IMPACTOS DA TOXOPLASMOSE GESTACIONAL: UMA REVISÃO NARRATIVA DE LITERATURA

IMPACTS OF GESTATIONAL TOXOPLASMOSIS: A NARRATIVE LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202410312102


João Vitor da Silva Oliveira¹; Luriam Calil Chaves Fortes², Milene Ferreira da Costa Silva³, Ketrhylen das Mercês Moia4, Elen Andrade de Araújo Pessoa5; Jamila do Socorro Ferreira6 dos Santos; Rodrigo dos Santos Pessoa7; Francilene Inácio de Souza8; Patrícia Ruthila Bezerra9; Rafaela dos Santos Lemos10; Michele Oliveira Matos11; Leandro Soares Sousa 12; Luana Lima de Morais 13;  Aline Carvalho da Silva14


RESUMO 

A toxoplasmose é uma infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, com riscos se o feto for infectado, as complicações podem ser graves e incluem problemas neurológicos, como retardo mental, surdez, inflamações oculares (coriorretinite) e, em casos graves, até aborto espontâneo. A maioria das gestantes infectadas não apresenta sintomas, mas exames de sangue específicos podem detectar a infecção. Este estudo constitui uma pesquisa bibliográfica, configurada como uma revisão narrativa da literatura relacionada aos impactos da toxoplasmose gestacional.  A seleção de artigos para este estudo identificou 7.842 publicações, das quais 10 foram incluídas na revisão, os estudos analisados abrangem diversos desenhos metodológicos, proporcionando uma visão ampla e diversificada sobre a toxoplasmose gestacional, abordando desde sua prevalência até as percepções das gestantes, bem como os desafios relacionados à prevenção e controle da doença. Conclui-se, portanto, que a toxoplasmose gestacional representa uma condição infecciosa de grande relevância para a saúde pública, especialmente pelo impacto que pode ter no desenvolvimento fetal.

Palavras-Chave: “Toxoplasmose AND gravidez”, “Toxoplasmose AND gravidez AND diagnóstico”, “Toxoplasmose AND gravidez AND Infecção”, “Toxoplasmose AND gravidez AND epidemiologia”

ABSTRACT

Toxoplasmosis is an infection caused by the protozoan Toxoplasma gondii. If the fetus is infected, the complications can be serious and include neurological problems, such as mental retardation, deafness, eye inflammation (choroidoretinitis) and, in severe cases, even spontaneous abortion. Most infected pregnant women do not present symptoms, but specific blood tests can detect the infection. This study constitutes a bibliographic research, configured as a narrative review of the literature related to the impacts of gestational toxoplasmosis. The selection of articles for this study identified 7,842 publications, of which 10 were included in the review. The studies analyzed cover different methodological designs, providing a broad and diversified view of gestational toxoplasmosis, addressing everything from its prevalence to the perceptions of pregnant women, as well as the challenges related to the prevention and control of the disease. It is therefore concluded that gestational toxoplasmosis represents an infectious condition of great relevance to public health, especially due to the impact it can have on fetal development.

Keywords: “Toxoplasmosis AND pregnancy”, “Toxoplasmosis AND pregnancy AND diagnosis”, “Toxoplasmosis AND pregnancy AND infection”, “Toxoplasmosis AND pregnancy AND epidemiology”

INTRODUÇÃO 

A saúde da mulher durante o ciclo gravídico-puerperal é uma prioridade nas políticas públicas voltadas para a saúde materno-infantil. O pré-natal inclui diversas ações clínicas, psicossociais e educativas que buscam prevenir problemas e diagnosticar complicações maternas e fetais. Essas ações acompanham o desenvolvimento da gestação e visam reduzir os riscos à saúde da mãe (Costal, 2023).

Um dos principais problemas e complicações que podem surgir durante a gravidez é a toxoplasmose, uma doença causada por um protozoário intracelular chamado Toxoplasma gondii. No ciclo de vida desse parasita, animais da família Felidae, como os gatos, são seus hospedeiros definitivos, enquanto outros animais, incluindo os seres humanos, funcionam como hospedeiros intermediários (Petersen, Mandelbrot, Laurent, 2021).

As manifestações clínicas da doença podem variar desde formas assintomáticas a casos graves que acometem principalmente os imunocomprometidos e fetos. Em caso de infecção durante o período gestacional, o diagnóstico precoce e a implementação do tratamento adequado, permitem reduzir danos futuros ao concepto (Maldonado et al., 2017).

O Ministério da Saúde brasileiro recomenda a triagem pré-natal trimestral como estratégia de controle da toxoplasmose congênita. Os anticorpos IgM aparecem tão cedo quanto duas semanas após a infecção e podem persistir por anos, enquanto os anticorpos IgG atingem o pico seis a oito semanas após a infecção e depois diminuem nos próximos dois anos, mas permanecem positivos (Torquato et al.,2022). 

Vale ressaltar que mulheres infectadas antes da concepção transmitem toxoplasmose ao feto, embora existam casos especificamente relatados quando a infecção ocorre dentro de um ou dois meses antes da concepção. No entanto, quando uma infecção materna primária é revelada ou especialmente suspeita durante a gravidez, ou quando exames de ultrassom revelam achados anormais, a amniocentese para detectar infecção fetal pode ser uma ferramenta útil para a tomada de decisões. A probabilidade de infecção fetal aumenta significativamente conforme a gestação avança no momento (Guerina et al., 2020)

Além disso, o feto, o recém-nascido e o lactente jovem com infecção congênita por Toxoplasma correm risco de complicações associadas à infecção, particularmente doença retiniana que pode continuar na idade adulta. Os bebês confirmados com toxoplasmose congênita no pré-natal são tratados no pós-natal, independentemente da mãe ter recebido tratamento durante a gravidez (Karen e Johnson., 2019).

METODOLOGIA

Este estudo constitui uma pesquisa bibliográfica, configurada como uma revisão narrativa da literatura relacionada aos impactos da toxoplasmose gestacional. Conforme evidencia Cordeira et al (2007), a revisão narrativa não adere a um formato rígido de triagem e escolha dos estudos, nem realiza uma análise quantitativa dos dados, como é feito em uma meta-análise. Em vez disso, destaca a interpretação dos estudos incluídos, permitindo uma análise mais abrangente e a discussão de diferentes perspectivas e abordagens.

Primeiramente, a pesquisa foi introduzida com a escolha dos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) / MESH TERMS para maior consistência na busca ativa pelos melhores estudos científicos. Após essa ação, foram escolhidos os descritores, “toxoplasmose AND gravidez”, “toxoplasmose AND gravidez AND diagnóstico”, “toxoplasmose AND gravidez AND Infecção”, “toxoplasmose AND gravidez AND epidemiologia”. Após a escolha dos descritores foram definidas as bases de dados para busca da literatura, para isso foram utilizadas as plataformas de busca Eletronic Library Online (SciELO), Google Acadêmico e Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde (BVS).

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

• Estudos que abordem toxoplasmose gestacional;

• Artigos publicados entre 2024 e 2019 e sua relevância 

• Disponíveis em português.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO 

• Estudos que não abordem diretamente a Toxoplasmose;

• Monografias, capítulos de livros;

• Estudos que abordem a toxoplasmose congênita

RESULTADOS

A seleção de artigos para este estudo identificou 7.842 publicações, das quais 10 foram incluídas na revisão. Para alcançar esse resultado, utilizou-se o operador booleano “AND” nas bases de dados LILACS, MEDLINE, SciELO, BDENF e Google Acadêmico, com o uso dos descritores “Toxoplasmose”, “Gravidez”, “Diagnóstico”, “Epidemiologia” e “Infectologia”.

Os estudos analisados abrangem diversos desenhos metodológicos, proporcionando uma visão ampla e diversificada sobre a toxoplasmose gestacional, abordando desde sua prevalência até as percepções das gestantes, bem como os desafios relacionados à prevenção e controle da doença. Essa abordagem metodológica reforça a amplitude da análise, integrando diferentes perspectivas e contribuindo para um entendimento mais completo do tema. Dessa maneira, a seleção dos artigos incluídos na presente revisão está descrita na Figura 1.

AnoAutores e RevistaTítuloTipo de EstudoObjetivoBase de dados
2024Bressan, A. L. P., et al./ Rev. Contemporânea.Aspectos clínicos e epidemiológicos da toxoplasmose gestacional no mato grosso durante o período de 2019 a 2023Estudo com desenho transversal retrospectivo descritivo.Analisar e comparar o perfil epidemiológico da toxoplasmose gestacional no estado de Mato Grosso entre os anos de 2019 e 2023.Google Acadêmico
2024LACERDA, A. A. R et al./Rev. Brazilian Journal of Health Review.Levantamento de dados sobre a toxoplasmose gestacional no estado de Minas Gerais entre os anos de 2019 e 2023Estudo é de caráter descritivo e abordagem quantitativa.Coletar dados a respeito da notificação de Toxoplasmose Gestacional no estado de Minas Gerais nos últimos 5 anos, correlacionando com a importância da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento.Google Acadêmico 
2024Nascimento, T. P. S., et al./Rev. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences.Os impactos da desinformação sobre a toxoplasmose na gravidez: formas de transmissão, prevenção e tratamentoEstudo de caráter revisão integrativa da literaturaEste estudo visa explorar os efeitos da desinformação sobre a toxoplasmose na gravidez, destacando suas formas de transmissão, estratégias de prevenção e opções de tratamentoGoogle Acadêmico
2024Hugo Júlio da Rosa, V., et al./ Rev. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences.Perfil epidemiológico da toxoplasmose gestacional no estado do AmazonasEstudo descritivo, quantitativo e retrospectivo.Traçar o perfil epidemiológico detalhado dos casos de toxoplasmose gestacional no estado do Amazonas, no período de 2019 a 2022, com intuito de identificar flutuações na prevalência e populações mais vulneráveis para a prevenção e controle desta enfermidade.Google Acadêmico
2024da Silva, Viviane Yumi Nakahara, et al./Rev. Cuidarte.Percepções    e    sentimentos    de    gestantes    com    toxoplasmose em acompanhamento ambulatorialEstudo exploratório qualitativo.Compreender as percepções e os sentimentos de gestantes acometidas pela toxoplasmose em acompanhamento ambulatorial.BDENF
2023Campoamor MM, et al./ Rev. baiana enferm.Fatores associados à toxoplasmose na gestação
Investigação epidemiológica analítica e transversal.Estimar a soroprevalência da Toxoplasmose em gestantes do município de Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, e analisar os fatores socioambientais associados com os casos confirmados de Toxoplasmose na gestação.LILACS
2023Oliveira O. P. de,et al./ Rev. Eletrônica Acervo Saúde.Análise epidemiológica da toxoplasmose em gestantes na região do Xingu no período de 2016 a 2022Estudo é do tipo ecológico, descritivo, retrospectivo e analítico.Descrever a prevalência da toxoplasmose nas gestantes atendidas na rede pública de saúde dos municípios da região do Xingu.Google Acadêmico
2021ROZIN, Leandro Leandro et al./Rev.Thêma et Scientia.Prevenção da toxoplasmose gestacional: uma revisão integrativa da literaturaTrata-se de uma revisão integrativa da literatura.Objetivou-se descrever os conhecimentos atuais sobre a toxoplasmose e o diagnóstico durante a gestação.Google Acadêmico
2020Sampaio, G. L., et al./ Rev. epidemiol. controle infecç.Toxoplasmose congênita na atenção primária à saúde: importância da prevenção no controle de uma doença negligenciadaPesquisa de caráter observacional, descritiva e transversalRealizar um levantamento sobre o conhecimento de gestantes atendidas nas unidades básicas de saúde (UBS) do município de Jataí/GO sobre toxoplasmose.LILACS
2020Olivera, E.S, et al./ Rev.Nursing.Conhecimento dos profissionais de saúde e acadêmicos de medicina e enfermagem sobre toxoplasmoseEstudo de revisão integrativa da literaturaIdentificar o conhecimento dos profissionais de saúde e acadêmicos de enfermagem e medicina sobre toxoplasmose.LILACS

A maioria dos artigos selecionou metodologias descritivas com abordagem quantitativa, focando principalmente em relatar características epidemiológicas e perfis de pacientes com toxoplasmose gestacional. Três estudos utilizaram a revisão integrativa como método principal, sintetizando e analisando os achados de diversas publicações sobre o tema. Dois artigos aplicaram metodologias epidemiológicas analíticas e transversais, investigando a relação entre fatores de risco e a ocorrência da toxoplasmose gestacional.

Um dos estudos empregou um método ecológico, descritivo, retrospectivo e analítico, analisando dados de diferentes fontes para entender a relação entre condições ambientais e a prevalência da toxoplasmose. Por fim, um artigo adotou uma abordagem exploratória qualitativa, focando nas percepções e sentimentos das gestantes que estavam em acompanhamento ambulatorial devido à toxoplasmose.

No que diz respeito ao ano de publicação, cinco artigos foram publicados em 2024, dois em 2023, um em 2021 e dois em 2020. Em relação aos periódicos, o Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences (BJIHS) foi o que mais publicou, com dois artigos. As demais revistas contribuíram com uma publicação cada, sendo elas: Revista Contemporânea, Brazilian Journal of Health Review, Revista Cuidarte, Revista Baiana de Enfermagem, Revista Acervo Saúde, Thêama et Scientia, Revista de Epidemiologia e Controle de Infecções, e Revista Nursing.

DISCUSSÃO

A toxoplasmose gestacional é uma infecção que continua sendo uma preocupação relevante para a saúde pública, especialmente devido às possíveis complicações graves para o feto, como hidrocefalia, coriorretinite e calcificações intracranianas. A compreensão dessa doença e suas formas de prevenção varia conforme os contextos epidemiológicos e as políticas de saúde de cada região. Na literatura, nota-se uma lacuna no conhecimento entre gestantes e alguns profissionais de saúde, o que compromete a prevenção e o manejo clínico adequados da doença.

Estudos revisados neste relato sugerem que o nível de conscientização entre as gestantes é insuficiente, particularmente em áreas rurais e em regiões com menos acesso a informações de saúde. Pesquisas, como a de Sampaio et al. (2020), destacam a importância da educação em saúde nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde muitas gestantes são acompanhadas durante o pré-natal. As UBS têm um papel crucial na disseminação de informações corretas sobre a toxoplasmose, uma vez que grande parte das gestantes desconhece métodos de prevenção, como evitar o contato com fezes de gatos e o consumo de alimentos mal cozidos.

Por exemplo, este estudo de Sampaio et al., realizado com gestantes, mostrou lacunas significativas no conhecimento sobre a toxoplasmose. Cerca de 33% das participantes nunca tinham ouvido falar da doença, e 53% não sabiam que ela poderia ser transmitida da mãe para o bebê. Além disso, 86% não selecionaram corretamente todos os itens relacionados à prevenção, indicando uma carência de informações sobre as formas de transmissão. Entre aquelas que responderam, 44% admitiram desconhecer o tema por completo. Em relação ao atendimento de saúde, 36% das gestantes não realizaram o teste para toxoplasmose, e 77% relataram não ter recebido qualquer orientação sobre a doença nas consultas pré-natais, reforçando a importância de uma educação em saúde consistente.

Essa desorientação da gestante pesa em seu consciente. Os relatos das gestantes no estudo de da Silva et al. (2024) destacam a experiência de mulheres grávidas diagnosticadas com toxoplasmose, pondo em evidência os sentimentos de medo e incerteza em relação à doença e suas repercussões nos filhos. Com isso, o estudo sugere que a falta de orientação adequada durante o pré-natal torna-se uma barreira psicológica significativa, acentuada pela ausência de grupos de apoio nas unidades de saúde.

Outrossim, estudos epidemiológicos recentes, como o de Bressan et al. (2024), Lacerda et al. (2024) e da Roza et al. (2021), revelam que a prevalência de toxoplasmose gestacional flutua conforme fatores ambientais, socioeconômicos e comportamentais, e também aponta um aumento no número de notificações em algumas regiões. Bressan et al., por sua vez, observaram que o número de notificações em Mato Grosso do Sul aumentou consideravelmente a partir de 2020, com o pico em 2022, período coincidente com a pandemia de COVID-19, que impactou a atenção a outras doenças. 

Neste período, foram registrados 1.186 casos de toxoplasmose gestacional, sendo a maioria em mulheres pardas (58,43%) e em gestantes de 20 a 39 anos (75,54%), com prevalência em gestantes com ensino médio completo (32,54%) e com diagnóstico no segundo e terceiro trimestres da gravidez. Esses achados reforçam a necessidade de campanhas de conscientização direcionadas a grupos vulneráveis e a implementação de políticas públicas para a prevenção da toxoplasmose durante a gravidez.

De forma semelhante, Lacerda et al., em Minas Gerais, identificaram 1.371 casos registrados de toxoplasmose gestacional no SINAN em 2023, totalizando 5.974 casos nos últimos cinco anos, reforçando os fatores ambientais e socioeconômicos como influências significativas na transmissão. 

A pesquisa de Campoamor et al., (2023), identificou uma soroprevalência de 34,5% para toxoplasmose em gestantes em Ribeirão Preto, destacando fatores associados como idade mais avançada, baixa escolaridade e contato direto com a terra. A maioria das gestantes analisadas (65,5%) não apresentava anticorpos, indicando baixa exposição ao Toxoplasma gondii, onde concluiu-se que as boas condições de saneamento e acesso à água potável do município, abastecido pelo Aquífero Guarani e com alta cobertura de saneamento básico eram os determinantes da baixa incidência.

Em áreas mais vulneráveis, como discutido no estudo de Hugo Júlio da Rosa et al. (2024) no Amazonas, condições de vida precárias e a ausência de saneamento básico estão associados a taxas mais altas de infecção. Entre 2019 e 2022, 78% dos casos ocorreram nos anos de 2020 a 2022, sendo o maior número registrado em 2022, o que pode refletir tanto uma melhora na notificação quanto uma maior exposição das gestantes ao Toxoplasma gondii.

Esses dados reforçam a importância de uma vigilância epidemiológica eficiente e de campanhas de conscientização direcionadas para gestantes, que são mais vulneráveis às complicações da toxoplasmose, com o objetivo de prevenir infecções e suas consequências na saúde materno-fetal. A análise de Oliveira et al. (2023) sobre a incidência de toxoplasmose nos nove municípios da região de saúde do Xingu, entre 2016 e 2022, revelou que, dos municípios estudados, oito notificaram casos, com exceção de Brasil Novo, que não registrou casos. No período estudado, foram registrados 78 casos, resultando em uma incidência de 1,91 casos a cada 1.000 nascidos vivos.

Ainda, o estudo de da Rosa et al. enfatizou que a prevalência foi maior entre gestantes pardas (83%) e entre aquelas com ensino médio completo (36,8%), mostrando a vulnerabilidade associada a fatores sociodemográficos. A faixa etária de 20 a 39 anos foi a mais afetada (73%), coincidindo com o período de maior exposição a fatores de risco, como início precoce da atividade sexual sem proteção. A maioria dos diagnósticos ocorreu no segundo trimestre (44%), seguido pelo terceiro trimestre (42%), quando o risco de transmissão ao feto é maior.

Esses dados reforçam a conclusão de Nascimento et al. (2024), que destaca como a desinformação sobre toxoplasmose aumenta o risco de infecção, apontando a necessidade de campanhas educativas voltadas para a população. Além disso, alguns profissionais de saúde e estudantes de medicina e enfermagem também demonstram conhecimento limitado sobre a doença, conforme descrito por Oliveira et al. (2020). 

Esse déficit de conhecimento entre profissionais experientes pode levar a falhas de orientação e comprometimento na prevenção da toxoplasmose, principalmente entre as gestantes. Embora reconheçam o gato como hospedeiro do parasita, muitos profissionais desconhecem outras formas de transmissão, como alimentos crus, água contaminada e jardinagem, comprometendo a segurança das orientações passadas às gestantes.

O artigo de Oliveira et al. reforça a necessidade urgente de capacitação contínua para profissionais de saúde e estudantes, com foco no pré-natal, a fim de garantir práticas eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento da toxoplasmose gestacional. Continuamente, Rozin et al. (2021) corroboram a necessidade de capacitação consistente dos profissionais e de conscientização das gestantes como essenciais para o controle da toxoplasmose.

Rozin et al. (2021) destacam que, apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento da toxoplasmose gestacional, ainda existem desafios na implementação dessas práticas, especialmente em áreas de recursos limitados. A capacitação contínua dos profissionais e a educação das gestantes são fundamentais para reduzir a transmissão vertical e os riscos de infecção congênita.

No contexto das Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde ocorre a maioria dos atendimentos pré-natais, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) assume um papel essencial. Como porta de entrada do sistema de saúde, as UBS e as equipes de ESF têm a oportunidade de fornecer orientações de prevenção e monitoramento da toxoplasmose, abordando especificamente as populações de maior risco. Campanhas educativas bem estruturadas, realizadas tanto em espaços urbanos quanto rurais, podem contribuir significativamente para aumentar o conhecimento e a adesão a práticas preventivas por parte das gestantes.

As recomendações de Rozin et al. enfatizam a importância de uma abordagem de saúde pública integrada, incluindo a divulgação de informações claras sobre hábitos que reduzem a exposição ao Toxoplasma gondii, como evitar o consumo de carnes mal cozidas, lavar adequadamente frutas e verduras, e cuidados com a manipulação de dejetos de gatos. Essas medidas preventivas são essenciais, especialmente em regiões onde o saneamento básico é insuficiente e onde há maior contato com o solo e animais domésticos.

CONCLUSÃO

Em resumo, a literatura sugere que, embora o Brasil tenha políticas públicas de saúde voltadas para a prevenção da toxoplasmose, ainda há um longo caminho a percorrer na capacitação dos profissionais de saúde e na disseminação de informações adequadas às gestantes. A ampliação das estratégias educativas, especialmente em regiões de maior vulnerabilidade socioeconômica, é essencial para reduzir os impactos negativos da toxoplasmose gestacional no país.

Conclui-se, portanto, que a toxoplasmose gestacional representa uma condição infecciosa de grande relevância para a saúde pública, especialmente pelo impacto que pode ter no desenvolvimento fetal. A revisão dos estudos analisados evidencia que, apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, a prevenção ainda é o método mais eficaz para reduzir a incidência e as complicações da toxoplasmose congênita. Programas de educação em saúde voltados para gestantes, focados em cuidados com a higiene alimentar e contato com animais, principalmente felinos, são fundamentais. 

Além disso, a introdução de triagens sorológicas em pré-natal permite a detecção precoce, possibilitando intervenções terapêuticas que minimizem os riscos para o feto. A continuidade de pesquisas nessa área é essencial para aprimorar as estratégias de prevenção e tratamento, visando reduzir o impacto desta infecção na saúde materna e neonatal.

REFERÊNCIAS

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GUERINA, Nicholas G.; MARQUEZ, Lucila. Toxoplasmose congênita: características clínicas e diagnóstico. UpToDate. Junho, 2020.

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MALDONADO, Yvonne A. et al. Diagnosis, treatment, and prevention of congenital toxoplasmosis in the United States. Pediatrics, v. 139, n. 2, 2017.

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ROZIN, Leandro Leandro et al. Prevenção da toxoplasmose gestacional: uma revisão integrativa da literatura. Revista Thêma et Scientia, v. 11, n. 1, p. 63-75, 2021.

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1Graduando de enfermagem pela Universidade do Estado do Pará (UEPA)

2Graduando de enfermagem pela Universidade do Estado do Pará (UEPA)

3Graduanda de enfermagem pela Universidade do Estado do Pará (UEPA)

4Graduanda de enfermagem pela Universidade do Estado do Pará (UEPA)

5Graduanda de enfermagem da faculdade UNITPAC/AFYA

6Graduanda de enfermagem pela Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG)

7Pós-graduando em Neurociências e Biologia Celular pela Universidade Federal do Estado do Pará (UFPA). 

8Enfermeira, graduada pela Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG)

9Enfermeira, graduada pela Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG)

10Enfermeira, graduada pela Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG)

11Graduanda de enfermagem pela Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG)

12Enfermeiro, graduada pela Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG)

13Enfermeira, graduada pela Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG)

14Enfermeira, graduada pela Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG)