ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE EVENTOS HEMORRÁGICOS E O USO DE GINKGO BILOBA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410291917


Daniel Nassau de Araújo1, Bernardo Pinto Entringe2, Cezar Ernani Mancini3, João Victor Santos Gomes4, Tiago Cunha Berno Campos5


RESUMO

O artigo “Estudo da Relação entre Eventos Hemorrágicos e o Uso de Ginkgo biloba” analisa o aumento do uso de Ginkgo biloba no Brasil, enfatizando seus potenciais riscos, especialmente em relação a eventos hemorrágicos. Este fitoterápico é amplamente consumido por suas propriedades neuroprotetoras e vasodilatadoras, sendo prescrito para melhorar a função cognitiva e circulação sanguínea, além de tratar vertigens e zumbidos. No entanto, o artigo discute a percepção equivocada de que o Ginkgo biloba é inofensivo por ser “natural”, desconsiderando interações medicamentosas e complicações clínicas. O artigo enfatiza a expansão recente do mercado de fitoterápicos, impulsionado pela busca por alternativas com menos efeitos colaterais. No entanto, há o alerta de que a automedicação com Ginkgo biloba pode levar a riscos, como sangramentos, especialmente em pacientes que utilizam anticoagulantes como varfarina ou ácido acetilsalicílico. A metodologia baseou-se em uma revisão integrativa da literatura, abordando estudos publicados entre 2015 e 2024 em bases de dados como Medline e PubMed. Foram analisadas as propriedades farmacológicas do Ginkgo biloba, que inibe o fator de agregação plaquetária (PAF) e modula a via da ciclooxigenase (COX).Os resultados indicam um aumento no risco de hemorragias devido à inibição da agregação plaquetária, e os efeitos adversos, como distúrbios gastrointestinais e reações alérgicas. Ensaios clínicos discutidos no artigo confirmam a relação entre o uso de Ginkgo biloba e eventos hemorrágicos, especialmente em pacientes que utilizam anticoagulantes. Em conclusão, o artigo destaca a necessidade de maior conscientização sobre os riscos do uso de Ginkgo biloba, recomendando cautela e monitoramento em populações vulneráveis, e sugere a importância de campanhas educativas e regulamentação mais rígida.

Palavras-chave: “Fitoterápicos”, “Ginkgo Biloba”, “Hemorragias”, “Sangramentos”.

1 INTRODUÇÃO

O uso de fitoterápicos tem crescido substancialmente nos últimos anos, com destaque para o Ginkgo biloba, uma das plantas medicinais mais amplamente utilizadas no mundo. Essa planta, derivada da árvore homônima, é frequentemente prescrita com expectativas de melhora da função cognitiva, da circulação sanguínea e para tratar distúrbios como demências e vertigens. No entanto, sua popularidade tem levantado questões acerca dos possíveis efeitos adversos associados ao seu uso, especialmente no que se refere ao risco de eventos hemorrágicos. Estudos demonstram que o Ginkgo biloba pode inibir a agregação plaquetária e potencializar o efeito de medicamentos anticoagulantes, aumentando, assim, o risco de sangramentos em indivíduos que fazem uso regular deste fitoterápico (SOUZA; LIMA, 2021).

Embora muitos pacientes considerem os fitoterápicos como uma alternativa segura e natural aos medicamentos convencionais, é importante lembrar que estas substâncias podem interagir com outros fármacos ou exacerbar certas condições clínicas. Segundo o estudo de Santos e Almeida (2022), o Ginkgo biloba foi relacionado a uma maior incidência de sangramentos, especialmente em pacientes que já faziam uso de anticoagulantes como varfarina e ácido acetilsalicílico. Dessa forma, torna-se crucial para profissionais da saúde compreender os mecanismos de ação dessa planta e alertar os pacientes sobre os riscos associados à automedicação com fitoterápicos.

Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo explorar a relação entre o uso do Ginkgo biloba e a ocorrência de eventos hemorrágicos, analisando dados disponíveis na literatura científica e destacando os principais fatores de risco para o desenvolvimento dessas complicações. Além disso, busca-se fornecer uma análise crítica sobre o uso indiscriminado de fitoterápicos, reforçando a necessidade de uma abordagem cautelosa na recomendação de Ginkgo biloba, especialmente para populações vulneráveis, como idosos e pacientes com múltiplas comorbidades. Dessa forma, espera-se contribuir para um melhor entendimento dos possíveis efeitos adversos dessa planta e, consequentemente, para um uso mais seguro e consciente dos fitoterápicos na prática clínica.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O uso de plantas medicinais para fins terapêuticos possui uma longa tradição no Brasil, tendo suas raízes nas práticas indígenas e africanas, que foram posteriormente incorporadas à medicina popular no período colonial. Durante o século XVIII, surgiram as chamadas “drogas do sertão”, um conjunto de plantas nativas e extratos vegetais utilizados na produção de remédios caseiros para o tratamento de diversas doenças. Estas práticas foram amplamente disseminadas pela população e consolidaram-se como uma importante parte da cultura de cuidados de saúde no Brasil (SANTOS; MENDES, 2020).

Essa tradição de uso de fitoterápicos se perpetuou ao longo dos séculos e, na atualidade, o mercado de fitoterápicos no Brasil continua em expansão. Em 2018, o Ministério da Saúde, através do SUS, ampliou a oferta de medicamentos fitoterápicos, reconhecendo formalmente seu uso como parte do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (BRASIL, 2019). Estudos recentes mostram que, devido a essa ampliação, o consumo de produtos fitoterápicos aumentou significativamente, não apenas em áreas rurais, onde as tradições são mantidas, mas também em centros urbanos, muitas vezes impulsionado pela busca por alternativas “naturais” e com menos efeitos colaterais (GONÇALVES; ALMEIDA, 2021).

No entanto, a crença de que os fitoterápicos são inofensivos por serem “naturais” tem contribuído para o seu uso indiscriminado e sem supervisão médica, gerando potenciais riscos à saúde. De acordo com Dias e Rocha (2022), essa percepção equivocada está associada ao desconhecimento sobre os princípios ativos dessas plantas e seus efeitos no organismo humano. O Ginkgo biloba, por exemplo, é amplamente comercializado para melhorar a circulação e a função cognitiva, mas é pouco divulgado que sua ação anticoagulante pode levar a um aumento do risco de hemorragias, especialmente em pacientes que utilizam medicamentos anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários (LIMA; SANTOS, 2023).

A falsa sensação de segurança atribuída ao uso de fitoterápicos é um dos grandes desafios na medicina contemporânea, uma vez que as interações medicamentosas e os efeitos colaterais dessas substâncias muitas vezes não são levados em consideração pelos pacientes. Um estudo conduzido por Almeida e Reis (2020) destacou que mais de 60% dos usuários de Ginkgo biloba desconhecem os potenciais riscos associados ao seu uso contínuo, principalmente em combinação com fármacos de uso comum, como a varfarina e o ácido acetilsalicílico. Essa falta de informação reforça a necessidade de campanhas educativas e de uma maior fiscalização na comercialização desses produtos, visando garantir um uso seguro e consciente.

Assim, a compreensão dos riscos associados ao uso de fitoterápicos, como o Ginkgo biloba, exige uma abordagem crítica e fundamentada em evidências científicas. Embora a cultura do uso de plantas medicinais esteja enraizada na história brasileira, é fundamental desmistificar a ideia de que o “natural” é sempre seguro, promovendo a conscientização sobre o potencial de toxicidade e as possíveis interações medicamentosas, sobretudo em grupos de maior risco, como idosos e pacientes com condições crônicas.

3 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, onde os dados obtidos foram obtidos por meio de pesquisas online em bases agregadoras de artigos científicos e livros da literatura médica. Assim, foram buscadas em 4 agregadores de dados, a saber, Google Acadêmico, Medline, SicenceDirect, Pubmed e Scielo literaturas disponíveis em língua portuguesa e língua inglesa, publicadas entre os anos de 2015-2024 e que englobassem os temas Ginkgo biloba e eventos hemorrágicos/hemorragias/sangramentos. Portanto, por tratar-se de dados secundários de domínio público, não foi necessária a submissão do trabalho ao comitê de ética e pesquisa (CEP). Ainda, para definição das palavras-chave de pesquisa, foi utilizada como referência a plataforma DeCS/MeSH, utilizando-se os termos de pesquisa “Sangramentos”, “Hemorragias”, “Ginkgo Biloba”, na pesquisa que englobasse qualquer termo para encontrar os descritores desejados. 

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Mecanismo de ação do Ginkgo biloba

O Ginkgo biloba é uma planta de origem asiática, derivada da árvore homônima, reconhecida por ser uma das espécies mais antigas do planeta, com registros datados de mais de 200 milhões de anos. Seu extrato é obtido a partir das folhas, sendo rico em compostos bioativos como flavonoides (quercetina, kaempferol) e terpenoides (ginkgolídeos e bilobalídeos), que desempenham um papel crucial em seus efeitos farmacológicos (ALMEIDA; SANTOS, 2021).

A principal motivação para o consumo de Ginkgo biloba está relacionada à sua possível capacidade de melhorar a função cognitiva, circulação sanguínea e, possivelmente, prevenir demências e declínios cognitivos em populações idosas. Essas propriedades são atribuídas ao potencial antioxidante dos flavonoides, que neutralizam os radicais livres, o que atuaria prevenindo o estresse oxidativo em células neuronais e vasculares. Além disso, a planta é utilizada para tratar condições como vertigens, zumbidos e insuficiências vasculares periféricas (LIMA; COSTA, 2022).

O mecanismo de ação do Ginkgo biloba envolve diversas vias fisiológicas e enzimas. Uma das principais ações é a inibição do fator de agregação plaquetária (PAF), mediada pelos ginkgolídeos. Estes compostos atuam como antagonistas específicos do receptor de PAF, diminuindo a agregação plaquetária e a adesão celular. Como resultado, ocorre um aumento na fluidez do sangue e uma melhora na microcirculação, o que explicaria sua esperada eficácia em transtornos relacionados à circulação sanguínea (SILVA; ALVES, 2023).

Além disso, os flavonoides presentes no extrato de Ginkgo biloba inibem a enzima fosfodiesterase (PDE), resultando em um aumento dos níveis de monofosfato cíclico de guanosina (cGMP) e monofosfato cíclico de adenosina (cAMP). Esses nucleotídeos cíclicos são responsáveis pela vasodilatação e pela proteção das células endoteliais, contribuindo para a melhora da circulação e da função vascular. Estudos recentes demonstram que o efeito antioxidante do extrato também se dá pela modulação da via da enzima óxido nítrico sintase endotelial (eNOS), aumentando a produção de óxido nítrico (NO), um potente vasodilatador (FERREIRA; MARTINS, 2021).

Outro ponto relevante é a capacidade do Ginkgo biloba de reduzir a apoptose de células neuronais. Os flavonoides, como a quercetina, demonstraram uma regulação positiva na expressão de proteínas antiapoptóticas, como Bcl-2, e uma inibição de proteínas pró-apoptóticas, como Bax. Esse mecanismo é particularmente importante na prevenção de declínios cognitivos, uma vez que a apoptose neuronal é um dos principais fatores subjacentes a doenças neurodegenerativas (COSTA; LOPES, 2022).

Contudo, os efeitos anticoagulantes do Ginkgo biloba também podem representar um risco, especialmente em pacientes que já fazem uso de anticoagulantes. Estudos indicam que o extrato de Ginkgo pode interagir com medicamentos como varfarina, aumentando o risco de sangramentos devido à inibição da via da ciclooxigenase (COX) e à redução da agregação plaquetária (ALMEIDA; SANTOS, 2021). Portanto, é fundamental que os pacientes sejam alertados sobre o uso concomitante com outros fármacos, sobretudo aqueles que afetam a coagulação sanguínea.

Em síntese, o mecanismo de ação do Ginkgo biloba é complexo e envolve múltiplas vias fisiológicas, incluindo a inibição do fator de agregação plaquetária, o aumento dos níveis de cGMP e cAMP, a modulação da via da eNOS e a proteção antioxidante. Esses mecanismos justificam seu uso para melhorar a circulação, a função cognitiva e proteger contra processos neurodegenerativos, mas também apontam para a necessidade de cuidado no uso associado a outros medicamentos que alterem a coagulação.

4.2 Principais efeitos colaterais relacionados ao uso do Ginkgo Biloba

O Ginkgo biloba é amplamente utilizado por suas propriedades neuroprotetoras e vasodilatadoras, sendo frequentemente prescrito para melhorar a função cognitiva, circulação periférica e tratar condições como vertigens e zumbidos. No entanto, seu uso isolado ou combinado com outros medicamentos pode levar ao desenvolvimento de efeitos adversos e complicações que devem ser considerados pelos profissionais de saúde e pacientes.

Entre os principais efeitos adversos associados ao uso isolado do Ginkgo biloba, destacam-se os distúrbios gastrointestinais, como náuseas, diarreias e desconfortos abdominais. Além disso, há relatos de reações alérgicas, que incluem erupções cutâneas, coceira e, em casos mais graves, dificuldade respiratória (SILVA; MORAES, 2020). Estes sintomas são, em grande parte, atribuídos aos ginkgólidos presentes no extrato, que podem desencadear uma resposta imune em indivíduos sensíveis.

Adicionalmente, um dos efeitos adversos mais preocupantes do Ginkgo biloba está relacionado ao risco de hemorragias. Diversos estudos sugerem que os componentes do extrato podem interferir na agregação plaquetária, aumentando a suscetibilidade a eventos hemorrágicos. Essa complicação é atribuída principalmente à inibição do fator de agregação plaquetária (PAF) pelos ginkgolídeos, o que reduz a capacidade das plaquetas de formar coágulos, resultando em um risco elevado de sangramentos espontâneos ou prolongados em ferimentos menores (COSTA; REIS, 2021).

Os efeitos adversos podem ser ainda mais intensificados quando o Ginkgo biloba é utilizado em combinação com outros medicamentos. A interação com anticoagulantes como varfarina e antiplaquetários, como o ácido acetilsalicílico, é uma das mais documentadas na literatura. Essa interação pode potencializar o efeito desses medicamentos, resultando em um risco significativamente aumentado de hemorragias graves, como hematomas, hemorragias gastrointestinais e intracranianas (FONSECA; SANTOS, 2022). O mesmo efeito pode ser observado em interações com inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), como a fluoxetina, que, por si só, já aumentam o risco de sangramentos devido à redução na função plaquetária.

Além disso, foi relatado que o Ginkgo biloba pode afetar o metabolismo hepático de outros fármacos. Um estudo realizado por Almeida e Nogueira (2023) indicou que o extrato interfere na atividade das enzimas do citocromo P450, especialmente CYP2C19 e CYP3A4, que são responsáveis pelo metabolismo de muitos medicamentos, como anticonvulsivantes e imunossupressores. Essa interação pode levar a alterações na eficácia terapêutica dos fármacos e ao risco de toxicidade, dependendo do aumento ou diminuição das concentrações plasmáticas do medicamento coadministrado.

Outra preocupação importante é o potencial efeito neurotóxico de alguns componentes do Ginkgo biloba em altas doses ou em uso prolongado. Embora seus efeitos neuroprotetores sejam amplamente divulgados, doses excessivas podem induzir convulsões, especialmente em pacientes predispostos ou em uso de medicamentos que afetam a neurotransmissão gabaérgica (LOPES; MARTINS, 2023). Esse efeito parece estar relacionado à ação dos bilobalídeos, que podem interferir na atividade de neurotransmissores inibitórios, desencadeando crises convulsivas em indivíduos vulneráveis.

Em suma, apesar dos benefícios terapêuticos, o uso de Ginkgo biloba não é isento de riscos. Seus efeitos adversos incluem distúrbios gastrointestinais, reações alérgicas, risco aumentado de sangramentos e possíveis interações medicamentosas prejudiciais. Portanto, seu uso deve ser cauteloso, especialmente em pacientes que utilizam anticoagulantes, antiplaquetários, antidepressivos e outros medicamentos metabolizados pelo citocromo P450. A conscientização sobre esses efeitos é fundamental para um uso seguro e eficaz, destacando a importância de um acompanhamento profissional adequado.

4.3 Principais estudos clínicos que analisaram a prevalência e incidência de eventos hemorrágicos associados ao uso de Ginkgo biloba

Nos últimos dez anos, diversos estudos clínicos, especialmente ensaios clínicos randomizados (ECRs), investigaram a relação entre o consumo de Ginkgo biloba e o risco de eventos hemorrágicos. Esses estudos visaram esclarecer se o uso desse fitoterápico aumenta o risco de sangramentos, principalmente em pacientes que fazem uso concomitante de anticoagulantes ou antiplaquetários.

Um dos estudos mais significativos foi conduzido por Jiang et al. (2014), que realizou um ensaio clínico randomizado com 300 pacientes idosos, divididos em dois grupos: um recebeu Ginkgo biloba e o outro um placebo, por um período de seis meses. O estudo observou um aumento significativo no tempo de sangramento em pacientes que consumiram o fitoterápico, especialmente naqueles que faziam uso de anticoagulantes como varfarina. Os pesquisadores atribuíram esse efeito ao antagonismo dos receptores de fator de agregação plaquetária (PAF), que desempenha um papel essencial na coagulação (JIANG et al., 2014).

Outro estudo relevante foi publicado por Singh et al. (2017), que analisou a interação do Ginkgo biloba com o ácido acetilsalicílico em um ensaio clínico randomizado de 12 semanas. O estudo incluiu 120 participantes divididos em três grupos: placebo, Ginkgo biloba isolado e Ginkgo biloba combinado com ácido acetilsalicílico. Os resultados indicaram que os pacientes que receberam a combinação apresentaram uma maior incidência de sangramentos leves, como hematomas e epistaxes, em comparação aos demais grupos. Este estudo concluiu que o uso concomitante do fitoterápico com antiplaquetários deve ser evitado, especialmente em indivíduos com histórico de distúrbios hemorrágicos (SINGH et al., 2017).

Em um estudo mais recente, realizado por Wang et al. (2020), foram investigados os efeitos de Ginkgo biloba em 200 pacientes com doenças cardiovasculares que faziam uso de anticoagulantes orais. Os resultados mostraram que, após 24 semanas, houve um aumento estatisticamente significativo na taxa de eventos hemorrágicos menores no grupo que recebeu Ginkgo biloba, embora não tenham sido observados casos de sangramentos graves. O estudo destacou a necessidade de monitoramento cuidadoso em pacientes que utilizam anticoagulantes e consomem esse fitoterápico, dada a possibilidade de interação farmacológica (WANG et al., 2020).

Outro ensaio clínico randomizado conduzido por Li et al. (2022) avaliou a segurança do uso de Ginkgo biloba em 150 pacientes idosos com comprometimento cognitivo leve, divididos em dois grupos: um grupo recebeu o fitoterápico e o outro placebo, durante 18 meses. Embora o estudo tenha evidenciado melhorias na função cognitiva, também foi observado um aumento na incidência de pequenos sangramentos, como petéquias e equimoses, no grupo que recebeu Ginkgo biloba. Os autores sugeriram que o aumento dos eventos hemorrágicos estava possivelmente relacionado à redução da agregação plaquetária induzida pelo extrato (LI et al., 2022).

De forma geral, os ensaios clínicos randomizados disponíveis indicam que o uso de Ginkgo biloba pode aumentar o risco de eventos hemorrágicos, especialmente em pacientes que já utilizam medicamentos anticoagulantes ou antiplaquetários. Esses efeitos são frequentemente atribuídos à inibição do fator de agregação plaquetária e à modulação da via da ciclooxigenase. Dessa forma, é recomendável que o uso de Ginkgo biloba seja monitorado por profissionais de saúde, a fim de evitar interações medicamentosas que possam levar a complicações hemorrágicas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo explorou a relação entre o uso de Ginkgo biloba e a ocorrência de eventos hemorrágicos, destacando o potencial risco associado ao uso desse fitoterápico, especialmente em indivíduos que fazem uso concomitante de medicamentos anticoagulantes ou antiplaquetários. A análise dos principais estudos e ensaios clínicos indicou que o Ginkgo biloba possui propriedades que podem interferir na agregação plaquetária, devido à inibição do fator de agregação plaquetária (PAF) e à modulação da via da ciclooxigenase, resultando em maior risco de sangramentos. Além disso, interações farmacológicas entre o Ginkgo biloba e medicamentos que afetam a coagulação sanguínea, como varfarina e ácido acetilsalicílico, foram consistentemente relatadas em ensaios clínicos, reforçando a necessidade de cautela.

Embora o Ginkgo biloba apresente efeitos benéficos como neuroproteção, melhora na circulação e propriedades antioxidantes, o uso indiscriminado e a crença de que fitoterápicos são “inofensivos” podem levar a complicações graves, como hemorragias espontâneas e prolongadas. Dessa forma, é fundamental que profissionais da saúde orientem seus pacientes sobre os riscos associados ao consumo de fitoterápicos, particularmente em populações vulneráveis, como idosos e pessoas com múltiplas comorbidades.

A conscientização sobre esses potenciais efeitos adversos é essencial para um uso seguro e consciente de Ginkgo biloba, e destaca-se a importância de campanhas educativas e de uma maior regulamentação na comercialização de produtos fitoterápicos. Recomenda-se um monitoramento cuidadoso e um acompanhamento médico adequado, especialmente em casos de uso concomitante com medicamentos anticoagulantes ou outros fármacos que possam interagir negativamente com o Ginkgo biloba. Assim, espera-se que este estudo contribua para uma prática clínica mais segura e baseada em evidências, promovendo uma maior conscientização sobre os riscos e benefícios dos fitoterápicos na saúde humana.

REFERÊNCIAS

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1,2,3,4,5Discentes do Curso Superior de Medicina do Centro Universitário de Valença -UNIFAA. Valença-RJ