REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410241748
Alessandra Crespo Buck
Orientadora: Prof.ª Me Priscilla Scherloski Santos
RESUMO
A hiperplasia prostática benigna (HPB) é uma condição comum em cães machos não castrados, especialmente à medida que envelhecem. Caracteriza-se pelo aumento não maligno da próstata, o que pode resultar em diversos sintomas urinários e reprodutivos. A principal causa da HPB é a ação prolongada da testosterona, que estimula o crescimento das células prostáticas. Com o tempo, a produção contínua de testosterona leva ao aumento da próstata, provocando compressão da uretra e da bexiga. Fatores genéticos e predisposição racial também podem influenciar o desenvolvimento da HPB. O tratamento da HPB geralmente envolve a castração, que é a abordagem mais eficaz para reduzir o tamanho da próstata e aliviar os sintomas, ao diminuir a produção de testosterona. A castração não só reduz o volume prostático, mas também previne o agravamento da condição. Em casos associados de prostatite, é necessário o uso prolongado de antibióticos para tratar a infecção. Abscessos e cistos prostáticos, por sua vez, exigem drenagem cirúrgica, acompanhada de tratamento antibiótico e, quando indicado, castração para evitar recorrências. O manejo da HPB requer monitoramento contínuo através de palpação retal e ultrassonografia, permitindo a avaliação da resposta ao tratamento e ajustes necessários na abordagem terapêutica. Manter uma dieta balanceada e um regime de exercícios moderado é crucial para a saúde geral do cão e para a redução de problemas urinários associados à HPB. A castração é a medida preventiva mais eficaz para controlar a HPB, e o acompanhamento regular é essencial para garantir a saúde e o bem-estar do animal ao longo do tratamento e manejo da condição.
Palavras-chave: hiperplasia prostática benigna (hpb); testosterona; castração; monitoramento
Benign Prostatic Hyperplasia (BPH) is a common condition in uncastrated male dogs, especially as they age. It is characterized by the non-malignant enlargement of the prostate, which can result in various urinary and reproductive symptoms. The primary cause of BPH is the prolonged action of testosterone, which stimulates the growth of prostatic cells. Over time, continuous testosterone production leads to prostate enlargement, causing compression of the urethra and bladder. Genetic factors and racial predisposition may also influence the development of BPH. Treatment for BPH typically involves castration, which is the most effective approach for reducing prostate size and alleviating symptoms by decreasing testosterone production. Castration not only reduces prostatic volume but also prevents the worsening of the condition. In cases associated with prostatitis, prolonged antibiotic use is necessary to treat the infection. Abscesses and prostatic cysts require surgical drainage, accompanied by antibiotic treatment and, when indicated, castration to prevent recurrences. Managing BPH requires continuous monitoring through rectal palpation and ultrasonography, allowing for assessment of treatment response and necessary adjustments to the therapeutic approach. Maintaining a balanced diet and a moderate exercise regimen is crucial for the dog’s overall health and for reducing urinary problems associated with BPH. Castration is the most effective preventive measure for controlling BPH, and regular follow-up is essential to ensure the animal’s health and well-being throughout the treatment and management of the condition.
Keywords: benign prostatic hyperplasia (bph); testosterone; castration; monitoring
1. INTRODUÇÃO
A hiperplasia prostática benigna é uma condição caracterizada pelo aumento excessivo do número e do tamanho das células estromais e epiteliais da próstata, resultando em uma diminuição na taxa de apoptose (Fossum et al., 2005). Essa é a alteração prostática mais comum em cães, especialmente em machos não castrados com mais de cinco anos. Muitas vezes, essa condição pode não apresentar sintomas evidentes (Santos, 2022). Embora a etiologia ainda não seja completamente compreendida, acredita-se que seja de origem multifatorial, com uma forte influência hormonal. A hiperplasia prostática benigna (HPB) é uma condição comum em cães machos não castrados, especialmente aqueles com idade a partir de cinco anos e de porte médio a grande.
Essa patologia é caracterizada pelo aumento do tecido prostático, o que pode resultar em complicações clínicas significativas, como obstrução urinária e infecções do trato urinário. Os sintomas associados à HPB não apenas causam desconforto e dor, mas também afetam a qualidade de vida dos animais afetados (Gularte, et al., 2018). O manejo apropriado da condição é fundamental para melhorar o bem-estar dos cães, ajudando a aliviar o desconforto e os sintomas associados. A implementação de métodos eficazes de tratamento pode proporcionar um alívio significativo, promovendo uma melhor qualidade de vida para os pacientes caninos (Ettinger & Feldman, 1997; Wen et al., 2015).
Nos últimos anos, tem havido notáveis avanços na terapia de várias condições relacionadas à próstata, com o constante surgimento de novas abordagens tanto médicas quanto cirúrgicas. Além dos tratamentos tradicionais, como orquiectomia, terapia hormonal e antibioticoterapia, novas técnicas estão sendo desenvolvidas para abordar especificamente cada afecção prostática (Santos, 2022). Por exemplo, a prostatectomia parcial ou total, a marsupialização e procedimentos de drenagem são métodos eficazes para tratar diversas patologias, incluindo hiperplasia prostática benigna (HPB), traumas, abscessos, cistos e neoplasias (Fossum et al., 2005). A história clínica é crucial para orientar o diagnóstico e oferece informações essenciais sobre a condição do paciente. Animais que exibem sinais clínicos como disúria (dificuldade para urinar), hematúria (sangue na urina), polaciúria (aumento da frequência urinária), tenesmo (sensação de necessidade constante de urinar ou
defecar), constipação, sangramento peniano e desconforto abdominal à palpação devem ser avaliados com atenção para possíveis afecções da próstata (Gonçalves, 2022). Esses sinais podem indicar problemas prostáticos que precisam ser considerados no diagnóstico diferencial para garantir um tratamento adequado e eficaz (Hedlund 2002; Amorim et al., 2004; Souza, 2022).
O relato de caso oferece uma oportunidade única de educação, tanto para veterinários em formação quanto para profissionais experientes. Ao abordar os aspectos clínicos e as estratégias de manejo da HPB, é possível enriquecer tanto o conhecimento prático quanto o teórico sobre essa condição específica. Além disso, a pesquisa e o relato de caso têm o potencial de contribuir significativamente para a literatura científica existente sobre a HPB em cães, fornecendo novos insights sobre sua abordagem clínica e manejo.
Em última análise, o objetivo desse estudo é categorizar essas considerações que ressaltam a importância de investigar a HPB em cães, fornecendo uma base sólida para o desenvolvimento de práticas veterinárias mais eficazes e para o avanço do conhecimento científico nessa área.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Anatomia da Próstata
A próstata é o único órgão sexual acessório nos cães, e suas características funcionais e morfológicas são semelhantes às dos humanos (Fossum et al., 2005; Gularte, et al., 2018). Durante o desenvolvimento, a glândula prostática começa a se formar por volta da sexta semana de gestação, assumindo uma forma semioval quando vista em corte transversal (Pinheiro, et al, 2017). Um septo mediano na face dorsal divide a glândula em dois lobos: um direito e um esquerdo. Cada lobo é subdividido em lóbulos, compostos por uma abundante rede de glândulas tubuloalveolares, conforme citam Leroy e Northrup (2009) e Wen et al. (2015).
Na Figura 1 a seguir é possível notar o sistema reprodutor canino:
Figura 1: Sistema Reprodutor Canino. Fonte: UFPA (2016).
Fossum et al., (2005) descrevem a anatomia da próstata conforme a seguir:
Próstata desempenha um papel essencial no sistema reprodutor masculino dos cães, sendo o único órgão acessório presente nesse sistema. Ela possui uma forma ovoide, simétrica e bilobada, envolvendo a uretra pélvica e situando-se ventralmente ao reto, com sua porção superior adjacente ao colo da bexiga. Cada lobo prostático é subdividido em lóbulos por trabéculas de tecido conjuntivo, resultando em uma estrutura complexa. […] dentro dos lóbulos prostáticos, localizam-se as glândulas tubuloalveolares, que são responsáveis pela secreção de fluidos. Esses fluidos são transportados por pequenos ductos até o lúmen da uretra, desempenhando funções cruciais na reprodução e na lubrificação. A próstata é composta predominantemente por células estromais e epiteliais. O tecido estromal é composto principalmente por fibroblastos, células musculares lisas, células inflamatórias menores, células nervosas e células endoteliais. Essas células desempenham papéis fundamentais na regulação e suporte funcional da próstata, garantindo sua adequada operação e contribuições para a saúde reprodutiva do animal (Fossum et al., p. 1.640, 2005).
Amorim et al., (2004) caracteriza que a próstata é formada por uma grande massa compacta que envolve a uretra e o colo da bexiga, além de uma pequena porção dispersa na mucosa uretral. A parte compacta da próstata pode variar consideravelmente em tamanho, influenciando sua posição e suas relações anatômicas (Wen et al., 2015).
Na Figura 2 a seguir, está demonstrados, alguns aspectos da próstata canina.
Figura 2: Aspectos da Próstata Canina. Fonte: Santos (2022).
A próstata desempenha um papel crucial na produção de fluido que serve como veículo de transporte e suporte para os espermatozoides durante a ejaculação. Embora as secreções prostáticas ajudem no transporte dos espermatozoides, não são indispensáveis para a fertilidade (Pinheiro, 2017).
Conforme afirma Angrimani et al. (2018), a próstata canina é uma glândula situada na região pélvica dos cães, próxima à bexiga urinária e à uretra, é responsável pela produção de parte do líquido seminal, que nutre e transporta os espermatozoides durante a ejaculação e também ajuda a limpar a uretra, em cães adultos, a próstata tem tamanho variável, pois depende do porte e tamanho do animal, e a mesma envolve a uretra, localizada caudal a vesícula urinária bexiga.
A glândula prostática é irrigada por vasos sanguíneos e drenada por veias que a conectam ao sistema venoso pélvico. A irrigação adequada é crucial para a função saudável da próstata e para a detecção de doenças (Costa et al., 2022).
2.2. Fisiologia da próstata canina
A próstata canina desempenha várias funções cruciais para a saúde reprodutiva e urinária do cão, é responsável pela produzir parte do líquido seminal, rico em enzimas e nutrientes, que nutre e transporta os espermatozoides durante a ejaculação, facilitando sua passagem pela uretra (Fossum et al., 2005; Pinheiro et al., 2020). Durante a ejaculação, o líquido seminal é liberado na uretra, ajudando a limpar o canal e permitir a movimentação dos espermatozoides (Angrimani et al., 2018). Além disso, o líquido prostático neutraliza a acidez da uretra e da vagina, criando um ambiente favorável para a sobrevivência dos espermatozoides, o tecido muscular liso da próstata se contrai para expulsar o líquido seminal, com isso a função da próstata é regulada principalmente pela testosterona, essencial para seu desenvolvimento e manutenção (Wen et al., 2015; Pinheiro et al., 2020).
2.3. Afecções da glândula prostática
Com o tempo ou devido a condições patológicas, a próstata pode aumentar de tamanho (hiperplasia prostática benigna) ou inflamar (prostatite), o que pode comprometer sua função e causar problemas urinários e reprodutivos (Ettinger E Feldman, 1997; Das et al, 2017).
De acordo com Beining et al. (2020), as principais condições que podem afetar a próstata canina são: Hiperplasia Prostática Benigna (HPB), Prostatite, Cistos Prostáticos, Neoplasia Prostática e Abscessos Prostáticos (Diehl, 2011). Para Cortez e Silva (2018) o aumento não canceroso da próstata, comum em cães mais velhos, causando dificuldade para urinar e desconforto abdominal.
Para Santos (2022) a DHT (dihidrotestosterona) desempenha um papel crucial na diferenciação da próstata fetal e no desenvolvimento da genitália externa masculina. Na próstata adulta, a DHT promove a proliferação celular ao estimular a expressão de genes que induzem a secreção de fatores de crescimento e exerce uma função protetora contra a apoptose, influenciando a atividade do fator de crescimento transformador (TGF), que modula esse processo, afirmam Silva e Cortez (2018).
2.4. Sinais Clínicos
Os sinais clínicos da doença são inespecíficos e frequentemente identificados apenas em necropsias ou exames de imagem (Vasques et al., 2018; Santos, 2022), uma vez que os indivíduos com a afecção geralmente não apresentam sintomas visíveis. No entanto, conforme demonstrado na Figura 3 a seguir, autores relatam que animais com hiperplasia prostática benigna (HPB) frequentemente mostram sinais clínicos como dificuldade para urinar, fezes achatadas, constipação e tenesmo (Santos et al., 2001; Renggli et al., 2010; Diehl, 2011; Vasques et al., 2018).
Figura 3: Comparativo de tamanho próstata. Fonte, Gonçalves (2022).
Além desses sinais, em casos mais graves, os animais afetados podem apresentar dor abdominal na região hipogástrica, hematúria e disúria (Ettinger E Feldman, 1997). O aumento do volume do tecido prostático pode comprimir órgãos, como a bexiga e a uretra, dificultando a micção e podendo levar a complicações como glomerulonefrite e hidronefrose, indicativos de lesão renal (Vasques et al.,2018; Santos, 2022).
A gravidade da hiperplasia prostática benigna (HPB) é classificada com base nos sinais clínicos apresentados pelo animal (Kobayashi et al., 2017). Animais que não exibem sintomas clínicos são classificados como grau 1, indicando um estágio leve da doença. Em contraste, animais que apresentam sintomas como perda de peso, tenesmo, disúria, secreção uretral e hematúria são considerados graves e classificados como grau 4 (Zambelli et al., 2012). Na Figura 4 logo abaixo, podemos notar o grau as HPB e sinais clínicos:
Figura 4: Graus da HPB e Sinais Clínicos. Fonte: Zambelli (2012).
2.5. Métodos de diagnóstico
Para um diagnóstico preciso e definitivo, é recomendável realizar exames de cultura e biópsias de diferentes áreas da próstata (Pasikowska, 2018). No entanto, é possível fazer um diagnóstico baseado em uma anamnese detalhada, além de ultrassonografias e radiografias, que podem indicar o aumento prostático (Fossum et al., 2005; Gonçalves, 2022).
Durante a palpação retal, conforme demonstrado na Figura 5 logo abaixo, a próstata pode parecer simetricamente aumentada, bilateralmente, com consistência pastosa e contorno liso, podendo ser de duas a seis vezes maior que o tamanho normal (Fossum, 2014; Santos, 2022). Esse exame, geralmente indolor (Nelson; Couto, 2015), é mais eficaz em cães machos assintomáticos, mas pode ser desafiador em raças miniaturas devido ao pequeno diâmetro do reto e em raças gigantes devido ao deslocamento cranial da próstata (Lévy et al., 2014; Gonçalves, 2022).
Figura 5: Representação da palpação retal. Fonte: Pimentel, 2008.
Mukaratirwa e Chitura (2007) argumentam que o exame de toque retal apresenta baixa sensibilidade. Portanto, o diagnóstico de hiperplasia prostática benigna (HPB) ou de outras doenças prostáticas deve ser baseado em uma avaliação combinada, que inclua a palpação retal juntamente com técnicas mais sensíveis, como ultrassonografia, exame citológico ou exame histológico.
A ultrassonografia oferece uma avaliação detalhada, a próstata aparece aumentada quando ocupa mais de 70% da distância entre o cisto sacral e o púbis (Fossum, 2014). No entanto, a radiografia pode ser limitada por presença de líquido ou gordura abdominal, não sendo ideal para medir com precisão o tamanho da próstata ou visualizar sua cápsula, permitindo observar assimetria, ecogenicidade, variações focais, margens irregulares, cistos e áreas de cavitação, além de medir o tamanho da próstata em diferentes planos (Fossum, 2014, Pinheiro et al., 2017; Souza, 2022).
A citologia, método mais invasivo, deve ser realizada com orientação por ultrassom e aspiração com agulha fina. Um diagnóstico positivo depende da identificação de camadas uniformes ou aglomerados de células prostáticas com anisocariose média, núcleos aumentados e morfologia redonda, e citoplasma moderadamente basofílico (Hedlund, 2002; Santos, 2022).
A biópsia, útil para diagnóstico diferencial de neoplasias, pode ser guiada por ultrassom, mas pode resultar em complicações como hematúria, hemorragia, peritonite ou disseminação de células neoplásicas no caso de hiperplasia maligna (Silva; Cortez, 2018).
2.6. Tratamentos e manejo
- Tratamento clinico
Medicações Anti-hormonais: Em certos casos, podem ser usados medicamentos que bloqueiam a ação da testosterona, como os antiandrógenos. No entanto, esses medicamentos tendem a ser menos eficazes do que a castração para o tratamento da hiperplasia prostática benigna (Fossum, 2014).
Inibidores da 5-alfa-redutase: Medicamentos como a finasterida são utilizados para reduzir o tamanho da próstata e aliviar os sintomas. Esses fármacos atuam inibindo a conversão de testosterona em dihidrotestosterona (DHT), um hormônio que contribui para o crescimento prostático (Santos, 2022).
Antibióticos podem ser usados quando há uma infecção associada, como na prostatite, o tratamento com antibióticos é necessário por um período prolongado, geralmente de pelo menos quatro semanas, para controlar a infecção (Nelson; Couto, 2015).
- Tratamento cirúrgico
A orquiectomia (castração), é recomendada para reduzir o tamanho da próstata e aliviar os sintomas clínicos associados à hiperplasia prostática benigna (HPB) (Pasikowska et al., 2015).
Esta intervenção diminui a produção de testosterona, um hormônio crucial no desenvolvimento da HPB, e frequentemente resulta em uma melhora significativa dos sintomas nos cães (Gonçalves, 2022). Para tratar a prostatite, é necessário o uso prolongado de antibióticos por um período mínimo de quatro semanas. Em casos de abscessos e cistos prostáticos, a drenagem das lesões deve ser acompanhada de tratamento antibiótico e castração para uma abordagem mais eficaz (Santos, 2022).
De acordo com Mantziaras et al. (2017) procedimentos adicionais são recomendados em casos graves, onde a HPB causa complicações, como retenção urinária ou desconforto severo, podem ser necessárias intervenções adicionais, como a remoção de tecido prostático aumentado ou a realização de uma ressecção parcial, concorda Gonçalves (2022).
- Manejo adequado
Para o manejo eficaz da hiperplasia prostática benigna (HPB) em cães, é essencial implementar um plano de tratamento abrangente e monitorar a condição regularmente. Acompanhar o progresso com exames frequentes, como palpação retal e ultrassonografia, é crucial para avaliar a resposta ao tratamento e ajustar a abordagem conforme necessário (Pinheiro et al., 2017).
Além disso, manter uma dieta adequada e um regime de exercícios moderado é importante para preservar a saúde geral do cão e minimizar problemas urinários associados à HPB, manter atenção a sinais de desconforto, dificuldade para urinar ou defecar, e outros comportamentos anormais (Fossum, 2014).
Se forem identificados abscessos ou cistos prostáticos, a drenagem cirúrgica pode ser necessária. Esse procedimento deve ser seguido por tratamento antibiótico e, se recomendado, castração para evitar a recorrência dos problemas, em casos
mais graves ou quando os tratamentos médicos não são eficazes, pode-se discutir a possibilidade de cirurgia para remover o tecido prostático (Silva; Cortez, 2018).
2.7. Doença Renal Crônica
A hiperplasia prostática benigna (HPB) pode, em algumas situações, estar relacionada à doença renal crônica (DRC) (Furuya et al., 2016). A DRC pode ter causas sistêmicas que afetam os néfrons, embora as origens exatas das lesões e a continuidade da disfunção renal ainda não sejam completamente compreendidas (Landim, 2019).
A nefrite tubulointersticial é a principal responsável pela DRC (Fonte, 2010). O néfron, que é a unidade funcional dos rins, é formado por estruturas como o glomérulo, que filtra substâncias, e os túbulos, que ajudam a manter a homeostase através da reabsorção e excreção de compostos (Landim, 2019).
Na DRC, ocorre fibrose progressiva nos túbulos, resultando em uma perda gradual dos néfrons. Com a progressão da doença, os rins perdem a capacidade de compensar a função reduzida, o que causa danos aos glomérulos, diminuição da filtração, acúmulo de resíduos no sangue, proteinúria (perda de proteínas na urina) e o surgimento de azotemia (Lopes et al., 2018).
Embora as lesões renais causadas pela DRC sejam irreversíveis, é fundamental desenvolver estratégias diagnósticas eficazes para identificar potenciais fatores causadores. Um exame sistemático deve ser realizado para localizar a fonte do problema e avaliar se ela continua ativa. Embora a terapia específica possa não reverter as lesões já existentes, ela é essencial para minimizar danos futuros (Lopes et al., 2018; Landim, 2019).
Animais com DRC frequentemente apresentam aumento da sede e da micção (polidipsia e poliúria), levando-os a beber mais água e urinar com maior frequência (Daniel, 2013). No entanto, como esses animais costumam ingerir água em menor quantidade, podem sofrer de desidratação e constipação antes de aumentar o consumo hídrico, dificultando a percepção da polidipsia pelo tutor, que pode ser associada à HPB (Polzin, 2011).
Os biomarcadores sanguíneos são substâncias que indicam processos biológicos normais ou patológicos em órgãos ou tecidos específicos, liberando essas substâncias em proporção à lesão ou doença (Nascimento, 2017). Através desses
marcadores e de análises urinárias, é possível diagnosticar disfunções renais pela elevação dos níveis de ureia e creatinina, além de alterações eletrolíticas, hiperfosfatemia, anemia não regenerativa, acidose metabólica, aumento de amilase, lípase e hipoalbuminemia (Polzin et al., 2005; Mc Grotty, 2008).
Na prática clínica, a ureia e a creatinina são os biomarcadores mais comuns para o diagnóstico da DRC. O aumento desses marcadores pode indicar que a Taxa de Filtração Glomerular (TFG) está comprometida em até 75%. Por essa razão, esses biomarcadores têm sido cada vez mais utilizados para acelerar o diagnóstico (Meuten, 2015; Nascimento et al., 2017).
Outro marcador importante é a dimetilarginina simétrica (SDMA), produzida em células nucleadas, que é mais sensível do que a ureia e a creatinina, detectando lesões quando 30% a 40% da TFG está comprometida, além de sofrer menos influência de fatores extra renais (Pedersen et al., 2006; Nabity et al., 2015 e 2016; Hall et al., 2016; Hokamp, 2016; Dahlem et al., 2017).
A classificação IRIS categoriza a DRC em quatro estágios com base nos níveis de creatinina no sangue, que refletem a função renal. Os 4 estágios são os seguintes:
- Estágio I: Doença renal leve, com creatinina dentro da faixa de referência, mas outras evidências de problemas renais, como proteinúria.
- Estágio II: Doença renal moderada, onde a creatinina está levemente elevada e os rins começam a falhar na filtração.
- Estágio III: Doença renal severa, com níveis de creatinina mais altos, indicando disfunção renal significativa, e sintomas como perda de apetite e desidratação.
- Estágio IV: Doença renal terminal, onde os rins estão severamente danificados e a creatinina é muito alta, com sintomas graves como vômitos e anemia.
Além da creatinina, outros parâmetros, como pressão arterial, proteinúria e densidade urinária, também podem ser considerados para o estadiamento (Sozinho, 2019). Já Santos (2020) enfatiza que o estadiamento é uma ferramenta clínica importante, mas não deve ser o único aspecto a ser considerado no tratamento da DRC.
Após a confirmação do diagnóstico de DRC, o estadiamento deve ser realizado conforme as diretrizes da IRIS (2019), avaliando os níveis de creatinina e SDMA, que também é um indicador da função renal. Na Figura 6 a seguir está demonstrados os estágios da DRC:
De acordo com a Taxa de Filtração Glomerular (TFG), que avalia a função renal, a Doença Renal Crônica (DRC) é geralmente classificada em cinco estágios (Agopia, 2014). Cada estágio indica uma redução progressiva na capacidade funcional dos rins (Maria, 2023). Os estágios são os seguintes:
- Estágio 1: TFG ≥ 90 ml/min – A função renal é normal ou quase normal, mas podem existir indícios de lesão renal.
- Estágio 2: TFG 60-89 ml/min – Há uma leve diminuição na função renal. Embora sintomas evidentes possam não estar presentes, exames podem revelar anormalidades.
- Estágio 3: TFG 30-59 ml/min – Nesta fase, a função renal apresenta uma redução moderada. Sintomas como fadiga, inchaço e alterações na pressão arterial podem começar a surgir.
- Estágio 4: TFG 15-29 ml/min – A função renal está gravemente comprometida. Os sintomas tornam-se mais evidentes, e os pacientes podem necessitar de intervenções mais intensivas, como diálise ou transplante.
- Estágio 5: TFG < 15 ml/min ou em diálise – Conhecido como insuficiência renal terminal, este é o estágio mais avançado da DRC. A função renal é severamente afetada, exigindo tratamentos como diálise ou transplante renal para a sobrevivência.
Em resumo, ambos os métodos são importantes na avaliação da DRC em gatos. A classificação IRIS é frequentemente utilizada para o estadiamento inicial e a caracterização da doença, enquanto a TFG oferece uma análise mais detalhada e contínua da função renal ao longo do tempo.
3. RELATO DE CASO
Este relato clínico descreve o caso de um cão idoso, com sinais sugestivos de cistos prostático, cuja causa primária há suspeita de hiperplasia prostática benigna (HPB). Optou-se por este caso devido à natureza frequentemente silenciosa da HPB, que pode ser subdiagnosticada, uma vez que seus sintomas geralmente se sobrepõem aos de afecções do trato urinário inferior ou do trato gastrointestinal.
O objetivo deste trabalho é relatar o atendimento de um cão realizado em durante o ano de 2024 na Clínica da Faculdade Univel, onde apresentou sinais clínicos e laboratoriais compatíveis com cistite leve e HPB. Este relato busca correlacionar as informações obtidas com a literatura existente, esclarecendo as possíveis causas do desenvolvimento da HPB, além de discutir o diagnóstico e os tratamentos disponíveis para esta condição. É importante destacar que a tutora autorizou a divulgação dos dados e exames do cão mencionado no relato.
3.1. Anamnese
Paciente é um cão, macho, atende pelo nome de Bily, da raça Lhasa Apso, com 16 anos de idade, pesando 9,500 kg, fértil, submetido a atendimento na Clínica da Faculdade Univel, em meados do mês de agosto de 2024, com queixa principal, onde a tutora trouxe o cão para avaliação devido a sinais persistentes de dificuldade para urinar, aumento da frequência urinária e episódios de desconforto abdominal.
3.2. Histórico Clínico Recente
O cão, que nunca foi castrado, apresentava sintomas urinários progressivos há aproximadamente seis meses. A tutora relatou que o animal começou a urinar com mais frequência, às vezes com dificuldade, com mixao em gotas, e sem episódios de sangue na urina. Além disso, o cão parecia desconfortável e às vezes exibiu sinais de dor abdominal. Não houve sinais de vômito ou diarreia.
Durante o exame clínico, observou-se que o cão apresentava um aumento na frequência das micções e uma redução no volume urinário, sem episódios de gotejamento de sangue pela uretra e urina com coloração alaranjada e fétida. A tutora também mencionou uma mudança no comportamento do animal, que parecia mais agitado e ansioso, possivelmente devido ao desconforto urinário.
O histórico clínico do cão não revelava outras condições pré-existentes significativas, e não havia sido relatada nenhuma alteração recente na dieta ou no ambiente do animal. Com base nesses sintomas e na ausência de outras anomalias sistêmicas, foram realizados exames diagnósticos para investigar a causa subjacente dos sintomas urinários. A suspeita inicial recaiu sobre a hiperplasia prostática benigna (HPB), uma condição comum em cães não castrados, especialmente à medida que envelhecem. O diagnóstico definitivo e o plano de tratamento foram estabelecidos com base nos resultados dos exames complementares e na avaliação clínica detalhada.
3.3. Exame Físico
Durante o exame físico, observou-se que o cão estava em bom estado geral, apresentando-se alerta, mas com comportamento dócil mais agitado devido ao estresse. Além disso, foi notado um desconforto abdominal na região pélvica. A palpação retal, conforme demonstrado na Figura 7, revelou uma próstata aumentada, simetricamente dilatada, com consistência pastosa e contorno liso. Esse achado é indicativo de alterações prostáticas que podem estar associadas a hiperplasia prostática benigna ou outras condições similares.
Figura 7: Palpação retal. Fonte: Imagem cedida pela autora, 2024.
O sulco medial estava preservado, sugerindo um aumento uniforme da glândula. Não foram encontrados sinais de febre ou alterações adicionais em outros sistemas, o que ajudou a descartar infecções sistêmicas ou outras condições sistêmicas graves.
O exame físico também revelou que o cão apresentava dor ao palpação abdominal, especificamente na região pélvica, o que é consistente com a compressão da bexiga e da uretra causada pelo aumento prostático. A ausência de sinais de vômito ou diarreia e a condição geral estável do animal indicam que o problema principal está restrito ao trato urinário e à próstata.
Com base nos achados da palpação retal e nos sintomas clínicos apresentados, a hipótese de hiperplasia prostática benigna (HPB) foi reforçada. A HPB é uma condição comum em cães machos não castrados e é caracterizada pelo aumento não maligno da próstata, frequentemente associado à ação prolongada da testosterona.
3.4. Exames Laboratoriais e de Imagem
No exame bioquímico, foi avaliando os resultados laboratoriais, conforme demonstrado na Figura 8 a seguir:
Figura 8: Exame Bioquímico. Fonte: Imagem cedida pela autora, 2024.
Foram revelados dados que indicam alterações nos níveis de ureia, creatinina, ALT e fosfatase alcalina. A elevação dos níveis de ureia e creatinina sugere possível comprometimento renal, enquanto o aumento da ALT e fosfatase alcalina aponta para possíveis alterações hepáticas ou outras condições.
A coloração alaranjada e o odor fétido da urina, observados pelo tutor, também corroborou a presença de cistite associada à condição prostática. A ultrassonografia revelou uma próstata significativamente aumentada, com estrutura homogênea. Durante o exame, foram identificadas evidências de alguns cistos, mas não foram encontrados abscessos, demonstrado na Figura 9, logo abaixo:
Figura 9: Ultrassonografia da próstata do cão com alterações sugestivas de hiperplasia prostática benigna, via transabdominal, obtida com transdutor setorial de 5 MHz. Fonte: Imagem cedida pela autora, 2024.
A próstata relava estar com tamanho aumentado (4,17 x 2,50 cm), forma e contorno irregulares. Parênquima heterogêneo, associado a presença de estruturas arredondadas, preenchidas por conteúdo anecogênico, sem sinal ao doppler colorido, sendo a maior medindo em torno de ~0,80 x 0,80 cm. A ausência de estruturas anormais indica que o aumento prostático é predominantemente benigno, sem complicações por formações cavitárias. A impressão diagnóstica sugere a presença de pequenos cistos prostáticos associados à hiperplasia prostática e prostatite.
Também se recomenda investigar uma possível cistite (processo inflamatório ou infeccioso).
Hemograma e Bioquímica Sanguínea, mostraram nos resultados dos exames laboratoriais encontraram-se normais, sem sinais de alterações sistêmicas significativas. A ausência de alterações notáveis no hemograma e na bioquímica sanguínea ajuda a excluir a presença de doenças sistêmicas graves ou infecções generalizadas, concentrando o problema no trato urinário e na próstata, como mostra as resultados na Figura 10 a seguir.
Figura 10: Hemograma e Bioquímica Sanguínea. Fonte: Imagem cedida pela autora, 2024.
Foram realizadas duas aferições iniciais com o paciente agitado, resultando em uma pressão arterial média de 160 mmHg. Após o paciente realizar uma caminhada para urinar e se acalmar, foram feitas mais três aferições, obtendo uma pressão arterial média de 144 mmHg.
No eco cardiograma, observou-se discreta hipertrofia do septo interventricular e da parede ventricular esquerda, sugerindo um possível aumento da pós-carga e/ou depleção de volume. Não foram identificadas outras alterações ecocardiográficas relevantes.
3.5. Manejo Recomendado ao Tutor
O manejo recomendado a tutora do Bily foi abordado de forma abrangente, começando pela troca da ração para a Premier Renal específica para esses casos, visando aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida do animal e minimizar o risco de complicações.
Foi orientado a tutora que, mantenha o cão ativo com exercícios regulares, pois isso contribui para a saúde geral e pode ajudar a controlar os sintomas. Em termos de cuidados adicionais, foi sugerido monitorar sinais de desconforto, dificuldade urinária ou outras complicações, manter as consultas regulares com o veterinário para ajustar o tratamento conforme necessário e para monitorar a resposta ao manejo.
Foi explicado detalhadamente a condição do cão, o tratamento prescrito e a importância do acompanhamento contínuo, foi abordado alguns sinais de alerta, como dificuldade para urinar, dor abdominal ou alterações no comportamento, para garantir uma resposta rápida a possíveis complicações.
3.6. Tratamento Recomendado
No retorno à consulta, no dia 10 de setembro de 2024, após a realização e análise dos resultados dos exames, foi esclarecido a tutora que o tratamento recomendado para o cão com hiperplasia prostática benigna seria a castração. Este procedimento cirúrgico visa aliviar os sintomas associados à condição, reduzir o tamanho da próstata e prevenir a progressão da doença. A castração oferece alívio a longo prazo ao eliminar a fonte de estímulo hormonal que contribui para a hiperplasia, resultando em uma melhoria significativa na qualidade de vida do animal. Além disso, o procedimento pode evitar complicações futuras e é geralmente bem tolerado pelos cães, promovendo um retorno mais rápido à saúde e bem-estar
3.7. Evolução do caso
A castração é uma abordagem eficaz para tratar a hiperplasia prostática benigna, proporcionando alívio a longo prazo ao remover a fonte de estímulo hormonal que contribui para o aumento prostático. No Bily, foi utilizada a técnica orquiectomia técnica aberta pré- escrotal, realizado pela médica veterinária Priscila Pereira.
Após o procedimento, é comum que o cão experimente uma melhora significativa na qualidade de vida, com a redução dos sintomas e a prevenção de possíveis complicações futuras. A seguir estão demonstradas as etapas da cirurgia utilizando técnica orquiectomia técnica aberta pré- escrotal.
Na Figura 11 a seguir, está demonstrado o campo cirúrgico já estéril:
Figura 11: Pré-Cirúrgico. Fonte: Imagem cedida pela autora, 2024.
Durante o procedimento de orquiectomia, iniciou-se com incisão na pele, cerca de 1 a 2 cm acima da linha média do escroto, direcionando-a para a região inguinal. Em seguida, cuidadosamente os tecidos subjacentes até expor o cordão espermático. Após a exposição, foi identificado o testículo e o cordão espermático, afastando as estruturas circundantes para uma melhor visualização. Na Figura 12, mostra a incisão e exposição do cordão espermático:
Figura 12: Exposição do testículo. Imagem cedida pela autora, 2024.
Com o testículo exposto, demonstrado na Figura 13, foi seccionado o cordão espermático e utilizando sutura absorvível para ligar os vasos e o ducto deferente, após isso os testículo foi removido completamente junto com o cordão espermático.
Após garantir a hemostasia, seguiu-se para o fechamento das camadas de pele e tecidos subjacentes com sutura absorvível, como mostra a Figura 14 a seguir.
A evolução do tratamento cirúrgico inclui um período de recuperação no qual o cão deve ser monitorado atentamente. É importante seguir as orientações pós- operatórias, incluindo cuidados com a incisão, administração de medicamentos para controle da dor e prevenção de infecções, e restrição de atividades físicas para garantir uma recuperação adequada.
Durante o processo cirúrgico, observou-se sinais de que o cão poderia estar com Doença Renal Crônica, foram feitos novos exames de Urinálise, Proteinúria e Creatinina, para análise da possibilidade de Doença Renal Crônica.
A hiperplasia prostática benigna (HPB) pode estar associada à doença renal crônica (DRC) em cães, refletindo uma complexa interação entre a saúde prostática e renal. Essa relação pode ser analisada por meio de exames laboratoriais, como a urinálise, que ajuda a identificar alterações na urina, e a avaliação de marcadores como a creatinina.
A urinálise frequentemente revelou a presença de proteínas na urina é um achado comum, indicando uma possível lesão nos rins. A elevação dos níveis de creatinina no sangue indicou comprometimento da função renal. A relação entre HPB e DRC em cães é multifatorial. A obstrução urinária provocada pelo aumento da próstata pode causar lesões nos néfrons e impactar a capacidade renal de filtrar resíduos. Além disso, a inflamação prostática pode contribuir para a função renal prejudicada, exacerbando a proteinúria e aumentando os níveis de creatinina.
Os resultados estão demonstrados na Figura 15 abaixo:
Na presença de HPB, a obstrução urinária causada pelo aumento prostático pode dificultar a eliminação de resíduos, contribuindo para o acúmulo de creatinina, como mostra a Figura 16 a segui:
Figura 16: Resultados para Proteinúria a Creatinina. Imagem cedida pela autora, 2024.
Além disso, ao examinar os testículos removidos, foi possível notar uma discrepância de tamanho entre eles, Essa diferença pode indicar processos patológicos subjacentes, como a presença de hiperplasia, inflamação ou até mesmo neoplasia em um dos testículos. Tal assimetria é frequentemente um sinal de que algo anômalo está ocorrendo, exigindo uma análise cuidadosa, conforme ilustrado na Figura 17:
Figura 17: Comparação de tamanho dos testículos. Imagem cedida pela autora, 2024.
O laudo da ultrassonografia revelou a presença de tecido hiperplásico e pequenos cistos, o que levanta a suspeita de neoplasia. Essa descoberta é particularmente preocupante, pois a hiperplasia pode ser um indicativo de alterações patológicas que merecem uma investigação mais aprofundada. A identificação de cistos, além de sugerir a possibilidade de um processo neoplásico, pode estar associada a outras condições, como inflamação ou infecções. A combinação desses achados ultrassonográficos exige uma avaliação clínica detalhada e, possivelmente, a realização de biópsias para confirmação diagnóstica e definição do tratamento adequado. Portanto, é essencial monitorar de perto a evolução do caso, considerando as implicações que esses achados podem ter sobre a saúde geral do paciente.
Foram enviados para análise histopatológica, dois fragmentos testiculares fixados em formalina a 10%, medindo aproximadamente 4x3x2 cm. Um dos testículos exibe um nódulo pardacento de 1 cm, enquanto o outro possui um nódulo claro de 0,5 cm, ambos macios e bem delimitados. As amostras foram submetidas a exame
histopatológico, revelando uma proliferação neoplásica de células poliédricas nos nódulos, que são altamente celulares, bem demarcadas e encapsuladas. O padrão celular é glandular irregular, com citoplasma abundante, eosinofílico e vacuolizado, além de núcleos pequenos e basofílico, apresentando raras figuras de mitose e leve anisocitose, conforme mostra o laudo a seguir na Figura 18:
Figura 18: Laudo Histopatológico. Fornecido pela autora, 2024.
No parênquima testicular adjacente, notou-se uma redução moderada de espermatozoides nos túbulos seminíferos, com desorganização da estrutura tubular e vacuolização das espermátides e espermatófitos, indicando degeneração testicular. O diagnóstico final é de Leydigocitoma testicular.
A análise do paciente com doença renal crônica (DRC) e hiperplasia prostática revela uma interconexão significativa entre essas duas condições. A presença de hiperplasia prostática, muitas vezes associada a complicações como infecções do trato urinário e desconforto, pode agravar os sintomas da DRC e comprometer ainda mais a função renal. Portanto, foram passadas orientações para o manejo clínico cuidadoso dessas condições que é essencial para melhorar a qualidade de vida do paciente, exigindo um acompanhamento veterinário contínuo e abordagens terapêuticas adequadas.
4. DISCUSSÃO
Ao avaliar e acompanhar os efeitos da hiperplasia benigna da próstata (HBP), durante os procedimentos, observou-se nos exames que essa condição estava associada à doença renal crônica (DRC), onde observou-se a alteração na Urinálise, Proteinúria e Creatinina. Em resposta a essa complicação, optou-se pela técnica de orquiectomia aberta pré-escrotal.
Essa abordagem não só visa tratar a HBP, aliviando a obstrução urinária e melhorando o conforto do paciente, mas também pode ter um impacto positivo na função renal ao reduzir a carga sobre os rins. A remoção cirúrgica da próstata hiperplásica pode diminuir a inflamação e a pressão no trato urinário, potencialmente mitigando os efeitos adversos da DRC.
O acompanhamento pós-operatório é crucial para monitorar a recuperação do Billy e avaliar se a intervenção cirúrgica trouxe benefícios em relação à qualidade de vida e ao manejo das condições associadas.
5. CONCLUSÃO
Conclui-se que a Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) é uma condição comum em cães de meia-idade e idosos, caracterizada pelo crescimento desordenado das células estromais e epiteliais da próstata. Esse processo é acompanhado por uma redução na apoptose, resultando em aumento prostático por meio da hipertrofia e da hiperplasia dessas células.
O diagnóstico precoce da HPB pode ser realizado por meio de diversos exames laboratoriais e de imagem, além do uso de biomarcadores como a dimetilarginina simétrica (SDMA), que ajudam a identificar disfunções associadas à próstata e à possível presença de doença renal crônica (DRC). A ultrassonografia se destaca como o exame complementar mais recomendado, devido à sua natureza não invasiva e à capacidade de avaliar com precisão o tamanho da próstata, além de detectar a presença de pequenos cistos.
Para o tratamento da HPB, a orquiectomia aberta pré-escrotal é a técnica sugerida. Quando não há interesse reprodutivo, a orquiectomia bilateral é a opção mais indicada, proporcionando uma resposta terapêutica mais eficaz. Observou-se que os sinais clínicos podem desaparecer em até três semanas após o procedimento, evidenciando a efetividade da intervenção. Assim, o manejo adequado da HPB é crucial para melhorar a qualidade de vida dos cães afetados.
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