A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE NO TRATAMENTO DO BRUXISMO INFANTIL.

THE IMPORTANCE OF EARLY DIAGNOSIS IN THE TREATMENT OF PEDIATRIC BRUXISM

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202410282305


Bárbara Luiza Alves Freitas Da Cunha1
Catarina Soares Silveira2


RESUMO

O bruxismo infantil é uma condição multifatorial que afeta negativamente a saúde bucal e emocional de crianças e adolescentes. Este artigo tem como objetivo investigar a importância do diagnóstico precoce e a eficácia de abordagens terapêuticas interdisciplinares no tratamento do bruxismo pediátrico. A pesquisa se baseia em uma revisão bibliográfica, abrangendo estudos que analisam os fatores etiológicos da condição, que podem ser de natureza local, sistêmica e emocional. Além disso, discute-se a aplicação de diferentes métodos de diagnóstico, como polissonografia e eletroneuromiografia, e tratamentos que envolvem desde intervenções comportamentais até o uso de dispositivos interoclusais. O estudo conclui que o reconhecimento precoce do bruxismo pode prevenir complicações futuras e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Palavras-chave: Bruxismo infantil. Diagnóstico precoce. Abordagem interdisciplinar. Saúde bucal. Tratamento pediátrico.

ABSTRACT

Pediatric bruxism is a multifactorial condition that negatively impacts the oral and emotional health of children and adolescents. This study aims to investigate the importance of early diagnosis and the effectiveness of interdisciplinary therapeutic approaches in the treatment of pediatric bruxism. The research is based on a literature review that explores the etiological factors of the condition, including local, systemic, and emotional aspects. Additionally, it discusses the application of various diagnostic methods, such as polysomnography and electromyography, and treatments ranging from behavioral interventions to the use of occlusal devices. The study concludes that early recognition of bruxism can prevent future complications and improve the quality of life for affected patients.

Keywords: Pediatric bruxism. Early diagnosis. Interdisciplinary approach. Oral health. Pediatric treatment.

INTRODUÇÃO

O fenômeno do bruxismo pediátrico tem recebido crescente atenção tanto na comunidade científica quanto na prática clínica. Desde sua primeira menção, essa condição tem sido um tópico frequente na literatura de odontologia e é uma ocorrência comum em clínicas odontológicas, onde é caracterizada como um comportamento anormal do sistema de mastigação, envolvendo sons e movimentos da mandíbula (MORAIS et al., 2015). A necessidade de identificar o bruxismo em estágios iniciais é indiscutível, especialmente devido ao seu efeito negativo no bem-estar de crianças e adolescentes (REGINATO et al., 2017).

Estudos apontam que essa condição é prevalente em pacientes jovens e pode levar a complicações sérias no sistema de mastigação e na qualidade do repouso noturno (CABRAL et al., 2018). Além disso, pesquisas revelam que a incidência de bruxismo em jovens varia de 6% a 35%, e estatísticas longitudinais indicam que entre 35% e 90% desses indivíduos continuarão a manifestar sintomas na fase adulta (KOYANO et al., 2008).

A causa do bruxismo é complexa e multifatorial. Pode ser de natureza psicológica, sistêmica ou hereditária, e vários fatores funcionais, anatômicos e emocionais também podem estar envolvidos (REGINATO et al., 2017). O reconhecimento precoce é crucial para evitar consequências como disfunções da articulação temporomandibular (ATM), lesões musculares faciais, erosão dentária e complicações periodontais (REGINATO et al., 2017). Isso levanta a questão sobre o impacto do bruxismo pediátrico na saúde física e emocional das crianças, e como um diagnóstico e tratamento precoces podem mitigar esses efeitos.

O tratamento do bruxismo pediátrico geralmente requer uma abordagem interdisciplinar, que pode abranger medicamentos, terapia emocional, gerenciamento de fatores desencadeantes e a aplicação de aparelhos oclusais (CABRAL et al., 2018). A primeira etapa de intervenção é vital para mitigar o estresse emocional, ajustar anormalidades no sistema de mastigação e abordar os sintomas associados ao bruxismo (CABRAL et al., 2018).

Recentemente, pesquisas têm estabelecido uma ligação entre bruxismo e distúrbios respiratórios (DiFRANCESCO et al., 2004). Essa correlação sugere que o bruxismo pode ser um sinal de problemas de saúde mais abrangentes, reforçando a importância de um diagnóstico e tratamento holísticos. Ainda há muito a ser investigado sobre como o bruxismo influencia a motricidade orofacial e a comunicação verbal, tornando os estudos nessa área ainda mais cruciais (ALOÉ et al., 2003).

O objeto de estudo desta pesquisa é o bruxismo pediátrico, uma condição médica complexa e multifatorial que afeta a saúde bucal e emocional de crianças e adolescentes. O foco está em entender a etiologia diversificada do bruxismo, que pode incluir fatores locais, sistêmicos e emocionais, e em avaliar a eficácia de diferentes métodos de diagnóstico e abordagens terapêuticas. A pesquisa busca também explorar a importância do diagnóstico precoce e de uma abordagem interdisciplinar no tratamento, visando mitigar os impactos negativos na saúde física e emocional das crianças afetadas. O estudo se propõe a fornecer insights que possam orientar práticas clínicas e políticas de saúde, contribuindo para um tratamento mais eficaz e abrangente do bruxismo pediátrico. 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O bruxismo entre os jovens é uma questão médica emergente que tem um impacto substancial no bem-estar dos menores e de suas famílias. Caracterizado como um comportamento anormal do sistema mastigatório, envolve movimentos repetitivos e sons provenientes da mandíbula (DINIZ et al, 2019). A complexidade da condição reside em suas múltiplas causas, que podem abranger aspectos locais, sistêmicos e emocionais (ESTEVÉS et al, 2017).

A elevada incidência de bruxismo em menores, que oscila entre 5,9% e 49,6%, ressalta a importância de um diagnóstico acurado e imediato (GONÇALVES, 2010 apud COSTA et al, 2017). O desafio do diagnóstico está na diversidade de fatores que podem contribuir para o problema, como desalinhamento dental, trauma, carências nutricionais e distúrbios do sono (RÉDUA, 2019 apud NEVES et al., 2021).

Além dos elementos físicos, fatores psicológicos como tensão e ansiedade também estão fortemente associados ao bruxismo em crianças. Esses jovens frequentemente exibem níveis elevados de preocupação, incluindo questões acadêmicas e emocionais (RIOS et al., 2018). Este estado emocional não apenas contribui para o problema, mas também é exacerbado por ele, criando um ciclo vicioso que afeta a qualidade de vida (FERREIRA-BACCI et al., 2012).

A identificação precoce é crucial para romper esse ciclo e iniciar uma terapia eficaz. Os primeiros indícios muitas vezes são percebidos pelos pais, que notam sintomas como erosão dental e ruídos durante o repouso noturno (RÉDUA, 2019 apud NEVES et al., 2021). Uma anamnese completa e uma avaliação bucal minuciosa são fundamentais para o diagnóstico, que pode ser complementado por exames como polissonografia e eletroneuromiografia (BORTOLETTO et al., 2016).

A abordagem terapêutica é interdisciplinar e pode variar desde a aplicação de dispositivos interoclusais até intervenções comportamentais (GOMES, 2011). Um diagnóstico antecipado permite uma estratégia de tratamento mais direcionada e eficiente. Ignorar os sintomas iniciais pode levar a complicações a longo prazo que afetam não apenas a saúde bucal, mas também o bem-estar emocional do menor.

A detecção precoce é vital não apenas para a intervenção imediata, mas também para evitar problemas futuros, como lesões nos tecidos periodontais e disfunções na articulação temporomandibular (RIOS et al., 2018). Além disso, o bruxismo não tratado pode resultar em problemas mais graves, como dores crônicas e procedimentos dentários mais invasivos no futuro.

A relevância da detecção precoce também se estende ao bem-estar emocional dos menores. O bruxismo está frequentemente associado a níveis elevados de estresse e ansiedade, que podem afetar o rendimento escolar e as relações interpessoais (RÉDUA, 2019 apud NEVES et al., 2021). Uma detecção antecipada permite abordagens terapêuticas mais eficazes, melhorando a qualidade de vida do menor e de sua família (FERREIRA-BACCI et al., 2012).

Por último, a detecção e intervenção precoces em casos de bruxismo pediátrico têm implicações mais amplas para o sistema de saúde. Eles podem diminuir a necessidade de procedimentos mais caros e invasivos no futuro, economizando recursos e tempo para os profissionais de saúde e as famílias afetadas. Isso também pode servir como um modelo para o tratamento de outras condições médicas complexas em menores, sublinhando a importância de uma detecção precoce e de uma abordagem de tratamento interdisciplinar. 

O bruxismo pediátrico não se limita apenas a um ato de triturar ou cerrar os dentes; ele serve como um indicador de várias questões subjacentes que podem afetar negativamente a saúde e o bem-estar da criança (DINIZ et al., 2019). A condição frequentemente sinaliza questões emocionais ou comportamentais, sublinhando a importância de um acompanhamento psicológico (RIOS et al., 2018). Além disso, a prevalência do bruxismo tende a crescer com o avanço da idade e pode persistir até a fase adulta se não for devidamente abordada (SANTOS et al., 2020).

O desafio de identificar e gerenciar o bruxismo em jovens é complexo devido à sua etiologia diversificada. Fatores locais como oclusões inadequadas e restaurações dentárias mal feitas são apenas uma parte do quadro (COSTA et al., 2017), enquanto fatores sistêmicos como nutrição e alergias também têm um papel (HADDAD et al., 1994). Aspectos emocionais e dinâmicas familiares também são relevantes, assim como influências ocupacionais e genéticas (SERRA NEGRA et al., 2010).

O reconhecimento precoce é crucial não apenas para identificar sintomas imediatos, mas também para prevenir problemas futuros que podem se tornar permanentes, como erosão dentária e questões emocionais (COSTA et al., 2017). Uma avaliação completa, que inclui hábitos da criança, relatos de dor e exame psicológico, é fundamental para um diagnóstico preciso (DINIZ et al., 2019)

No que diz respeito ao tratamento, ele deve ser tão variado quanto as causas subjacentes do bruxismo. Isso pode incluir desde dispositivos interoclusais até estratégias ortodônticas e ortopédicas (COSTA et al., 2017). Em algumas situações, medicamentos como hidroxizina e benzodiazepinas podem ser úteis (MORAIS et al., 2015). No entanto, é crucial que a abordagem terapêutica seja interdisciplinar, envolvendo uma equipe de especialistas como pediatras, odontopediatras, psicólogos e otorrinolaringologistas (AHMAD, 1986 apud BRANCHER, 2019).

A seriedade do bruxismo em jovens e a importância de um diagnóstico e tratamento eficazes não podem ser subestimados. Devido à sua complexidade e às potenciais complicações em longo prazo, uma abordagem abrangente e multidisciplinar é essencial para tratar essa condição de forma eficaz. Ignorar ou minimizar a gravidade do bruxismo pediátrico pode resultar em consequências severas, afetando negativamente tanto a criança quanto sua família. Portanto, é vital que os profissionais de saúde estejam adequadamente preparados para enfrentar essa condição complexa. 

METODOLOGIA

A metodologia para a realização deste estudo de revisão bibliográfica sobre o bruxismo infantil foi estruturada com o intuito de assegurar rigor científico e abrangência temática. Utilizou-se o método de raciocínio dedutivo, partindo de teorias e pesquisas já consolidadas sobre o tema para chegar a conclusões específicas acerca da importância do diagnóstico precoce e suas implicações no tratamento. O estudo se configura como uma revisão bibliográfica, na qual foi feita uma análise crítica de literaturas publicadas em revistas científicas, artigos, teses e dissertações.

Optou-se por uma abordagem qualitativa e descritiva, com o objetivo de entender os múltiplos fatores que contribuem para o bruxismo infantil, indo além dos aspectos clínicos e considerando também fatores psicológicos, sociais e sistêmicos. A coleta de dados foi realizada por meio de uma busca sistemática em bases de dados acadêmicas renomadas, como PubMed, Scopus, Google Scholar e SciELO. Utilizamos palavras-chave como “bruxismo infantil”, “diagnóstico precoce”, “tratamento” e “etiologia” para filtrar os estudos mais relevantes, limitando a busca a publicações em idiomas inglês e português.

Foram estabelecidos critérios de inclusão e exclusão para a seleção dos artigos. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados nos últimos dez anos para garantir atualidade, estudos que incluem tanto aspectos clínicos quanto psicológicos do bruxismo infantil para uma visão holística, pesquisas que passaram por revisão por pares para assegurar qualidade científica. Os critérios de exclusão foram: estudos que não focam especificamente no bruxismo infantil, artigos que não foram publicados em revistas científicas reconhecidas, pesquisas que não incluem dados empíricos ou que se baseiam apenas em relatos de casos.

Após a coleta, foi realizada a análise crítica e sintetizada dos artigos selecionados, identificando temas comuns, comparando resultados e métodos, e avaliando a qualidade e relevância de cada estudo. Os dados foram então organizados em categorias temáticas para facilitar a discussão e apresentação dos resultados. Dessa forma, a metodologia adotada visa oferecer uma revisão abrangente e rigorosa da literatura sobre bruxismo infantil, com um enfoque especial na importância do diagnóstico precoce para um tratamento eficaz da condição. 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O bruxismo pediátrico, além de ser caracterizado por movimentos involuntários de triturar ou cerrar os dentes, pode ser considerado um sinal de questões emocionais e comportamentais subjacentes. Estudos como o de Diniz et al. (2019) indicam que essa condição pode estar associada a fatores psicológicos, como estresse e ansiedade, reforçando a necessidade de uma avaliação psicológica em crianças com esse diagnóstico. Rios et al. (2018) também destacam a relevância de um acompanhamento psicológico nessas situações, mostrando que o bruxismo frequentemente sinaliza um estado emocional alterado, especialmente em crianças.

A prevalência crescente do bruxismo à medida que a criança envelhece, como indicado por Santos et al. (2020), aponta para a necessidade de um diagnóstico precoce. A falta de intervenção adequada pode resultar na persistência da condição até a vida adulta, ampliando o risco de complicações como erosão dentária e disfunção da articulação temporomandibular (ATM). Diversos autores, incluindo Costa et al. (2017), enfatizam a complexidade dessa etiologia, envolvendo fatores locais, como oclusões inadequadas, além de aspectos sistêmicos, como nutrição e alergias, conforme apontado por Haddad et al. (1994).

Além disso, fatores emocionais e dinâmicas familiares têm um impacto significativo no desenvolvimento e na manutenção do bruxismo, como salientado por Serra Negra et al. (2010). Essa multiplicidade de fatores etiológicos evidencia a importância de uma abordagem interdisciplinar no tratamento do bruxismo pediátrico. De acordo com Costa et al. (2017), é fundamental que o diagnóstico inclua uma avaliação completa dos hábitos da criança, bem como relatos de dor e uma análise psicológica detalhada.

O tratamento do bruxismo deve ser adaptado às causas subjacentes da condição. Morais et al. (2015) sugerem que, em alguns casos, o uso de medicamentos como hidroxizina e benzodiazepinas pode ser eficaz, enquanto Costa et al. (2017) defendem o uso de dispositivos interoclusais e estratégias ortodônticas, dependendo da origem do problema. No entanto, Ahmad (1986 apud Brancher, 2019) destaca que a chave para o sucesso terapêutico é a participação de uma equipe interdisciplinar, que envolva pediatras, odontopediatras, psicólogos e otorrinolaringologistas.

Os achados desta pesquisa corroboram a necessidade de um diagnóstico precoce e de uma intervenção abrangente. Ignorar os sinais de bruxismo em crianças pode levar a complicações a longo prazo, como erosão dentária severa e questões emocionais crônicas. A abordagem multidisciplinar não só melhora a eficácia do tratamento, como também previne o agravamento da condição, proporcionando uma melhor qualidade de vida tanto para a criança quanto para sua família. Dessa forma, é essencial que os profissionais de saúde estejam preparados para lidar com a complexidade do bruxismo pediátrico, considerando suas causas e consequências em longo prazo.

CONCLUSÃO

A pesquisa sobre o bruxismo pediátrico confirma a relevância do diagnóstico precoce e da abordagem interdisciplinar no tratamento dessa condição. O estudo mostrou que o bruxismo infantil não é apenas uma manifestação isolada, mas está relacionado a uma série de fatores locais, sistêmicos e emocionais que afetam negativamente a saúde física e emocional das crianças. Ao investigar os fatores etiológicos e as opções terapêuticas, foi possível concluir que a intervenção precoce é fundamental para mitigar as complicações em longo prazo, como disfunções temporomandibulares, erosão dentária e problemas emocionais.

Os objetivos gerais e específicos foram atingidos, confirmando as hipóteses inicialmente propostas. O diagnóstico precoce não apenas ajuda a tratar o bruxismo infantil, mas também funciona como uma intervenção preventiva para outras condições de saúde, enquanto a abordagem interdisciplinar se mostrou mais eficaz do que métodos unidimensionais. A integração de especialistas de diferentes áreas, como pediatria, odontopediatria e psicologia, foi um dos principais fatores para o sucesso do tratamento.

Apesar do progresso alcançado com esta pesquisa, algumas limitações foram identificadas. A revisão bibliográfica limita-se a estudos publicados nos últimos dez anos, o que pode restringir a amplitude de abordagens terapêuticas mais antigas, mas ainda relevantes. Além disso, como o estudo é de natureza teórica, não foi possível testar empiricamente os métodos de tratamento recomendados. Sugere-se que futuras pesquisas incluam estudos clínicos que validem as intervenções discutidas e explorem novos métodos de diagnóstico e tratamento que possam surgir com os avanços na tecnologia e na medicina.

Em suma, a pesquisa não apenas confirmou as suposições iniciais sobre o impacto do bruxismo pediátrico na saúde física e emocional das crianças, mas também destacou a importância de uma abordagem multidisciplinar no manejo da condição. O desenvolvimento de estratégias eficazes de tratamento dependerá da continuidade das investigações sobre os fatores envolvidos e da capacidade dos profissionais de saúde em aplicar esses conhecimentos de forma integrada. 

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