REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410252331
Cláudia Nayana Viegas Ferreira Mendes,
Gabriella Borges Lima Santos,
Aline Thays Pinheiro Montelo,
Raphael Barreto Lima,
Orientadora: Dra Karlinne Maria Martins Duarte
RESUMO
O estudo aborda as mudanças hormonais e fisiológicas durante a gestação, que afetam diretamente a saúde bucal da gestante e podem ter impactos no bebê. O objetivo do trabalho é destacar a importância do pré-natal odontológico, abordando as doenças bucais mais prevalentes em gestantes, os impactos dessas condições no desenvolvimento fetal, os cuidados necessários no manejo clínico das gestantes, e a importância de uma abordagem multidisciplinar no atendimento. A metodologia foi baseada em uma revisão de literatura integrativa, utilizando bases de dados como PubMed, Scielo e Google Acadêmico, com descritores em português e inglês. Foram incluídos estudos publicados entre 2009 e 2024 que discutem intervenções odontológicas em gestantes e a relevância do pré-natal odontológico. Os resultados indicam que a gengivite e periodontite são condições comuns durante a gravidez, podendo levar a complicações como parto prematuro e bebês de baixo peso. O acompanhamento odontológico adequado, realizado de forma multidisciplinar, contribui para a prevenção desses problemas e melhora o bem-estar da gestante e do bebê.
Palavras Chaves: Gestantes. Saúde bucal. Cuidado pré-natal.
ABSTRACT
The study addresses the hormonal and physiological changes during pregnancy that directly affect the oral health of the pregnant woman and can have an impact on the baby. The objective of the work is to highlight the importance of prenatal dental care, addressing the most prevalent oral diseases in pregnant women, the impacts of these conditions on fetal development, the necessary care in the clinical management of pregnant women, and the importance of a multidisciplinary approach in care. The methodology was based on an integrative literature review, using databases such as PubMed, Scielo, and Google Scholar, with descriptors in Portuguese and English. Studies published between 2009 and 2024 that discuss dental interventions in pregnant women and the relevance of prenatal dental care were included. The results indicate that gingivitis and periodontitis are common conditions during pregnancy, potentially leading to complications such as premature birth and low birth weight. Proper dental care, carried out in a multidisciplinary manner, contributes to the prevention of these problems and improves the well-being of both the pregnant woman and the baby.
Palavras chaves: Oral health, Pregnant woman. Primary health care.
1 INTRODUÇÃO
A gestação é um período de intensas transformações fisiológicas na mulher, que se manifestam por meio de várias alterações temporárias que podem influenciar seu bem-estar, percepção e interação com o meio. Entre essas mudanças, destacam-se as que ocorrem na cavidade oral, o que exige uma abordagem diferenciada no cuidado odontológico das gestantes, necessitando de um acompanhamento ou intervenção odontológica especializada, além de cuidados preventivos e emocional (NASCIMENTO et al., 2021).
A importância da atenção odontológica durante o período pré-natal é amplamente reconhecida no contexto da saúde materno-infantil. Esse período é caracterizado por alterações fisiológicas e hormonais que podem predispor ao desenvolvimento de diversas condições odontológicas, como cáries e doenças periodontais. Essas condições não apenas afetam a saúde bucal da gestante, mas também têm implicações diretas na saúde do feto, associando-se a desfechos adversos, como o nascimento prematuro e o baixo peso ao nascer (GUIMARÃES et al., 2021). Nesse contexto, a caderneta da gestante, oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), incluem orientações específicas sobre a saúde bucal e o pré-natal odontológico, promovendo o acompanhamento adequado e a conscientização da gestante sobre a importância de manter a saúde bucal durante a gravidez. A integração do pré-natal odontológico no cuidado global da gestante é fundamental para garantir uma gestação mais saudável e prevenir complicações para a mãe e o bebê.
A formação acadêmica e a prática clínica dos cirurgiões-dentistas são aspectos fundamentais para garantir um atendimento odontológico de qualidade. No entanto, observa-se uma lacuna significativa no que tange ao preparo desses profissionais para o atendimento de grupos específicos, como é o caso das gestantes. A hesitação em proceder com tratamentos odontológicos nesse grupo pode ser atribuída a uma série de fatores, incluindo a insegurança relacionada ao uso de radiografias, a escolha do anestésico adequado, a definição dos procedimentos que podem ser realizados com segurança e a determinação do momento mais apropriado para o tratamento durante a gestação (NASCIMENTO et al., 2021).
A importância da comunicação efetiva e do trabalho em equipe no contexto da assistência pré-natal é fundamental para garantir a qualidade do atendimento oferecido às gestantes. A ausência de uma visão integrada e colaborativa entre os profissionais de saúde pode resultar em uma deficiência na troca de informações, ocasionando falhas na comunicação (SANTOS et al.,2023).
Alguns conceitos equivocados sobre o tratamento bucal durante a gravidez são ainda defendidos por alguns profissionais de saúde, alimentando assim inverdades e mitos. O dentista deveria ser o promotor de mudança e desconstrução dessas ideias errôneas relacionadas ao atendimento odontológico (SOARES et al., 2009)
É fundamental que os dentistas compreendam as alterações que ocorrem durante a gravidez para prever possíveis problemas e garantir a segurança dos tratamentos. No entanto, muitos desses profissionais não recebem uma preparação adequada para lidar com pacientes grávidas, o que pode explicar em parte o receio em oferecer atendimento a elas (MARTINELLI et al., 2020).
Essas falhas podem levar a lacunas no cuidado prestado, comprometendo a segurança e a eficácia dos serviços e cuidados disponibilizados às pacientes. Especificamente no que tange à saúde bucal durante a gestação, a limitação na comunicação pode restringir o acesso das gestantes a informações vitais, prejudicando assim a prevenção e o manejo de possíveis complicações odontológicas que podem afetar tanto a mãe quanto o bebê (SANTOS et al.,2023).
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi trazer a importância do pré-natal odontológico, enfatizando: as doenças mais prevalentes em gestantes, impactos no bebê, cuidados no manejo da gestante e multidisciplinaridade do pré-natal.
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura, onde foi realizado uma busca em bases de dados eletrônicas, como PubMed e Google Acadêmico, utilizando as palavras chaves: Gestantes; Saúde bucal; Cuidado pré-natal, na língua inglesa e portuguesa. Os critérios de inclusão foram: estudos publicados em inglês ou português, estudos que investiguem intervenções odontológicas em gestantes,e a importância do pré-natal odontológico. Outro critério de inclusão foi a data de publicação do artigo, priorizando os mais recentes (2009-2024) e que estavam disponíveis para download.
Os critérios de exclusão foram artigos duplicados e resumos.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1-PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NA CAVIDADE BUCAL
Durante a gravidez, uma série de alterações fisiológicas e hormonais ocorrem no corpo da mulher, algumas das quais podem aumentar o risco de desenvolvimento de doenças bucais (CELESTINO et al., 2022).
Nesse período, ocorrem aumentos significativos nos níveis hormonais, como estrogênio e progesterona. Essas mudanças podem aumentar o fluxo sanguíneo para a gengiva, tornando-as mais sensíveis e suscetíveis à inflamação, o que pode levar à gengivite gestacional (MARTINELLI et al., 2020)
A gengivite gestacional é uma condição comum durante a gravidez, caracterizada por gengivas vermelhas, inchadas e sensíveis. Isso ocorre devido à resposta exagerada do corpo às bactérias presentes na placa dental, que pode levar a uma inflamação gengival mais pronunciada do que o habitual (CARVALHO et al., 2019).
Se a gengivite gestacional não for tratada adequadamente, ela pode progredir para uma forma mais grave de doença gengival chamada periodontite. A periodontite envolve a perda de osso e tecido de suporte ao redor dos dentes e pode levar à mobilidade e perda dentária. Está associada a um risco aumentado de parto prematuro e bebês com baixo peso ao nascer. Durante a gravidez, a inflamação crônica das gengivas pode causar uma resposta inflamatória sistêmica que afeta o útero, levando a contrações prematuras e parto prematuro. Além disso, as bactérias da periodontite podem entrar na corrente sanguínea da mãe, chegando ao útero e desencadeando uma resposta inflamatória que contribui para o parto antecipado (CARVALHO et al., 2019)
Mudanças nos hábitos alimentares durante a gravidez, como desejos por alimentos açucarados ou uma dieta menos equilibrada, podem aumentar o risco de cárie dentária. Além disso, o vômito frequente, especialmente durante o primeiro trimestre, pode expor os dentes ao ácido gástrico, o que pode desmineralizar o esmalte e aumentar o risco de lesões cariosas e sensibilidade (MARTINELLI et al., 2020)
A redução do fluxo salivar, conhecida como xerostomia, é um quadro clínico comum durante a gravidez, que também está associado ao quadro hormonal da gestante. Durante a gravidez, os níveis de progesterona aumentam significativamente, e esse aumento pode levar à redução da produção de saliva. Isso ocorre porque a progesterona interfere na resposta das glândulas salivares à estimulação nervosa, resultando em uma diminuição na secreção de saliva. A saliva tem um papel importante na proteção dos dentes contra a cárie, pois ajuda a neutralizar os ácidos produzidos pelas bactérias no biofilme dental. (SANTOS et al., 2022; PEREIRA et al., 2021)
É fundamental salientar que as mudanças hormonais durante a gravidez certamente afetam significativamente a fisiologia oral, mas é importante ressaltar que a gravidez não é o fator exclusivo que desencadeia tais manifestações. Em vez disso, essas alterações tendem a agravar condições pré-existentes ou criar um ambiente oral mais propenso ao desenvolvimento de problemas dentários caso a saúde bucal não seja devidamente cuidada (GUIMARAES,2021).
Por esse motivo, é crucial enfatizar que a manutenção de uma boa saúde bucal antes e durante a gravidez é essencial para prevenir ou minimizar o impacto das mudanças hormonais na cavidade oral. O cuidado preventivo, incluindo visitas regulares ao dentista, escovação adequada, uso de fio dental e uma dieta equilibrada, desempenha um papel fundamental na promoção da saúde bucal durante a gravidez e além (GUIMARÃES, 2021).
3.2-IMPACTOS NO BEBÊ
O parto pré-termo (antes de 37 semanas) e o baixo peso ao nascer são condições associadas a riscos significativos de mortalidade e problemas de saúde para recém-nascidos, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Fatores como má nutrição, infecções e condições ligadas à pobreza contribuem para o baixo peso, que pode resultar em impactos cognitivos e comportamentais na vida da criança. Por ser um problema com várias causas, é um desafio de saúde pública que exige ações coordenadas em diversas áreas (LÍBERA., et al 2021)
A saúde e a qualidade de vida da gestante e do bebê são diretamente influenciadas pela condição de higiene oral. Durante a gestação, as mudanças fisiológicas no corpo da mulher aumentam a vulnerabilidade a infecções e inflamações, como gengivite e periodontite. Esses problemas podem elevar os níveis de bactérias na cavidade oral, agravados pelo aumento do consumo de açúcar e pela dificuldade em manter uma alimentação adequada. A presença de infecções bucais afeta a saúde física, mental e social da mãe, e pode impactar o desenvolvimento do feto, tornando essencial a manutenção da saúde bucal até o parto (CARVALHO et al., 2019).
Os hormônios estrogênio e progesterona, presentes durante a gravidez e o pós-parto, provocam reações inflamatórias que aumentam o fluxo sanguíneo e modificam a flora oral. Essas mudanças aceleram o desenvolvimento do biofilme bacteriano e alteram a resposta imunológica do tecido conjuntivo, resultando na liberação de citocinas ao longo do processo inflamatório. Entre os principais problemas de saúde que afetam recém-nascidos prematuros e com baixo peso ao nascer estão: dificuldades respiratórias, transtornos neuromotores, ansiedade e maior propensão a infecções (OLIVEIRA, ROSSI 2022)
Durante a gravidez, o corpo da mãe é controlado por hormônios e sinais químicos. Infecções ou inflamações podem provocar mudanças nesses hormônios. Para proteger o bebê, o corpo pode iniciar o parto prematuro, resultando frequentemente em baixo peso ao nascer (DEGASPERI et al., 2021; PEREIRA, JUNIOR., 2022)
3.3-CUIDADOS NO ATENDIMENTO
Compreender o momento da gestação em que a paciente se encontra é crucial para o cirurgião-dentista, pois ele precisa avaliar a necessidade de medicamentos de forma responsável. Embora muitas vezes se evite a prescrição medicamentosa durante a gravidez, certos medicamentos, como corticosteroides e antibióticos, podem ser seguros.
Quando se trata de procedimentos mais invasivos, como pequenas cirurgias e tratamentos endodônticos, a escolha do anestésico preferencial é a lidocaína 2% com adrenalina 1:100000. Isso evidencia que, quando necessário, é possível realizar esses procedimentos em gestantes sem a necessidade de adiá-los para o pós-parto (SILVA et al; 2021).
O uso de mepivacaína deve ser evitado não apenas durante a gravidez, mas também na amamentação, devido à imaturidade do sistema enzimático hepático do feto e do bebê, o que dificulta a metabolização do anestésico. Tanto a mepivacaína quanto a bupivacaína devem ser usadas com cautela, pois suas altas concentrações e rápida ação podem causar bradicardia no feto. Sempre que possível, as soluções anestésicas para gestantes devem conter um vasoconstritor, mas anestésicos com felipressina, como a prilocaína, podem representar um risco significativo para o feto, pois podem induzir contrações uterinas e levar a um aborto (PEREIRA et al., 2021).
Radiografias podem ser realizadas durante a gravidez, se necessário, sem contraindicação. No entanto, é essencial seguir cuidados específicos, como o uso adequado do protetor de chumbo para cobrir completamente a região abdominal e evitar repetições desnecessárias. Embora seja importante adotar cuidados adicionais com pacientes gestantes, é fundamental compreender que tais precauções são igualmente importantes para todos os pacientes, independentemente de estarem grávidos ou não. Isso proporciona ao cirurgião-dentista a confiança necessária para realizar os procedimentos radiográficos com segurança em qualquer circunstância (SILVA et al; 2021).
Quando se trata da prescrição de medicamentos durante a gestação, analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos são as principais categorias consideradas. O Paracetamol é o analgésico mais comumente prescrito pelos cirurgiões-dentistas devido à sua segurança relativa. Em contraste, a dipirona sódica deve ser evitada durante os primeiros três meses e nas últimas semanas da gravidez, pois pode causar agranulocitose, uma condição caracterizada pela redução dos granulócitos no sangue, células essenciais para a defesa contra infecções. Devido a esse risco aumentado de infecções, a dipirona sódica é considerada um analgésico de segunda escolha (PEREIRA et al., 2021).
Quando o uso de corticosteroides for necessário, como Dexametasona ou Betametasona, deve-se optar por uma dose única de 4 mg, e somente em situações extremas. Esses corticosteroides não apresentam riscos teratogênicos significativos. Por outro lado, os anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs), como ácido acetilsalicílico, diclofenaco, ibuprofeno e naproxeno, que são frequentemente prescritos pelos cirurgiões-dentistas, não são recomendados para gestantes. Quando necessário, o ácido acetilsalicílico em pequenas doses é provavelmente mais seguro, mas deve ser interrompido antes do parto para evitar complicações como prolongamento do trabalho de parto, maior risco de hemorragia pós-parto e fechamento intrauterino do canal arterial (PEREIRA et al., 2021).
Quando se enfrenta infecções com manifestações sistêmicas e sinais de disseminação, é recomendado usar penicilinas, como amoxicilina, ampicilina, e cefalosporinas, como cefalexina, devido à sua ação bactericida e baixa toxicidade, que são seguras para a gestante e o feto. Macrolídeos como azitromicina e clindamicina, esta última indicada para pacientes alérgicos às penicilinas, também são opções eficazes. A consulta com o médico da paciente é fundamental para avaliar os riscos e benefícios desses tratamentos (SANTOS et al., 2022).
O uso de tetraciclinas é desaconselhado, pois esses antibióticos atravessam a placenta e podem afetar negativamente o desenvolvimento dos ossos e dentes do feto, causando manchas permanentes nos dentes do bebê. O metronidazol, embora possa ser administrado em pequenas doses (500 mg/dia por no máximo três dias) durante a gestação, deve ser evitado na amamentação, pois pode ser transferido para o leite materno, o que pode resultar em toxicidade para o bebê e outros efeitos adversos (SANTOS et al., 2022; PEREIRA et al., 2021).
Ao tratar gestantes, o dentista deve avaliar o estágio da gravidez e a natureza do problema odontológico. O segundo trimestre é geralmente o momento mais seguro para realizar procedimentos odontológicos. No entanto, em emergências, o tratamento deve ser realizado independentemente do estágio da gestação. Procedimentos como endodontia, extrações e drenagens precisam ser feitos com anestésicos e medicamentos apropriados para gestantes, sem atraso, para minimizar riscos para a mãe e o feto (SANTOS et al., 2022; PEREIRA et al., 2021).
3.4-MULTIDISCIPLINARIEDADE
A colaboração entre diversas áreas e profissionais desempenha um papel essencial na oferta de cuidados integrados às gestantes, destacando-se como um ponto crucial em programas de educação continuada e treinamento profissional. O acolhimento da gestante para o pré-natal deve começar quando ela busca assistência em uma unidade de saúde. A equipe multidisciplinar deve se dedicar a ouvir e observar atentamente a gestante, buscando identificar suas necessidades e planejar um acompanhamento que beneficie tanto a mãe quanto o bebê. Nesse contexto, a participação do cirurgião-dentista no atendimento multidisciplinar da gestante vem ganhando destaque dentro das equipes de saúde. Os profissionais, como médicos e enfermeiros, reconhecem a importância dos cuidados odontológicos durante a gestação, promovendo uma relação profissional mais sólida e eficaz (CUNHA; LEITE 2021).
É imprescindível que os cirurgiões-dentistas possuam a formação e a preparação necessárias para orientar as gestantes e os demais membros da equipe multidisciplinar sobre a relevância das medidas de prevenção e reabilitação da saúde bucal durante a gravidez. Adicionalmente, os odontólogos podem utilizar as reuniões de equipe como uma ferramenta para promover o diálogo entre os profissionais, enfatizar a importância do cuidado odontológico e incentivar a participação das gestantes, garantindo que todas recebam a devida assistência (NETO et al., 2012)
No Brasil, a assistência à saúde das mulheres tem recebido melhorias constantes para facilitar o acesso. A Estratégia de Saúde da Família é essencial, funcionando como uma ponte entre os diferentes serviços de saúde. Ela desempenha um papel vital no acompanhamento das gestantes e na gestão de saúde durante a gravidez (BRANDÃO; MATOS; SOUTO., 2023)
Na consulta odontológica com a gestante é feito o preenchimento de dados importantes para o acompanhamento da saúde bucal, conforme Figura 1.
Figura 1: Parte da caderneta da gestante – Consulta Odontológica
Fonte: bvsms.saude.gov.br
4 DISCUSSÃO
As alterações hormonais e fisiológicas durante a gestação são amplamente reconhecidas por provocar mudanças significativas na cavidade oral, especialmente com o aumento dos níveis de estrogênio e progesterona. A maioria dos autores concorda que essas mudanças aumentam a susceptibilidade à gengivite gravídica, uma condição que, se não tratada, pode evoluir para periodontite (LOPES et al., 2024; MARTINELLI et al., 2020). No entanto[KM2] , há certa divergência em relação à gravidade desses efeitos, com alguns estudos afirmando que essas alterações hormonais apenas exacerbam condições preexistentes e que a gravidez, por si só, não desencadeia problemas bucais (GUIMARÃES, 2021; MARTINELLI et al., 2020).
Além disso, enquanto muitos pesquisadores destacam que a redução do fluxo salivar e o aumento de desejos alimentares ricos em açúcar durante a gravidez podem aumentar o risco de cáries, outros sugerem que esses fatores são mais dependentes dos hábitos de higiene bucal da gestante do que das mudanças hormonais propriamente ditas (MARTINELLI et al., 2020; CARVALHO et al., 2019). Assim, há uma convergência em torno da ideia de que a saúde bucal da gestante pode ser afetada por essas alterações, mas a extensão dos efeitos pode variar de acordo com a saúde bucal prévia da paciente.
Em relação aos impactos das doenças bucais da gestante no bebê, há uma convergência significativa entre os estudos que indicam que doenças periodontais não tratadas podem aumentar o risco de partos prematuros e bebês com baixo peso ao nascer (OLIVEIRA; ROSSI, 2022; SARAIVA; QUEIROZ; ROCHA, 2022). As bactérias bucais, especialmente as associadas à periodontite, podem entrar na corrente sanguínea e alcançar a placenta, desencadeando uma resposta inflamatória que pode prejudicar o desenvolvimento fetal.
No entanto, existem contradições quanto à transmissão direta de bactérias da mãe para o bebê durante ou após o parto. Enquanto alguns estudos sugerem que a transmissão pode ocorrer, agravando o risco de complicações na saúde bucal do recém-nascido, outros apontam que essa transmissão é mais limitada e depende de fatores externos, como a higiene após o nascimento (MARTINELLI et al., 2020; SILVA et al., 2021). Essas divergências sugerem que mais pesquisas são necessárias para estabelecer com maior clareza o impacto direto da saúde bucal da mãe na saúde inicial do bebê.
O uso de medicamentos durante a gestação é uma área que gera debates, especialmente em relação à segurança de anestésicos, analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos. Há consenso de que a lidocaína é o anestésico local mais seguro para uso durante a gravidez, sendo amplamente recomendado (LOPES et al., 2024; PEREIRA et al., 2021). No entanto, o uso de anestésicos como a mepivacaína e a bupivacaína é alvo de controvérsia, já que alguns estudos apontam riscos à gestante e ao feto, incluindo bradicardia fetal e contrações uterinas, enquanto outros afirmam que esses anestésicos podem ser utilizados em doses controladas e monitoradas (PEREIRA et al., 2021. OLIVEIRA; ROSSI, 2022).
No caso dos analgésicos, o paracetamol é geralmente considerado seguro, mas a dipirona sódica levanta preocupações, especialmente em relação ao aumento do risco de agranulocitose e infecções (SANTOS et al., 2022. OLIVEIRA; ROSSI, 2022). A divergência aqui reside na escolha de quando e como utilizá-los, com alguns protocolos sugerindo a suspensão de certos medicamentos nas fases finais da gravidez, enquanto outros consideram seu uso seguro em situações controladas.
Quanto aos anti-inflamatórios, como ibuprofeno e ácido acetilsalicílico, as opiniões são divergentes. Alguns autores defendem seu uso em doses baixas e controladas, especialmente em situações de emergência, enquanto outros desaconselham totalmente seu uso durante a gestação devido ao risco de fechamento prematuro do ducto arterioso e hemorragia (PEREIRA et al., 2021 .SANTOS et al., 2022).
Por fim, no que tange aos antibióticos, a amoxicilina e a clindamicina são consideradas seguras para gestantes. No entanto, o uso de metronidazol e tetraciclina é contraindicado devido ao risco de efeitos adversos tanto para a mãe quanto para o feto. O metronidazol, embora às vezes utilizado em pequenas doses, também deve ser evitado durante a amamentação, o que gera contradições sobre a melhor abordagem a ser seguida (PEREIRA et al., 2021; SANTOS et al., 2022).
5 CONCLUSÃO
Durante a gestação, a mulher passa por diversas alterações hormonais, como o aumento da progesterona e estrogênio, que afetam diretamente a cavidade bucal. Essas mudanças podem resultar em maior susceptibilidade a problemas como gengivite e periodontite, além de uma tendência ao aumento de cáries devido à xerostomia (boca seca) e aos desejos alimentares alterados, como maior consumo de açúcares. Essas condições, se não tratadas, podem agravar o quadro de saúde bucal da gestante e impactar o bem-estar geral.
Os impactos no bebê podem ser significativos, especialmente se a mãe apresentar infecções bucais não tratadas, como periodontite. A presença de bactérias associadas à periodontite pode entrar na corrente sanguínea da gestante e alcançar a placenta, aumentando o risco de parto prematuro e de bebês com baixo peso ao nascer. Além disso, o estado de saúde bucal da mãe durante a gestação pode influenciar o desenvolvimento da saúde bucal do bebê após o nascimento.
O dentista tem um papel crucial no pré-natal, podendo melhorar significativamente a saúde da gestante e do bebê ao realizar orientações e tratamentos preventivos. Procedimentos odontológicos seguros devem ser realizados no segundo trimestre, utilizando anestésicos adequados como a lidocaína. Além disso, o dentista pode educar a gestante sobre a importância da higiene bucal, prevenindo problemas que podem impactar a gravidez e o desenvolvimento do bebê.
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