REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410311302
Amós Almeida da Silva Santos
Maria Eduarda Ramos
Orientador: Prof . Esp. Renan da Silva Gravatá
RESUMO
O presente artigo promove um estudo sobre métodos de gestão de recursos na indústria da engenharia civil, apresentando os conceitos e princípios da filosofia Lean construction, destrinchando sobre suas aplicações no controle de desperdícios de insumos, indicando maneiras de executar uma obra de forma rápida, enxuta e econômica, otimizando a mão de obra, tempo e materiais, buscando, assim, o controle e a diminuição de gastos. O estudo abrange uma pesquisa bibliográfica avaliando a viabilidade do tema, explanando seus conceitos e do porquê utilizá-los numa construção. Dessa forma, este estudo avalia a aplicação destes princípios voltados ao controle de perdas em todas as etapas que abrangem a construção de um empreendimento.
Palavras-chave: Filosofia Lean construction, insumos, construção civil, canteiro de obras, perdas
1. INTRODUÇÃO
O desperdício de materiais no canteiro de obras afeta diretamente a produtividade e a eficiência na indústria da construção civil, pois ele gera prejuízos tanto no quesito financeiro quanto ao tempo (SILVA et al, 2019). Além da perda de custo, o material descartado também gera uma quantidade significativa de resíduos; conhecidos como Resíduos da Construção Civil (RCC), que afetam significativamente o meio ambiente quando não há descarte adequado ( SANTOS, 2019).
Segundo ABRECON (2020), as atividades construtivas sejam elas de renovação ou demolição, geram perdas de insumos em todas as etapas de vida de uma edificação, sendo necessário o gerenciamento desses materiais, para viabilizar o descarte e uma possível reciclagem.
A descarte desses materiais advém através da cadeia de fatores relacionadas com o ciclo de construção de um empreendimento, sendo o armazenamento e o consumo uma das principais causas do desperdício, problemas esses, que afetam diretamente na produtividade do canteiro de obras, gerando gastos e adversidades físicas, que faz com que a qualidade dos insumos caia ( ARAUJO et al, 2022).
A ausência de orientação técnica, somada com a pouca mão de obra especializada contribuem exponencialmente com a gestão de baixa qualidade desses materiais, para contornar a situação as empresas devem investir em profissionais qualificados e em sistemas de controle de gastos eficientes (GONÇALVES et al, 2021). Como uma forma de contornar o baixo gerenciamento no canteiro de obras pode-se adotar o Sistema Toyota de Produção que apresenta a filosofia lean construction ou construção enxuta, pensamento esse que propõe uma série de operações que visam uma construção sem desperdícios (RIBEIRO et al, 2023).
O Sistema Toyota de Produção, através da construção enxuta, é o resultado de uma busca de um sistema de gestão eficiente, que opera tanto com a economia quanto com o tempo, principalmente na redução de perda de insumos durante o processo construtivo (MILHAN, 2021). Desta forma o presente artigo visa uma revisão bibliográfica, bem como um estudo dos casos apresentados, provenientes de uma análise sucinta dos princípios da construção enxuta, além de verificar sua aplicação em prol da redução do desperdício de materiais no canteiro de obras.
2. JUSTIFICATIVA
A filosofia Lean Construction é de grande vantagem na construção civil porque promove a eficiência, reduz custos, melhora a qualidade, aumenta a satisfação do cliente e reduz os riscos associados à execução de projetos de construção (ARÁUJO, 2023). A construção enxuta possibilita um controle de materiais de forma eficiente pelo modo como utiliza seus recursos através de uma abordagem operacional íntegra e eficaz.
3. OBJETIVOS
3.1. OBJETIVO GERAL
O presente projeto tem como objeto de pesquisa o índice crescente de desperdício gerado pela indústria de construção civil, investigando todo o ciclo de vida da obra, desde o recebimento do material até o destino final do mesmo, a fim de encontrar uma solução para o ocasional desperdício destes insumos. Além de verificar sua aplicabilidade em um canteiro de obras.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Realizar um levantamento bibliográfico sobre o tema; Descrever a metodologia Lean Construction Analisar as vantagens e desafios enfrentados pela filosofia Lean.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.2. LEAN CONSTRUCTION
O sistema Toyota de Produção revolucionou a indústria automotiva com sua filosofia de gestão, com o foco de aprimorar o sistema de produção em massa (PEREIRA et al, 2015). O termo Lean foi criado com o objetivo de simplificar e aumentar a eficiência da produção em massa, melhorando a cadeia produtiva, da obtenção da matéria prima até a gestão de funcionários (BOERIZ et al, 2022).
O primeiro a perceber que a filosofia criada a partir do sistema Toyota poderia ser usada para a construção civil foi Koskela, que nomeou a metodologia de Lean Construcition ou construção enxuta (KOSKELA,1992; SOUSA et al, 2019). Agregando os objetivos do método Lean na construção civil, dos quais se encontram abaixo:
● Diminuir atividades que não geram valor: aprimorar os exercícios de conversão e fluxo, ou seja, na erradicação de atividades de fluxo que não geram valor ao produto;
● Custo do produto de acordo com a necessidade do cliente: o processo prioriza as necessidades dos clientes a fim de satisfazê-los;
● Sintetizar a variabilidade: estimar variações quanto à matéria prima, ao processo de execução e demanda;
● Reduzir tempo de ciclo: definir a soma de todos os tempos envolvidos no processo, eliminando o tempo ocioso de produção;
● Assingelar através da redução de passos ou partes: ligado aos sistemas construtivos em que é priorizado a padronização;
● Aumentar a maleabilidade de saída: fazer alterações finais de acordo com a exigência do cliente;
● Alçar a transparência do processo: transparência em todo o ciclo de produção;
● Apontar o controle no processo global: decorre em assegurar o controle dos processos gerais da obra;
● Eliminar possíveis desperdícios: perdas que podem acontecem durante toda a produção, como, por exemplo, atividades de transporte repetidas, trabalho, estoque;
● Almejar melhorias no processo: apresentação de ideias para aprimorar um processo para conter custos;
● Benchmarking: respalda-se no conhecimento de boas práticas de outras empresas similares e referenciadas com o intuito de adequar as mesmas de acordo com a realidade da empresa.
4.1. DESPERDÍCIO DE INSUMOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Na área da construção civil, um dos obstáculos mais assíduos e que compromete a produtividade e eficiência das obras é o desperdício de materiais (SANTOS , 2019). As perdas são tanto no quesito físico, quanto em tempo, criando prejuízos ao empreendimento e, consequentemente, à competitividade das empresas (AZEVEDO, 2023).
Estudos recentes concluíram que as perdas de insumos chegam a 8% e as financeiras, chegam a 30%, o destino inadequado deste tipo de resíduo pode causar grande consequências ambientais, levando isso em consideração o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente decretou a Resolução n° 307 e a Lei n° 12.304/2010, que institui uma Política Nacional de Resíduos Sólidos, obrigando gestores a um descarte e manuseio adequados a tais materiais (CONAMA, 2002). Dessa maneira, segundo BATISTA (2022), tais resíduos foram divididos em classes, sendo elas:
Classe A: sendo classificados como resíduos reutilizáveis, são todos aqueles materiais oriundos do próprio canteiro de obras, como, por exemplo, o solo retirado para terraplanagem.
Classe B: são resíduos recicláveis, cujo destino pode haver ou não relação com a indústria da construção civil, como plástico, papelão, madeira, entre outros.
Classe C: são resíduos onde não há possibilidade de reuso, ou seja, são aqueles que não podem ser reutilizados ou reciclados.
Classe D: os resíduos com essa classificação são aqueles considerados de alta periculosidade, capazes de causar danos à saúde humana e ao meio ambiente, podendo ser desde caráter tóxico à patogênico.
Levando em consideração o gerenciamento destes materiais, um dos principais fatores responsáveis pela presente situação de elevados desperdícios no setor é a administração do canteiro de obras, o tipo de canteiro adotado, bem como o layout escolhido, possuindo grande influência na condução de desperdícios de um empreendimento (FREITAS, 2021).
4.3. CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS NO LEAN CONSTRUCTION
Segundo a filosofia Lean Construction as perdas são mais do que mero desperdício de material, mas também são um uso exagerado dos insumos, que suprem para além do necessário no canteiro de obras, sejam elas quais forem (COSTA, 2021). No ciclo de produção todas as etapas devem ser consideradas, sendo um fluxo de materiais e informações.
Desta forma Ohno (1997) classifica 7 categorias de perdas a serem levadas em consideração:
1) Perda por superprodução: sendo classificada, também, como perda quantitativa ou perda por antecipação, ela indica uma produção acima do necessário, quando há antecipação na fabricação do produto, o quê, por consequência, resulta num desperdício exacerbado destes materiais. Dessa forma, tal fator indica que a produção com o pensamento em uso futuro ou com o intuito de estoque, podem gerar produtos de baixa qualidade, com perda do prazo de validade e desperdício (SOUZA et al, 2016).
2) Perda por transporte: correspondendo às movimentações, ou seja, a atividade de mudança de um material de um lado para outro, como, por exemplo, transporte por empilhadeira ou o transporte de concreto usinado por caminhão betoneira. Tal perda apresenta além de perda física aos materiais, mas também em caráter temporário, uma vez que o transporte pode ser um processo demorado, interferindo no andamento do ciclo produtivo, porém, de grande importância devido a dificuldade de aquisição de certos materiais (FALCÃO et al, 2009).
3) Perda por processamento: define-se perda por processamento como a realização de atividades que não são necessárias para que o produto adquira suas características básicas de qualidade, ou seja, o desperdício gerado ao decorrer das fases do projeto (SANTOS et al, 2016).
4) Perda por fabricar produtos defeituosos: Este tipo de perda é a mais perceptível das perdas, consistindo na produção de produtos que não atendem as especificações de qualidade requeridas pelo cliente (ANZANELLO et al, 2009).
5) Perda por estoque: A perda por estoque se refere aos estoques desnecessários tanto no almoxarifado de materiais/peças como no processo, entre as operações, e em produtos (SANTOS et al, 2016).
6) Perda por espera: A perda por espera está diretamente relacionada com o nivelamento e a sincronização do fluxo do trabalho, correspondendo a ociosidade dos operadores e a baixa utilização das máquinas (FALCÃO et al, 2009).
7) Perdas por movimento: também chamada de perda por movimento, consiste em detectar e eliminar os movimentos desnecessários feitos pelos operadores, os quais devem executar suas atividades com base em uma folha de operação padrão (FALCÃO et al, 2009).
4.4. UTILIZAÇÃO DO MÉTODO LEAN
Nos artigos consultados para a elaboração deste estudo, tem como objetivo geral a melhoria na eficiência da gestão de recursos no ramo da construção civil, demonstrando quis efeitos práticos que a adoção de princípios, conceitos e ferramentas Lean geram às construções civis, observando como o pensamento enxuto se aplica em termos de qualidade, produtividade e economia.
Nos artigos de Boeriz et al (2022), Araújo et al (2022), Costa (2022) e Pereira et al (2016), é destacada a necessidade da utilização de uma metodologia mais eficiente de gestão, ao utilizar os valores apresentados pela proposta de Koskela (1992), salientando a necessidade do controle metódico em todo o ciclo construtivo, a fim de evitar o desperdício dos insumos, a utilizando não apenas como um arranjo físico para a obra, como o explorado por Ribeiro et al (2023), mas também no quesito econômico.
5. METODOLOGIA
A presente monografia é uma revisão bibliográfica do tipo sistemática e descritiva que visa a identificação de estudos sobre o tema apresentado, a fim de reunir diferentes abordagens sobre o assunto e sintetizá-las. O artigo tem como base a análise qualitativa e quantitativa sobre a temática geração de resíduos na construção civil e como contorná-las com o uso da filosofia Lean Construction.
5.1 ETAPAS DE PESQUISA
As etapas da Pesquisa foram desenvolvidas de acordo com o fluxograma descrito na figura 1, o estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica nos veículos de busca (Google, Google Acadêmico e ENEGEP), com o objetivo de verificar a veracidade da filosofia como uma metodologia de gestão de recursos.
Figura 1 – Fluxograma de projeto
Fonte: Autores
6. CONCLUSÃO
A partir deste estudo foi possível observar a necessidade de melhoria na gestão e do consumo de insumos no setor da construção civil. Expondo os benefícios quanto à utilização sistemática de recursos e na eliminação de desperdícios por meio da implantação dos conceitos, métodos e ferramentas da filosofia Lean Construction. Por fim, recomenda-se que para projetos futuros, que desejem utilizar a metodologia, sejam realizadas pesquisas do campo de estudo, ao utilizar os métodos de aplicação da Lean Construction, verificando-se se o estudo se encaixa na proposta do empreendimento. Dessa forma, através dos estudos de caso em canteiros de obras, será possível implantar e avaliar a aplicação dos métodos/conceitos construtivos propostos pelos artigos aqui abordados, uma vez que nesta revisão de literatura se apresentaram quantitativamente significativos.
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