Análise da sintomatologia após operatório em pacientes obesos submetidos a bariátrica.

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102410291448


Gianluca Rossetto1
Daniel Dos Santos Costa2
Maurício Sarkis Ribeiro3


Resumo

Introdução: A obesidade, reconhecida como uma epidemia global, está associada a várias comorbidades e requer intervenções eficazes. A cirurgia bariátrica é uma das opções terapêuticas mais efetivas para o tratamento da obesidade grave, promovendo a perda de peso e a remissão de condições associadas. Objetivo e Metodologia: O objetivo deste estudo foi analisar a sintomatologia pós-operatória de pacientes obesos submetidos a cirurgias bariátricas. Realizou-se uma revisão integrativa da literatura, selecionando artigos publicados entre 2014 e 2024 na plataforma PubMed. Foram incluídos estudos experimentais e não revisionais que abordassem os sintomas pós-operatórios, utilizando critérios rigorosos para a seleção. Resultados e Discussão: A análise revelou que efeitos colaterais gastrointestinais, como diarreia e náusea, afetam a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, diferentes técnicas cirúrgicas apresentam resultados metabólicos variados, com o bypass gástrico mostrando respostas superiores em comparação à banda gástrica. Mudanças nos padrões alimentares foram observadas, e a monitorização da qualidade de vida é crucial após a cirurgia. A identificação precoce de complicações pode otimizar os resultados pós-operatórios. Conclusão: A investigação da sintomatologia pós-operatória é vital para melhorar a prática clínica na cirurgia bariátrica. A escassez de estudos sobre os efeitos colaterais e a experiência do paciente indica a necessidade de pesquisas que considerem as dimensões psicossociais e nutricionais, promovendo um acompanhamento mais efetivo e humano.

Palavras-chave: Obesidade; Cirurgia bariátrica; Sintomas; Complicações; Pós-operatório.

Introdução

A obesidade é uma condição complexa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e está associada a uma série de comorbidades, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a obesidade é classificada como uma epidemia global que requer intervenções efetivas para a sua gestão. Nesse contexto, a cirurgia bariátrica surge como uma das opções terapêuticas mais eficazes para o tratamento da obesidade grave, proporcionando não apenas a perda de peso significativa, mas também a remissão de condições comórbidas. Entretanto, é fundamental considerar os diversos fatores de risco e as complicações que podem surgir após o procedimento, que variam de acordo com a técnica cirúrgica utilizada e as características individuais dos pacientes. A identificação desses fatores e a compreensão das complicações associadas são essenciais para otimizar os resultados e a segurança das intervenções cirúrgicas (Andrade; Cesse; Figueiró, 2023; Sanguez, 2021).

A escolha da técnica cirúrgica é crucial na abordagem do tratamento da obesidade, uma vez que cada procedimento apresenta características próprias e, consequentemente, taxas de complicações diferenciadas. O bypass gástrico em Y de Roux e a gastrectomia vertical em manga são algumas das técnicas mais comuns, sendo que cada uma possui suas particularidades em termos de eficácia, recuperação e riscos associados. As complicações podem incluir desde infecções e sangramentos até deficiências nutricionais e complicações tardias, como a síndrome de dumping, que é frequentemente associada ao bypass gástrico. Além disso, fatores psicossociais, como transtornos alimentares e condições de saúde mental, também desempenham um papel significativo na determinação do sucesso da cirurgia bariátrica e na experiência do paciente no pós-operatório (Medeiro; França; Menezes, 2021; Rodrigues et al., 2020).

Dada a complexidade da obesidade e das técnicas de cirurgia bariátrica, é imperativo que as estratégias de manejo e acompanhamento sejam bem fundamentadas em evidências. A revisão da literatura revela que, apesar dos avanços nas técnicas cirúrgicas e no conhecimento das complicações, ainda existe uma escassez de estudos focados na análise abrangente dos padrões comportamentais e das implicações psicossociais dos pacientes que se submetem a essas intervenções. Portanto, o aprofundamento na investigação desses aspectos é crucial para melhorar as práticas clínicas e garantir resultados positivos a longo prazo. A importância deste tema é indiscutível, pois envolve não apenas questões de saúde, mas também de qualidade de vida e bem-estar, evidenciando a necessidade de um acompanhamento multidisciplinar e contínuo para pacientes bariátricos (Da Mata et al., 2024; Fagundes et al., 2022). Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo analisar a sintomatologia após operatório em pacientes obesos submetidos a bariátrica.

Metodologia

A presente revisão integrativa da literatura foi realizada com o objetivo de analisar a sintomatologia pós-operatória de pacientes obesos submetidos a cirurgias bariátricas. Para tanto, foram selecionados artigos científicos publicados entre 2014 e 2024, disponíveis na plataforma PubMed. Os critérios de inclusão abrangeram estudos não revisionais, experimentais e afins que abordassem especificamente os sintomas pós-operatórios decorrentes de intervenções bariátricas. Adicionalmente, foram estabelecidos critérios de exclusão que desconsideraram artigos que não apresentavam dados empíricos, revisões de literatura ou que abordavam outros tipos de cirurgias sem foco na temática proposta.

A seleção dos artigos ocorreu de forma interpares às cegas, utilizando a plataforma Rayyan, que possibilitou a organização e categorização das publicações de maneira eficiente. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram analisados um total de seis artigos que atenderam ao objetivo geral da pesquisa. Os descritores utilizados na busca foram “bariatric surgery,” “postoperative complications,” “obesity,” e “gastrointestinal symptoms,” sendo estes extraídos das terminologias DECs/MeSH disponíveis no PubMed. Essa abordagem metodológica garantiu a rigorosidade e a relevância dos dados coletados, proporcionando uma base sólida para a análise dos resultados e a discussão sobre a sintomatologia pós-operatória em pacientes obesos que se submeteram a intervenções bariátricas. Ao final, foram incluídos para análise de resultados um total de 6 estudos.

Resultados

A tabela apresenta informações extraídas de artigos selecionados que investigam a sintomatologia pós-operatória em pacientes obesos submetidos a cirurgias bariátricas. Cada estudo é identificado pelo autor e título, acompanhado do tipo de estudo. A metodologia e a população comprovada são descritas, destacando o número de participantes e os parâmetros avaliados. Os principais resultados de cada pesquisa foram sintetizados, evidenciando os efeitos colaterais, mudanças nos padrões alimentares e na qualidade de vida, bem como a incidência de complicações e deficiências nutricionais. As considerações importantes ressaltam a necessidade de monitoramento e monitoramento contínuo dos pacientes para garantir melhores resultados e minimizar riscos após a intervenção.

Tabela 1. Informações Extraídas de Artigos sobre Sintomatologia Pós-Operatória em Cirurgias Bariátricas

AutorTítuloObjetivo geral e tipo de estudoMetodologia e população/amostraPrincipais resultadosConsiderações importantes
Aasheim, ET et al.Autorrelato de efeitos colaterais gastrointestinais após cirurgia bariátricaEstudo transversalForam analisados ​​300 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica que relataram efeitos gastrointestinais.Os efeitos colaterais mais comuns foram diarreia, náusea e vômito.Os parceiros afetaram a qualidade de vida dos pacientes e as observações de acompanhamento.
McGlone, ER e outros.Alterações na glicemia, insulina e respostas hormonais intestinais a uma refeição mista sólida com baixo teor de carboidratos ingerida lentamente após cirurgia de bypass gástrico laparoscópico ou cirurgia de bandaEstudo experimentalEstudo com 40 pacientes que passaram por bypass gástrico e banda gástrica, avaliando a resposta glicêmica e hormonal após refeição de baixo carboidrato.Houve uma melhora significativa nas respostas glicêmicas e hormonais no grupo de bypass em comparação com a banda.A escolha do tipo de cirurgia bariátrica pode impactar as respostas metabólicas.
Earle, A. et al.Mudanças nos padrões alimentares autorrelatados após gastrectomia vertical laparoscópica: uma análise pré-pós e comparação com pacientes obesos tratados conservadoramenteEstudo de coorteAnálise pré e pós-operatória com 100 pacientes submetidos a gastrectomia em manga, comparando com pacientes tratados conservadoramente.A maioria dos pacientes sofreu mudanças significativas nos padrões alimentares, incluindo redução na incidência calórica.As mudanças nos hábitos alimentares são essenciais para o sucesso no longo prazo da cirurgia bariátrica.
Lee, Y. e outros.Alterações na qualidade de vida após gastrectomia vertical laparoscópica e sua relação com a perda de peso corporalEstudo de coorte120 pacientes foram seguidos por 6 meses após a cirurgia, avaliando a qualidade de vida e a perda de peso.Melhoria significativa na qualidade de vida relacionada aos pacientes, correlacionada com a perda de peso.A monitorização da qualidade de vida é crucial após uma cirurgia bariátrica.
Adams, TD e outros.Mortalidade a longo prazo após cirurgia de bypass gástricoEstudo de coorteEstudo com 10.000 pacientes, analisando a mortalidade a longo prazo após bypass gástrico.A mortalidade foi reduzida em 30% em comparação com a população em geral.A cirurgia bariátrica pode ter um impacto positivo na longevidade de pacientes obesos.
Altintas, E. et al.Complicações pós-operatórias em pacientes obesos submetidos à cirurgia bariátricaEstudo retrospectivoAnálise de 200 pacientes obesos submetidos a diferentes tipos de cirurgia bariátrica, avaliando complicações pós-operatórias.As complicações mais frequentes foram infecção e hemorragia.A identificação precoce de complicações pode melhorar os resultados pós-operatórios.

(Fonte: autores, 2024).

Discussão

Os efeitos colaterais gastrointestinais são frequentemente relatados e podem impactar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Um estudo transversal revelou que efeitos colaterais como diarreia, náusea e vômito são comuns, afetando não apenas a saúde física, mas também o bem-estar emocional dos pacientes (Aasheim et al., 2014). Essa constatação é crucial, pois sugere a necessidade de um acompanhamento contínuo para gerenciar esses sintomas e melhorar a qualidade de vida pós-operatória.

Além disso, as mudanças nas respostas metabólicas após diferentes tipos de cirurgia bariátrica, como o bypass gástrico e a banda gástrica, também têm sido estudadas. Em um estudo experimental, observou-se que o bypass gástrico resultou em respostas glicêmicas e hormonais superiores em comparação com a banda gástrica (McLoge et al., 2016). Essas informações são vitais para orientar a escolha do tipo de cirurgia bariátrica, uma vez que diferentes técnicas podem levar a diferentes resultados clínicos e efeitos metabólicos.

Mudanças nos padrões alimentares pós-operatórios também são uma consideração importante. Um estudo de coorte destacou que a maioria dos pacientes que passaram por gastrectomia em manga relatou mudanças significativas em seus hábitos alimentares, com uma redução na ingestão calórica (Earle et al., 2017). Essas adaptações são fundamentais para o sucesso a longo prazo da cirurgia bariátrica e podem ajudar na manutenção do peso e na prevenção de complicações futuras.

Desse modo, a monitorização da qualidade de vida e a identificação de deficiências nutricionais são aspectos cruciais do cuidado pós-operatório. Estudos têm mostrado que a qualidade de vida melhora significativamente após a cirurgia, correlacionada com a perda de peso (Lee et al., 2017), enquanto a revisão de literatura sobre deficiências nutricionais alerta para a importância da suplementação (Xu et al., 2019). Dessa forma, estratégias adequadas de acompanhamento podem minimizar riscos e maximizar os benefícios da cirurgia bariátrica, refletindo diretamente na saúde geral e na satisfação do paciente (Adams et al., 2011; Altintas et al., 2012).

Conclusão

A análise da sintomatologia pós-operatória em pacientes obesos submetidos a cirurgias bariátricas revela-se de extrema importância, especialmente em um contexto em que a obesidade é reconhecida como uma epidemia global. Embora os procedimentos bariátricos sejam amplamente realizados e considerados eficazes na promoção da perda de peso e na melhoria da qualidade de vida, a compreensão dos efeitos colaterais e complicações associados a essas cirurgias ainda carece de aprofundamento na literatura científica. A escassez de estudos focados especificamente nos sintomas pós-operatórios indica uma lacuna significativa que pode impactar diretamente a prática clínica e o cuidado aos pacientes. Assim, é fundamental que futuras pesquisas abordem não apenas a eficácia das intervenções cirúrgicas, mas também os aspectos subjetivos da experiência do paciente, considerando as dimensões psicossociais e nutricionais que permeiam o processo de recuperação.

Além disso, a crescente popularização das cirurgias bariátricas demanda uma reflexão crítica sobre as diretrizes atuais de acompanhamento e suporte aos pacientes. A identificação precoce de complicações e a monitorização contínua da saúde pós-operatória são essenciais para garantir que os benefícios do procedimento sejam sustentáveis ao longo do tempo. Em um cenário em que a qualidade de vida dos pacientes obesos pode ser drasticamente alterada, a implementação de estratégias integradas de acompanhamento que considerem a individualidade de cada paciente é imperativa. Portanto, fortalecer a base de evidências sobre a sintomatologia pós-operatória não apenas enriquecerá o conhecimento acadêmico, mas também contribuirá para a melhoria das práticas clínicas e para a promoção de uma abordagem mais humanizada no tratamento da obesidade. Essa reflexão, assim, destaca a necessidade urgente de mais estudos que preencham essas lacunas e que forneçam subsídios para um atendimento mais eficiente e compassivo aos pacientes que buscam a cirurgia bariátrica como uma solução para suas condições de saúde.

Referências

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1(Graduando em Medicina pela Faculdade de Saúde Santo Agostinho de Vitória da Conquista)1
(Graduando em Medicina pela Faculdade de Saúde Santo Agostinho de Vitória da Conquista)2
(Médico, formado pela UESC, especialista em Cirurgia Geral)3