REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202410311152
Areta Dos Santos Gouveia1
Ellen Santiago da Silva2
Letícia Do Carmo Santos3
Marielly Sousa Da Silva4
Melissa Giovanna De Aquino5
Leandro Lazzareschi6
RESUMO
Esta revisão examinou o papel fundamental do fisioterapeuta nos cuidados paliativos, destacando sua importância para melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças graves e terminais, avaliando como as intervenções fisioterapêuticas podem aliviar sintomas, promover conforto e manter a mobilidade dos pacientes.
Trata-se de uma revisão de literatura com abordagem qualitativa, que realiza uma análise detalhada das fontes existentes para avaliar métodos e resultados de pesquisas anteriores e sugerir direções para futuros estudos.
Foram realizados levantamentos de estudos, com restrição ao uso da língua inglesa sobre Cuidados Paliativos e Fisioterapia, nas bases de dados científicas: MEDLINE, Scielo, Lilacs, PUBMED, bem como em sites de entidades e instituições dedicadas à pesquisa, no período de 10 anos, de 2014 a 2024, tendo como critérios de inclusão estudos qualitativos, descritivos e revisões que discutem o papel da fisioterapia na assistência a pacientes em cuidados paliativos, enquanto os critérios de exclusão foram estudos que não se adequaram ao tema central, ocorrendo, assim, a remoção de artigos que não apresentaram relevância ou clareza na discussão sobre a atuação da fisioterapia nos cuidados paliativos.
Palavras-chaves: Fisioterapia. Cuidados Paliativos. Doente terminal. Reabilitação.
ABSTRACT
This review examined the key role of the physical therapist in palliative care, highlighting its importance in improving the quality of life of patients with serious and terminal illnesses, assessing how physical therapy interventions can alleviate symptoms, promote comfort, and maintain patient mobility.
It is a literature review with a qualitative approach, conducting a detailed analysis of existing sources to evaluate methods and results of previous research and suggest directions for future studies.
Research studies were collected, restricted to the use of the English language, on Palliative Care and Physical Therapy from scientific databases: MEDLINE, Scielo, Lilacs, PUBMED, as well as from websites of entities and institutions dedicated to research, over a 10-year period, from 2014 to 2024. The inclusion criteria were qualitative, descriptive studies, and reviews discussing the role of physical therapy in assisting patients in palliative care, while the exclusion criteria were studies that did not fit the central theme, resulting in the removal of articles that did not present relevance or clarity in discussing the role of physical therapy in palliative care.
Keywords: Physical Therapy. Palliative Care. Terminally ill. Rehabilitation. Physio Therapy, Palliative Care, Terminally ill, and Rehabilitation.
1. INTRODUÇÃO
Cuidados Paliativos são uma abordagem para melhoria da qualidade de vida de pacientes e familiares que enfrentam uma doença ameaçadora da vida, através da prevenção e do alívio do sofrimento, identificação precoce, impecável avaliação, tratamento da dor e outros problemas, físicos, psicossociais e espirituais. (OMS, 2007).
A fisioterapia atua de maneira ampla e humanitária, junto a uma equipe multidisciplinar, nos cuidados destes pacientes, e tem papel fundamental para melhora da qualidade de vida. Diante disso, diversos órgãos internacionais defendem os cuidados paliativos (CP) como um direito humano e a Organização Mundial da Saúde (OMS) incentiva os países-membros a inseri-los e/ou ampliá-los em suas políticas públicas de saúde, a fim de que seja garantido a assistência paliativa adequada para aliviar o sofrimento associado a doenças debilitantes e progressivas. (OLIVEIRA, 2019).
Segundo Paião (2022), na graduação de fisioterapia, são abordadas superficialmente as necessidades dos pacientes terminais e, sobretudo, a finitude de vida, o que acarreta na formação de profissionais que dão pouco crédito ao relato do paciente e se baseiam apenas em conceitos técnicos, embora se trate de uma temática com visibilidade cada dia maior na área da saúde e no âmbito fisioterapêutico.
O sofrimento de perceber a mortalidade já vem na possibilidade de um diagnóstico. O processo é acompanhado de dor, sendo esta única e individual para cada pessoa, assim, os cuidados paliativos oferecem uma equipe multidisciplinar que podem cuidar de sintomas físicos, sequelas de tratamentos agressivos que foram necessários, sintomas da progressão da doença, além do controle da doença incurável e grave, trazendo a possibilidade de conforto para o paciente, refletindo a busca por soluções mais humanizadas e compassivas na prestação de cuidados de saúde. (ARANTES, 2017).
O presente estudo mostra a importância da fisioterapia nos cuidados paliativos, tema este que ainda é muito negligenciado durante a graduação e não recebe a devida importância no meio acadêmico e profissional, sendo que, no contexto de cuidados paliativos, a fisioterapia tem papel fundamental, visto que, trabalha no alívio da dor, suporte respiratório e promoção de suporte físico e emocional, junto da equipe multidisciplinar, contribuindo para um cuidado humanizado e eficaz.
2. OBJETIVO GERAL
Delinear a importância da fisioterapia nos cuidados paliativos de indivíduos em finitude de vida.
3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Evidenciar a importância do papel do profissional fisioterapeuta nos cuidados paliativos, tal qual os recursos que podem ser utilizados no manejo dos sintomas físicos e dos impactos biopsicossociais.
4. METODOLOGIA
Este estudo consistiu em uma revisão de literatura, cujo principal objetivo foi coletar e analisar informações que evidenciem a importância da fisioterapia nos cuidados paliativos.
Para isso, a busca das informações foi realizada nas plataformas MEDLINE, Scielo, Lilacs e PUBMED, além de consultar sites de organizações e instituições dedicadas à pesquisa na área da saúde.
A busca por informações foi orientada através palavras-chave específicas, sendo elas: Fisioterapia, Cuidados Paliativos, Doente terminal, Reabilitação, Physiotherapy, Palliative Care, Terminally ill e Rehabilitation, escolhidas com o intuito de abranger uma variedade de aspectos relacionados ao tema da revisão, permitindo, assim, uma análise mais detalhada do tema.
Os artigos foram selecionados nas línguas inglesa e portuguesa, proporcionando uma base diversificada de estudos.
Os critérios de inclusão foram adotados cuidadosamente para garantir a relevância dos artigos analisados, sendo considerados estudos qualitativos, descritivos e revisões que discutissem de maneira direta o papel da fisioterapia na assistência a pacientes em situação paliativa. Quanto ao ano de publicação, foram selecionadas pesquisas realizadas no período de 2016 a 2021, de diversos autores, evidenciados na tabela 1 e gráfico 1, visando assegurar uma visão abrangente sobre as evoluções e os avanços no campo ao longo dos anos.
Os critérios de exclusão foram estabelecidos para filtrar estudos que não se adequaram ao tema central da pesquisa. Isso incluiu a remoção de artigos duplicados e aqueles que não apresentaram relevância ou clareza na discussão sobre a atuação da fisioterapia em cuidados paliativos. Essa triagem rigorosa contribuiu para a qualidade e a consistência dos dados coletados, como podemos evidenciar na figura
Dessa forma, esta revisão visa não apenas reunir evidências sobre a atuação da fisioterapia nos Cuidados Paliativos, mas também destacar a importância de uma abordagem multidisciplinar na assistência a pacientes terminais, enfatizando como a fisioterapia pode melhorar a qualidade de vida e proporcionar alívio dos sintomas em contextos desafiadores.
Figura 1: Número de artigos selecionados e excluídos
Tabela 1: Artigos científicos selecionados
Gráfico 1: Ano de publicação e quantidade de artigos científicos encontrados para a realização da revisão
5. RESULTADOS
Em primeira instância, foram selecionados 63 artigos, porém, apenas 35 localizados nas plataformas escolhidas para análise. Destes, somente 11 atenderam aos critérios de relevância estabelecidos para a revisão, os quais estão descritos na tabela 1, organizados por ano de publicação.
O gráfico 2 ilustra a distribuição das análises dos artigos usados para a realização do estudo, sendo dividido em cinco setores principais: estudos descritivos qualitativos, revisões sistemáticas, revisões de literatura, estudos transversais descritivos e ensaios clínicos randomizados.
Dentre os artigos analisados, foi constatado que 37% são estudos descritivos qualitativos, representado em azul, 25% revisões sistemáticas, em rosa, 13% estudos transversais descritivos e 13% ensaios clínicos randomizados, como amarelo e verde, respectivamente, e 12% revisões de literatura, em cinza.
O gráfico 3 nos fornece uma visão clara sobre o ano de publicação dos artigos selecionados para revisão, entre os anos de 2016 até 2021, onde nos mostra que 9% dos artigos foram publicados em 2016, representado em verde, 18% em 2017, em amarelo, 28% em 2019, em roxo, 18% em 2020, em azul, e 27% em 2021, em vermelho.
Em síntese, os gráficos nos permitem visualizar os diferentes temas citados e discutidos na literatura, bem como seus anos de publicação. Portanto, essas informações foram necessárias para o desenvolvimento do estudo realizado.
Gráfico 2
Gráfico 3
6. DISCUSSÃO
A prática da fisioterapia em contextos de cuidados paliativos tem se tornado um tema de crescente relevância, especialmente à medida que a medicina moderna avança e a longevidade da população aumenta. Em um cenário onde muitos pacientes enfrentam doenças terminais e, consequentemente, a falta de possibilidades terapêuticas de cura, a atuação dos fisioterapeutas ganha um papel crucial na promoção da qualidade de vida e do bem-estar desses indivíduos.
O estudo de Alcântara (2021) revela que Pernambuco se destaca como o estado com a maior concentração de fisioterapeutas atuando nesse campo específico. Contudo, os desafios éticos enfrentados por esses profissionais são complexos e multifacetados, envolvendo a delicada interseção entre as decisões do paciente e os princípios da prática médica. Observou-se falta de conhecimento dos participantes sobre cuidados paliativos e bioética, apesar de 80% da amostra classificar a disciplina de bioética como extremamente relevante durante a graduação. Neste contexto, é essencial discutir a formação acadêmica dos fisioterapeutas, especialmente no que tange ao conhecimento sobre bioética e cuidados paliativos, que são fundamentais para uma atuação ética e humanizada.
De acordo com Costa e Duarte (2019), os avanços tecnológicos e científicos na área da saúde têm impactado diretamente a expectativa de vida, levando a uma nova compreensão sobre o processo de morte. Nesse contexto, a bioética e os Cuidados Paliativos desempenham um papel crucial, ao priorizar a dignidade e a humanização dos pacientes. Conceitos como eutanásia, distanásia e ortotanásia ocupam o centro das discussões éticas sobre o fim da vida. A eutanásia refere-se à antecipação da morte, enquanto a distanásia prolonga o sofrimento sem benefícios reais. A ortotanásia, por outro lado, busca uma morte digna, aceitando o curso natural do processo de morrer e evitando intervenções desnecessárias que apenas prolongam o sofrimento. Dentro desse cenário, a fisioterapia assume uma função essencial nos Cuidados Paliativos, contribuindo diretamente para o alívio do desconforto físico e para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes terminais. O papel do fisioterapeuta vai além do tratamento físico, abrangendo a gestão do bem-estar integral do paciente, auxiliando no controle da dor, na manutenção da mobilidade e na promoção do conforto. Esses profissionais são indispensáveis no processo de morrer com dignidade, oferecendo suporte não apenas físico, mas também emocional, ao criar um ambiente de confiança e respeito mútuo. Com isso, a fisioterapia torna-se uma peça fundamental na equipe de Cuidados Paliativos, ao assegurar que o processo de morte ocorra de maneira humanizada, garantindo alívio e qualidade de vida até o último momento.
Os Cuidados Paliativos emergem como uma abordagem fundamental no tratamento de pacientes com doenças graves, destacando-se pela sua capacidade de promover qualidade de vida e bem-estar em um contexto de sofrimento. Conforme Costa et, al. (2020), os Cuidados Paliativos têm um papel essencial na promoção da qualidade de vida de pacientes com doenças graves e seus familiares, ao abordar de forma precoce os sintomas físicos, psicossociais e espirituais. Estima-se que cerca de 40 milhões de pessoas necessitem desses cuidados anualmente, porém, apenas uma pequena parte recebe esse suporte, especialmente em países de baixa e média renda. Embora inicialmente voltados para pacientes oncológicos, os Cuidados Paliativos se estendem a diversas condições crônicas, como a esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa que compromete os neurônios motores, resultando em insuficiência respiratória e morte em poucos anos. Nesses casos, a atuação da equipe multidisciplinar é de fundamental importância, já que ela enfrenta desafios complexos, tanto no âmbito físico, quanto psicossocial, sempre com o objetivo de proporcionar conforto, preservar a dignidade e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O trabalho conjunto entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais é crucial para garantir um atendimento integral e humanizado.
A formação dos fisioterapeutas em questões bioéticas e na prática de Cuidados Paliativos é uma temática crítica, especialmente diante dos desafios enfrentados por esses profissionais em contextos de terminalidade. O estudo de Silva et, al. (2017), discute como os fisioterapeutas lidam com questões bioéticas em situações de terminalidade e o impacto dessas situações no seu bem-estar, assemelhando-se ao estudo de Oliveira, Bombarda e Moriguchi (2019), onde apontam que os profissionais da saúde se sentem, frequentemente, despreparados para atuar nos Cuidados Paliativos. Silva et, al. (2017) alegam que o profissional que proporciona um cuidado humanizado está exposto à angústia e ao sofrimento existencial do paciente terminal.
Dado que muitos fisioterapeutas não recebem preparo adequado durante sua formação para lidar com essas situações, e frequentemente não têm suporte para administrá-las, podem experimentar estresse intenso, que compromete a eficácia do seu trabalho. Portanto, há um grande desafio para a formação acadêmica de fisioterapia: integrar, de maneira transversal, conhecimentos que abordam a bioética do cuidado em saúde, fundamentados na autonomia, dignidade e direitos humanos. Oliveira, Bombarda e Moriguchi (2019) apontam que os profissionais da saúde se sentem, frequentemente, despreparados para atuar nos Cuidados Paliativos. Um estudo conduzido por eles revela que fisioterapeutas são capacitados para tratamentos curativos e reabilitação, visando reintegrar o paciente socialmente. Contudo, a formação negligência temas cruciais, como a finitude da vida, comunicação de más notícias e o manejo biopsicossocial de situações complexas. Isso evidencia a desconexão com familiares e cuidadores, descaso com a humanização no cuidado, bem como o enfrentamento do sofrimento e das angústias associadas a finitude de vida, ressaltando a urgência de integrar as perspectivas e os princípios dos Cuidados Paliativos, alinhando-os de forma consistente com as diretrizes de prática na Atenção Primária à Saúde, especialmente durante a formação, sendo fundamental direcionar recursos para o desenvolvimento de pesquisas nesse campo, contribuindo, assim, para a evolução e aprimoramento contínuo dos cuidados oferecidos.
A aplicação da fisioterapia em Cuidados Paliativos para crianças é um campo em expansão, que demanda mais pesquisas e adaptações específicas às necessidades dos pequenos pacientes. O estudo de Campoy et, al. (2021) destaca que a fisioterapia é uma das técnicas utilizadas para o manejo de sintomas nos Cuidados Paliativos, porém, sua aplicação em crianças ainda carece de pesquisas mais detalhadas, considerando a necessidade de ajustar as estratégias ao desenvolvimento físico, emocional e cognitivo de crianças e adolescentes. Por outro lado, Rico-Mena et, al. (2019) investigou a experiência dos pais com a reabilitação física (RP) domiciliar em crianças com doenças terminais, revelando que eles consideram essa prática essencial para melhorar tanto a qualidade de vida, quanto às habilidades motoras de seus filhos no ambiente doméstico. Apesar da escassez de estudos sobre a utilização de técnicas diversificadas em crianças em cuidados paliativos domiciliares, os resultados mostraram que a RP é percebida de forma muito positiva. Além disso, a formação e a educação fornecidas aos pais foram altamente valorizadas, auxiliando-os no enfrentamento da doença e nas decisões a serem tomadas ao longo do processo. Diretrizes clínicas e estudos prévios já recomendam o uso contínuo da fisioterapia para manejar sintomas como tosse e acúmulo de secreções, reforçando a importância dessa prática. O estudo também destaca a abordagem centrada na família como um fator crucial para aumentar a eficácia do tratamento e a satisfação dos pais, integrando suas perspectivas no processo de tomada de decisões sobre os cuidados paliativos. De maneira similar, Campoy et, al. (2021) indicam que o tratamento fisioterapêutico realizado no ambiente familiar não só fortalece os laços entre os familiares, como também reduz os custos e permite que a criança permaneça em seu lar até o final da vida. Apesar dessas descobertas promissoras, a revisão revela que ainda há muito a ser desenvolvido, dado o número reduzido de estudos e programas de capacitação específicos para fisioterapeutas nessa área. Assim, torna-se fundamental realizar mais pesquisas que visem o desenvolvimento de protocolos padronizados. Esses protocolos são essenciais para aprimorar a qualidade de vida das crianças, reduzir seus sintomas e atender adequadamente às necessidades específicas da população infantil em Cuidados Paliativos, garantindo um cuidado mais eficaz e humanizado.
O estudo de Perkins et, al. (2020) aborda a frequente ocorrência de náuseas e vômitos em pacientes com câncer avançado. Apesar de a acupuntura ter mostrado potencial para aliviar esses sintomas durante o tratamento, ainda existem lacunas na pesquisa sobre sua eficácia em contextos mais amplos. Os resultados indicaram que não houve diferença significativa entre os grupos em relação à frequência de vômitos, o que diverge de estudos anteriores, que sugeriam a acupressão como uma opção válida. Nesse ensaio, não se encontrou evidência de que as pulseiras de acupressão ativa fossem mais eficazes do que o placebo na redução de náuseas e vômitos em pacientes sob cuidados paliativos. Diante disso, é evidente que a exploração de terapias complementares, como a acupuntura, continua sendo relevante. A prática pode oferecer um suporte adicional importante, especialmente em um cenário em que o bem-estar dos pacientes é prioritário. Assim, a necessidade de mais pesquisas que investiguem diferentes abordagens para o alívio desses sintomas se torna ainda mais urgente, ampliando as opções disponíveis para os pacientes e suas famílias.
Gulini et, al. (2017) destacam que o conceito de cuidados paliativos vai além do que tradicionalmente se entendia como assistência no final da vida. Hoje, esses cuidados abrangem o manejo de sintomas em qualquer fase de uma doença grave, visando sempre melhorar a qualidade de vida do paciente. Em um ambiente desafiador como uma unidade de Terapia Intensiva (UTI), a integração de cuidados paliativos pode ser complexa, especialmente devido à necessidade de equilibrar intervenções curativas e paliativas. As decisões sobre quando priorizar o conforto do paciente exigem sensibilidade e clareza, assim, para que os cuidados paliativos sejam efetivos em UTIs, é essencial promover uma comunicação interdisciplinar eficaz entre os membros da equipe. Além disso, a capacitação contínua dos profissionais é fundamental para aprimorar a assistência não apenas ao paciente, mas também aos familiares. Essa abordagem integrada deve respeitar a individualidade de cada paciente, garantindo que suas necessidades e preferências sejam sempre levadas em conta. Com um foco maior na humanização do cuidado, podemos transformar a experiência desses pacientes e seus entes queridos, tornando-a mais digna e acolhedora, independentemente da gravidade da doença.
Arcuri et, al. (2016) destacam que as secreções respiratórias podem ter um impacto significativo na qualidade de vida de pacientes com câncer, especialmente aqueles em cuidados paliativos. O manejo dessas secreções deve ser cuidadosamente adaptado para garantir o máximo conforto e bem-estar, refletindo as necessidades específicas de cada paciente. Embora muitas das terapias discutidas na revisão sejam aplicáveis no contexto de cuidados paliativos, é fundamental fortalecer a base de evidências e alcançar uma gama mais ampla de pacientes que enfrentam condições, como o câncer. A pesquisa sugere que as abordagens mais eficazes incluem a MAC (Cinesioterapia Assistida por Dispositivos) e a MIE (Ventilação Intermitente Externa), ambas projetadas para promover a expectoração de maneira não invasiva. Essas técnicas, que integram a fisioterapia respiratória e a ventilação percussiva, melhoram a eliminação do muco, trazendo alívio significativo para os pacientes. Para os profissionais de fisioterapia, essas estratégias são de extrema importância, pois oferecem formas práticas de tratar pacientes com secreções respiratórias, contribuindo não apenas para a saúde física, mas também para a qualidade de vida em um momento tão delicado. A implementação dessas abordagens pode fazer diferença, ajudando a criar um ambiente de cuidado mais humano e eficaz.
Segundo Lopes-Junior et, al. (2020), as terapias complementares têm ganhado espaço no tratamento de pacientes com câncer, tanto em crianças quanto em adultos. Dentre essas, a massagem terapêutica se destaca como uma das mais utilizadas, apresentando benefícios variados na redução da dor e na promoção do bem-estar dos pacientes. O estudo aponta que a massagem pode ser mais eficaz do que o simples toque em proporcionar alívio da dor e melhorar o humor, especialmente a curto prazo, embora seus efeitos duradouros sejam menos claros. A combinação de massagem com exercícios também mostrou ser benéfica para aliviar dor e angústia, além de demonstrar a melhora na circulação, redução da inflamação e do edema, e aumento dos níveis de neurotransmissores, como dopamina e serotonina, o que pode ajudar a atenuar sintomas de ansiedade e depressão. Por outro lado, a acupuntura apresenta resultados mistos: enquanto alguns estudos indicam uma redução significativa da dor oncológica, outros não mostram diferenças relevantes em relação a grupos controle.
Sendo assim, a relevância da fisioterapia e de terapias complementares, como a massagem e a acupuntura, nos cuidados paliativos é inegável, uma vez que essas práticas podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes, aliviando sintomas físicos e emocionais associados ao câncer. No entanto, é importante ressaltar que, em algumas situações, as evidências ainda são inconclusivas, evidenciando a necessidade de mais pesquisas rigorosas e de longo prazo para validar a eficácia dessas abordagens.
7. CONCLUSÃO
Dado o exposto, observamos que o fisioterapeuta desempenha um papel crucial nos cuidados paliativos, trabalhando no manejo da dor, melhora do bem-estar biopsicossocial e alterações respiratórias, no entanto, esse tema ainda é frequentemente negligenciado na graduação, bem como as pesquisas neste campo, não só em relação a fisioterapia, mas em toda equipe multidisciplinar, apesar de sua vital importância, pois, lidar com pacientes em finitude de vida, interagir com suas famílias, respeitar suas vontades e manter a estabilidade emocional para enfrentar esses desafios é uma tarefa complexa.
É essencial que a graduação inclua a abordagem dos cuidados paliativos na grade curricular, preparando o fisioterapeuta para atuar com competência nesta área, assim como em qualquer outra, evidenciando a sua importância. Além disso, é necessário promover mais pesquisas que sejam relevantes sobre a importância da fisioterapia e o papel do fisioterapeuta no contexto destacado, dada a escassez de estudos nesta área.
Levando-se em consideração estes aspectos, direcionar recursos e esforços para o desenvolvimento de pesquisas que aprimorem a formação acadêmica e profissional dos fisioterapeutas nos cuidados paliativos, porque isso não só beneficiará os profissionais, mas também melhorará a qualidade do serviço oferecidos aos pacientes e suas famílias, promovendo um atendimento mais empático e humanizado num momento tão desafiador como esse.
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1Graduanda em Fisioterapia Instituição: Universidade Cruzeiro do Sul Endereço: São Paulo, SP, Brasil E-mail: aretagouveia@gmail.com
2Graduanda em Fisioterapia Instituição: Universidade Cruzeiro do Sul Endereço: São Paulo, SP, Brasil E-mail: santiagoellen76@gmail.com
3Graduanda em Fisioterapia Instituição: Universidade Cruzeiro do Sul Endereço: São Paulo, SP, Brasil E-mail: lecarmo03@gmail.com
4Graduanda em Fisioterapia Instituição: Universidade Cruzeiro do Sul Endereço: São Paulo, SP, Brasil E-mail: mariellysousaa@gmail.com
5Graduanda em Fisioterapia Instituição: Universidade Cruzeiro do Sul Endereço: São Paulo, SP, Brasil E-mail: mel.estudosfacul@gmail.com
6Doutor em Engenharia Biomédica Instituição: Centro Universitário São Camilo e Universidade Cruzeiro do Sul Endereço: São Paulo, SP, Brasil E-mail: leandro@lazza.com.br