RELAÇÃO DO HERPES ZÓSTER COM O COVID-19

RELATIONSHIP BETWEEN HERPES ZOSTER AND COVID-19

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410311647


Ana Paula Barbosa Nóbrega1
Yasmin Pereira da Silva2
José Alfredo da Silva Neto3


Resumo

Um aumento da incidência de herpes zoster durante a pandemia de COVID-19 foi relatado em várias regiões do mundo e no Brasil. Muito tem se estudado e debatido sobre a relação causa – efeito dos quadros cutâneos resultado do herpes zoster com a infecção pelo novo coronavírus. Desta forma, este estudo buscou averiguar a possível relação entre o novo coronavírus e o herpes zóster, a fim de discutir se, de fato, a associação é verdadeira ou apenas uma mera eventualidade. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura realizada nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online, National Library of Medicine e no Portal Regional Biblioteca Virtual em Saúde, buscando-se textos disponíveis online, na íntegra e gratuitos, nos idiomas portugueses, espanhol ou inglês, publicados entre 2021 a 2024, que apresentem compatibilidade com o tema e contemplem a questão de pesquisa. Após seleção com base nos critérios de inclusão, a amostra constituiu-se de 25 estudos, através dos quais foi possível evidenciar que desde o início da pandemia de COVID-19 houve um aumento expressivo nos casos de herpes zoster, permitindo afirmar que há uma forte associação entre infecção pelo herpes zoster e COVID-19. Estudos mais recentes não concordam que haja uma relação entre a vacinação contra o SARS-CoV-2 e o acometimento de herpes zoster. Ressalta-se a importância da vacinação contra a COVID-19 como importante medida de prevenção da transmissão e de redução da morbimortabilidade da infecção.

Palavras-Chave: SARS-CoV-2. Vacinação. Herpes zoster.

1 INTRODUÇÃO

A pandemia causada pelo agente patogênico SARS-CoV-2, ou novo coronavírus (COVID-19), tem representado uma interrogação para todas as especialidades médicas, devido ao amplo espectro de sintomas e comorbidades observados. Recentemente, estudos têm discutido relatos de pacientes infectados com COVID-19 associados a manifestações vesiculares de Herpes Zoster, que resulta da reativação do vírus varicela-zoster (VVZ) um vírus neurotrópico humano que provoca tanto a varicela quanto o herpes zóster (Souza et al., 2021; Maia et al., 2021; Brito et al., 2024).

O herpes zoster (HZ) é caracterizado por uma erupção vesicular unilateral dolorosa, que geralmente ocorre em uma distribuição dermatomal restrita. Uma vez que a erupção se desenvolve, o vírus livre de células, que está presente apenas nas vesículas da pele, é postulado para infectar as terminações nervosas na pele e se mover retrógrado ao longo dos axônios sensoriais para estabelecer latência nos neurônios dentro dos gânglios regionais (Souza et al., 2021).

Um aumento da incidência de herpes zoster durante a pandemia de COVID-19 foi relatado em várias regiões do mundo e no Brasil, com uma média geral brasileira aumentada em 35,4% durante a pandemia (março a agosto de 2020) em comparação ao mesmo intervalo no período pré-pandêmico nos anos de 2017 a 2019 (Maia et al., 2021).

Muito tem se estudado e debatido sobre a relação causa – efeito dos quadros cutâneos resultado do herpes zoster com a infecção pelo novo coronavírus, com o propósito de se averiguar de que maneira esse novo coronavírus provoca a reativação do vírus varicela-zoster. Além do mais, estudiosos tem se dedicado também a compreender a relação que algumas vacinas contra a COVID-19 poderiam representar para a reativação do vírus (Iwanaga et al., 2021;  Katz;Yue; Xue, 2022; Sánchez Giler; Sánchez Giler; Sánchez Giler 2023; Florea et al., 2023; Navarro-Bielsa et al., 2023; Machado et al., 2024; Brito et al., 2024).

Diante do exposto, este estudo buscou averiguar a possível relação entre o novo coronavírus e o herpes zóster, a fim de discutir se, de fato, a associação é verdadeira ou apenas uma mera eventualidade.

2 METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura (RIL) com abordagem descritiva, um método que permite a síntese dos conhecimentos e a incorporação dos resultados de estudo significativos na prática. Assim, para alcance do objetivo proposto, o estudo foi distribuído nas seguintes etapas: identificação do tema central e elaboração da hipótese ou questões de pesquisa; estipulação de critérios para inclusão e exclusão; escolha das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; análise dos estudos incluídos na revisão integrativa; compreensão dos resultados; apresentação da revisão (De Sousa; Bezerra; Do Egyto, 2023).

Todas as estas fases foram percorridas para realização deste estudo que teve como questão norteadora: “Existe uma relação comprovada entre o SARS-CoV-2 e a ativação do vírus varicela-zoster, resultando em herpes zoster?”.

Realizou-se a busca na Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), National Library of Medicine (PubMed) e no Portal Regional Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que é composto de bases de dados bibliográficos como Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE). Utilizou-se o cruzamento dos seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): 1. SARS-CoV-2; 2. Vacinação; 3. Herpes zoster, com auxílio de operadores booleanos “AND” e “OR”.  

Como critérios de inclusão, foram elegíveis textos disponíveis online, na íntegra e gratuitos, nos idiomas portugueses, espanhol ou inglês, publicados entre 2021 a 2024, que apresentem compatibilidade com o tema e contemplem a questão de pesquisa. Os critérios de exclusão foram editoriais, cartas ao editor, teses, dissertações e monografias, textos duplicados (mantendo-os apenas uma vez) e que não abordassem ao tema proposto ou respondiam à questão norteadora. 

Esclarece-se que o processo de seleção dos estudos elegíveis aos objetivos do estudo e em concordância a pergunta da pesquisa e com os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos foi dividido em quatro fases seguindo os critérios do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA): a primeira fase (identificação) resultou na busca por estudos publicados nas bases de dados utilizando os descritores definidos; na segunda fase (seleção), foram aplicados os filtros definindo assim publicações a partir do ano de 2021 e no idioma português, espanhol e inglês; na terceira fase (elegibilidade) retirou-se os estudos que não tratassem a temática; na quarta e última fase (inclusão) encontrou-se a mostra final do estudo (Page et al., 2022) (Figura 1).

No intuito de contemplar a pesquisa, adicionalmente foram realizadas buscas no Google Scholar. Na pesquisa previa encontrou-se 170 estudos, e após a aplicação dos critérios de elegibilidade, restaram 5 estudos condizentes com os objetivos pretendidos, e foram incluídos.

A triagem dos artigos foi realizada pela leitura dos títulos e resumos conforme critérios de inclusão estabelecidos. Os artigos selecionados foram lidos na íntegra para a extração de dados como autor, ano de publicação, objetivos, E periódico, os quais foram organizados no programa Microsoft Word. Por fim, a quinta e sexta etapas da RIL dedicou-se, respectivamente, à interpretação dos resultados e à apresentação da revisão, permitindo assim uma síntese do conhecimento e uma discussão entre os próprios autores analisados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Após seleção com base nos critérios de inclusão, a amostra constituiu-se de 25 estudos (Tabela 1). Evidencia-se que houve predomínio de estudos publicados nos anos de 2023 (33%; n=9) e 2024 (30%; n=8).  No que concerne ao periódico, não houve prevalência.  Ademais, houve prevalência de estudos que desenvolveram um desenho metodológico baseado em revisões narrativas (25%; n=6) e relatos de caso (25%; n=6).  

Tabela 1 – Amostra da pesquisa com base nos estudos incluídos e categorizados quanto ao ano, periódico, tipo de estudo e objetivos.

Autor; AnoPeriódicoTipo de estudoObjetivos
Souza et al., (2021)Revista de Ciências Biológicas e da SaúdeRelato de casoRelatar o caso de umpaciente que no sexto dia de infecção por Sars-Cov2 apresentou clínica de herpes zoster no território dos nervos medianos e ulnar.
Eid et al., (2021)Journal of Medical Virology
Relato de casoRelatar um caso de reativação do vírus varicela-zóster (VZV) emergindo após a vacinação com a vacina de mRNA para COVID-19.
Diez- Domingo et al., (2021)Dermatologic Therapy
Revisão narrativaDesenvolver um estudo para aumentar a conscientização entre profissionais e pesquisadores sobre a possível associação de COVID-19 e HZ.
Iwanaga et al., (2021)Clinical Anatomy
Revisão narrativaAnalisar casos de infecção por herpes zoster (HZ) após o recebimento de vacinas contra a COVID-19.
Arora et al., (2021)Journal of Cosmetic Dermatology
Relato de casoRelatar o caso de reativação da infecção pelo vírus varicela-zoster em um paciente idoso que recebeu a vacina viral inativada para COVID-19.
Maia et al., (2021)International Journal of Infectious Diseases

Estudo retrospectivoComparar os dados do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre o número de diagnósticos de Herpes Zoster de março a agosto de 2017 a 2019, com o mesmo período de 2020, nas cinco regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste).
Akipandak et al., (2022)JAMA Network Open
Estudo de coorteAvaliar se a vacinação contra a COVID-19 está associada a um risco aumentado de infecção por herpes zoster.
Algaadi (2022)Infection
Revisão integrativaEvidenciar a importância da vacina do HZ para se evitar acometimento principalmente quando há risco de infecção pelo vírus do COVID – 19.
Navarro-Bielsa et al., (2023)Anais Brasileiro de Dermatologia
Revisão narrativaRevisar sobre casos relatados de reativação de diferentes vírus da família Herpesviridae após infecção com COVID-19 ou vacinação contra esse vírus.
Florea et al., (2023)Expert Review Of Vaccines

Estudo de coorteAvaliar a associação entre a vacinação de mRNA COVID-19 e HZ.
Barone; Toledo (2023)BionorteRevisão integrativaAvaliar se há uma evidente relação entre a Herpes Zoster e a vacinação da COVID-19.
Sánchez Giler; Sánchez Giler; Sánchez Giler; (2023)Revista Cubana de Medicina Tropical
Relato de casoDescrever o caso de um paciente adulto com desenvolvimento de HZ, durante a convalescença da infecção por SARS-CoV-2.
Katz; Yue; Xue (2023)Irish Journal of Medical ScienceEstudo retrospectivo ecológicoRelatar sobre a prevalência de HZ em pacientes confirmados com COVID-19.
Irigoyen-Mansilla et al., (2023)Human Vaccines & Immunotherapeutics
Estudo descritivoEstimar as taxas de hospitalização, as taxas de mortalidade e os custos devido ao HZ durante os piores anos da pandemia de COVID-19 na Espanha (2020–2021).
Chen; Chiu (2023)The Journal of the American Academy of Dermatology
Revisão sistemáticaEstudar o desenvolvimento de HZ após a vacina contra CODIV-19.
Narasimhan et al., (2023)Journal of Family Medicine and Primary Care
Relato de casoDescrever 10 casos que desenvolveram HZ dentro de 2–3 semanas após adquirir a infecção por COVID-19.
Muhammad et al., (2023)American Journal of Clinical Case Reports
Relato de casoRelatar o caso de homem idoso que desenvolveu herpes zoster após receber uma dose de reforço da vacina Pfizer-BioNTech (BNT162b2), sem efeitos adversos após a primeira e a segunda doses.
Brito et al., (2024)Brazilian Journal of Health ReviewRevisão narrativaRealizar uma meta-análise dos casos e avaliar a correlação entre o COVID-19 e os crescentes números de herpes zóster na população.
Zajdhaft et al., (2024)Brazilian Journal of Health ReviewRevisão sistemáticaInvestigar a correlação entre a infecção pelo SARS-CoV-2 e sua vacina com a ocorrência de herpes zoster em idosos.
Machado et al., (2024)Archives of Health
Revisão narrativaRevisar sobre a associação entre Herpes Zóster e vacinação contra o SARS-CoV-2.
Parikh et al., (2024).Infectious Diseases and Therapy
Revisão narrativaElucidar os efeitos globais da pandemia de COVID-19 no HZ.
Wang et al., (2024)Journal Of Medical Viroly
Revisão sistemáticaAvaliar o risco de ocorrência/recorrência de herpes zoster (HZ) após infecção e vacinação por COVID-19.
Pala et al., (2024)Heliyon
Estudo de coorte retrospectivoDeterminar quantos casos de herpes zoster (HZ) ocorreram após a vacinação contra a COVID-19 e verificar se havia uma possível ligação.
Azrielant et al., (2024)Acta Dermato-Venereologica
Estudo transversalInvestigar a associação entre a vacina e a gravidade do HZ.
Elbaz et al., (2024)Open Forum Infectious Diseases
Estudo retrospectivo multicêntrico de caso-controleAvaliar se a vacina contra a COVID-19 está associada à doença neurológica induzida pelo vírus varicela-zoster.

Maia et al., (2021) revelam um aumento médio correspondente a 10,7 casos de HZ por milhão de habitantes durante a pandemia em todas as regiões brasileiras, e declaram que, embora a associação entre HZ e COVID-19 não esteja bem estabelecida, observa-se um aumento nos casos de HZ durante a pandemia de COVID-19, o que sugere uma correlação entre essas doenças. Pala et al., (2024) expoem que o número médio anual de casos de HZ de 2016 a 2020 foi de 271, mas o número de casos de HZ em 2021 foi de 338, refletindo um aumento. Katz, Yue e Xue (2022) também consideram a existência de uma forte associação entre infecção pelo HZ e COVID-19, e assinalam que, embora a natureza exata da associação ainda não tenha sido esclarecida, os clínicos devem ter conhecimento sobre essa relação.

Souza et al., (2021) e Sánchez Giler, Sánchez Giler e Sánchez Giler (2023) postulam que o aumento dos casos de herpes zoster durante a pandemia por COVID 19 pode ser resultado do fato de que a infecção por SARS-CoV-2 pode causar alterações nos níveis de leucócitos, resultando em uma diminuição na contagem de células de defesa, principalmente de células T CD4 +, células T CD8 +, células B e células de defesa naturais. Portanto, uma desregulação do sistema imunológico associada ao estresse emocional poderia ser um mecanismo fisiopatológico no desencadeamento de HZ no nível molecular em pacientes com COVID-19

Brito et al., (2024) verificaram em seu estudo que a literatura científica evidencia um número crescente de casos de infecções de herpes zóster durante o surto de COVID-19, propondo uma provável coexistência dos dois vírus, ou um aumento da prevalência de HZ no contexto da infecção e vacinação do coronavírus. Os autores especulam que uma desregulação do sistema imunológico associada ao estresse emocional e seu comportamento no organismo poderia ser um fator envolvido para funcionar como um gatilho na reativação viral por Varicela Zoster/Herpes Zoster.

Narasimhan et al., (2023) apontam como possíveis gatilhos para o aparecimento do HZ após infecção por COVID-19 o estresse severo (relacionado a problemas de quarentena, medo de hospitalização e morte), desregulação imunológica e terapia sistêmica com esteroides no tratamento de COVID-19.

Zajdhaft et al., (2024) encontraram em seu estudo com objetivo de identificar a relação do SARS-CoV-2 e sua vacina com a ocorrência de herpes zoster em idosos que a idade mediana foi de aproximadamente 64 anos, com 22,2% homens e 77,8% mulheres. Quanto à vacinação anti-SARS-CoV-2, sugere-se que as vacinas de RNAm apresentariam um maior risco de reativação do vírus Varicela-Zoster, o que permite concluir que o vírus que afeta o sistema respiratório também interfere no sistema imunológico. 

Eid et al., (2021) e Arora et al., (2021) revelam o fato de que a imunomodulação induzida pela vacina, especialmente a desregulação das células T, determina a reativação do VVZ, mas consideram a necessidade de mais estudos para confirmar essa associação.

Diante do contexto de acometimento do HZ em idosos, e sua possível relação com a COVID 19 e suas vacinas, Algaadi (2022) e Irigoyen-Mansilla et al., (2023) recomendam que, por segurança, idosos devem ser vacinados contra HZ, com intuito de se evitar sobrecarga dos serviços de saúde e diminuir o acomentimento caso haja infecção por  o risco de pegar a infecção por SARS-CoV-2. 

Diez- Domingo et al., (2021) e Irigoyen-Mansilla et al., (2023) apoiam que os profissionais devem estar cientes do possível aumento do risco de HZ durante o período da pandemia e considerar medidas terapêuticas e preventivas oportunas contra HZ, principalmente em idosos. Desta forma, considera-se altamente recomendável avaliar novas estratégias de vacinação contra o VZV para incluir a vacina HZ como ação estratégica preventiva, assim como defende Parikh et al., (2024).

Florea et al., (2023) obtiveram dados em seu estudo que sugerem um risco potencial aumentado de HZ após uma segunda dose de vacinas de mRNA, potencialmente impulsionado pelo risco aumentado em indivíduos com idade ≥50 anos sem histórico de vacinação contra zoster. Pala et al., (2024) acharam em seu estudo uma alta taxa (35,9%) de vacinação contra COVID-19 entre pessoas diagnosticadas com HZ, e consideram que a vacinação contra COVID-19 pode estar associada à reativação do vírus varicela zoster, e por isso o histórico de vacinação deve ser obtido em pacientes com HZ.

Navarro-Bielsa et al., (2023) também se propuseram a estudar a relação entre a vacinação contra o novo coronavírus e o HZ, e concluíram que todas as vacinas correspondentes aprovadas na Europa, até o ano do estudo, parecem ser capazes de induzir a reativação do Herpes vírus. Barone e Toledo (2023) concordam e evidenciam uma possível casuística de acometimento da HZ em pacientes que receberam vacinas contra a COVID-19.

Iwanaga et al., (2021) e Machado et al., (2024) assentem sobre o mesmo posicionamento de Navarro-Bielsa et al., (2023) e Barone e Toledo (2023), mas destacam que fatores como a quantidade de doses administradas, o número e características dos participantes influenciam os resultados, sendo por isso necessário estudos epidemiológicos para confirmar essas associações, considerando o estado imunológico dos pacientes, patologias subjacentes, e co-infecções com outros vírus, concluindo portanto que não é possível afirmar com clareza que a vacina contra COVID-19 seja um fator causal definitivo para a reativação do herpes zoster. 

Conforme explanaram Iwanaga et al., (2021) e Machado et al., (2024), Chen e Chiu (2023) declaram que a a associação entre as vacinas contra COVID-19 e o HZ ainda não pode ser uma relação comprovada pequeno número de casos e à falta de grupos de controle, havendo, portanto, a necessidade de maiores estudos e debates sobre a temática.

Já Akipandak et al., (2022) estudaram 2 039 854 indivíduos que receberam qualquer dose de uma vacina contra a COVID-19 e não encontraram associação entre a vacinação contra a COVID-19 e um risco aumentado de infecção por herpes zoster. Wang et al., (2024) também afirmam que a a infecção por COVID-19 aumenta o risco de HZ, mas a vacina contra COVID-19 não.

Concordando com Akipandak et al., (2022) e Wang et al., (2024), Azrielant et al., (2024) e Elbaz et al., (2024) averiguaram que a vacinação contra COVID-19 não foi associada a um risco relacionado ao HZ.

Muhammad et al., (2023) salientam que a vacinação contra a COVID-19 continua sendo uma medida importante para prevenir a transmissão da infecção e reduzir a mortalidade e morbidade causadas por ela. No entanto, os profissionais de saúde devem estar cientes da possível associação entre a vacinação contra a COVID-19 e o herpes zoster.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo demonstrou por meio da análise realizada na literatura científica investigada que desde o início da pandemia de COVID-19 houve um aumento expressivo nos casos de herpes zoster, permitindo afirmar que há uma forte associação entre infecção pelo herpes zoster e COVID-19.  Os fatores que favorecem essa relação englobam estresse severo (relacionado a problemas de quarentena, medo de hospitalização e morte), desregulação imunológica, terapia sistêmica com esteroides no tratamento de COVID-19, e a vacinação contra o SARS-CoV-2.

No entanto, estudos mais recentes não concordam que haja uma relação entre a vacinação contra o SARS-CoV-2 e o acometimento de herpes zoster, sendo necessário que estudos mais robustos sejam desenvolvidos.

Desta forma ressalta-se a importância da vacinação contra a COVID-19 como importante medida de prevenção da transmissão e de redução da morbimortabilidade da infecção.

REFERÊNCIAS

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1Residente de Medicina de Família e Comunidade e Pós-graduanda em Dermatologia Clínica, Cirúrgica e Cosmiatria. E-mail: paulanobrega.ce@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8071-9140
2Residente de Medicina da Família e Comunidade Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: yasminpsilva.md@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0005-1409-812X
3Graduando de Medicina Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: josealfredosneto12@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6917-6421