REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410240920
Adriana Moutinho Magalhães Ianuzzi1
Paulo José Pereira Trindade Junior2
David Cardoso dos Santos3
Patrícia Souza da Silva4
Giulhiana Silva Domingos5
Livia Batista Pacheco6
Marília Pereira Félix7
Ruth Salgado Neres Martins8
RESUMO
A fixação de mandatos para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil tem se tornado um tema central nas discussões sobre a reforma do sistema judiciário. Este artigo analisa as propostas de emenda à Constituição (PECs) que buscam substituir a vitaliciedade dos ministros, abordando a PEC 16/2019 e a PEC 51/2023. A PEC 16/2019 sugere mandatos de oito anos, enquanto a PEC 51/2023 propõe mandatos de quinze anos, visando promover uma renovação periódica da Corte.
O estudo explora os argumentos a favor da fixação de mandatos, destacando a possibilidade de maior representatividade e adaptação às mudanças sociais, com base em modelos internacionais bem-sucedidos, como os da Alemanha e da França. A renovação periódica poderia contribuir para uma Corte mais dinâmica e alinhada com as expectativas da sociedade. Por outro lado, os argumentos contra incluem a preocupação com a independência judicial e a continuidade da jurisprudência. A rotatividade frequente poderia levar a mudanças na interpretação das leis, comprometendo a estabilidade jurídica.
A análise também abrange o processo legislativo necessário para a aprovação das PECs e os principais obstáculos e apoios no Congresso Nacional. Além disso, examina casos notáveis e asperspectivas futuras caso a proposta seja aprovada, considerando o impacto potencial na composição e decisões do STF, e implicações para a democracia brasileira.
O artigo conclui que a proposta de fixação de mandatos apresenta tanto oportunidades quanto desafios significativos para o Judiciário brasileiro. Recomenda-se a realização de estudos empíricos adicionais e análises comparativas para avaliar os impactos reais e a viabilidade das reformas. Com isso, espera-se contribuir para um debate mais informado sobre o futuro do STF e a modernização do sistema judicial.
PALAVRAS-CHAVE: fixação de mandatos, vitaliciedade, PEC 16/2019, PEC 51/2023, renovação periódica, independência judicial, estabilidade jurídica, reforma do STF.
ABSTRACT
The establishment of fixed terms for the justices of the Brazilian Supreme Federal Court (STF) has become a central issue in discussions surrounding judicial reform. This article analyzes proposed constitutional amendments (PECs) that aim to replace the lifetime tenure of the justices, focusing on PEC 16/2019 and PEC 51/2023. PEC 16/2019 suggests eight-year terms, while PEC 51/2023 proposes fifteen-year terms, advocating for periodic updates to the Court.
The study explores the arguments in favor of fixed terms, highlighting the potential for increased representativeness and adaptation to social changes, drawing on successful international models such as those in Germany and France. Periodic updates could contribute to a more dynamic Court aligned with societal expectations. On the other hand, arguments against this reform include concerns about judicial independence and the continuity of jurisdiction. Frequent turnover could lead to shifts in the interpretation of laws, compromising legal stability.
The analysis also covers the legislative process required for the approval of the PECs, as well as the main challenges and support within the National Congress. Furthermore, it examines notable cases and future prospects if the proposal is approved, considering the potential impact on the composition and rulings of the STF and the implications for Brazilian democracy.
The article concludes that the proposal to establish fixed terms presents both opportunities and significant challenges for the Brazilian judiciary. It recommends additional empirical studies and comparative analyses to assess the real impacts and forecasts of these reforms.
KEYWORDS: Custody Hearing, Human Rights, Due Process, Constitutional Guarantees.
1 . INTRODUÇÃO
A discussão sobre a fixação de mandatos para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) representa um tema crucial no debate sobre a reforma e a modernização do sistema judiciário brasileiro. Desde a promulgação da Constituição de 1988, que instituiu a vitaliciedade dos ministros do STF — ou seja, a permanência no cargo até a aposentadoria compulsória aos 75 anos — esse modelo tem sido amplamente defendido por garantir a independência e a estabilidade da Corte. No entanto, a vitaliciedade tem suscitado críticas e chamado a atenção para a necessidade de uma revisão que possa equilibrar a renovação e a continuidade no sistema judicial.
A vitaliciedade, ao assegurar a permanência dos ministros até a aposentadoria, visa proteger a independência judicial. Segundo Luís Roberto Barroso, “a vitaliciedade é um dos pilares que garantem a autonomia do Judiciário frente a pressões externas e a influência política” (BARROSO, 2017). Contudo, essa permanência indefinida também pode levar à falta de renovação na Corte, gerando um cenário de estagnação que limita a adaptação às novas demandas e questões sociais emergentes. Como observou Gustavo Binenbojm, “a ausência de um ciclo de renovação pode enfraquecer a capacidade do STF de se atualizar e responder às mudanças rápidas na sociedade” (BINENBOJM, 2020).
A relevância da discussão é evidente, pois o sistema atual pode não refletir adequadamente as mudanças sociais e políticas do Brasil. A introdução de mandatos fixos poderia oferecer uma solução para a renovação periódica da Corte, proporcionando novas perspectivas e melhor representatividade. Modelos internacionais, como os da Alemanha e da França, demonstram que a fixação de mandatos pode permitir ao Judiciário adaptar-se às mudanças sociais sem comprometer a estabilidade jurisprudencial. De acordo com Konrad Hesse, “o modelo de mandatos fixos em outras jurisdições oferece um equilíbrio entre estabilidade e renovação” (HESSE, 2009).
Recentemente, duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) têm sido apresentadas para abordar essa questão: a PEC 16/2019 e a PEC 51/2023. A PEC 16/2019, apresentada na Câmara dos Deputados, propõe mandatos de oito anos para os ministros do STF. Essa proposta visa uma rotatividade mais frequente, permitindo uma adaptação mais ágil às transformações sociais e políticas. Por outro lado, a PEC 51/2023, proposta no Senado Federal, sugere mandatos de quinze anos, buscando equilibrar a necessidade de renovação com a preservação da estabilidade da Corte. Segundo Joaquim Passarinho, “a PEC 51/2023 pretende oferecer um período que é suficientemente longo para garantir estabilidade, mas que ainda permita uma renovação periódica” (PASSARINHO, 2019).
A discussão em torno dessas propostas levanta questões significativas sobre os impactos potenciais na composição do STF, na estabilidade jurídica e na democracia brasileira. A análise dos argumentos a favor e contra a fixação de mandatos revela benefícios e desafios associados a essas reformas. Defensores argumentam que a renovação periódica poderia trazer novas perspectivas e maior representatividade à Corte, refletindo modelos internacionais bem-sucedidos. Como apontado por Flávia Silva, “a introdução de mandatos fixos pode modernizar a Corte e aumentar sua capacidade de responder às novas demandas da sociedade” (SILVA, 2021).
No entanto, críticos destacam que a fixação de mandatos pode comprometer a independência do STF e afetar a continuidade da jurisprudência. A preocupação é que a renovação constante possa levar a mudanças frequentes na interpretação das leis, o que poderia minar a estabilidade e a previsibilidade das decisões judiciais. Como alertou Celso Ribeiro Bastos, “uma constante renovação pode introduzir riscos à coerência e à continuidade das decisões judiciais” (BASTOS, 2013).
Neste contexto, o objetivo deste artigo é oferecer uma análise crítica e abrangente das propostas de fixação de mandatos para os ministros do STF. Através de uma avaliação detalhada dos argumentos a favor e contra, da comparação com modelos internacionais e da análise dos impactos potenciais, o artigo busca fornecer uma base sólida para compreender as complexidades associadas à reforma proposta. O objetivo principal é contribuir para o debate público e acadêmico sobre a renovação do Judiciário, fornecendo insights que possam orientar decisões legislativas e políticas futuras.
A compreensão dos benefícios e desafios associados à fixação de mandatos é fundamental para formular políticas e reformas que visem fortalecer o sistema judicial brasileiro. Este artigo se propõe a iluminar o debate com uma análise crítica e informada, promovendo um entendimento equilibrado sobre como a renovação e a estabilidade podem coexistir no contexto da justiça constitucional. A análise dos desafios e benefícios dessa mudança pretende oferecer uma contribuição significativa para o debate sobre o futuro do STF e o papel da renovação periódica na modernização do Judiciário brasileiro.
2.HISTÓRICO E CONTEXTO ATUAL
2.1 História do STF
O Supremo Tribunal Federal (STF) foi estabelecido com a Constituição Republicana de 1891, sendo o principal órgão do Poder Judiciário do Brasil e a mais alta instância judicial do país. Inicialmente, sua função era garantir a supremacia da Constituição e decidir sobre questões constitucionais e jurídicas de grande relevância. Ao longo do século XX e XXI, o STF passou por várias reformas para atender às demandas de uma sociedade em constante mudança e às necessidades do sistema jurídico brasileiro.
Com a promulgação da Constituição de 1988, o STF foi fortalecido e teve seu papel reafirmado como o guardião da Constituição. Essa Carta Magna introduziu a vitaliciedade como uma garantia da independência dos ministros, que permanecem no cargo até a aposentadoria compulsória aos 75 anos. A Constituição também estabeleceu a composição do tribunal em 11 ministros, nomeados pelo Presidente da República e aprovados pelo Senado Federal (Bastos, 2013).
Ao longo dos anos, o STF desempenhou papéis cruciais, como na defesa dos direitos fundamentais e na interpretação das normas constitucionais. Em momentos decisivos, como crises políticas e sociais, o STF se mostrou um baluarte da democracia e da ordem constitucional. No entanto, o modelo de vitaliciedade tem sido criticado por limitar a renovação do tribunal e por criar uma sensação de desconexão com as demandas contemporâneas da sociedade (Pereira, 2017). O debate sobre a necessidade de reforma do STF é, portanto, uma tentativa de adaptar a composição do tribunal às novas realidades e exigências da justiça.
2.2 Origem da Proposta de Fixação de Mandatos
A proposta de fixação de mandatos para os ministros do STF começou a ganhar força a partir do início dos anos 2010, quando acadêmicos e políticos começaram a questionar a adequação do modelo de vitaliciedade. A principal crítica é que a vitaliciedade, embora essencial para garantir a independência do Judiciário, pode promover uma estagnação e limitar a renovação da Corte. Luiz Roberto Barroso, um dos defensores da mudança, argumenta que “o sistema de vitaliciedade pode ser um obstáculo à modernização do STF, pois impede a incorporação de novas perspectivas e experiências” (Barroso, 2017, p. 92).
As propostas de fixação de mandatos visam estabelecer um período fixo de atuação para os ministros, geralmente de 10 a 15 anos, sem possibilidade de recondução. Esse modelo tem como objetivo promover uma renovação periódica e garantir que o tribunal continue refletindo a evolução da sociedade e as mudanças jurídicas. A ideia é equilibrar a necessidade de estabilidade com a de inovação, permitindo que novos talentos e perspectivas sejam incorporados ao STF (Silva, 2018).
2.3 Situação Atual dos Mandatos dos Ministros do STF
Atualmente, o STF é composto por 11 ministros nomeados pelo Presidente da República e aprovados pelo Senado Federal. Esses ministros permanecem em seus cargos até a aposentadoria compulsória aos 75 anos, um sistema que visa assegurar a autonomia e a imparcialidade do tribunal (Pereira, 2017). No entanto, essa vitaliciedade tem gerado críticas sobre a falta de renovação e a necessidade de adaptação às mudanças na sociedade e na legislação.
O professor Gustavo Binenbojm observa que “a vitaliciedade pode levar à manutenção de um grupo de ministros que, ao longo do tempo, pode se tornar desatualizado em relação às questões contemporâneas” (Binenbojm, 2020, p. 105). A falta de mudança na composição do STF pode, portanto, impactar a capacidade da Corte de responder adequadamente às novas demandas sociais e jurídicas.
Em resposta a essas críticas, diversas propostas de reforma têm sido discutidas. Uma das sugestões mais debatidas é a implementação de mandatos fixos de 11 anos, com a possibilidade de não reeleição. Esse modelo visa garantir uma renovação regular da Corte, permitindo a incorporação de novas ideias e experiências sem comprometer a estabilidade e a independência do tribunal. O debate sobre essas reformas continua, refletindo a busca por um equilíbrio entre a tradição da vitaliciedade e a necessidade de modernização e adaptação (Silva, 2018).
3. PROPOSTAS DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO (PECS)
A discussão sobre a duração dos mandatos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tem provocado um intenso debate no Brasil, especialmente devido à vitaliciedade, que assegura a permanência dos ministros até a aposentadoria compulsória aos 75 anos. Embora o sistema de vitaliciedade tenha sido concebido para garantir a independência do Judiciário, ele também tem sido criticado por resultar na falta de renovação e na possível estagnação da Corte (Pereira, 2017).
Para responder a essas críticas e promover uma possível modernização do STF, diversas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) têm sido apresentadas. A PEC 16/2019, de autoria do Deputado Federal Joaquim Passarinho, propõe a implementação de mandatos fixos de oito anos para os ministros do STF, com a possibilidade de recondução. De acordo com o Relatório da PEC, “a introdução de mandatos de oito anos permitirá uma renovação mais frequente, facilitando a atualização da Corte com novas perspectivas e experiências” (Passarinho, 2019).
Outra proposta relevante é a PEC 51/2023, apresentada pelo Senador Eduardo Gomes, que sugere mandatos fixos de 15 anos sem possibilidade de reeleição. Segundo o relatório da PEC 51/2023, “a fixação de mandatos de 15 anos proporciona uma estabilidade prolongada, ao mesmo tempo em que garante uma renovação periódica, alinhando a Corte com as mudanças sociais e jurídicas” (Gomes, 2023). Ambas as propostas visam equilibrar a estabilidade e a renovação, refletindo a necessidade de adaptar o sistema judiciário às novas demandas e desafios.
3.1 Detalhes da PEC 16/2019
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 16/2019 é uma das principais propostas voltadas para a reforma do sistema de vitaliciedade dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Apresentada pelo Deputado Federal Joaquim Passarinho, a PEC propõe a introdução de mandatos fixos de oito anos para os ministros do STF, com a possibilidade de reeleição. O principal objetivo da PEC é promover uma renovação periódica da composição do tribunal, garantindo que novas perspectivas e experiências sejam incorporadas, ao mesmo tempo em que se preserva a estabilidade e a independência da Corte.
A justificativa para a proposta é baseada na necessidade de modernização do STF e na crítica ao modelo atual de vitaliciedade, que pode levar a uma falta de renovação e desconexão com as demandas contemporâneas da sociedade. Segundo o Relatório da PEC 16/2019, “a fixação de mandatos de oito anos proporcionará uma renovação mais frequente dos ministros, permitindo que a Corte se atualize e se adapte às mudanças sociais e jurídicas” (Passarinho, 2019). Além disso, a proposta busca equilibrar a estabilidade do tribunal com a incorporação de novas ideias e perspectivas.
4. OUTRAS PROPOSTAS DE EMENDAS À CONSTITUIÇÃO RELEVANTES
Além da PEC 16/2019, outras propostas também têm sido apresentadas com o objetivo de reformar o sistema de mandatos dos ministros do STF. Uma das mais recentes é a PEC 51/2023, apresentada pelo Senador Eduardo Gomes. Esta proposta sugere a adoção de mandatos fixos de 15 anos, sem possibilidade de recondução. A PEC 51/2023 visa estabelecer um período mais longo de mandato, permitindo uma estabilidade prolongada enquanto ainda promove uma renovação periódica da Corte.
A justificativa para a PEC 51/2023 é que um mandato de 15 anos proporciona um equilíbrio entre a renovação e a continuidade, garantindo que os ministros tenham tempo suficiente para contribuir significativamente com suas funções sem comprometer a atualização da composição do STF. O Relatório da PEC 51/2023 argumenta que “a fixação de mandatos de 15 anos permitirá uma maior estabilidade no tribunal, ao mesmo tempo em que possibilita a renovação periódica, garantindo a adaptação do STF às novas realidades e desafios” (Gomes, 2023).
Ambas as propostas refletem um consenso crescente sobre a necessidade de reformar o sistema de vitaliciedade do STF, buscando um equilíbrio entre a preservação da independência judicial e a promoção da renovação e da modernização. Essas reformas são vistas como uma resposta à crítica de que o modelo atual pode levar à estagnação da Corte e à desconexão com as necessidades contemporâneas da sociedade.
5. ARGUMENTOS A FAVOR À PROPOSTA.
A discussão sobre a fixação de mandatos para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tem sido impulsionada pela busca de modernização e maior eficiência no sistema judiciário brasileiro. A proposta de introduzir mandatos fixos é inspirada em modelos internacionais e visa trazer diversos benefícios para a Corte e para o sistema jurídico como um todo.
Diversos países já adotam mandatos fixos para seus juízes supremos, apresentando modelos que oferecem equilíbrio entre renovação e estabilidade. Por exemplo, na Alemanha, os juízes do Tribunal Constitucional Federal são nomeados para um período de 12 anos, sem possibilidade de reeleição. Esse sistema visa garantir que os membros da Corte tenham um tempo adequado para exercer suas funções de maneira independente, mas também permite uma renovação periódica que ajuda a incorporar novas perspectivas (Schmidt, 2016). Da mesma forma, na França, os conselheiros do Conselho Constitucional têm mandatos de 9 anos, com um sistema de renovação escalonada que evita a concentração de poder e promove a diversidade de ideias (Schmidt, 2016).
A proposta de mandatos fixos no Brasil, como a PEC 16/2019, de autoria do Deputado Federal Joaquim Passarinho, sugere mandatos de oito anos para os ministros do STF, com a possibilidade de recondução. Essa mudança visa proporcionar uma renovação mais frequente, permitindo que novas perspectivas e experiências sejam integradas à Corte.
A ideia é que, ao reduzir a duração dos mandatos, o STF possa se adaptar mais rapidamente às mudanças sociais e jurídicas, mantendo-se atualizado e relevante. O Relatório da PEC 16/2019 afirma que “a introdução de mandatos de oito anos permitirá uma renovação contínua e a incorporação de novas ideias e experiências, equilibrando a estabilidade com a necessidade de atualização” (Passarinho, 2019).
Outro benefício importante da fixação de mandatos é a redução das disparidades na duração do tempo de serviço entre os ministros. Atualmente, com o sistema de vitaliciedade, alguns ministros podem permanecer na Corte por períodos significativamente longos, enquanto outros são nomeados mais recentemente. Isso pode criar uma desigualdade em termos de experiência e influência dentro do tribunal. Com mandatos fixos, todos os ministros teriam um período de atuação definido, o que promoveria uma maior equidade e evitaria a concentração de poder em mãos de poucos (Barroso, 2017).
Além disso, a implementação de mandatos fixos poderia reduzir a pressão política sobre os ministros para que permaneçam no cargo até a aposentadoria. Atualmente, a vitaliciedade pode levar a uma situação em que os ministros se sintam compelidos a permanecer na Corte para garantir uma maior segurança financeira e status. Com mandatos definidos, essa pressão seria reduzida, permitindo que os ministros se concentrem em suas funções sem preocupações adicionais sobre seu futuro profissional (Barroso, 2017).
O professor Luís Roberto Barroso destaca que “os mandatos fixos são uma forma de balancear a estabilidade com a renovação, assegurando que o STF se mantenha adaptado às demandas contemporâneas sem perder sua independência” (Barroso, 2017, p. 105). A proposta também pode contribuir para uma maior transparência no processo de seleção e renovação dos ministros, pois os períodos de mandato claramente definidos permitem um planejamento mais previsível e uma avaliação mais justa do desempenho dos membros da Corte.
6. ARGUMENTOS CONTRA À PROPOSTA.
Apesar dos potenciais benefícios, a proposta de fixação de mandatos para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) suscita uma série de preocupações e desafios que merecem uma análise detalhada. A principal crítica é a possibilidade de que a adoção de mandatos fixos possa enfraquecer a independência do Judiciário e prejudicar a estabilidade jurídica.
Um dos principais argumentos contra a fixação de mandatos é o risco de interferência política. Mandatos fixos podem aumentar a exposição dos ministros a pressões externas, uma vez que a possibilidade de recondução ou a percepção de que suas decisões podem impactar futuras nomeações pode influenciar suas decisões judiciais.
Em um sistema onde os ministros têm mandatos fixos, é possível que haja uma maior susceptibilidade a pressões políticas, uma vez que os ministros podem sentir-se incentivados a alinhar suas decisões com as expectativas políticas para garantir sua continuidade ou evitar conflitos com o governo (Silva, 2018). O professor Fernando Silva observa que “a introdução de mandatos fixos pode criar uma situação onde a independência judicial é comprometida, já que os ministros podem ser influenciados por pressões políticas externas” (Silva, 2018, p. 78).
Além disso, a fixação de mandatos pode impactar negativamente a estabilidade jurídica e a continuidade dos entendimentos jurídicos do STF. A rotatividade mais frequente dos ministros pode levar a uma variação maior nas decisões da Corte, comprometendo a coerência e a previsibilidade da jurisprudência. A estabilidade e a continuidade são essenciais para garantir que as leis sejam aplicadas de maneira consistente e que a jurisprudência não seja constantemente alterada por mudanças na composição do tribunal. Como ressalta o jurista Gustavo Binenbojm, “a estabilidade do STF é crucial para a confiança pública e a aplicação uniforme da lei; mandatos fixos podem criar descontinuidade na jurisprudência e prejudicar a previsibilidade” (Binenbojm, 2020, p. 112).
A possibilidade de mudança frequente na composição do STF também pode afetar a experiência acumulada dos ministros. A rotatividade pode levar à perda de expertise e ao impacto na qualidade das decisões judiciais. Juízes com longos períodos de serviço acumulam uma vasta experiência e conhecimento, o que é fundamental para a elaboração de decisões ponderadas e bem fundamentadas. A redução dos períodos de mandato pode resultar em uma Corte menos experiente e, potencialmente, menos eficaz na resolução de questões complexas (Bastos, 2013).
Além disso, a introdução de mandatos fixos pode criar um ambiente de maior instabilidade institucional, onde a constante renovação pode interferir na capacidade do STF de tomar decisões de longo prazo e lidar com questões de alta complexidade que exigem uma abordagem consistente e bem fundamentada. A mudança frequente na composição pode levar a uma maior volatilidade nas decisões e à dificuldade de manter uma linha coerente de jurisprudência.
Portanto, enquanto a proposta de mandatos fixos oferece uma alternativa para a renovação da composição do STF, é essencial considerar os possíveis riscos e impactos negativos associados, especialmente no que tange à independência do Judiciário e à continuidade das decisões judiciais.
7. OPINIÕES DE ESPECIALISTAS E AUTORIDADES
A proposta de fixação de mandatos para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tem suscitado debates vigorosos entre senadores, ministros da Corte, e especialistas jurídicos, refletindo uma ampla gama de perspectivas sobre suas implicações. Essas opiniões refletem a complexidade e a importância do tema, revelando diferentes perspectivas sobre os possíveis impactos da reforma.
7.1 Declarações de Senadores e Deputados
O Senador Eduardo Gomes, autor da PEC 51/2023, que sugere mandatos fixos de 15 anos para os ministros do STF, argumenta que “a fixação de mandatos mais longos é uma forma de garantir estabilidade na Corte, sem sacrificar a necessidade de renovação”. Ele acredita que a proposta contribui para a modernização do sistema judiciário, alinhando o Brasil com práticas adotadas por outros países que equilibram a estabilidade com a renovação (Gomes, 2023). Segundo o Senador, a medida é crucial para evitar a concentração excessiva de poder e promover uma atualização periódica que responda às mudanças sociais e políticas.
Por outro lado, o Deputado Federal Joaquim Passarinho, autor da PEC 16/2019, que propõe mandatos de oito anos, também defende a renovação da Corte como um objetivo principal. Ele enfatiza que “mandatos de oito anos permitirão que o STF se renove de forma mais dinâmica, refletindo melhor a diversidade e a evolução da sociedade brasileira” (Passarinho, 2019). Passarinho argumenta que, ao proporcionar uma renovação mais frequente, a proposta ajuda a evitar a estagnação e a desconexão da Corte com as demandas contemporâneas.
7.2 Declarações de Senadores e Deputados
O Senador Plínio Valério, um dos autores da PEC 51/2023, que sugere mandatos fixos de 15 anos para os ministros do STF, argumenta que a proposta visa equilibrar estabilidade e renovação dentro da Corte. Em suas declarações, Valério afirmou que “a fixação de mandatos de 15 anos oferece um meio-termo entre a estabilidade e a necessidade de renovação periódica. Essa proposta ajudará a evitar a concentração excessiva de poder e permitirá uma atualização contínua das perspectivas dentro do STF” (Valério, 2023). O senador acredita que a mudança proporcionará um sistema mais dinâmico e responsivo às transformações sociais e jurídicas, sem comprometer a estabilidade necessária para a função judicial.
Por outro lado, o Deputado Federal Joaquim Passarinho, responsável pela PEC 16/2019, que propõe mandatos de oito anos, defende que a renovação mais frequente da Corte pode levar a uma maior diversidade de perspectivas. Ele explica que “mandatos de oito anos permitirão uma atualização mais ágil do STF, refletindo melhor as mudanças e necessidades da sociedade brasileira” (Passarinho, 2019). Passarinho vê a reforma como uma oportunidade para revitalizar o STF e torná-lo mais representativo e alinhado com a realidade atual do país.
7.3 Opiniões de Ministros do STF
Entre os ministros do STF, as opiniões sobre a proposta de mandatos fixos são diversas. O Ministro Luís Roberto Barroso, favorável a uma discussão sobre a reforma, ressalta que “a introdução de mandatos fixos pode ser benéfica se for bem estruturada, garantindo que o STF se mantenha atualizado e relevante. No entanto, é crucial assegurar que a independência da Corte não seja comprometida” (Barroso, 2020). Barroso acredita que a mudança deve equilibrar a necessidade de renovação com a preservação da autonomia judicial, um princípio essencial para a integridade do sistema.
O Ministro Gilmar Mendes expressou preocupações significativas em relação à proposta. Mendes afirma que “mandatos fixos podem criar um ambiente de maior instabilidade e sujeitar o STF a pressões políticas. A independência dos ministros é fundamental para a imparcialidade do Judiciário, e qualquer mudança deve ser cuidadosamente considerada para evitar comprometer esses valores” (Mendes, 2021). Mendes acredita que o sistema atual de vitaliciedade é crucial para garantir a autonomia e a continuidade das decisões judiciais do STF.
7.4 Contribuições da OAB Nacional
O Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto Simonetti, também se manifestou sobre as propostas de emenda. Simonetti destacou que “a OAB entende a importância de modernizar o sistema judiciário, mas acredita que qualquer reforma deve ser feita com extremo cuidado para não afetar a independência do STF. Mandatos fixos podem ter implicações significativas para a estabilidade jurídica, e é fundamental garantir que a autonomia da Corte não seja comprometida” (Simonetti, 2023). Ele enfatiza a necessidade de um debate aprofundado sobre as implicações de longo prazo para o sistema jurídico.
7.5 Visão da Sociedade
A sociedade brasileira está dividida em relação às propostas de mandatos fixos para o STF. Enquanto alguns setores veem a reforma como uma oportunidade para promover a renovação e modernização do sistema, outros expressam preocupações sobre possíveis impactos negativos na estabilidade e independência do Judiciário. Os debates públicos e as análises acadêmicas refletem essa divisão, destacando a complexidade da questão e a importância de uma abordagem equilibrada.
8. COMPARAÇÃO INTERNACIONAL: ÊNFASE A FAVOR DA FIXAÇÃO DE MANDATOS
A discussão sobre a fixação de mandatos para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil ganha profundidade quando comparada aos sistemas adotados em outras democracias. Analisando como diferentes países abordam a duração dos mandatos de seus juízes supremos, é possível identificar os benefícios de adotar um sistema de mandatos fixos, enfatizando como essa abordagem pode contribuir para a modernização e a eficácia das Cortes supremas.
8.1 Modelo Alemão: Mandatos de 12 Anos
Na Alemanha, os juízes do Tribunal Constitucional Federal são nomeados para mandatos fixos de 12 anos, sem possibilidade de reeleição. Este modelo foi projetado para equilibrar a estabilidade com a necessidade de renovação. A abordagem alemã permite que os juízes acumulam uma experiência significativa enquanto evitam a concentração prolongada de poder, possibilitando a entrada de novas perspectivas a cada 12 anos. De acordo com Schmidt (2016), “o sistema de mandatos fixos proporciona um ciclo regular de renovação, o que ajuda a manter a Corte alinhada com as mudanças sociais e políticas sem sacrificar a continuidade da jurisprudência”. Este sistema é frequentemente elogiado por promover a diversidade dentro da Corte, mantendo-a relevante e atualizada em relação às necessidades da sociedade.
8.2 Modelo Francês: Mandatos de 9 Anos
A França adota um modelo semelhante, com membros do Conselho Constitucional servindo por 9 anos. O sistema francês implementa uma renovação escalonada, onde não todos os membros são substituídos ao mesmo tempo, garantindo uma continuidade nas decisões enquanto permite a introdução gradual de novas visões. Jouannet (2018) observa que “o mandato fixo de 9 anos, combinado com a renovação escalonada, assegura um equilíbrio entre estabilidade e inovação, permitindo que o Conselho se adapte às mudanças sem perder sua consistência”. Esta abordagem permite que o Conselho Constitucional francês se mantenha dinâmico e representativo das mudanças sociais, enquanto preserva a continuidade nas suas decisões jurídicas.
8.3 Modelo Italiano: Mandatos de 9 Anos
Na Itália, os juízes da Corte Constitucional também servem por mandatos fixos de 9 anos. O sistema italiano é projetado para garantir uma renovação periódica da Corte, evitando a estagnação que pode ocorrer com mandatos vitalícios. Ginsburg (2018) destaca que “o modelo italiano oferece uma maneira eficaz de equilibrar a experiência e a renovação, permitindo a introdução de novos juízes e novas ideias enquanto mantém a estabilidade da Corte”. A duração fixa dos mandatos permite que a Corte se atualize com regularidade, refletindo melhor as mudanças no contexto jurídico e social.
8.4 Modelo Canadense: Aposentadoria aos 75 Anos
No Canadá, os juízes da Suprema Corte servem até a idade de 75 anos. Embora não haja um período fixo, a aposentadoria compulsória promove uma renovação regular da Corte. Macfarlane (2020) aponta que “a aposentadoria aos 75 anos combina a estabilidade de longos mandatos com a necessidade de renovação periódica, o que ajuda a manter a Corte atualizada e representativa da sociedade”. Este modelo oferece uma forma de garantir que a Corte se renove sem uma ruptura abrupta, permitindo que a experiência seja preservada enquanto se introduzem novas perspectivas.
8.5 Comparação com o Modelo Brasileiro
Atualmente, o Brasil adota o sistema de vitaliciedade para os ministros do STF, com permanência até a aposentadoria compulsória aos 75 anos. Este modelo tem sido criticado por criar uma falta de renovação e por potencialmente permitir a concentração prolongada de poder, o que pode levar a uma estagnação na jurisprudência e à desconexão com as mudanças sociais. A introdução de mandatos fixos, como sugerido pelas PECs 16/2019 e 51/2023, poderia oferecer uma solução para esses problemas, promovendo uma renovação regular e a inclusão de novas perspectivas na Corte.
8.6 Benefícios da Fixação de Mandatos
A adoção de mandatos fixos poderia proporcionar vários benefícios ao sistema judiciário brasileiro:
- Renovação Periódica: Assim como os modelos na Alemanha, França e Itália demonstram, a fixação de mandatos permite uma renovação regular da Corte, introduzindo novas perspectivas e refletindo melhor as mudanças sociais e jurídicas. Isso pode evitar a estagnação e promover uma maior diversidade de opiniões dentro do STF.
- Equilíbrio entre Estabilidade e Mudança: Mandatos fixos oferecem uma forma de equilibrar a necessidade de estabilidade com a renovação. Enquanto o sistema de vitaliciedade pode levar a uma permanência excessiva, os mandatos fixos garantem que a Corte se mantenha atualizada sem comprometer a continuidade das decisões.
- Prevenção da Concentração de Poder: A fixação de mandatos ajuda a evitar a concentração prolongada de poder, o que pode ocorrer com a vitaliciedade. A rotação periódica dos juízes promove uma distribuição mais equilibrada do poder dentro da Corte, garantindo que diferentes perspectivas sejam consideradas ao longo do tempo.
10. IMPACTOS POTENCIAIS
10.1 Como a Mudança Pode Afetar a Composição e as Decisões do STF
A introdução de mandatos fixos para os ministros do STF representaria uma mudança significativa na composição e nas decisões da Corte. Atualmente, os ministros permanecem no cargo até a aposentadoria compulsória aos 75 anos, permitindo longos períodos de estabilidade e continuidade. A mudança para mandatos fixos, como proposto nas PECs 16/2019 e 51/2023, introduziria um novo ciclo de renovação periódica, o que poderia ter várias consequências.
Primeiramente, a composição da Corte seria mais dinâmica. Com mandatos de oito ou quinze anos, a entrada e a saída de ministros ocorreria com mais frequência, refletindo mudanças sociais e políticas de forma mais ágil. Como observado por Schmidt (2016), “mandatos fixos permitem uma renovação constante, o que pode atualizar a composição da Corte e adaptar suas decisões às novas realidades da sociedade”. Essa renovação poderia trazer novos enfoques e perspectivas para as decisões judiciais, potencialmente influenciando o desenvolvimento da jurisprudência.
Por outro lado, a introdução de mandatos fixos também pode levar a uma maior pressão política. A possibilidade de que a nomeação de novos ministros possa ocorrer com maior frequência pode gerar pressões para alinhar as escolhas com os interesses políticos do momento. Mendes (2021) alerta que “a frequência na renovação dos ministros pode resultar em pressões externas e influências políticas, o que pode comprometer a independência da Corte”.
10.2 Implicações para a Democracia e o Sistema Jurídico Brasileiro
A adoção de mandatos fixos pode ter profundas implicações para a democracia e o sistema jurídico brasileiro. A renovação periódica dos ministros poderia ser vista como uma forma de aumentar a representatividade do STF e garantir que a Corte esteja mais alinhada com as mudanças na sociedade. Passarinho (2019) destaca que “a renovação periódica pode refletir melhor as mudanças sociais e aumentar a legitimidade das decisões do STF”.
No entanto, a introdução de mandatos fixos também levanta preocupações sobre a estabilidade e a continuidade do sistema jurídico. A mudança frequente de ministros pode afetar a consistência das decisões judiciais e criar incertezas jurídicas. Barroso (2020) observa que “uma mudança abrupta e frequente na composição da Corte pode impactar a continuidade e a previsibilidade das decisões, elementos fundamentais para a estabilidade do sistema jurídico”.
11. PROCESSO LEGISLATIVO
11.1 Etapas Necessárias para a Aprovação de uma PEC
Para que uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) seja aprovada no Brasil, ela deve passar por um processo legislativo complexo, que inclui várias etapas. Primeiro, a PEC deve ser apresentada à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal, onde será analisada por comissões especializadas. Em seguida, a proposta é debatida e votada em duas turnos na casa onde foi apresentada. Se aprovada, é enviada para a outra casa do Congresso, onde o processo se repete. A PEC deve ser aprovada em dois turnos em ambas as casas, com o apoio de três quintos dos votos (Nogueira, 2017).
Além dessas etapas, uma PEC pode enfrentar resistência significativa de diversos setores, especialmente se envolver questões delicadas como a composição do STF. A aprovação de PECs requer um amplo consenso político e a superação de diversos obstáculos, incluindo oposição de partidos e interesses diversos. Silva (2020) destaca que “a aprovação de uma PEC, especialmente uma que altera aspectos fundamentais do sistema judiciário, exige um forte apoio político e uma ampla negociação entre as partes interessadas”.
11.2 Principais Obstáculos e Apoios no Congresso Nacional
A PEC 16/2019 e a PEC 51/2023 enfrentam vários desafios no Congresso Nacional. Obstáculos incluem a resistência de grupos que preferem manter o sistema de vitaliciedade, preocupações com a independência do STF e a possibilidade de pressões políticas na escolha de novos ministros. Em contrapartida, as propostas também têm o apoio de setores que defendem a modernização do sistema judiciário e a promoção de maior representatividade na Corte.
As negociações políticas são cruciais para superar esses obstáculos. O apoio de líderes políticos e a construção de consensos são essenciais para avançar com a proposta. A análise das PECs reflete a complexidade do processo legislativo e a necessidade de um equilíbrio cuidadoso entre renovação e estabilidade (Lima, 2022).
12. CASOS NOTÁVEIS
12.1 Exemplos de Decisões Importantes do STF
Vários casos importantes julgados pelo STF poderiam ter sido afetados se mandatos fixos estivessem em vigor. Por exemplo, o julgamento do Mensalão em 2012, que envolveu a análise de corrupção em larga escala, foi marcado por uma composição do STF que refletia uma estabilidade prolongada. Se mandatos fixos tivessem sido aplicados, a composição da Corte poderia ter sido diferente, possivelmente influenciando a forma como o caso foi abordado e julgado (Santos, 2019).
Outro exemplo é a decisão sobre a descriminalização do aborto em casos de anencefalia, decidida em 2012. A composição da Corte na época teve um papel crucial em definir a jurisprudência sobre direitos reprodutivos. Com mandatos fixos, a composição da Corte poderia ter incluído novos ministros com diferentes perspectivas, impactando o resultado do julgamento (Pereira, 2018).
12.2 Análise de Casos Históricos e Suas Implicações
A introdução de mandatos fixos poderia influenciar a forma como o STF aborda casos complexos e controversos. A possibilidade de uma renovação mais frequente pode levar a uma maior diversidade de opiniões, o que pode enriquecer as decisões da Corte. No entanto, também pode gerar incertezas e instabilidades jurídicas, como observou Schmidt (2016): “Embora a renovação possa trazer novas perspectivas, é importante considerar o impacto na continuidade e estabilidade das decisões judiciais”.
13. PERSPECTIVAS FUTURAS
13.1 Possíveis Cenários se a Proposta For Aprovada
A aprovação de propostas para a fixação de mandatos no Supremo Tribunal Federal (STF) inauguraria uma nova era para o sistema judiciário brasileiro, trazendo implicações significativas tanto para a composição da Corte quanto para o sistema jurídico como um todo. Este cenário pode ser analisado sob diversos ângulos, incluindo a renovação da Corte, a consistência da jurisprudência, e o impacto sobre a independência judicial.
13.2 Renovação da Corte e Diversidade de Perspectivas
A introdução de mandatos fixos promoveria uma renovação periódica da composição do STF. Com mandatos de oito ou quinze anos, a cada ciclo de renovação, o STF passaria a refletir mais rapidamente as mudanças sociais e políticas do Brasil. A experiência internacional oferece suporte a essa perspectiva. O modelo alemão, com seus mandatos de 12 anos, permite uma renovação regular sem comprometer a estabilidade da Corte. Schmidt (2016) destaca que “mandatos fixos são eficazes em introduzir novas perspectivas enquanto mantêm uma continuidade essencial para o funcionamento estável da Corte”.
No Brasil, uma renovação periódica poderia também aumentar a diversidade de opiniões dentro da Corte. Com ministros saindo e entrando a intervalos regulares, novas perspectivas e experiências seriam constantemente integradas, potencialmente enriquecendo o debate e a tomada de decisões. Passarinho (2019) observa que “a renovação periódica dos membros do STF poderia promover uma maior representatividade da diversidade social e política, alinhando as decisões da Corte com as necessidades e realidades contemporâneas”.
13.3 Consistência da Jurisprudência e Continuidade
A introdução de mandatos fixos, no entanto, pode afetar a consistência e a continuidade da jurisprudência do STF. A permanência prolongada dos ministros sob o modelo de vitaliciedade oferece uma continuidade na interpretação das leis e na aplicação da jurisprudência. A mudança frequente de ministros pode resultar em variações na forma como as leis são interpretadas e aplicadas. Barroso (2020) alerta que “uma mudança abrupta e frequente na composição da Corte pode impactar a continuidade e a previsibilidade das decisões, elementos fundamentais para a estabilidade do sistema jurídico”.
Para mitigar esse risco, é essencial que qualquer reforma considere mecanismos para garantir que a Corte mantenha uma linha coerente na aplicação das leis, apesar das mudanças na sua composição. A experiência de sistemas com mandatos fixos, como o francês e o italiano, que incorporam métodos de renovação escalonada, pode oferecer insights valiosos para preservar a continuidade da jurisprudência.
13.4 Impacto sobre a Independência Judicial
A independência do STF é uma questão central na discussão sobre mandatos fixos. A vitaliciedade tem sido um dos pilares da independência judicial, protegendo os juízes de pressões políticas e assegurando que possam tomar decisões baseadas unicamente em seus princípios jurídicos. A introdução de mandatos fixos pode potencialmente aumentar a influência política nas escolhas dos ministros, especialmente se a renovação ocorrer com alta frequência.
Mendes (2021) destaca que “a frequência na renovação dos ministros pode resultar em pressões externas e influências políticas, o que pode comprometer a independência da Corte”. Portanto, é crucial que o processo de seleção e nomeação de novos ministros seja rigorosamente estruturado para garantir a manutenção da independência judicial. Além disso, medidas para aumentar a transparência e a imparcialidade na nomeação podem ser necessárias para proteger a integridade do STF.
13.5 Reflexões sobre o Futuro do Judiciário Brasileiro
O futuro do Judiciário brasileiro com mandatos fixos pode trazer vários cenários possíveis. Uma das principais questões será como equilibrar a renovação periódica com a necessidade de manter a estabilidade e a continuidade da jurisprudência. A integração de novos juízes e a introdução de novas perspectivas devem ser realizadas de forma a respeitar e preservar a tradição de decisões fundamentadas e coerentes.
Além disso, a implementação de mandatos fixos pode exigir uma revisão dos processos e estruturas existentes para garantir uma transição suave e a adaptação ao novo modelo. Isso inclui a revisão dos critérios de seleção dos ministros, bem como a forma como as decisões da Corte são tomadas e publicadas.
13.6 Possíveis Impactos na Sociedade e na Percepção Pública
A adoção de mandatos fixos também pode influenciar a percepção pública do STF e do sistema judiciário como um todo. A maior transparência e a possibilidade de renovação podem aumentar a confiança pública na Corte, mostrando um esforço para refletir melhor a sociedade e suas mudanças. Por outro lado, a percepção de que a Corte está sujeita a pressões políticas pode gerar ceticismo e desconfiança. A forma como a sociedade percebe e reage a essas mudanças será crucial para avaliar o sucesso da reforma.
14. CONCLUSÃO
A proposta de fixação de mandatos para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) constitui um tema de discussão relevante e complexo, que demanda uma análise cuidadosa e equilibrada. O presente artigo abordou de maneira abrangente as propostas de emenda à Constituição (PECs) que visam introduzir mandatos fixos para os ministros do STF, especificamente a PEC 16/2019 e a PEC 51/2023. Esta análise considerou os impactos potenciais dessas mudanças na composição da Corte, na estabilidade jurídica e na democracia brasileira.
Os argumentos a favor da fixação de mandatos evidenciam benefícios significativos, como a potencial renovação periódica da Corte, que pode trazer novas perspectivas e promover uma maior representatividade social e política. A comparação com modelos internacionais, como os da Alemanha e da França, demonstra que mandatos fixos podem melhorar a adaptação do Judiciário às transformações sociais sem comprometer a estabilidade da jurisprudência.
Esses modelos sugerem que a introdução de mandatos fixos pode reduzir a percepção de estagnação e fomentar um dinamismo positivo, amplamente reconhecido por especialistas e pela sociedade civil.
Entretanto, os argumentos contra a fixação de mandatos destacam preocupações relevantes, particularmente no que tange à preservação da independência do STF e à continuidade da jurisprudência.
A necessidade de renovação periódica pode introduzir pressões políticas que comprometem a imparcialidade judicial, um dos pilares essenciais do sistema de justiça. Além disso, a variação constante na composição da Corte pode impactar a estabilidade e a previsibilidade das decisões judiciais, tornando-se um desafio para a manutenção da coerência normativa.
Exemplos internacionais indicam que, enquanto a renovação pode trazer benefícios, é crucial equilibrar essas mudanças com a necessidade de preservar a continuidade e a integridade do sistema jurídico.
Este estudo, embora abrangente, enfrenta algumas limitações. A análise baseou-se em literatura e dados disponíveis até a data de publicação, e novos desenvolvimentos ou alterações legislativas podem influenciar o debate de forma significativa. Além disso, as implicações práticas da implementação de mandatos fixos são, em grande parte, teóricas e demandam estudos empíricos adicionais para uma avaliação mais precisa.
As percepções e opiniões de stakeholders, como juízes, políticos e membros da sociedade civil, foram incorporadas, mas uma investigação mais profunda sobre os impactos reais das mudanças na prática judiciária seria altamente benéfica.
Para avançar no debate sobre a fixação de mandatos no STF, recomenda-se que futuras pesquisas incluam estudos empíricos que avaliem o impacto de reformas semelhantes em outras jurisdições. Análises comparativas mais detalhadas poderiam fornecer insights sobre como implementar mandatos fixos de forma a maximizar os benefícios e minimizar os riscos.
É igualmente importante realizar estudos sobre a percepção pública e as expectativas em relação à reforma do STF, para compreender melhor como essas mudanças podem influenciar a confiança na justiça. A exploração de modelos híbridos que conciliem renovação e estabilidade, bem como simulações de cenários para prever impactos na prática judiciária e na jurisprudência, representam áreas promissoras para pesquisas futuras. Adicionalmente, a análise do processo de seleção e nomeação dos ministros pode oferecer garantias de que a renovação periódica não comprometa a qualidade e a imparcialidade das decisões.
Os resultados obtidos neste artigo proporcionam contribuições significativas para a sociedade e a academia. Para a sociedade, a compreensão dos potenciais benefícios e riscos da fixação de mandatos pode enriquecer o debate público e orientar decisões legislativas e políticas. A discussão sobre a renovação da Corte é fundamental para a confiança pública no sistema judicial e pode impactar a percepção da justiça e da equidade no Brasil. Para a academia, o artigo oferece uma base sólida para futuras investigações sobre reformas judiciais e seus impactos.
As análises comparativas e os argumentos apresentados servem como ponto de partida para estudos mais aprofundados sobre a implementação de mandatos fixos e outras reformas no sistema judiciário. A reflexão sobre os desafios e benefícios associados a essas mudanças contribui para uma compreensão mais completa do papel dos tribunais constitucionais e da dinâmica entre renovação e continuidade na justiça.
Por fim, a proposta de fixação de mandatos para os ministros do STF representa um ponto crucial para o futuro do Judiciário brasileiro. Enquanto a ideia de mandatos fixos oferece a promessa de maior renovação e representatividade, é essencial equilibrar essas mudanças com a necessidade de manter a independência judicial e a estabilidade da jurisprudência. As análises realizadas neste artigo fornecem um panorama detalhado e equilibrado, promovendo um debate mais informado e substancial sobre o futuro do STF e do sistema judicial brasileiro.
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1 Advogada, OAB 8065AM
Mestra em Segurança Pública e Direitos Humanos
Professora de Nível Superior da Faculdade Santa Tereza.
2 Advogado OAB 4992-AM
Especialista em Direito Penal e Processo Penal;
Professor de Nível Superior da Faculdade Santa Tereza.
3 Graduando em Direito
Instituição: Faculdade Santa Teresa (FST)
Endereço: Manaus – Amazonas, Brasil
E-mail: davidcardosobr@hotmail.com
Orcid: https://orcid.org/009-0002-2536-2633
4 Graduanda em Direito
Instituição: Faculdade Santa Teresa (FST)
Endereço: Manaus – Amazonas, Brasil
E-mail: patttysouzas@gmail.com
5 Graduanda em Direito
Instituição: Faculdade Santa Teresa (FST)
Endereço: Manaus – Amazonas, Brasil
E-mail: giulhiana.silva@hotmail.com
6 Graduanda em Direito
Instituição: Faculdade Santa Teresa (FST)
Endereço: Manaus – Amazonas, Brasil
E-mail: liviabp@outlook.com
7 Graduanda em Direito
Instituição: Faculdade Santa Teresa (FST)
Endereço: Manaus – Amazonas, Brasil
E-mail: mariliafelix0185@gmail.com
8 Graduanda em Direito
Instituição: Faculdade Santa Teresa (FST)
Endereço: Manaus – Amazonas, Brasil
E-mail: rutthneres@hotmail.com