USE OF ORAL CONTRACEPTIVES AND RISKS OF THROMBOSIS IN FERTILE WOMEN
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202410290030
Maria Samara Duarte Bezerra
Ocilma Barros de Quental
Macerlane De Lira Silva
Yuri Charllub Pereira Bezerra
Resumo
Os anticoncepcionais são amplamente utilizados por mulheres como método contraceptivo, e quando utilizados corretamente, apresentam uma eficácia de aproximadamente 99,7%. No entanto, esses medicamentos podem provocar diversos efeitos colaterais, como náuseas, dores de cabeça e, em casos mais graves, problemas cardíacos. O objetivo deste artigo foi examinar a relação entre o uso de contraceptivos orais e o desenvolvimento de trombose venosa. Trata-se de uma revisão integrativa, na qual os artigos analisados foram selecionados conforme critérios específicos de inclusão e exclusão. A pesquisa abrangeu estudos publicados entre 2019 e 2024, com dados extraídos das plataformas BVS, Scielo e Pubmed. No total, foram incluídos 10 artigos que compuseram a revisão. Os resultados apontam uma clara associação entre o uso de contraceptivos orais e o risco de trombose venosa. Especificamente, observou-se que o risco varia conforme a dose de estrogênio e o tipo de progestogênio presente na formulação do anticoncepcional. Essas substâncias podem alterar propriedades do sangue, como a coagulação e a viscosidade, aumentando a probabilidade de formação de coágulos nas veias, conhecidos como trombos venosos. A pesquisa conclui que o uso de anticoncepcionais pode, de fato, estar relacionado ao surgimento de trombose venosa em algumas mulheres, especialmente devido às alterações que o estrogênio e o progestogênio promovem na coagulação sanguínea. Contudo, é importante ressaltar que cada organismo responde de maneira diferente a esses medicamentos, o que reforça a necessidade de acompanhamento médico contínuo para garantir a saúde e o bem-estar das usuárias.
Palavras-chave: Trombose venosa. Anticoncepcionais orais. Impactos.
1. INTRODUÇÃO
O uso dos contraceptivos orais constitui um tema de grande relevância e discussão na atualidade, especialmente devido à sua ampla utilização por mulheres em diferentes faixas etárias e contextos socioeconômicos, refletindo não apenas questões de saúde reprodutiva, mas também aspectos relacionados à autonomia feminina, acesso à saúde e qualidade de vida, assim como gestações não planejadas (Winter et al., 2023).
Mesmo com efetivas vantagens, foram observados alguns casos de contraindicações, isto é, fatores de risco, levando em consideração especialmente os grupos alvos, como aqueles que possuem histórico familiar de doenças cardiovasculares associadas principalmente a trombose venosa e arterial profunda (Correia et al.; 2021).
Silva e Toledo (2019) apontam que a trombose é uma doença que provoca o desenvolvimento e formação de um ou vários coágulos que bloqueiam total ou parcialmente o fluxo sanguíneo dentro de uma veia, como também artéria, causando sintomas os quais por sua vez, podem ocasionar dor e inchaço na área afetada, perda de força corporal ou dificuldades respiratórias severas.
No entanto, pode-se dizer que as situações recorrentes de tais acontecimentos não sucedem somente pelo uso continuo dos contraceptivos orais combinados (ACOC) ou com hormônios de forma isolada, mas também pelo fato das usuárias dos mesmos utilizarem o anticoncepcional de uma maneira extensa, duradoura e incorreta, muitas das vezes sem indicações vindas de um profissional da saúde, prolongando e aumentando as chances de adquirir algumas das complicações mencionadas anteriormente, evoluindo para situações de graves riscos (Silva; Toledo, 2019).
Entre os fatores que podem contribuir para o desenvolvimento do tema abordado, destacam-se a idade avançada e alguns hábitos que provocam riscos frequentes na vida da população feminina, como o tabagismo, sobrepeso e obesidade, ocasionalmente os pacientes que já foram expostos a traumas e mobilização longa dos membros. A trombose pode ocorrer em finais de gestação, puerpério, como citado acima anteriormente, a predisposição genética acaba sendo um motivo de alerta para as mulheres que fazem a ingestão frequente do anticoncepcional (Brandt, 2018).
É de suma relevância evidenciar a assistência voltada para mulher na porta de entrada da saúde, ou seja, na atenção primária, a qual se encontra o sistema de planejamento familiar, todavia, todos os setores hierárquicos devem mobilizar-se com a temática, para reduzir este efeito colateral dos contraceptivos hormonais orais (Flick; Oliveira, 2023).
Nesse contexto, surge a seguinte questão norteadora: Diante dos efeitos adversos do uso de contraceptivos orais pode-se citar a trombose como sendo um fator diretamente relacionado ao uso do medicamento mencionado?
O trabalho aqui apresentado justifica-se pelo elevado número de prevalência da trombose venosa e arterial profunda que vem crescendo de forma considerável. Mulheres que utilizam contraceptivos orais combinados (COCs) que contém progestênio de terceira geração têm um risco 4 a 6 vezes maior de propiciar a trombose, em um curto período, em média de um ano, implementando o uso do anticoncepcional a sua rotina quando se comparado a mulheres que não fazem uso do medicamento. O risco de trombose em mulheres que aderem aos anticoncepcionais orais relacionados ao crescimento do uso destes medicamentos sem supervisão médica, motiva a necessidade de levar conhecimento sobre esse assunto à população, tendo em vista ações dos profissionais de saúde em busca de priorizar e proporcionar informações enfatizando a prevenção, promoção e controle de patologias como a trombose.
2. METODOLOGIA
Esta pesquisa é de natureza descritiva, pois investigou e descreveu os principais aspectos relacionados ao tema em estudo. Quanto aos procedimentos, refere-se a um levantamento bibliográfico da literatura por meio de revisão integrativa baseada em evidências, a qual permite estabelecer relações com produções anteriores, com temáticas recorrentes, apontando novas perspectivas e consolidando a área de conhecimento (Vosgerau; Romanowski, 2014).
Com a revisão integrativa da literatura, objetiva-se sintetizar resultados obtidos acerca de um determinado problema de pesquisa. É chamada de integrativa porque fornece informações concisas sobre o tema proposto, constituindo-se um corpo de conhecimento. Os passos para o seu desenvolvimento serão: Formulação do problema da pesquisa; Estabelecimento dos critérios para inclusão ou exclusão dos estudos encontrados nas bases disponíveis; Definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; Avaliação dos dados; Interpretação dos resultados e Apresentação da revisão integrativa ou síntese do conhecimento analisado.
A fim de buscar realizar o levantamento de dados de forma clara, foi utilizado a seguinte pergunta norteadora: Diante dos efeitos adversos do uso de contraceptivos orais pode-se citar a trombose como sendo um fator diretamente relacionado ao uso do medicamento mencionado? Para responder tal questionamento, foi realizada uma busca eletrônica de artigos nacionais e internacionais de dados indexadas na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Science Direct, Periódico CAPES e Banco de Dados em Enfermagem (BDenf). As bases de dados foram escolhidas conforme relevância no meio científico.
As buscas foram realizadas a partir dos seguintes descritores: “contraceptivos orais” e “trombose”. Salienta-se a interligação dos descritores mediante o operador booleano “AND”. Quanto a amostra, a mesma foi composta pelos artigos que se encaixarem nos seguintes critérios de inclusão: estudos que abordem o tema proposto; texto completo disponível nos idiomas português e inglês, publicados entre os anos de 2019 a 2024. Àqueles que não tinham relação com o tema, foram excluídos a partir dos critérios de inclusão e exclusão como observado na Figura 1.
Figura 1. Fluxograma de identificação e seleção de artigos
Para reduzir a incidência de erros ao extrair informações, é essencial o uso de uma ferramenta especialmente desenvolvida para selecionar os dados a serem obtidos das pesquisas. Os estudos selecionados foram então examinados de forma sistemática, de maneira similar à análise convencional de dados, com precisão e levando em consideração as particularidades de cada pesquisa (Silveira, 2005; Souza, Silva, Carvalho, 2010). Foram conduzidas leituras exploratórias para avaliar as pesquisas escolhidas, adotando uma perspectiva crítica e analítica e apresentando os resultados esclarecidos pelas investigações (Mendes, Silveira, Galvão, 2008).
Considerando que as bases de dados são de domínio público e que a pesquisa não envolve diretamente seres humanos, não será requerida a submissão do projeto ao Comitê de Ética e Pesquisa. No entanto, é importante enfatizar que os princípios éticos e legais serão integralmente mantidos ao longo do estudo, em consonância com os referenciais fundamentais da bioética, incluindo autonomia, não maleficência, beneficência e justiça.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Abaixo pode-se observar o quadro de artigos selecionados e identificados conforme sua metodologia.
Autores/Ano | Título | Tipo de estudo | Objetivos | Principais resultados |
Silva, C. S.; Sá, R.; Toledo, J. (2019) | Métodos Contraceptivos e Prevalência de Mulheres Adultas e Jovens com risco de Trombose, no Campus Centro Universitário do Distrito Federal-UDF. | Estudo transversale analítico | O estudo teve como principal objetivo avaliar os riscos autorreferidos de trombose causada por anticoncepcionais orais e injetáveis. | Observou-se que a idade que mais apresentou casos de trombose na família em relação ao uso de anticoncepcional foi na idade de 18 aos 25 anos, por uso prolongado |
Rocha, E. (2021) | Anticoncepcionais Orais E Os Riscos No Sistema Circulatório: uma revisão integrativa | Monografia em Farmácia | O objetivo desta pesquisa é caracterizar o risco circulatório a partir do uso de anticoncepcionais orais. | A partir da análise dos manuscritos, pode-se inferir que o uso prolongado dos anticoncepcionais orais pode causar danos ao sistema circulatório, como tromboembolismo, infarto do miocárdio, além de aumentar os riscos de comorbidades. |
Sampaio, A. F. et al (2019) | O uso de contraceptivos orais combinados e o risco de trombose venosa profunda em mulheres em idade reprodutiva | Estudo descritivo | O presente artigo tem como objetivo relacionar o uso de anticoncepcionais orais combinados com o risco de desenvolvimento de trombose venosa profunda em mulheres em idade reprodutiva, abordando os aspectos fisiopatológicos e epidemiológicos quanto ao uso desses hormônios exógenos. | A incidência de trombose venosa profunda é consideravelmente pequena, 8 a 10 eventos por 10.000 mulheres-anos de exposição, entre as usuárias de contraceptivos orais combinados em mulheres em idade reprodutiva. |
Tramujas, L.; Judice, M. M.; Becker, A. B. (2022) | Avaliação do manejo diagnóstico de trombose venosa profunda no departamento de emergência de um hospital terciário em Santa Catarina | Estudo transversal | Definir o perfil epidemiológico dos pacientes com suspeita de trombose venosa profunda admitidos na emergência, determinar taxas de inadequação nas solicitações de D-dímero e eco-Doppler colorido venoso de membros inferiores e identificar se essas solicitações seguiram as recomendações da diretriz da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular de 2015. | Constataram-se divergências entre a prática clínica e as recomendações propostas para avaliação diagnóstica nos pacientes com suspeita de trombose venosa profunda devido ao uso inadequado de testes diagnósticos. |
Alves, E. J. S. Et Al (2020) | Efeitos Adversos Associados Ao Uso Do Anticoncepcional Por Mulheres | Estudo descritivo | O objetivo deste estudo foi evidenciar a utilização de anticoncepcionais e associar seus efeitos adversos. | Confirmamos a elevada aderência das mulheres pela utilização do método contraceptivo hormonal reversível, de forma expressiva pelos ACOs utilizados para as mais diversas finalidades, mas principalmente evitar gravidez, sendo que o amplo acesso a esse medicamento é facilitado por sua distribuição pelo SUS. |
Morais, L. X., Santos, L. P., Carvalho (2019) | Tromboembolismo Venoso Relacionado ao Uso Frequente de Anticoncepcionais Orais Combinados | Estudo descritivo | Analisar tromboembolismo venoso relacionado ao uso frequente de anticoncepcionais orais | Há relação do uso de anticoncepcionais orais hormonais combinados e a ocorrência de tromboembolismo venoso devido aos hormônios contidos nos anticoncepcionais, progesterona sintética e estrogênio sintético. Esses podem aumentar os fatores da cascata de coagulação (VI, VII, VIII, IX, X, XII, XIII), reduzem os anticoagulantes naturais (Proteína C, proteína S), a viscosidade do sangue e a parede vascular e aumentam a produção de fibrinogênio e trombina. |
Doria (2022) | Anticoncepcionais hormonais orais: tem relação com a trombose? | Estudo descritivo | Avaliar a relação do desenvolvimento da trombose e o uso de anticoncepcionais | O estudo evidenciou que apesar de os anticoncepcionais serem substâncias valiosas na vida das mulheres, eles precisam de atenção ao serem utilizados já que também possuem efeitos adversos, dentre eles o mais severo, a trombose, e com isso é ressaltada a importância da atenção farmacêutica na orientação dos fármacos. |
Couto (2020) | Evidências dos efeitos adversos no uso de anticoncepcionais hormonais orais em mulheres | Estudo descritivo | Identificar na literatura as evidências científicas sobre os eventos adversos, oriundos do uso de anticoncepcional hormonal oral por mulheres. | Foram levantadas três categorias: o uso de anticoncepcionais orais: aspectos clínicos e teóricos; associação entre o uso de anticoncepcionais orais e os eventos trombóticos; relação entre o uso de anticoncepcionais orais, neoplasias e doenças cardiovasculares. |
Silva (2021) | Risco de Trombose Venosa associado ao uso de Anticoncepcionais Orais | Corte transversal | Associar as alterações homeostáticas com o uso contínuo dos anticoncepcionais orais e o desenvolvimento da trombose | Visto que a pílula anticoncepcional se tornou um dos métodos mais utilizados por mulheres em todo mundo, torna-se importante o conhecimento sobre o assunto, de forma a ressaltar a importância de uma orientação especializada com acompanhamento de um médico responsável por prescrever e analisar qual o método que ofereça um menor risco para cada tipo de perfil biológico. |
Souza (2022) | Anticoncepcionais hormonais orais e seus efeitos colaterais no organismo feminino | Corte transversal | Descrever os efeitos colaterais dos anticoncepcionais hormonais orais no organismo feminino por meio de evidências científicas. | Foi possível compreender que são vários os efeitos adversos ocasionados pelo uso dos anticoncepcionais hormonais orais, além de haver mais riscos desconhecidos e graves à saúde da mulher, necessitando, assim, de uma melhor investigação. |
No Brasil, existe um compromisso claro de garantir que as pessoas possam tomar decisões informadas sobre sua saúde sexual e reprodutiva, respeitando os direitos humanos fundamentais. Um exemplo desse cenário é o fato de que muitas mulheres optam por evitar a gravidez, fazendo uso de métodos contraceptivos. Segundo dados da ONU, aproximadamente 79% das mulheres brasileiras utilizam algum tipo de contraceptivo (ONU, 2023). Esses métodos desempenham um papel crucial não apenas na prevenção de gravidezes indesejadas, mas também na proteção contra doenças sexualmente transmissíveis. Há diversos tipos disponíveis, como preservativos masculinos e femininos, métodos hormonais, incluindo anticoncepcionais orais e injetáveis, implantes, anéis vaginais e adesivos cutâneos.
A anticoncepção hormonal oral, por exemplo, envolve o uso de medicamentos contendo hormônios em doses específicas, destinados a evitar a gravidez sem impor restrições às relações sexuais. Esses hormônios, que normalmente são esteroides sexuais sintéticos, como os estrogênios e progestágenos, atuam de maneira coordenada: o estrogênio impede a liberação do hormônio folículo-estimulante, bloqueando o desenvolvimento dos folículos ovarianos, enquanto o progestágeno inibe a liberação do hormônio luteinizante, prevenindo a ovulação e tornando o muco cervical menos favorável à passagem dos espermatozoides. Juntos, esses hormônios ainda modificam o endométrio, dificultando a implantação do óvulo (Silva; Rocha, 2016).
Os métodos de contracepção hormonal utilizam substâncias que mimetizam os esteroides ovarianos para causar alterações fisiológicas que evitam a gravidez. O principal mecanismo de ação envolve a supressão da ovulação, alcançada pelo bloqueio da liberação cíclica de gonadotrofinas pela hipófise, o que impede o surgimento do pico pré-ovulatório de hormônio luteinizante (Guazzelli; Sakamoto, 2020).
Além de eficazes na prevenção da gravidez, esses métodos também alteram as características do muco cervical e do endométrio, o que aumenta sua eficácia, desde que sejam usados de forma correta e consistente. Quando bem administrados, a taxa de falha dos anticoncepcionais hormonais pode ser tão baixa quanto 0,1% no primeiro ano de uso (Ribeiro et al., 2018).
Um dos métodos mais adotados pelas mulheres é o anticoncepcional hormonal oral, devido à sua acessibilidade, alta eficácia e praticidade. No entanto, seu uso sem supervisão médica pode levar à falta de conhecimento sobre possíveis efeitos adversos, pois muitas vezes são consumidos sem orientação especializada (Almeida; Assis, 2017).
Diversos estudos associam o uso de anticoncepcionais orais ao aumento do risco de eventos trombóticos, tanto em mulheres saudáveis quanto naqueles com condições cardiovasculares pré-existentes. Esse risco depende da dose de estrogênio e do tipo de progestogênio presentes no medicamento. Embora o aumento no risco seja considerado pequeno, ele é significativo (Silva et al., 2021).
Contraceptivos hormonais estão disponíveis em várias formas, como pílulas, DIU, injeções mensais ou trimestrais, e aneis vaginais, todos funcionando de maneira semelhante ao inibir a ovulação (Silva; Toledo, 2019).
Além da prevenção da gravidez, os anticoncepcionais hormonais podem auxiliar no tratamento de problemas como ciclos menstruais irregulares, sangramento excessivo, anemia por deficiência de ferro e até redução da acne. No entanto, há evidências de que podem aumentar o risco de trombose (Tramujas, 2022).
Apesar dos benefícios, como a regulação dos ciclos menstruais e outros efeitos positivos, o uso prolongado desses medicamentos pode gerar efeitos adversos, incluindo problemas fisiológicos e de saúde mais graves (Silva et al., 2021).
Em suma, os anticoncepcionais hormonais têm como objetivo primário a inibição da ovulação, resultando em ciclos menstruais com sangramento, mas sem a liberação do óvulo. Esse efeito é possível graças à ação do estrogênio (com ou sem progesterona) nos centros de controle hormonal no cérebro, o hipotálamo e a hipófise, que regulam a produção dos hormônios necessários para a ovulação, com GnRH, FSH e LH (Silva, 2021).
O mecanismo de ação dos anticoncepcionais orais combinados (ACHOs) envolve o espessamento do muco cervical e a regulação dos níveis de estrogênio e progesterona, inibindo a secreção dos hormônios LH e FSH, fundamentais para que ocorra a ovulação (SOUZA et al., 2022).
Os contraceptivos hormonais desempenham um papel crucial na vida de muitas mulheres, oferecendo tanto benefícios reprodutivos quanto tratamentos para condições médicas como ciclos irregulares e acne. Contudo, é importante que o uso desses medicamentos seja sempre acompanhado por orientação médica, pois os riscos, como o aumento de trombose, não podem ser negligenciados. Cada organismo reage de forma diferente, e o uso prolongado pode trazer complicações sérias. Nesse sentido, é fundamental que as mulheres tenham acesso a informações claras e a um acompanhamento médico personalizado para que possam tomar decisões informadas sobre sua saúde reprodutiva. A busca por contraceptivos mais seguros e eficazes deve continuar sendo uma prioridade da medicina, equilibrando benefícios e riscos com o bem-estar das usuárias.
Conforme a pesquisa de Silva e Toledo, um percentual significativo de mulheres que utilizam anticoncepcionais orais desenvolveu trombose ao longo dos anos. O estudo realizado com estudantes do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) apontou que, entre 84 usuárias de anticoncepcionais orais, 16% relataram casos de trombose (SILVA et al., 2019).
O surgimento de trombos em mulheres em idade fértil está fortemente associado ao uso contínuo de contraceptivos hormonais, que afetam a coagulação e a homeostasia do sangue. O uso desses medicamentos tem sido relacionado ao aumento do risco de trombose venosa profunda (TVP), pois os componentes dos contraceptivos hormonais combinados interagem com os vasos sanguíneos, que possuem receptores de estrogênio e progesterona. Essa interação torna o endotélio mais reativo aos componentes do sangue, o que pode inibir fatores naturais de coagulação e estimular a hipercoagulabilidade (ALVES, 2020).
O risco de formação de trombos aumenta com o uso de contraceptivos hormonais devido à dosagem de estrogênio e progestagênio presente em sua composição. Esses hormônios aumentam a produção de fatores de coagulação e reduzem a produção de anticoagulantes, gerando um desequilíbrio na homeostasia e promovendo a hipercoagulabilidade, um dos fatores da tríade de Virchow, que é fundamental na formação de trombos. Estudos indicam que o etinilestradiol, presente em muitos anticoncepcionais, pode aumentar a produção de trombina e dos fatores de coagulação, ao mesmo tempo em que diminui os inibidores naturais, como a proteína S e a antitrombina (SAMPAIO, 2019).
Além disso, os hormônios presentes nos anticoncepcionais orais combinados (AOCs) ativam receptores em todas as camadas dos vasos sanguíneos, desencadeando processos hemostáticos desordenados, o que leva à hipercoagulabilidade e, consequentemente, ao aumento do risco de trombose (SOUZA et al., 2022).
A tríade de Virchow, proposta pelo patologista Rudolf Virchow, descreve os três fatores essenciais para o desenvolvimento de trombose: lesão endotelial, estase venosa (redução ou imobilidade do fluxo sanguíneo) e hipercoagulabilidade. O uso de anticoncepcionais hormonais influenciam diretamente o aumento da hipercoagulabilidade, facilitando a formação de trombos, um evento raro, mas potencialmente grave, como indicado pelas fontes citadas.
Em minha opinião, embora os anticoncepcionais hormonais tenham inúmeros benefícios, é crucial que o risco de trombose seja amplamente discutido entre médicos e pacientes. As mulheres devem ser informadas sobre esses riscos e, sempre que possível, alternativas mais seguras ou o acompanhamento rigoroso devem ser considerados, especialmente para aquelas com predisposição a condições trombóticas. O equilíbrio entre os benefícios contraceptivos e os possíveis efeitos adversos é uma questão delicada, e cada caso deve ser avaliado com cuidado para garantir a saúde e o bem-estar das usuárias.
Em suma, a trombose decorrente do uso contínuo e sem acompanhamento médico de anticoncepcionais orais é frequentemente atribuída a uma combinação de predisposição genética e fatores adquiridos ao longo da vida. As condições hereditárias, como mutações nos genes responsáveis pelos fatores anticoagulantes, como o fator V de Leiden (F5) e o fator II da protrombina (F2), além das proteínas C e S, embora raras, aumentam significativamente o risco de trombose venosa. Já os fatores adquiridos incluem hábitos e condições como cirurgias, traumas, imobilização prolongada, câncer, distúrbios mieloproliferativos, gravidez, obesidade, idade avançada, e o uso de tratamentos hormonais, que são fatores ambientais que também elevam o risco de trombose venosa profunda (TVP) (ALVES, 2020).
O risco de desenvolvimento de trombos é ainda mais acentuado quando o uso de anticoncepcionais orais ocorre de forma inadequada ou por automedicação. Mulheres que se automedicam sem orientação adequada têm maior probabilidade de desenvolver tromboembolismo venoso (TEV), já que esses hormônios afetam o sistema cardiovascular. No entanto, essa associação negativa é mais evidente quando há falta de acompanhamento médico, o que potencializa outros fatores de risco, como os genéticos. A supervisão de um profissional de saúde é, portanto, indispensável para garantir o uso seguro desses medicamentos (COUTO, 2020).
Ainda assim, os anticoncepcionais hormonais combinados (ACHO’s) não devem ser vistos apenas como vilões. Quando usados corretamente, com informação adequada, prescrição médica e acompanhamento regular, eles não comprometem a saúde feminina. O uso responsável desses medicamentos deve começar com uma avaliação detalhada do histórico clínico e familiar da mulher, além de monitoramento da pressão arterial. No Brasil, é recomendada uma consulta com profissionais de saúde antes de iniciar o uso de anticoncepcionais hormonais, seja em serviços públicos ou privados (GUEDES et al., 2022).
Minha opinião é que, enquanto os anticoncepcionais hormonais têm um papel importante na saúde reprodutiva, é necessário um equilíbrio cuidadoso entre os benefícios e os potenciais riscos. Uma maior conscientização sobre o impacto do uso prolongado sem orientação médica poderia ajudar a mitigar os riscos associados, sobretudo para mulheres com predisposições genéticas. O acompanhamento médico deve ser constante para garantir a segurança e o bem-estar das usuárias.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo sobre a relação entre o uso de anticoncepcionais orais combinados (ACHO’s) e a trombose destaca uma questão importante e relevante para a saúde pública, especialmente no que diz respeito à saúde da mulher. Desde o início da pesquisa, foi identificada a necessidade de explorar como esses medicamentos hormonais podem aumentar o risco de formação de trombos em certas mulheres, principalmente aquelas com predisposição genética. Através de uma análise detalhada, o trabalho conseguiu atingir seu objetivo ao explicar como os anticoncepcionais influenciam nos processos hemostáticos que levam à trombose.
A trombose, uma condição grave, pode ter consequências fatais dependendo de sua localização, como AVC ou infarto do miocárdio, quando um trombo impede o fluxo sanguíneo para o cérebro ou coração, respectivamente. O estudo sugere que mulheres com maior risco de trombose devem optar por anticoncepcionais com menor índice trombogênico, sempre com acompanhamento médico.
O trabalho também sugere que futuras pesquisas devem focar no desenvolvimento de anticoncepcionais com menor risco de trombose e na análise dos medicamentos já disponíveis no mercado. Essa linha de investigação poderia resultar em melhorias significativas na segurança dos métodos contraceptivos. A pesquisa propõe um aprofundamento em cálculos estruturais para obter uma compreensão mais detalhada dos impactos dos anticoncepcionais na saúde das mulheres, uma abordagem que seria altamente benéfica para a evolução do campo.
O estudo oferece uma visão crítica e equilibrada sobre o uso de anticoncepcionais orais, alertando para os riscos associados e, ao mesmo tempo, reconhecendo seus benefícios. A conscientização e o acompanhamento médico são fundamentais para minimizar esses riscos, e as sugestões para futuras pesquisas são cruciais para melhorar a segurança e eficácia desses medicamentos. A saúde da mulher merece atenção contínua e cuidadosa, especialmente em relação a medicamentos amplamente usados como os anticoncepcionais.
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