PRECARIZAÇÃO DE TRABALHO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA POR FALTA DE EPIS E MATERIAIS HOSPITALARES DURANTE A PANDEMIA: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411010906


Aline Moreira da Silva1
Sayron Lima Ripardo de Melo2
Lucas Rocha dos Santo3
Erika Pinheiro Monteiro4
Leidiane Pimentel da Silva5
Sara da Silva Negreiros6
Leila do Monte Rodrigues7
Rodrigues Ferreira de Souza8
Jailson da Silva Tavares9
Jéssica de Souza Falcão10
Felipe Albuquerque Cesar11
Samilly Malcher de Castro12
Raiany Nascimento de Almeida13
Flávia Sabrina Araújo de Castro14
Marcio Ribeiro Pinheiro15


RESUMO

Objetivo: identificar e descrever por meio de revisão, as dificuldades enfrentadas nas unidades de emergência, com o déficit de equipamentos de proteção individual e materiais hospitalares. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura onde a seleção dos artigos foram realizadas das bases de dados: Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Literatura Latino-Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), compreendendo o período de 2020 A 2021. Resultados e discussão: Os artigosenfatizam em 100% a necessidade de melhores condições de trabalho para os trabalhadores da saúde, principalmente para a classe da enfermagem, bem como novas ações que visem a segurança dos mesmos, no combate a pandemia do novo corona vírus. Conclusão: O colapso da saúde pública no Brasil em decorrência da pandemia, revelou o retrato do trabalho desigual e precário em que estão expostos os profissionais de saúde no país, em especial a enfermagem, que clama por socorro e valorização.

Descritores: Covid 19, Pandemia, Condições de Trabalho, Emergência, EPIs.

ABSTRACT

Objective: identify and describe, by means of a review, the difficulties faced in the emergency units, with the deficit of individual protection equipment and hospital materials. Methods: This is an integrative literature review where the selection of articles was carried out from the databases: Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) and Latin American Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), covering the period from 2020 to 2021. Results and discussion: The articles emphasize 100% the need for better working conditions for health workers, especially for the nursing class, as well as new actions aimed at their safety, in combating the pandemic of the new corona virus. Conclusion: The collapse of public health in Brazil as a result of the pandemic, revealed the portrait of the uneven and precarious work in which health professionals in the country are exposed, especially nursing, who cry for help and appreciation.

Descriptors: Covid 19, Pandemic, Working Conditions, Emergency, PPE.

INTRODUÇÃO

Os corona vírus são uma grande família de vírus comuns em muitas espécies de animais, incluindo camelos, gado, gatos e morcegos. Raramente, os corona vírus que infectam animais podem infectar pessoas, como exemplo do MERS-CoV e SARS-CoV. Em dezembro de 2019, houve a transmissão de um novo corona vírus (SARS-CoV-2), o qual foi identificado em Wuhan na China e causou a COVID-19, sendo em seguida disseminada e transmitida pessoa a pessoa. É uma doença que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves.
Os sintomas da COVID-19 podem variar de um resfriado, a uma Síndrome Gripal-SG (presença de um quadrorespiratório agudo, caracterizado por, pelo menos dois dos seguintes sintomas: sensação febril ou febre associada a dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza) até uma pneumonia severa. (BRASIL, 2021).

Em março de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) caracterizou a COVID 19 como pandemia gerando alerta nos sistemas de saúde mundiais. Desta data até hoje não se imaginava a letalidade e o impacto que o vírus causaria no mundo.

O Brasil acumula o número de 290.314 mortes, em decorrência do coronavírus, e registra diariamente uma faixa de mais de 2 mil óbitos. (BRASIL, 2021). Estamos no pior momento da pandemia no país, com descobertas de variantes mais letais e com alta transmissibilidade, a realidade é de superlotação nos hospitais, falta de leitos, materiais e medicamentos para o cuidado com o paciente e falta de equipamentos de proteção individual (EPIS), para os profissionais de saúde.

A forma como o governo brasileiro tem enfrentado a pandemia mostra incongruência e antagonismo das recomendações mundiais, mesmo entre os entes federativos. O país, apesar de possuir o Sistema Único de Saúde (SUS), sistema universal que articula a rede básica com rede de urgência, emergência, terapia intensiva e internação não tem conseguido alcançar, a contento, resultados traduzidos como de sucesso (SANTANA et al, 2020). Frente a este cenário as más condições e precariedade do ambiente e das instalações, onde os profissionais de saúde desenvolvem o trabalho, potencializam as vulnerabilidades quanto à manutenção da segurança, integridade física e da saúde como um todo (BRANCO & CAREGNAT0).

Neste sentido, a escolha da temática é justificada pelos seguintes dados da Fundação Oswaldo Cruz: indicam que 43% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no trabalho de enfrentamento da Covid 19, e o principal motivo, para 23 % deles, está relacionado a falta, a escassez e a inadequação do uso de EPIS (64% revelaram a necessidade improvisar equipamentos). Os participantes da pesquisa também relataram o medo generalizado de se contaminar no trabalho (18%), a ausência de estrutura adequada para realização da atividade (15%), além dos fluxos de internação ineficientes (12,3%).  Esse panorama reforça o risco que inflige esses trabalhadores, além de pressões físicas e psicológicas inerentes a pandemia.

Neste contexto, o presente estudo tem por objetivo identificar e descrever por meio de revisão, as dificuldades enfrentadas nas unidades de emergência, com o déficit de equipamentos de proteção individual e materiais hospitalares. Para tanto, formulou-se a seguinte questão norteadora: Como a escassez de materiais pode afetar os profissionais de saúde e o atendimento em unidades de emergência?

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa consiste em uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), visando identificar e descrever, as dificuldades enfrentadas nas unidades de emergência, com o déficit de equipamentos de proteção individual e materiais hospitalares. A RIL se configura como uma síntese do estado dos dados científicos relacionados a um problema de pesquisa, possibilitando conclusões amplas a respeito de um tema específico, apontando possíveis lacunas que podem ser preenchidas por novas pesquisas (POLIT; BECK, 2011).

Por se tratar de uma revisão da literatura, não foi necessária a aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa, segundo a Resolução 466/12 do Ministério da Saúde. Para realização da revisão utilizou-se o modelo proposto por Souza, Silva e Carvalho (2010), que envolve as seguintes fases:

  1. Elaboração da pergunta norteadora;
  2. Busca ou amostragem na literatura;
  3. Coleta de dados;
  4. Análise crítica dos estudos incluídos;
  5. Discussão dos resultados;
  6. Apresentação da revisão integrativa.

A busca dos estudos foi realizada entre fevereiro e março de 2021 através das bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literatura Analysis and Retrieval (MEDLINE). Os cruzamentos foram realizados na forma de associação utilizando o operador booleano and e os Descritores: “Covid-19”, “Pandemia”, “Condições de Trabalho”, “Emergência”, “EPIs”.

Após isso, procedeu-se a análise crítica dos estudos, com base nos critérios de inclusão: publicações disponíveis na íntegra no idioma inglês, espanhol e português, pesquisas realizadas sobre a temática e publicadas no período compreendido entre 2019 A 2021. Os critérios de exclusão foram: registro em que não foi possível identificar relação com a temática por meio da leitura de título e resumo, publicações secundárias, literatura cinzenta, relatos de experiências e registros repetidos nas bases de dados selecionadas. O processo de seleção dos registros está apresentado na Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma da busca dos artigos da revisão, 2021.
Fonte: Autoria própria.

RESULTADOS

A princípio, identificaram-se 155 estudos entre as bases de dados Scielo, Lilacs e Medline com o uso dos 5 descritores. A amostra constitui-se de 7 artigos que se encontram organizados no Quadro 1, enumerados de 1 a 7, após os critérios de inclusão e exclusão, aos quais foram analisados de forma detalhada com a certificação que atendiam ao tema. São focalizadas por esta revisão as seguintes variáveis: Título, autor, exclusão após leitura, objetivos e principais resultados.

Tabela 1 – Caracterização dos artigos selecionados para análise, segundo ordem, ano, título, autor, periódico e Qualis/CAPES, Brasil, 2021.

OrdemAnoTítuloAutorPeriódicoQualis CAPES
A12020  Pandemia de Covid-19 e o uso racional de equipamentos de proteção individualSOARES, S. S; SOUZA, O.D.V; SILVA, G. K; CESAR, P. M; SOUTO, S. S. J; LEITE, C. A. P. J.Revista de Enfermagem da UERJB1
A22020Prevenção relacionada à exposição ocupacional do profissional de saúde no cenário de Covid-19.  GALLASCH, H. C; CUNHA, L. M; PEREIRA, A. S. L; JUNIOR, S. S. J.Revista de Enfermagem da UERJB1
A32020Segurança dos profissionais de saúde no enfrentamento do novo corona vírus no Brasil.SANTANA, N; COSTA, A. G; COSTA, S. S. P. S.; PEREIRA, L. V; SILVA, S. J; SALES, P. M. P. I.Revista Ana NeriB1
A42020Construção e validação do checklist para paramentação e desparamentação dos equipamentos de proteção individual.BRAGA, L. M; SIMAN, G. A; SOUZA, C. C; DUTRA, S. H; GOMES, P. A; BATISTA, S. R.Revista de Enfermagem do Centro-Oeste MineiroB2
A52020Impacto da Covid-19 sob o trabalho da enfermagem brasileira: aspectos epidemiológicos.NASCIMENTO, F. V; ESPINOSA, M. M; SILVA; N. C. M; FREIRE, P. N; TRETEL, T. P. C. A.Revista Enfermagem Em FocoB2
A62021Trabalhadores da saúde e a Covid-19: condições de trabalho à deriva?VEDOVATO, G. T; ANDRADE, B. C; SANTOS, L. D; BITENCOURT, M. S; ALMEIDA, P. L; SAMPAIO, S. F. J.Revista Brasileira de Saúde Ocupacional  B2
A72021Letalidade da Covid-19 entre profissionais de saúde no Pará, Brasil.CAMPOS, V. C. A; LEITÃO, C. P. L.Journal Health NPESB5

Dentre os 07 artigos dessa produção, 05 (71,43%) foram publicados no ano de 2020, 02 (28,57%) no ano de 2021, O recorte temporal escolhido para esta revisão, foi de publicações do último ano até o momento atual, pelo fato da descoberta do novo coronavírus ter se dado ao final de 2019. Contata-se que 05 (71,43%) foram publicados em revistas cientificas na área da enfermagem e 02 (28,57%) em periódicos da área da saúde em geral..

São de Enfermagem da UERJ 02 artigos (28,57%), os demais da Revista Ana Neri, Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, Revista Enfermagem em Foco, Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, e Journal Health NPES estão com 01 publicação (14,29%) cada.

No que se refere a abordagem de pesquisa, 03 estudos (42,86%) são de cunho qualitativo, 02 (28,57%) quantitativo, os demais 01 (14,29%) misto, e 01 (14,29) epidemiológico. Quanto ao tipo de estudo, 02 (28,57%) são estudos somente descritivos, 01 (14,29%) exploratório-descritivo, 01 (14,29%) transversal-descritivo, 01 (14,29%) do tipo metodológico, 01 (14,29%) metodológico observacional e por fim 01 (14,29%) observacional.

Quanto aos resultados, os 07 artigos (100%) enfatizam a necessidade de melhores condições de trabalho para os trabalhadores da saúde, principalmente para a classe da enfermagem, bem como novas ações que visem a segurança dos mesmos, no combate a pandemia do novo corona vírus.  A crise na saúde pública brasileira devido a covid-19 trouxe à tona as vulnerabilidades dos profissionais que estão expostos ao risco de infecção e ainda precisam trabalhar com falta de materiais hospitalares, colocando em risco sua segurança e a vida dos pacientes. 

Tabela 2 – Caracterização dos artigos selecionados para análise, segundo ordem, objetivo, tipo de estudo, abordagem, principais resultados, conclusão, Brasil, 2021.

OrdemObjetivoAbordagem da PesquisaTipo de EstudoPrincipais ResultadosConclusão
A1  Descrever as recomendações sobre o uso racional e seguro dos equipamentos de proteção individual (EPI) no transcorrer da cadeia assistencial de pessoas com suspeita ou confirmação de contaminação pelo novo coronavírus.QualitativaDescritivo exploratórioDentre as pessoas com maior risco de desenvolver a infecção estão os trabalhadores de saúde, devido ao contato muito próximo a pacientes. Desse modo, a utilização de EPI é recomendação prioritária a estes trabalhadores. O uso racional é fundamental a fim de evitar que o impacto do desabastecimento seja ainda maior.O uso de EPI é indispensável aos trabalhadores de saúde durante a pandemia de Covid-19, contudo, é imprescindível coordenar a cadeia de fornecimento destes insumos, implementar estratégias que minimizem a necessidade de EPI e garantir o uso de maneira adequada.
A2Descrever as principais recomendações sobre ações de prevenção de contágio relacionadas à exposição ocupacional dos profissionais de saúde atuantes frente à COVID-19, disponíveis até março de 2020.QualitativaDescritivo  Os resultados apresentados retratam que práticas organizacionais de prevenção devem ser previstas antes da chegada do paciente ao serviço de saúde, reduzindo o fluxo de atendimento, no primeiro atendimento e durante as ações assistenciais, para minimizar a exposição ocupacional ao agente biológico.Os cuidados para prevenção de contaminação de trabalhadores nesta pandemia pelo novo coronavírus devem ser priorizados, evitando impactos negativos na assistência à população que busca atendimento nos serviços de saúde.
A3Apresentar o número de profissionais de saúde acometidos pela COVID-19 no Brasil, identificar algumas medidas de controle para redução da vulnerabilidade e as repercussões sobre a saúde desses profissionais no enfrentamento da pandemia COVID-19.QuantitativoDescritivo22 estados brasileiros informam casos da COVID-19 entre os profissionais de saúde, totalizando 181.886. Dentre todas as capitais do país, 12 trazem informações. Algumas medidas recomendadas são: controle de engenharia, segurança, administrativas, práticas de segurança no trabalho e equipamentos de proteção individual.A pandemia desvelou, de forma crua e inequívoca, o retrato das condições de trabalho desigual, segregacionista e nefasto para a saúde humana a que os profissionais de saúde estão expostos, clama por mudanças e reconhecimentos e urge para a valorização desse grupo profissional.
A4Descrever a construção e validação de um checklist, para paramentação e desparamentação dos equipamentos de proteção individual (EPI), pelos profissionais de saúde para a prevenção da autocontaminação por agentes infectocontagiosos como o SARS-CoV-2.MistoEstudo metodológicoO checklist foi organizado, em três momentos: antes da paramentação, durante a paramentação e durante a desparamentação. Contém itens sobre higienização das mãos, avaliação da integridade dos EPI, colocação e remoção dos EPI e descarte seguro dos mesmos. A versão 1 do checklist dos EPI foi validada por 20 especialistas e obteve concordância superior a 80%. Quatro enfermeiras e dois médicos infectologistas analisaram a versão 1, em um grupo focal e concordaram com a inclusão das sugestões dos especialistas, na versão final do instrumento.O estudo possibilitou a construção e validação de um checklist de itens para orientar a paramentação e desparamentação dos EPI e a inclusão de melhorias no instrumento.
A5Analisar aspectos epidemiológicos da infecção por COVID-19 nos profissionais de Enfermagem durante a emergência da pandemia no território brasileiro em 2020.Quantitativo RetrospectivoTransversal descritivoHouve 8.399 suspeitos, sendo 1.750 confirmados laboritorialmente. A maioria dos profissionais são jovens, do sexo feminino, residentes em todos os Estados, com maior concentração em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Ceará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia. A atuação profissional predominou em ambiente hospitalar e a distribuição temporal dos casos e óbitos confirmados por COVID-19 apresentou comportamento exponencial.A sensibilização das equipes de Enfermagem quanto a notificação de irregularidades e de casos é um importante recurso para que haja a intensificação de medidas fiscalizatórias e adesão efetiva das medidas preventivas preconizadas, e consequentemente haverá preservação de vidas dos profissionais de Enfermagem e comunidades sob seus cuidados.
A6Analisar as condições de trabalho dos profissionais de saúde que atuam na pandemia de COVID-19, no Brasil, com base em reportagens publicadas na internet por veículos de comunicação jornalística.QualitativaEstudo metodológico, observacionalAs reportagens evidenciaram condições de trabalho inadequadas por ausência e/ou precariedade dos EPI; continuidade do trabalho de profissionais de saúde com comorbidades; adoecimento e mortes pela COVID-19; tensão e medo de serem infectados(as) e de lidar com o adoecimento e morte de colegas; dificuldades no acesso aos testes de COVID-19 e para afastamento do trabalho para tratamento; desistências de trabalhar na atividade; necessidade de atualização rápida para o cuidado em saúde na COVID-19O cenário pandêmico deixa evidente a necessidade primordial de investimento público no cuidado daqueles(as) que estão à frente dos atendimentos à população.
A7    Analisar a letalidade da COVID-19 por sexo e idade entre os profissionais de saúde no Pará, Brasil.      Epidemiológico  Observacional  Entre os 15.332 casos confirmados de COVID-19, 70,3% eram do sexo feminino e 61,3% com idade entre 30 a 49 anos (39,2±11,6 anos). Registraram-se 97 óbitos, com uma taxa de letalidade de 0,6%. A probabilidade de óbito foi 52,8 vezes (20,7-134,5) e 4,0 vezes (2,5-6,2) maior entre jovens e homens quando comparados às demais notificações.A taxa de letalidade entre os profissionais de saúde é alta, especialmente entre homens jovens. Este é um alerta sobre os impactos da doença entre os trabalhadores da saúde e suscita ao poder público, especificamente ao setor saúde melhores condições de trabalho e políticas de saúde do trabalhador.

Fonte: Autoria própria.

DISCUSSÃO

A pandemia de COVID-19 trouxe para o cenário mundial a necessidade de pensar o trabalho de cuidado realizado na saúde, pois são os(as) médicos(as), enfermeiros(as) e técnicos(as), fisioterapeutas, psicólogos(as) e assistentes sociais que fazem esse trabalho e, portanto, estão à frente dos programas de prevenção da doença e até dos atendimentos dos casos mais graves (Vedovato).

Muitos profissionais foram convocados a prestarem cuidados a um elevado número de pacientes que chegavam nas instituições de saúde, no início da pandemia, inclusive aqueles sem experiência clínica. Além disso, naquele momento, o quantitativo de EPI era insuficiente, pois as instituições de saúde não estavam preparadas para atenderem ao aumento expressivo de pacientes em precauções de contato, gotículas ou aerossóis (BRAGA et al, 2020).

Na busca por descrever as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde com a falta de equipamentos de proteção individual e materiais hospitalares, após análise dos artigos encontraram-se várias percepções das quais foram agrupadas nas seguintes categorias: importância do uso de EPIS no combate a pandemia, morte dos profissionais da linha de frente.

A importância do uso de EPIS no combate a pandemia

Os tipos de EPI necessários para a prevenção da COVID-19 nos serviços de saúde são baseados nas atividades executadas e no risco biológico a que os profissionais estão expostos. Em geral, os EPI que devem ser disponibilizados para essa finalidade são: gorro, óculos de proteção ou protetor facial, máscara, avental impermeável de mangas compridas e luvas de procedimento. (SANTANA et al, 2020).

Na cadeia de ações para proteger os trabalhadores, a barreira ao contato de risco prolongado com pacientes infectados é um método fundamental de segurança no trabalho. Porém, no caso da COVID-19, a eficácia do EPI está relacionada ao fornecimento de equipamentos com a proteção suficiente para o SARS-CoV-2 e o treinamento adequado das equipes de trabalhadores para o uso correto e consistente (GALLASCH et al, 2020).

O que se pode observar em mais de um ano de pandemia, foi uma grande escassez desses equipamentos em diversas unidades com alta demanda de atendimento. Junto a isso é importante ressaltar a adesão dos profissionais a nova realidade, a protocolos de combate ao covid.

Cabe às instituições de saúde do nível primário a alta complexidade, o treinamento dos profissionais (especialmente, sobre técnicas de paramentação e desparamentação), a supervisão sobre uso dos EPI, a manutenção e a reposição conforme indicação do fabricante (SOARES et al, 2020).

As adversidades impostas pelo corona vírus requerem atenção para desajustes que já estavam presentes no cotidiano de trabalho, antes da pandemia. Entretanto, agora devem ser executadas de forma muito mais prudente (Santana et al, 2020).

Para além do cenário dos EPI, essas medidas têm sido insuficientes para o controle da disseminação e da exposição ao SARS-CoV-2, visto que constantemente os profissionais de saúde e sindicatos têm denunciado condições de trabalho precarizadas, jornadas de trabalho exaustivas, tensão emocional ante as próprias fragilidades pessoais, familiares e sociais (SANTANA et al, 2020).

Morte dos profissionais da linha de frente

Condições de trabalho precárias tem resultado em contaminação e adoecimento dos trabalhadores da saúde, no estudo de Vedovato et al cita-se que em alguns lugares do país o número de trabalhadores da saúde representavam a metade dos casos do município. O autor também traz a dificuldade enfrentada por essas pessoas para ter acesso por exemplo a exames, tratamento e testes rápidos, sem garantia de atendimento médico na própria unidade de saúde em que trabalham. Em vários depoimentos fica exposto o medo e o cenário de guerra vivido por essas pessoas da linha de frente.

Diante dessas vulnerabilidades, a proteção da saúde mental e física desses trabalhadores reforça o valor para garantir a continuidade dos processos de trabalho nos diversos níveis de atenção à saúde. No Brasil, conforme mencionado acima, dentre os conselhos da área da saúde, apenas o COFEN tem divulgado números de categorias da enfermagem acometidas pela doença (SANTANA et al, 2020).

Segundo dados do órgão, no Brasil somam-se 56.114 casos de covid-19 e 784 óbitos entre profissionais de enfermagem. A região norte soma 215 óbitos, sendo o Amazonas o estado com mais mortes de profissionais chegando ao número de 80 vidas perdidas, destes 68,84% são do sexo feminino e 31,16% do sexo masculino.

A atividade de cuidado é fundamental para a produção de saúde e bem-estar de toda uma sociedade. Os conhecimentos profissionais específicos e de diversos campos de atuação, conjuntamente, são capazes de proporcionar prevenção, promoção e cura em saúde. No entanto, o trabalho em saúde não está dissociado das contradições da sociedade capitalista que, em determinados setores, explora o(a) trabalhador(a), pondo em risco a sua vida (VEDOVATO et al, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O colapso da saúde pública no Brasil em decorrência da pandemia, revelou o retrato do trabalho desigual e precário em que estão expostos os profissionais de saúde no país, em especial a enfermagem, que clama por socorro e valorização.

É necessário dar esses trabalhadores a garantia ao acesso aos EPI, cuidados com a promoção e prevenção de saúde dos mesmos deveriam ser tratados com mais prioridade, bem como de materiais hospitalares para garantia do cuidado com a população.

Ademais aqueles que sobreviveram e continuam enfrentando os obstáculos da linha de frente, restaram-lhes lutar para que o tão sonhado reconhecimento da categoria seja obtido, mais explicitamente através do Projeto de Lei 2564/2020 que busca estabelecer aumento do piso salarial nacional da enfermagem e diminuição da carga horária de trabalho para 30 horas semanais.

Com tudo que vem ocorrendo durante a pandemia a sociedade tem demonstrado solidariedade e gratidão a categoria, atualmente vacinados, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem da linha de frente e de todo o país estão otimistas com a aprovação da PL. O que se espera então é não somente o apoio da opinião pública, como também de gestores e do Congresso Nacional para que a pauta seja votada o mais breve possível.

REFERÊNCIAS

SOARES SSS, SOUZA NVDO, SILVA KG, CESAR MP, SOUTO JSS, LEITE JCRAP. Covid-19 e uso racional de EPI. Revista de Enfermagem da UERJ, 2020.

GALLASCH CH, CUNHA ML, PEREIRA LAS, SILVA JS. Prevenção relacionada à exposição ocupacional:Covid-19.Revista de Enfermagem da UERJ, 2020.

VEDOVATO, G. T; ANDRADE, B. C; SANTOS, L. D; BITENCOURT, M. S; ALMEIDA, P. L; SAMPAIO, S. F. J. Trabalhadores da saúde e a Covid-19: condições de trabalho à deriva. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 2021.

SANTANA, N; COSTA, A. G; COSTA, S. S. P. S.; PEREIRA, L. V; SILVA, S. J; SALES, P. M. P. I. Segurança dos profissionais de saúde no enfrentamento do novo corona vírus no Brasil. Revista Ana Néri, 2020.

BRAGA, L. M; SIMAN, G. A; SOUZA, C. C; DUTRA, S. H; GOMES, P. A; BATISTA, S. R. Construção e validação do checklist para paramentação e desparamentação dos equipamentos de proteção individual. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, 2020.

NASCIMENTO, F. V; ESPINOSA, M. M; SILVA; N. C. M; FREIRE, P. N; TRETEL, T. P. C. A. Impacto da Covid-19 sob o trabalho da enfermagem brasileira: aspectos epidemiológicos. Revista Enfermagem Em Foco, 2020.

CAMPOS, V. C. A; LEITÃO, C. P. L. Letalidade da Covid-19 entre profissionais de saúde no Pará, Brasil. Journal Health NPES, 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde, 2021 [Acesso em 20 março de 2021]. Disponível em: O que é a Covid-19? — Português (Brasil) (www.gov.br)

COFEN. Observatório da enfermagem. [Acesso em 29 maio de 2021]. Disponível em: COFEN – Observatório da Enfermagem.


1 Nome: Aline Moreira da Silva
Titulação: Enfermeira Especialista em Urgência e Emergência e saúde pública
Email: linemoreira118@gmail.com

2 Nome: Sayron Lima Ripardo de Melo
Titulação: Enfermeiro Especialista em Urgência e Emergência e UTI
Email: sayronripardo26@gmail.com

3 Nome: Lucas Rocha dos Santos
Titulação: Enfermeiro
Email: rochalucas124548@gmail.com

4 Nome: Erika Pinheiro Monteiro
Titulação: Enfermeira
Email: Em89536@gmail.com

5 Nome: Leidiane Pimentel da Silva
Titulação: Enfermeira Especialista em Saúde Pública com Ênfase em Estratégia e Saúde da Família e Especialista em Enfermagem em Oncologia.
Email: leidianepimenttel@gmail.com

6 Nome: Sara da Silva Negreiros
Titulação: Enfermeira Especialista em Urgência e Emergência
Email: sara.negreiross@gmail.com

7 Nome: Leila do Monte Rodrigues
Titulação: Enfermeira especialista em Urgência e Emergência,  UTI Adulto, Docência em nível superior
Email: enf.leila.mrb@gmail.com

8 Nome: Rodrigues Ferreira de Souz
Titulação: Mestrando em Saúde Pública pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA
Email: rodriguessouzaferreira@gmail.com

9 Nome: Jailson da Silva Tavares
Titulação: Acadêmico de Enfermagem na Universidade Nilton Lins – UNL
Email: jailsontavares2002@gmail.com

10 Nome: Jéssica de Souza Falcão
Titulação: Acadêmica de Enfermagem na Universidade Nilton Lins
Email: jessicasouzafalcao56@gmail.com

11 Nome: Felipe Albuquerque Cesar
Titulação: Enfermeiro
Email: felipealbcesar@gmail.com

12 Nome: Samilly Malcher de Castro
Titulação: Enfermeira
Email: samillymcastro@gmail.com

13 Nome: Raiany Nascimento de Almeida
Título: Enfermeira. Mestranda em Doenças Tropicais e Infecciosas – Fundação de Medicina Tropical – FMT/HVD – Universidade do Estado do Amazonas -UEA
Email: raianyalmd@gmail.com

14 Nome: Flávia Sabrina Araújo de Castro
Título: Enfermeira
Email: Flaviacastro1407@gmail.com

15 Nome: Marcio Ribeiro Pinheiro
Título: Enfermeiro
Email: mar.pinheiro14@gmail.com