A SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE PÓS PANDEMIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410311442


Maria Edduarda Santana da Silva
Rebeca Barleta Carvalho dos Anjos


RESUMO

Introdução: Muito se tem discutido sobre os impactos na saúde mental dos profissionais envolvidos nos cuidados à comunidade após a pandemia de COVID-19. Visto que o cenário de surto global, iniciado em 2020, gerou um nível sem precedentes de estresse e desgaste entre esses trabalhadores, devido à intensidade e à duração da crise sanitária. A pandemia não apenas expôs esses profissionais a um risco iminente de infecção, mas também trouxe consigo ameaça à integridade física, mental e social. Materiais e Método: A pesquisa foi realizada por meio de uma revisão bibliográfica, utilizando artigos científicos publicados entre os anos de 2022 e 2024. As bases de dados empregadas foram Google Acadêmico, PEPSIC e Scielo, devido à sua confiabilidade. Para a pesquisa efetiva, foram utilizados os descritores: “Pós Pandemia”, “Saúde Mental”, “Profissionais de Saúde” e “Brasil”, com o operador booleano “E”. A análise foi conduzida com base na leitura dos resumos e das introduções dos artigos, buscando identificar a relação entre a saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no contexto pós-pandemia para ser possível obter o resultado da pesquisa. Resultados: Para a execução deste levantamento, foram utilizados os descritores “Pós pandemia” e “Saúde mental” e “Profissionais de saúde” e “Brasil”, nos bancos de dados Google acadêmico (880 artigos), PePSIC (0 artigos) e SCIELO (0 artigos). Conclusão: Pode-se compreender que o tema da saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no período pós-pandemia ainda é relativamente pouco explorado, especialmente no que diz respeito às suas especificidades e ao impacto prolongado da crise sanitária. A análise revelou que, embora haja um crescente interesse e algumas investigações importantes, muitos aspectos relacionados ao bem-estar psicológico desses profissionais, ainda não foram totalmente abordados. Este é um campo essencial e cada vez mais relevante para a psicologia e para a saúde pública, dado que a pandemia trouxe à tona diversas necessidades e desafios que afetam diretamente a saúde mental desses trabalhadores.

Palavras-Chave: Pós Pandemia, Saúde mental, Profissionais de Saúde, Brasil.

Introdução

A pandemia de COVID-19, iniciada em 2020, trouxe impactos avassaladores para a saúde pública e a saúde mental global, com efeitos especialmente graves sobre os profissionais de saúde, que estiveram na linha de frente do combate à crise. A sobrecarga emocional vivida por esses trabalhadores resultou de uma combinação de fatores: o risco contínuo de contaminação, a escassez de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), as longas jornadas de trabalho e os dilemas éticos frequentes, como a decisão de quem atender em situações de recursos limitados. A ameaça constante à própria vida e à dos familiares, bem como a responsabilidade de cuidar de pacientes em condições extremamente adversas, gerou níveis elevados de esgotamento físico, mental e emocional (Dantas, 2021).

No Brasil, onde o primeiro caso de COVID-19 foi registrado em fevereiro de 2020, a pandemia se intensificou rapidamente, levando o sistema de saúde a um colapso em várias regiões. Profissionais de saúde, desde médicos e enfermeiros até técnicos e auxiliares, foram diretamente impactados não apenas pela exposição ao vírus, mas também pelo luto constante ao perder pacientes e colegas. A impossibilidade de manter o contato familiar regular e o isolamento social imposto pela necessidade de contenção do vírus exacerbaram ainda mais o sofrimento emocional. Além disso, a pressão contínua da mídia e o excesso de informações, muitas vezes conflitantes ou negativas, aumentaram a sensação de incerteza e vulnerabilidade (Tannús et al., 2024).

Estudos conduzidos durante e após a pandemia apontam para uma série de sintomas psicológicos recorrentes entre esses trabalhadores, incluindo ansiedade, humor deprimido, transtornos do sono, estresse pós-traumático e sentimentos de insuficiência. Esses sintomas, por sua vez, refletem a profundidade do impacto na saúde mental dos profissionais, comparável a outras crises de saúde pública globais, como o surto de Ebola na África e a epidemia de SARS na Ásia, cujos efeitos psicológicos perduraram por anos. As perdas acumuladas, tanto pessoais quanto profissionais, o medo de contaminação e a sobrecarga de trabalho são elementos centrais no sofrimento emocional desses indivíduos, que enfrentaram dilemas éticos com potencial de gerar conflitos internos profundos e desgaste moral (Souza et al., 2022).

A vulnerabilidade dos profissionais de saúde durante a pandemia foi ainda mais acentuada em grupos específicos, como mulheres, jovens e aqueles com menor status socioeconômico. As condições de trabalho adversas, o risco elevado de contágio (estimado entre 97% e 100% para algumas categorias) e as desigualdades no acesso a suporte psicológico e físico contribuíram para o agravamento da saúde mental nesse contexto. Esses dados reforçam a necessidade de estratégias robustas de intervenção, tanto no âmbito da prevenção quanto no tratamento dos impactos emocionais, com um foco especial no apoio a longo prazo (Saidel et al., 2020).

Nesse sentido, organizações como a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde do Brasil destacam a importância de sistemas de suporte psicológico que envolvam escuta ativa, acolhimento empático e cuidados continuados para os trabalhadores da saúde. A criação de plantões psicológicos, o apoio através da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e a valorização de políticas públicas voltadas à saúde mental são medidas essenciais. O pós-pandemia requer uma abordagem centrada no bem-estar desses profissionais, que não apenas enfrentaram o colapso do sistema de saúde, mas carregam o peso emocional de uma das maiores crises sanitárias da história recente (Weintraub et al., 2020).

Portanto, compreender os efeitos psicológicos de longo prazo da pandemia de COVID-19 nos profissionais de saúde é fundamental para elaborar políticas eficazes de recuperação. O reconhecimento do sofrimento emocional e a implementação de estratégias de suporte são essenciais para garantir que esses trabalhadores, que sustentaram o combate à crise, recebam o cuidado necessário para sua saúde mental e bem-estar integral no período pós-pandemia.

Materiais e Métodos

Este estudo foi conduzido por meio de uma revisão bibliográfica com o objetivo de investigar o estado da saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no período pós-pandêmico. A pesquisa incluiu artigos científicos publicados entre 2022 e 2024, utilizando as bases de dados Google Acadêmico, PEPSIC e Scielo, reconhecidas por sua confiabilidade em pesquisas acadêmicas e científicas. Os descritores utilizados foram: “Pós Pandemia”, “Saúde Mental”, “Profissionais de Saúde” e “Brasil”, com o operador booleano “E”, de modo a garantir a especificidade e a relevância dos estudos selecionados. A análise foi baseada na leitura dos artigos, focando na relação entre saúde mental e os desafios enfrentados pelos profissionais da saúde no Brasil pós a pandemia.

Resultados

Durante o processo de levantamento, o descritor “Pós pandemia” foi essencial para delimitar os artigos que abordavam o período específico pós-crise sanitária. No Google Acadêmico, foram encontrados 880 artigos, enquanto as bases PePSIC e SCIELO não retornaram artigos relevantes para o tema. Dentre os resultados analisados, identificou-se uma carência de investigações abrangentes sobre as condições psicológicas dos profissionais da saúde no Brasil, embora haja um crescente interesse no tema. Grande parte dos estudos focava em aspectos gerais da saúde mental, com poucos detalhando as especificidades das dificuldades enfrentadas no período pós-pandêmico, como o esgotamento emocional prolongado, o transtorno de estresse pós-traumático e o luto coletivo.

Discussão

A análise dos impactos da pandemia de COVID-19 na saúde mental dos profissionais de saúde revela um cenário de desgaste psicológico que deve ser abordado com urgência. Os estudos discutidos demonstram que, desde o início da crise sanitária, esses trabalhadores experimentaram níveis elevados de estresse e exaustão, sendo constantemente expostos ao risco de contaminação, à perda de pacientes e colegas, e às pressões de decisões éticas e clínicas sob condições extremas (Dantas, 2021; Souza et al., 2022). Este quadro se assemelha a outras crises globais, como o surto de ebola e a epidemia de Sars, em que os efeitos psicológicos persistiram por anos, ressaltando a necessidade de intervenções imediatas e contínuas (Saidel et al., 2020).

Diante disso, torna-se fundamental aprofundar o debate sobre a implementação de políticas públicas voltadas ao bem-estar emocional dos profissionais de saúde. Estratégias que envolvam suporte psicológico de longo prazo, como plantões de atendimento emocional e a criação de redes de apoio dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), são essenciais para mitigar os efeitos persistentes do estresse e da ansiedade (Weintraub et al., 2020). A atuação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) também se mostra crucial, oferecendo uma abordagem multidisciplinar que pode abordar tanto os efeitos agudos quanto os crônicos no bem-estar psicológico desses trabalhadores.

Outro ponto que emerge da literatura é a vulnerabilidade particular de grupos dentro do setor de saúde, como as mulheres, os jovens e aqueles com menor status socioeconômico (Saidel et al., 2020). Essa desigualdade de impacto destaca a importância de políticas de saúde mental que considerem essas especificidades e garantam que o suporte oferecido seja adequado às diferentes realidades dos trabalhadores. Mulheres, por exemplo, tendem a assumir maiores responsabilidades no âmbito familiar, o que agrava os efeitos do isolamento social e da pressão profissional durante a pandemia.

Além disso, o excesso de informações muitas vezes conflitantes e negativas transmitidas pela mídia durante a pandemia, conforme mencionado por Tannus et al. (2024), amplificou a sensação de incerteza entre os profissionais de saúde. Esse fenômeno contribuiu para o aumento dos níveis de ansiedade e de desconfiança em relação a informações formais e positivas, dificultando o enfrentamento psicológico da crise.

As intervenções propostas para enfrentar essa realidade devem ir além de medidas paliativas. A promoção de um ambiente de trabalho que valorize o bem-estar mental, com a implementação de turnos que reduzam a sobrecarga, acompanhamento psicológico regular e a criação de espaços de escuta ativa e acolhimento, são passos necessários para construir uma recuperação sustentável no período pós-pandemia. A resiliência e a capacidade de lidar com o trauma coletivo que esses profissionais vivenciaram dependem do suporte contínuo e da priorização da saúde mental como um elemento central nas políticas de saúde pública.

Portanto, a discussão sobre os impactos psicológicos da pandemia nos trabalhadores de saúde exige um olhar atento às especificidades das categorias mais vulneráveis e à criação de estruturas que promovam o autocuidado e o suporte emocional. A adoção de estratégias duradouras que compreendam a complexidade do sofrimento emocional desses profissionais será essencial para garantir sua recuperação e a continuidade de um sistema de saúde eficiente e humanizado no Brasil e em outras partes do mundo.

Conclusão

A pandemia de COVID-19 impôs uma série de desafios sem precedentes à saúde pública global, com impactos profundos na saúde mental dos profissionais de saúde. Esses trabalhadores, que estiveram na linha de frente do combate à crise, enfrentaram não apenas o risco constante de contaminação, mas também o esgotamento emocional resultante de longas jornadas, falta de recursos e dilemas éticos. Os efeitos psicológicos observados, como ansiedade, depressão, transtornos do sono e estresse pós-traumático, revelam a profundidade do sofrimento enfrentado por esses indivíduos, comparável a outras crises globais de saúde pública.

No Brasil, onde a pandemia sobrecarregou o sistema de saúde, as consequências emocionais para os profissionais foram ainda mais exacerbadas pela pressão social, o isolamento e a falta de suporte adequado. Esses fatores destacam a necessidade urgente de intervenções voltadas à saúde mental, tanto durante quanto após a pandemia. Estratégias como plantões psicológicos, redes de apoio contínuo e políticas públicas que valorizem o bem-estar emocional desses profissionais são fundamentais para assegurar sua recuperação no longo prazo.

A conclusão que se pode extrair deste estudo é que a saúde mental dos trabalhadores da saúde precisa ser tratada como uma prioridade no cenário pós-pandemia. Investir no suporte psicológico e criar ambientes de trabalho mais saudáveis são passos essenciais para garantir a resiliência desses profissionais, que desempenharam um papel crucial na resposta à maior crise sanitária da história recente. Somente através de uma abordagem integrada, que considere tanto o bem-estar emocional quanto às necessidades estruturais do sistema de saúde, será possível promover a recuperação efetiva e sustentável desses trabalhadores.

Referências

Dantas, E. S. O. (2021). Saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no contexto da pandemia por Covid-19. Interface, 25, e200203. https://doi.org/10.1590/Interface.200203

Tannús, S. F., Meneses, U. I. B. D., Freitas, V. L. A. M. de, Porto, V. de A., Fonseca, L. de C. T. da, Souza, N. M. de, & Moura-Ferreira, M. C. de. (2024). A saúde mental dos trabalhadores da saúde pós-pandemia da COVID-19: Análise epidemiológica e conceitual. Revista Sustinere, 12(Sem número), 47–54. https://doi.org/10.12957/sustinere.2024.80216

Souza, A. V. de, Silva, L. R. da, Dantas, F. R., & Passos, M. A. N. (2022). Impacto da pandemia da Covid-19 na saúde mental dos profissionais de saúde. REVISA (Online), 11(2), 173–181. https://doi.org/10.5935/2595-0136.20220003

Weintraub, A. C. A. de M., Saidel, M. G. B., Lima, M. H. M., Campos, C. J. G., Loyola, C. M. D., & Esperidião, E. (2020). Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: Orientações aos trabalhadores dos serviços de saúde. Fiocruz. https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/41828

Saidel, M. G. B., Lima, M. H. M., Campos, C. J. G., Loyola, C. M. D., Esperidião, E., & Santos, J.R. (2020). COVID-19: Saúde mental dos profissionais de saúde. Revista Enfermagem UERJ, 28, e49923. https://doi.org/10.12957/reuerj.2020.49923