EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF PATIENTS WITH PROSTATE CANCER IN BRAZIL
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202410272319
Mara Ligia Moreira Barros1
Maria Eduarda Beserra Sousa2
Professor orientador : Marcelo Oliveira da Costa
Resumo
Objetivos: analisar o perfil epidemiológico de pacientes diagnosticados com câncer de próstata no Brasil nos anos de 2013 a 2023, quantificando os casos, identificando o tratamento mais utilizado e o tempo médio de tratamento e comparando as diferentes regiões do país. Metodologia: estudo do tipo epidemiológico, quantitativo de natureza exploratória, descritiva e retrospectiva. A coleta de dados foi realizada pelo Painel Oncologia Brasil – DATASUS, selecionando as seguintes variáveis: região do diagnóstico, idade, ano do tratamento e tipo de tratamento, nos anos de 2013 a 2023. Resultados: a região com maior número de casos diagnosticados foi o Sudeste, seguido pelo Nordeste. A maior concentração de pacientes está inserida na faixa etária entre 60 e 69 anos. Houve mais diagnósticos nos anos de 2017 e 2018. A modalidade terapêutica mais adotada foi a quimioterapia. Conclusão: a idade avançada é um fator de risco para o desenvolvimento de câncer de próstata. As regiões Sudeste e Nordeste concentram o maior número de casos. A modalidade terapêutica escolhida depende da individualidade de cada paciente. Muitos casos diagnosticados possivelmente não são registrados.
Palavras-chave: Neoplasia. Próstata. Epidemiologia.
Summary:
Objectives: to analyze the epidemiological profile of patients diagnosed with prostate câncer in Brazil from 2013 to 2023, quantifying the cases, identifying the most used treatment and the average treatment time and comparing the different regions of the country. Methods: epidemiological, quantitative study of exploratory, descriptive and retrospective nature. Data collection was carried out by the Painel Oncologia Brasil – DATASUS, selecting the following variables: region of diagnosis, age, year of treatment and type of treatment, from 2013 to 2023. Results: the region with the highest number of diagnosed cases was the Southeast, followed by the Northeast. The highest concentration of patients is in the age group between 60 and 69 years old. There were more diagnoses in 2017 and 2018. The most adopted therapeutic modality was chemotherapy. Conclusion: advanced age is a risk fator to developing prostate câncer. The Southest and Northest regions concentrate the largest number of cases. The therapeutic modality chosen depends on the individuality of each patient. Many diagnosed cases are possibly not registrated.
Keywords: Neoplasm. Prostate. Epidemiology.
1 INTRODUÇÃO
O câncer de próstata (CP) é o segundo câncer em incidência entre os homens no mundo, atrás apenas do câncer de pulmão, e a oitava causa de morte por neoplasias, incluindo ambos os sexos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2017), no Brasil, o CP é o mais comum entre os homens, excluindo o câncer de pele não melanoma, e é o segundo tipo que mais evolui para óbito nesses pacientes. É considerado um câncer de terceira idade, sendo raro antes dos 50 anos e tendo 85% dos casos sendo diagnosticados após os 65 anos. Possui etiologia ainda desconhecida e fatores de risco como idade avançada, etnia e histórico familiar (Araújo et al., 2019; Faria et al., 2020; Rego et al., 2020).
Em sua fase inicial, o câncer de próstata costuma ter evolução silenciosa, com muitos pacientes assintomáticos; em alguns casos podem aparecer sintomas, com sintomatologia que deve ser levada em consideração. Em quadros mais avançados, pode ocorrer metástase óssea e até infecção generalizada e insuficiência renal, sendo necessário auxílio médico para realização de testes que proporcionem o diagnóstico adequado (Rego et al., 2020; Santos et al., 2020).
A detecção precoce é uma importante ferramenta de diminuição da mortalidade e melhoria da qualidade de vida dos pacientes com câncer de próstata. O CP pode ser identificado com a combinação de dois exames: dosagem de PSA e toque retal. Contudo, nenhuma das duas avaliações têm 100% de precisão, por isso, podem ser necessários exames complementares. Nos casos suspeitos, é indicada biópsia prostática guiada por ultrassonografia transretal (Andrade, 2022; Araújo et al., 2019).
Sendo o CP um dos cânceres mais comuns entre os homens e diante do aumento da incidência no Brasil, o presente estudo tem como objetivo analisar o perfil epidemiológico de pacientes diagnosticados com câncer de próstata no país, a fim de auxiliar no melhor entendimento da realidade da doença nas regiões brasileiras e, assim, planejar ações de saúde voltadas para a população mais vulnerável.
O estudo justifica-se, pois através dele será possível observar as características mais prevalentes nos casos analisados e, assim, facilitar tanto o diagnóstico precoce como o manejo mais satisfatório para a doença de acordo com o contexto de cada região, conseguindo, assim, auxiliar profissionais e gestores de saúde no planejamento de ações de políticas públicas voltadas para essa problemática.
2 MÉTODOS
Tratou-se de um estudo do tipo epidemiológico, documental, quantitativo, de natureza exploratória, descritiva e retrospectiva. Por se tratar de dados públicos, disponibilizados em plataformas de livre acesso, não foi necessário o envio para o Comitê de Ética em Pesquisa, ainda assim, foi tomado todas as medidas para atender a resolução que determina os aspectos éticos em pesquisas com seres humanos.
Participaram da pesquisa todos os indivíduos de 20 a 79 anos diagnosticados com câncer de próstata registrados no Painel Oncologia Brasil – DATASUS, nas cinco regiões brasileiras, no período de 2013 a 2023. Foram selecionadas as seguintes variáveis: região do diagnóstico, idade, ano do tratamento e tipo de tratamento. Os dados foram coletados por meio da análise de registros contidos no Painel Oncologia Brasil – DATASUS a respeito dos casos de câncer de próstata ocorridos no Brasil nos anos de 2013 a 2023, através de dados fornecidos pelo próprio sistema. Os registros dos dados correspondentes ao ano de tratamento são apenas dos anos de 2016 a 2023.
Os dados obtidos foram organizados e sintetizados em tabelas e gráficos desenvolvidos nos programas Microsoft Excel. Após isso, foram analisados através de números absolutos e relativos, estatística básica na base 100 e cálculos de porcentagem dos casos encontrados.
3 RESULTADOS
No presente estudo, foi analisado o perfil epidemiológico de pacientes de 20 a 69 anos diagnosticados com câncer de próstata no Brasil nos anos 2013 a 2023, quantificando os casos, identificando as modalidades terapêuticas utilizadas e fazendo um comparativo entre as diferentes regiões brasileiras.
Os gráficos de 1 a 4 apresentando os resultados encontrados constam em anexos. Foram analisados 12.375 casos diagnosticados, na faixa etária dos 20 a 69 anos, de câncer de próstata no Brasil nos anos de 2013 a 2023.
A região que apresentou o maior número de casos correspondeu à região Sudeste (com mais de 50% dos casos), seguida da região Nordeste (22,7%). A menor quantidade de casos foi encontrada na região Norte do país (3,4%). A maior concentração de casos diagnosticados ocorreu em indivíduos entre 60 e 69 anos (75% do total). O maior número de diagnósticos se concentrou nos anos de 2017 e 2018 (55,7% e 30,7%, respectivamente). A modalidade terapêutica mais adotada foi a quimioterapia (56%). Poucos indivíduos fizeram uso de mais de um tipo de tratamento (0,44%).
4 DISCUSSÃO
Segundo o INCA, 2023, ao fazer o recorte de número de casos de câncer de próstata (CP) por região brasileira, a prevalência ocorreu na região Sudeste (77,89/100 mil habitantes), com a região Nordeste em sequência (73,28/100 mil). O Norte configurou-se com o menor número de pacientes (28,4/100 mil). Esses dados confirmam o que foi analisado pelo presente estudo. Ao discutir-se a respeito da região Sudeste, a grande concentração de casos diagnosticados pode ocorrer em razão não só do envelhecimento populacional que vem acontecendo ao longo dos anos, mas também devido ao avanço tecnológico e a maior facilidade e acessibilidade de chegar ao diagnóstico nessa região. Porém, quando se trata da região Nordeste, essa realidade marcada por uma grande quantidade de indivíduos com câncer de próstata pode estar relacionada, em contrapartida, a uma dificuldade maior de acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, há um maior número de homens desenvolvendo a doença.
Ao observar o cenário geral encontrado nos registros do Painel Oncologia – DATASUS, é possível perceber que a disparidade na quantidade de casos diagnosticados ratifica o que já foi afirmado por Santos, 2018, caracterizando-se como um reflexo das desigualdades regionais existentes no Brasil, que abrange desde as diferenças na expectativa de vida, nas condições socioeconômicas, até a maior/menor facilidade de acesso ao diagnóstico precoce e tratamento adequado.
A idade avançada constitui-se como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de próstata, uma vez que tanto a incidência como a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos. De acordo com o INCA, 2023, o CP, mais do que qualquer outro tipo de neoplasia, é considerado o câncer da terceira idade, uma vez que 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. Segundo Bashir, 2015, a idade, especialmente acima dos 55 anos, aumenta o risco do CP em 17 vezes.
Nesse sentido, os resultados encontrados pelo presente estudo, conforme demonstrados na tabela 2, reafirmaram a idade como um fator de risco importante para o desenvolvimento da neoplasia prostática, pois 75% dos casos diagnosticados registrados pelo Painel Oncologia encontraram-se entre os indivíduos com mais de 60 anos. Esses resultados também corroboram outros estudos, como os realizados por Rego et al., 2020, em que cerca de 85% dos casos também estavam nessa faixa etária, e por Faria et al., 2020, em que a faixa etária dos 60 aos 69 anos também foi responsável pela maioria dos casos.
Em relação aos dados encontrados quanto ao número de casos registrados por ano de diagnóstico, a plataforma utilizada (Painel Oncologia – DATASUS) apresentou apenas os referentes a partir do ano de 2016. A presente pesquisa obteve como resultados expostos uma maior concentração de diagnósticos nos anos de 2017 (55,77%) e de 2018 (30,7%). Esse resultado vai ao encontro de dados já discutidos na Literatura, uma vez que Faria et al., 2020, em seu estudo, ao analisar o número total de casos de câncer de próstata, também identificou o maior número registrado durante 2017. Entretanto, nesse estudo, houve um decréscimo de novos casos em 2018, contrapondo o que foi encontrado nesta atual pesquisa.
Esses resultados encontrados podem trazer à tona, também, uma discussão a respeito de um provável sub-registro do número de casos de câncer de próstata diagnosticados no Brasil. Consoante o INCA, 2023, a estimativa é de que, a partir desse ano, há a estimativa de 71,7 mil novos casos por ano. No entanto, nos dados registrados pelo sistema estudado, foram apontados apenas 158 casos no ano de 2023, o que pode inclusive, interferir nas análises realizadas durante a pesquisa.
As modalidades terapêuticas registradas como tratamentos para os casos de CP no país correspondem às indicadas pela Literatura. As terapias costumam envolver combinação de cirurgia, radiação e quimioterapia, e a seleção do tratamento mais adequado é baseada na expectativa de vida do paciente, no PSA, no Escore de Gleason, no estádio da doença, nas comorbidades e efeitos secundários e na preferência do indivíduo acometido (Bravo et al., 2022). Nessa perspectiva, os dados correspondentes a cada terapêutica adotada dependem do estadiamento em que a doença foi diagnosticada.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do presente estudo realizado, pode-se concluir que o câncer de próstata no Brasil segue sendo uma doença de acometimento maior na idade avançada, mais precisamente, a partir dos 60 anos, sendo as regiões Nordeste e Sudeste as que possuem maior concentração de casos. Ademais, as terapias utilizadas variam de acordo com a individualidade de cada paciente, sendo a quimioterapia e a cirurgia as que ainda são mais utilizadas no país.
O trabalho foi produzido de forma coerente e bem aprofundada, e os objetivos foram alcançados. Entretanto, algumas dificuldades foram encontradas durante a realização da pesquisa, dentre elas, a reduzida quantidade de dados, em razão de um possível subregistro de casos diagnosticados, e a falta de rastreamento da população durante os anos antecedentes à 2016.
Nesse sentido, o estudo tem sua importância ao traçar o perfil epidemiológico que comprova a relação entre fatores de risco como o avançar da idade masculina e a ocorrência de câncer de próstata; bem como confirma a necessidade de uma melhor operacionalização do sistema, na tentativa de registrar a real quantidade de casos da doença que são diagnosticados no Brasil. Dessa forma, medidas como um políticas de saúde que tornem mais acessíveis a prevenção e o diagnóstico precoce do CP e um registro mais eficaz do número de homens diagnosticados no país podem auxiliar no maior controle da doença.
ANEXOS
Gráfico 1: Porcentagem de casos de câncer de próstata em indivíduos de 20 a 69 anos, por região brasileira, de 2013 a 2023.
Fonte: Painel Oncologia – DATASUS.
Gráfico 2: Porcentagem de casos de câncer de próstata em indivíduos de 20 a 69 anos no Brasil, por idade, de 2013 a 2023.
Fonte: Painel Oncologia – DATASUS.
Gráfico 3: Porcentagem de casos de câncer de próstata em indivíduos de 20 a 69 anos no Brasil, por ano de diagnóstico, de 2013 a 2023*.
Fonte: Painel Oncologia – DATASUS.
Tabela 4: Porcentagem de casos de câncer de próstata em indivíduos de 20 a 69 anos no Brasil, por tipo de tratamento, de 2013 a 2023.
Fonte: Painel Oncologia – DATASUS.
REFERÊNCIAS
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