NURSING CARE FOR PEOPLE WITH VENOUS ULCERS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410281220
Gildete Pereira Ribeiro dos Santos¹
Maria das Graças Ladeia de Oliveira Viana²
Paula Santana e Sousa³
Orientador: Prof. José Willian de Aguiar4
Resumo: a úlcera venosa (UV) é uma ferida crônica que acomete principalmente a perna, em consequência sa insuficiência venosa crônica (IVC). Na população geral a sua prevalência fica entre 0,5 a 0,8%, podendo chegar a 5% em pessoas com idade acima de 65 anos. Além de afetar a qualidade de vida a UV compromete o aspecto social, causando consequências como: dor, infecção, depressão, baixa autoestima, entre outros. Representando um desafio para pessoa acometida e também para o enfermeiro que cuida do paciente com ferida. Objetivo: apontar a importânica do papel da enfermagem no cuidado da pessoa com úlcera venosa, identificar o tratamento da úlcera venosa, além de discutir como a educação em saúde pode melhorar o envolvimento do paciente com úlcera venosa no próprio cuidado. Método: trata-se de uma revisão narrativa da literatura, a qual tem o objetivo de resumir e integrar as principais informações acerca de um determinado assunto ou tema, levando em consideração vários autores. Resultados: esse estudo evidenciou a importânica do papel da enfermagem, através do cuidado multidimensional da pessoa com UV e do conhecimento científico no gerenciamento adequado da doença. Destacou o uso de ferramentas importantes como o Processo de Enfermagem (PE), as taxonomias NANDA-NOC-NIC e escala de avaliação de ferida TIME, que auxiliam o enfermeiro na tomada de decisões mais assertivas. No entanto, revelou também a insegurança do profissional em aplicar bandagem compressiva, reforçando a necessidade de investir em treinamentos. Identificou que o pilar do tratamento da úlcera venosa é a terapia compressiva, e que além disso requer cuidados adicionais com a lesão e pele perilesão, repouso e elevação dos membros inferiores, exercícios físicos e melhora dos hábitos de vida. Por fim, discutiu como a educação em saúde pode melhorar o envolvimento do paciente no cuidado, revelando que essa estratégia aumentou o conhecimento do paciente acerca da própria doença e também promoveu à adesão a terapia compressiva. Conclusão: diante do exposto, observou-se a necessidade de oferecer treinamento aos profissionais de sáude sobre a aplicação a bandagens compressivas, visto que as atitudes do profissional podem impactar na qualidade da assistência de enfermagem. Constatou-se a necessidade de mais estudos sobre intervenções de enfermagem para estimular a participação do paciente com úlcera venosa no cuidado, já que o empoderamento do paciente é fundamental na continuidade do cuidado.
Palavras-chave: Úlcera Varicosa. Bandagens Compressivas. Cuidados de Enfermagem.
Abstract: venous ulcer (VU) is a chronic wound that mainly affects the leg as a result of chronic venous insufficiency (CVI). In the general population, its prevalence is between 0.5 and 0.8%, and it can reach 5% in people over the age of 65. In addition to affecting quality of life, CVI compromises the social aspect, causing consequences such as: pain, infection, depression, low self-esteem, among others. It represents a challenge for the person affected and also for the nurse caring for the patient with the wound. Objective: point out the importance of the role of nursing in the care of people with venous ulcers, identify the treatment of venous ulcers, and discuss how health education can improve the involvement of patients with venous ulcers in their care. Method: this is a narrative review of the literature, which aims to summarize and integrate the main information on a particular subject or theme, taking into account several authors. Results: this study highlighted the importance of the role of nursing, through multidimensional care of people with VU and scientific knowledge in the proper management of the disease. It highlighted the use of important tools such as the Nursing Process (NP), the NANDA-NOC-NIC taxonomies and the TIME wound assessment scale, which help nurses to make more assertive decisions. However, it also revealed professional insecurity in applying compressive bandages, reinforcing the need to invest in training. It identified that the mainstay of venous ulcer treatment is compressive therapy, and that it also requires additional care for the lesion and peri-lesion skin, rest and elevation of the lower limbs, physical exercise and improved lifestyle habits. Finally, it discussed how health education can improve patient involvement in care, revealing that this strategy increased patients’ knowledge of their disease and also promoted adherence to compressive therapy. Conclusion: in view of the above, there was a need to provide training for healthcare professionals on the application of compressive bandages, since the attitudes of professionals can have an impact on the quality of nursing care. There is a need for more studies on nursing interventions to encourage patients with venous ulcers to participate in their care, since patient empowerment is fundamental to continuity of care.
Keywords: Venous Ulcer. Compression Bandages. Nursing Care.
1. INTRODUÇÃO
De modo geral o termo úlcera é designado para definir a perca de continuidade do tecidode cutâneo, causando como consequência alterações na estrutura anatômica e na função fisiológica do tecido afetado (BRASIL, 2002). Ainda nesse sentido, as úlceras podem ser classificadas quanto à etiologia, que pode ser ne natureza externa ou interna cirúrgica, quanto ao tempo de reparação, que pode ser aguda ou crônica, e também conforme a profundidade e comprometimento do tecido envolvido (BRASIL, 2002; CONUEI, 2018).
Segundo Vieira (2018), as feridas crônicas estão associadas às variáveis socioeconômicas e clínicas. Com o envelhecimento da população, as mudanças demográficas e a cronicidade de muitas doenças, o número de pessoas com feridas crônicas, como, úlcera diabética, úlcera vascular e lesão por pressão (LP), têm aumentado. Nessas feridas é comum a presença de inflamação persistente, biofilme, infeção e dificuldade das células dérmicas e/ou epidérmicas responderem aos estímulos reparadores. Assim, as feridas feridas complexas e de difícil cicatrização constituem um grande desafio para os profissionais de saúde (MENDES, 2023).
Nesse contexto, a úlcera venosa (UV) é uma ferida crônica de início espontâneo ou traumático, pode ter tamanho e profundidade variável, e que está associada a um processo patológico sistêmico ou da extremidade. Ela costuma ser dolorosa e se desenvolver preferencialmente no terço medial da perna e maléolo (BRASIL, 2022). A UV é considerada o estágio mais avançado e grave da insuficiência venosa crônica (IVC), que consiste na dificuldade do sangue das pernas retornar ao coração, causando hipertensão venosa. Com o sangue estagnado nas pernas e o aumento da pressão, ocorre extravasamento de líquidos e de fibrinogênio no tecido subcutâneo, esse acúmulo resulta em edema, lipodermatoesclerose e por fim o rompimento da pele (BRASIL, 2002; KIKUCHI et al., 2023).
De acordo com C.O.N.U.E.I. (2018) a úlcera de extremidade venosa (UEV), é o tipo mais comum de ferida crônica em membros inferiores, correspondendo a 80% de todos os casos. Na população geral a sua prevalência fica entre 0,5 a 0,8%, podendo chegar a 5% em pessoas com idade acima de 65 anos, sendo que as mulheres com outras comorbidades são mais afetadas.
Por se tratar de uma ferida crônica e recorrente a UEV tem um alto impacto econômico para os sistemas de saúde do mundo todo (CONUEI, 2018). Além disso, essa enfermidade afeta a qualidade de vida e o aspecto social, causando diversas consequências negativas para a pessoa com UV, como: dor, infecção, depressão, baixa autoestima, dificuldade laboral, discriminação, e ainda sentimento de frustração por falta de apoio dos familiares. Representando um desafio para a pessoa que convive com esse problema e também para os profissionais de saúde, sobretudo os enfermeiros que cuidam diariamente de pessoas com feridas (JOAQUIM FL, 2018).
De acordo com a literatura científica a terapia compressiva (TC) é considerada o tratamento ideal para úlcera venosa. A TC consiste na aplicação de compressão externa na perna com a intenção de promover o retorno venoso e a reabsorção do edema, reduzindo a hipertensão venosa, e assim contribuir para a cicatrização da úlcera e prevenção de recidivas (FERREIRA, 2020). No entanto, a abordagem deve ser multidimensional, incluindo intervenções de educação do paciente, mudanças no estilo de vida que melhorem a estase venosa, curativos apropriados e tratamento cirúrgico, quando houver indicação (FERREIRA, 2020; CONUEI, 2018; BRASIL, 2002).
Segundo Žulec (2022), a educação do paciente sobre a doença e o autocuidado é uma ferramenta necessária para atingir efeitos positivos no conhecimento sobre autocuidado. Nesse estudo foi realizada uma intervenção de educação do paciente por meio de um folheto com informações sobre o autocuidado com a úlcera venosa, revelando resultados positivos, como: o aumento da conscientização sobre a terapia compressiva, reconhecimento dos sinais de alerta por parte do paciente, a importância da higiene das mãos na prevenção de infecções, cuidados adequados com a pele, nutrição adequada e benefícios da atividade física. Ambos aspectos considerados importantes para tratar a UV e evitar recidivas.
Desta forma, o presente estudo justifica-se pela necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a importânica dos cuidados de enfermagem dispensados à pessoa com úlcera venosa, considerando que a prevenção e o tratamento adequado da insuficiência venosa são aspectos importantes para evitar o aparecimento da úlcera venosa, suas complicações e também recidivas.
Contudo, esta revisão da literatura objetivou apontar a importânica do papel da enfermagem no cuidado da pessoa com úlcera venosa, identificar o tratamento da úlcera venosa, além de discutir como a educação em saúde pode melhorar o envolvimento do paciente com úlcera venosa no próprio cuidado.
2. METODOLOGIA
A presente pesquisa trata-se de uma revisão narrativa da literatura, a qual tem o objetivo de resumir e integrar as principais informações acerca de um determinado assunto ou tema, levando em consideração vários autores.
Para a construção desta revisão, foram consultados os seguintes documentos: artigos científicos, sites, manual do Ministério da Saúde (MS), diretrizes da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) e documento de consenso internacional. Foram estabelecidos alguns critérios para inclusão dos artigos, como: disponibilidade completa dos documentos, artigos publicados nos últimos seis anos, nos idiomas português, inglês ou espanhol e que abordasse o tema proposto por esta pesquisa. Foram excluídos os artigos que fugiram do tema proposto, ou que se repetiram entre as bases de dados consultadas.
Para esta pesquisa foram selecionados 13 artigos científicos, além de outros documentos, com data de publicação anterior a 2019, mas que foram considerados devido a sua relevância para o presente estudo, se trata de um manual do Ministério da Saúde (MS), publicado em 2002 e de um documento da Conferencia Nacional de Consenso sobre las úlceras de la extremidad inferior (C.O.N.U.E.I.), publicado em 2018. Inicialmente, os artigos foram selecionados a partir da leitura dos títulos e dos resumos, e, quando o título e/ou resumo se revelou insuficiente, foi necessária a leitura completa do documento.
As bases de dados utilizadas para a seleção dos artigos foram: Biblioteca Virtual da Saúde (BVS)-(DECS), Literatura Científica e técnica de Países da América Latina e Caribe (LILACS), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), MEDLINE, Cochrane Library e PubMed. Para a estratégia de busca, foram utilizados os seguintes descritores: Venous Ulcer AND Compression Bandages AND Nursing Care.
3. DESENVOLVIMENTO
Com a finalidade encontrar os objetivos propostos, por esta revisão da literatura, o presente estudo foi dividido em três eixos temáticos, relacionados a seguir.
3.2 O PAPEL DA ENFERMAGEM NO CUIDADO DA PESSOA COM ÚLCERA VENOSA
Os cuidados do enfermeiro dispensados à pessoa com úlcera venosa devem ser baseados em evidências científicas, desse modo o conhecimento do profissional é importante na tomada decisões acertivas e na resolução dos problemas. Nesse contexto, o enfermeiro aplica o Processo de Enfermagem (PE), que resumidadmente consite na avaliação, diagnóstico, planejamento, implementação e evolução de enfermagem. Durante a consulta de enfermagem, são documentas as informações do paciente e aspectos da UV no prontuário, o enfermeiro realiza avaliação física, solicita exames, identifica as necessidades de cuidado da pessoa com UV, realiza cuidados com a lesão, aplica terapia compressiva, orienta o paciente e cuidadores, além de outras ações (COFEN, 2024).
Ainda nesse sentido, o PE é fundamental para promover o autocuidado dos pacientes com UV, pois permite a padronização da assistência de enfermagem através dos sistemas de linguagem próprios da enfermagem, as taxonomias NANDA-NOC-NIC. Essas ferramentas são indispensáveis para fornecer acesso a informações abrangentes sobre diagnósticos de enfermagem, resultados, indicadores, intervenções e atividades, relacionando-as para que o enfermeiro possa prestar um melhor atendimento. A avaliação adequada e o estabelecimento de diagnósticos que identifiquem as necessidades prioritárias de assistência da pessoa com UV são fundamentais para o planejamento e a implementação de intervenções de assistência que levem a melhores resultados de saúde. (PULIDO-ACUÑA, 2022; COFEN, 2024).
A ferramenta TIME auxilia o enfermeiro no processo de avaliação da ferida, orientando na escolha das melhores condutas para promover a cicatrização da UV. O mnemônico TIME vem do inglês, que representa: T – tissue (tecido inviável ou deficiente), I – infection/inflamation (presença de infecção ou de inflamação), M – moisture (gestão do exudato) e E – edge (aspecto das bordas da ferida). Esses quatro aspectos da lesão devem ser observados durante na avaliação do paciente e durante todo o tratamento (ABBADE, 2020).
Ainda nesse sentido, o enfermeiro deve conhecer as queixas e características ralacionadas a úlcera de etiologia venosa, como: dor ao final do dia, que aumenta com a posição ortostática e alivia com compressão, exercício físico ou elevação, há sensação de peso na perna e de prurido no local. Em relação ao aspecto do membro afetado podem ser observados, aumento da circunferência maleolar, presença de lipodermatoesclerose, hiperpigmentação, eczema venoso, coroa flebostática e atrofia branca. Quanto a localização das lesões, são mais frequêntes na região da polaina, a profundidade e tamanho são variáveis, o leito da ferida costuma ser escurecido com presença de tecido de granulação, as bordas da lesão são rosadas e irregulares, o exudato pode ser moderado ou intenso (WOUNDS, 2022).
Um estudo conduzido na Andaluzia, região da Espanha-EU, avaliou a eficácia do programa de Práticas Avançada de Enfermagem em Feridas Crônicas Complexas (APN-CCWs), após o treinamento massivo de 645 enfermeiros clínicos sobre o gerenciamento adequado das úlceras venosas e o uso de terapia compressiva de diferentes tipos (bandagens elásticas, bandagens inelásticas, multicamadas e meias de compressão). Foram atendidos 707.814 habitantes, os dados foram coletados através de um questionário respondido pelos enfermeiros, com perguntas sobre as variáveis descritivas da lesão e seu tratamento. Um ano após a implementação do programa APN-CCW, foi realizada uma análise comparativa usando o mesmo questionário, comprovando a eficácia do APN-CCW na promoção e melhoria do cuidado com UV. Após a intervenção pôde ser observado a melhora clínica dos pacientes, maior taxa de cicatrização, redução de infecção, melhora da proteção da pele perilesional e otimização da terapia compressiva elática e multicamadas, o que ajudou a melhorar as taxas de cura (JIMÉNEZ-GARCÍA et al., 2019).
Um estudo realizado por Ferreira (2020), em Coimbra-PT, onde 173 enfermeiros de atenção primária responderam um questionário sobre conhecimento e prática da terapia compressiva e às barreiras percebidas na sua implementação, evidenciou que 93,1% dos enfermeiros tinham formação em terapia compressiva, mas somente 60,7% aplicava esse recurso, revelando que a prática não era amplamente implementada. O estudo também revelou que os enfermeiros que mais aplicavam a TC, além de demonstrar maior domínio sobre úlcera venosa e terapia compressiva, empregavam boas práticas, evidenciando a procura por excelência desses profissionais no cuidado da pessoa com UV. Já os enfermeiros com déficit de formação aplicaram menos a terapia compressiva e tinham menos conhecimento a cerca do tema, ressaltando a importância de investir na formação profissional para melhorar a sua autoconfiança e com isso antigir melhores resultados.
Outro estudo internacional comparou o desempenho de 47 enfermeiros, antes e depois de receberem treinamento sobre a aplicação correta de bandagem compressiva flebológica (PCB). A maioria dos participantes tinham mais de dez anos de experiência profissional e cerca de 55,3% deles tinham qualificação em cuidados com feridas. A pesquisa revelou que durante o período de avaliação todos os participantes, com ou sem experiência na aplicação de bandagem compressiva, se beneficiaram do treinamento, melhorando a competência do profissional. Revelou também que os participantes que aplicaram a terapia compressiva com maior frequência tivereram melhores desempenhos na aplicação da técnica. O estudo ainda recomenda que treinamentos regulares devem ser oferecidos aos profissionais que atuam nessa área, incluindo o uso de dispositivos de medição de pressão, elemento fundamental no tratamento da UV, permitindo assim que os enfermeiros adquiram experiência e apliquem compressão adequada atingindo os objetivos da terapia compressiva (PROTZ, 2022).
3.2 TRATAMENTO DA ÚLCERA VENOSA
O tratamento da úlcera venosa é um processo complexo que requer cuidados multidimensionais e interdisciplinares, desse modo o plano de cuidados vai depender sobretudo da individualidade de cada caso, não existindo uma única medida para tratar a úlcera venosa. No entanto, essa é uma patogia que requer a combinação de várias medidas, como, cuidado da ferida e pele peri lesão, terapia tópica, terapia compressiva, tratamento de infecção/biofilme, repouso com elevação dos membros inferiores, realização de exercícios físicos, prevenção de recidivas com o uso da meia compressiva, nutrição e hidratação adequadas, cessar o tabagismo e o consumo de bebida alcoólica, controlar a dor, educação e capacidade de autocuidado do paciente, além de oferecer suporte psicossocial (WOUNDS, 2022; WUWHS, 2024).
Portanto, na avaliação inicial o profissional de saúde deve diagnósticar com precisão a úlcera venosa, determinar a gravidade do caso, para então estabelecer um plano de tratamento individualizado, seguro e baseado em evidências. Desse modo, tanto na avaliação inicial quanto no monitoramento contínuo, é fundamental usar ferramentas e técnicas para medir, classificar e documentar o progresso e ajustar o plano de tratamento conforme necessário para obter os melhores resultados para o paciente. Recomenda-se que a Insuficiência Venosa Crônica (IVC) seja classificada pelo CEAP, um sitema de Classificação de Distúrbios Venosos, que utiliza critérios clínicos, etiológicos, anatômicos e descritores fisiopatológicos para classificar a gravidade e o tipo de doença venosa. Ele serve como base para investigação, documentação e decisões sobre o tratamento e intervenções, inclusive o tipo e o nível de compressão (WUWHS, 2024).
A terapia compressiva é o tratamento de primeira linha para a úlcera venosa, no entanto devem ser consideradas as indicações e contraindicações. Assim, ao aplicar a terapia compressiva ela irá exercer uma pressão externa controlada no membro afetado pela IVC, melhorando a circulação sanguínea e linfática, e o edema na região, porém para alcançar os benefícios o paciente deve ser estimulado a caminhar. O nível de compressão no tornozelo deve estar em torno de 35−40mmHg e gradualmente menor abaixo do joelho. Já em relação aos métodos de terapia compressiva, os mais usados são: ataduras compressivas elásticas com uma ou múltiplas camadas, ataduras compressivas inelásticas e também as meias elásticas de alta compressão. As meias de alta compressão podem ser usadas em úlceras menores e após a cicatrização as para prevenir recidivas (ABADE, 2020).
Aloweni et al., (2022) revisou 377 prontuários de pacientes diagnosticados com úlcera venosa, entre 2011 e 2016, comparando os resultados de cura através de três tipos de terapia de compressão: bandagem de duas camadas, bandagem de quatro camadas e meias de compressão. Em três meses as taxas de cura, foram: bandagem de quatro camadas (22,3%), bandagem de duas camadas (34,9%) e meias de compressão (8,7%); em seis meses, foram: bandagem de quatro camadas (44,2%), bandagem de duas camadas (41,9%) e meias de compressão 34,8%. Os pacientes tratados com bandagem de duas camadas relataram maior cura em três meses, mas em seis meses não tiveram diferença nas taxas de cura entre os três tipos de compressão. O estudo concluiu que em curto prazo a bandagem de duas camadas pareceu ser mais favorável na cura, mas como as úlceras venosas persistiram além dos meses, o tipo compressão usado não fez diferença no resultado da cura, sugeriram que, à medida que a duração se tornou mais prolongada, as úlceras venosas se tornaram mais resistentes à cura, apesar da terapia de compressão.
Um ensaio clínico controlado randomizado, comparou a eficácia do curativo padrão com o uso do dispositivo de Velcro Wrap JuxtaCures™ no tratamento de pacientes com úlcera venosa. Os participantes do estudo foram acompanhados durante 26 semas. A taxa de cicatrização com o JuxtaCures™ foi de 60%, enquanto o curativo padrão apresentou 55%, em relação ao tempo de cicatrização não foram observadas diferenças significativas. No entanto o JuxtaCures™ proporcionou mais benefícios quando comparado ao outro curativo, como: pressão mais consistente, maior taxa de cicatrização das úlceras venosas, menor custo e menor tempo de consulta enfermagem. Sugerindo a necessidade de executar um ensaio multicêntrico para avaliar o uso de dispositivos de envoltório de velcro para tratamento da úlcera venosa (STATHER, 2021).
3.3 A EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR O ENVOLVIMENTO DO PACIENTE COM ÚLCERA VENOSA NO PRÓPRIO CUIDADO.
Os pacientes com insuficiência venosa crônica e úlcera venosa devem ser incentivados pelos profissionais de saúde a participarem do próprio cuidado através de estratégias de autogestão, conforme a capacidade de cada um. Visto que o autogerenciamento do paciente pode melhorar os hábitos de vida, o controle da doença, a adesão aos planos de tratamento, inclusive a adesão a terapia compressiva, evitando a recidiva da UV e melhorando a qualidade de vida. Além do mais, o empoderamento do paciente, através da educação em saúde pode ser crucial para alcançar resultados bem-sucedidos, principalmente à longo prazo. Desso modo, o atendimento centrado no paciente deve envolver a participação do paciente e/ou cuidador em todos os aspectos de seu plano de tratamento (WUWHS, 2024).
Um ensaio controlado, analisou o quanto os pacientes com úlcera venosa poderiam se beneficiar de um folder sobre UV e terapia compressiva em termos de educação do paciente. A tecnologia educativa continha informações sobre os fatores de risco para insuficiência venosa, opções de terapia compressiva, por que e quando a terapia compressiva deve ser usada e como o paciente pode contribuir. Participaram da pesquisa 136 pacientes, que foram divididos em dois grupos. Os 68 pacientes grupo controle (GC) receberam um questionário sobre seus conhecimentos teóricos e práticos sobre UV e terapia compressiva, bem como habilidades relacionadas. Já os 68 pacientes do grupo intervenção (GI) receberam o folder “Terapia compressiva – fácil e bem ajustada”, foram solicitados a ler o informativo cuidadosamente e depois responder o mesmo questionário do outro grupo. O estudo revelou que em quase todos os aspectos, os pacientes do GI mostraram estar melhores informados sobre a própria doença, a terapia compressiva e como eles poderiam apoiar as medidas adequadamente. O folder melhorou o conhecimento e a compreensão paciente e isso pode fortalecer o empoderamento da pessoa com UV e a sua adesão ao tratamento (PROTZ K, et al., 2019).
Pulido-Acuña (2022), por meio de uma revisão integrativa da literatura, analisou 41 publicações, descrevendo estratégias citadas na literatura que devem ser ensidadas pelo enfermeiro para a promoção do autocuidado em pessoas com úlceras venosas. Os principais temas analisados no estudo foram: processo de assistência de enfermagem e autocuidado, familiarização com úlcera venosa e opções terapêuticas, conhecimento sobre terapia compressiva e prática de estilos de vida saudáveis. A pesquisa destacou que a assitência de enfermagem à pessoa com úlcera venosa deve iniciar apartir de um olhar holítico do profissional para com o paciente, assim o processo de cuidado deve ir além do cuidado com a lesão, o paciente deve ser considerado como um sujeito ativo no próprio cuidado.
Ainda nesse sentido, o enfermeiro deve favorecer a compreensão e a autonomia do paciente e cuidadores através da educação em saúde, para que eles possam tomar melhores decisões e alcançar melhores resultados. A pessoa com UV deve compreender o tratamento, de modo que ele se familiarize com a sua ferida e desenvolva a capacidade de detectar sinais de alerta, controle dos fatores de risco e das medidas preventivas. Portanto, o paciente deve aprender sobre a abordagem terapêutica da UV, que inclui: terapia compressiva, prática de um estilo de vida saudável, elevação do membro afetado, proteção contra infecção, além de outras medidas, a depender da individualidade de cada paciente e das suas necessidades (PULIDO-ACUÑA, 2022).
Os pacientes devem ser ensinados e incentivados a se exercitarem, os exercícios de alongamento e fortalecimento fazem parte do tratamento do paciente com úlcera venosa recebendo terapia compressiva. Desse modo, os exercícios que permitem aumentar a amplitude de movimento do tornozelo e fortalecer o grupo muscular gastrocnêmio podem ajudar a função de bombeamento da panturrilha, que é essencial para a cicatrização da ferida. Além disso, o equilíbrio do paciente deve ser avaliado e, se houver dificuldade de realizar exercícios unilaterais, a flexão do tornozelo e as elevações dos dedos dos pés devem ser iniciadas na posição sentada e progredir para a posição ortostática quando for opotuno (WUWHS, 2024).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa evidenciou a importânica do papel da enfermagem no cuidado da pessoa com úlcera venosa, atráves da abordagem multidimensional do paciente e do conhecimento acerca da fisiopatologia da UV, com vista para o gerenciamento adequado da doença. Outro aspecto importante para o cuidado qualificado foi o uso de ferramentas como, o Processo de Enfermagem (PE), as taxonomias NANDA-NOC-NIC e escalas de avaliação de feridas, no fornecimento de informações abrangentes, auxiliando o enfermeiro na escolha de condutas mais assertivas. No entanto, algumas estudos também mostraram que alguns enfermeiros sentiram-se inseguros em aplicar a terapia compressiva, esse fato reforça a importância de investir na educação profissional para aumentar autoconfiança e segurança do cuidado, visto que as atitudes do profissional podem refletir na qualidade da assistência recebida pelo paciente e impactar nos resultados.
Identificou também, o tratamento da úlcera venosa de acordo com a literatura científica, que consiste na abordagem multidimensional da pessoa com UV e nos cuidados interdisciplinares. A terapia compressiva se revelou como o pilar do tratamento para insuficiência venosa e úlcera venosa, além disso cuidados adicionais são indispensáveis como: cuidados com a lesão e pele perilesão, repouso com elevação dos membros inferiores, educação do paciente, exercícios físicos, nutrição e hidratação adequadas, melhorar os hábitos de vida e oferecer suporte psicosocial.
Por fim, discutiu como a educação em saúde pode melhorar o envolvimento do paciente com úlcera venosa no próprio cuidado. As estratégias de educação em saúde mostraram aumentar o conhecimento do paciente sobre a própria doença, e melhorar a adesão a terapia compressiva. O profissional de saúde deve incentivar a autogestão do paciente, para melhorar seus hábitos de vida, ter melhor controle da doença e aumentar a adesão ao tratamento.
Sendo assim, observa-se a importância de treinar os profissionaos de saúde na aplicação de bandagens compressivas, visto que essa é a principal abordagm para promover a cicatrização da UV. Considerando a relevância desse tema para estudantes e profissionais da saúde, sugere-se novos estudos sobre estrátegias de enfermagem para estimular a participação do paciente com úlcera venosa no próprio cuidado, já que o empoderamento do paciente é fundamental na continuidade do cuidado.
REFERÊNCIAS
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¹ Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário LS, e-mail: gildete.p.r.santos@lseducacional.com
² Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário LS, e-mail: maria.g.l.oliveira@lseducacional.com
³ Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário LS, e-mail: paula.s.s.pa@lseducacional.com
4 Professor orientador Esp. José Willian de Aguiar. Enfermeiro Especialista em Auditoria, Gestão e Planejamento em Saúde, Oncologia e Docência do Ensino Superior. Professor no Curso de Bacharelado em Enfermagem da UNILS, e-mail: jose.aguiar@unils.edu.br