enfatiza-se a importância das narrativas que emergem das experiências, ressaltando suas particularidades que compõe as vivências humanas no exercício profissional.

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CRUZ, R. M.; LEMOS J. C.; WELTER, M. M.; GUISSO, L. Saúde docente, condições e carga de trabalho. Electrónic de Investigación y Docencia – REID, v.4, p. 147-160, 2010.

OMS. ICD-11 for Mortality and Morbidity Statistics. 2022. Disponível em: https://icd.who.int/browse/2024-01/


1 Especialista em gestão escolar: Coordenação
Pedagógica e orientação educacional
Instituição: Faculdade Única de Ipatinga
Endereço: Ipatinga – Minas Gerais, Brasil
E-mail: cristianomoreiraprof@gmail.com

2 Especialista em Língua Portuguesa
Instituição: Faculdade Kurios
Endereço: Maranguape – Ceará, Brasil
E-mail: glauciatg24@gmail.com

3 Mestrando em Educação Inclusiva
Instituição: Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
Endereço: São Luis – Maranhão, Brasil
E-mail: fntnobre@gmail.com

4 Mestre em Educação
Instituição: Florida Christian University
Endereço: Orlando, Flórida – EUA
E-mail: elenilda.qxda@gmail.com

5 Especialista em Psicopedagogia clínica e institucional
Instituição: Faculdade Kurios
Endereço: Maranguape – Ceará, Brasil E-mail: euzeli.costa@gmail.com