DESENVOLVIMENTO DE APLICATIVO MÓVEL PARA DETECTAR PONTOS DE VENDA DE AÇAÍ LICENCIADOS: BARCAÇAÍ

DEVELOPMENT OF A MOBILE APPLICATION TO DETECT LICENSED SALES POINTS OF AÇAÍ: BARCAÇAÍ

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410240926


Leina Jacqueline Camilo Barros¹
Orientador: Prof. Cristovam Guerreiro Diniz²


Resumo

Este artigo aborda a situação atual da disseminação da Doença de Chagas na cidade de Barcarena, no estado do Pará e a proposta do desenvolvimento de aplicativo móvel para auxiliar a diminuir a contaminação. O aplicativo detecta todos os pontos de venda de açaí aprovados pela Vigilância Sanitária, além de realizar pedidos por delivery ou reservar o produto para buscar posteriormente. A metodologia será realizada por pesquisa comparativa da quantidade de pessoas que contraíram a doença antes do ano de 2022 e depois quando o aplicativo for implantado. Outra abordagem é o incentivo dos comerciantes não certificados a regularizarem os seus pontos de venda. Os resultados esperados são o cadastro de todos os pontos regulares, inclusive os que não obtinham a licença e depois foram aprovados, consequentemente, o aumento dos pontos certificados e a diminuição da propagação da doença.

Palavras-chave: Doença de Chagas, Açaí, Aplicativo.

1 INTRODUÇÃO

O açaí, fruto amplamente consumido no estado do Pará, representa uma importante fonte de renda para milhares de produtores e comerciantes no município de Barcarena. No entanto, o consumo do açaí, especialmente quando processado de maneira inadequada, está associado ao risco de transmissão da doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi. A contaminação ocorre principalmente quando o fruto é manipulado em condições insalubres, facilitando a presença de insetos vetores como o barbeiro.

Diante dessa problemática, o desenvolvimento de um aplicativo de vendas de açaí surge como uma solução inovadora que não apenas moderniza o processo de comercialização, mas também contribui para o combate à doença de Chagas. O aplicativo foi concebido com o objetivo de oferecer uma plataforma segura para os consumidores adquirirem açaí de fornecedores certificados, que seguem boas práticas de higiene e processamento. Além disso, o aplicativo incorporará funcionalidades educativas, orientando tanto produtores quanto consumidores sobre medidas preventivas para evitar a contaminação.

Este artigo tem como objetivo descrever o processo de desenvolvimento e divulgação do aplicativo, destacando seu potencial impacto econômico e social para o município de Barcarena. A proposta integra tecnologia e saúde pública, mostrando como soluções digitais podem colaborar para o crescimento sustentável da economia local, ao mesmo tempo que ajudam a reduzir os riscos associados à transmissão da doença de Chagas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Referencial Teórico

A doença de Chagas é uma doença infecciosa, causada pelo protozoário Tripanosoma cruzi e que tem como vetor os insetos conhecidos como barbeiros. A principal forma de contaminação para humanos e mamíferos em geral é feita através da urina e fezes do inseto próximas à picada, frequentemente no rosto, por isso o apelido “barbeiro”. Outras formas são através transfusão de sangue, transmissão da mãe para o bebê em fase de gestação, em transplantes de órgãos e ingestão de alimentos contaminados, sendo a última forma é a mais ocorrente em ambientes urbanos, como Barcarena. A doença não tem cura, mas o tratamento é mais eficaz caso o paciente seja diagnosticado precocemente.

Em pacientes crônicos, o tratamento pode prevenir ou frear a progressão da doença e impedir a transmissão, por exemplo, a infecção de mãe para filho. Os sintomas são alterações cardíacas, alterações digestivas, neurológicas ou mistas. O controle do inseto vetor é o método de prevenção mais importante para evitar a propagação, além da triagem de sangue para prevenir infecções por transfusão e transplante de órgãos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 6 a 7 milhões de pessoas estejam infectadas pela Doença de Chagas na América Latina, sendo que o Brasil apresentou uma das maiores frequências dessa doença nas últimas décadas. Esse fato está relacionado ao crescente desmatamento e ocupações humanas em áreas ambientais, o que reduz as fontes naturais de alimentação e abrigo dos insetos, nas quais passam a se alimentar de animais domésticos e do próprio ser humano.

Na região amazônica, considerada historicamente endêmica pela OMS, a contaminação ocorre principalmente por via oral, por consumo de alimentos contaminados, como açaí, bacaba, caldo de cana, palmito de babaçu, buriti, etc.

Para auxiliar na prevenção da disseminação da Doença de Chagas, o estudo propõe o desenvolvimento de um aplicativo para celulares que detecta todos os pontos de venda de açaí ou bacaba, legalizados e fiscalizados pela Vigilância Sanitária, na cidade de Barcarena, para alertar a população se o ponto está de acordo com as normas de higiene. E o aplicativo contará com o serviço delivery ou reserva, além de informar sobre o preço do açaí e horário de funcionamento.

2.2 Revisão de tecnologias

O produto possui alto teor inovativo, pois apesar da ideia ser inspirada no aplicativo “Açaí Pai d’égua”, desenvolvido na Universidade Rural da Amazônia (UFRA) e implantado em Belém, as funcionalidades e o desenvolvimento são distintos. A linguagem de programação é desenvolvida em Flutter, ou seja, o aplicativo funcionará tanto em plataforma Android quanto em iOS. A plataforma para gerenciar a autenticação de usuários será realizada pelo Firebase e o banco de dados utilizado, o Firestore, ambos produtos gerenciados pela Google.

Firebase é uma plataforma digital criada pela Google utilizada para facilitar o desenvolvimento de aplicativos web ou móveis, de uma forma efetiva, rápida e simples. Seu principal objetivo é melhorar o rendimento dos apps mediante a implementação de diversas funcionalidades que farão do aplicativo um instrumento muito mais maleável, seguro e de fácil acesso para os usuários. Alguns dos serviços oferecidos pelo Firebase são: base de dados em tempo real; Autenticação de usuários por meio do e-mail ou das redes sociais; Armazenamento em nuvem; Modificação alguns aspectos do aplicativo sem a necessidade de atualizá-lo; Crash Reporting, serve para reportar erros do aplicativo; Test lab, cujo serviço possibilita testar o aplicativo antes de publicá-lo (ROCK CONTENT, 2019).

O Firestore é um banco de dados de documentos totalmente gerenciado, escalável e sem servidor, ideal para desenvolvimento de aplicativos. Recursos: Um banco de dados de documentos sem servidor que pode ser facilmente dimensionado para atender a qualquer requisito sem manutenção; Desenvolvimento mais rápido de aplicativos móveis e da Web com conexões diretas de banco de dados; Sincronização em tempo real e modo offline integrados, facilitando o desenvolvimento de aplicativos em tempo real; Segurança totalmente personalizável e regras de validação de dados para garantir que as informações estejam sempre protegidas (GOOGLE CLOUD, 2022).

2.3 Revisão de Normativas e aspectos correlatos

De acordo com a Lei Nº 9.609, de 19 de Fevereiro de 1998, o aplicativo (ou software) consiste em um “conjunto de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados”.

O produto em questão, trate-se de um aplicativo, pois cumprem uma tarefa específica, em praticamente todas as áreas da vida cotidiana. São, por exemplo: Redes sociais, editores de textos, players de música, calculadoras, navegadores, etc.

3 METODOLOGIA

3.1. Lista Das Etapas Metodológicas

As etapas são divididas em duas etapas: A etapa da coleta de dados e a etapa do desenvolvimento do aplicativo. A coleta de dados está sendo elaborada da seguinte forma:

a) Levantamento de números confirmados da Doença de Chagas entre os anos de 2020 a 2023;

b) Comparativo de casos confirmados após a implantação do Barcaçaí;

c) Quantos pontos há na cidade de Barcarena até Maio/2022;

d) Quantos pontos aderiram à regularização após da implantação do aplicativo;

e) Coleta de informações sobre o processo de boas práticas do manejo do açaí, como em workshops e palestras realizadas pela Vigilância Sanitária;

f) Realizar um questionário sobre o uso do Barcaçaí aos batedores, como por exemplo, a satisfação em geral, a facilidade de uso, qual função poderia ser adicionada futuramente, como o aplicativo está auxiliando nas vendas, etc;

g) Realizar um questionário aos clientes, sobre a satisfação, quais funções poderiam ser implantadas, etc;

As etapas relacionadas ao desenvolvimento do Barcaçaí foram realizadas na seguinte forma:

a) O leitor de QR Code para a leitura do adesivo na entrada do estabelecimento;

b) Envio do pedido via WhatsApp;

c) O cadastro de todos os batedores de açaí no banco de dados;

d) Em relação à versão do batedor, haverá o cadastro de todos os produtos e seus respectivos preços, a taxa de entrega, horário de funcionamento, serão preenchidos pelo comerciante.

3.2 Descrição Detalhada De Cada Etapa Metodológica

O aplicativo será baseado em dados previamente coletados, através do levantamento da Vigilância Sanitária, sobre a quantidade de casos da Doença de Chagas entre o período de 2020 até o término da implantação do sistema, ou seja, em 2023. E com base destes dados, realizar um comparativo entre este período, se haverá diminuições significativas dos casos confirmados. Será realizado outro levantamento de quantos pontos regularizados há na cidade, por meio da coleta de dados elaboradas pela Vigilância Sanitária e quantos estarão registrados no aplicativo posteriormente. E também será incluso em uma nova pesquisa quantos pontos de venda irregulares obtiveram a certificação, incentivados pelo aplicativo.

Além disso, a estratégia de divulgação desempenhará um papel crucial no sucesso do aplicativo, utilizando diferentes canais de marketing digital, como redes sociais e parcerias locais, para alcançar e engajar o público de forma eficaz. A implementação de campanhas de marketing direcionadas, aliada ao uso de promoções exclusivas, contribuiu para a atração e fidelização de clientes. Em síntese, o aplicativo não apenas otimiza o processo de vendas para o comerciante, mas também oferece conveniência ao consumidor. Com uma abordagem centrada na experiência do usuário e uma divulgação bem estruturada, o aplicativo tem o potencial de se consolidar como uma ferramenta essencial para o crescimento das vendas e a ampliação do mercado de açaí.

Simultaneamente, serão realizadas as funcionalidades da aplicação, verificando a usabilidade, complexidade, e cobertura diante da tecnologia escolhida para viabilizar o projeto, serão como base para o desenvolvimento do aplicativo. Para tornar o desenvolvimento viável, tanto para iOS quanto em Android, o aplicativo será desenvolvido para a linguagem Flutter. Para tanto, serão utilizados a IDE (Integrated Development Environment) FlutterFlow que é uma interface de desenvolvimento para Flutter.

O produto inclui o serviço de GPS, onde deverá estar sempre ativo durante o uso do aplicativo, mostrando a localização do usuário para o ponto de açaí mais próximo e também facilitando a entrega do produto ao cliente. Todas as informações coletadas serão armazenadas no banco de dados Firestore, disponibilizados em um servidor remoto. Essas informações ficarão disponíveis para acesso pelos usuários cadastrados, tanto batedores, quanto os clientes e também ao desenvolvedor, mantendo assim a segurança e integridades das mesmas, que poderão ser utilizadas mais tarde.

O aplicativo basicamente fará uma lista de todos os pontos de acordo com o bairro que o cliente mora. Ao clicar no nome do estabelecimento, aparecerá uma caixa de texto, onde informam sobre este ponto em questão, como horário de funcionamento, os preços (açaí popular, médio, grosso e também outros produtos, como farinha d’água) e se possui o serviço de delivery ou reserva (na qual é o mais frequente) feitos pelo chat. Estes serviços serão realizados pelo aplicativo, onde tanto o batedor quanto o comprador receberão um comprovante enviado por WhatsApp. Haverá duas versões: versão batedor e versão cliente, onde o banco de dados fará a comunicação entre eles.

Em conjunto, há uma proposta de aderir, em lugar visível de cada ponto (porta ou janela), um adesivo, semelhante ao “Açaí Bom”, em Belém, contudo, haverá um QR Code, que tem o objetivo de comprovar ao cliente que o ponto está regularizado. O aplicativo contará com um leitor para detectar este QR Code e automaticamente, o cliente receberá a resposta, caso seja positiva ou negativa (como falsificação do adesivo, cópia de adesivo aprovado proveniente de outro ponto, ou o ponto que antes era regular deixou de ser, etc).

O banco de dados dos batedores será baseado pela coleta de informações realizadas pela Vigilância Sanitária, onde as mesmas serão preenchidas o nome do local, o nome do proprietário, o endereço e telefone, inclusive a atual situação deste ponto. Estes dados serão inseridos pelo desenvolvedor do aplicativo, em formato Desktop, na plataforma Firebase. As demais informações como os preços, taxa de entrega e horário de funcionamento, serão preenchidas pelo comerciante na sua conta correspondente, pelo aplicativo.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Um dos desafios é a implantação do aplicativo para regiões afastadas, como a Alça Viária e a região da ilhas, pelo distanciamento do acesso à internet. Outra situação, é batedor já possuir a licença para funcionamento, porém, volta aos velhos hábitos de somente peneirar o açaí ao invés de fazer o processo de branqueamento (popularmente conhecido como “choque térmico”); Diagnosticar o mais breve possível pessoas que contraíram a doença, porém não sabem, pois é praticamente assintomática no início do contágio. Entretanto, há inspeções constantes nos estabelecimentos e a melhor forma de combater a doença é a colaboração de todos, evitando o consumo do fruto em locais desconhecidos.

A viabilidade do desenvolvimento, o cadastro dos batedores de açaí (com o apoio da Prefeitura de Barcarena) no banco de dados do aplicativo e a implantação na cidade, é positiva. Portanto, o projeto futuro é incentivar todos os vendedores de açaí, nas quais ainda não estão legalizados, tornem-se posteriormente e estejam inscritos no aplicativo, assim como os regularizados. Com a inclusão de todos os vendedores, facilitará o controle da venda do produto para as autoridades competentes, como a Vigilância Sanitária e a Secretaria de Saúde. E consequentemente, a diminuição da Doença de Chagas à longo prazo.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do aplicativo de vendas de açaí para o município de Barcarena não só contribuirá para a modernização e ampliação do mercado local, mas também desempenhará um papel crucial na luta contra a doença de Chagas. Ao integrar boas práticas de manejo e processamento do açaí, é possível conscientizar produtores e consumidores sobre a importância da segurança alimentar, ajudando a reduzir os riscos de contaminação por Trypanosoma cruzi, principal causador da doença.

Além disso, a divulgação do aplicativo associada a campanhas educativas foi fundamental para alcançar uma ampla gama de consumidores e produtores, levando informação de forma acessível e promovendo mudanças efetivas nos hábitos de consumo e produção. Ao garantir que o açaí comercializado fosse submetido a padrões rigorosos de higiene e controle de qualidade, o aplicativo contribuirá diretamente para a saúde pública no município.

Portanto, o projeto demonstrou ser uma solução inovadora que, além de fomentar o desenvolvimento econômico através da comercialização digital, mostra-se eficiente no combate a uma grave questão de saúde pública. A integração entre tecnologia, educação e segurança alimentar tem o potencial de se expandir para outros setores, servindo de modelo para iniciativas futuras que almejem unir desenvolvimento econômico e bem-estar social.

REFERÊNCIAS

Doença de Chagas. Organização Mundial da Saúde.  Disponível em: <https://www.who.int/docs/default-source/documents/chagas-disease-fact-sheet-(portuguese-pdf).pdf?sfvrsn= 64375240_4>. Acesso em: 20 de abr. de 2022.

LIRA, Mozart. Conferência sobre doença de Chagas é realizada em Castanhal. Secretaria de Estado da Saúde do Pará, Belém, 30 de ago. de 2021.  Disponível em: <http://www.saude.pa.gov.br/ conferencia-sobre-doenca-de-chagas-e-realizada-em-castanhal/>. Acesso em: 20 de abr. de 2022.

VALENTE, Vera da Costa. Estudo genotípico de Trypanosoma cruzi: epidemiologia e caracterização molecular de isolados do homem, triatomíneos e mamíferos silvestres do Pará, Amapá e Maranhão.  Universidade Federal do Pará, 2011. Disponível em: < http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011 /4755 >. Acesso em: 20 de abr. de 2022.

Firestore. Google Cloud. Disponível em: <https://cloud.google.com/firestore?hl=pt-br>. Acesso em: 15 de mai. de 2022.

Conheça Firebase: a ferramenta de desenvolvimento e análise de aplicativos mobile. Rock Content. São Paulo, 21 de ago. de 2019. Disponível em: < https://rockcontent.com/br/blog/firebase/>. Acesso em: 15 de mai. de 2022.


¹Discente do Curso Superior de Propriedade Intelectual e Transferência Tecnológica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Campus Belém. E-mail: leinabarros18@gmail.com.
²Docente do Curso Superior de Propriedade Intelectual e Transferência Tecnológica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Campus Bragança. Doutorado em Neurociências e Biologia Celular (Universidade Federal do Pará/UFPA). E-mail: cristovam.diniz@gmail.com.