ANALYSIS OF THE KNOWLEDGE OF PREGNANT AND PUERPERAL WOMEN ABOUT THE IMPORTANCE OF NEONATAL SCREENING IN A HEALTH UNIT AND ITS IMPACTS WHEN NEGLECTED
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410260754
Emanuela Oliveira de Gouvea;
Maria Paula Procópio Nunes;
Orientadora: Márcia Dorcelina Trindade Cardoso.
RESUMO
A triagem neonatal a partir da matriz biológica “teste do pezinho”, é um exame fundamental realizado em recém-nascidos para o rastreamento de doenças genéticas, metabólicas e infecciosas que podem cursar problemas de saúde ou deficiências irreversíveis caso seja negligenciado. O teste do pezinho é uma política de saúde pública adotada em muitos países, incluindo o Brasil, e é amplamente reconhecido como um dos procedimentos mais importantes na medicina preventiva, de forma a garantir a integralidade do cuidado e acesso universal. Dessa forma, houve a criação do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) em 2001, para promover e implementar as ações de rastreamento com foco especialmente à prevenção, intervenção precoce e acompanhamento das crianças cuja doença esteja incluída nos critérios do programa. É necessário que a equipe de saúde oriente a gestante durante o pré-natal, e as puérperas, assim como seus respectivos acompanhantes, sobre como e onde realizar o “teste do pezinho”, destacando sua finalidade para garantir a conscientização efetiva. Portanto, o presente estudo visa analisar o nível de conhecimento acerca da triagem neonatal em gestantes e puérperas na rede pública de saúde. Assim como, apresentá-las a importância do rastreamento em tempo oportuno a fim de gerenciar os casos positivos através de monitoramento e acompanhamento durante o tratamento.
Palavras-chave: triagem neonatal, PNTN, rastreamento.
ABSTRACT
Neonatal screening based on the “heel prick test” biological matrix is a fundamental test performed in newborns for the screening of genetic, metabolic, and infectious diseases that can lead to health problems or irreversible deficiencies if neglected. The heel prick test is a public health policy adopted in many countries, including Brazil, and is widely recognized as one of the most important procedures in preventive medicine, in order to guarantee comprehensive care and universal access. Thus, the National Neonatal Screening Program (PNTN) was created in 2001, to promote and implement screening actions with a special focus on prevention, early intervention, and monitoring of children whose disease is included in the program’s criteria. It is necessary that the health team guide the pregnant woman during the prenatal period, and the puerperal women, as well as their respective companions, on how and where to perform the “heel prick test”, highlighting its purpose to ensure effective awareness. Therefore, the present study aims to analyze the level of knowledge about neonatal screening in pregnant and postpartum women in the public health network. As well as introduce them to the importance of tracking in a timely manner to manage positive cases through monitoring and follow-up during treatment.
Keywords: Neonatal screening; PNTN; tracking.
RESUMEN
El cribado neonatal a partir de la matriz biológica “prueba del talón” es un examen fundamental realizado en recién nacidos para la detección de enfermedades genéticas, metabólicas e infecciosas que pueden ocasionar problemas de salud o discapacidades irreversibles si no se detectan a tiempo. La prueba del talón es una política de salud pública adoptada en muchos países, incluyendo Brasil, y es ampliamente reconocida como uno de los procedimientos más importantes en la medicina preventiva, para garantizar la integralidad del cuidado y el acceso universal. De esta manera, en 2001 se creó el Programa Nacional de Cribado Neonatal (PNTN) para promover e implementar acciones de cribado con un enfoque especial en la prevención, la intervención precoz y el seguimiento de los niños cuyas enfermedades estén incluidas en los criterios del programa. Es necesario que el equipo de salud oriente a la gestante durante el prenatal, y a las puérperas, así como a sus respectivos acompañantes, sobre cómo y dónde realizar la “prueba del talón”, destacando su propósito para garantizar una concienciación efectiva. Por lo tanto, el presente estudio tiene como objetivo analizar el nivel de conocimiento sobre el cribado neonatal en gestantes y puérperas en la red pública de salud. Así como, presentarles la importancia del cribado en tiempo oportuno con el fin de gestionar los casos positivos a través del monitoreo y seguimiento durante el tratamiento.
Palabras clave: cribado neonatal, PNTN, cribado.
1. INTRODUÇÃO
A Triagem Neonatal Biológica (TNB) é um conjunto de ações preventivas, capaz de identificar precocemente indivíduos com doenças metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas, para que possam ser tratados em tempo oportuno, evitando as sequelas e, até mesmo, a morte. Além disso, a TNB propõe o gerenciamento dos casos positivos através de monitoramento e acompanhamento da criança durante o tratamento (BRASIL, 2016).
Ademais, houve a criação do Programa Nacional de Triagem Neonatal – PNTN, em 6 de junho de 2001, que é considerado um programa de grande relevância nacional no Sistema Único de Saúde por contemplar os princípios e diretrizes fundamentais do SUS. O Programa tem em seu escopo seis doenças: Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Doença Falciforme e outras hemoglobinopatias, Fibrose Cística, Hiperplasia Adrenal Congênita e Deficiência de Biotinidase. Contudo, também são realizados exames de rastreamento que correspondem às alterações auditivas, cardíacas, visuais e no frênulo lingual que são contemplados respectivamente pela triagem auditiva (teste da orelhinha), teste da oximetria de pulso (teste do coraçãozinho), teste do reflexo-vermelho (teste do olhinho) e o teste da linguinha (BRASIL, 2016).
Apesar do avanço nas técnicas diagnósticas e terapêuticas na medicina, a importância e eficácia da triagem neonatal ainda não é reconhecida por grande parte da população. Nesse contexto, a heterogeneidade demográfica, econômica, cultural e política do Brasil contribui para a não abrangência significativa do rastreamento de doenças congênitas, destacando-se as patologias relacionadas com o rastreamento feito através do teste do pezinho (BOTLER et al., 2010).
De acordo com Mallmann, Tomasi e Boing, (2019) a procura por atendimento à saúde varia de acordo com a renda. A principal demanda provém de famílias com maior benefício financeiro, que, consequentemente, possuem associação com maior grau de escolaridade. Dessa forma, a população de alta renda dispõe de um maior conhecimento acerca da importância da realização dos testes de rastreio, de modo a possuir melhores oportunidades em termos financeiros de viabilizá-los, além de, potencialmente, residir em lugares com maior facilidade de acesso aos serviços de saúde (MALLMANN, TOMASI, BOING, 2019). Portanto, é necessário promover, implantar e implementar ações do Programa Nacional de Triagem Neonatal no âmbito do SUS, almejando o acesso universal, integral e equânime, com foco na prevenção, na intervenção precoce e no acompanhamento permanente das pessoas com as doenças incluídas no Programa (BRASIL, 2016). Sendo assim, cabe aos médicos que atendem famílias de menor benefício financeiro, instruir pais e responsáveis durante consultas do pré-natal sobre a necessidade e a importância de testar os recém-nascidos, contando que o teste do pezinho seja realizado no período ideal.
Como objetivo geral, o presente trabalho busca compreender a importância e o caráter indispensável da triagem neonatal através do teste do pezinho, destacando a necessidade de efetuá-lo até o 28º dia de vida. Nesse contexto, ainda, salientar quais doenças são preveníveis pelo rastreamento precoce, a fim de discutir os impactos gerados pela negligência frente ao teste do pezinho. Ademais, evidenciar a relevância do conhecimento médico diante a situação supracitada, para que haja um atendimento mais eficiente, o qual enfatize a atenção diferencial ao Sistema Único de Saúde. Já como objetivo específico, a intenção é evidenciar aos familiares o sucesso da triagem neonatal com ênfase no teste do pezinho e o impacto gerado na vida do recém-nascido. Além disso, com a pesquisa de campo, espera-se encontrar e compreender as principais falhas na abrangência homogênea do rastreamento precoce.
Percebe-se que é de grande relevância que as puérperas e gestantes reconheçam a importância da triagem neonatal, como uma ferramenta capaz de rastrear possíveis doenças, cujo descobrimento tardio pode causar graves consequências ao desenvolvimento infantil. Em casos de negligência, muitos recém-nascidos serão prejudicados, pois não será possível identificar a doença alvo ainda em fase pré-sintomática e, dessa forma, permitir intervenções precoces, prevenção de manifestações e acompanhamento da saúde da criança. Nesse viés, é de suma importância que haja a acompanhamento pré-natal e puerperal adequado, a fim de realizar o teste do pezinho no período preconizado.
2. METODOLOGIA
Foi realizado um estudo descritivo transversal analítico estatístico que teve sua população composta por gestantes e puérperas, o qual o critério de inclusão se baseou em mulheres maiores de 18 anos, usuárias do Sistema Único de Saúde da Policlínica de Três Poços, em consultas de pré-natal e pediátricas, e foram excluídas da entrevista todas as gestantes e puérperas menores de 18 anos. A coleta de dados foi realizada no início no segundo semestre de 2023, após o estudo ser submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UniFOA e aprovado pela plataforma
Brasil sob o número de documento 77469423.6.0000.5237, por meio de aplicação de questionário, o qual foi elaborado a partir de levantamentos bibliográficos e estruturado de forma a analisar os conhecimentos das mulheres selecionadas para a pesquisa online (anexado a este projeto de pesquisa no APÊNDICE A). O estudo vigente aborda questões sobre a importância da triagem neonatal, através da ferramenta Google Forms, voltado para gestantes e puérperas, que frequentaram a Policlínica Doutor Professor André Bianco, no Bairro Três Poços da cidade de Volta Redonda – RJ, dentro do campus Olezio Galotti do Centro Universitário de Volta Redonda UniFOA.
O termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) foi adotado durante todo o processo de aplicação do questionário, de modo a conter questões acerca da triagem neonatal, levando em consideração o consentimento das participantes. Os autores da pesquisa tiveram o compromisso formal de separar a identificação do e-mail dos questionários respondidos, de modo a assegurar o total anonimato do sujeito da pesquisa. Os autores também arquivaram os questionários de forma anônima. A partir da submissão do questionário, ao obter os resultados, foi feita uma análise estatística do nível de conhecimento das entrevistadas sobre o assunto e seu entendimento da importância dos testes de triagem neonatal e a realização no período preconizado.
Para a elaboração do questionário online e da revisão de literatura do presente trabalho, realizou-se um levantamento bibliográfico utilizando os seguintes bancos de dados: Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e PubMed, além do Manual Técnico de Triagem Neonatal Biológica do Ministério da Saúde. Na pesquisa, foram utilizados os descritores DeCS/MeSH: Triagem Neonatal, Rastreamento de doenças na infância e Teste do Pezinho. Ademais, também foram consultadas as versões em inglês dos descritores: Neonatal Screening, Childhood Disease Screening e Heel prick test. Os critérios de inclusão utilizados na seleção dos artigos foram: período de publicação entre os anos de 2007 a 2022, estudos publicados nos idiomas português e inglês, estudos relacionados ao tema e disponibilidade do texto completo. Os critérios de exclusão foram: publicações duplicadas, estudos sem texto completo disponível e artigos que não abordavam o tema da pesquisa de forma abrangente. Assim, foram obtidos 55 resultados de artigos em português e 347 em inglês, dos quais apenas 14 foram selecionados pelos autores, visando utilizar apenas artigos completos que abordassem aspectos importantes sobre o teste do pezinho e sua relevância, e foram excluídos todos os artigos que abordassem questões tangenciais ao tema.
O questionário (anexado a este projeto de pesquisa no APÊNDICE A), foi desenvolvido de acordo com os termos do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para garantir que as participantes concordem em participar da pesquisa. Ele é estruturado de forma a coletar informações relevantes sobre o conhecimento das gestantes e puérperas em relação à triagem neonatal. Aqui está uma descrição dos objetivos referentes as perguntas do questionário:
Quadro 1 – Objetivos norteadores referentes as perguntas do questionário
1. Pergunta inicial de consentimento para a pesquisa. |
2. Coleta de informações demográficas sobre a idade da participante. |
3. Avaliação se a participante realizou consultas de pré-natal. |
4. Avaliação do nível de conhecimento da participante sobre triagem neonatal. |
5. Verificação se houve discussão com o médico sobre a importância dos testes de triagem neonatal. |
6. Avaliação do conhecimento da participante sobre as doenças preveníveis pela triagem neonatal. |
7. Investigação do conhecimento sobre o período ideal para realização dos testes de triagem neonatal. |
8. Avaliação do conhecimento das possíveis consequências em recém-nascidos se os testes não forem realizados. |
9. Verificação se a participante já realizou ou planeja realizar a triagem neonatal. |
10. Coleta de quaisquer dúvidas ou perguntas que a participante possa ter sobre a triagem neonatal. |
O questionário visa avaliar o nível de conhecimento das gestantes e puérperas sobre a triagem neonatal, bem como entender se foram informadas sobre a importância dos testes realizados em recém-nascidos, se conhecem as doenças preveníveis, o período ideal para realização dos testes e as consequências caso esses testes não sejam feitos. A última pergunta permite que as participantes expressem suas dúvidas, o que pode fornecer informações valiosas para a pesquisa e orientação futura. Após a submissão, foi realizada uma análise do nível de conhecimento de gestantes e puérperas entrevistadas sobre o tema atrelado à triagem neonatal a partir dos resultados coletados pelo Google Forms.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O termo triagem origina-se do vocábulo francês triage que significa seleção. Em saúde pública, significa identificar, em uma população assintomática, os indivíduos que podem desenvolver determinada doença ou distúrbio e que se beneficiariam de investigação adicional, ação preventiva ou terapêutica imediatas. O procedimento de rastreamento deve ser capaz de alterar a história natural da doença em uma parcela significativa da população elegível. A partir da identificação por testes específicos, é possível iniciar o tratamento adequado visando minimizar riscos ou complicações provenientes da condição identificada. A Triagem Neonatal (TN) é um dos programas de rastreio populacional disponíveis na rede de saúde. Atualmente, é empregada para o diagnóstico precoce (no período neonatal, ou seja, entre 0 a 28 dias de vida) de doenças genéticas, – geralmente erros inatos do metabolismo – hematológicas, infecciosas e enzimáticas (BRASIL, 2016).
A Triagem Neonatal foi inserida ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 1992 (Portaria GM/MS nº 22/92) com uma legislação que determinava a obrigatoriedade do teste em todos os recémnascidos vivos (BRASIL, 1992). No ano de 2001, o Ministério da Saúde, através da Secretaria de Assistência à Saúde, empenhou-se na reavaliação da Triagem Neonatal no SUS, o que culminou na publicação da portaria ministerial (Portaria GM/MS nº 822/01) (BRASIL, 2001) ao criar o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) (ABREU, BRAGUINI, 2011).
O Programa Nacional de Triagem Neonatal é um projeto de rastreamento populacional que tem como objetivo geral identificar distúrbios e doenças no recém-nascido, em tempo oportuno, para intervenção adequada, garantindo tratamento e acompanhamento contínuo às pessoas com diagnóstico positivo, com o propósito de reduzir a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida desses indivíduos (BRASIL, 2016). No Brasil, quando instituído em 2001, o PNTN abrangia apenas o teste do pezinho. Os testes do olhinho, orelhinha, coraçãozinho e linguinha foram incluídos nessas recomendações apenas recentemente. Além disso, é preconizado pelo PNTN que o recém-nascido realize os testes do olhinho, linguinha e coraçãozinho antes de receber alta da maternidade, entre o terceiro e quinto dia de vida. Já a triagem auditiva deve ser realizada no primeiro mês de vida. Embora a disseminação homogênea dos testes seja um dos maiores objetivos do programa, ainda se espera que, com a realização da pesquisa de campo, haja um esclarecimento sobre as disparidades que limitam seu acesso (BRASIL, 2016).
3.1 Teste do Pezinho
O teste do pezinho é um exame indispensável, que deve ser realizado em todos os recémnascidos. É um teste de caráter preventivo, cujo propósito principal é identificar distúrbios do metabolismo que podem não causar sintomas nos primeiros dias de vida, mas algumas delas, quando não são diagnosticadas e tratadas de forma precoce, podem comprometer o desenvolvimento saudável da criança e, em casos mais graves, levar ao óbito. Com a detecção precoce dessas doenças pelo teste do pezinho, pode-se iniciar um tratamento específico, que permite diminuir ou eliminar possíveis lesões irreversíveis e até mesmo evitar a morte (SADECK, 2022).Os testes para o rastreio de doenças no recém-nascido são ofertados pelo
Sistema Único de Saúde, no âmbito do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), na forma da regulamentação elaborada pelo Ministério da Saúde, com implementação da Lei nº 14.154, de 26 de maio de 2021 que determina o aperfeiçoamento do PNTN ao estabelecer um rol mínimo de doenças a serem rastreadas pelo teste do pezinho (BRASIL, 2021a).
O teste consiste na retirada de gotas de sangue do calcanhar do recém-nascido que deve ser feita entre o 3º a 5º dia de vida, e sempre após 48 horas da primeira amamentação, e encaminhado para um laboratório especializado. Quanto antes realizado, mais rápido a criança será encaminhada para avaliação e logo em seguida para o tratamento. É um exame simples, rápido e de extrema importância para o diagnóstico precoce de Fenilcetonúria, Deficiência de Biotinidase, Hipotireoidismo Congênito, Fibrose Cística, Hiperplasia Adrenal Congênita, Anemia Falciforme e outras Hemoglobinopatias (BRASIL, 2021a).
3.1.1 Fenilcetonúria
A Fenilcetonúria corresponde a um dos desvios inatos do metabolismo, com padrão de herança autossômico recessivo. O defeito metabólico, gerado geralmente da enzima hepática Fenilalanina Hidroxilase, leva ao acúmulo do aminoácido Fenilalanina (FAL) no sangue e ao aumento da Fenilalanina e da excreção urinária de Ácido Fenilpirúvico. Retrata a primeira doença genética a ter tratamento estabelecido com terapêutica dietética específica. Sem a instituição, por meio de programas de Triagem Neonatal, do diagnóstico precoce e do tratamento antes dos 3 meses de vida, a criança afetada pela Fenilcetonúria apresenta um quadro clínico clássico, caracterizado por atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), deficiência mental, comportamento agitado ou padrão autista, convulsões, alterações eletroencefalográficas e odor característico na urina (BRASIL, 2021b).
3.1.2 Anemia Falciforme
A anemia falciforme é considerada uma enfermidade genética e hereditária, onde ocorre um distúrbio genético com padrão de herança autossômico recessivo, ocasionada por um defeito na estrutura da cadeia beta da hemoglobina, ou seja, uma mutação no gene produtor da hemoglobina A origina outra, mutante, denominada hemoglobina S, sendo recessiva, que leva as hemácias a assumirem forma de lua minguante, quando exposta a determinadas condições como febre alta, baixa tensão de oxigênio, infecções, entre outras. As alterações genéticas na hemoglobina são propagadas a partir de um padrão de herança família. (BRASIL, 2021c).
3.1.3 Hemoglobinopatias
As Hemoglobinopatias resultam de alterações com padrão genético que comprometem os genes reguladores e promovem um desequilíbrio no conteúdo quantitativo das cadeias polipeptídicas e consequentemente nos tipos normais de hemoglobina, causando as talassemias. Também pode ser ocasionado por alterações que envolvem genes estruturais promotores a formação de moléculas de hemoglobinas com características bioquímicas diferentes das hemoglobinas normais, denominadas hemoglobinas variantes. As hemoglobinas variantes mais frequentes são a hemoglobina S (Hb S) e hemoglobina C (Hb C) (BRASIL, 2021b).
3.1.4 Deficiência de Biotinidase
A Deficiência de Biotinidase corresponde a uma disfunção do metabolismo, de origem genética e herança autossômica recessiva, que consiste na carência da enzima biotinidase, responsável por absorver e regenerar organicamente a biotina, uma vitamina existente nos alimentos que compõem a dieta normal, indispensável para a atividade enzimática. As manifestações clínicas estão relacionadas a distúrbios neurológicos e cutâneos, como atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, hipotonia, alopecia e dermatite eczematoide, entre outros (BRASIL, 2021a).
3.1.5 Fibrose Cística
A Fibrose Cística é uma das comorbidades genéticas consideradas graves definida por um padrão de herança autossômico recessivo que afeta especialmente os pulmões e o pâncreas, num processo obstrutivo causado pelo aumento da viscosidade do muco. Nos pulmões, o aumento na viscosidade bloqueia as vias aéreas ocasionando a proliferação de bactérias (especialmente pseudomonas e estafilococos), o que causa infecção crônica, lesão pulmonar e óbito por disfunção respiratória. No pâncreas, quando os ductos estão obstruídos pela secreção espessa, há uma perda de enzimas digestivas, levando à má nutrição (BRASIL, 2021d).
3.1.6 Hipotireoidismo Congênito
O Hipotireoidismo Congênito consiste em uma emergência pediátrica causada pela inaptidão da glândula tireoide do recém-nascido em produzir quantidades apropriadas de hormônios tireoidianos, que ocasiona numa queda generalizada dos processos metabólicos. As crianças não submetidas a Programas de Triagem Neonatal e, consequentemente, não tratadas precocemente, terão o crescimento e desenvolvimento mental seriamente comprometidos. O quadro de manifestações clínicas inclui: hipotonia muscular, dificuldades respiratórias, cianose, icterícia prolongada, constipação, bradicardia, anemia, sonolência excessiva, livedo reticulares, choro rouco, hérnia umbilical, alargamento de fontanelas, mixedema, sopro cardíaco, dificuldade na alimentação com deficiente crescimento pôndero-estatural, atraso na dentição, retardo na maturação óssea, pele seca e sem elasticidade, atraso de desenvolvimento neuropsicomotor e retardo mental (BRASIL, 2021f).
3.1.7 Hiperplasia Adrenal Congênita
Já a Hiperplasia Adrenal Congênita abrange um conjunto de síndromes transmitidas de forma autossômica recessiva, que se caracterizam por diferentes deficiências enzimáticas na síntese dos esteroides adrenais. O diagnóstico presuntivo da HAC na triagem neonatal é realizado pela quantificação da 17-hidroxi-progesterona (17-OHP), seguido de testes confirmatórios no soro. As manifestações clínicas na HAC dependem da enzima envolvida e do grau de deficiência enzimática (total ou parcial). A apresentação clínica pode se expressar por insuficiência glicocorticoide, insuficiência mineralocorticoide, excesso de andrógenos ou ainda por insuficiência de andrógenos. A deficiência enzimática mais frequente é a da 21-hidroxilase. Quando isso acontece, o cortisol é o hormônio que se torna deficiente e os hormônios andrógenos (masculinizantes) aumentam seus níveis. Em meninas, isso pode levar ao aparecimento de caracteres sexuais masculinos (pelos, aumento do clitóris) e, em ambos os sexos, pode levar ou não a uma perda acentuada de sal e ao óbito (BRASIL, 2021e).
Ao levar em consideração as consequências causadas pela negligência ao não realizar o teste do pezinho, espera-se que a sociedade, em geral, compreenda a importância e a necessidade da triagem neonatal. Em suma, o rastreamento é uma ferramenta crucial no cuidado dos recémnascidos, que permite a detecção precoce de doenças graves. Ao identificar essas condições em tempo oportuno, o teste do pezinho oferece a oportunidade de intervenções médicas aptas, melhorando as perspectivas de saúde e qualidade de vida para os bebês. Portanto, cabe aos profissionais da saúde estabelecer um vínculo informativo com a paciente e acompanhantes durante os atendimentos de pré-natal e puerpério imediato, para que dessa forma, haja a propagação de informação quanto a obrigatoriedade da realização de cada passo para que o rastreamento seja eficaz.
4. RESULTADOS
Após um estudo transversal analítico estatístico feito com usuárias do Sistema Único de Saúde da Policlínica de Três Poços em consultas de pré-natal e pediátricas, obtivemos uma coleta de dados realizada com 25 mulheres gestantes e puérperas com idade entre 18 anos e acima de 35 anos. Dentre essas pacientes, 4% não realiza ou realizou consultas de pré-natal, totalizando apenas uma mulher com idade entre 18 e 25 anos.
Para avaliar o conhecimento das entrevistadas em relação a triagem neonatal, foi perguntado em uma escala de 0-10 o quanto as mesmas sabiam sobre o assunto. Os resultados mostraram que, entre 25 informantes, nenhuma revelou domínio completo sobre o assunto. Dentre elas, Três mulheres não têm conhecimento algum sobre o assunto (12%) , seguido de duas mulheres votaram apenas 1 (8%), três mulheres votaram 2 (12%), quatro mulheres votaram 3, sendo a maior porcentagem (16%), duas mulheres votaram 4 (8%), três mulheres votaram 5 (12%) , duas mulheres votaram 6 (8%), três mulheres votaram 7 (12%), duas mulheres votaram 8 (8%) e apenas uma mulher votou 9 (4%) . Desse modo, percebe-se que 56% das mulheres votaram abaixo de 5 e 44% das entrevistadas votaram entre 5 e 9. Portanto, conclui-se que a escassez de conhecimento acerca da triagem neonatal é majoritariamente em mulheres que têm entre 18 e 25 anos, e a única entrevistada que votou 9 em uma escala de 10 possui 35 anos.
Em relação à importância dos testes realizados no recém-nascido após o parto, 56% dizem não ter tido essa discussão com o seu médico. Desse modo, pode-se concluir que muitas não sabem sobre as ações preventivas que são capazes de identificar precocemente doenças metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas, para que sejam tratados em tempo hábil, evitando futuras sequelas e até mesmo a morte devido a falta de monitoramento infantil durante o tratamento.
O teste do pezinho é indispensável para qualquer recém-nascido, uma vez que é capaz detectar várias doenças precocemente e evitar complicações futuras. No entanto, apenas 12% das entrevistadas têm o conhecimento sobre a importância do teste do pezinho e quais as doenças rastreáveis por ele. Apesar do teste ser ofertado pelo Sistema Único de Saúde, muitas mães não sabem o motivo pelo qual seu recém-nascido está sendo submetido a esse exame.
Apesar da maioria não saber o motivo pelo qual é importante a realização dos testes em recém-nascidos, 64% têm conhecimento sobre o período ideal para realizá-lo. Em contrapartida, o mesmo número de mulheres não tem compreensão sobre as consequências para os recém-nascidos caso os testes não sejam realizados, sendo considerado uma situação alarmante. Dentre as mulheres, apenas uma entrevistada não realizou a triagem neonatal, isso devido à ausência de conhecimento acerca da importância do teste e a orientação médica correta.
Os questionamentos mais corriqueiros das gestantes e puérperas durante a pesquisa estão relacionados a importância da triagem neonatal, visto que muitas referiram que o teste do pezinho foi um assunto abordado apenas uma vez e de forma superficial durante as consultas de pré-natal.
Conclui-se, com o questionário realizado, que a grande maioria não tem ciência da importância da realização dos testes através da triagem neonatal, portanto, torna-se necessária a discussão com o médico que acompanha a gestação para que as dúvidas sejam sanadas e assim muitas doenças sejam prevenidas, ou caso algum paciente seja positivo, o monitoramento e tratamento seja feito corretamente.
5. CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos, torna-se evidente que a maioria das gestantes e puérperas entrevistadas carecem de conhecimento adequado sobre a importância da triagem neonatal, especialmente no que tange ao teste do pezinho. Esse exame, fundamental para a detecção precoce de doenças metabólicas e genéticas, não foi amplamente discutido durante as consultas de pré-natal, conforme relatado pelas participantes. A falta de informações claras por parte dos profissionais de saúde compromete o entendimento dessas mulheres sobre os riscos associados à não realização do exame dentro do período ideal. Esse cenário evidencia a necessidade urgente de reforçar o papel da equipe de saúde no esclarecimento sobre a triagem neonatal, desde o acompanhamento pré-natal até o período puerperal. Uma abordagem educativa eficaz pode não apenas aumentar a adesão ao teste, mas também garantir intervenções precoces e adequadas para os recém-nascidos diagnosticados com condições rastreáveis.
6. REFERÊNCIAS
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BOTLER, J.; CAMACHO, L.A.B.; CRUZ, M.M.; GEORGE, P. Triagem neonatal – o desafio de uma cobertura universal e efetiva. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 493-508, 2010.
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