ALVEOLITE COMO COMPLICAÇÃO PÓS OPERATÓRIA DE EXODONTIAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202410312038


Matheus Alcantara Pacheco Pereira;
Orientador(a): Prof. Graziano Medeiros de C. de Sousa


RESUMO

A alveolite é uma complicação pós-operatória comum decorrente de exodontias particularmente de terceiros molares inferiores, caracterizada por dor intensa e inflamação do alvéolo dentário. Este estudo tem como objetivo analisar a incidência, fatores de risco, tratamentos e medidas preventivas dessa condição, que afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. A metodologia empregada foi uma revisão narrativa da literatura, utilizando bases de dados como PubMed, SciELO e Google Acadêmico, com descritores como “alveolite”, “cirurgia oral” e “osteíte”. Os resultados indicam que a etiologia da alveolite é multifatorial, com fatores de risco como tabagismo, uso de contraceptivos orais e traumas cirúrgicos contribuindo para seu desenvolvimento. O tratamento varia conforme a gravidade da condição, com a aplicação de curativos, irrigação com soluções antissépticas e, em casos mais severos, o uso de antibióticos. As medidas preventivas, como o controle da higiene oral e a adoção de técnicas cirúrgicas traumáticas, mostraram-se eficazes na redução da ocorrência de alveolite.

Palavras-Chave: Alveolite, Cirurgia Oral, Osteíte

ABSTRACT

Alveolitis is a common postoperative complication resulting from complex extractions, particularly of lower third molars, characterized by intense pain and inflammation of the dental socket. This study aims to analyze the incidence, risk factors, treatments, and preventive measures for this condition, which significantly impacts patients’ quality of life. The methodology employed was a narrative literature review, using databases such as PubMed, SciELO, and Google Scholar, with descriptors such as “alveolitis,” “surgery oral,” and “osteitis.” The results indicate that the etiology of alveolitis is multifactorial, with factors such as smoking, the use of oral contraceptives, and surgical trauma contributing to its development. Treatment varies depending on the severity of the condition, with the application of dressings, irrigation with antiseptic solutions, and, in more severe cases, the use of antibiotics. Preventive measures, such as maintaining good oral hygiene and adopting atraumatic surgical techniques, proved effective in reducing the occurrence of alveolitis. 

Keywords: Alveolitis, Surgery Oral Osteitis

1. INTRODUÇÃO

O primeiro relato de alveolite foi feito por Crawford em 1896, que usou termos como osteíte alveolar, alveolite fibrinolítica e osteomielite localizada, entre outras nomenclaturas. No entanto, foi o pesquisador Schwartz, em 2002, quem definiu o termo “alveolite” de forma mais precisa (SILVA, 2022).

A alveolite é uma complicação pós-operatória comum que pode ocorrer após a extração dentária, geralmente se manifestando entre o segundo e terceiro dia após o procedimento. A alveolite é mais prevalente entre indivíduos na terceira e quarta década de vida, ocorrendo com maior frequência em extrações de terceiros molares inferiores (SOUZA, GUIMARÃES, 2017).

Nessa situação, a alveolite é caracterizada por uma infecção no alvéolo, resultando em dores intensas, ausência de coágulo sanguíneo na cavidade, exposição óssea, presença de tecidos necrosados e, em alguns casos, halitose. Esses fatores contribuem para a dificuldade no processo de cicatrização (BARBIERI et al., 2021). 

A etiologia da alveolite ainda é discutida, sendo que não existe um único fator responsável por essa complicação, mas sim uma combinação de fatores que contribuem para seu surgimento. Diversos aspectos, como idade, uso de contraceptivos orais, curetagem alveolar, efeitos dos anestésicos e traumas cirúrgicos, podem retardar a cicatrização do alvéolo (AFONSO et al., 2022).

O diagnóstico é realizado quando o paciente apresenta desconforto que não é aliviado com o uso de analgésicos, sendo necessário um exame clínico minucioso, seguido por exames radiográficos para confirmação. A condição  pode ser tratada por meio de medicamentos para preencher o alvéolo, que deve ser exposto e irrigado e visa aliviar a dor e promover a cicatrização da ferida alveolar (SILVA, 2022).

As recomendações pós-exodontia são fundamentais para a prevenção. Seguir as orientações corretamente ajuda a evitar infecções no alvéolo, protegendo o coágulo e favorecendo um pós-operatório tranquilo (SILVA, 2022).

Desta forma, é fundamental que o cirurgião-dentista esteja capacitado e bem informado para diagnosticar corretamente a condição, proporcionando um tratamento eficaz e satisfatório ao paciente, além de adotar medidas preventivas para evitar a ocorrência de alvéolos.

Posto isto, este estudo tem como objetivo evidenciar a incidência, os fatores de risco, o tratamento e a prevenção das alveolites que surgem com complicação pós-operatórias de exodontias.  

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo revisão narrativa de literatura, utilizando artigos obtidos por meio de busca em bases de dados: PUBMED (Serviço da U. S.National Library of Medicine), SciELO (Scientifc Eletronic LIbrary Online) e Google Acadêmico. 

Os descritores utilizados foram: “alveolite”, “cirurgia bucal” e “osteotite”, incluindo seus correspondentes em inglês.

A busca limitou-se a estudos publicados originalmente em português e inglês com datas de publicação no período de 2014 a 2024. Foram incluídos artigos de ensaios clínicos randomizados, relatos de caso e revisões anteriores. Excluiu-se artigos duplicados, cujos textos estivessem disponibilizados em formato incompleto e com acesso pago.

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE AS ALVEOLITES

A alveolite, também conhecida como alvéolo seco, é uma complicação pós-operatória que ocorre principalmente após a extração de dentes permanentes. Essa condição é caracterizada pela perda precoce ou necrose do coágulo sanguíneo formado no alvéolo, o que resulta em dor intensa e inflamação. A alveolite pode surgir entre o segundo e o quarto dia após a cirurgia, com prevalência variando de 1 a 4% das extrações dentárias, podendo chegar a 45% nos casos de extração de terceiros molares na mandíbula (Pretto et al., 2018).

A importância clínica da alveolite reside no fato de ser uma das complicações mais estudadas em odontologia, devido à sua alta incidência e ao impacto negativo na qualidade de vida do paciente. Além de causar dor severa, essa complicação exige múltiplas visitas ao dentista para tratamento, o que pode afetar a produtividade e o bem-estar do paciente (Blum, 2019). A condição é frequentemente acompanhada por halitose e inflamação no local da extração, e a cicatrização pode ser consideravelmente retardada.

Existem dois tipos principais de alveolite: a alveolite seca, em que o coágulo sanguíneo é perdido ou desintegrado, expondo o osso subjacente; e a alveolite úmida, que se caracteriza pela presença de um exsudato purulento no alvéolo. A alveolite seca é a mais comum e está associada a maior dor e tempo de cicatrização, enquanto a alveolite úmida tende a ser menos dolorosa, mas também pode causar complicações locais devido à infecção (Cardoso et al., 2020).

Assim, a alveolite continua sendo uma complicação importante na prática odontológica, exigindo atenção especial em sua prevenção e tratamento. A adoção de técnicas cirúrgicas atraumáticas e o controle adequado dos fatores de risco podem minimizar a ocorrência dessa complicação, garantindo uma recuperação mais rápida e confortável para o paciente (Blum, 2019).

3.2 ETIOLOGIA

A etiologia da alveolite não é completamente esclarecida, mas acredita-se que altos níveis de atividade fibrinolítica no alvéolo, resultando na lise do coágulo, sejam uma das causas principais. Fatores de risco locais e sistêmicos, como dificuldade na extração, tabagismo, uso de contraceptivos orais e má higiene oral, também estão fortemente associados ao desenvolvimento da condição (Blum, 2019; Cardoso et al., 2020). A inexperiência do cirurgião-dentista também pode contribuir para o surgimento da complicação.

Sua patogênese, ainda não totalmente compreendida, envolve vários fatores locais e sistêmicos que podem predispor ao seu desenvolvimento (Portela, 2014).  Essa complicação não tem uma causa específica, mas é considerada multifatorial, sendo essencial que o cirurgião-dentista identifique os fatores de risco e prevenir o surgimento da condição. Para isso, deve-se realizar uma boa anamnese, planejar técnicas cirúrgicas minimamente traumáticas, garantir a assepsia durante o procedimento e orientar o paciente a manter o controle bacteriano no pós-operatório (Taberner-Vallverdú et al., 2015).

Embora a causa exata da alveolite permaneça desconhecida, muitos autores sugerem que uma intensa atividade fibrinolítica seja a responsável por essa condição (Araújo, 2018). A fibrinólise precoce do coágulo sanguíneo compromete a cicatrização adequada do alvéolo. Alguns pesquisadores acreditam que a atividade fibrinolítica aumentada é causada pela ativação de fatores de plasminogênio, que podem ser ativados diretamente por traumas excessivos, levando à necrose dos osteoblastos, ou indiretamente por bactérias (Botelho et al., 2020). 

Além disso, estudos indicam que em alvéolos com cicatrização retardada, os níveis de TNF-α (Fator de Necrose Tumoral alfa), uma citocina pró-inflamatória, estão aumentados, enquanto os níveis de Runx2 (proteína que regula a diferenciação dos osteoblastos) e osteocalcina estão reduzidos (Puzipe, 2016).

As alveolites tendem a aparecer nos primeiros três dias após a extração do dente. Caracteriza-se por um odor pútrido e dor intensa na área cirúrgica e ao redor, que pode se irradiar para o pescoço e ouvido (Pagnelli, Vinha, Lima, 2018).

A dor é o principal sintoma da alveolite, embora outros sintomas, como dor de cabeça, insônia e tonturas, também possam estar presentes. O trismo é um sinal comum, e linfoadenopatias regionais podem ser observadas no lado afetado. A alveolite pode durar de dez a quarenta dias, sendo uma condição dolorosa que afeta a qualidade de vida do paciente, exigindo consultas pós-operatórias adicionais para tratamento (Banzarin, Oliveira, 2018). 

Clinicamente, observa-se a desintegração parcial ou total do coágulo no alvéolo, com o osso alveolar exposto visível no interior do alvéolo e áreas de epitélio em processo de cicatrização. Com ampliação, é possível identificar restos alimentares e aglomerados bacterianos, sendo que o tecido gengival circundante geralmente está inflamado e sensível ao toque (Oliveira et al., 2017).

Entre os fatores de risco locais e sistêmicos, destacam-se a idade avançada, o uso de tabaco, o consumo de contraceptivos orais e doenças sistêmicas como o diabetes. Pacientes imunocomprometidos também estão mais suscetíveis ao desenvolvimento da alveolite, uma vez que a cicatrização é naturalmente mais lenta nesses casos. Adicionalmente, a condição do dente extraído, a presença de infecção prévia e a complexidade do procedimento também são fatores que contribuem para a ocorrência da complicação  (Rey; Ávila, 2022).

Outro fator importante é a técnica cirúrgica empregada. Procedimentos realizados de forma inadequada, com excessivo trauma ou curetagem exagerada do alvéolo, podem levar à necrose dos osteoblastos e consequente falha na cicatrização. A falta de irrigação adequada durante a cirurgia ou o uso excessivo de força mecânica também favorece a lise do coágulo, expondo o osso alveolar e retardando o processo de cicatrização  (Martins et al., 2023).

O uso de anestésicos também desempenha um papel relevante na etiologia das alveolites. Anestésicos locais com vasoconstritores, como a epinefrina, podem reduzir o fluxo sanguíneo local, comprometendo a formação adequada do coágulo. Além disso, a administração repetida de anestesia intraligamentar tem sido associada a um aumento na incidência de alveolite, devido ao trauma causado ao ligamento periodontal durante a extração (Sampaio et al., 2018).

O tabagismo é amplamente reconhecido como um fator de risco significativo. A nicotina promove a vasoconstrição, diminuindo o fluxo sanguíneo para o alvéolo e, consequentemente, comprometendo o fornecimento de oxigênio necessário para a cicatrização. Além disso, o movimento de sucção durante o ato de fumar pode desalojar o coágulo, aumentando o risco de desenvolvimento de alveolite (Martins et al., 2023).

Finalmente, os medicamentos utilizados pelo paciente também podem influenciar o desenvolvimento da alveolite. O uso de contraceptivos orais, por exemplo, aumenta os níveis de estrogênio, o que está associado a uma maior atividade fibrinolítica e, consequentemente, a uma maior chance de falha na cicatrização do alvéolo. Outros medicamentos, como anti-inflamatórios e corticosteroides, também podem interferir no processo de reparação tecidual, retardando a formação de novo tecido ósseo  (Pretto et al., 2018).

3.3 CLASSIFICAÇÃO DAS ALVEOLITES

Alveolite, também conhecida como osteíte alveolar, é uma complicação comum após a extração dentária, ocorrendo quando o coágulo sanguíneo formado no alvéolo é deslocado ou não se forma adequadamente, expondo o osso e causando dor intensa (Blum, 2018).

Existem dois tipos principais de alveolite: a alveolite seca e a alveolite úmida. A alveolite seca é mais prevalente e apresenta características como dor severa, ausência de coágulo sanguíneo e halitose (Blum, 2018). A alveolite úmida, por outro lado, envolve a presença de exsudato purulento e infecção no alvéolo (Pretto, 2019).

A alveolite seca é caracterizada pela ausência do coágulo sanguíneo, que é essencial para o processo de cicatrização. Com a sua ausência, o osso alveolar fica exposto, resultando em uma dor intensa e pulsante que pode se iniciar entre o segundo e quarto dias após a extração. Além da dor, o paciente pode apresentar halitose e, em alguns casos, um gosto amargo na boca. Esse tipo de alveolite geralmente está associado a fatores como trauma cirúrgico, tabagismo, uso de contraceptivos orais e má higiene bucal (Alexander, 2020).

Por outro lado, a alveolite úmida, também chamada de alveolite supurativa, ocorre quando o coágulo sanguíneo se forma, mas é contaminado por bactérias, levando à infecção. Esse quadro é acompanhado por dor, inflamação e a presença de exsudato purulento no local da extração. Diferentemente da alveolite seca, a alveolite úmida tende a apresentar um processo infeccioso mais acentuado, com maior risco de complicações (Santos, 2018).

A diferenciação entre os dois tipos de alveolite é essencial para determinar o tratamento mais adequado. Enquanto a alveolite seca demanda intervenções que envolvem alívio da dor, como a aplicação de curativos no alvéolo e o uso de analgésicos, a alveolite úmida requer um tratamento mais agressivo, incluindo a irrigação do alvéolo com soluções antissépticas e, em casos mais severos, a prescrição de antibióticos (Pereira, 2020).

Abaixo, segue um quadro comparativo entre os dois tipos de alveolite:

Quadro 1 – Classificação e características das alveolites

Característica Alveolite SecaAlveolite Úmida  
Formação do coáguloAusência de coáguloCoágulo presente, porém infectado
Sintomas principais Dor intensa e pulsanteHalitoseDor, inflamação Presença de exsudato purulento
Etiologia  Trauma cirúrgicoTabagismoContraceptivos orais Infecção bacteriana do coágulo  
Prognóstico Bom com tratamento adequado  Requer maior atenção devido à infecção associada 

Fonte: Adaptado de Pretto et al., 2020.

 É importante ressaltar que, em ambos os casos, a prevenção é o melhor tratamento, incluindo medidas como irrigação adequada e orientações pós-operatórias detalhadas (Cardoso, 2021).

3.4 DIAGNÓSTICO 

O diagnóstico da alveolite é baseado em sinais clínicos e sintomas que aparecem após a exodontia, sendo possível distinguir entre a alveolite seca e a úmida. A alveolite seca é caracterizada pela ausência do coágulo sanguíneo no alvéolo, expondo o osso e causando dor intensa e persistente. Já a alveolite úmida, além da dor, apresenta exsudato purulento, mau odor e inflamação no local (Pretto, 2019). Ambos os tipos requerem uma avaliação criteriosa para o correto diagnóstico e tratamento.

Para o diagnóstico da alveolite seca, os principais sinais são a ausência do coágulo e o alvéolo exposto, geralmente acompanhado de dor que irradia para áreas adjacentes, como o ouvido e o pescoço. Essa condição se desenvolve geralmente entre o terceiro e o quinto dia após a extração dentária. A dor intensa e a falta de resposta a analgésicos comuns são indicativos importantes para o diagnóstico (Silva, 2020). Além disso, é comum que os pacientes relatem um gosto amargo na boca, causado pela exposição do osso alveolar (Pereira, 2021).

Na alveolite úmida, o diagnóstico é feito a partir da presença de um coágulo disfuncional ou em processo de infecção. A secreção purulenta, a halitose e o edema são sintomas típicos dessa condição, que podem ser detectados clinicamente. A inspeção do alvéolo revela um quadro de inflamação mais avançada, com sinais evidentes de infecção local. O uso de radiografias pode auxiliar no diagnóstico diferencial, descartando outras complicações como abscessos ou infecções mais profundas (Cardoso, 2018).

O diagnóstico diferencial entre a alveolite seca e a úmida é fundamental, uma vez que os tratamentos diferem significativamente. Na alveolite seca, o objetivo principal é controlar a dor e promover o processo de cicatrização, enquanto na alveolite úmida, além do controle da dor, é necessário intervir para combater a infecção. A aplicação de curativos e antibióticos tópicos, como o metronidazol, pode ser eficaz no tratamento da alveolite úmida (Alexander, 2020).

Além da avaliação clínica, o histórico do paciente é essencial no processo de diagnóstico. Fatores como o tabagismo, o uso de contraceptivos orais, o controle inadequado da glicemia em pacientes diabéticos e a presença de infecções prévias na cavidade oral podem predispor o paciente ao desenvolvimento de alveolite. Esses fatores devem ser levados em consideração pelo cirurgião-dentista ao avaliar o risco de complicações pós-operatórias (Portela, 2020).

Por fim, o diagnóstico precoce da alveolite é crucial para evitar o agravamento do quadro e garantir uma recuperação mais rápida. As consultas de retorno, geralmente marcadas entre o terceiro e o quinto dia após a extração, são fundamentais para a detecção de sinais precoces da complicação. O exame clínico minucioso, aliado à anamnese detalhada, são as ferramentas mais importantes para o diagnóstico preciso (Marzola, 2019).

3.5 TRATAMENTO 

O tratamento da alveolite envolve diversas abordagens, desde intervenções locais até o uso de medicamentos sistêmicos. Dentre os tratamentos utilizados, a limpeza do alvéolo é frequentemente citada como um dos primeiros passos no manejo da alveolite. Essa técnica consiste em irrigar o alvéolo com soluções antissépticas, removendo detritos e promovendo a higienização da área afetada. Além disso, a curetagem leve da região pode ser necessária para remover restos de tecido necrótico e facilitar a cicatrização (GAUER et al., 2015)

De acordo com Pretto et al. (2018), esse procedimento é amplamente aceito entre os profissionais e pode ser combinado com a aplicação de curativos antissépticos e analgésicos, proporcionando alívio da dor e conforto ao paciente.

A curetagem também é uma técnica muito utilizada no tratamento da alveolite, sendo recomendada principalmente em casos onde há presença de tecido necrótico ou resíduos no alvéolo. Embora alguns autores, como Barros et al. (2018), defendam que a curetagem deva ser evitada em casos onde o alvéolo esteja saudável, sua aplicação em alvéolos comprometidos pode acelerar o processo de cicatrização, removendo materiais indesejados e permitindo uma recuperação mais eficiente.

A utilização de medicamentos tópicos, como o Alveosan®, tem mostrado bons resultados no alívio da dor e na aceleração do processo de cicatrização. Esse medicamento contém eugenol e ácido acetilsalicílico, que possuem propriedades analgésicas e anti-inflamatórias (TAKEMOTO et al., 2015).

 Outros produtos, como o Alvogyl®, pasta dentária utilizada para tratar e prevenir alveolites composto por qualitativa e quantitativa: Lidocaína, Eugenol, Laurilsulfato de sódio, Carbonato de cálcio, Penghawar djambi, sendo amplamente utilizado para promover o alívio imediato da dor, embora possam ser mais irritantes ao tecido conjuntivo (VIEIRA et al., 2022).

Nos casos mais graves de alveolite, a administração de medicamentos sistêmicos, como analgésicos e anti-inflamatórios, pode ser necessária para controlar a dor. Em situações onde a dor é intensa e persistente, o uso de opióides ou neurolépticos pode ser indicado, conforme a gravidade do quadro clínico (CORDEIRO et al., 2012).

A irrigação com soluções antibióticas, como a rifamicina B, também tem sido estudada como uma alternativa eficaz para o tratamento da alveolite. Estudos realizados demonstraram que a irrigação com essa substância pode reduzir significativamente a inflamação e promover a cicatrização do alvéolo. No entanto, o uso de implantes de gelatina impregnados com antibióticos mostrou resultados inferiores à simples irrigação, indicando que a escolha do método de administração do medicamento pode impactar os resultados (TABERNER-VALLVERDU et al., 2017).

O uso de plasma rico em plaquetas também tem sido investigado como uma opção promissora para acelerar a cicatrização e prevenir a alveolite (TAKEMOTO et al., 2015).

As condutas preventivas desempenham um papel crucial na redução da incidência de alveolite. A correta higienização bucal, a instrução adequada do paciente quanto aos cuidados pós-operatórios e a adoção de técnicas cirúrgicas menos traumáticas são fundamentais para prevenir essa complicação. Takemoto et al. (2015) destacam que o uso de técnicas preventivas, como a administração local de clorexidina e o uso de plasma rico em plaquetas, pode ser eficaz na redução da incidência de alveolite (TAKEMOTO et al., 2015).

Por fim, o tratamento de ambos os tipos segue as mesmas diretrizes básicas, mas pode ser ajustado de acordo com a gravidade dos sintomas e a presença de infecção (VINHA et al., 2022).

3.6 COMPLICAÇÕES

A alveolite é uma das complicações mais frequentes após a extração de dentes, principalmente os terceiros molares, também conhecidos como sisos. Na maioria dos casos, a alveolite é resultante da desintegração precoce do coágulo sanguíneo, o que deixa o osso exposto, aumentando o risco de infecção (Santos et al., 2018).

Dessa forma, uma das principais complicações associadas à alveolite é o prolongamento da dor, que pode persistir por dias ou semanas. Em muitos casos, essa dor é tão intensa que interfere nas atividades diárias dos pacientes, como comer e falar. Além disso, a dor pode irradiar para outras áreas da face, confundindo o diagnóstico com outras condições odontológicas ou até mesmo neurológicas (Paganelli et al., 2022). 

Outra complicação relevante é a infecção secundária. Embora a alveolite em si não seja causada por uma infecção bacteriana, o ambiente criado pela exposição do osso e a ausência de coágulo pode facilitar a colonização por bactérias. A presença de microrganismos como os estreptococos e estafilococos pode agravar o quadro, prolongando o processo de cura e aumentando a necessidade de intervenções mais agressivas, como o uso de antibióticos (Conceição et al., 2021).

A alveolite também pode levar à formação de osteomielite, uma infecção mais grave que afeta o osso alveolar. A osteomielite é uma complicação rara, mas grave, que pode resultar em necrose óssea se não for tratada adequadamente. Os pacientes com sistema imunológico comprometido, como diabéticos ou aqueles em tratamento com corticosteroides, estão mais propensos a desenvolver essa condição (Flores et al., 2023).

Outro fator importante é o risco de necrose óssea. A necrose ocorre quando o tecido ósseo não recebe o suprimento adequado de sangue, o que pode ser consequência de traumas cirúrgicos durante a extração ou devido à falta de coágulo. A necrose pode ser uma condição irreversível, levando à necessidade de remoção de partes do osso afetado para permitir a cicatrização (Vallverdú et al., 2015).

Além disso, a alveolite pode desencadear um processo inflamatório sistêmico, que pode resultar em complicações mais graves, como febre e linfadenopatia. Embora essas manifestações sejam menos comuns, elas indicam que a infecção local se espalhou para outras partes do corpo, exigindo um tratamento mais agressivo com antibióticos e, em alguns casos, até mesmo hospitalização (Meyer et al., 2011).

O tempo de recuperação dos pacientes com alveolite também é significativamente prolongado. Enquanto uma extração dentária simples geralmente cicatriza em poucos dias, os pacientes com alveolite podem demorar até três semanas ou mais para se recuperarem completamente. Esse prolongamento da cicatrização pode impactar negativamente a qualidade de vida do paciente e aumentar o risco de novas complicações (Akpata e Félix, 2013).

Por fim, uma das complicações mais significativas da alveolite é o risco de recidiva. Pacientes que já sofreram de alveolite após uma extração dentária têm maior probabilidade de desenvolver a condição novamente em extrações futuras. Isso destaca a importância de medidas preventivas adequadas, como o uso de clorexidina pré e pós-operatória e a realização de cirurgias menos invasivas (Takemoto et al., 2015).

4.DISCUSSÃO

A alveolite é uma das complicações mais comuns após exodontias complexas, especialmente de terceiros molares inferiores. Estudos como os de Souza e Guimarães (2017) destacam a prevalência dessa condição, que pode atingir até 45% dos casos em extrações de terceiros molares. No entanto, Blum (2019) ressalta que essa taxa pode ser reduzida com técnicas cirúrgicas menos invasivas.

A etiologia da alveolite ainda não é totalmente esclarecida. Alguns autores, como Afonso et al. (2022), sugerem que a fibrinólise excessiva no alvéolo seja um dos principais fatores. Por outro lado, Pretto et al. (2018) defendem que o trauma cirúrgico e a má higiene oral desempenham papeis fundamentais no desenvolvimento da complicação.

O uso de contraceptivos orais é outro fator de risco apontado por diversos autores. Blum (2019) e Cardoso et al. (2020) concordam que o aumento de estrogênio pode levar à atividade fibrinolítica, contribuindo para a lise do coágulo. Porém, Pretto et al. (2019) argumenta que a experiência do cirurgião-dentista também é determinante na prevenção da alveolite.

 Outro fator de risco é o tabagismo. Alexander (2020) destaca a vasoconstrição causada pela nicotina como um fator que compromete o suprimento sanguíneo para o alvéolo, atrasando a cicatrização. Em contrapartida, Santos (2018) afirma que a má irrigação do alvéolo durante a cirurgia é um fator mais crítico que o tabagismo.

 Quanto ao tratamento, há uma variação conforme a gravidade.  Pereira (2020) relata que a alveolite seca requer analgesia e aplicação de curativos, a alveolite úmida demanda intervenções mais agressivas, como a irrigação com soluções antissépticas (Pereira, 2020). Essa diferenciação entre os tipos de alveolite é ressaltada por Pretto et al. (2018), que destacam o uso de antibióticos apenas em casos mais graves.

A aplicação de curativos contendo eugenol, como o Alveosan®, tem mostrado eficácia no alívio da dor, segundo Takemoto et al. (2015). Entretanto, Barros et al. (2018) recomendam cautela no uso desses produtos devido à possível irritação do tecido conjuntivo, defendendo a utilização de alternativas menos invasivas.

Medidas preventivas são cruciais para reduzir a incidência da alveolite. Blum (2019) e Martins et al. (2023) ressaltam a importância de instruir o paciente sobre cuidados pós-operatórios, como evitar fumar ou realizar bochechos vigorosos nas primeiras 24 horas. Esses cuidados ajudam a proteger o coágulo sanguíneo e prevenir sua desintegração precoce.

No que se refere às complicações, Pagnelli, Vinha e Lima (2018) afirmam que a alveolite pode prolongar o período de cicatrização, levando à dor intensa que pode persistir por semanas. Em casos mais graves, pode desenvolver osteomielite, conforme Flores et al. (2023), embora essa seja uma complicação rara.

 Quanto a recidiva da alveolite. Pacientes que já apresentaram essa complicação têm maiores chances de recidiva em outras extrações (Takemoto et al., 2015). Cardoso (2021) recomenda, para esses casos, a utilização de soluções antissépticas pré e pós-operatórias, como a clorexidina, é uma  das maneiras preventivas a serem adotadas.

 Por fim, o controle adequado dos fatores de risco é essencial para minimizar as complicações da alveolite. Silva et al. (2020) destacam que a combinação de boas práticas cirúrgicas, controle da higiene oral e uso de medicamentos adequados pode reduzir significativamente a incidência e gravidade dessa condição.

5.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo destacou a alveolite como uma complicação significativa no pós-operatório de exodontias complexas, com especial ênfase nas extrações de terceiros molares inferiores. A alveolite, conforme abordado, possui uma etiologia multifatorial que envolve tanto fatores locais quanto sistêmicos, como tabagismo, uso de contraceptivos orais e higiene bucal inadequada. A importância da prevenção é amplamente enfatizada, visto que medidas como técnicas cirúrgicas atraumáticas e o correto seguimento das orientações pós-operatórias podem reduzir substancialmente a incidência dessa complicação.

O tratamento da alveolite varia de acordo com sua gravidade e tipo, sendo essencial a distinção entre alveolite seca e úmida. A correta aplicação de curativos, irrigação com soluções antissépticas e, em casos mais graves, o uso de antibióticos são as abordagens terapêuticas mais comumente recomendadas. Além disso, a importância da identificação precoce de sinais clínicos é fundamental para evitar complicações mais severas, como osteomielite, que embora rara, pode impactar negativamente a qualidade de vida do paciente. Desta forma, o conhecimento adequado das estratégias de prevenção e tratamento da alveolite é essencial para garantir um prognóstico favorável e uma recuperação mais rápida.

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