A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NAS PRÁTICAS MULTIPROFISSIONAIS DA GESTÃO DA SAÚDE PÚBLICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410312347


Rebeca Barleta Carvalho dos Anjos;
Maria Edduarda Santana da Silva.


Resumo

O papel do psicólogo na gestão da saúde pública tem se consolidado como uma peça fundamental no atendimento integral ao usuário do Sistema Único de Saúde (SUS). A partir de uma abordagem multiprofissional, a psicologia contribui para o entendimento das demandas psicológicas e sociais dos indivíduos, além de promover estratégias de cuidado em saúde mental que complementam as práticas médicas e sociais. Este capítulo explora a atuação do psicólogo no contexto da saúde pública, destacando sua inserção em equipes multiprofissionais, com ênfase no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e na Atenção Primária à Saúde. Serão discutidos os desafios e as potencialidades da prática psicológica em um cenário de gestão compartilhada e focada na promoção do bem-estar biopsicossocial.

Palavras-chave: Psicologia, Saúde Pública, Gestão Multiprofissional, Atenção Psicossocial, SUS.

Abstract:

The psychologist’s role in public health management has become essential in providing comprehensive care to users of the Brazilian Unified Health System (SUS). Through a multidisciplinary approach, psychology contributes to understanding the psychological and social demands of individuals, while promoting mental health care strategies that complement medical and social practices. This chapter explores the role of the psychologist in public health, emphasizing their integration into multidisciplinary teams, especially in Psychosocial Care Centers (CAPS) and Primary Health Care. The challenges and potentialities of psychological practice in a context of shared management focused on promoting biopsychosocial well-being will be discussed.

Keywords: Psychology, Public Health, Multidisciplinary Management, Psychosocial Care, SUS.

Introdução

Historicamente, a Psicologia foi introduzida na educação médica no início do século XX, ampliando seu escopo com o tempo à medida que a saúde pública passou a lidar com condições crônicas e relacionadas ao estilo de vida, exigindo abordagens mais abrangentes e adaptadas ao contexto social. Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil passou a priorizar uma abordagem integral e humanizada, na qual profissionais de diversas áreas colaboram para atender às complexas necessidades de saúde da população. Nesse cenário, a atuação do psicólogo tornou-se essencial para promover um cuidado que valoriza as dimensões humanas e sociais do sofrimento psíquico.

A inserção formal dos psicólogos na saúde pública, que se fortaleceu nas décadas de 1970 e 1980, ganhou grande impulso com a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no final dos anos 1980, como parte da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Essa reforma, fundamentada na luta antimanicomial, visava romper com o modelo hospitalo cêntrico e implementar práticas multiprofissionais centradas no usuário, envolvendo sua família e a equipe de saúde em planos de cuidado personalizados. Hoje, os CAPS, que integram a

Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), oferecem acolhimento, atendimento em grupo, visitas domiciliares e atividades comunitárias, promovendo a reintegração social dos usuários e reforçando a importância da Psicologia no cuidado humano e social no SUS.

A prática do psicólogo nos CAPS, embora não obrigatória, é essencial para construir planos terapêuticos que considerem a complexidade do sofrimento psíquico. As diretrizes do Conselho Federal de Psicologia (CFP) orientam os psicólogos a oferecer psicoterapia, apoio em crises, ações de reintegração social e abordagens inovadoras que utilizem arte e interação comunitária. Com a expansão da Psicologia no SUS, a prática exige contínuas adaptações teóricas e metodológicas, promovendo uma visão crítica e culturalmente informada que valorize as dimensões humanas e sociais da saúde mental.

A interdisciplinaridade se apresenta como um valor central no trabalho do psicólogo na saúde pública, pois é fundamental para uma abordagem integrada e colaborativa. Para que essa prática seja efetiva, é necessário que cada profissional reconheça o valor dos conhecimentos dos demais, superando posturas rígidas e autoritárias e investindo em um processo de ensino-aprendizagem que fomente o respeito mútuo e a construção coletiva de saberes.

Desenvolvimento

1. A Psicologia e o Sistema Único de Saúde (SUS)

Desde a criação do SUS, o cuidado integral em saúde inclui a saúde mental como uma das prioridades de atenção. A psicologia, ao integrar equipes multiprofissionais, passa a atuar diretamente nos diferentes níveis de atenção à saúde, com destaque para o CAPS e a Atenção Primária. A prática psicológica nesse contexto inclui a escuta qualificada, o acompanhamento terapêutico e a mediação de intervenções junto a outros profissionais de saúde.

2. A Atuação do Psicólogo no CAPS

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são dispositivos fundamentais para o cuidado em saúde mental no SUS. Nesses espaços, o psicólogo desempenha funções terapêuticas e de gestão, colaborando com psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiros e outros profissionais no planejamento e execução de estratégias de reabilitação psicossocial. A abordagem no CAPS prioriza o cuidado em liberdade, evitando internações hospitalares, e favorece a reintegração social do usuário.

3. O Psicólogo na Atenção Primária à Saúde

A Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta de entrada para o sistema de saúde pública e um campo de grande atuação para o psicólogo. Na APS, o psicólogo trabalha junto com médicos de família, enfermeiros e agentes comunitários para identificar precocemente transtornos mentais e promover intervenções que visam à prevenção e ao tratamento de doenças psíquicas. A inserção do psicólogo nas equipes de APS fortalece o cuidado continuado e a promoção do bem-estar integral.

4. Desafios da Prática Multiprofissional

Apesar das contribuições significativas do psicólogo na gestão da saúde pública, há desafios a serem enfrentados. A escassez de recursos, a sobrecarga das equipes de saúde e a fragmentação de políticas públicas podem comprometer o alcance de uma atenção integral. Além disso, a articulação entre diferentes saberes profissionais nem sempre é fluida, o que exige uma constante revisão das práticas de gestão e das formas de trabalho em equipe.

Considerações Finais

A atuação do psicólogo nas práticas multiprofissionais da gestão da saúde pública é essencial para garantir uma atenção integral ao usuário. A psicologia, ao lado de outras profissões da saúde, contribui de forma única para a promoção do bem-estar biopsicossocial. No entanto, é necessário fortalecer políticas públicas que incentivem a formação continuada e a valorização dos profissionais de saúde, além de promover uma maior articulação entre as diferentes áreas de conhecimento que compõem as equipes de gestão do SUS.

Referências

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